Revista F | Ano 2 - 2016 | n.3

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EXPEDIENTE A Revista F é uma publicação laboratorial produzida pelos alunos do curso de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Internacional (Uninter). Campus Tiradentes Chanceler: Wilson Picler Reitor: Benhur Gaio Diretor da Escola de Gestão e Negócios: Elton Schneider Coordenador do curso de Jornalismo: Guilherme Carvalho Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda: Patrick Diener Professora responsável: Sionelly Leite Textos e imagens: Alunos da UTA Jornalismo e Sociedade Alunos da UTA Princípios da Publicidade Diagramação e projeto gráfico: Alunos de Jornalismo da UTA Impresso

EDITORIAL Quem consegue resistir a uma boa história? Entrelaçada entre linhas e letras, percepções e imagens, histórias nos fazem conhecer o mundo. Ainda mais quando trazem sensações que são despertadas com as melhores rimas e as melhores cores. Quando o bom da vida é aprender a viver, nada melhor do que ouvir, ver e sentir aquilo que está ao nosso alcance. Ao contar histórias no jornalismo, nos arriscamos a perceber, mas, principalmente, a entender a complexidade humana. Eis um efeito ao entrar na vida de personagens como Chaveirinho, Ademar, Mara, João. Gente que, no dia a dia, reconhece em suas atividades a lógica da vida: aprender a se superar. A partir das faces do feminismo, por exemplo, descobrimos a luta da mulher pela liberdade e pela igualdade em um universo tão masculinizado. Ou na trajetória da mulher na educação ao reparar nas perspectivas machistas da construção social humana. Como a luta e a história de Malala Yousafzai, que se tornou, aos 17 anos, a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2014. Malala queria apenas que ela e suas colegas tivessem o direito de estudar, o que, em seu país, é proibido para meninas. E que tal calçar os pés com salto alto e subir a arquibancada para vibrar por seu time de futebol? Impensável há algumas décadas. Ou subir na bike de saia e enfrentar o trânsito caótico das grandes cidades? Um desafio ainda presente nos tempos contemporâneos. É preciso que haja interpretação do mundo pela literatura, fotografias, charges, como na análise crítica de Tempos Modernos, um clássico de Chaplin lançado na década de 1930 que mantém atuais as observações sobre o capitalismo, a produção industrial massiva e outras tantas questões que se arrastaram até o século 21. Dá também para sentir a vida em construção nos ensaios fotográficos sobre casarões antigos, a estação de ônibus em Piraquara, ou nas identidades visuais que percorrem o calçadão da Rua XV, no centro de Curitiba. Graças aos esforços e à dedicação da equipe da Revista F, em descobrir novas histórias, ficaremos sabendo muito mais sobre a era das lutas e da evolução social humana, o que também nos ajudará a localizar nosso eu no mundo, e em como podemos começar a perceber grandes histórias em gestos e olhares simples. Sionelly Leite

Endereço: Rua Saldanha Marinho, 131 80410150 - Centro Curitiba – Paraná E-mail: nucleopontozero@gmail.com Facebook: facebook.com/frevista/ Site Portal da Comunicação: uninter.com/portalcomunicacao/ Site Curso de Jornalismo: uninter.com/graduacao-presencial/ cursos/bacharelados/jornalismo Site Curso de Publicidade: uninter.com/graduacao-presencial/ cursos/bacharelados/comunicacaosocial-publicidade-propaganda

DIAGRAMAÇÃO:


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Sumário

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Editorial ..........................................................................3 Sumário.......................................................................4 Salto alto e arquibancada..............................................5 A ilustre vida de Chaveirinho.......................................6 Um dia na vida de Ademar..........................................7 A senhora que lia livros.............................................7 A cultura da bicicleta e a participação feminina.....8 Escola ecológica............................................................9 Mulheres na educação.................................................10 Faces do feminismo.....................................................12 Ensaios Fotográficos....................................................14 Mulher na moda brasileira...........................................22 Liberdade e formas de expressão...............................24 Carlito e sua crítica moderna....................................32 Charges...............................................................33


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Salto alto e Arquibancada Por Vanusa Caetano Ribeiro

Há quem diga que futebol é coisa para homem, porém atualmente a realidade nos estádios é outra. Antigamente não era muito comum encontrar mulheres nos estádios, e as que iam, estavam acompanhando namorado, pai ou alguém da família. Hoje em dia, sozinhas ou acompanhadas, elas estão lá, torcendo. Por amor ao time do coração elas fazem loucuras: viajam para outros estádios, aguardam a chegada da delegação do seu time nos aeroportos e se for preciso até entram em confusões com torcidas adversárias. Lugar de mulher é na cozinha Quem vai pra arquibancada são os homens O machismo ainda está presente em todas as torcidas, uns tentam disfarçar, já outros assumem que não gostam e ponto. O sexo masculino simplesmente não aceita o fato de que mulher pode, sim, gostar, entender ou até mesmo jogar futebol, afinal, para eles, as mulheres estão lá apenas para ver as “pernas dos jogadores” ou para paquerar outros torcedores. Ouse uma mulher dizer que o Internacional foi campeão do mundo em 2006 com um gol de Adriano Gabiru em cima do Barcelona e pronto, isso basta para chocá-los. Qualquer coisa que você, mulher, diga que não seja “mas o Cristiano Ronaldo é lindo” vai surpreender quem ouve. As ditas “musas do futebol”

