EXPRESSÃO Revista-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul - 2018/2
FAMÍLIAS DO INTERIOR Desafios e valores da vida no campo, que passam de pai para filho Página 4
Jornalismo Humanizado diante das Fake News
FESTIVAL BRASILEIRO DE MÚSICA DE RUA Além de refletir alegria, o evento incentiva pesquisa acadêmica Página 8
BASQUETE CAXIENSE
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Caxias Basquete escreve seu nome entre os grandes do esporte brasileiro Página 38
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Desafios da era digital
maior desafio da geração atual é compreender como as notícias falsas atingem e influenciam a todos pela internet. E, geralmente, nos perguntamos: Estamos preparados para lidar com as fake news no jornalismo contemporâneo? Títulos sensacionalistas, fontes desconhecidas e sites não confiáveis são cada vez mais comuns e têm fácil acesso. Consequentemente, há um grande aumento no número de compartilhamentos. Resumindo, os produtores de notícias falsas se aproveitam da ingenuidade e da falta de conhecimento dos usuários do mundo digital, para proliferam informações tendenciosas e sem uma apuração jornalística, de fato. A partir disso, podemos relacionar a não obrigatoridade de um diploma acadêmico às fake news e ao jornalismo contemporâneo. Um profissional da comununicação sem diploma pode, sim, estar muito ligado à geração fake news, na qual tudo pode ser considerado jornalismo. O diploma faz um comunicador ser mais transparente dentro dos veículos, o que o torna útil, adequado e proveitoso também para a sociedade. Além disso, capacita o jornalista a entender melhor as questões psicológicas, sociológicas e éticas, além de ensinar melhor a investigar, produzir e distribuir a informação. O jornalismo passa por constantes mudanças, o que faz com que as pessoas mudem sua maneira de consumir informação, e se confundam com fatos que são abordados em notícias rápidas de blogs e sites. Diante desse contexto, as fontes têm sua grande importância nesse meio. São elas que dão sentido e credibilidade às reportagens. Desta maneira, é possível construir um jornalismo mais ético e responsável. Já o caminho para conter as falsas notícias é transparecer a educação e apresentar um jornalismo mais humanizado. Quanto mais ocorrer a checagem dos fatos, seja por quem produz ou por quem consome a informação, mais será possível manter longe o sensacionalismo e todos os problemas que giram em torno deste tema tão discutido e presente nos dias atuais.
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Expediente Reitor Dr. Evaldo Antonio Kuiava Diretora da Área do Conhecimento de Ciências Sociais Dra. Maria Carolina Rosa Gullo Coordenador do curso de Jornalismo Me. Marcell Bocchese Disciplina Projeto Experimental II - Revista Professora Dra. Marlene Branca Sólio Alunos Carina dos Santos Pedroso Denise Maria Dal Picolli Costa Évelynn Marinho Alves Franciele Mesari Jennifer Bauer Eme Leticia Barea de Oliveira Liliane Fernandes de Oliveira Marília Alves da Rosa Pablo Ribeiro Rodrigo de Oliveira Moraes Tainara Alba Tatiana da Cruz
Sumรกrio
Foto: Elisa Comandulli
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Legado da família Dal Picolli Família que reside na comunidade São Francisco da 6ª légua, passa a agricultura de geração para geração, como forma de sustento.Os mais jovens buscam aperfeiçoamento para seguir Foto: Denise Costa
Alexandre, Vilson e Volnei Dal Picolli cultivam em sua propriedade cerca de dois hectares de parreirais
POR DENISE COSTA
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na pequena comunidade de São Francisco da 6ª légua que estão localizadas as propriedades da família Dal Picolli, que conta com cerca de 13,5 hectares de terra. Na zona rural do nordeste gaúcho, predominam pequenas propriedades de famílias do interior, com uma média de 15 a 20 hectares de terra para cada família. As peculiaridades dessa família já começaram pelo sobrenome. Em função de um erro de ortografia, Armindo Dal Picol e seus descendentes passaram a ser identificados com o sobrenome Dal Picolli, diferenciando-se, assim, dos demais membros do clã. Mas as peculiaridades não pararam por aí. Os Dal Picolli repas-
sam o trabalho agrícola e a vida na colônia de geração para geração. Hoje, a família de Vilson Dal Picolli continua a tradição deixada por seus antecedentes. Vilson e seus filhos, Alexandre e Volnei, tiram da terra de São Francisco a produção de seu sustento diário. Por lá, os homens da família têm plantações de vagens e cebolas. Mas a principal fonte de renda vem dos parreirais cultivados para a produção de vinho, e dos galinheiros instalados no terreno acima da casa. Um balanço realizado pelo Escritório Regional da Emater RS – Ascar de Caxias do Sul, indica que a principal cultura da região é a videira. Segundo dados da Emater, o ano de 2018 terá uma produção
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de 720 mil toneladas para industrialização e consumo in natura. A avaliação envolve a produção de 55 municípios, principalmente da região de Caxias do Sul, mas também alguns das regiões de Passo Fundo e Lajeado.
Vilson e seus filhos tiram da terra a produção do seu sustento diário Mas a agricultura, mesmo essencial na sociedade, segue muito desvalorizada e, por isso, muitas pessoas desistem e buscam uma vida melhor na cidade.
TRADIÇÃO FAMILIAR O gosto pelo trabalho e a vida na colônia vem da geração do avô de Alexandre, filho mais velho. Ele começou muito jovem a ajudar o pai nas funções da casa e, hoje, com 27 anos, não se vê longe de lá: “Adoro o que faço. Sou livre. Muitas vezes tem aquela cobrança do pai ou mesmo minha, porque sempre busco melhorar e produzir mais. Mas nada me deixa mais feliz do que ver o resultado: produtos de qualidade e em grande quantidade. Isso mostra que o nosso esforço vale a pena e gera resultados”, destaca. O trabalho na colônia é considerado pesado, mas a família nunca pensou em desistir do que faz. Por lá, eles ainda têm sua casa, e, quando não estão trabalhando, curtem o local com o silêncio e as belas paisagens do interior. Além disso, eles não pretendem parar tão cedo os negócios da família. “É uma coisa que precisa continuar de alguma maneira. Odiaria ver tudo o que começou a ser construído pelo meu avô Armin-
do, e que meu pai continuou, deixado pra trás. Também não sei se terei filhos, mas a ideia é passar para as próximas gerações todo o trabalho que eu recebi e que vou deixar, sim”, destaca. CAMINHO APRIMORADO O trabalho no campo não foi a única herança da família Dal Picolli. O interesse pela produção de vinhos também é passado de geração para geração. Pensando em continuar e aumentar o negócio, Volnei, de 22 anos, prestou Vestibular em 2017 e cursa Enologia, no Instituto Federal do Rio Grande do Sul, o que o levará a residir em Bento Gonçalves pelos próximos três anos.
A família conta com cerca de 13,5 hectares de terra, no interior de Caxias do Sul
“Como meu avô era um pequeno produtor de vinhos, passou este ramo ao meu pai, que ensina a mim e a meu irmão. Sempre tive intenção de fazer isso por gostar
muito e pelo interesse em conhecer todos os tipos de vinho. Com esse curso, vou querer aprimorar nosso produto colonial e, quem sabe, produzir vinhos em maior quantidade e com mais qualidade”, ressalta. Volnei, que foi muito incentivado pelos pais, destaca que sempre teve imenso prazer em trabalhar na colônia e que pretende continuar o ramo que a família escolheu, juntamente com seu irmão, repetindo os passos das gerações passadas. “Sempre quis montar meu próprio negócio com o apoio da minha família. Meu irmão faz administração e eu saí de casa para estudar. Se tudo ocorrer como planejado, vamos montar nosso empreendimento lá em casa mesmo”, conta. E seu sonho vai além: “Pretendo cultivar uvas em locais com um clima mais propício e o primeiro lugar na lista é o Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves”, adianta. A realização só será concretizada após sua formação e a do irmão mais velho, mas o apoio incondicional da família dá aos olhos do caçula o brilho necessário para conquistar o sucesso que tanto almeja.
