Flagelo na siria suas origens e consequências

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O FLAGELO DA SÍRIA SUAS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

Quando, em 18 de Dezembro de 2010 foi dado inicio aquilo a que se veio a chamar “Primavera Árabe”, com manifestações quase simultâneas em vários países do Oriente Médio, e Norte de África, (Tunísia, Egito, Argélia, Bahreim, Djibuti, Iraque, Jordânia, Omã e Iemen), dando origem à deflagração de uma guerra civil na Líbia e outra na Síria, ninguém previa quais as graves consequências políticas e humanas que daí adviriam, para estes países. Ao analisar a Síria – país que mais nos interessa, por ter sido o mais martirizado - verificamos que, por influência dos acontecimentos da primavera árabe, ocorrida nos outros países, começaram a existir manifestações de descontentamento contra Bashar al-Assad, o qual, grande parte do seu povo - nomeadamente os Sunitas que reclamavam liberdade religiosa - considerava um opressorditador. Algumas destas manifestações foram reprimidas com extrema violência, sendo muitos manifestantes mortos a tiro pelas tropas ao serviço do regime. O aumento da violência, por parte das forças da ordem só contribuiu para incentivar a determinação dos manifestantes que queriam a saída de Assad do governo. Esta subida de repressão fez com que se começassem a formar grupos rebeldes, os quais se estenderam a todo o país, chegando as escaramuças, em 2012, à capital Damasco e à segunda maior cidade: Aleppo. Estava iniciada a


guerra civil! Guerra que, tendo origem no descontentamento do povo, em virtude da opressão a que estava a ser sujeito, e, porque não dizê-lo: também influenciado pelos acontecimentos verificados nos países seus vizinhos, teve ainda como agravante, a divisão existente entre esse mesmo povo, tornando-se num conflito sectário que envolveu a maioria sunita e os xiitas alauitas – braço do islamismo a que pertence o presidente Assad. Esta divisão de correntes do Islamismo, arrastou para o conflito os povos da região que, não sendo Sírios, pertenciam aquelas correntes, pelo que, deixou de ser uma guerra civil para passar a ser um conflito regional. Enquanto, no teatro bélico, a luta se ia intensificando eis que, entra outro ator em cena: o EI, ou Daesh, como queiram, já implantado em algumas zonas do vizinho Iraque. O seu mentor Abu Bakr al-Baghdadi, um Iraquiano que se intitula califa, aproveitou a fragilidade em que a Síria se encontrava, para a invadir com o, já numeroso, exército do auto proclamado Estado Islâmico, cuja finalidade foi a de ocupar aquele país. A partir desta altura o conflito agravou-se desmedidamente, deixando de ser controlado pela oposição moderada Síria, para ser dirigido e radicalizado pelo Daesh e a frente Nusra, filiada na Al-Qaeda, os quais passaram a ter a supremacia, na contenda. A entrada, no campo de operações, destes dois novos agentes que, cometendo as maiores atrocidades - executando milhares de civis, sem dó nem piedade – enquanto se digladiam entre si e combatem os opositores ao regime, causando, até agora, para cima de 470 mil mortos e um êxodo de 4,5 milhões de pessoas, a maioria das quais sem destino que as acolha. Enquanto esta matança ocorre, a Síria vai ficando destruída. A redução a escombros das cidades de Kobani, Palmira, Homs Aleppo e outras, é bem o espelho disso. O equilíbrio das forças em contenda - movidas cada qual pelos mais variados interesses - é de modo a que, se pense estar longe o fim desta Mini Guerra Mundial. Para que possamos entender melhor o porquê da eternização deste conflito que, teve início há sete anos, indicamos a seguir quem nele intervém, e a favor de quem: O Daesh luta ao lado das forças leais a Bashar al-Assad (são ambos Xiitas), tendo o auxilio do Irão, também de maioria Xiita; a quem interessa a aliança com Bashar, que lhe autoriza o trânsito de armamentos para o Hezbollah, no Líbano. Dizendo que está a combater o Daesh, encontra-se a Rússia que, aproveita para auxiliar Bashar e bombardear os rebeldes, opositores ao regime deste, favorecendo assim o EI, com o intuito de salvaguardar os seus interesses na região. A combater Bashar, (ao lado dos rebeldes), temos: os Estados Unidos e os seus aliados, incluindo a Arábia Saudita, utilizando a aviação e fornecendo armamento. Quando nos referimos aos aliados dos EUA queremos mencionar a França, Inglaterra e a própria Turquia. Mas, não podemos olvidar alguns grupos terroristas, como o Nusra – braço da Al-Qaeda na Síria, por muito paradoxo que isso possa parecer, além de outros treinados pela própria CIA. E, depois no meio desta confusão toda, temos ainda os Curdos, que combatem o Daesh e os Turcos que combatem os Curdos, sem falar em grupos libaneses, iraquianos e iranianos que combatem ao lado do governo! Por último: a quem aproveita esta guerra? Em primeiro lugar, se conseguir manter-se no governo: a Bashar al-Assad. Seguidamente ao


Daesh, pela projeção adquirida. Terceiro os EUA pelo papel estratégico que a Síria tem na questão Israel/Palestina por ser aliada do Irão, o qual utiliza o território para fazer chegar armas ao Hezbollah no Líbano e ao Hamas na Palestina, usadas contra Israel e, ainda para conseguir a conclusão de um gigantesco gasoduto a construir pelo Qatar ( maior exportador de gás natural do mundo), que passaria pela Síria até à Turquia, possibilitando exportar o gás natural para a Europa, com os benefícios que daí adviriam para Israel, EUA, Turquia, Chipre e Qatar; e, a que o atual governo se opõe para proteger os interesses Russos, atualmente os maiores fornecedores de gás natural da Europa. Como já vimos, também a Rússia, a quem, para além da questão do gasoduto, convém manter a base naval que tem no mediterrâneo, no porto Sírio de Tartous a qual constitui a sua base naval para a frota do mar negro; e, ainda, a base aérea da cidade de Latakia, onde tem aviões e tropas. Assim, há aqui vários interesses em jogo: económicos, políticos, geoestratégicos e religiosos. Perguntamos nós: E, onde ficam os interesses do povo? O tal, que no meio disto tudo é o que sai tremendamente martirizado?

Estêvão de Sousa 2017

“in Facebook e Revista Sui Generis Magazin”


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