LITERATURA E INCLUSÃO SOCIAL
INFORMATIVO EXPERIMENTAL - UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - 2011
A ARTE DE ILUSTRAR UM LIVRO
re, que já assinou diversos livros
refa complicada. O livro se difere
infantis, como O jacaré da lagoa,
das demais formas de arte, pois,
de José Clemente Pozenato. “As
ao contar a história, ele deixa a
imagens devem seguir adiante, ir
parte visual para a imaginação de
além do texto. A verdadeira sinto-
cada um. Isto é importante princi-
nia entre texto e imagem desperta
palmente em obras infantis, pois
no leitor a sensação de liberdade.
as figuras convidam a criança à lei-
Ele circula entre as palavras e os
tura e despertam sua curiosidade.
traços e cria seu próprio caminho.”
que começo a criar expectativas neles, num sistema de leitura de folhetim, eu não posso decepcioná-os.
Como fazer para ilustrar um livro,
Tati também é autora dos livros
então? A artista plástica caxiense
Curinguinha e curingão no trânsi-
Vivi Pasqual diz que não há fórmu-
to e Vida de moleque. Ela dá dicas
Ler e Reler: De que forma vocês percebem crescimento como pessoas, estando inseridos nesse projeto? LEDA FONTANA: Quando a Iraci iniciou a fazer as leituras, nós apenas acompanhávamos. Hoje, nós participamos dando a nossa opinião, fazemos apartes, a sonoplastia é feita por nós também, então, nós também participamos indiretamente da leitura da Iraci, e isso para nós pode ser considerado um crescimento.
la para o sucesso. Ela começou
para quem se interessa em seguir
a desenhar meio que por acaso.
a carreira: “Para ser um bom ilus-
“Eu desenhei bastante uma época,
trador, é preciso gostar de ler, an-
porque era uma coisa que eu não
tes mesmo de escolher e exercer
sabia fazer e me interessava bas-
a profissão. A prática da leitura e
tante ver o desenho acontecendo,
a sua bagagem cultural oferecem
o desenho como descoberta. Algu-
ao ilustrador um vasto repertório
mas pessoas gostaram bastante
de temas e situações que fazem
porque saíam umas coisas engra-
com que ele mergulhe no mundo
çadas, imprevisíveis.” Vivi diz que
da imaginação, influenciando no
sua principal intenção, ao ilustrar
resultado do seu trabalho”, diz. Se-
um livro, é acrescentar algo à obra,
gundo ela, o domínio das técnicas
e não apenas ilustrar algo que o
também é fundamental para um
leitor já leu. Ela também preza pela
bom trabalho. “A ilustração come-
liberdade na hora de criar. “Sobre
ça no texto. Um bom texto desper-
ilustrar um livro, eu realmente não
ta emoções e, essas, transforma-
aprendi. Todas as vezes que eu
das em cores e traços, irão compor
iniciava uma ilustração, tentava
a ilustração”, destaca. Tati afirma
que o desenho fosse um elemento
que o caminho para é longo e ár-
a mais e não uma redundância do
duo, mas prazeroso. Ela também
que já estava sendo dito”.
aponta que o mercado é bom, pois
Quem compartilha dessas
há grandes editoras que inves-
ideias é a ilustradora Tati Rivoi-
tem nessa área no país e grandes
LER E RELER
Ilustrar um livro é uma ta-
Enxergar é mais que ver a luz. É através deste slogan que a APADEV – Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais, fundada em 1983, que atua como prestadora de serviços para oportunizar educação e reabilitação as pessoas portadoras de deficiência visual, objetivando a inclusão escolar, profissional e psicossocial. A entidade desenvolve vários projetos, mantidos com doações mensais e também alguns recursos públicos. Dentre os programas, tais como passeios e oficinas especiais, sempre há o comprometimento da coordenação em unir a família e o deficiente, pois isso é fundamental para seu desenvolvimento. Um destaque é a contação de histórias. As pessoas não a penas escutam as histórias, mas interagem por meio da sonoplastia, dão asas à imaginação e literalmente se colocam na situação vivida pelo personagem. A entidade ainda conta com uma biblioteca ampla, com livros editados no sistema Braile, além de livros falados (áudio), material pe dagógico especializado, jogos adaptados e publicações especializadas. Em entrevista, a então coordenadora, Iraci Maboni, e outros integrantes falam sobre a sua atuação
8
no projeto. Ler e Reler: Que ações são tomadas para que o projeto tenha um resultado positivo e que cada vez mais as pessoas se sintam motivadas a participar? IRACI: As pessoas sentem-se motivadas a participar do projeto tendo prazer em vir para cá, deslocam-se, por vezes, do outro lado da cidade para escutar histórias que poderão rememorar algum fato que tenha acontecido quando elas ainda tinham visão. Essas histórias poderão ajudar a enfrentar novas situações, e isso é algo indescritível, é uma viagem que cada um faz a partir de certo trecho com o qual se identifica. Ler e Reler: Quais são as dificuldades e as facilidades que o voluntário encontra na execução do projeto? IRACI: As facilidades são notáveis porque aqui encontro pessoas ávidas por ouvirem leitura e assim estabe lecemos uma relação de amizade. Talvez a única dificuldade para quem começa é a fidelidade, semanal. Isso tem que funcionar como um fator de segurança para eles e também para mim, pois representa assim o meu comprometimento e a responsabilidade, pois a partir do momento em
NILSA SIQUEIRA: Bem, eu quando entrei aqui pela primeira vez, não encontrava nem mesmo a porta, hoje consigo me situar muito bem aqui dentro, e posso dizer que é muito bom ter pessoas como a Iraci, que é a nossa ledora (nome dado a pessoa que faz a leitura dos livros), enfim, tudo é muito bom, me sinto ótima em estar aqui, vindo aqui me distraio da rotina, e o mais legal é essa interação que ela nos proporciona com as histórias que nos conta, pois assim conversamos, damos risadas, participamos da sonoplastia e até mesmo choramos em algumas histórias.
ilustradores que comprovam isso, como Thais Linhares, Mariana Massarani, entre outros. De acordo com a Câmara Brasileira do Livro, o setor cresceu 14% em 2009, e 39% dos leitores do país têm entre 5 e 17 anos. A pesquisa também apontou que os leitores mais ativos têm incentivo da escola quanto da família.
DESENHO DE TATI TIVOIRE. NO ALTO DA PÁGINA, ARTE DE VIVI PASQUAL.
