Edição V - Ano III
CAPA
Editorial
Olhar o lado bom das coisas nem sempre é fácil, mas essa atitude é simplesmente necessária. Talvez porque se trate de um propósito de vida, uma forma de contornar, confrontar e confortar a realidade grosseira do mundo. Olhar o lado bom das coisas nos permite não apenas trazer positividade àquilo que se olha, mas também encarar a coisa como ela é, mas de um jeitinho diferente do visto antes, em deformidade. Afinal, se tudo tem dois lados, porque olhar somente um deles? E por que não se permitir, e experimentar, ao menos, para saber como é esse tal “outro lado”? O lado que pode ser B, ou pode ser A ou C. Fazer uma revista não é tarefa fácil, mas nós que fazemos o Núcleo de Imagem Ponto Zero não acreditamos em tempos ruins para nós, sonhadores, porque dificilmente desacreditamos. Nós olhamos para o lado bom das coisas. Mesmo que nem sempre seja fácil. Afinal, construir uma revista – uma de nossas maiores missões enquanto Núcleo de Imagem – requer investimentos: seja na maturação das ideias nas cabeças – e no pulso que busca – dos sonhadores, à busca de enquadrá-la em seu refinamento estético - que é o visual, mas também identidade -, além de uma equipe, de pessoas por trás e à frente, para que incentive, apóie, tenha a sensibilidade para acreditar, fazer pessoas e ideias seguirem em frente. Por isso, aqui, olhar o lado bom é saber o que podemos proporcionar, e isso significa superar barreiras. Nesta edição, temos uma série de reportagens, ensaios e campanhas que gostaríamos de dividir com você, nosso leitor, para te fazer refletir: quais transformações estamos vivendo hoje? E como estamos vendo isso? Trazemos histórias distantes, o barulho do trem e o silêncio do pânico; um panorama da “República de Curitiba” nos vestígios da Lava Jato; temos também a expressividade da força de quem precisa se concentrar e manter o foco em suas atividades; ou ainda histórias de mulheres empoderadas ao longo da história, em uma releitura estética visual. Além de sermos apaixonados pelo que fazemos, o que por si só já é um grande feito em tempos de tantas crises políticas e emocionais, nós esperamos contribuir com a missão que tomamos como nossa, em tornar material e acessível o que produzimos, o que vemos, o que julgamos ser importante de se discutir aqui, neste espaço comunicacional. Fazemos isso pois acreditamos na força do jornalismo e na comunicação como ferramenta de socialização que produz efeitos e sentidos. Então, carx, passeie por nossas linhas, viaje no que vê em nossas imagens e tente encarar o mundo pelo nosso olhar, nos olhos de quem busca o lado bom em tudo o que encontra. Sionelly Leite Coordenadora - Ponto Zero
5 32
58 68
REVISTA F
76 96
102 108
Brasil de todos os canto: São Matinho mantém viva a tradição alemã
Brasil de todos os cantos: Pouco movimento, muito barulho
Perfil: No escuro da vida
Ponto de vista: Poder sem cor
Ponto de vista: Uma profissao que resite ao tempo
Ensaio: Além do olho nu
Perfil: Mulheres empoderadas
Campanhas
164
Enquadro: A história fantasmagórica
160
Portfólio: Um significado ao ressignificar
144
Falando em imagens: Onde está a solidão?
132
Brasil de todos os cantos: Paranaguá: celeiro de belezas e tradições
124
Brasil de todos os cantos: Morretes e sua arquitetura
118
Brasil de todos os cantos: Amor sem fronteiras
Brasil de todos os cantos: Rio Xingu: o paraíso da selva amazônica
SUMÁRIO
180
PERFIL
Mulheres empoderadas ao longo da Histรณria ร caro Souto e Marcus Meier
32
As mulheres desde sempre exerceram um papel muito importante na sociedade. Papel esse muitas vezes subestimado e relegado às sombras por séculos de machismo e domínio patriarcal. Porém, mesmo diante de tantas dificuldades diversas mulheres conseguiram romper os grilhões da opressão masculina e deixar suas marcas na história humana. Elas foram desde brilhantes pensadoras, até rainhas altivas e ferozes guerreiras, sempre lutando para ter um espaço em um mundo cada vez mais relegado aos homens. Nesse ensaio, apenas algumas dessas grandes personagens foram retratadas, pois se fôssemos fazer justiça a todas que trouxeram mudanças na sociedade e contribuíram para um mundo melhor, creio que o número de fotos seria quase equivalente ao de estrelas que brilham a noite no céu. Meu maior desejo, no entanto, é que todas as mulheres que contemplarem essas fotos - cujas modelos emprestaram suas feições para dar vida a grandes ícones femininos da História - lembrem-se do poder que possuem e recebam forças para lutar contra a discriminação, violência e opressão que, infelizmente, ainda fazem parte da vida das mulheres nos dias de hoje. 33
Cleópatra Cleópatra nasceu em 69 a.C., na cidade de Alexandria, fundada por Alexandre, o Grande no delta do Nilo e que nos séculos anteriores ao nascimento de Cristo desempenhou o papel de metrópole cultural, artística e econômica do Mediterrâneo Oriental. Embora fosse egípcia por nascimento, pertencia a uma dinastia macedônica que se estabelecera no Egito em 305 a.C., quando o general macedônio Ptolomeu tomou o título de rei. Cleópatra foi a última Rainha da Dinastia ptolomaica que dominou o Egito após a Grécia ter invadido aquele país. Subiu ao trono egípcio aos 17 anos de idade, após a morte do pai e entrou em conflito com o irmão mais novo pelo controle do país. Posteriormente foi amante do grande general romano Júlio César e após a morte dele buscou a proteção do também general Marco Antonio. Cleópatra é até hoje considerada um sex simbol e um exemplo de governante poderosa e vaidosa.