SÃO FRANCISCO DA 6ª LÉGUA A comunidade de São Francisco da 6ª légua faz parte de Galópolis (um dos distritos de Caxias do Sul). Galópolis foi habitado depois de 1876 por colonos que se dedicaram à economia. A partir de 1898, ocorreu a instalação de um lanifício por imigrantes que vieram da Itália. Já em 1940, após uma crise, o lanifício foi comprado por Hércules Galló, que reorganizou e reestruturou o estabelecimento, prosperando na comunidade. Daí saiu o nome Galópolis, em homenagem a Galló. O distrito fica localizado a 10 km do centro de Caxias do Sul. Reúne, ainda, comunidades como São João da quarta légua e São Brás da quarta légua, entre outras. Segundo pesquisa de alunos da Universidade de Caxias do Sul, em 1984 residiam em Galópolis 2.759 pessoas. Atualmente, estima-se que a região do Distrito seja de aproximadamente 6.800 habitantes (Informação retirada do site da Prefeitura de Caxias do Sul).
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Segundo dados do IBGE, a população rural brasileira é de 15,64% do total, ou, aproximadamente, 35 milhões de habitantes. “A vida na colônia é difícil e, na maioria das vezes, não ganhamos um bom valor pela produção. Muitos amigos deixaram a colônia e cada dia que passa menos pessoas querem trabalhar com isso. Tudo é caro pra ser produzido. O incentivo é pequeno por parte do governo. Toda hora surgem novas exigências, mas ninguém pensa em dar incentivo”, destaca Vilson. O local tem todas as características necessárias para que a produção renda bons frutos. Com ruas bordadas de parreirais e uma pequena cantina que abriga os vinhos, a família vive sossegada e com vontade de trabalhar, mostrando que a vida na agricultura, mesmo complicada, gera emprego, fonte de renda e uma vida de muito aprendizado para todos.
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Campo fortalecido pelo jovem A busca pela qualificação profissional é um dos fatores capazes de fazer com que os jovens permaneçam no campo. A falta de incentivo, entretanto, é um agravante para o êxodo rural Foto: Arquivo Pessoal
O estudante de veterinária Danrlei de Camargo dedica-se a cuidar do gado e da lavoura da avó nos finais de semana POR PABLO RIBEIRO
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pequena capela de São Luiz da 3ª Légua, no distrito de Galópolis, interior de Caxias do Sul, é a principal referência para chegar à propriedade de Lucas Tonietto, 31. O jovem, formado em administração de empresas pela Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), desde criança ajudava o pai na lida do campo. Foi trabalhando no sítio da família que ele cultivou o amor pela terra. Tonietto é um dos raros exemplos de jovens que permaneceram no campo, dando sequência à sucessão familiar no meio agrícola. Segundo o produtor, são muitos os desafios que acabam afastando o jovem do campo. “A grande dificuldade é a renda do produtor agrícola, muitas vezes injusta. Outro desafio é a questão climática, que cada vez mais impacta no meio rural. O produtor tem que se
movimentar para buscar recursos e cultivos protegidos. Além disso, o maior problema é lidar com o controle de pragas, a cada ano maior no meio agrícola”, lamenta Tonietto.
6,5% dos jovens que vivem no campo concluíram Ensino Superior Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6,5 milhões de jovens, entre 18 e 32 anos, vivem no campo. Essa geração está optando, cada vez mais, por continuar na atividade dos pais, de acordo com a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura.
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Dos 6,5 milhões, mais de 37% completaram o Ensino Médio e, desse total, apenas 6,5% concluíram Ensino Superior. Isso significa que mais de 160 mil jovens têm um diploma universitário. Lucas Tonietto buscou formação acadêmica para continuar no campo. Para ele, a qualificação é o segredo para enfrentar os desafios. “Para o jovem permanecer no meio rural, é preciso administrar a propriedade. Os tempos são outros e é necessário se profissionalizar”, diz. Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto, as oportunidades na cidade grande são um dos fatores que podem afastar o jovem do campo. “Caxias é um polo metalomecânico e, por isso, a agricultura é um setor de incertezas. Proble-
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mas climáticos, garantia de renda, acessibilidade à comunicação e segurança são os empecilhos para que o jovem permaneça”, diz Menegotto.
“O maior desafio que o jovem encontra é a falta de incentivo” (Danrlei) Para o presidente, a tecnologia pode influenciar o jovem a permanecer no campo. “Nossas terras são muito acidentadas. Claro que nem tudo pode se mecanizar, mas eu acredito que, se houver mais tecnologia, tranquiliza o produtor. Nós queremos que o jovem se aperfeiçoe como profissional. POUCOS INCENTIVOS Mesmo com todas as linhas de crédito disponíveis, o acesso às linhas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), voltadas ao público jovem, tem sido difícil. Danrlei Bielski de Camargo, 23, sabe bem disso. O jovem é estudante no curso de Medicina Veterinária, na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Atualmente, trabalha no comércio de sua cidade natal, Bento Gonçalves. Nos fins de semana, Camargo dedica-se a cuidar do gado e a ajudar na lavoura da propriedade dos avós. “O maior desafio que o jovem encontra é a falta de incentivo. O que poderia ser feito para manter esses jovens no campo talvez seria um programa do governo que, de fato, auxiliasse a melhorar a propriedade dos pais, para poderem seguir com o trabalho desenvolvido na sua área”, sugere Danrlei. Apesar das dificuldades, Danrlei continua a cultivar sonhos. “Meu principal objetivo é ter minha propriedade. O que me motiva a trabalhar no campo é o fato de amar os animais, o cheiro de terra molhada, os sons da natureza.”
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Amor à música e à cidade Festival pioneiro em promover artistas regionais completa sete anos. Realizar apresentações musicais pela cidade foi a maneira encontrada para fortalecer a cena cultural da Serra gaúcha
Foto: Divulgação
Banda Salve Jurema nos Paradões da Catedral, Caxias do Sul, 2018
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POR JENNIFER BAUER
nspirado nos festivais de música de rua europeus, surgiu, em 2012, o Festival Brasileiro de Música de Rua. A ideia, audaciosa, tinha a intenção de promover shows gratuitos pelas ruas de Caxias do Sul. A primeira edição durou cinco dias, a organização envolveu mais de 70 pessoas, contou com 31 apresentações e desafiou músicos a mostrarem sua arte na Praça Dante Alighieri, Av. Júlio de Castilhos, Parada da Catedral, em horários movimentados, surpreen dendo o público. O Festival promove, também, a aproximação de portadores de deficiência com a música. As visitas realizadas à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e à Associação dos Pais e Amigos
dos Deficientes Visuais (Apadev), ambas de Caxias do Sul, mostra as possibilidades que a música pode trazer para esse público.
Em 2018, a edição, em Caxias do Sul, durou nove dias Para Luciano Balen, um dos idealizadores do evento, realizar a edição de 2018 foi importante, não somente pelo que o Festival representa na cena musical da região, mas também como ato de resistência em um momento delicado para a cultura. Em Caxias, no final de 2017, a Prefeitura anunciou a redução de
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verba destinada ao Financiarte (apenas 10% dos projetos foram contemplados, quando, no ano anterior, 50% receberam a verba). “O apoio da UCS, este ano, fez com que a gente se sentisse acolhido. Desenvolver parcerias, nesse momento, é muito importante”, comenta. Ele critica a postura da gestão municipal com a cultura em Caxias do Sul. “Aqui, a gente montou uma estrutura, mas amanhã o Festival acaba, e aí como fica a cultura em Caxias?”, afirma. Desde a 3ª edição (2014), o evento ocorre em duas etapas: Caxias do Sul e Serra gaúcha. As atrações são levadas para as praças de Flores da Cunha, Bento Gonçalves, Garibaldi, Canela, Gramado, São Marcos e Nova Petrópolis. A etapa Serra gaúcha deste ano ainda não tem data prevista para acontecer. “Nós precisamos de investimento para tirá-la do papel. Acreditamos que vamos conseguir”, acrescenta Balen. NEGÓCIO MUSICAL A organização do Festival percebeu que precisava preparar os artistas para viverem da sua música; era necessário mostrar a importância de gerenciar a carreira, olhar para ela como negócio. “Se a gente que ama música não cuidar dela como negócio, alguém que só enxerga negócio vai cuidar”, complementa Balen. Então, na edição de 2013, surgiu a Incubadora da Música, com o objetivo de promover palestras sobre assuntos como formação de público, produção musical, formalização profissional e oficinas sobre comunicação. A Incubadora já realizou mais de 30 palestras,
As apresentações são nacionais e internacionais no número de participação das bandas de Caxias e também da região no Festival. As apresentações deste ano superaram as das edições anteriores”, comenta Balen. Uma das artistas beneficiadas é a caxiense Victória Limberger, que se apresentou pela primeira
PARA O PÚBLICO Camila Carvalho de Melo, publicitária: Eu conheci o Festival em 2014, e foi um dia muito mágico. Me lembro bem de estar caminhando, saindo do Shopping Pratavieira, e ouvir um som muito legal. Procurei de onde vinha, e encontrei o Marco de Ross tocando na frente de uma escola de música. Vi o show até o final. Depois caminhei mais um pouco e, ali na praça Dante, tinha o Klezmeron Orchestra. Eu escuto os dois até hoje. Luis Guilherme Gambirazio, estudante: Gosto muito de eventos como este, são bastante interessantes iniciativas assim, pois dão visibilidade aos artistas locais. O evento deste ano (2018) estava demais. Conheci vários artistas e os shows realizados na UCS deixaram a gente próximo deles. Eu acho lamentável não termos mais eventos abertos como este em, uma cidade que já foi a Capital Brasileira da Cultura. vez no evento em 2017, quando participou das duas etapas (Caxias e Serra). Para ela, as falas dos profissionais, nas conversas da Incubadora, foram essenciais. “O que escutei nas palestras me fez manter o pé no chão, mas também perceber que eu posso conquistar meu espaço”, conta.