MERCADO
Editorial
Expediente Universidade de Caxias do Sul Centro de Ciências da Comunicação Reitor: Isidoro Zorzi Diretora do Centro de Ciências da Comunicação: Marliva Vanti Gonçalves Disciplina: Mídia Impressa Docente: Alessandra Rech
RAMON MUNHOZ
Coordenação e Edição: Kamila Chalmy Zatti e Patrícia Piccoli Zanrosso Planejamento Gráfico e Diagramação: Bruno Venturin Lara Fernanda De Antoni Farias Gustavo Toscan Brandalise Luana Belarmino
2
DIVULGAÇÃO
Ler e reler, hábitos que deveriam ser cotidianos para
cada ser humano, habilitando-o para múltiplas competências
Editores: Alexandre Dobner Artur Vinícius Pirocca Bruno Doncatto Bareta Caciano Leu Kuffel Cassio Robattini Erich Monteiro Ruffato Guilherme Finger Kruger Henrique Brancher Janaína Galiotto Josiano Santos da Silva
profissionais e pessoais. É com base nesse desafio que o
Fotografia: Amanda Lazzari Bruna Boiani Cassiane Silveira Osório Letícia Kirchheim
projetos disponibilizados pela Biblioteca Pública Municipal
Tiragem:
ser também um contador de histórias!
250 exemplares
O jornalista Gustavo Guertler escreve sua história editando obras literárias. Apaixonado pela literatura, Guertler, 30 anos, é um modelo de determinação. Desde o início de sua busca pela profissionalização no mercado editorial de Caxias do Sul, há seis anos, ele demarcou uma meta, e a atingiu. Produzindo obras institucionais e autorais, o filho de Henrique e Anajara Guertler promove o trabalho de escritores locais. Pioneira em publicar uma coleção sobre futebol para crianças em parceria com grandes clubes brasileiros, sua editora, a Belas Letras, virou assunto no cenário brasileiro. Ligado no processo que se dá entre livro e leitor, Gustavo participou da Feira do Livro de Frankfurt. Além da convivência com a esposa, Marta Regina Boff, e a filha deles, Marina,dois anos, os livros são sua companhia. Entre os projetos do editor estão os 25 anos da banda Engenheiros do Hawaii, Pra Ser Sincero, e Mapas do Acaso, de Humberto Gessinger (foto).
informativo Ler e Reler (produto final da disciplina de Mídia Impressa, dos Cursos de Comunicação Social da UCS: Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas) aborda o tema livros e leitura. O livro, independentemente de seu gênero, deve ser “devorado”. Hábito que precisa começar na infância, sob a influência dos pais, e ser desenvolvido com o crescimento.
Nesta edição, o leitor poderá descobrir como
está o cenário do mercado editorial e se existe solução para uma possível “crise na leitura”.
Ainda, será convidado a participar dos vários
de Caxias do Sul. Conhecerá o “Leia para mim”, uma iniciativa da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev), além de ser transportado para o universo das ilustrações de livros infantis, mediante os traços de artistas locais. Você está convidado a entrar nessa aventura e
Ler e Reler: Há algum jeito de fazer do livro um produto vendável sem romper com a boa literatura? GUSTAVO: O público sempre procura, em geral, boa literatura. Porém cada um tem a sua própria definição sobre boa literatura. Aí entra uma questão subjetiva do leitor. Acho que para transformar o livro em produto vendável, é preciso então que a cadeia comercial comece a partir da visão do escritor, que gera a inteligência, o conteúdo, que é o ponto de partida do processo. O escritor precisa se questionar quem é o seu leitor. É o grande público? Um público específico? A partir dessa ótica do escritor a editora pode transformar o livro num produto vendável. Acho que o problema das obras não vendáveis, mas que são “boa literatura”, é falta de foco e falta de noção sobre a realidade de mercado. Além disso, é muito questionável determinar o que é boa literatura saindo da esfera acadêmica. Boa literatura é aquilo que os professores de literatura dizem que é boa literatura? Boa literatura é aquilo que os jornalistas dizem que é boa literatura? É o que diz o público, o leitor? Literatura comercial pode ser boa literatura, tanto como literatura de invenção, vanguarda, mas ambas estão servindo a propósitos diferentes e se comunicando de forma diferente com o seu público. No Brasil, há um preconceito em relação aos livros mais vendidos, ou seja, parece que tudo aquilo que vende é sinônimo de má literatura – e acaba sendo uma forma de desqualificar o leitor. Um livro que vende não é necessariamente má literatura, ao mesmo tempo que um livro que não vende não é necessariamente boa literatura. Na maioria dos casos, na grande maioria, um livro não vende porque não é bom, ou porque o autor simplesmente não tem talento. Bons livros, cedo ou tarde, encontrarão seus leitores. Ler e Reler: Como você vê a entrada massiva de bestsellers estrangeiros no mercado editorial brasileiro? Neste contexto, de que forma as editoras podem abrir espaço?
GUSTAVO: Na verdade, vejo a entrada de maneira muito positiva, porque vai abalar e já está abalando a forma como nossos escritores produzem sua literatura. Isso não significa que a literatura passará a ser nivelada por baixo, mas acho que vai fazer com que os escritores revejam o que estão fazendo e os canais que estão usando para se comunicar com seu público, que mensagem estão passando para seu público. A Rosa Monteiro, parafraseando seus autores preferidos no livro “A Louca da Casa”, diz que o bom escritor é aquele que, mesmo quando está falando de si, está falando dos outros, e o mau escritor é aquele que, mesmo quando está falando dos outros, está, na verdade, falando de si. Ela está falando ali dos escritores que escrevem para alimentar o próprio ego, para mostrar que escrevem bem ou para agradar a quem entende de literatura – são os escritores que não vendem. Quem aprende a deixar de lado esses preconceitos certamente terá uma carreira mais promissora na literatura, em termos comerciais – claro, dependendo também do talento de cada um. A entrada de tantos best-sellers aqui acende a luz de emergência para nossos escritores, pois eles têm que se conscientizar de que devem escrever para o leitor, e não para si mesmos. Por que literatura comercial não pode ser boa literatura? Acho que é essa a pulga atrás da orelha que esse fenômeno jogou nos escritores brasileiros. Não é uma ofensa ser um best-seller. É um mérito. Ler e Reler: Cite algum lançamento da sua editora que tenha conciliado sucesso nas vendas e qualidade editorial/literária. GUSTAVO: Um livro pelo qual eu tenho muito apreço nesse sentido é o Pra Ser Sincero, o livro que conta a história da banda Engenheiros do Hawaii. É um livro que tem uma venda muito expressiva, que tem uma proposta editorial muito inovadora e instigante, e um texto muito espirituoso.
