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Da redação jornalística para o campo de pesquisa científica
A jornalista, Taís Seibt, iniciou os estudos sobre fact-checking no Brasil e, atualmente, é uma das principais referências da área.
Formada em Jornalismo pela Unisinos em Porto Alegre (RS), a jornalista Taís Seibt, que já atuou em veículos como o jornal Zero Hora, iniciou os estudos relacionados à área de fact-checking em 2015. Atualmente, é referência na área. Em entrevista à Revista F, a jornalista conta o porquê escolheu o jornalismo, os desafios e obstáculos que os(as) pesquisadores(as) enfrentam no Brasil e os próximos passos da sua pesquisa.
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Revista F: Por que decidiu trabalhar com jornalismo?
Taís: Nos primeiros anos da escola, logo comecei a me destacar nas aulas de redação. Ganhei vários concursos literários, fui “Jornalista por um dia” do jornal Zero Hora (ZH) mais de uma vez. Quando visitei a redação do ZH, em Porto Alegre, que era uma das premiações do concurso, eu fiquei encantada. E tudo isso fez sentido quando, mais tarde, me tornei repórter e trabalhei naquela redação por vários anos. Acho que não sei responder exatamente por que decidi trabalhar como jornalista, parece que sempre fui jornalista.
Revista F: E quando se interessou pela pesquisa acadêmica?
Taís: Desde o início da faculdade eu já trabalhava para me manter. Entrei na pesquisa acadêmica quando surgiu uma oportunidade de entrar na iniciação científica como bolsista, o que também me ajudava a pagar o curso. Essa configuração fez com que, desde o começo, eu estivesse sempre com um pé na academia e outro no mercado de trabalho. Isso nunca mudou, até hoje vivo assim. Peguei gosto pela pesquisa, tanto que resolvi fazer mestrado logo depois de formada. Mas ao mesmo tempo, nunca deixei de ser repórter.
Revista F: Como surgiu o seu interesse de estudo sobre fact-checking e o fenômeno da desinformação?
Taís: Foi uma consequência de outros olhares de pesquisa. No mestrado, estudei o processo de convergência jornalística na redação do Zero Hora, no qual, ainda era repórter durante o mestrado. Estava investigando as mudanças de rotinas numa redação que estava começando um processo de integração entre o impresso e o digital - hoje é meio louco pensar nisso porque tudo já está altamente integrado ao digital, mas naquela época eram mundos paralelos. Conforme ia avançando nas referências, vendo outros estudos, a realidade em outros países, começou a mwwe chamar atenção a vida fora das redações tradicionais. Até aquele momento, reportagem fora das o jornalista tinha uma visão de carreira de certa forma condicionada a trabalhar em um veículo, e isso estava mudando. Quando fui para o doutorado, direcionei meu olhar para isso. Queria investigar as rotinas de redações o jornalista tinha uma visão de carreira de certa forma condicionada a trabalhar em um veículo, e isso estava mudando. Quando fui para o doutorado, direcionei meu olhar para isso. Queria investigar as rotinas de redações tradicionais, nos meios nativos digitais, que abriram e seguem abrindo frentes de trabalho diversas para os jornalistas. Terminei o doutorado e não parei nunca de pesquisar, estudar, aprender. Estou ainda, como todos, analisando, interpretando, tentando buscar respostas que não temos para o fenômeno que está diante de nós e não para de se transformar. Tanta coisa já aconteceu desde 2018, e não para de acontecer.
O próprio termo “desinformação” foi encontrando seu espaço nessas transformações, pela necessidade de se adaptar um vocabulário que já não traduzia o que estávamos tentando explicar. O fact-checking se transformou, assumiu outras funções de verificação, foi alçado a um papel de autoridade, podese dizer. Quando comecei os estudos era apenas mais uma prática secundária deste jornalismo nativo digital.
Revista F: O Afonte Jornalismo alterou sua visão sobre o mundo?
Taís: São várias coisas. Por um lado, ser idealizadora de uma iniciativa independente, mesmo que pequena e sem recursos, exige diversificar nossas competências: desde gestão, planejamento, marketing. Não é mais só jornalismo. Então, a primeira mudança de visão de mundo que Afonte me trouxe é sobre propósito. O que fazemos e por que fazemos? Quando a gente se insere em uma organização, vamos fazendo o que fomos contratados para fazer, a nossa “obrigação”. A chave vira um pouco quando nos vemos tendo que investir tempo, que é um bem precioso, criatividade e até dinheiro em uma coisa nossa. Tem que fazer sentido. Todas investir tempo, que é um bem precioso, criatividade e até dinheiro em uma coisa nossa. Tem que fazer sentido. Todas as escolhas profissionais que fiz depois de criar Afonte, os projetos em que me envolvi e o quanto me dedico ao que faço, fazem parte dessa visão de mundo.
Revista F: Como a situação da pandemia impactou na produção da sua pesquisa?
Taís: A pandemia teve um duplo impacto no meu tema de estudo: primeiro, ajudou a colocar o tema em evidência, o que foi bom, porque tinha uma pesquisa recente sobre isso; segundo, despertou o interesse de todo mundo sobre o tema, então, pipocaram novas pesquisas aos montes, o que foi complicado, porque ficou muito difícil me manter atualizada sobre as discussões. Toda a escassez de bibliografia que havia antes foi suplantada por uma volumosa produção acadêmica sobre esse tema. Meu grande desafio hoje é acompanhar tudo isso e ficar atualizada, porque tem muita coisa interessante e relevante sendo produzida.
Revista F: Alguma dica para quem deseja seguir a carreira em pesquisa acadêmica na área da comunicação?
Taís: A carreira do pesquisador no Brasil é um pouco complicada. Quando você recebe uma bolsa de mestrado ou doutorado, precisa se dedicar exclusivamente à pesquisa, não pode ter vínculo empregatício. Uma bolsa de doutorado atualmente paga R$ 2.200, e não há férias, 13º, vale transporte ou qualquer outro benefício em cima disso. São 48 parcelas mensais de R$ 2.200, equivalente aos quatro anos de curso. Não se fala muito sobre isso, mas precisamos falar. É só fazer as contas: dá para arcar com os custos da pesquisa em si e mais com seus custos de vida, quando você paga aluguel ou é chefe de família? Esse valor de bolsa é um dos elementos de exclusão social no mundo acadêmico. Faz pesquisa quem tem condições de se manter nessa situação, seja com reservas financeiras ou ajuda familiar. Então, é bem difícil pensar numa dica. Porque se dedicar a um tema, estudar tudo o que pode, criar redes de contato com pesquisadores, participar de congressos acadêmicos e publicar artigos, nada disso garante sucesso na carreira de pesquisa. É fundamental fazer tudo isso, mas tem essa dificuldade de fundo. Precisamos batalhar pela educação, pela ciência, enquanto sociedade mesmo.
Revista F: Tem projetos futuros em relação a checagem de fatos?
Taís: Minha atuação está cada vez mais voltada à educação midiática, que inclui o fact-checking, estou menos na “linha de frente” da checagem. Mas considero que isso também é um projeto relacionado à checagem de fatos, porque formar leitores preparados para este mundo é fundamental.