34
Rainha Boudica Boudica foi uma rainha celta que liderou os icenos, juntamente com outras tribos, como os trinovantes. Ela era casada com o rei dos icenos, que havia feito um trato com os romanos tornando-se aliado do Império Romano. Com a sua morte, ela assumiu a liderança de seu povo. Contudo, os romanos ignoraram o testamento e o procurador Cato Deciano apropriou-se de toda a herança do rei falecido. Quando os icenos protestaram contra tal abuso, na pessoa da sua rainha viúva, Deciano ordenou às suas tropas sufocar o protesto, e estas ultrapassaram-se no emprego da força, açoitando a rainha e estuprando as suas filhas. Diante desse ultraje, Boudica liderou um levante gigantesco contra o domínio romano na ilha. Ela uniu as diversas tribos celtas existentes sob sua bandeira e quase expulsou os romanos do país. Mesmo após sua posterior derrota nas mãos do general Caio Suetônio Paulino, sua imagem seria eternizada como a de uma guerreira forte e impiedosa contra seus inimigos. Séculos mais tarde, sua imagem seria evocada pela Rainha Vitória, fazendo de Boudica um símbolo do espírito guerreiro inglês e da autoridade real.
36
Amélia Mary Earhart Amélia Earhart foi pioneira na aviação dos Estados Unidos, autora e defensora dos direitos das mulheres. Earhart foi a primeira mulher a receber a The Distinguished Flying Cross, uma condecoração dada por ter sido a primeira mulher a voar sozinha sobre o oceano Atlântico. Ela escreveu livros sobre suas experiências de vôo, e foi essencial na formação de organizações para mulheres que desejavam pilotar. Amélia, no entanto, desapareceu no oceano Pacífico, perto da Ilha Howland, enquanto tentava realizar um voo ao redor do globo em 1937. Foi declarada morta no dia 5 de janeiro de 1939. Seu modo de vida, sua carreira e o modo como desapareceu até hoje fascinam as pessoas
38
Simone de Beauvoir Nascida em Paris, em 9 de janeiro de 1908, Simone de Beauvoir estudou matemática no Instituto Católico de Paris e literatura e línguas no colégio Sainte-Marie de Neuilly. Na Universidade de Paris (Sorbonne) estudou filosofia e conheceu outros jovens intelectuais, como Maurice Merleau-Ponty, René Maheu e Jean-Paul Sartre, com quem estabeleceu uma relação afetiva até sua morte. Tornou-se professora e editou, com Sartre, a revista mensal Les Temps Modernes. Sua principal obra, o ensaio O Segundo Sexo, foi publicada em 1949 e se tornou um grande clássico da literatura feminista. Escreveu também obras de ficção, nas quais abordou questões da filosofia existencialista, além de análises políticas.
40
Elza Soares Elza da Conceição Soares (Rio de Janeiro, RJ, 23 de junho de 1937) é uma cantora de samba e foi casada com o jogador de futebol Garrincha. Nascida e criada em uma favela do Rio de Janeiro, Elza participou de um show de calouros apresentado pelo renomado músico brasileiro Ary Barroso, e recebeu as maiores notas. No fim da década de 1950, Elza Soares fez uma turnê de um ano pela Argentina, juntamente com Mercedes Batista. Tornou-se popular com sua primeira música “Se Acaso Você Chegasse”, na qual introduziu o scat a la Louis Armstrong, adicionando um pouco de jazz ao samba. Mudou-se para São Paulo, onde se apresentou em teatros e casas noturnas. A voz rouca e vibrante tornou-se sua marca. Mas sua história como mulher, além de artista, é que a tornam ainda mais importante e contestadora aos tempos de machismo e feminicídio.
42
PERFIL
A COMANDA Texto:Maria Eduarda Biscotto Fotos: Nataly Rocha
Retratos espontâneos e a vontade de sair da zona de conforto fazem estudante de publicidade e propaganda Nataly da Rocha, de 22 anos, se apaixonar cada vez mais pela fotografia. Quando criança mesmo não gostando de fotografia, resolveu pegar a câmera de um amigo e tirar algumas fotos, pegando gosto pela coisa, que agora não consegue se imaginar sem experimentar novos estilos e lidar com iluminação de estúdio, tirando fotografias espontâneas, fazem parte do estilo da jovem. Atualmente, Nataly é uma das integrantes do Ponto Zero, onde além de aprender e criar coisas novas todos os dias, ainda auxilia os colegas de curso em atividades discentes e extra curriculares. Confira um pouco de suas fotos favoritas. 44
ANTE DA LUZ Foto: Adrianho Moreira
45
46
47
PERFIL
48
49
PONTO DE VISTA
HISTÓRIAS Helen Gutstein
Histórias distantes retrata o cenário dos moradores da Vila Barigüi, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). O ensaio foi inspirado no fotógrafo James Nachtwey, que busca através das fotos mostrar a realidade. A Vila Barigüi parecer ter sido esquecida pelos órgãos públicos: não existe pavimentação e muito menos segurança, moradores relatam que sofrem há muitos anos quando chove e o rio transborda. Recomeçar é algo normal no bairro, pois diversas vezes a única coisa que resta é a esperança. Além deste esquecimento a ponte serve de casa para um morador. É preciso compreender: existe uma realidade diferente da que se vive em diversos lugares e com várias pessoas.
50
DISTANTES
51
52
53
54
55
56
57
ENSAIO
ALÉM DO OLHO NU
58
59
Texto: Sionelly Leite Fotos: Nataly Rocha
60
61
62
Imagine você fotografar a textura das asas de uma mosca. Ou então o pólen de uma pequena flor. Ou ainda os olhos de uma abelha. Você já tentou algo assim? Se
sua resposta for positiva, você deve ter se frustrado com o resultado. A não ser que tenha tentado uma técnica específica para isso, que é a macrofotografia.
63
A foto macro é popular, mas parece misteriosa para muitos. No entanto, para os amantes dos detalhes da natureza, ou de objetos pequenos, o domínio dessa técnica é imprescindível para capturar formas minuciosas, até escondidas a olho nu. E foi essa a tarefa incumbida à fotógrafa oficial do Ponto Zero, a estudante de Publicidade Nataly Rocha, que, com a técnica em mãos e muitas ideias em mente, reproduziu a macrofotografia sobre alguns tesouros da natureza.