7
A DIFUSÃO DE UM HÁBITO
O LIVRO ELETRÔNICO ACERVO PREFEITURA DE CAXIAS DO SUL
A Biblioteca Pública Municipal de Caxias do Sul
e-books, e-readers e livros digitais, passaram a fazer
teiras, que engloba diversos projetos que contribuem
parte da lista de desejos dos leitores mais assíduos.
para a difusão da leitura entre a população. Dentre os
Trata-se da chegada da tecnologia também nos livros
mais importantes, estão Contapete (que prevê uma série
impressos, e estes passam a ser adquiridos na forma
de atividades, tendo como foco o incentivo à leitura a
de um aparelho eletrônico.
adolescentes de 12 a 14 anos previamente inscritos), a
Maratona de Contação de Histórias de Caxias (série de
digital a base de e-ink (tinta eletrônica) que simula
da cidade e do Estado, que este ano comemorou o ani-
o papel, o aparelho Alfa dispõe de uma tela de seis
versário de Monteiro Lobato e a Semana do Livro), o Li-
polegadas, sensível ao toque e com 16 tons de cin-
vros para Ouvir (projeto que visa a garantir a inclusão de
za. Dependendo da memória de cada
crianças, adolescentes e adultos com deficiência visual,
aparelho, terá a opção de
aproximando-os da leitura) e o Livro Livre.
guardar inúmeros títulos,
Adriana Sirena destaca a participação da comu-
isto é, há a possibilidade de
nidade no projeto da II Maratona de Contação de His-
ter em mãos uma enorme lista-
tórias de Caxias do Sul. “Vieram contadoras de Porto
gem de livros armazenados, com
Alegre e da própria cidade. Em certo momento, havia
acesso rápido e facilidade de trans-
crianças ouvindo as histórias e as pessoas que passa-
porte. E é isso que Marcos Fernando
vam pela praça foram parando para ver. Surgiu um públi-
Krist, cronista do jornal Pioneiro, afirma
co completamente alternativo, como médicos e advoga-
que irá contribuir para a escolha do leitor em
dos. As pessoas que voltavam do trabalho pararam ali e
ter um livro digital ao invés de um impresso.
ficaram ouvindo as histórias, uma coisa que a gente não esperava” conta Adriana.
Livre é dedicado especialmente a
existência do projeto.
projetos, o Livro Livre, destinado à
determinado público.
troca de livros, tem a maior partici-
No dia 20 de setembro, por
muito importantes, pois “a biblioteca,
pação do público e seu atendimento
exemplo, o foco é instigar a curiosi-
além de abrir as portas, busca leito-
só para no mês de dezembro. São
dade pela cultura gaúcha, dispondo
res na rua, ela quer formar leitores,
atendidas por ano mais de 1,2 mil
ao público vários livros sobre a Re-
independentemente da faixa etária”.
pessoas de todas as faixas etárias.
volução Farrou pilha. Variando os
Ela afirma que, para que os projetos
Todos os públicos participam, pois as
locais das trocas, o projeto abrange
não caiam em desuso, passam anu-
únicas “regras” deste projeto é que
um público ainda maior.
almente por uma avaliação de resul-
os livros para troca não sejam didá-
tados e possíveis readequações.
ticos e estejam em boas condições,
na no Iguatemi e no Centro de Cul-
ou seja, muitas pessoas trocam seus
tura Dr. Henrique Ordovás Filho e
mento, avaliando cada projeto com
livros infantis por clássicos da litera-
um mês na Universidade de Caxias
as instituições envolvidas. Há pro-
tura.
do Sul. Desta forma, vai atraindo a
jetos em que se chega à conclusão
O acervo que a biblioteca
atenção dos leitores que passam
de que precisam de melhorias, como
contém é notável e em algumas da-
por estes locais, principalmente dos
também existem projetos que podem
tas comemorativas o projeto Livro
que não têm o conhecimento sobre a
ser extintos”, comenta Adriana.
6
Um dos mais importantes
A parceria da empresa Positivo com as livrarias
nacionais Saraiva e Cultura proporciona aos leitores a versão nacional das obras literárias. Porém, devido à baixa procura, somente há disponível a venda literatura clássica, que custa muito pouco, e também obras de autores e gêneros menos privilegiados.
Com a presença desse novo aparelho no
mercado consumidor, muitos se questionam se o livro impresso terá fim. Segundo Arcangelo Zorzi Neto, o Maneco, que já teve contato direto com o livro digital dada sua participação na última Bienal em São Paulo, na Líber em Barcelona e no I Seminário Internacional do Livro Digital em São Paulo, o livro impresso jamais vai deixar de existir, pois, a digitalização na literatura irá ajudar a expandir o mercado de leitores e, consequentemente, impulsionar também a venda do livro impresso. Maneco
ainda
considera
ser muito mais cansativo ler em um livro digital do que ler um livro impresso.
Interação com a escritora Helô Bacichette
LIVRO LIVRE
No Brasil, já está à venda um modelo nacio-
nal, produzido pela empresa Positivo. Com conteúdo
contação de histórias realizada por diversos contadores
Os livros eletrônicos, também conhecidos por
realiza durante o ano o Programa Literatura sem Fron-
O acervo passa uma sema-
Marcos Fernando Kirst defende que “os livros
Para Adriana, os projetos são
digitais vieram para ficar e é bobagem saudosista ficar perdendo tempo lamentando o advento de uma
Independentemente da resistência dos amantes do papel, os livros digitais vieram para ficar.
nova tecnologia. “Preocupa-me mais a possibilidade da extinção dos leitores do que dos livros impressos. Mas penso, sim, que a diminuição da procura pelos livros impressos é uma consequência lógica do futuro. Porém, não me martirizo com isso. Aposto na permanência dos leitores, da literatura e dos escritores, que é o fundamental nisso tudo.”
“Nós estamos, neste moEnfim, há leitores que preferem sentir o toque do papel,
estão buscando aprimorar seus conhecimentos com a
o cheiro das páginas e há outros que preferem estar a
leitura, e, consequentemente, estimular as pessoas a
par da tecnologia, usufruindo a digitalização dos meios e
lerem mais. Isso contribui para o progresso de um país
suas praticidades.
que apresenta diversos problemas educacionais. É como
Arcangelo Zorzi Neto diz: “O Brasil precisa ler mais.”