Entrevista com uma torcedora Fanática pelo JEC (Joinville Esporte Clube) e sócia da torcida organizada União Tricolor, Anna Carolina, 17, conversou com a equipe da revista F sobre sua vida na arquibancada. Revista F – O que o Joinville significa para você? Anna: O Joinville é minha razão de viver! Eu respiro, e vivo Joinville. RF– Por amor ao futebol e pelo Joinville você já fez alguma loucura? Anna: Sim, já fiz muitas loucuras. Para ver o JEC, uma vez precisei brigar com meus pais e fugir de casa, porque no começo eles não aceitavam que eu frequentasse estádios. RF– Quando entrou para a torcida organizada? Anna: Comecei a frequentar a Arena Joinville com uma amiga. No começo era apenas para fazer companhia, mas com o tempo me apaixonei pelo Joinville e não teve jeito. Aliás, até teve. Há três anos entrei para a União Tricolor (torcida organizada do JEC) e lá fiz os meus melhores amigos. RF– Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher e participar da arquibancada? Se sim, quais foram as situações? Anna: Os preconceitos são muitos, pois os homens acham que nós não entendemos de futebol e que “aquele lugar” não é para mulher, mas eu tenho esperanças e a cada dia que passa sinto que estamos ganhando mais força e conquistando o nosso lugar na bancada.

Muito comum no mundo do futebol são as “torcedoras” que usam o seu clube para se autopromover com sua beleza. Para esse tipo, biquíni ou pouca roupa são essenciais para participar dos concursos de beleza. O mais interessante é que mesmo com algumas exceções, a grande maioria dessas “musas” nunca esteve em um estádio, não sabem nem o ano de fundação do clube e muitas vezes nem torcem pelo time que escolheram representar no concurso. Não que seja o caso de todas, mas, infelizmente, o papel da mulher, em alguns casos, tem sido o de alavancar o time com seus corpos seminus. Estádio Fashion Week Cabelo impecável, unhas feitas, maquiagem básica, óculos, cachecóis e muitos outros acessórios: engana-se quem pensa que mulher que vai ao estádio não é vaidosa. Elas não deixam de ser femininas por gostar de futebol. Em algumas torcidas femininas, por exemplo, são produzidos modelos de camiseta baby look, biquínis e shorts jeans com os escudos dos times. O difícil em jogos é conseguir manter essa vaidade. Não há maquiagem que aguente um sol de 30ºC e muito menos unhas que durem em uma disputa de pênaltis.

Anna Carolina e seu namorado, Jonatan, na arena Joinville / Foto: Arquivo Pessoal

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A vida ilustre de Chaveirinho Por Douglas Miranda

Hoje, Curitiba é a minha segunda terra natal. Cidade acolhedora” Essa paixão pela cidade do Leite Quente vem do senhor Aparecido Rodrigues, 56 anos, trabalhando como engraxate há 24 anos na rua XV de Novembro na Boca do Brilho, mais conhecido como Boca Maldita. Mas para chegar onde está, Aparecido teve muita sola de sapato para gastar. Quando casado, já com seus 18 anos foi tentar uma vida mais agitada em São Paulo, pois uma vida calma na terra natal, na sua cabeça, não daria futuro, então com um filho e a esposa, tentou na cidade grande a oportunidade. “Na época o povo falava que São Paulo juntava dinheiro de rastela, mas era tudo mentira”. Este foi o convencimento do povo para migrar em São Paulo para tentar uma vida que não deu certo em apenas dois anos. Aparecido tentou a vida em Londrina-PR, onde seu irmão lhe ofereceu um emprego em uma fábrica de cerâmica, porém, mal sabia ele que teria uma vida de experiência profissional, onde passou por três locais, motorista de trator e por muito tempo cobrador de ônibus de linha interestadual. Como todo indivíduo que acaba com saudade de suas raízes, com senhor Aparecido não foi diferente. Ele voltou para Paraíso do Norte, sua cidade natal, mas o efeito de encantamento de berço passou em apenas quatro anos, pois não era as mesmas belezas e a necessidade também bateu à porta, pois seus filhos já estavam grandes e precisavam sair da velha vida pacata. Em 1993 um amigo lhe ofereceu um abrigo na capital paranaense e quando viajou deixou esposa e filhos, para tentar uma vida melhor. Assim começou a vida de engraxate: “Antes de entrar na associação, que é hoje, comecei com apenas um banquinho e uma caixa de ferramentas para ilustrar um sapato, em 23 dias consegui algo e já mandei que meus filhos e a

esposa viessem para tentar uma nova vida junto comigo”. E a profissão lhe abriu portas. Hoje atendo pessoas com fomações altas, muito político, e até cheguei a receber uma proposta para ser vereador desta cidade, por ser muito conhecido”. Conforme a entrevista, Chaveirinho, como é conhecido, chegou a relatar que também que, além de graduado em “política”, é doutorem futebol amador. “Em Londrina montei um timaço no campeonato amador e fui campeão estadual. Só não cheguei a ser jogador, pela fratura na perna direita”. Se dá para falar que tem homens cheios oportunidade, este homem é o Chaveirinho, pois em 2006 recebeu proposta para ser engraxate na Europa. “Cara, esta profissão que você faz hoje, lá na Europa é raríssimo, você vai ganhar muito dinheiro... Mas, pela minha filha, desisti deste sonho”. Nesta profissão de engraxates, com o filho mais novo tendo 18 anos de casa, Seu Aparecido tem muita história para contar, das tristes até as mais engraçadas. “Uma vez um idoso muito simpático veio para ilustrar seu sapato com uma pasta na mão, enquanto ilustrava seu sapato, ele me perguntou: ‘Chaveirinho quanto tempo você vai demorar’, eu disse que dentro de 15 minutos. Então ele disse ‘então faz o seguinte, tire o sapato’. Eu tirei, e para mim ele ia pegar outro dentro daquela pasta, mas ele simplesmente foi para sua audiência, descalço e voltou para buscar depois os seus sapatos”. Ao final da entrevista, nossa equipe pediu para que Chaveirinho mandasse uma mensagem, e ele, finalizando, nos disse: “Faça o bem sem ver a quem, e ame o que você faz para alcançar sucesso”. Chaveirinho sabe que, de passo a passo, é que se faz a caminhada. foto: Douglas Miranda