64
65
66
67
PONTO DE VISTA
UMA PROFISSÃO QU RESISTE AO TEMPO Helen Gutstein e Liliane Jochelavicius
68
UE
69
Uma cadeira baixa e outra alta, graxa, flanela e polidor. São essas as ferramentas de trabalho de um engraxate. A vista do alto da poltrona e a posição do profissional, que se encontra pronto para servir, pode trazer reações diferentes para cada pessoa. Algumas relaxam, outras espairecem ou existe até mesmo aquelas que demonstram arrogância. Mas isso não muda a postura do profissional.
70
Sua rotina é a mesma e o seu trabalho é feito da mesma forma há muitas décadas. Um local que reúne esses trabalhadores há 15 anos é a Boca do Brilho, na região central de Curitiba. Na rua Voluntários da Pátria, trabalhadores autônomos conquistaram credenciais e lutam para que a profissão que existe há 210 anos não entre em extinção.
71
72
73
74
75
PONTO DE VISTA
PODER SEM CO
Ministro da Saúde Ricardo Barros chega a evento com um Porsche. *O carro não é dele.
76
OR
Clóvis Cézar Pedrini Jr.
A política está polarizada. Ou se está de um lado ou de outro. Não há meio termo nem espaço para o bom debate. Ou se é de esquerda ou se é de direita. A discussão de ideias deu lugar ao ódio. É a era dos extremos, do preto ou do branco. A política anda apagada, os holofotes estão nos casos de corrupção. A política está sem representatividade, sem luz, sem cor.
77
O prefeito de Cascavel Paranhos fala ao microfone em evento no palácio Iguaçu. Quando era deputado fez dura oposição ao governo Beto Richa. Nada que uma reciclagem não mude. Ao fundo aparece o Oeste do Estado, onde fica Cascavel e Toledo do deputado Schiavinato ex prefeito de Toledo (1º da esquerda para direita). Depois Plauto Miró e deputado André Bueno, filho do ex prefeito de Cascavel Edgar Bueno, que vem sendo acusado de má administração por Paranhos.
78
79
Ministro da Saúde Ricardo Barros. Foi vice líder do governo Dilma na Câmara dos Deputado. Mudou seu voto na última semana, a favor do Impeachment.
Beto Richa em pronunciamento no Palácio Iguaçu. Transmissões ao vivo pelas redes sociais ganharam força em seu último mandato como governador do Paraná. 80
Governadora em exercício Cida Borghetti, antes de entrar em um evento.
Apoio: Governadora em exercício com Duílio Genari, de seu mesmo partido, o Progressistas. Duílio foi deputado estadual por sete mandatos consecutivos. 81
Visão de trás do palco em um evento o Palácio Iguaçu. Olhares e conversas ao pé vido que não são captadas pelas câmera
Evento no Palácio Iguaçu sob o olhar atento dos seguranças na parte superior 82
oficial no é do ouas de TV.
Governador Beto Richa de ’manga arregaçada’.
83
Entrega de recursos no Palรกcio Iguaรงu. A aleg
84
gria de uns nĂŁo ĂŠ a mesma que a de outros.
85
As mãos que detém a caneta e o poder de editar leis e administrar recursos públicos.
86
Hierarquia: Governador Beto Richa; Chefe da Casa Civil Valdir Rossoni e Presidente da Assembleia Legislativa do Paranรก, Ademar Traiano.
87
88
�Tanta pena de ti, povo brasileiro!� 89
PONTO DE VISTA
UM OLHAR PARA A R
90
Emanuel Andrade e Carolina Benitez Salvador
R SENSĂ?VEL REALIDADE
91
Um olhar sensível ao outro, mostrar a sensibilidade e simplicidade de cada dia por meio da lente de uma câmera fotográfica não é uma tarefa fácil. A forma de sentir e compreender as pessoas e o dia a dia fatídico é algo não tão regular no comportamento do ser humano, mas pode parecer normal para muitos. Observar esses detalhes, no entanto, o pensar no outro não é 92
qualidade, é virtude. Eis o grande desafio: humanizarmo-nos, reeducar nosso olhar, nossos sentimentos, emoções, para ver além do obvio, para ver além das aparências, semblantes e encontrar o conteúdo que só aqueles que desenvolvem sua sensibilidade serão capazes de ver, só aquele com olhos e coração aberto serão capaz de sentir. 93
94
95
PERFIL
NO ESCURO DA VIDA TAMBÉM SE PODE VER Henrique Gigel
Ariadne Carli é cega desde os 9 anos de idade por conta de um grave problema em seu nervo óptico, e já passou por grandes momentos em sua vida, sem perder o ritmo e mesmo no balanço das dificuldades nunca perdeu as esperanças. A sua história chega a surpreender muita gente: Ariadne era uma criança vidente, observava todas as cores e todas as formas, seu dia a dia era totalmente normal para uma criança, até que algo lhe aconteceu. Ari, como é chamada
carinhosamente, percebeu seu problema em uma festa de aniversário de uma amiga e avisou seus pais, foi aí que levaram ela até um pronto atendimento e descobriram que seu olho direito já tinha perdido grande parte da visão. No começo ela não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas todos seus amigos e familiares ajudaram ela em tudo que ela precisava. Após começar a viver com a sua deficiência visual dia após dia, e tomar muitos remédios, Ari foi perdendo um pouco dos seus senti96
97
dos, como olfato e paladar, mas começou a desenvolver os outros sentidos, como tato e audição. Ari conta que perder a visão aos 9 anos fez com que ela mantivesse muitas coisas em sua memória e isso ajudou na sua rotina, principalmente aonde ir, o que pegar e com quem estava conversando. No começo seus pais e sua irmã a ajudavam em tudo, 98
como por exemplo quantos passos dar, o que estava passando na TV, a descrever cenários e o que tinha no prato para comer. Mas ao longo do tempo muita coisa mudou e ela começou a fazer seus fazeres sozinha, pois ela se sentia mais forte e independente para viver sua rotina, diferente do começo que ela se entristecia pois dependia mui-
to de seus familiares para fazer coisas que ela fazia tranquilamente antes de perder a visão. Após 7 anos da perda da visão, Ari infelizmente não pode fazer tudo que uma adolescente com visão normal faz, mas apesar da dificuldade não deixou de ser uma menina feliz e cheia de sonhos.