Porém, o que realmente importa é que ambos
3
A CRISE NA LEITURA
O mercado editorial está povoado de títulos de
importância duvidosa. A impressão é de que a leitura fácil seduz muito mais. Será que estamos diante de uma crise? As escritoras Marilene Caon Pieruccini e Regyna de Queiroz Gazzola ajudam a desvendar as particularidades desse universo de relevância indiscutível para a formação de cidadãos atuantes e com consciência crítica.
Marilene Caon Pieruccini é professora, escritora
e p oetisa, com várias premiações locais e nacionais e mais de 10 obras publicadas, inclusive uma na Espanha. Foi uma das principais responsáveis por Caxias do Sul motivo pelo qual, naquele ano, também recebeu a titulação de Cidadã Caxiense. Membro da Academia Caxiense de Letras desde 2001, é também delegada da Cultura, representante do Rio Grande do Sul na Segunda Conferência Nacional de Cultura em Brasília, em março de 2010, é foi presidente do Conselho Municipal de Cultura 2009/2010. Regyna de Queiroz Gazzola nasceu em Caxias do Sul, onde concluiu o curso de Formação de Professores Primários. Também estudou francês, inglês e português, além de ter aprofundado seus conhecimentos nos temas: Crescimento e Desenvolvimento Espiritual.
de 1989. Possui oito obras publicadas.
4
Ler e Reler: Qual a sua opinião sobre o fato de, em
crivo é bastante sério, e muitos não gostam.
uma Feira do Livro ou livraria, as produções locais
REGYNA: De modo nenhum. Por experiência própria,
terem um espaço bastante inferior ao disponibilizado
posso dizer que é sofrida a situação do escritor em
aos best-sellers?
nossa cidade e região. Só com amor pela arte da escrita
MARILENE: Sempre defendi as produções e os artistas
é que os escritores continuam a fazê-lo. Tenho oito
locais, querendo sua maior evidência nas feiras e nas
títulos publicados, e tive em todos eles lançamentos
livrarias. Contudo, os locais disputam lucros (leia-se
bastante concorridos, mas pelas pessoas do meu círculo
dinheiro para os produtores) e o velho ditado “santo de
de relacionamento, e não por entidades culturais que
casa não faz milagres” torna-se pertinente, pois o grosso
tenham me ajudado a levá-los a público. Faço parte da
da população deixa-se levar pelo que está na “moda”
Academia Caxiense de Letras, onde ocupo a Cadeira
e que a mídia divulga tão bem. Uma coisa que nós, os
Nº.7, tendo minha mãe como patrona, Anna Maria de
artistas locais temos dificuldades em fazer, é uma melhor
Queiroz. Apenas em nossa entidade sentimos apoio, e
divulgação daquilo que produzimos. Recomendaria que
entre os colegas acadêmicos.
a formação de agentes literários. Nesta última Feira
Ler e Reler: O que poderia ser feito para melhorar a
do Livro, uma palestra que eu realizei teve um público
situação caxiense quanto à leitura?
três vezes maior do que alguns forasteiros conseguiram
MARILENE: Há bons projetos em execução voltados
arregimentar.
para as crianças, principalmente da Biblioteca Pública
REGYNA: Esse fato acontece muito no Brasil, infelizmente.
Municipal e do PPEL. Mas uma lacuna que tenho
A mídia leva o leitor a sentir necessidade de ter um best-
apontado é a falta de projetos específicos para o público
seller e lê-lo para não se sentir “por fora” do que acontece
juvenil e o público adulto.
no mundo. Os livreiros, na ânsia da comercialização, dão
REGYNA: Famílias desestruturadas não se preocupam
destaque todo especial aos best-sellers, colocando-os
com o estudo, a leitura e a educação. O hábito de ler deve
nas Feiras do Livro à frente dos outros e também nas
começar muito cedo, antes mesmo de a criança entrar para
livrarias, onde se vê, seguidamente, a vitrina completa
o 1º. Grau na escola. Começa nas escolinhas maternais,
com um único título.
com a “a hora do conto”, quando as professoras quase representam as historinhas para torná-las interessantes
Ganhadora de diversas premiações, tomou posse
na Academia Caxiense de Letras (ACL) em 12 de agosto
a uma avaliação para então obterem o financiamento. E o
os cursos de Relações Públicas incluíssem também
receber o título de Capital Nacional da Cultura em 2008,
adequado no seu cotidiano.
FOTOS DIVULGAÇÃO
Ler e Reler: O que você tem a comentar sobre o
possam despertar maior gosto pela leitura. Professor
hábito de leitura atualmente? Por que você acha que
dedicado torna as aulas interessantes.Pessoalmente,
as pessoas estão lendo cada vez menos?
penso que as pessoas estão lendo cada vez menos
MARILENE: Quando falamos em leitura, precisamos
porque a Internet dá a sensação aos jovens de “suprir”
considerar todo tipo de leitura, não apenas a leitura de
suas dúvidas sobre este ou aquele assunto. É mais fácil
livros. Assim, penso que ela (a leitura), atualmente, tem
uma
se desenvolvido muito. A Internet é um típico exemplo do
rápida do que se
que quero dizer. Portanto, as pessoas estão lendo cada
debruçar
vez mais.
um
REGYNA: Particularmente, penso que a educação de
vezes
berço, em famílias bem-estruturadas, colabora para
Só que os jovens
desenvolver o gosto pela leitura. Também considero que
não se dão conta
um bom professor de Português deve despertar nos seus
de
alunos o interesse pela leitura, não indicando apenas
contato direto com a linguagem do escritor os leva a
obras clássicas, mas sugerindo autores modernos que
ter melhor comunicação e vocabulário mais completo e
Ler e Reler: Você considera suficiente o apoio local
às crianças. Deveria ser “cobrada” de cada estudante
que recebe para a publicação e divulgação de suas
a leitura de um X livros por mês. Depois de iniciado
obras?
este hábito, as pessoas continuam por si mesmas. As
MARILENE: Que apoio? Como coordeno a Comissão
coordenadoras pedagógicas deveriam procurar incentivar
de Literatura do Financiarte, até agora apenas ajudei os
os professores de todas as disciplinas a fazerem com que
outros. Para os demais, o Financiarte é muito importante.
os alunos leiam mais, nem que, a princípio, recebessem
Acontece que os autores precisam submeter suas obras
alguma nota como estímulo.
pesquisa
livro,
sobre às
extenso.
que
Quando falamos sobre leitura, precisamos considerar todo tipo, não apenas a leitura de livros.
esse
5
A CRISE NA LEITURA
O mercado editorial está povoado de títulos de
importância duvidosa. A impressão é de que a leitura fácil seduz muito mais. Será que estamos diante de uma crise? As escritoras Marilene Caon Pieruccini e Regyna de Queiroz Gazzola ajudam a desvendar as particularidades desse universo de relevância indiscutível para a formação de cidadãos atuantes e com consciência crítica.
