PALMIRA CIDADE MÁRTIR
(O povo de Deus será livrado para sempre dos seus opressores: Daniel 12.1) Marcus Ziggler, austríaco natural de Salzburgo, acabado de fazer vinte e cinco anos, solteiro, desempregado e licenciado em engenharia; cansado de ouvir noticiar tantas barbaridades praticados pelo DAESH, começou a sentir uma enorme revolta contra tanta barbárie, pensando para consigo: deve haver uma maneira de poder ajudar aqueles povos que, vilipendiados por uma escumalha sem escrúpulos, nem humanidade, são diariamente alvo das maiores atrocidades. Enquanto assim pensava ia estudando pormenorizadamente o assunto, dissecando-o em todas as suas vertentes. Após ter ponderado onde poderia ter maiores possibilidades de êxito, se na Síria ou no Iraque, optou por rumar a Bagdade onde pensava juntar-se aos Peshmerga - soldados curdos que combatem o auto denominado estado islâmico - engrossando as suas fileiras.
Considerava-se um “tipo” esperto e corajoso e estava ansioso por entrar na refrega, onde poderia utilizar os conhecimentos adquiridos, tanto na licenciatura, como no serviço militar, em que tinha chegado a capitão, tendo inclusive tirado uma especialização em tática de combate motorizado. Assim, estabeleceu contacto com o comando regional dos Peshmerga, instalado ocasionalmente em Erbil, cidade localizada a setenta e três quilómetros de Mossul. Após o contacto estabelecido e todas as formalidades cumpridas, recebeu ordens do comando regional dos curdos para embarcar para Erbil. Ao sobrevoar a cidade, verificou que dentro da mesma existe uma fortificação elevada a cerca de vinte metros de altura, com uma antiga cidade no seu interior a qual, veio a saber depois, se chama Arbil, foi capital da Mesopotâmia e é património mundial da Unesco.
Após desembarcar no aeroporto da cidade, onde era esperado por uma força militar curda, seguiu para o aquartelamento e campo de treinos, sendo recebido pelo comandante que, em bom inglês, lhe desejou boas-vindas e à medida que o inteirava de algumas das próximas operações e de quais as zonas ocupadas pelo inimigo, o ia dissimuladamente observando, com o objetivo de lhe estudar a personalidade. Atendendo aos seus conhecimentos e ao posto que já havia tido no exército austríaco, foi-lhe dado o comando de uma companhia. Era tudo o que o Marcus desejava; era, ambicioso, jovem e destemido.
Duas semanas após se encontrar à frente dos seus homens, com os quais treinava diariamente combate no deserto e luta corpo a corpo, foi chamado a ir, com a companhia que comandava, proteger uma coluna de civis que se deslocavam de Erbil para Birah Ginnah, numa distância de cerca de vinte quilómetros. A zona era muito perigosa, visto ficar bastante próxima de Mossul, ocupada pelos jihadistas. Havia portanto que ter muito cuidado!
O nosso amigo Marcus, como já se disse acima era corajoso, mas... indo, na circunstância, fazer a sua primeira operação no teatro de guerra, ia algo nervoso. Era óbvio que procurava não o dar a conhecer
aos seus homens, antes pelo contrário: incitava-os com o seu exemplo, sendo sempre o mais exposto.
Seguiram durante cerca de quinze quilómetros, sem nada acontecer. Quando se encontravam a aproximadamente cinco quilómetros do destino, surgiu detrás de umas dunas, uma força do inimigo que ali se encontrava de “tocaia”. Os jihadistas, em grande número, - vestidos de negro e empunhando bandeiras, - estavam armados com kalashnikov AK 400 e com metralhadoras instaladas nas viaturas todo o terreno. À vista da coluna capitaneada pelo nosso amigo, investiram contra ela, gritando: em nome de Alá, mata, mata!
Formando a coluna em posição de combate, Marcus, dispôs os seus homens de maneira que, ao mesmo tempo que protegiam os civis, cercavam o inimigo e apertavam o cerco. Tal manobra, que apanhou os jihadistas de surpresa, manietou-os de tal modo que fez com que fossem completamente desbaratados, acabando por, os que sobreviveram, saírem dali em debandada deixando, na ânsia da fuga, várias viaturas, armamento e elevado número de mortos.
Esta vitória, à qual outras se seguiram, fez com que o nosso amigo, fosse promovido a segundo comandante regional, dos Peshmerga.
Já nesta qualidade, foi incumbido pelo comando geral para se deslocar com dois batalhões a Palmira, na Síria, com o objetivo de ajudar o exército sírio e a sua força ”falcões do deserto”, a desbaratar os jihadistas que a ocupavam.