A cantora destaca o espaço como um lugar de encontro deartistas iniciantes. “Ela funciona como uma escola de gestão para músicos. Não são comuns espaços assim na cidade. Tenho certeza de que muita gente que vai à Incubadora sai de lá com mais vontade de trabalhar com música”, afirma. Foto: Natalia Biazus
Apresentação de Victória Limberger na Etapa Serra de Garibaldi, na edição número 8 do Festival, em 2017
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e este ano o workshop foi ministrado pelo produtor musical Pena Schmidt. A ação não ocorre somente durante o Festival; sempre que uma personalidade da cena musical está em Caxias, se propõe reuniões com os músicos locais. “O bom trabalho da Incubadora pode ser notado pelo crescimento
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Festival vira tema de pesquisa
Mestra em Turismo, desenvolveu sua dissertação a partir da experiência com o Festival
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ara quem acompanha o Festival Brasileiro de Música de Rua, desde sua primeira edição, como admirador, trabalhar na organização é algo marcante. Essa foi a experiência de Natalia Biazus, relações públicas, que atuou como coordenadora de comunicação na edição de 2017. Natalia desempenhou o contato com os veículos de comunicação, promoveu entrevistas e percebeu que, na posição de relações pública, é preciso cuidar dos detalhes. “Um texto bom, considerando as características da publicação para onde vai ser enviado, pode ajudar a despertar o interesse do veículo e do público. Por isso, eu fazia um release para cada publicação. Dava trabalho, mas valia a pena.” Além disso, Natalia destaca a relevância que trabalhar no Fes-
Natalia, no Largo da Estação Férrea, Caxias do Sul, Festival de 2017
tival traz para o currículo. “Eu já pude frequentar outros festivais de música, tanto nacionais como internacionais e sempre que eu falava do Festival, as pessoas conheciam, sabiam da grandiosidade do evento”, conta.
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Paralelamente ao trabalho na coordenação de comunicação, Natalia desenvolvia sua pesquisa de mestrado no Programa de Pós- graduação em Turismo e Hospitalidade da UCS. Das conversas com a orientadora, sobre o trabalho, surgiu a proposta de trazer o Festival para a pesquisa, como objeto de estudo. “Enquanto eu trabalhava, fazia observações que podiam dialogar com o turismo em Caxias do Sul”, afirma. Com o título Turismo, comunicação e a perspectiva trama. Sinalizadores-síntese do Festival Brasileiro de Música de Rua e suas relações com o turismo em Caxias do Sul, a pesquisa buscou aproximações entre o evento e as potencialidades turísticas caxienses. Entre os pontos encontrados, ela destaca a capacidade que o Festival tem de transformar o olhar do morador sobre a cidade, contribuindo para a discussão turística. Ela conta que o público de fora protagonizou cenas que mostraram o quanto o turismo da Serra gaúcha pode expandir-se. “Trazer o Festival para a pesquisa mostra como ele pode crescer, destacando-se não só na cena brasileira de música independente, mas também como potência para desenvolver o turismo aqui”, finaliza.
A contrução de uma sociedade mais igualitária exige envolvimento de toda a comunidade. Pensando nisso a Elementar mobiliza e incentiva a participação das pessoas nessa construção POR FRANCIELE MESARI E
Foto: Rafael Willms
LILIANE FERNANDES
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articipação da comunidade, valorização dos pequenos gestos e acreditar que eles podem transformar realidades, foram os princípios que originaram a construção da Associação Sociocultural Elementar (ASE), organização que visa a fomentar a produção e o acesso à cultura em bairros, cuja população encontrase em situação de vulnerabilidade social. A iniciativa nasceu da insatisfação de um grupo de jovens com a falta de atenção do Poder Público com relação ao acesso à cultura e lazer nos bairros da zona sul de Caxias do Sul.
O foco é que a criança possa enxergar o que há de bom na comunidade
A ASE busca prover eventos socioculturais nos bairros, trazendo visibilidade a artistas provenientes da comunidade, promovendo debates e discussões, oficinas de formação, além de propiciar momentos de cultura e lazer às famílias. A origem da Associação está muito ligada ao movimento Hip hop que, muitas vezes, além de não ser compreendido, não é legitimado como cultura. Ao longo de cerca desses 15 anos de atuação, a organização incorporou diversos outros movimentos culturais oriundos da comunidade. Desde de o início, o que alicerçou as atividades da Associação
Pequenos gestos podem gerar mudança em uma comunidade
foi a vontade de construir uma sociedade mais inclusiva e estimular o trabalho voluntário. Dessa forma, todas as ações dependiam exclusivamente do envolvimento da comunidade, para que pudessem ocorrer e, muitas vezes, eram subsidiadas financeiramente pelos voluntários. Tendo em vista formalizar o trabalho desenvolvido e expandir as ações para mais bairros da cidade, Maurício Abel, um dos idealizadores do projeto e presidente da Associação, decidiu registrar a organização como pessoa jurídica, para que pudessem participar de editais públicos. Abel conta que formalizar a Associação é importante, principal-
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mente para aumentar o alcance das ações, bem como poder contar com o suporte público para a realização dos eventos. A Associação já realizou ações em diversos locais da cidade e, além das apresentações artísticas, também atua na distribuição de lanches, materiais escolares e brinquedos, durante os eventos. Todo o material usado na produção das comidas, as atrações e os presentes dados às crianças são doados pela comunidade. Essa atitude demonstra o quanto os moradores acreditam e contribuem para a construção de uma sociedade mais participativa.
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Ações que geram mudanças
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A vida é uma arte Os desafios e as dificuldades enfrentados por quem escolhe fazer da arte a sua profissão e levar cultura para a população da Serra gaúcha, deixam a sociedade mais alegre e colorida Foto: Daniele Santos Foto:
O casal de palhaços Mikael e Micheli contam como é trilhar o caminho artístico na cidade de Caxias do Sul POR FRANCIELE MESARI E
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LILIANE FERNANDES
uito se discute sobre arte e cultura, mas pouco se reflete sobre as dificuldades que os artistas enfrentam para viver somente da sua profissão. Por vezes, eles são vistos como desocupados, pessoas que não gostam de trabalhar e, por isso, optaram por uma “vida fácil”, expressão que não combina com a realidade dessa classe. No Brasil, a figura do boêmio, pessoa com estilo de vida não convencional e com grande envolvimento em atividades artísticas, facilmente era associada à falta de ocupação e à preguiça. Ainda hoje, os profissionais que optam por seguir no ramo das artes enfrentam esse tipo de preconceito.
