A queda de mossul e suas consequências cópia cópia

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A QUEDA DE MOSSUL E SUAS CONSEQUÊNCIAS (Estêvão de Sousa) Quando, em Junho de 2014, o grupo extremista do EIL entrou com 800 soldados na cidade de Mossul, onde se encontravam, entre tropas e forças de segurança, cerca de 30 mil homens que, sem reagir, fugiram; os jihadistas encontraram uma cidade próspera, bonita e desenvolvida, nas margens do rio Tigre. Sendo a segunda maior cidade do Iraque, era ainda uma urbe bastante industrializada, onde, para além de muitas outras industrias, desde o tempo das nossas avós se fabricava a célebre musseline, fino tecido de que todos ouvimos falar, na nossa meninice. Após três anos de ocupação pelos rebeldes, que ali cometeram as maiores atrocidades contra a população, chacinando-a sem dó nem piedade e destruindo tudo, inclusive monumentos históricos, acabando por causar também um êxodo de cerca de um milhão de pessoas, que debandaram para não serem chacinadas, como o foram tantas outras. Em 9 de Julho de 2017, a cidade de Mossul foi, enfim, recuperada pelas forças do Iraque, apoiadas por milícias xiitas, curdas-(peshmergas) e cristãs com a colaboração da aviação Americana, culminando esta ação com a recuperação da mesquita Al-Nuri, (ou do que dela restava, após ter sido dinamitada pelo DESH). Algo de muito importante aconteceu nessa altura. Tanto mais importante, se atentarmos a que foi nesta mesma mesquita que, em 2014 o líder do DAESH, Abu Bakr Al -Baghdadi, proclamou o tão propalado califado, que pretendia viesse a abranger: Iraque, Síria, Turquia, Líbano e parte da Europa, incluindo a Península Ibérica.

Mesquita Al- Nuri, monumento do sec XII (antes da destruição)

Ruínas da Mesquita Al-Nuri, após a guerra

Discordamos daqueles que afirmam que, embora tenha sido importante, a queda da cidade não foi relevante. Reconhecendo que não foi pela queda de Mossul que o denominado EI acabou ou, deixou de fazer terrorismo, também cremos que, só pelo facto de terem sido libertadas mais de um milhão de pessoas do jugo dos jihadistas, já isso, se mais não houvesse, seria altamente relevante! Sendo um bastião valiosíssimo para o auto-proclamado Estado Islâmico, visto tratar-se, como acima dissemos, da segunda maior cidade do Iraque, - na altura com 1,8 milhões de habitantes, - é também a sede da petrolífera província do Nínive, fonte de enorme receita proveniente do petróleo extraído dos seus poços, receita que aos extremistas dava muito jeito para pagar as armas que compravam, (presume-se a quem...) e, manter todo o aparelho de guerra a funcionar. Não foi só no plano económico que a perda de Mossul causou um enorme rombo na estratégia dos jihadistas. É que, com a sua queda, perderam o último e mais importante bastião que detinham no Iraque, o qual, estrategicamente, - por ser servido por uma magnifica rede de estradas e, se encontrar relativamente perto da Síria e da Turquia - era de importância vital para os seus interesses. Sem as rotas de abastecimento entre o Iraque e a Síria, ficaram os aliados com a operação de Raqqa


bastante facilitada, e os jihadistas bastante mais manietados! No campo logístico, também a queda de Mossul foi catastrófica, pois aí se encontravam os estrangeiros radicalizados, estimando-se que, a quando da tomada da cidade pelas forças aliadas, estivessem na mesma à volta de 6.000 soldados sunitas e um incalculável número de radicalizados. Mas...não foram só estes os desaires do EIL. Ao mesmo tempo que Mossul caia, Raqqa – considerada pelos jihadistas a sua capital – era também alvo de cerrado ataque pelas forças libertadoras; e, em

Mossul – antes da guerra

Palmira - que entretanto haviam recuperado - também aí, voltaram a sofrer fortes revezes por parte das forças anti jihadistas. Apesar dos desaires sofridos, não é expetável que os radicais, pese embora todas as contrariedades, desistam da sua ideia expansionista de converter à “sharia”, (religião extremista islâmica), o resto do globo. É até bem provável que, à medida que vão perdendo terreno na antiga Mesopotâmia procurem expandir-se para novas paragens, como Ásia e África, não descurando as ações isoladas nos continentes Europeu e Americano, como se tem verificado.

Mossul no pós Guerra


Localização de Mossul no mapa do Iraque

Refugiados de guerra

Coimbra, 2017



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