Marilene Caon Pieruccini é professora, escritora
e p oetisa, com várias premiações locais e nacionais e mais de 10 obras publicadas, inclusive uma na Espanha. Foi uma das principais responsáveis por Caxias do Sul motivo pelo qual, naquele ano, também recebeu a titulação de Cidadã Caxiense. Membro da Academia Caxiense de Letras desde 2001, é também delegada da Cultura, representante do Rio Grande do Sul na Segunda Conferência Nacional de Cultura em Brasília, em março de 2010, é foi presidente do Conselho Municipal de Cultura 2009/2010. Regyna de Queiroz Gazzola nasceu em Caxias do Sul, onde concluiu o curso de Formação de Professores Primários. Também estudou francês, inglês e português, além de ter aprofundado seus conhecimentos nos temas: Crescimento e Desenvolvimento Espiritual.
de 1989. Possui oito obras publicadas.
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Ler e Reler: Qual a sua opinião sobre o fato de, em
crivo é bastante sério, e muitos não gostam.
uma Feira do Livro ou livraria, as produções locais
REGYNA: De modo nenhum. Por experiência própria,
terem um espaço bastante inferior ao disponibilizado
posso dizer que é sofrida a situação do escritor em
aos best-sellers?
nossa cidade e região. Só com amor pela arte da escrita
MARILENE: Sempre defendi as produções e os artistas
é que os escritores continuam a fazê-lo. Tenho oito
locais, querendo sua maior evidência nas feiras e nas
títulos publicados, e tive em todos eles lançamentos
livrarias. Contudo, os locais disputam lucros (leia-se
bastante concorridos, mas pelas pessoas do meu círculo
dinheiro para os produtores) e o velho ditado “santo de
de relacionamento, e não por entidades culturais que
casa não faz milagres” torna-se pertinente, pois o grosso
tenham me ajudado a levá-los a público. Faço parte da
da população deixa-se levar pelo que está na “moda”
Academia Caxiense de Letras, onde ocupo a Cadeira
e que a mídia divulga tão bem. Uma coisa que nós, os
Nº.7, tendo minha mãe como patrona, Anna Maria de
artistas locais temos dificuldades em fazer, é uma melhor
Queiroz. Apenas em nossa entidade sentimos apoio, e
divulgação daquilo que produzimos. Recomendaria que
entre os colegas acadêmicos.
a formação de agentes literários. Nesta última Feira
Ler e Reler: O que poderia ser feito para melhorar a
do Livro, uma palestra que eu realizei teve um público
situação caxiense quanto à leitura?
três vezes maior do que alguns forasteiros conseguiram
MARILENE: Há bons projetos em execução voltados
arregimentar.
para as crianças, principalmente da Biblioteca Pública
REGYNA: Esse fato acontece muito no Brasil, infelizmente.
Municipal e do PPEL. Mas uma lacuna que tenho
A mídia leva o leitor a sentir necessidade de ter um best-
apontado é a falta de projetos específicos para o público
seller e lê-lo para não se sentir “por fora” do que acontece
juvenil e o público adulto.
no mundo. Os livreiros, na ânsia da comercialização, dão
REGYNA: Famílias desestruturadas não se preocupam
destaque todo especial aos best-sellers, colocando-os
com o estudo, a leitura e a educação. O hábito de ler deve
nas Feiras do Livro à frente dos outros e também nas
começar muito cedo, antes mesmo de a criança entrar para
livrarias, onde se vê, seguidamente, a vitrina completa
o 1º. Grau na escola. Começa nas escolinhas maternais,
com um único título.
com a “a hora do conto”, quando as professoras quase representam as historinhas para torná-las interessantes
Ganhadora de diversas premiações, tomou posse
na Academia Caxiense de Letras (ACL) em 12 de agosto
a uma avaliação para então obterem o financiamento. E o
os cursos de Relações Públicas incluíssem também
receber o título de Capital Nacional da Cultura em 2008,
adequado no seu cotidiano.
FOTOS DIVULGAÇÃO
Ler e Reler: O que você tem a comentar sobre o
possam despertar maior gosto pela leitura. Professor
hábito de leitura atualmente? Por que você acha que
dedicado torna as aulas interessantes.Pessoalmente,
as pessoas estão lendo cada vez menos?
penso que as pessoas estão lendo cada vez menos
MARILENE: Quando falamos em leitura, precisamos
porque a Internet dá a sensação aos jovens de “suprir”
considerar todo tipo de leitura, não apenas a leitura de
suas dúvidas sobre este ou aquele assunto. É mais fácil
livros. Assim, penso que ela (a leitura), atualmente, tem
uma
se desenvolvido muito. A Internet é um típico exemplo do
rápida do que se
que quero dizer. Portanto, as pessoas estão lendo cada
debruçar
vez mais.
um
REGYNA: Particularmente, penso que a educação de
vezes
berço, em famílias bem-estruturadas, colabora para
Só que os jovens
desenvolver o gosto pela leitura. Também considero que
não se dão conta
um bom professor de Português deve despertar nos seus
de
alunos o interesse pela leitura, não indicando apenas
contato direto com a linguagem do escritor os leva a
obras clássicas, mas sugerindo autores modernos que
ter melhor comunicação e vocabulário mais completo e
Ler e Reler: Você considera suficiente o apoio local
às crianças. Deveria ser “cobrada” de cada estudante
que recebe para a publicação e divulgação de suas
a leitura de um X livros por mês. Depois de iniciado
obras?
este hábito, as pessoas continuam por si mesmas. As
MARILENE: Que apoio? Como coordeno a Comissão
coordenadoras pedagógicas deveriam procurar incentivar
de Literatura do Financiarte, até agora apenas ajudei os
os professores de todas as disciplinas a fazerem com que
outros. Para os demais, o Financiarte é muito importante.
os alunos leiam mais, nem que, a princípio, recebessem
Acontece que os autores precisam submeter suas obras
alguma nota como estímulo.
pesquisa
livro,
sobre às
extenso.
que
Quando falamos sobre leitura, precisamos considerar todo tipo, não apenas a leitura de livros.