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Um dia na vida de Ademar

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A Senhora que lia livros. texto e foto Daiane da Silva Medeiros

Texto e foto Bárbara Nunes

O gari da prefeitura de Curitiba Ademar Barros da Silva é um senhor de 50 anos, que exala simpatia por onde passa, com seu carisma, disposição e simplicidade. De segunda a sábado, ele sai de Almirante Tamandaré, para manter limpa as ruas do centro das 14:25 às 22:34, e a cada um domingo do mês faz a mesma rotina. Ademar veio de uma cidade do interior, Altamira do Paraná, onde estudou até a 4ª série. Trabalhou em outras áreas, como metalurgia e entrega de móveis, antes de se tornar gari, há 13 anos. Separado há seis anos, mora com seus dois filhos - uma menina de 11 e um menino de 8 anos. Seus filhos reclamam muito pelo fato de o pai trabalhar tanto e não ter tempo para o lazer com eles, pois como disse o gari “nos feriados quem está escalado tem que trabalhar”. Mesmo com a rotina dura, quando é perguntado se gosta do que faz, a resposta é que já se acostumou com isso, mas, que, se pudesse, trabalharia com algo mais leve, algum trabalho em que tivesse mais folgas e mais tempo para descansar, a fim de aproveitar a presença dos filhos e tentar encontrar uma esposa. Apesar da jornada de trabalho dos garis ser um pouco longa, a prefeitura de Curitiba procura dar assistência aos trabalhadores. Por exemplo: no verão, é disponibilizado protetor solar a todos e, no inverno, uma jaqueta grossa para se aqueceram nos dias frios, além do que, em dias de chuva mais intensos eles não são obrigados a trabalhar. Nesses 13 anos de trabalho, Ademar já viu de tudo no centro da cidade, algumas pessoas mal educadas e outras não. Lembra que, uma vez, uma menina parou para tirar fotos dos garis e agradecêlos por manter a cidade limpa. O gari simpático conta que muitos passam e elogiam seu trabalho, e reconhecem que a sua atividade é muito importante para a cidade, pois, além de recolher o lixo, ajuda a combater os focos da dengue presente nas ruas.

Sob o céu cinza e nublado da grande Curitiba, entre as palmeiras que habitam os canteiros da Avenida Sete de Setembro e as vitrines das lojas populares, encontra-se uma senhora concentrada nas páginas de um livro nada pequeno. São mais de 350 páginas que distraem a vendedora ambulante, Mara Vaz, de 53 anos. A obra intitulada “Memórias de um Suicida” demonstra seu apego pela doutrina espírita. Para ela, beber, fumar, não cuidar da saúde, são formas de suicídio a longo prazo. Sentada em uma cadeira, embaixo da fachada de uma loja, a mulher que parece querer se esconder, através de um boné, seus cabelos desgrenhados, aguarda a chegada de algum cliente na banca de camelô. Casada com um deficiente visual e mãe de uma filha, a vendedora relembra como o trabalho surgiu na sua vida. O casamento aconteceu com um músico. Depois de sete anos de relacionamento, ela engravidou. Quando a filha fez cinco anos de idade, Mara resolveu ir para São Paulo em busca de um tratamento para a visão do marido. Sem sucesso, voltaram para Curitiba. O negócio de camelô começou com uma prima. Depois de aprender as manhas da profissão e juntar um dinheirinho, Mara abriu a própria banca. “Já faz um ano que estou com meu próprio comércio”, lembra. Todo dia, de segunda a sexta-feira, a vendedora pega ônibus às 8 horas da manhã e vem da Cidade Industrial de Curitiba, o CIC, onde mora com a filha e o marido. Logo em seguida a nossa entrevista, Mara se levanta e vai atender uma cliente. Na banca, encontra-se de tudo. Desde meias até jarras elétricas, brinquedos, calculadoras, isqueiros e por aí vai. A variedade e a qualidade dos produtos são a marca da vendedora ambulante. De volta à leitura, Mara exibe com orgulho a dedicatória que a filha escreveu no livro. Ao perceber que o sol já não é o mesmo do início da tarde, Mara começa o ritual para guardar os objetos nos sacolões. Para não levar tudo de ônibus, ela aluga uma peça que protege a mercadoria. O movimento na Avenida 7 vai diminuindo à medida que o sol desaparece. Amanhã recomeça tudo de novo e provavelmente vai ser possível encontrar Mara acompanhada de um bom livro, e suas histórias.


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Fotos: modadesubculturas.com.br

A Cultura da bicicleta e a participação feminina

A chamada cultura-bike cresce e atrai cada vez mais pessoas com o interesse de ocupar a cidade usando a bicicleta como um ato de protesto. Diversos são os movimentos, dentre eles os encontros propagados nos sites de redes sociais, nos murais em transportes públicos, em cartazes espalhados pelo centro da cidade, entre outros. Essas manifestações ocorrem para pressionar o governo e administrações públicas, responsáveis no planejamento de melhoria na mobilidade urbana. O ciclismo simboliza o empoderamento e a libertação para ocupar espaços que eram frequentados somente por homens. Ao analisarmos a história do movimento feminino presente nessas manifestações, podemos perceber mudanças em alguns aspectos, como a vestimenta. No século XIX usavam-se espartilhos, vestidos longos espalhafatosos, nada de confortável para se pedalar, não é mesmo? Em meados da década de 1890 dá-se então um novo modelo de roupa para as mulheres, com menos tecido, calças até o joelho, saias longas, etc. As mulheres da classe média da época eram levadas de carruagem até um parque para então praticar a pedalada, tudo para não serem hostilizadas. Trazendo o tema para a atual interação desse fenômeno, criaram-se coletivos femininos com o objetivo de visibilidade. O grupo Pedal de Salto, de Belo Horizonte, organiza passeatas, eventos em diferentes datas comemorativas ou não. Em Curitiba há diversos eventos e cerimônias, como o Bike Ghost, em que se reúnem moradores e ciclistas (não importa a modalidade) para pendurar uma bicicleta branca no local em que morre algum praticante.