99
Mesmo não podendo enxergar, não deixava de brincar e ser quem ela é normalmente com seus amigos e primos. Pois por ser uma criança mostrou que a vida não acabava ali. E assim Ari voltou a estudar, caminhar, se divertir e fazer tudo que um dia acharam que ia
ser diferente para ela. Pois ela mostrou que a superação não está no falar que superou, mas no agir e atitudes a cada dia, e nunca perder a esperança e a fé de um dia voltar a enxergar. Algumas curiosidades As fotos descrevem Ariadne nas suas muitas particularidades: por exemplo, como ela se acostumou a subir as escadas, como ela foi decorando o caminho de casa, mesmo ela sabendo alguns caminhos seus pais sempre aconselham e ajudam, ou levam ela até algum devido lugar. Com o passar do tempo Ari foi mudando, e uma das suas dificuldades como ir ao banheiro ela conseguiu vencer, dependendo de si mesma ela hoje escova o dente, e faz as suas intimidades sem ajuda de ninguém para ajuda-la. Ari também gosta muito de jogar vôlei, inspirada um pouco na sua mãe que também
aprecia jogar, ela não deixa de querer brincar ou ir atrás da bola, mesmo com a sua dificuldade sempre que ela vai jogar com alguém, ela busca a bola conforme o barulho. Ao mesmo tempo em que ela interessa-se em jogar e brincar, por ser da nova geração, hoje em dia a moda é tecnologia, e com isso ela gosta de mexer em seu celular, mas aí vem á pergunta ou a dúvida: como pode uma deficiente visual mexer em um smartphone? Pois é, hoje em dia está tudo tão evoluído que existem opções para deficiências, como a detecção de movimento e audiodescrição, para se comunicar pelas suas redes sociais. Ariadne também não se lamenta com relação à alimentação, ao contrário, ela se vira bem: pois sabe onde ficam os objetos para pegar e ainda descasca as frutas que tem vontade de comer. Ela, em seu jeito simples de vida, seu jeito menina, gosta de ficar na sua cama ouvindo uma rádio e sempre assoviando.
100
101
BRASIL DE TODOS OS CANTOS
POUCO MOVIMENTO,
102
Flรกvio Croffi
MUITO
BARULHO 103
104
Inaugurada em 1906, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil já transportou milhares de pessoas em seus tempos áureos, entre as décadas de 1960 e 1980. Agora, serve apenas para passeios esporádicos e para transporte de cargas como a celulose, que vem do Mato Grosso com destino à Santos. “É barulho o dia inteiro”, queixa-se Roberto Rodrigues, 39, eletricista tanto do Museu Ferroviário de Bauru quanto da estação.
105
O som, porém, não é de pessoas ou do ferro em atrito com os trilhos, como antigamente. Mas de cornetas, trompetes, acordeões, já que o local abriga aulas da Orquestra Municipal de Bauru para 300 crianças e jovens. “Sempre que os trens passam aqui, param na oficina ali na frente para manutenção. Aí ficam os seguranças armados, cuidando da carga”, finaliza Roberto.
106
O eletricista Roberto Rodrigues, que trabalha no local realizando reparos e manutenção
107
BRASIL DE TODOS OS CANTOS
SÃO MARTINHO TRADIÇÃO
108
MANTÉM VIVA A ALEMÃ
109
A 24ª edição da Festa do Produto Colonial valoriza a cultura, promove o turismo e desenvolve a economia do município A cidade de São Martinho fica localizada no sul de Santa Catarina, com aproximadamente 3.000 habitantes. É durante o mês de outubro que ali ocorre a festa alemã mais agitada do sul do estado, com o objetivo de resgatar e manter a tradição alemã, que originou o município, e destacar os produtos coloniais fabricados pelos moradores. O evento conta com danças folclóricas de grupos de São Martinho e de cidades vizinhas, música alemã, a tradicional competição do serrador, e a disputa pelo melhor cuca da vovó – concurso típico Oma’s Kuchen. Mas não é só. Ainda no evento acontece o tradicional desfile no centro da cidade de São Martinho, com música alemã, carros antigos, bicicletas, princesas e rainhas que são eleitas durante o ano e representam os municípios próximos, além de pessoas de todas as idades. Além do Beer 110
Jeep, um carro que distribuiu chope durante o desfile, símbolos que são a rainha e as princesas da festa do produto colonial foram a bordo dele. Para Maria Auxiliadora Botareli, 60, a festa vem de encontro ao resgate da cultura alemã. “É o momento que se promove a integração e a divulgação dos produtos da região e do município. É possível resgatar a música, o idioma, a gastronomia e costumes trazidos da Alemanha pelos colonizadores”, disse a moradora de São Martinho. Com a maioria da população de descendência alemã, São Martinho é marcado com a chegada dos novos habitantes por volta de 1865, que na bagagem trouxeram o alemão como idioma e histórias únicas de força e coragem. “A música, a dança a língua e seus dialetos, a forma rudimentar de plantar, colher e criar animais, são costumes que foram passados de geração em geração”, completa Maria Botareli. 111
112
113
114
O município tem como ponto forte o turismo rural, com a oportunidade de visitar cachoeiras, parques, trilhas e açudes, além da fabricação de artesanato em vidro, porcelana e madeira. Os produtos caseiros são opção de fonte de renda para os moradores do município, a gastronomia é típica alemã, que vão desde Schweinshaxe (joelho de porco) ao Strudel (massa doce com maçã). O que não falta são: bolachas, doces, roscas, pães, conservas, chocolates, embutidos e queijos coloniais. “O turismo Rural é uma alternativa para seu lazer que estamos valorizando, num contato direto com a natureza e uma variedade de opções como turismo gastronômico, de aventura, religioso, de hospedagem e cultural. Nossa economia tem na agricultura 51% das suas riquezas, sendo que 18% já estão ligados à atividade turística”, afirma o prefeito do município, Robson Jean Back, em notícia divulgada no site da prefeitura de São Martinho. 115
A preservação da cultura alemã é mantida pelo idioma alemão, ainda falado no dia a dia. Nos encontros de família, os pratos típicos são destacados juntos às canções e histórias que marcaram a colonização e as histórias contadas pelos descendentes.