esse
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A DIFUSÃO DE UM HÁBITO
O LIVRO ELETRÔNICO ACERVO PREFEITURA DE CAXIAS DO SUL
A Biblioteca Pública Municipal de Caxias do Sul
e-books, e-readers e livros digitais, passaram a fazer
teiras, que engloba diversos projetos que contribuem
parte da lista de desejos dos leitores mais assíduos.
para a difusão da leitura entre a população. Dentre os
Trata-se da chegada da tecnologia também nos livros
mais importantes, estão Contapete (que prevê uma série
impressos, e estes passam a ser adquiridos na forma
de atividades, tendo como foco o incentivo à leitura a
de um aparelho eletrônico.
adolescentes de 12 a 14 anos previamente inscritos), a
Maratona de Contação de Histórias de Caxias (série de
digital a base de e-ink (tinta eletrônica) que simula
da cidade e do Estado, que este ano comemorou o ani-
o papel, o aparelho Alfa dispõe de uma tela de seis
versário de Monteiro Lobato e a Semana do Livro), o Li-
polegadas, sensível ao toque e com 16 tons de cin-
vros para Ouvir (projeto que visa a garantir a inclusão de
za. Dependendo da memória de cada
crianças, adolescentes e adultos com deficiência visual,
aparelho, terá a opção de
aproximando-os da leitura) e o Livro Livre.
guardar inúmeros títulos,
Adriana Sirena destaca a participação da comu-
isto é, há a possibilidade de
nidade no projeto da II Maratona de Contação de His-
ter em mãos uma enorme lista-
tórias de Caxias do Sul. “Vieram contadoras de Porto
gem de livros armazenados, com
Alegre e da própria cidade. Em certo momento, havia
acesso rápido e facilidade de trans-
crianças ouvindo as histórias e as pessoas que passa-
porte. E é isso que Marcos Fernando
vam pela praça foram parando para ver. Surgiu um públi-
Krist, cronista do jornal Pioneiro, afirma
co completamente alternativo, como médicos e advoga-
que irá contribuir para a escolha do leitor em
dos. As pessoas que voltavam do trabalho pararam ali e
ter um livro digital ao invés de um impresso.
ficaram ouvindo as histórias, uma coisa que a gente não esperava” conta Adriana.
Livre é dedicado especialmente a
existência do projeto.
projetos, o Livro Livre, destinado à
determinado público.
troca de livros, tem a maior partici-
No dia 20 de setembro, por
muito importantes, pois “a biblioteca,
pação do público e seu atendimento
exemplo, o foco é instigar a curiosi-
além de abrir as portas, busca leito-
só para no mês de dezembro. São
dade pela cultura gaúcha, dispondo
res na rua, ela quer formar leitores,
atendidas por ano mais de 1,2 mil
ao público vários livros sobre a Re-
independentemente da faixa etária”.
pessoas de todas as faixas etárias.
volução Farrou pilha. Variando os
Ela afirma que, para que os projetos
Todos os públicos participam, pois as
locais das trocas, o projeto abrange
não caiam em desuso, passam anu-
únicas “regras” deste projeto é que
um público ainda maior.
almente por uma avaliação de resul-
os livros para troca não sejam didá-
tados e possíveis readequações.
ticos e estejam em boas condições,
na no Iguatemi e no Centro de Cul-
ou seja, muitas pessoas trocam seus
tura Dr. Henrique Ordovás Filho e
mento, avaliando cada projeto com
livros infantis por clássicos da litera-
um mês na Universidade de Caxias
as instituições envolvidas. Há pro-
tura.
do Sul. Desta forma, vai atraindo a
jetos em que se chega à conclusão
O acervo que a biblioteca
atenção dos leitores que passam
de que precisam de melhorias, como
contém é notável e em algumas da-
por estes locais, principalmente dos
também existem projetos que podem
tas comemorativas o projeto Livro
que não têm o conhecimento sobre a
ser extintos”, comenta Adriana.
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Um dos mais importantes
A parceria da empresa Positivo com as livrarias
nacionais Saraiva e Cultura proporciona aos leitores a versão nacional das obras literárias. Porém, devido à baixa procura, somente há disponível a venda literatura clássica, que custa muito pouco, e também obras de autores e gêneros menos privilegiados.
Com a presença desse novo aparelho no
mercado consumidor, muitos se questionam se o livro impresso terá fim. Segundo Arcangelo Zorzi Neto, o Maneco, que já teve contato direto com o livro digital dada sua participação na última Bienal em São Paulo, na Líber em Barcelona e no I Seminário Internacional do Livro Digital em São Paulo, o livro impresso jamais vai deixar de existir, pois, a digitalização na literatura irá ajudar a expandir o mercado de leitores e, consequentemente, impulsionar também a venda do livro impresso. Maneco
ainda
considera
ser muito mais cansativo ler em um livro digital do que ler um livro impresso.
Interação com a escritora Helô Bacichette
LIVRO LIVRE
No Brasil, já está à venda um modelo nacio-
nal, produzido pela empresa Positivo. Com conteúdo
contação de histórias realizada por diversos contadores
Os livros eletrônicos, também conhecidos por
realiza durante o ano o Programa Literatura sem Fron-
O acervo passa uma sema-
Marcos Fernando Kirst defende que “os livros
Para Adriana, os projetos são
digitais vieram para ficar e é bobagem saudosista ficar perdendo tempo lamentando o advento de uma
Independentemente da resistência dos amantes do papel, os livros digitais vieram para ficar.
nova tecnologia. “Preocupa-me mais a possibilidade da extinção dos leitores do que dos livros impressos. Mas penso, sim, que a diminuição da procura pelos livros impressos é uma consequência lógica do futuro. Porém, não me martirizo com isso. Aposto na permanência dos leitores, da literatura e dos escritores, que é o fundamental nisso tudo.”
“Nós estamos, neste moEnfim, há leitores que preferem sentir o toque do papel,
estão buscando aprimorar seus conhecimentos com a
o cheiro das páginas e há outros que preferem estar a
leitura, e, consequentemente, estimular as pessoas a
par da tecnologia, usufruindo a digitalização dos meios e
lerem mais. Isso contribui para o progresso de um país
suas praticidades.
que apresenta diversos problemas educacionais. É como
Arcangelo Zorzi Neto diz: “O Brasil precisa ler mais.”