Texto Tayná Alberti

Entrevista A Revista F bateu um papo com a estudante de Geografia da UFPR, Ana Sophia, 25, sobre o tema: Revista F: Ana, há quanto tempo você anda de bicicleta e a usa como meio de transporte? Ana: “Sempre pedalei. Quando soube que iria cursar no centro politécnico, pensei em ir de ônibus, depois que algumas conversas com colegas e lugares que frequento, percebi que o medo de ir sozinha era coisa da minha cabeça.” RF: Qual é a distância que você percorre diariamente? Ana: “26 quilômetros, contando ida e volta” RF: Curitiba tem lugar pra ciclista, sobretudo para a mulher? Ana: “Sofri um bocado de preconceito. Quando falei pra minha mãe que iria de bicicleta ela já perguntou se algum amigo iria comigo, como se precisasse de uma figura masculina do meu lado para eu me locomover em segurança. O que tem que mudar é a conjuntura da nossa cultura, que acredita que mulher não pode e não deve participar da política, em manifestos, organizações e outros. Mulher pode, e pode muito! O que mulher pode é: PODER”


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A Escola

Ecológica: Fotos e texto por Heloísa Ribas

Um lugar onde se aprende mais do que ler e escrever Localizada no município de Almirante Tamandaré, a Escola Ecológica Marcelino Champagnat foge dos padrões no quesito ensino. Como unidade filantrópica, a escola atende cerca de 300 alunos entre 12 e 17 anos. O nome “Ecológica” não é por acaso. O lugar onde a escola foi construída é uma chácara com diversos tipos de árvores históricas, centenárias, e é lar de muitos animais. Esquilos, cobras, lagartos e ovelhas convivem com os alunos da instituição. A riqueza ambiental mostra aos pequenos a importância da preservação e do cuidado, que são praticados por eles mesmos, à medida que mutirões são promovidos. As atividades, na maioria dos casos, são feitas fora de sala nos diversos espaços, como a “pracinha”, o bosque e o campo das árvores. A liberdade dada aos alunos compreende a confiança, respeito e responsabilidade com o meio em que convivem. Além do que, os educadores promovem a leitura de maneira aberta, e as atividades práticas biológicas são executadas nas salas de ciências.

Existe também o evento anual que é tradição na escola, o Despertar da Poesia, em que são desenvolvidas atividades de arte, música, teatro e, claro, poesia. Seja como um centro social, que recebe crianças e adolescentes em situação de risco, ou uma escola convencional, o que deveria ser possível para todas, são os espaços ao ar livre, essas “rotinas” tornam os alunos mais hábeis com a realidade da natureza. Aprende-se não somente em sala com pessoas. Aprende-se por meio de experiências diretas, como rolar na grama, subir em uma árvore, perder o medo de fazer carinho na ovelha. Instantes preciosos, olhares humanos e curiosos. Detalhes tão importantes quanto aprender a ler ou a escrever. Que podem fazer desses alunos cidadãos diferentes na sociedade.


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MULHERES NA EDUCAÇÃO

Foto: Adriano Moreira

Por Barbara Nunes Santos

Para que se compreenda esse tema de maneira abrangente é preciso que se inicie pela trajetória da mulher na educação, a mulher não tinha acesso à educação no começo da colonização, pois sua função era cuidar do lar e de sua família, consequentemente foi-se criando uma cultura através dessa realidade que está sendo mudada aos poucos com as inovações do mundo moderno. No período Colonial, a educação era no lar, voltada para as atividades domésticas. Somente no século XIX que a participação feminina iniciou-se, com os colégios particulares destinados somente a mulheres, mas só as que eram nascidas ricas podiam estudar. Nesses colégios, as alunas aprendiam a se comportar na sociedade e a respeitar o outro. Com relação ao ensino público, a participação feminina só ocorreu após a fundação da Escola Normal (escola para formação de professores e professoras), em 1880, no Rio de Janeiro. Até a década de 1870 as mulheres brasileiras eram proibidas de cursar a universidade e só a partir de 1879 o governo abriu instituições de ensino superior que mulheres podiam frequentar. Mesmo assim só depois de anos elas realmente invadiram as universidades, mas a maioria nas áreas consideradas “femininas”, como a de Humanas. Atualmente, segundo pesquisas da Secretária da Educação do Governo do Paraná, “As mulheres são maioria em quase todos os níveis de ensino, especialmente nas universidades, têm um tempo médio de estudos superior ao dos homens, tornando-se cada dia mais alfabetizadas, e apresentam um desempenho escolar, em vários níveis, comparativamente melhor ao dos homens”. Segundo a socióloga Moema Viezzer, “A escolaridade feminina progrediu rapidamente, mas as mudanças culturais são lentas e as institucionais ainda mais”. Pois “o currículo, os livros e a forma de educar reproduzem preconceitos que desvalorizam o papel feminino, o confinam no lar, a trabalhos e carreiras pouco valorizadas”. Um exemplo disso é a escolha dos cursos de graduação: as mulheres escolhem as ciências humanas optando pelos cursos relacionados a