O amor pelo trabalho passa a ser o principal incentivo para aqueles que escolheram ganhar a vida dessa forma. É o caso dos palhaços da Cia. Espícula, Micheli dos Santos e Mikael Marques. A companhia de teatro foi monta-
Casal leva alegria e arte à Serra gaúcha, por meio da Cia. Espícula da pelo casal em 2014 e, desde então, busca espaço e reconhecimento na região da Serra gaúcha. Eles apontam que a falta de valorização é uma grande barreira,
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pois, principalmente no início da carreira, não há reconhecimento, o que se traduz em poucas oportunidades e cachê baixo — isso quando há envolvimento de dinheiro, pois, na maioria das vezes, a proposta é de parcerias futuras Por questões financeiras, muitos profissionais se obrigam a ter jornada dupla: durante um período trabalham em um emprego fixo e no outro trabalham com arte. Micheli conta que levou tempo para poder largar seu emprego como secretária e ficar somente com a Cia. Espícula. Hoje, ela ministra oficinas de teatro e prática circense, buscando despertar em crianças e adolescentes o amor pelo ilusionismo. “A jornada se torna mais trabalhosa, porém, muito
VIVER DE ARTE Apesar das inúmeras dificuldades, com muita dedicação a carreira artística pode tornar-se mais estável e trazer o tão desejado reconhecimento, como é o caso do ator Davi de Souza. Desde 1998, quando largou seu emprego para dedicar-se exclusivamente a atuar, Davi enfrentou uma série de problemas. “No início, foi muito complicado, mas hoje não me arrependo da decisão e se pudesse faria tudo novamente”, afirma o artista. Ele enfatiza que quando o trabalho do artista é exposto, as oportunidades surgem espontaneamente e que com isso o reconhecimento aparece dentro e fora do mercado de trabalho. Esse é o caso de sua personagem Dona Bastiana. Com a incorporação de uma senhora de idade, malandra, mística e de linguajar não apropriado para menores de 18 anos, ele já recebeu o prêmio de melhor ator do estado, entregue pelo presidente da Fetargs (Federação de Teatro Amador do Rio Grande), Marcelo Aquino.
Foto: Arquivo Pessoal
Davi ressalta que o reconhecimento vai muito além do lado financeiro
Davi conheceu sua esposa no Palco do Natal Luz de Gramado. Bruna dançava no espetáculo Fantástica Fábrica de Natal e, na cidade dos encantos, eles se apaixonaram. Desde então, trabalham juntos.
A jornada se torna mais trabalhosa, porém, muito mais gratificante
Fruto desse amor, nasceram os filhos, Miguel e Heitor, e para mostrar que filho de peixe peixinho é, eles brincam de fazer teatro o tempo todo. “Vivem isso desde a barriga da Bruna; depois, estão sempre no meio das produções, vendo o processo da maquiagem e eu me transformar em muitos. Eles já entendem quem é o papai e quem é o personagem.” O mundo lúdico e a convivência com os artistas deixaram as crianças mais seguras e simpáti-
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cas, sem medo das pessoas, mostrando que os benefícios são muitos nessa profissão, destacam os pais-corujas. Além de peças e organização de eventos fechados, Davi participa do Médicos do Sorriso. O grupo visita o ambiente hospitalar, onde as pessoas estão sensíveis e passam por vários problemas, que afetam não apenas o paciente, mas toda a família. O grupo surge como válvula de escape, para aliviar a tensão do ambiente, e, por meio de muitos risos, liberar alegria no ambiente tão tenso naquele momento. “São pílulas de alegria e uma injeção de ânimo que transformam o ambiente que estava cinza em uma gama de cores vibrantes”, conta Davi. Sobre o segredo para chegar tão longe, com tantos momentos de desvalorização, Davi resume: Trabalho, dedicação e estudo. As risadas, os elogios e aplausos ouvidos, no fim de cada espetáculo, trazem o que todo artista quer receber: reconhecimento.
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mais gratificante por estar fazendo aquilo que amo”, conta. Outro ponto que o casal destaca como obstáculo é a falta de incentivo a projetos culturais e a grande burocracia para participar. “Muitos editais exigem uma série de documentação que a grande maioria dos profissionais – principalmente os iniciantes – não possui”, lamenta Mikael. “O artista acaba tendo que ‘provar’ que produz arte e que seu trabalho é importante para a cultura”, diz ele. Apesar das dificuldades que encontraram no caminho, Micheli e Mikael não pensam em desistir. Seguem se profissionalizando em diversas técnicas de teatro e música e desejam expandir o alcance da companhia. “O que me motiva é saber que posso viver fazendo a arte em que acredito e saber que não conseguiria viver sem fazê- la”, ressalta Micheli.
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Cuidado, maio amarelo Você sabia que diariamente morrem 3.400 pessoas no mundo em acidentes de trânsito? Trânsito não é somente o condutor, quando você está a pé também está participando
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POR TATIANA CRUZ
egundo o Instituto Avante Brasil, em 2010 o País estava em quarto lugar no número de mortes no trânsito. Em primeiro lugar estava a China com 275.983, em segundo a Índia com 231.027, em terceiro a Nigéria com 53.339 e em quarto o Brasil com 42.844 mortes no trânsito. No infográfico ao lado, é possível conferir alguns dados do Detran que mostram a situação do Rio Grande do Sul de 2010 a 2017, sobre o assunto. Em Caxias do Sul, 52 pessoas morreram no trânsito em 2017, segundo dados da Secretaria Municipal de Trânsito e somente de janeiro a março de 2018 foram 11 mortes, o número chegou a 15 no mesmo período do ano anterior. Segundo o fiscal de trânsito
O comportamento, não é inadequado somente no trânsito; ele é apenas reflexo de Caxias do Sul, Carlos Beraldo, as infrações mais corriqueiras na cidade são as por excesso de velocidade, flagradas por meio de radar eletrônico; em seguida, vêm as multas em estacionamentos rotativos, avanço em sinal vermelho, conversões irregulares e estacionamento em locais proibidos. Para o policial rodoviário Federal Alfonso Willembring Júnior, é difícil falar sobre a cultura de respeito, pois essa cultura de uma nação inteira é o que ocorre na vida das pessoas.
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são gratuitos; a pessoa só tem o trabalho de ligar, dar o nome, um telefone, é só isso. A gente só tem que motivar as pessoas e, para motivar, infelizmente, eu tenho que mostrar dados negativos: tá ruim; tá morrendo gente; é ruim fazer comparativo mas tem que fazer. Existe uma estimativa da Organização Mundial da Saúde, segundo a qual 3.400 pessoas morrem por dia no trânsito. Desaparece no trânsito, a grosso modo, três Caxias por ano. Aí eu faço a pergunta: É normal?”, complementa Beraldo. VIDA URGENTE Para a fundadora do programa Vida Urgente, Diza Gonzaga, falar sobre o Maio Amarelo é complicado, pois neste período, além de ter o Dia das Mães, ocorreu o nascimento de seu filho Thiago, assim como foi nesse mês que ela o perdeu. Diza criou a Fundação Tiago Gonzaga, em homenagem a seu filho e para tentar ajudar as demais famílias, buscando evitar que aconteça com elas o que aconteceu com a sua. Thiago completava 18 anos no
dia 13 de maio de 1988, quando Diza Gonzaga o levou a uma balada para comemorar. Deixou com ele o cartão de um taxista conhecido para o retorno à casa. Naquela madrugada, recebeu uma ligação informando que o filho estava no asfalto, já sem vida.
Prgrama Vida Urgente surgiu em 1996, um ano após a morte de Thiago
Em 2018, a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga completou 20 anos e, como parte do projeto “Vida Urgente”, produziu um vídeo em que pais que perderam filhos na balada deram caronas a adolescentes que costumavam voltar das festas dirigindo alcoolizados. No trajeto, esses pais explicavam que perderam seus filhos em uma volta da balada, quando dirigiam bêbados. Um dos participantes do vídeo era o pai de Thiago.