Porém, o que realmente importa é que ambos
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MERCADO
Editorial
Expediente Universidade de Caxias do Sul Centro de Ciências da Comunicação Reitor: Isidoro Zorzi Diretora do Centro de Ciências da Comunicação: Marliva Vanti Gonçalves Disciplina: Mídia Impressa Docente: Alessandra Rech
RAMON MUNHOZ
Coordenação e Edição: Kamila Chalmy Zatti e Patrícia Piccoli Zanrosso Planejamento Gráfico e Diagramação: Bruno Venturin Lara Fernanda De Antoni Farias Gustavo Toscan Brandalise Luana Belarmino
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DIVULGAÇÃO
Ler e reler, hábitos que deveriam ser cotidianos para
cada ser humano, habilitando-o para múltiplas competências
Editores: Alexandre Dobner Artur Vinícius Pirocca Bruno Doncatto Bareta Caciano Leu Kuffel Cassio Robattini Erich Monteiro Ruffato Guilherme Finger Kruger Henrique Brancher Janaína Galiotto Josiano Santos da Silva
profissionais e pessoais. É com base nesse desafio que o
Fotografia: Amanda Lazzari Bruna Boiani Cassiane Silveira Osório Letícia Kirchheim
projetos disponibilizados pela Biblioteca Pública Municipal
Tiragem:
ser também um contador de histórias!
250 exemplares
O jornalista Gustavo Guertler escreve sua história editando obras literárias. Apaixonado pela literatura, Guertler, 30 anos, é um modelo de determinação. Desde o início de sua busca pela profissionalização no mercado editorial de Caxias do Sul, há seis anos, ele demarcou uma meta, e a atingiu. Produzindo obras institucionais e autorais, o filho de Henrique e Anajara Guertler promove o trabalho de escritores locais. Pioneira em publicar uma coleção sobre futebol para crianças em parceria com grandes clubes brasileiros, sua editora, a Belas Letras, virou assunto no cenário brasileiro. Ligado no processo que se dá entre livro e leitor, Gustavo participou da Feira do Livro de Frankfurt. Além da convivência com a esposa, Marta Regina Boff, e a filha deles, Marina,dois anos, os livros são sua companhia. Entre os projetos do editor estão os 25 anos da banda Engenheiros do Hawaii, Pra Ser Sincero, e Mapas do Acaso, de Humberto Gessinger (foto).
informativo Ler e Reler (produto final da disciplina de Mídia Impressa, dos Cursos de Comunicação Social da UCS: Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas) aborda o tema livros e leitura. O livro, independentemente de seu gênero, deve ser “devorado”. Hábito que precisa começar na infância, sob a influência dos pais, e ser desenvolvido com o crescimento.
Nesta edição, o leitor poderá descobrir como
está o cenário do mercado editorial e se existe solução para uma possível “crise na leitura”.
Ainda, será convidado a participar dos vários
de Caxias do Sul. Conhecerá o “Leia para mim”, uma iniciativa da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev), além de ser transportado para o universo das ilustrações de livros infantis, mediante os traços de artistas locais. Você está convidado a entrar nessa aventura e
Ler e Reler: Há algum jeito de fazer do livro um produto vendável sem romper com a boa literatura? GUSTAVO: O público sempre procura, em geral, boa literatura. Porém cada um tem a sua própria definição sobre boa literatura. Aí entra uma questão subjetiva do leitor. Acho que para transformar o livro em produto vendável, é preciso então que a cadeia comercial comece a partir da visão do escritor, que gera a inteligência, o conteúdo, que é o ponto de partida do processo. O escritor precisa se questionar quem é o seu leitor. É o grande público? Um público específico? A partir dessa ótica do escritor a editora pode transformar o livro num produto vendável. Acho que o problema das obras não vendáveis, mas que são “boa literatura”, é falta de foco e falta de noção sobre a realidade de mercado. Além disso, é muito questionável determinar o que é boa literatura saindo da esfera acadêmica. Boa literatura é aquilo que os professores de literatura dizem que é boa literatura? Boa literatura é aquilo que os jornalistas dizem que é boa literatura? É o que diz o público, o leitor? Literatura comercial pode ser boa literatura, tanto como literatura de invenção, vanguarda, mas ambas estão servindo a propósitos diferentes e se comunicando de forma diferente com o seu público. No Brasil, há um preconceito em relação aos livros mais vendidos, ou seja, parece que tudo aquilo que vende é sinônimo de má literatura – e acaba sendo uma forma de desqualificar o leitor. Um livro que vende não é necessariamente má literatura, ao mesmo tempo que um livro que não vende não é necessariamente boa literatura. Na maioria dos casos, na grande maioria, um livro não vende porque não é bom, ou porque o autor simplesmente não tem talento. Bons livros, cedo ou tarde, encontrarão seus leitores. Ler e Reler: Como você vê a entrada massiva de bestsellers estrangeiros no mercado editorial brasileiro? Neste contexto, de que forma as editoras podem abrir espaço?
GUSTAVO: Na verdade, vejo a entrada de maneira muito positiva, porque vai abalar e já está abalando a forma como nossos escritores produzem sua literatura. Isso não significa que a literatura passará a ser nivelada por baixo, mas acho que vai fazer com que os escritores revejam o que estão fazendo e os canais que estão usando para se comunicar com seu público, que mensagem estão passando para seu público. A Rosa Monteiro, parafraseando seus autores preferidos no livro “A Louca da Casa”, diz que o bom escritor é aquele que, mesmo quando está falando de si, está falando dos outros, e o mau escritor é aquele que, mesmo quando está falando dos outros, está, na verdade, falando de si. Ela está falando ali dos escritores que escrevem para alimentar o próprio ego, para mostrar que escrevem bem ou para agradar a quem entende de literatura – são os escritores que não vendem. Quem aprende a deixar de lado esses preconceitos certamente terá uma carreira mais promissora na literatura, em termos comerciais – claro, dependendo também do talento de cada um. A entrada de tantos best-sellers aqui acende a luz de emergência para nossos escritores, pois eles têm que se conscientizar de que devem escrever para o leitor, e não para si mesmos. Por que literatura comercial não pode ser boa literatura? Acho que é essa a pulga atrás da orelha que esse fenômeno jogou nos escritores brasileiros. Não é uma ofensa ser um best-seller. É um mérito. Ler e Reler: Cite algum lançamento da sua editora que tenha conciliado sucesso nas vendas e qualidade editorial/literária. GUSTAVO: Um livro pelo qual eu tenho muito apreço nesse sentido é o Pra Ser Sincero, o livro que conta a história da banda Engenheiros do Hawaii. É um livro que tem uma venda muito expressiva, que tem uma proposta editorial muito inovadora e instigante, e um texto muito espirituoso.