116
A Gruta Nossa Senhora de Fátima é um local para fazer turismo religioso, ficando em uma colina, na entrada da cidade, construída em pedra campestre. Outro lugar que a religião está presente é a Igreja Luterana do Brasil de estilo neogótico, considerada patrimônio histórico do município. A cidade tem uma arquitetura de origem germânica e nas casas observa-se o estilo enxaimel. Ainda temos a Vargem do Cedro, um distrito que faz parte do município, tem distância de 17 km do centro de São Martinho, e é rodeado por montanhas com raras casas e pastagens verdes, criação de ovelhas e gado. Jardins de encher os olhos, uma pequena igreja, local que faz imaginar estar em um vale europeu. O são-martinhense promete não ficar para atrás da Oktober Fest, pois a Festa do Produto Colonial em outubro tem, igualmente, o poder de preservar a cultura alemã. 117
BRASIL DE TODOS OS CANTOS
RIO XINGU: O PARAÍSO NO MEIO DA SELVA AMAZÔNICA
O Rio Xingu, um dos mais importantes do Pará, tem se despontado para o turismo. Com 2.900 km de extensão, o Xingu nasce no estado do Mato Grosso e cruza o território paraense, banhando a cidade de Altamira que, com 159.696 km², é o maior município do Brasil em extensão territorial. Formado por cachoeiras, ilhas e praias fluviais, o Rio Xingu tem atraído turistas brasileiros e de outros países para a prática da pesca esportiva, com hospedagem em hotéis ecológicos. 118
O empresário altamirense Daniel da Silva Corrêa, 43, costuma deixar a rotina de trabalho para ter momentos de lazer através da pesca esportiva. Para Daniel, o Xingu é um dos poucos rios brasileiros que oferecem uma variedade de peixes. “Aqui a gente conseguir fisgar Pacu de Seringa, Trairão, Bicuda, Tucunaré, Matrinxã, Cachorra, Pirarara, Piau, Lambari, Acari, Surubim, Piranha, entre outros”, frisou Daniel.
119
Para uma boa pescaria é necessário ter os apetrechos adequados para fisgar cada espécie. Um dos peixes mais conhecidos na região é o Tucunaré, encontrado em abundância no rio Xingu, que chega a pesar até 5kg. “Isso aqui é uma maravilha. O Brasil precisa conhecer e desfrutar dessas belezas naturais ainda pouco exploradas por turistas”, conclui.
120
121
BRASIL DE TODOS OS CANTOS
AMOR SEM FRONTEIRAS
Fala da professora Maria José (no centro) na apresentação do Ponto de Cultura Brasil dos Buritis e do Triô Buriti, grupo de forró local, no Talento sem Fronteira
124
Na última semana de Setembro os alunos do período vespertino do único colégio de ensino médio da cidade de Alto Paraíso de Goiás já começam a se preparar mental e fisicamente, pois é chegada a temporada de projetos no colégio. A maior parte deles é desenvolvido pelos alunos e professores, e atualmente o que teve mais destaque foi um projeto de ajuda e conscientização humanitária, desenvolvido inicialmente pela professora de línguas, Maria José Ferreira da Silva. Kiara Souza
125
O projeto começou com a tradução de um texto nas aulas de Espanhol e Inglês, com os alunos do 3º ano vespertino do ensino médio, em 2013. No ano seguinte, o projeto já estava começando a engatinhar sozinho, quando a professora, que ficou responsável por uma turma na feira de ciências da Escola Sagrados Corações, lhes apresentou o filme “Amor Sem Fron-
teiras”, estrelado por Angelina Jolie, e conta a história de uma moça inocente que se depara com uma situação totalmente diferente de seu cotidiano e a partir daí ela passa a ter conhecimento sobre a UNHCR, agência da ONU de ajuda humanitária e sua atuação na África e em países que vivem em conflito, na época, como Xexenia – os alunos do sétimo ano ficaram tão impressionados com a intervenção do filme, que aceit-
Apresentação dos trabalhos acadêmicos para a comunidade em 2016
126
aram fazer uma sala na feira de ciências sobre os Médicos sem Fronteiras, onde se trazia a história, como o grupo surgiu, por quê surgiu, além de trazer simulações dos campos de ajuda humanitária. Porém, eles não acharam que seria suficiente apenas fazer uma apresentação, então decidiram, junto com a professora Maria José, arrecadar doações na cidade para enviar ao Médicos sem Fron-
teiras. Foi aí que o projeto começou a tomar a forma. Com uma caixa na mão e a determinação da turma, o grupo participaram de uma feira que acontece aos sábados na cidade, a fim de concretizar o desejo de realizar uma doação para o MSF. Eles divulgaram sua presença na rádio e a caixa aberta à doações no dia da esperada Feira de Ciências. No final a turma conseguiu arrecadar o valor de R$220,00, além de um enorme orgulho pelo trabalho. Contudo, o mais interessante não foi a quantia arrecada ou sua nota final, mas o que ficou em cada um deles: boa parte da turma se tornou doador dos médicos sem fronteiras, ajudantes virtuais, e sem falar da nova forma como começaram a perceber o mundo a partir daquele pequeno, porém grande, trabalho.