Foto: Reprodução
Programa Vida Urgente leva a borboleta da Fundação Thiago Gonzaga, para conscientizar sobre a violência no trânsito
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T R Â N S I TO
O desrespeito acontece dentro de casa, no ambiente de trabalho, no clube, no parque próximo de casa, e também no trânsito. “Na atual conjuntura de cultura do nosso País, o cidadão precisa ser vigiado, precisa ser fiscalizado ou seja, ele tem que se sentir vigiado, para que se comporte bem”, complementa o policial Alfonso. Trânsito não é somente o condutor, quando você está a pé, como pedestre, também está participando; então, desde que você nasce, você já faz parte do trânsito, afirma Daniel Alves Boeira, fiscal de trânsito de Caxias do Sul. Caxias do Sul tem uma Escola Pública de Trânsito, com atividades de educação, que iniciam com as crianças nas escolas e se estendem ao público, com ações no trânsito. Para o fiscal Daniel, “a educação é tudo, na questão da mudança de comportamento. Se a gente for ver, 90% dos acidentes que acontecem em Caxias não é porque tem buraco na via ou por questões climáticas e, sim, por comportamento, e a forma de mudar isso é com a educação.” Carlos Beraldo complementa: todos os cursos que têm aqui
PERFIL
O artista do fotojornalismo Desde 1953, Vasco Rech é um dos mais importantes fotógrafos da imprensa caxiense. Com 81 anos de idade, e 50 de profissão, Rech consolida uma carreira repleta de grandes histórias POR PABLO RIBEIRO
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os 16 anos de idade, um garoto decide deixar a roça, na região da 3ª légua, e partir rumo à cidade grande, em busca de novas oportunidades. Em 1953, chegava a Caxias do Sul Vasco Rech, um dos precursores do fotojornalismo na Serra. “No início eu não sabia nada de fotografia, mas como tinha um irmão (João Rech) que era fotógrafo, no Estúdio Tomazzoni, me encaixei porque ele me ensinava. Aí, fui aprendendo, e depois comecei a fotografar casamentos e aniversários”, revela. Vasco Rech nasceu em 13 de março de 1937. É casado com Iria Lorenzoni e tem duas filhas: Márcia e Valquíria. Aos 81 anos, Rech é reconhecido como um dos mais importantes fotojornalistas da região. Em sua trajetória, destacam- se os trabalhos na Companhia Jornalística Caldas Júnior, onde, por mais de vinte anos, fotografou para os jornais Correio do Povo, Folha da Manhã e Folha da Tarde. Em Caxias, atuou nos jornais Pioneiro e Folha de Hoje, para os quais realizou a cobertura de algumas edições da Festa da Uva.
“Fotografei todos os presidentes da República que estiveram na Festa”, conta Rech. Se hoje se orgulha de ter constituído uma carreira consolidada, o homem de fala mansa revela que o caminho não foi nada fácil. Centrado na responsabilidade de executar seu trabalho, Rech conquistou a confiança da Polícia Civil na documentação de fatos criminosos. Devido ao intenso trabalho, o fotojornalista teve que deixar a família em segundo plano. “Minha filha Valquíria foi a que mais sentiu minha ausência. Muitas noites, ela, minha esposa e minha filha Márcia tiveram que ficar em casa sozinhas porque eu tinha que atender alguma ocorrência da polícia”, lembra. OLHAR AGUÇADO Em mais de cinco décadas de atuação, as lentes deste juventudista de coração registraram os principais acontecimentos da cidade. As emoções dos clássicos Fla- Ju também passaram pelo olhar atento de Vasco Rech. Porém, o fotógrafo conta que o primeiro jogo de futebol que co-
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briu foi um confronto entre Juventude e Metropol, de Crisciúma (SC). “Até vou te dizer o resultado: 3 a 1 para o Metropol, mas era um baita time, com uma série de craques”, recorda Rech, mostrando que a memória continua em alta. Um fato marcante e lendário de sua carreira também aconteceu por meio do esporte. Foi num clássico Fla-Ju, em que o juiz anulou um gol do Juventude após ouvir o relato de Vasco Rech e do então colega do fotógrafo, Guiomar Chies. “O juiz já tinha marcado o gol, e o pessoal do Flamengo foi pra cima dele. Eu e o Guiomar estávamos a cinco metros da goleira. Aí o pessoal se agrupou em cima da gente. O juiz perguntou o que tínhamos visto, e falamos que a bola entrou por fora e não havia sido gol, então ele anulou”, recorda Rech, com bom humor. Rech se considera um “artista” da fotografia. Apesar de reconhecer a qualidade das câmeras digitais, confessa que ainda prefere a boa e velha analógica. “Hoje, a gente não encontra mais o fotógrafo que revela e amplia a fotografia. Particularmente, não gosto de câmeras digitais.” A dedicação de Vasco à fotografia não passou desapercebida pelos colegas de profissão. Em 2009, ele foi agraciado com o troféu ARI/Serra Gaúcha. “Não há preço que pague todo o carinho que recebo. Fui agraciado com muitos prêmios. Nunca fiz isso por dinheiro, mas, sim, por amor à fotografia. Sou um homem privilegiado, principalmente pela família que tenho”, finaliza Rech, emocionado.
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Brilho nos olhos e paixão Prestes a completar 26 anos, o curso de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul tem professores determinados e alunos que saem para o mercado apaixonados pela sua profissão POR CARINA SANTOS E
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FRANCIELE MESARI
er um curso superior no currículo é uma oportunidade para aprender sobre a área que você gosta e um passo importante para abrir portas na vida profissional. Não poderia ser diferente com o curso de Jornalismo da UCS, que completa 26 anos em 2018. Marcell Bocchese, coordenador, fala sobre as atualizações do curso e também sobre o seu trabalho na coordenação. Quantas vezes o currículo do curso foi atualizado? Quantos estão em uso no momento? Como é feita essa atualização? Quanto à história recente do curso, posso afirmar que já foram realizadas três atualizações no currículo, todos ainda em atividade. As reuniões entre professores, integrantes ou não do Núcleo Docente Estruturante e do Colegiado do Curso, proporcionam momentos de reflexão que podem, inclusive, resultar em atualizações dos currículos existentes. Qual o maior desafio que o cargo exige e quais pontos positivos podem ser observados ao desempenhar esse papel? Um dos grandes desafios da coordenação é atingir o objetivo de, semestralmente, dar conta das muitas tarefas inerentes ao cargo. Apoiar os estudantes do curso em suas inúmeras, e por vezes complexas, demandas é uma das funções mais importantes da coordenação. Considero fundamental para o aluno se sentir próximo da coordenação e bem-atendido. Dar suporte aos docentes do curso, na realização de suas demandas, também é função significativa da coordenação.
MUITAS OPORTUNIDADES Se de um lado temos professores engajados em proporcionar o melhor do ensino que o curso pode ter, do outro encontramos muitos acadêmicos que passam pelo Jornalismo da UCS e aproveitam oportunidades e se destacam na profissão, nas mais diferentes áreas do mercado. Matheus Guaresi, formado em 2014, é editor de texto da editoria internacional, na SportTV e fala sobre sua experiên cia como aluno da UCS e como sua formação foi importante na construção da carreira. Quais pontos positivos você destacaria em relação ao que aprendeu no curso de Jornalismo da UCS? A UCS me ajudou a pensar novos formatos de fazer jornalismo, sair um pouco da “caixa”, uma habilidade cada vez mais valorizada no mercado. Destaco também o período de monografia. Foi um dos momentos em que mais aprendi na Universidade. Surpreendi-me com as descobertas, os livros aos quais tive acesso, a dinâmica de fazer a pesquisa acadêmica. Que portas o curso abriu em sua vida profissional, durante ou após a formação? Durante a formação, abriu portas para a UCSTV. Foi na TV da Universidade que eu aprendi a produzir, editar, reportar e planejar os mais diversos conteúdos. Qual sua dica para quem ainda está cursando Jornalismo na UCS? Estar preparado para quando a oportunidade chegar. Além da
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formação tradicional, correr atrás de ser um profissional completo. Muito importante: amar o Jornalismo. Muitas vezes, é uma profissão ingrata, com horários fora do convencional, trabalhar em fins de semana e feriados, mas, quando se está realizado fazendo isso, tudo fica mais fácil. O brilho no olho na hora de trabalhar faz a diferença!
Foto: Pixabay
A disseminação de notícias, o jornalismo humanizado e as fake news: temas que precisam ser mais discutidos POR CARINA SANTOS E TATIANA CRUZ
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comum encontrar matérias e longas reportagens abordando temas elaborados especialmente para despertar a curiosidade dos leitores. Não há problema algum em optar por esse caminho, desde que a mensagem não esbarre no sensacionalismo, ou em um conteúdo vazio e sem compromisso com o respeito aos personagens que compõem a matéria redigida. Observando a maneira como o conteúdo jornalístico vem sendo construído nos veículos de comunicação, a prática do Jornalismo Humanizado é cada vez mais necessária.
O CONCEITO Jornalismo Humanizado não é, ainda, uma expressão discutida amplamente, mas é bastante importante e precisa de atenção especial. A elaboração de matérias, utilizando os princípios da humanização de notícias, é fundamental para manter o sensacionalismo longe das vias de informação e evitando o uso de termos equivocados, como os do infográfico na próxima página – usados por tantos anos em muitos discursos de jornais, revistas e veículos de comunicação em geral.
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O MINIMANUAL A Think Olga, ONG feminista que tem por objetivo empoderar mulheres através da informação, elaborou o Minimanual do Jornalismo Humanizado, criado para mostrar a importância da humanização de notícias, ao se falar de grupos sociais como mulheres, negros e LGBTQs, por exemplo. No infográfico, você confere alguns exemplos de termos equivocados que o Jornalismo Humanizado busca retirar de discursos noticiosos, relacionados aos temas mencionados pela Think Olga, com dicas da ONG para redação.