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Fonte: morguefile

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serviços para a saúde e a sociedade, e os de educação, como secretariado, psicologia, nutrição, enfermagem, serviço social e pedagogia; enquanto os homens preferem as áreas de exatas e tecnológicas nos cursos de engenharia, tecnologia, indústria e computação. A opção por áreas de humanas faz com que as mulheres ocupem a maior parte do total de professores da educação básica do país, em quase todos os níveis de ensino, menos no ensino profissionalizante, são mulheres que lecionam. Segundo a socióloga Magda de Almeida Neves, isso acontece porque a sociedade associa a função do professor a características geralmente consideradas femininas, como a atenção, a delicadeza e a meiguice, que podem ser associadas aos de uma mãe e para possuí-los não é necessário qualificação profissional. Enquanto no Brasil as mulheres possuem um espaço significativo na educação em outros lugares do mundo há mulheres lutando por seus direitos mínimos de aprendizagem. Um exemplo disso é a jovem paquistanesa MalalaYousafzai que luta pelos direitos das mulheres. Sua coragem fez com que ela se tornasse, aos 17 anos, a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2014. Malala queria apenas que ela e suas colegas tivessem o direito de estudar, o que, em seu país, é proibido para meninas. Mesmo sendo perseguida e censurada, ela não se calou e não desistiu de lutar. Mas, em outubro de 2012, quando voltava da escola, foi atingida na cabeça com um tiro disparado por soldados a mando de autoridades. A justificativa de um ato tão cruel é de que Malala seria um símbolo dos infiéis e

uma ameaça contra o Islã. Após se recuperar, Malala citou em seu livro Eu sou Malala A história da garota que defendeu o direito á educação e foi baleada no Talibã (2013): “Minha meta ao escrever o livro era erguer a voz em nome de milhões de meninas ao redor do mundo às quais é negado o direito de ir à escola e realizar seu potencial. Espero que minha história possa inspirar as garotas a erguer suas vozes e a abraçar o poder que têm dentro de si”. E para mostrar que essa desigualdade vem desde os primórdios da educação e que muitas mulheres também lutaram por seus direitos de estudar e exercer um papel importante para a história da sociedade, podem ser citados três exemplos, como: • Carolina Mary Catherine Krug Florence (1828-1913): uma educadora alemã fundadora do Colégio Florence, em São Paulo, o primeiro a ser destinado a mulheres. • Maria Montessori (1870-1952): médica e pedagoga italiana, sendo assim a primeira mulher a se formar em medicina na Itália. Seus estudos renderam na criação do método Montessori (baseado em experiências sensoriais) e o de materiais muito utilizados até hoje, como o alfabeto móvel e o material dourado. • Enedina Alves Marques (1913-1981): engenheira curitibana, primeira mulher a se formar no curso de Engenharia Civil, pela Universidade Federal do Paraná em 1945, além de ser a primeira Engenheira negra do Brasil. Mesmo com todo esse progresso, a educação e os diretos das mulheres precisam progredir mais e mais a cada dia, para que se tenha uma sociedade com menos violência e desigualdade.


Foto: Adriano Moreira

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AS FACES DO FEMINISMO Por Lucas Thomaz de Lima

O movimento Feminista surgiu em paralelo à Revolução Francesa que tinha seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Não se sabe dizer com exatidão quando e nem onde foi criado, pois se iniciavam ao mesmo tempo inúmeros movimentos isolados que já reivindicavam determinados direitos à classe feminina, como aconteceu em 5 de outubro de 1789 quando ocorreu a chamada “Marcha das mulheres do mercado”, movimento que levou mulheres até o palácio de Versalhes (França) para exigir o cumprimento de petições junto ao rei onde obtiveram êxito ao fazer com que a família real se mudasse para Paris. As mulheres buscavam o acesso aos direitos políticos e sociais que até então eram destinados apenas aos homens, como o direito ao voto que foi conquistado em alguns países como a Nova Zelândia em 1893. A resistência feminina continuou e se espalhou por outras partes do planeta, ganhando força e cada vez mais objetivos a serem conquistados, neste período que pode ser conhecido como a primeira onda feminista. E é nesta primeira onda feminista que se encontra a luta pela celebração do dia internacional da mulher. Esta data comemorativa tem origem na exigência feminina por melhores condições de trabalho em diversos países. Existem inúmeros movimentos que aconteceram e que são considerados símbolos para a oficialização do dia 8 de março como dia internacional da mulher que em 1910, em uma conferência internacional de mulheres, realizada na Dinamarca, esta data foi oficializada, porém apenas em 1975, já na segunda onda feminista, a ONU (Organização das Nações Unidas) passou a considerar a data como oficial. A segunda onda feminista, que se iniciou no ano de 1960, diferentemente da primeira não se concentrava apenas na luta dos direitos políticos, mas também na luta contra o fim da descriminação e a completa igualdade entre os sexos. Existia na época uma ideia de que o papel principal da mulher na sociedade era cuidar do lar. A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E OS DIAS ATUAIS A terceira onda feminista, que começa nos anos de 1990, vem