127
Só que não se encerra aqui a caminhada do projeto MSF; Maria José não se deu por satisfeita, queria algo maior, algo que toda a população de Alto Paraíso parasse para observar. O projeto voltou para o Colégio Estadual Moisés Nunes Bandeira e dessa vez envolveu todo o turno vespertino do colégio. Era o começo de uma grande comoção estudantil. No começo do ano foi apresentado o filme que deu começo ao projeto, “Amor sem Fronteiras”, no final de setembro foi escrito o projeto e no começo de outubro de 2015 o projeto tomava sua forma cada vez mais forte e impactante, tanto os alunos, quanto a professora estavam animados, havia surgido, no meio de tanto entusiasmo, a ideia da arrecadação para doação a MSF, onde cada turma estava incumbida de suas arrecadações, e também abrir a escola ao público da ci-
dade para a apresentação dos trabalhos desenvolvidos, 14 ao todo, com o tema principal “Os caminhos da vacina”. Durante todo o mês, o que não faltou foi trabalho, todos envolvidos com a decoração, arrecadação, organização dos trabalhos e ensaios artísticos enquanto a professora de línguas organizava a vinda de um dos médicos do projeto para o dia das apresentações. O projeto começava a ganhar mais vida e com a notícia de que um dos médicos poderia comparecer ao dia, o corpo discente se empenhou ainda mais. No grande dia, com todos vestidos de branco, houve o juramento à bandeira, a fala do Diretor José Antonio de Brito Filho, a da Professora Maria José e a apresentação dos trabalhos, com participações artísticas, também, composições e poemas autorais dos próprios alunos, depoimentos dos alunos da Escola Sagrados Corações sobre 128
Dia de pedágio na rodovia GO 118, em Alto Paraíso de Goiás
sua participação e no final do dia, o momento mais esperado, a fala do Médico que fez parte de algumas expedições dos MSF. No final do projeto, foi arrecadado pelos alunos a quantia de R$2.000,00 para doação ao MSF.
129
No ano seguinte, 2016, a exaltação pelo sucesso do ano anterior, o projeto MSF deu um gigante passo e começou a ser desenvolvido de uma forma totalmente diferente dos outros anos, estava mais organizado e mais colaborativo. O trabalho todo teve como base a metodologia de gestão e desenvolvimento de projetos TEvEP, criada por Eduardo Shana, diretor da escola de planejamento Homosapiens, localizada em Minas Gerais. Nesse ano o projeto contou com a ajuda e colaboração dos Professores Luciano Campos e Rejane Kelly Lacerda - professores de História e Geografia, Educação Física e HCAD (História e cultura afro Descendente) respectivamente – o que tornou possível realizar o projeto muito maior do que todos os outros anos. Só no começo já havia sido decidido apresentar o projeto em três dias, aberto ao público, com apresentações artísticas e trabalhos acadêmicos e, ainda, a
arrecadação para doação, que não seria somente de capital, mas também de roupas e alimentos para cestas básicas. Assim, começava a parte “dura” do projeto: cada grupo começou a trabalhar em seus temas, nas arrecadação, que nesse ano seria feita por todas as turmas e na qual foi realizado o pedágio na entrada da cidade. Todos queriam algo muito maior para aquele ano, então, as turmas decidiram realizar os trabalhos em banners, ao invés de utilizarem cartolinas; e não ficou só por isso, a decoração também foi realizada pelos alunos, com a atualização do mapa onde havia atuação dos MSF no mundo e a bandeira de MSF também. Houve, também, mais divulgação na cidade e fora dela, e a tão esperada a presença da Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), para onde seriam endereçadas as roupas arrecadadas nas doações; enquanto que as cestas básicas foram di-
130
rigidas para algumas famílias mais carentes da cidade, dando início, assim ao “lema” do trabalho, Pensar e Agir Local e Globalmente. Haviam marcado presença, também, o Corpo de Bombeiros de Planaltina de Goiás, falando de defesa civil, e a Enfermeira do Hospital de Base de Brasília Marta Conterno, que falou de saúde comunitária. Os dias das apresentações estavam divididos: no primeiro dia, aconteceria a apresentação dos trabalhos, 14 ao todo, com o tema principal Migração e Imigração: Causas e Consequências, onde foram esclarecidas algumas questões pelo professor Marcelo Terra. No segundo dia foi realizada a oficina “Ensinando o que aprendemos”,
onde o público foi dividido em grupos que seriam dirigidos a cada tema apresentados no dia anterior; e no terceiro, as apresentações artísticas, onde foram apresentados peças de teatro, múcicas, poemas e performances baseadas no tema principal e os de cada grupo, cada qual feita pelos próprios alunos. Para MSF, no ano de 2016, foi arrecada a quantia de R$ 1.557,00. Neste ano, a professora Maria José, que deu início ao projeto, e os professores colaboradores estão bem mais animados, pois está sendo planejada a “Semana sem Fronteiras” que contará com a participação dos três turnos do Colégio. Mas, por enquanto é um sonho, que poderá se tornar realidade.
131
BRASIL BRASIL DE DE TODOS TODOS OS OS CANTOS CANTOS
MORRETES E SUA ARQUITETURA
132
Maria Eduarda Biscotto
133
134
135
136
137
138
139
140
141
142
143
PARANAGUÁ:
BRASIL DE TODOS OS CANTOS
CELEIRO DE BELE O desafio deste ensaio é retratar, em poucas imagens, as belezas históricas que cercam a cidade berço da civilização paranaense. No auge dos seus 369 anos, Paranaguá prova que ainda é uma linda jovem, com belos lugares que rendem imagens excepcionais.
144
Carolina Benitez e Emanuel Andrade
EZAS E TRADIÇÕES
Haja vista tanta beleza, que às vezes ficam esquecidas na linha do tempo, restando apenas, boas recordações. Além disso, tradições por lá ainda são mantidas. É o caso do ofício de pescador. 145
146
147
148
149
ESPECIAL
VESTÍGIOS DA LAV UMA SÉ
150
VA JATO: ÉRIE FOTOGRÁFICA
Clóvis Cézar Pedrini Jr.