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Jornalismo Humanizado diante das Fake News
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Mirna Tonus, coordenadora de Jornalismo do Expocom, e Carolina Matos, jornalista e professora de Mídia e Sociologia, na Inglaterra, comentam o papel do jornalista frente à produção de conteúdo utilizando o Jornalismo Humanizado. Como você imagina que o jornalismo humanizado poderia colaborar no momento de noticiar tragédias para o público? Mirna: O jornalismo dito humanizado pode contribuir, a meu ver, evitando a espetacularização e o tratamento da fonte como simples objeto. Tragédias são fatos e o jornalismo se faz, em grande parte, a partir deles, mas é preciso buscar formas de abordar as fontes e contar as histórias envolvidas nos fatos, de maneira a respeitá-las e não explorá-las, que é o que se costuma ver em publicações sensacionalistas. Carolina: Em caso de tragédias,o jornalismo profissional, apoiado na objetividade e na neutralidade, frequentemente se torna mais “humanizado”, devido à comoção provocada no público por causa daquele acontecimento. É um erro assumir que o jornalismo profissional, e voltado para o equilíbrio e a objetividade, não possa ser também “humanista” no sentido da ética e da responsabilidade social com o público, independentemente de interesses políticos e econômicos.
publica. Caso contrário, aí sim, o “jornalismo” estaria contribuindo para circulação de informações falsas ou equivocadas. Carolina: A prática do jornalismo factual, honesto, ético, equilibrado e profissional é a melhor arma contra as fake news. Há uma diferença entre um jornalismo “neutro”, que não existe e é impossível, e um jornalismo factual, correto e equilibrado, voltado para o inte-
resse público e mais objetivo. Você acredita que muito dessa humanização também precisa ser aliada ao próprio entendimento do jornalista, para se livrar de preconceitos pessoais ao produzir seu conteúdo? Mirna: Acredito que sim, pois o discurso jornalístico pode estar carregado de preconceitos ou es-
A prática do jornalismo honesto é a melhor arma contra o fake news Como o jornalismo de forma humanizada poderia contribuir para que notícias falsas circulassem menos? Mirna: Jornalismo humanizado, a meu ver, não coíbe fake news. A questão parece estar na checagem. Se não há certeza, não se
O minimanual da ONG Think Olga apresenta algumas dicas como as acima
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Que conselho você daria para estudantes de Jornalismo em relação à sua formação e produções futuras? Mirna: Primar sempre pela ética. Na apuração, na abordagem, na checagem, em todo o processo de produção. Sem ela, técnica e estética, os dois outros apoios do tripé que ampara o jornalismo, ele não se sustenta. Carolina: A profissão de jornalista está cada vez mais difícil de ser exercida devido a uma série de fatores. No entanto, a internet e a proliferação de várias mídias também criaram outras oportunidades para os futuros profissionais, que devem abraçá-las e pensar no mercado de forma que vai além da mídia tradicional. Caminhando ao lado do conceito de Jornalismo Humanizado, temos as fake news, debatido amplamente nos meio de comunicação, como um dos problemas comunicacionais enfrentados na era da tecnologia. Anteriormente conhecidas por boato, fofoca ou até mesmo por factoide, as fake news tomou uma proporção grandiosa, principalmente nas redes sociais, em que mais se concentram as notícias falsas. O diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul ,Roberto arlos Dias, explica que
“estamos vivendo no Brasil um fenômeno que já ocorreu em outros países e chegou aqui com muita velocidade: as chamadas fake news, que nada mais são do que notícias falsas, inventadas, mentirosas.” Segundo o presidente da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) e conselheiro da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Roberto Cervo Melão, “com o desemprego invadindo as cidades brasileiras, as pessoas buscaram alternativas. As fake news são uma alternativa, pois, em muitos casos, o sujeito é remunerado para provocar desavenças políticas e mesmo pessoais, ou profissionais salienta o Presidente da Agert. Hoje, no exercício do jornalismo,
Correr atrás das fake news é um dos vários trabalhos que o jornalista tem hoje é muito difícil identificar o que são as fake news; os próprios meios de comunicação, na ânsia de não serem furados e de dar a notícia, publicam e reproduzem fake news. E, segundo Roberto Dias, “a gente tem visto isso, e assistido a exemplos clássicos no Brasil, que nos incomodam muito. Temos feito seminários e painéis de discussão sobre fake news. Esse debate precisa vir para a roda. Não podemos aceitar como natural a invenção dos fatos”, diz Dias. Sobre a orientação da Agert dos veículos de comunicação, Roberto Melão explica: “A credibilidade da Radiodifusão é um crescente. Há mais de um ano, criamos diversos spots e enviamos para os associados para inserirem na sua grade de programação, alertando sobre as fake news. A divulgação do spot alertando já é uma conscientização. Na Radiodifusão há regulação e, assim, todos somos
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responsáveis pelo que dizemos”, enfatiza Melão. O diretor do Sindicato dos Jornalistas complementa falando sobre exemplo de fake news, que ocorreu em maio de 2018, quando a revista Veja publicou ‘a vida no cárcere’ “uma reportagem aparentemente de fôlego. Mas eles conseguiram sair com uma matéria totalmente falsa, fictícia, inventada, criada da cabeça de um repórter que eu não sei como aceitou assinar. Eu não o conheço, mas eu acho que ele carrega, a partir de agora, uma grande mancha na sua carreira profissional ,porque colocou no ar uma matéria totalmente inventada e desmentida ponto a ponto pela Polícia Federal de Curitiba”, relembra o jornalista. Fico imaginando como fica o profissional que escreveu; como ele se sente saindo na rua; como ele se sente perante os colegas sendo desmentindo, salienta Roberto Carlos Dias. Outro exemplo de fake news publicado por um veículo de grande circulação foi o do “Portal R7,com uma matéria sobre o triplex atribuído ao presidente Lula. A matéria trouxe croquis e imagens fantasiosas, correspondentes às informação da justiça de Curitiba. Precisou o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) para comprovar que a alegada reforma não existiu. Depois disso não houve retratação ou pedido de desculpas. O Portal simplesmente tirou do ar a página com a reportagem”, finaliza Roberto Carlos Dias. Para o jornalista Mauro Sérgio Teixeira, há 25 anos na Rádio Viva, e que também escreve no Portal Leouve, “a gente não pode replicar informação sem antes descobrir se ela é verdade ou não, sempre usando fontes confiáveis, indo atrás de outras fontes, além da que é a nossa fonte interna, de pessoas que passaram por aquilo e que são confiáveis, reforça o radialista Mauro Teixeira.
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tereótipos que são construídos ao longo da vida. Se o jornalista estiver ciente disso, seu discurso será mais humanizado, tratando as fontes como sujeitos e não como objetos, aos quais se corre o risco de atribuir adjetivos. Carolina: Sim. O jornalista precisa ser educado e culto, e estudar para justamente saber fazer análises e entender a realidade, controlando os próprios preconceitos no tratamento com os diversos grupos da sociedade. Portanto é responsabilidade do jornalista estudar e combater os próprios preconceitos, para, justamente, não ver o mundo de forma pequena e limitada.