como uma readaptação da segunda, em suas falhas e ideias iniciais. Esta fase do feminismo se preocupava em criticar a parte social, que trazia um padrão da imagem da mulher, padrão este que era em sua grande parte fundamentada por mulheres brancas de classe média alta. Esta reivindicação se estende até os dias atuais e configura a terceira onda do feminismo como a vertente atual deste movimento social. Estudiosos do assunto afirmam que por mais que os interesses continuem os mesmos o feminismo se recriou sendo constituído por mulheres mais jovens e politizadas. É citada também a demonstração do corpo como característica marcante desta nova fase.Um dos movimentos que melhor evidenciam a atualidade feminista é chamado de “Marcha das Vadias”, que surgiu no Canadá em janeiro de 2011 quando um policial afirmou que as mulheres deveriam evitar se vestir como “vadias” para que não fossem vitimas de ataques. A repercussão foi imediata e em 3 de abril do mesmo ano, Toronto foi sede da primeira manifestação que criticava o pensamento de se transferir a culpa da agressão sexual para a vítima. Esta mesma manifestação chegou a solo brasileiro no mesmo ano em várias cidades do país. Em 2012 aconteceu a primeira “Marcha nacional das Vadias” buscando a diminuição na violência contra a mulher e o direito de ser livre. Nos dias de hoje o movimento luta também pela regulamentação da prostituição, legalização do aborto e descriminalização de gênero. Podemos dizer que o feminismo de fato deixou de ser único para se tornar um movimento destinado a grupos fragmentados com interesses diferentes e é isso que Naomi Wolf, escritora feminista americana, afirma: “SERIA LOUCO JUNTAR AS MULHERES NUM ÚNICO MOVIMENTO, DADA A DIVERSIDADE DE SUAS NECESSIDADES E EXPERIÊNCIAS”. É evidente que julgar o movimento feminista na atualidade se tornou uma tarefa de grande dificuldade, mas apesar da dificuldade é indiscutível o mérito destas mulheres por buscarem melhores condições para a classe.


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16 A arquitetura encanta por suas formas, portas, janelas e por continuarem tão conservados, já que muitos estão “em pé” há alguns séculos. Quando vimos lugares tão antigos, nos perguntamos: Quem os construiu? Quantas histórias não foram vividas ali? Quais os materiais utilizados? ... São inúmeras as histórias sobre os casarões, inclusive os de Curitiba, espalhados por diversas regiões como no Centro da cidade. Alguns são utilizados para fins comerciais, mas em geral a grande maioria é para a visitação ou viraram museus. A arquitetura antiga também pode ser observada nas igrejas, que em sua maioria continuam belas e bem conservadas. Neste ensaio, destacamos alguns lugares que merecem uma visita, uma fotografia, ou mesmo uma referência em cartão postal.

Casarões Antigos

Texto e fotos Eduardo Skrenski Motomura e Vanusa Caetano Ribeiro


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Próxima estação: Piraquara

Texto e fotos Patrícia Marinelli Zeni

A equipe da Revista F percorreu alguns trajetos de ônibus em Piraquara, região metropolitana de Curitiba, para ver como é a vida dos trabalhadores da Viação Piraquara. No transporte coletivo sempre pensamos nos passageiros e esquecemos de quem está trabalhando, como os motoristas e cobradores, que têm em seu cuidado a vida de milhares de pessoas por dia. “É um trabalho de muita responsabilidade, pois muitas vidas estão em suas mãos, ao mesmo tempo é estressante e exige atenção constante. Além de tudo temos formação e cursos de reciclagem periódicos, também a habilitação específica EAR (Exerce Atividade Remunerada), obrigatória para todos os profissionais”, relata Neuri Zeni, motorista da Viação Piraquara.


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Identidade visual


contemporânea Neste ensaio fotográfico, nossa equipe aborda a identidade visual, ou seja, como e de que forma o vestuário é um aliado na identidade individual de cada pessoa e de que forma esses aspectos são representados. Afinal, é pela identidade pessoal que nos distinguimos como indivíduos e podemos construir nossa personalidade. Um exemplo são os praticantes do movimento Hare Krishnas, que usam uma vestimenta típica, e que são reconhecidos por suas roupas. Ou o comerciante Antônio, que opta por um visual mais despojado, com seus dreadlocks vermelho e preto. Ou ainda a estudante que abordamos na rua XV de Novembro, que traz o universo oriental, com sua touca estilo cosplay. As identidades são um conjunto de características que representam um ideal a ser atingindo um referencial. Tais características são construídas pela etnia, família e pela sociedade a qual pertencemos. Sem contar que o indivíduo cansa de sua identidade que construiu/adotou e passa a adotar outra identidade, se assim desejar, o que foi possível com a globalização, já que assim cada indivíduo pode compartilhar diferentes valores e significados, resultando em uma identidade específica, mesmo que construída na miscigenação. Nosso ensaio, aqui, aborda alguns tipos de culturas em um espaço relativamente pequeno, onde podemos encontrar diversos tipos de personalidades: o centro de Curitiba.

Texto e fotos Cristiana Bengozi, Pryscilla Proscópio e Tayná Alberti

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20 Quem vê o movimentado Shopping Mueller, localizado no centro de Curitiba, nem imagina que ele já foi uma fábrica metalúrgica. Em 1972, com as linhas férreas passando a atrapalhar o fluxo dos automóveis, a estação foi desativada na cidade e o sonho do suíço Mueller começou a tronar-se um pesadelo. Em um futuro não muito distante a metalúrgica acabaria fechando e a venda de seu local daria espaço a um shopping. Atualmente, o shopping Mueller continua mantendo sua fachada histórica, uma vez que a estrutura interna veio sendo modificada com o decorrer dos anos. Um corredor dentro do shopping conta a trajetória desde a metalúrgica Mueller Irmãos Ltda. até tornar-se o Shopping Mueller. É uma forma de manter viva essa memória conhecida por poucos curitibanos, relembrada neste ensaio fotográfico.