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LITERATURA E INCLUSÃO SOCIAL
INFORMATIVO EXPERIMENTAL - UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - 2011
A ARTE DE ILUSTRAR UM LIVRO
re, que já assinou diversos livros
refa complicada. O livro se difere
infantis, como O jacaré da lagoa,
das demais formas de arte, pois,
de José Clemente Pozenato. “As
ao contar a história, ele deixa a
imagens devem seguir adiante, ir
parte visual para a imaginação de
além do texto. A verdadeira sinto-
cada um. Isto é importante princi-
nia entre texto e imagem desperta
palmente em obras infantis, pois
no leitor a sensação de liberdade.
as figuras convidam a criança à lei-
Ele circula entre as palavras e os
tura e despertam sua curiosidade.
traços e cria seu próprio caminho.”
que começo a criar expectativas neles, num sistema de leitura de folhetim, eu não posso decepcioná-os.
Como fazer para ilustrar um livro,
Tati também é autora dos livros
então? A artista plástica caxiense
Curinguinha e curingão no trânsi-
Vivi Pasqual diz que não há fórmu-
to e Vida de moleque. Ela dá dicas
Ler e Reler: De que forma vocês percebem crescimento como pessoas, estando inseridos nesse projeto? LEDA FONTANA: Quando a Iraci iniciou a fazer as leituras, nós apenas acompanhávamos. Hoje, nós participamos dando a nossa opinião, fazemos apartes, a sonoplastia é feita por nós também, então, nós também participamos indiretamente da leitura da Iraci, e isso para nós pode ser considerado um crescimento.
la para o sucesso. Ela começou
para quem se interessa em seguir
a desenhar meio que por acaso.
a carreira: “Para ser um bom ilus-
“Eu desenhei bastante uma época,
trador, é preciso gostar de ler, an-
porque era uma coisa que eu não
tes mesmo de escolher e exercer
sabia fazer e me interessava bas-
a profissão. A prática da leitura e
tante ver o desenho acontecendo,
a sua bagagem cultural oferecem
o desenho como descoberta. Algu-
ao ilustrador um vasto repertório
mas pessoas gostaram bastante
de temas e situações que fazem
porque saíam umas coisas engra-
com que ele mergulhe no mundo
çadas, imprevisíveis.” Vivi diz que
da imaginação, influenciando no
sua principal intenção, ao ilustrar
resultado do seu trabalho”, diz. Se-
um livro, é acrescentar algo à obra,
gundo ela, o domínio das técnicas
e não apenas ilustrar algo que o
também é fundamental para um
leitor já leu. Ela também preza pela
bom trabalho. “A ilustração come-
liberdade na hora de criar. “Sobre
ça no texto. Um bom texto desper-
ilustrar um livro, eu realmente não
ta emoções e, essas, transforma-
aprendi. Todas as vezes que eu
das em cores e traços, irão compor
iniciava uma ilustração, tentava
a ilustração”, destaca. Tati afirma
que o desenho fosse um elemento
que o caminho para é longo e ár-
a mais e não uma redundância do
duo, mas prazeroso. Ela também
que já estava sendo dito”.
aponta que o mercado é bom, pois
Quem compartilha dessas
há grandes editoras que inves-
ideias é a ilustradora Tati Rivoi-
tem nessa área no país e grandes
LER E RELER
Ilustrar um livro é uma ta-
Enxergar é mais que ver a luz. É através deste slogan que a APADEV – Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais, fundada em 1983, que atua como prestadora de serviços para oportunizar educação e reabilitação as pessoas portadoras de deficiência visual, objetivando a inclusão escolar, profissional e psicossocial. A entidade desenvolve vários projetos, mantidos com doações mensais e também alguns recursos públicos. Dentre os programas, tais como passeios e oficinas especiais, sempre há o comprometimento da coordenação em unir a família e o deficiente, pois isso é fundamental para seu desenvolvimento. Um destaque é a contação de histórias. As pessoas não a penas escutam as histórias, mas interagem por meio da sonoplastia, dão asas à imaginação e literalmente se colocam na situação vivida pelo personagem. A entidade ainda conta com uma biblioteca ampla, com livros editados no sistema Braile, além de livros falados (áudio), material pe dagógico especializado, jogos adaptados e publicações especializadas. Em entrevista, a então coordenadora, Iraci Maboni, e outros integrantes falam sobre a sua atuação
8
no projeto. Ler e Reler: Que ações são tomadas para que o projeto tenha um resultado positivo e que cada vez mais as pessoas se sintam motivadas a participar? IRACI: As pessoas sentem-se motivadas a participar do projeto tendo prazer em vir para cá, deslocam-se, por vezes, do outro lado da cidade para escutar histórias que poderão rememorar algum fato que tenha acontecido quando elas ainda tinham visão. Essas histórias poderão ajudar a enfrentar novas situações, e isso é algo indescritível, é uma viagem que cada um faz a partir de certo trecho com o qual se identifica. Ler e Reler: Quais são as dificuldades e as facilidades que o voluntário encontra na execução do projeto? IRACI: As facilidades são notáveis porque aqui encontro pessoas ávidas por ouvirem leitura e assim estabe lecemos uma relação de amizade. Talvez a única dificuldade para quem começa é a fidelidade, semanal. Isso tem que funcionar como um fator de segurança para eles e também para mim, pois representa assim o meu comprometimento e a responsabilidade, pois a partir do momento em
NILSA SIQUEIRA: Bem, eu quando entrei aqui pela primeira vez, não encontrava nem mesmo a porta, hoje consigo me situar muito bem aqui dentro, e posso dizer que é muito bom ter pessoas como a Iraci, que é a nossa ledora (nome dado a pessoa que faz a leitura dos livros), enfim, tudo é muito bom, me sinto ótima em estar aqui, vindo aqui me distraio da rotina, e o mais legal é essa interação que ela nos proporciona com as histórias que nos conta, pois assim conversamos, damos risadas, participamos da sonoplastia e até mesmo choramos em algumas histórias.
ilustradores que comprovam isso, como Thais Linhares, Mariana Massarani, entre outros. De acordo com a Câmara Brasileira do Livro, o setor cresceu 14% em 2009, e 39% dos leitores do país têm entre 5 e 17 anos. A pesquisa também apontou que os leitores mais ativos têm incentivo da escola quanto da família.
DESENHO DE TATI TIVOIRE. NO ALTO DA PÁGINA, ARTE DE VIVI PASQUAL.