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CIDADANIA
A rua como morada
Pessoas em situação de rua passam as noites dormindo em praças, sob marquises e debaixo de viadutos. Além desses espaços, também são utilizados locais degradados como moradia Foto: Rodrigo Moraes
Motivos famiiliares ainda são a principal causa de pessoas em situação de rua
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POR RODRIGO MORAES
essoas em situação de rua são público nômade, que transita entre espaços e cidades, com a perspectiva de abrigarem-se em locais desocupados. Segundo o Decreto n 7.503, de 2009, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), “considera-se população em situação de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular”. Por meio desse Decreto ,e com base em pesquisa realizada entre agosto de 2007 a março de 2008, surgem nas cidades do Brasil com mais de 200 mil habitantes, as unidades Centro Pop Rua. O serviço de atendimento às pessoas em situação de rua veio ao encontro do art. 5º do mesmo decreto, que determina em seus termos, igualdade e equidade: I
- respeito à dignidade da pessoa humana; II - direito à convivência familiar e comunitária; III - valorização e respeito à vida e à cidadania; IV - atendimento humanizado e universalizado; e V - respeito às condições sociais e diferenças de origem, raça, idade, nacionalidade, gênero, orientação sexual e religiosa, com atenção especial às pessoas com deficiência. O Centro Pop Caxias do Sul apontou que, em 2017, foram registradas, no atendimento, 350 pessoas em situação de rua, sendo 88% homens, e no ano de 2018, com os dados ainda não fechados, o número já supera os do ano anterior. A coordenadora e assistente social da unidade de Caxias do Sul, Rosângela Alixandrino, em entrevista à revista Expressão, aponta como fatores do aumento dessa população a economia e a estrutura. “Nossa cidade, mesmo em meio a crises
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econômicas, tem uma renda per capita familiar elevada, comparada à dos demais municípios do estado. As estruturas das áreas urbanas estão sempre numa crescente, possibilitando abrigo.” O Centro Pop é um espaço de acolhimento que oferece café da manhã, almoço, café da tarde, máquina de lavar roupas e armário para guardar pertences pessoais. A unidade, por não trabalhar com pernoite, permite que qualquer pessoa utilize os serviços sem documentação. “Temos situa ções nas quais eles perdem os documentos, então anotamos o nome com o qual o cidadão se identifica e o liberamos para utilizar o espaço. Pela realidade da rua ser dura, existem até momentos em que algumas pessoas chegam com armas brancas. Pedimos que guardem no armário e da mesma forma são bem-vindos”, conta Rosângela.
NARRATIVAS ANDANTES Nos períodos iniciais de cada história, nas vivências de rua, os entrevistados compartilham traumas de contextos familiares, que não lhes deixavam outra opção senão as ruas. Pessoas em situação de rua trazem uma marca: a falta de políticas públicas que lhe
garantam moradia, como reza a Constituição Federal de 1988, na alteração da Emenda Constitucional n 90, em 15 de setembro de 2015, art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. O que lhes resta é a sobrevivência em espaços públicos ou propriedades abandonadas. “Meu nome é Carlos Menezes de Oliveira, tenho 49 anos. Moro na rua vai fazer 19 anos no próximo dia das crianças, o mesmo dia em que minha mulher me traiu e me afundei no álcool. Depois que eu tava na rua, quando eu tinha saúde, trabalhava de pedreiro e de noite ia pro albergue. Eu não era alcoólatra assumido, mas depois da minha osteoporose, não consegui mais. Meu corpo todo dói, até quando tô dormindo. Tenho um dinheiro pra receber do INSS, faz um ano que tô esperando. Assim que eu receber vou comprar uma casinha lá em Santana do Livramento. Vou voltar pra minha terra - lá sim eu era feliz antes de
encontrar minha ex-mulher.” “Eu fiquei conhecido na internet por ser aquele cara que tava pegando a mina lá na praça do centro, ouviu falar? A gente tava namorando, e na noite passada a gente não conseguiu ficar lá no nosso cantinho juntos. Ela tava me provocando, e acabamos sendo filmados. Acho que até saiu na Globo. Meu nome é Mauricio, mas hoje meu nome artístico é Mano Brown, dos Racionais Mc’s, sabe? Em 2013, eu cansei de ver minha mãe e minhas irmãs se prostituírem. Meu pai já tava morto. Tomou 7 balas pelo corpo, ficou uma peneira. Então vim pra rua fazer minha história. Como eu sou evangélico, eu nunca roubei. Então eu trabalho muito pra ter meu sustento. Às vezes eu limpo o lado de fora de uns restaurantes, lavo uns carros, cobro estacionamento na rua e também canto um rap pra lembrar que existo. Por isso hoje sou conhecido como Mano Brown. Pro futuro eu quero arranjar uma companheira que curta minha companhia, goste de trabalhar duro que nem eu. O resto se Deus quiser a gente conquista.”
Foto: Rodrigo Moraes
Os espaços públicos se tornam uma alternativa de moradia para quem não tem casa
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Sem um trabalho fixo, as pessoas em situação de rua procuram trabalhos não convencionais, em recicladoras, descarregando cargas de caminhão e até mesmo fazendo limpeza externa de estabelecimentos comerciais, em troca de alimento. Segundo a pesquisa Estimativa da População em Situação de Rua, publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em outubro de 2016, com base em dados de 2015, projeta-se que o Brasil tenha mais de 100 mil pessoas em situação de rua. Dessa população, 40,1% habitavam municípios com mais de 900 mil habitantes, 53,27% municípios com mais de 100 mil pessoas, e nos municípios menores, com menos de 100 mil habitantes, o percentual era de 6,63%.
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Foto: PxHere
Os pequeninos no ritmo da dança Crianças com necessidades especiais podem combinar divertimento e desenvolvimento da coordenação motora por meio da prática da dança
POR ÉVELYNN MARINHO
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E LETÍCIA BAREA
dança, uma das três principais artes cênicas, beneficia a vida de quem a coloca em prática. Ela traz benefícios para o corpo, principalmente de crianças com necessidades especiais, como as portadoras da Síndrome de Down. Uma alteração genética, produzida pela presença de um cromossomo a mais no par 21, gera a trissomia do 21. Essa modificação genética afeta o desenvolvimento neuropsicomotor do individuo, determinando algumas características físicas e cognitivas. O portador dessa síndrome apresenta algumas características fenotípicas como braquicefalia (cabeça achatada), fissuras palpebrais com inclinação superior (pequenas dobras de pele nos cantos internos dos olhos), base nasal achatada e hipoplasia mediana da face (face achatada), segundo o artigo “Síndrome de Down: etimologia, caracterização e impacto na família”, das autoras Nara Liana Pereira Silva e Maria Auxiliadora Dessen. O portador dessa síndrome apresenta certa disfunção no desenvolvimento motor, o que não lhe impede uma vida normal. Se
estimulados desde os primeiros meses, os portadores dessa síndrome conseguem um desenvolvimento neuropsicomotor mais completo. Para promover sua evolução, há atividades como a dança. “Na Síndrome de Down, a dança traz socialização. Ajuda na coordenação motora e no equilíbrio. Melhora a autoestima, a concentração, percepção espa çotemporal e melhora a qualidade de vida”, afirma a fisioterapeuta Eveline Panarotto. A música também auxilia no aumento do repertório da linguagem falada, e a participação dos pais é fundamental em qualquer atividade, pois, segundo Eveline, “a presença deles auxilia a criança não somente a desenvolver melhor a coordenação motora, mas também a ter confiança na hora da terapia”. Um exemplo de quem acompanha as aulas de dança é Gislaine Basso. Ela vai a todas as aulas da filha Julia, de 5 anos. “Fico orgulhosa quando vejo a Juju dançando, pois o jeitinho que ela dança encanta”, diz a mãe. Ela conta que a pequena faz ballet desde os dois anos e meio e “todo final de ano
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se apresenta com a turminha do ballet no UCS teatro”. A dança faz bem para as crianças e isso inclui não somente o desenvolvimento motor. Gislaine comenta que quando Juju ouve uma música que lhe chama atenção ou está no DVD das apresentações do final do ano, ela sempre dança. “A memória dela é muito boa, sempre lembra das coreografias”. A mãe ainda acrescenta: “sempre digo que é uma das terapias que ela faz.” AUTISMO E HABILIDADES Já o Transtorno do Espectro Autista, chamado popularmente de Autismo, é uma síndrome comportamental, em que a pessoa não consegue interagir socialmente e apresenta comportamentos repetitivos e restritos. Os autistas podem ter alguma forma de hipersensibilidade sensorial, o que pode ocorrer em um ou mais dos cinco sentidos, de modo mais ou menos intensificado. Por exemplo, uma pessoa com autismo pode achar determinados sons insuportavelmente barulhentos, enquanto outras pessoas os ignorariam:
Para Gislaine, mãe de Juju, a dança, além deestimular diversão e alegria é uma terapia para o corpo e a mente
“Eles costumam ter a audição absoluta, ou ouvido absoluto, como falam os fonoaudiólogos. O que para nós seria um som indiferente, para eles é como se fosse uma banda de música”, explica Elaine Bartelle, diretora da Associação de Pais e Amigos do Autista de Farroupilha (Amafa). As pessoas com transtorno do espectro autista podem se destacar tendo algumas habilidades na visão, na música, na arte ou em matemática, como é o caso de Bill Gates que, portador de um autismo hiperleve, é considerado superdotado. A maioria das pessoas com autismo aprende melhor visualmente e é muito atenta aos detalhes e à exatidão. Elas são extremamente criteriosas. Há as hipersensíveis a certos estímulos, mas, também, aquelas que apresentam não ter sensibilidade à dor ou a temperaturas extremas. “Aqui eu ponho minha experiên cia pessoal com o meu filho. Hoje, o Gabriel está com 41 anos de idade. Ele pode colocar a mão em cima da chapa quente de um
fogão a lenha e não demonstrar qualquer expressão ou executar qualquer movimento. Ele não tem essa sensibilidade. Tu vai olhar para ele e é como se ele estivesse com a mão dentro de uma bacia de água”, expõe Elaine. A Amafa disponibiliza atividades nas áreas de: Assistência Social, Educação, Cultura e Arte. Na área da Assistência Social atende ao Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosos e suas Famílias. O serviço tem caráter contínuo e planejado,
voltado ao atendimento gratuito de pessoas com deficiência, de 18 a 59 anos, e extensivo aos familiares. Na área da educação, realiza atendimento especializado para a Educação Infantil e Ensino Fundamental, também tem o Projeto de Equoterapia e Natação. Já na área de cultura e arte, realiza atividades esportivas, de música, dança e oficinas. A Amafa é mantenedora do Centro Dia Caxias, localizado no município de Caxias do Sul, onde são atendidos 67 adultos com deficiência.