Shopping Mueller

antes de ser um shopping

Texto Cláudia Freire e Jhonatan Giovanini Fotos acervo Mueller


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especial

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A MULHER NA MODA BRASILEIRA Por Cristiana Bengozi

Zuzu Angel

A estilista de Minas Gerais, Zuleika, conhecida pelo mundo da moda como Zuzu Angel, começou sua carreira no Rio de Janeiro. Conhecida mundialmente por suas criações, foi a primeira mulher a levar o título de estilista no Brasil. Além do que, foi um dos símbolos da ditadura militar, após a morte de seu filho Stuart Angel. Nascida como Zuleika de Souza Netto em 1921, Zuzu foi uma estilista mineira de Curvelo. Mudou-se ainda menina para Belo Horizonte, casou-se com o canadense radicalizado americano, Norman Jones Angel, e após o casamento, mudou-se com o marido para Salvador-BA, onde tiveram o primeiro filho Stuart Angel em 1946. Um ano após o nascimento do filho, o casal foi morar no Rio de Janeiro, onde nasceram as duas filhas Ana Cristina e Hildgard. Zuleika começou a costurar para a família, trabalhando como costureira nos anos 1950. Em 1957, morando no Rio de Janeiro, Zuzu inaugurou o primeiro ateliê, por sua participação em um grupo solidário que confeccionava

(Reprodução Internet)

uniformes para crianças carentes. Os destaques de suas criações foram as saias, em que suas peças levavam partes da fauna e da flora brasileira, estampando animais como papagaios, borboletas e pássaros. A matéria-prima, usada pela mineira, era o diferencial, já que defendia a cultura brasileira, usava o pano de colchão, rendas, chitas, bambu, conchas, pedras, algodão estampado e outros materiais bem brasileiros. Angel, sobrenome do marido, virou sua logomarca e foi também uma das estampas das coleções. A Angel foi pioneira ao utilizar as rendas nordestinas como fabricação de peça de roupa, o Brasil como tema em seus desfiles e em suas criações, sobre suas percepções de um país alegre e requintado. Angel acreditava que moda era comunicação, a qual expressava como conceito e não como futilidade pregada na época em que a repressão à criatividade e à liberdade de expressão predominava na ditadura. Zuzu começou a criar modelos de vestidos repetidos que hoje chamamos de prêt-à-porter, começando a dividir suas coleções em duas partes: um para o dia a dia, para a mulher que trabalhava fora, com vestidos e conjuntos práticos, e a outra para a noite, com vestidos nobres e tecidos sofisticados. Mundialmente conhecida por seu trabalho, Angel ficou marcada por criações brasileiras mostrando o seu amor por Minas Gerais. Mesmo morando nos Estados Unidos, ela sempre criava coleções regionais com o folclore brasileiro e peças representando o Brasil, mas sempre informada com as tendências na moda internacional. Em uma das suas coleções eram claramente notadas cores que predominaram os desfiles das grandes grifes de Paris. As peças de Zuzu ganharam uma matéria no Le Monde e uma reportagem no The New York Times. Uma criadora de moda completa, além de desenhar, cortar o tecido e costurá-lo, sabia divulgar os produtos que desenvolvia, entendia todo o processo de como confeccionar uma peça, além de sempre deixar sua marca e o diferencial. A originalidade e o talento da mineira fizeram sucesso principalmente nos Estados Unidos, levando-a a produzir muitos desfiles e a ter coleções vendidas nas lojas de Nova York, abrindo então uma boutique em Ipanema, Rio de Janeiro.


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A estilista tinha clientes importantes. Já confeccionou modelos na época para a primeira dama Sara Kubitschek, D. Yolanda e a primeira dama americana Jackeline Kennedy, além das atrizes Joan Crawford e Kim Novak. Joan tornou-se amiga de Zuzu, que confeccionou em seu ateliê um vestido a pedido dela em uma visita ao Brasil. Possuindo uma visão para negócios, lançou sua própria marca com o nome de Anjo, naquele momento nenhum estilista brasileiro teria feito antes. Em plena ditadura militar, no ano de 1967, ela utilizou a moda como protesto – na época a primeira a usar as passarelas como forma de expressar opiniões políticas em um desfile que foi nomeado de Fashion and Freedom (Moda e Liberdade), representando uma crítica ao regime militar. Outros desfiles que também envolveram moda e política da estilista brasileira foram o International Dateline Collection III – Hollyday and Resort apresentado no consulado Brasileiro em Nova York, International Dateline Collection IV – The Helpless Angel em Nova York também, International Dateline Collection V e VI apresentado primeiro no Brasil, no Rio de Janeiro. Depois, em Nova York, os desfiles foram realizados em protesto pela morte do filho torturado pelo regime militar, apesar de as autoridades negarem qualquer envolvimento no caso. Angel usou sua arma mais poderosa para protestar: a moda. Zuzu iniciou uma luta incansável para ter o direito de enterrar o corpo do filho, com a influência que tinha fora do Brasil, levando o caso mundo afora. As peças utilizadas como protesto foram o que evidenciavam a então tortura sofrida pelo filho. Mobilizando a imprensa internacional e levando o caso para o secretário de segurança americano, pois, seu filho tinha nacionalidade americana, começou a sofrer ameaças. Angel, em 1976, morreu em um acidente no Rio de Janeiro no túnel Dois Irmãos, que hoje leva o nome de Zuzu Angel. A mulher, na época que Zuzu nasceu, era aquela mulher que cuidava da casa e dos filhos, que era proibida de trabalhar, sendo o homem a principal fonte de sustento da casa. Mas a estilista era uma mulher muito à frente do seu tempo. Em 1968, Zuzu ganhou o prêmio das dez mulheres que mais se destacaram em promover mulheres no desenvolvimento social, entregue pelo Conselho Nacional de Mulheres. Em 1969 começou a integrar o Fashion Group em Nova York. Uma mulher que lutou contra a ditadura militar e que foi mal vista pela sociedade, por educar os filhos como profissional, pois naquele período a mulher era educada para casar e ter filhos, e por isso não poderia frequentar a faculdade, mas apenas ser dona de casa, mãe e esposa. A estilista que ficou mundialmente conhecida e citada até os dias de hoje por seu trabalho no ramo da moda e por sua luta pelo filho, é a mulher que pensava mais a frente da época vivida. Zuzu revolucionou o mundo da moda e a imagem da mulher naqueles anos difíceis, trouxe grandes mudanças, revendo a ideia de que moda é futilidade, mas associando à economia, à política e à arte, mostrou que moda pode ter opiniões e transitar em várias outras esferas. A história de Zuzu Angel é a de uma mulher que transformou a moda brasileira, inovando e trazendo novas maneiras de utilizá-la, colocando a mulher, então dona de casa, como a responsável pelo negócio e pelo sucesso na carreira, levando o Brasil pelo mundo, e mostrando a mulher que ela pode ser, sim, bem-sucedida com uma carreira promissora, mesmo com a sociedade impondo o que ela deve ser. Foto: Adriano Moreira


