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Segurança Alimentar - Sítio Luminosa | pág
Sítio Luminosa - Salesópolis
Por Nívia Alencar O agricultor Flávio de Souza Graça herdou do pai Antonio Santos Garça, a lida com a terra. Sua história começou com eucalipto para a indústria de papel e celulose em Salesópolis. Com a crise da madeira, em 2008, Flávio e seu pai passaram a cultivar alimentos. Flávio percebeu a importância da certificação orgânica e assim o fez. Com a esposa Adriele Graça, trabalha com amor, é fácil notar o resultado nos alimentos bem cuidados, assim como os dois filhos saboreando jabuticaba no pé. Flávio Graça, 36 anos, nasceu em Salesópolis, onde vive e trabalha, tem ensino médio completo e concedeu a seguinte entrevista.
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Quando passou a trabalhar como agricultor? Salesópolis foi a sua opção, por quê? Trabalhei durante toda minha vida com meu pai Antônio Santos Garça e, mais tarde, também com meu sogro Benedito Leite Silva. Plantávamos eucalipto à indústria de papel e celulose, até sermos afetados pela crise da madeira, ao final de 2008, perdurando anos seguintes. Passamos a vender nossa madeira para carvoaria e serralheria até 2015. Recebi, então, convite de meu primo Irineu Rodolfo de Jesus – produtor rural - para cultivar alimentos à venda ao PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Eu plantava em um sítio de meu pai, no bairro Morro Azul, em Paraibuna. Devido à longa distância de Salesópolis, transferi a atividade para esta cidade, sítio de meu sogro, e mantenho trabalho em outra propriedade de meu pai, em Paraibuna, mais próxima à Salesópolis.
Qual o tamanho de sua propriedade, inclui unidade de conservação? Aqui em Salesópolis, onde eu moro, 1 hectare, Sítio Luminosa, planto legumes e frutíferas nativas, também estou reflorestando parte da área ambiental, e ainda envolve uma represa onde também farei o reflorestamento ainda neste ano. Sítio Santo Antônio, em Paraibuna, são cerca de 4 hectares, dois deles de horta e frutíferas, o restante de eucalipto, também estou reflorestando área de preservação permanente (app).
Qual o staff do trabalho diário em sua terra? Você integra alguma associação? Trabalho com minha esposa; e conto com apoio relevante de colaboradores. Integro a Camat (Cooperativa Mista do Alto Tiete), que fomentava a venda de eucalipto e agora incentiva à produção de alimentos. Também faço parte da OCS, organização de produtores de orgânicos, que fiscaliza o cumprimento das regras para cultivo de orgânicos, entre seus associados. A Camat ainda nos ajuda para aquisição de cozinha industrial de beneficiamento de nossos produtos. Você participou da Feira do Produtor Rural (Salesópolis (30/10), qual resultado? Esta Feira envolve curso do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para contato direto entre produtor rural e consumidor. Foi bem sucedida como experiência e receita, e para segurança alimentar da comunidade de Salesópolis, próxima ao cultivo de seus alimentos. Quanto ao alimento orgânico, a certificação deste processo há quanto desfruta? Há três anos trabalhamos com manejo orgânico. Participamos de vários cursos e recebemos muitas novidades do setor. Enfrentamos muitas dificuldades ao implementar. A terra, no início, não estava pronta para orgânico, o resultado era produção restrita, não havia diversificação. Foi difícil também estudar o assunto, buscar informação, e ao mesmo trabalhar na terra. Temos a Certificação de Orgânicos há dois anos. Valeu a pena por podermos oferecer produto de qualidade.
Fale sobre as dificuldades em manter a produção rural. Os efeitos intensos climáticos afetam este setor, assim como a crise econômica. No começo deste ano, sofremos com chuva de granizo. No meio do mesmo ano, geada e a crise econômica que gerou e ainda gera muita perda e outras dificuldades.
Como você se defende dos fenômenos naturais, agravados pelos maus tratos ao planeta? Como enfrenta a crise econômica? Temos de continuar trabalhando e acreditar que possamos mudar este cenário. Em relação ao ecossistema, faço minha parte, com o reflorestamento, e o não uso de agrotóxico.
Quais alimentos em geral você consegue cultivar? Banana nanica e prata, limão, manga, jabuticaba, uvaia, cambuci, araçaboi, tomate, pepino, pimentão, berinjela, alface crespa e americana, mandioca, escarola, lichia, beterraba, rúcula, cenoura, brócolis, couve-flor, cheiro verde, rabanete, etc.
Na comercialização dos alimentos, quais os êxitos e as dificuldades? A vantagem é a alimentação de qualidade a nós e aos clientes. A dificuldade é a falta de conhecimento pleno das pessoas sobre a agricultura familiar e orgânica.
Qual sua análise sobre o produtor rural em nosso país? Você tem sugestões? Quando se fala em produtor rural se imagina grandes empreendedores, com porte de tecnologia e voltado à exportação. Somos pequenos produtores, buscamos levar à mesa dos brasileiros produtos de qualidade, apesar da hegemonia da indústria de alimentos, nem sempre saudável.
O Conselho de Orientação do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista – deliberou, em setembro, pelo Projeto de Custeio Emergencial Agro SP, no contexto da pandemia Covid-19, condição de seca e frente frias. Abriu financiamento de até R$ 80 mil por produtor, com prazo até 31/12 próximo, pagamento em 72 meses e juros de 1% ao ano. Qual sua opinião sobre esta iniciativa? Muito boa iniciativa. Mas não tenho como assumir por falta de garantia de receita para saldar a dívida.
O que o motiva, todas as manhãs, a ser um produtor rural neste país? E o que recomenda a quem quer iniciar este desafio? Tenho prazer em plantar e colher, perceber como a terra responde ao bom cultivo. Meu conselho a quem pensa em começar esta profissão é estudar, sempre.