A Operação Lava Jato, encabeçada pelo Juiz Sergio Moro, 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba foi amplamente coberta pela imprensa sendo uma das mais midiáticas ações judiciais da história do Brasil. Ela ainda divide opiniões, prendeu muitos corruptos, sejam da política ou da iniciativa privada, e reavivou ideologias das mais obscuras, como a que pede a separação do Brasil. Passada a euforia, culminada pelo impeachment da presidenta
Dilma Rousseff, e tendo a impunidade do senador Aécio Neves como mácula daqueles que bradam pelo fim da corrupção, a Lava Jato esmoreceu. O atual presidente Michel Temer, cortou verbas da operação enfraquecendo-a. Porém, não se ouve mais as panelas. Mas pelos cantos da autointitulada ‘República de Curitiba’, o que restou dessa sede de justiça, da luta contra a corrupção do PT misturada à fúria, ódio e separação de classes?
151
“Eu nem tinha percebido o que tava escrito nela�, diz sobre a camisa o trabalhador que explora ilegalmente um estacionamento.
O palestrante, herói, popstar e juiz federal, Sérgio Moro em uma de suas inúmeras palestras.
Onde está Sérgio Moro, pode apostar que por perto, direcionada a ele, estará uma câmara da GloboNews.
Símbolo dos protestos, os adesivos “Eu apoio a Lava Jato” vão sendo cada vez mais difíceis de encontrar
Com a operação Lava Jato as mais absurdas posições ideológicas saíram do armário, como a que pede a separação do Sul do país.
154
Em frente à Justiça Federal em Curitiba, o QG anda meio quieto após a queda da ex presidenta Dilma Roussef.
Nos jornais, a Operação Lava Jato vem perdendo força, e já não ocupa a capa.
155
A disputa ideolรณgica nรฃo poupou nem a escultura em frente a Justiรงa Federal de Curitiba.
156
A Operação Lava Jato fez reacender sentimentos nacionalistas e alguns até lembraram saudosos do tempo dos Coronéis.
Em frente ao prédio da Justiça Federal em Curitiba, mototaxista demostra seu apoio à Operação Lava Jata e a outras inúmeras “causas”
157
FALANDO EM IMAGENS
FOCO EM FOCO Kelen Souza
O esforço, a dedicação, a preparação... Quase sempre não se é levado em conta, ou até mesmo não se valoriza, o quanto uma pessoa precisa se preparar, se entre-
gar para atingir o nível de “perfeição” exigido em práticas esportivas e artísticas, seja nas competições de lutas ou corridas, seja nos espetáculos de ballet e dança.
158
159
FALANDO EM IMAGENS Barbara Carvalho e Jeniffer Oliveira
ONDE ESTÁ A SOLIDÃO? Onde está a solidão? Na espera do ônibus que nunca chega Ou no olhar triste daquele cão?
160
Onde está a solidão? Naquele que caminha contra a corrente Ou naquele que espera no chão?
161
Onde está a solidão? Naquele que se apoia sozinho Ou naquele que destoa da multidão?
162
Onde está a solidão? Naquele que encara o mundo isolado Ou naquele que se reflete na pichação? E o que faz a solidão? Ela tira o colorido da vida? Depende da sua visão!
163
Texto: Sionelly Leite Fotos: Alexandre Mazzo
PORTFÓLIO
UM SIGNIFICADO AO RESSIGNIFICAR
164
Suor, calafrios, angústia, taquicardia, medo. Síndrome do pânico. Sorrateira, ela vem. E, quando menos se espera, ganha nome, forma, tamanho, ocupa o espaço que vê. Até ser vista e se tornar fotografia, para Alexandre Mazzo.
165
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dados de 2017, aproximadamente 24% dos brasileiros possuem algum transtorno de ansiedade, estando a depressão em 5,8% da população. Isso não é pouco. Um atenuante é que a depressão, considerada o mal do século, ainda é tabu. Muitos custam a reconhecer os próprios problemas psicológicos, e por isso ficam perdidos em seu próprio mundo de sofrimento. Ainda que se trate do corpo com medicamentos, cirurgias, aplicações, quando o assunto é alma-espírito-psiquê-consciente, há quem desvirtue e se distancie da essência de seu problema. Não foi o caso do fotógrafo Alexandre Mazzo. Mesmo que tenha levado décadas para enfrentar de vez o seu medo, não deixou de fazê-lo. A síndrome do pânico, até en-
tão seu maior percalço por mais de 30 anos, foi se tornando expressão, até ganhar tons de preto, branco e cinza em enquadros fotográficos. O cenário de suas obras foram seu habitat de resistência à vida: o quintal de casa, a família, o pé de abóbora – que nasceu das sementes jogadas pela janela da cozinha, sem nenhuma pretensão, mas que fizeram brotar a vida. As fotos, assim como as sementes, fizeram a vida em arte enveredar sua própria história, embora o grito, o socorro e o respirar perpetuem cada frame. As fotografias do ensaio são um soco no estômago, mesmo que carreguem tão poucos elementos. Poucos, mas intensos: corações de galinha espetados em uma tábua, um coração de boi amarrado em farrapos e enrolado em arames farpados, uma cadeira solitária que abriga um ninho de sabiá
166
167
168
caído, o corpo esmagado de um rato, uma corda enlaçada, a luz, tanto quanto a sombra, que fazem ver o desespero de um homem de quase 2m, com uma dor à sua altura. Mas já não cabia espaço para o pânico, esses elementos materializariam a dor, transformando a angústia em arte. Mais do que o pânico, essa obra também abre espaço para os novos rumos profissionais do fotógrafo. “Mais do que uma manifestação fotográfica de um problema, esse é um novo olhar para o meu trabalho. Ele não para por aqui, já estou pensando na continuação desse ensaio, até porque o problema não desapareceu, apenas estou falando dele”, confessa Mazzo. As fotografias são carrega-
das de nitidez, e, em preto e branco, tonalizam os sentimentos. Batizado de “Ressignificar”, o ensaio é mais do que a encenação da dor. É a vida, é a arte de quem se reconhece, é vista e paisagem para aquele que foi à exposição no Memorial de Curitiba e se viu refletido nas imagens, tocado pela própria percepção. Ressignificar é um estado cíclico, é a visão individual, ao mesmo tempo que trata de um coletivo, de um mal que, sorrateiro, chega, não pede licença e fica até quando não estivermos prontos para encara-lo e resolvê-lo. Mas há esperança e luz: enquanto Ressignificarmos os frames de Alexandre Mazzo, haverá oxigênio para respirar no sufoco da vida de quem carrega o pânico na bagagem.