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frames Liberdade e Formas de Expressão

Foto e texto Valéria Souza

Como cidadãos e também como seres humanos somos livres para expressar nossos sentimentos, opiniões e para fazermos nossas próprias escolhas. Somos livres para crer em uma religião, para escolher com quem queremos nos relacionar e assim então, para viver. Somos livres para mostrar quem realmente somos. Existem diversos meios que possibilitam a transmissão de uma mensagem baseada no que sentimos e queremos passar para as pessoas, seja ela direta ou indireta. Algumas delas são:

Expressão de Sentimentos “Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?” Renato Russo


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Fotos Valéria Souza

“A música expressa o que não pode ser dito em palavras...

...mas não pode permanecer em silêncio.” Victor Hugo


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Fotos Valéria Souza

“Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele.” Martin Luther King


frames “A mente humana é um grande teatro. Seu lugar não é na plateia, mas no palco, brilhando na sua inteligência, alegrando-se com suas vitórias...

...aprendendo com as suas derrotas e treinando para ser a cada dia, autor da sua história, líder se si mesmo!” Augusto Cury

Fotos Valéria Souza

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Mahatma Gandhi

Fotos Valéria Souza

“As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?”


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Fotos Valéria Souza

“Alguém que pudesse entender cada palavra que você diz. Cada rascunho que você desenha.” Shandy Crispim


Fotos ValĂŠria Souza

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resenha

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Carlito e sua crítica moderna Por Tayná Mayara Alberti Cardoso (Divulgação)

A trama Tempos Modernos (1936) traz inúmeras reflexões. Um roteiro muito bem bolado com um quê da genialidade do cineasta, produtor, ator e músico Charlie Chaplin, caracteriza a passagem do cinema mudo para o audiovisual. Narra a história de Tramp, personagem conhecido entre os brasileiros como Carlitos, que pode ter a tradução de malandro que tenta ganhar a vida de uma forma mais honesta, cujo personagem trabalhava tanto na fábrica que enlouqueceu. Carlitos trabalha em uma fábrica, onde há câmeras por todos os lados. Não tendo sequer tempo para almoço ou descanso, onde a produção em massa é representada pela sua função, que era a de apertar parafusos. Vamos lembrar um momento trivial da história americana: O que era os Estados Unidos após a Primeira Guerra Mundial? Ora, apenas o país mais rico do mundo. Mais de uma década se passa e o consumo aumenta. O chamado “sonho americano” surge (interpretado no filme quando a órfã veste um penhoar todo pomposo remetendo ao luxo dos anos 20) - papel interpretado pela atriz Paulette Goddard -, porém o país entra em crise em 1929, a Grande Depressão chega, a Bolsa de valores de Nova Iorque cai. O consumo de bens e artigos luxuosos fica à disposição da elite norte-americana, e a população mais pobre não segue o mesmo ritmo. A superprodução agrícola e o grande número de fábricas se torna maior e a demanda. Logo a produção pipocava, empresários atraídos pelo consumo e pelo avanço tecnológico passam a investir em mais fábricas e por ironia do destino acabam falindo. Com o trabalho dos empregados passaram

a produzir mais do que a população conseguia movimentar a economia. Sabemos que o capitalismo visa ao lucro e quando a economia não está nada bem as pessoas não compram e o dinheiro não gira. Assim destaca-se outro ponto do filme: o desemprego e a fome. Tanto para os colegas de Carlitos (que depois em um assalto que coincidentemente o mesmo está trabalhando) torna-se um ladrão posteriormente, para poder alimentar os filhos. A questão é: até que ponto você iria para sobreviver?! A substituição do homem pela máquina - é representado com a chegada de um engenhoso mecanismo que aparece no filme para compensar a hora do almoço dos funcionários (invento esse que não dá certo). O conceito de Taylorismo (meio de produção com característica que cada trabalhador tem uma determinada atividade no sistema industrial, método hierarquizada e calculada, aumentando a produtividade no trabalho. Criado por Frederik Taylor (1856-1915), destaca-se no filme também. O filme é uma crítica ao país que (depois da Segunda Guerra Mundial) consolidou-se com o mais rico e desenvolvido, os Estados Unidos da América. Grande parte na obra cinematográfica de Chaplin aborda questões para refletir. O eufemismo e a ironia, são linguagens de pensamento que aparecem nos filmes do cineasta. Veja também: “O Grande Ditador” (1940); “Luzes da Cidade” (1931); “O garoto” (1921); “Casa de penhores” (1916), entre outros para compreender a genialidade de Charlie Chaplin.


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Charge Daiane Medeiros

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Renan Bueno Douglas Miranda Lucas Lima

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