Palmira havia sido ocupada pelos jihadistas do Daesh que , tal como o imperador romano,
Aureliano, havia feito no século III, quando esta era a capital do império Palmirense, a invadiu e mandou saquear no ano de 273, confirmando-se assim a teoria do pensador alemão do sec. 18, Georg Hegel de que a história se repete pelo menos duas vezes
Ao alvorecer de uma bela manhã, a coluna composta por viaturas que haviam sido aprisionadas ao Daesh em diversas operações, iniciou viagem em direção à monumental cidade de Palmira; iriam percorrer 770 quilómetros.
Por volta das onze da noite encontravam-se a cerca de dez quilómetros da cidade, sem que tivessem tido maus encontros; então o comandante Marcus Zigller deu ordens para parar, ordenando aos seus homens que envergassem fardas pretas, idênticas às dos jihadistas e hasteassem bandeiras do Daesh, nas viaturas, enquanto ele pegava no rádio emissor e o sintonizava na frequência do inimigo; e, fazendo -se passar por um comandante do auto proclamado estado islâmico, entrou em contato com a cidade, informando que se tratava de uma coluna vinda de Aleppo, para reforçar as tropas existentes em Palmira. Quando o comandante do inimigo quis saber a que destacamento pertencia, respondeu em árabe:
- Não tenhas receio irmão que, Alá está connosco e os cães infiéis serão vencidos e dizimados
e
regarão, com o seu sangue, as areias do deserto!
A estas palavras, recebeu ordens para avançar, pelo que deu imediatamente instruções para se porém em marcha, seguindo para a cidade, onde entraram com cuidados redobrados, não fosse o inimigo ter desconfiado e os recebesse com o matraquear das metralhadoras ou o silvo dos obuses. Tal não aconteceu; entraram pacificamente e, passando por alguns postos de sentinela que ao verem as bandeiras do Daesh, pensando que eram tropas que se vinham juntar a eles, os saudaram efusivamente.
Enquanto nos céus se ouvia o roído da aviação russa, e o rebentar de bombas aqui e ali, o nosso amigo, - que ia fazendo a coluna deslocar-se até junto do quartel dos jihadistas, colocando as viaturas dispostas em semicírculo, não deixando de estacionar algumas em pontos nevrálgicos da cidade, prontas a entrarem em ação, a qualquer momento - reparou na destruição de monumentos e obras de arte, alguns com mais de três mil anos, que o jihadistas haviam perpetrado durante a ocupação, na zona arqueológica. Lamentando pelo que ia vendo; acompanhado de dois homens de confiança, dirigiu-se ao comando, dizendo ao sentinela que pretendia falar com o comandante; este, respondendo~lhe que o superior se encontrava a descansar. - Mande chamá-lo de imediato, porque tenho assuntos urgentes a comunicar-lhe!
O sentinela em face da insistência, mandou chamar o oficial superior que, embora bastante ensonado, não tardou a chegar. Na presença deste, depois de se terem cumprimentado militarmente, o Marcus disse-lhe : - Irmão em Alá, acha que podemos conversar em privado? O assunto que pretendo tratar é altamente sigiloso!
- Claro que sim, vamos para o meu gabinete - respondeu o outro, ainda pouco desperto.
Já no gabinete, quando o comandante dos jihadistas ia a sentar-se, após ter indicado uma cadeira ao Marcus Zigller, para que fizesse o mesmo, este, pegando na pistola que !evava ao cinto, desfechou-lhe dois tiros, matando-o. Ao som dos tiros o sentinela, meio aparvalhado, ia a empunhar a AK 400, quando foi imediatamente alvejado por um dos homens que havia acompanhado o nosso herói.
Ao barulho produzido pelos tiros apareceram vários jihadistas, saídos das camaratas, que imediatamente foram feitos prisioneiros.
Com a situação controlada, o comandante dos Peshmergas fez saber, pelas Instalações sonoras, que a cidade tinha sido ocupada pelos exércitos curdo e sírio, pedindo a todos os jihadistas, existentes na mesma, para se entregarem ao novo comando, e aos civis sírios que, se mantivessem calmos, em casa.
Depois de algumas reações dos soldados do Daesh, prontamente dominadas, as tropas curdas aprisionaram e entregaram ao exército sírio todos os jihadistas que ocupavam a cidade, e que haviam escapado, tendo para o efeito, obtido denodada colaboração dos civis sírios, habitantes de Palmira.
Assim, a mártir Palmira, depois de sofrer tanta destruição e do seu povo ter sido completamente vilipendiado, foi libertada, cumprindo-se mais uma vez a profecia de Daniel que dizia: “o povo de Deus será livrado para sempre dos seus opressores”, e o nosso amigo Marcus Zigller, coberto de glória e, cansado de tantas lutas, voltou para a “sua” linda Salzburgo, de cujo castelo altaneiro, pode ver o rio Salzach espraiando-se a seus pés, enquanto abraça a sua querida noiva Laríssa, por quem está perdidamente apaixonado ...
já tinha imensas saudades!
(Conto baseado em fatos reais)
Estêvão de Sousa 2016
“in Sui Genertis – Antologia A BIBLIA, 3º Testamento”