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Pancadas Entrevista a Eça de Queirós

Entrevista a Eça de Queirós: «João da Ega seria uma estrela do Twitter»

Encontrámos Eça de Queirós numa petiscaria gourmet de Lisboa, a tentar convencer a gerência a confecionar um “consommé frio com trufas”. Em entrevista à FORUM, o autor explica a importância que a comida tem nas suas obras, deixando algumas reflexões sobre a contemporaneidade.

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A que se deve esse desejo intenso de comer trufas?

Poderia eu perguntar-lhe, se me permite a breve e pertinente observação, a que se deve a sua aparente ausência de ambição no que toca a comer trufas – pareceme que essa será a verdadeira tragédia, tout court. Se o venerável chef deste lúgubre estabelecimento não me confecionar o consommé, lá terei de ficar pelos ovos com chouriço ou mesmo pelo arroz de favas. Mas, garanto-vos que, qual Dâmaso, serei torrencial e inundante nas críticas de Zomato e Tripadvisor.

Conseguimos imaginar que seria especialmente mordaz nesse particular…

Quem conhece a minha obra sabe qual a importância que atribuo à comida. Os alimentos e as bebidas são, muitas vezes, formas de fazer avançar a trama e de caracterizar classes sociais, como dizem os queirosianos, esses meus incansáveis filhinhos (risos). Se pensarmos bem, passa-se algo semelhante na atualidade, na altura da típica publicaçãozinha de restaurante, com o postzinho com a foto da comida que chega à mesa. L’image construit le film, n’est-ce pas?

E tem por hábito colocar o seu sentido crítico e conhecimento da sociedade em prática nas redes sociais?

Compreendo a questão, mas repare que o meu conhecimento da sociedade é, lamentavelmente, de uma sociedade que já não existe. O que posso dizer é que, caso existissem redes sociais no final do século XIX, certamente teria recorrido a tão poderosos artifícios. Repare que a coisa mais parecida que havia à disposição, n’Os Maias, por exemplo era mesmo A Corneta do Diabo – o que implicava aturar o cavalão do Palma. Certamente que a possibilidade de retweetar alguém seria bem-vinda.

E quais as personagens que melhor se adaptariam a essas novas ferramentas?

Parece-me claro que João da Ega seria uma estrela do Twitter. Basta-nos imaginá-lo chegando a casa, depois de mais um opíparo jantar em casa da Condessa de Gouvarinho, e podemos quase vê-lo deitado na chaise longue, de pantufinhas e robe de seda, disparando tweets ao ritmo das baforadas do charuto: “Mais uma noite a #gouvarinhar com a @CondessaGouv. Será que estamos a falhar a vida, menino @CarlosTheMaia?”

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