169
170
171
172
173
174
175
176
177
178
179
ENQUADRO
A HISTÓRIA FAN Larissa Oliveira
180
NTASMAGÓRICA Certo, talvez eu tenha traduzido o título do filme a meu modo, desculpem meu “fabuloso” inglês. “A Ghost Story” é um filme de 2017, do gênero drama (meu preferido por sinal). Quem dirigiu esta poesia cinematográfica foi David Lowery, e espero que ele continue nos presenteando com obras assim. Pois este filme é simplesmente incrível. E eu vou te explicar os meus porquês. O filme é sobre um casal apaixonado que se muda para uma casa, e lá eles vivem tranquilamente até que o homem (Casey Affleck) sofre um acidente de carro e morre. E após morrer ele se torna um fantasma – sim – daqueles bem cartunescos, beirando parecer bobo, mas há um motivo para isso, acredite. Tudo que vemos é lençol branco com recorte nos olhos que caminha por aí e sem ser notado vigia a esposa (Rooney Mara). Contando essa história, você se interessaria por um filme assim? Parece muito simples, não? Mas esta obra é rica em detalhes, significados, em filosofias. Em diversos momentos me lembrei de Friedrich Nietzsche e as indagações que ele nos instiga responder. O eterno retorno, conhece?
181
Caso o demônio nos questionasse se viveríamos esta vida novamente, da mesma forma, sem nenhuma mudança, por inúmeras e inúmeras vezes, sem nada novo. Seriam as mesmas dores, os mesmos erros, os mesmos acertos, as mesmas alegrias, a mesma vida... a mesma vida e ponto. O que você responderia ao demônio? Você aceitaria de bom grado ou amaldiçoaria esta criatura? Difícil dizer qual seria nossa reação, teríamos que pensar bem antes de dizer “sim” ou “não” a tal proposta. A premissa do filme é estabelecida, então vemos a rotina da moça, o sofrimento que a ausência de alguém amado traz. Notamos o passar do tempo pelo mudar das estações, vemos ela se fortalecendo, voltando a “viver” novamente, a sorrir, sair, conhecer outras pessoas. É assim que as coisas são, Fernando Pessoa já falou sobre isso em um de seus poemas mais dolorosos:
“Depois, lentamente esqueceste. Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste; ”.
182
A vida segue. A mulher reforma a casa e decide ir embora. A questão passa a ser o apego do espectro para com a casa, o amor que ele sente por aquele lugar. Outras pessoas passam a morar lá, e Affleck dá um show de atuação, mesmo limitado pelo pano branco, ele nos faz perceber suas angústias, o ciúme que sente do seu lar, da sua morada. Há poucos diálogos no filme, seu ritmo não é como os dos filmes comerciais, sua fotografia é bela e encantadora, o roteiro é bem escrito e a trilha sonora é um show a parte. Tudo neste filme me deixou boquiaberta. Porém tenho consciência que ele não é uma obra para qualquer pessoa, ele é um filme para quem está disposto a entender um pouco mais sobre o universo. Este filme me fez pensar sobre a complexidade da existência, sobre a morte, sobre a perda, sobre o tempo, sobre outras dimensões, sobre amor, sobre apego, sobre as dores, sobre as cicatrizes, sobre o meu propósito em meio a essa multidão de 7 bilhões de pessoas. Esta película de 1h32min me fez pensar muito sobre quem sou, sobre a realidade que me rodeia. “A Ghost Story” é um filme que marca a alma, é uma história pura que nos dá uma lição, e mesmo que ela pareça dolorosa e nos arranque lágrimas, vale a pena.
183
EXPEDIENTE A Revista F é uma revista laboratorial do curso de Jornalismo do Centro Universitário Uninter - Campus Tiradentes. Coordenador do curso de Jornalismo: Dr. Guilherme Carvalho Professora responsável: Ma. Sionelly Leite Professora colaboradora: Ma. Marcia Boroski Projeto gráfico: Núcleo de Imagem Ponto Zero Diagramação: Mediação – Agência Experimental de Jornalismo (Aliana Machado, Arthur Neves, Kevin Capobianco e Larissa Oliveira) Jornalismo: Bárbara Carvalho, Camila Toledo, Carolina Salvador, Clóvis Pedrini Jr., Emanuel Andrade, Helen Gutstein, Henrique Gigel, Ícaro Couto, Jehnis Pereira, Jeniffer Silva, Kelen Souza, Larissa Oliveira, Liliane Jochelavicius, Tuba. Publicidade: Ellis Marry, Franciele Nascimento, Gabriela Andrade, Elizara Bronholo, Jean Batista Berti, Jéssica Fonseca, Juliângela Navarro, Marcos Hobmaier, Maria Silvya Pacheco, Rafaela Almeida, Rosiane Levinski, Talita Machado, Valeria Souza. Endereço: Rua Saldanha Marinho,131, Centro - 80410-150 - Curitiba – Paraná E-mail: nucleopontozero@gmail.com Blog: https://revistaf11.wixsite.com/blogrevistaf Telefone: 41 2102-3361 Chanceler: Prof. Wilson Picler Reitor: Prof. Dr. Benhur Gaio
Acesse aqui