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi aprovada no Brasil em 2008. Ela diz que cabe ao Estado e à sociedade obter formas de garantir os direitos de todas as pessoas com deficiência em igualdade de condições com os demais. MAIS INFORMAÇÕES: www.movimentodown.org.br movimentodown@movimentodown.org.br
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Foto: Micael Oliveira
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Foto: Évelynn Marinho
Descaso com a infância na educação brasileira
Criança em situação de vulnerabilidade é assunto sério e merece atenção
POR ÉVELYNN MARINHO
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E LETÍCIA BAREA
rianças são alvos fáceis do descaso em todo o Brasil, seja em relação à saúde, educação ou cultura. Onde foi parar a real preocupação com o futuro do País? Segundo dados do IBGE, mais de 2 milhões de crianças e adolescentes em idade escolar estão fora da sala de aula. Os dados, de 2018, parecem não se relacionar com as veiculações de campanhas sobre a educação, por parte do Governo Federal. Dados do Tribunal de Contas da União (TCU) apontam: quase me tade dos 800 municípios pesquisados não aplicam medidas para reduzir exclusão escolar. Em um País munido de leis a favor de crianças e adolescentes, podemos tomar como exemplo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), temos casos em quenão há empenho em cumpri-las.
Segundo o portal do Ministério da Educação (MEC), são as prefeituras as supervisoras das redes escolares e cabe a elas fazer o monitoramento. CONSELHO ATENTO Outro órgão que tem como objetivo zelar pela execução dos direitos da criança e do adolescente é o Conselho Tutelar. Ele também contribui para que os atendimentos sejam imediatos e eficazes. Para tanto, o chamado conselheiro deve conhecer bem a estrutura legal do órgão, que é municipal e, uma vez implantado, passa a fazer parte das instituições municipais, renovando seus membros a cada quatro anos. A eleição dentro do Conselho é realizada sempre um ano após as eleições federais, no primeiro domingo de outubro. Em cidades
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com até 100 mil habitantes são eleitos cinco conselheiros. O Conselho Tutelar dá maior importância aos atendimentos quando a vida do menor está em risco. Casos de agressão, violência sexual e abandono estão entre as prioridades dos conselheiros. Em Caxias do Sul, com aproximadamente 483 mil habitantes, conforme dados do IBGE, apenas no ano de 2017 foram feitos 11.730 atendimentos nos dois Conselhos Tutelares da cidade. Em Farroupilha, cidade menor, com quase 70 mil habitantes, segundo Dilço Batista Rodrigues, Conselheiro Tutelar, no mesmo ano se realizou 4.182 atendimentos. Qualquer denúncia de violação aos direitos da criança e do adolescente é de fundamental importância. Ela pode ser feita de forma anônima pelo Disque 100, ou também pessoalmente.
Enquanto a reforma trabalhista ainda gera muita discussão, sindicalistas de todas as categorias enfrentam sérias dificuldades para manter os sindicatos de portas abertas Foto: Marília Alves da Rosa
Bruna Possamai, estudante de nutrição na Universidade de Caxias do Sul, segura sua carteira de trabalho
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POR MARÍLIA ALVES DA ROSA
reforma trabalhista, proposta pelo governo atual, sancionada pelo presidente Michel Temer seria, na teoria, uma medida necessária para deixar as contas públicas em ordem, além de estimular a economia e gerar novas oportunidades de emprego. Era um plano perfeito, mas, na prática, as coisas são bem mais complicadas. Uma reforma sem planejamento pode gerar grandes impactos nas relações trabalhistas. Diante das mudanças da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como fica a situação dos sindicatos? A revista Expres-
são, em entrevista, buscou entender e explicar a posição da Força Sindical.
Discussões sobre a reforma trabalhista iniciaram ainda em 2017
O fim da contribuição sindical obrigatória, forçou centrais e sindicatos a demitirem boa parte de seus empregados e, pelas circunstâncias impostas, organizarem
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um plano de demissão voluntária (PDV), tudo para se adaptar à redução de um terço de sua receita. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), neste ano, aproximadamente 100 mil trabalhadores diretos e indiretos estão sendo prejudicados. Defendidas pelos empresários e criticadas pelo trabalhadores e sindicalistas, as alterações na CLT promoveram um enorme conflito na legislação, que garantia condições básicas em segurança, salubridade e estabilidade.
POLÍTICA
Impactos da reforma trabalhista
POLÍTICA
O que os sindicatos têm a dizer
Pontos já alterados impactam trabalhador e como as mudanças podem ser ainda maiores
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Foto: Marília Alves da Rosa
egundo a presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Farroupilha (Sismuf), Beatriz Sosnoski, a reforma trabalhista atendeu, exclusivamente, aos interesses da indústria, que queria demitir sem arcar com despesas, contratar sem desembolsar valor relativo às férias de forma integral ou reduzir a influência dos sindicatos no trabalho. Dentre as principais mudanças na CLT, estão: terceirização para todo ramo de atividade; criação do trabalho intermitente, autorização para contratação sem horário fixo, remunerando conforme o tempo de trabalho; autorização para a redução do horário de almoço para apenas 30 minutos, e divisão das férias em três períodos.
Pode ocorrer que algum trabalhador saia lesado em seus direitos Ameaça aos direitos do trabalhador preocupa sindicatos
Para a presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Farroupilha (Sismuf), Beatriz Sosnoski, a reforma é tão prejudicial para as relações trabalhistas e, principalmente, para o trabalhador, que tornou-se um verdadeiro desrespeito para a classe operária. A representante da Força Sindical ressalta que, mais uma vez, o trabalhador não foi colocado em pauta diante das decisões diretamente ligadas a ele. Em entrevista, a presidente explica a posição sindical quanto à situação dos sindicatos com a reforma trabalhista: O novo acordo da CLT permite que patrão e empregado possam, de comum acordo, extinguir o contrato de trabalho. De
alguma forma isso fere os direitos existentes até o momento? Sim, interfere e muito. Boa parte dos trabalhadores não tem tanta instrução ou conhecimento para entender o que dizem a legislação e a jurisprudência sobre as relações de trabalho. Nesse sentido, pode ocorrer que algum trabalhador saia lesado em seus direitos. Na sua opinião, as novas formas de jornada de trabalho ajudam ou prejudicam o desenvolvimento do funcionário, em seu ambiente de trabalho? Existem duas possibilidades. A flexibilização da jornada de trabalho pode auxiliar em algumas atividades laborais, em outras pode comprometer. Pode ser melhor
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para o funcionário trabalhar em um horário escolhido pelo empregador, sem prejuízo do trabalho na empresa; possibilita que o empregado possa programar melhor sua vida pessoal; estabelecer uma parceria entre empregador e empregado reflete também na redução do número de faltas e atrasos. Mas há, por outro lado, problemas como o trabalhador ter sua jornada sendo reduzida ou estendida, deixando-o inseguro, inclusive, sobre sua remuneração. Isso pode significar desorganização da vida social e familiar, perda de perspectiva de crescimento profissional, e cansaço acentuado pelo trabalho excessivo, dificultando a possibilidade de capacitação via cursos de aperfeiçoamento, trei-
Todo trabalhador representado por um sindicato precisa pagar a contribuição sindical. Com a reforma trabalhista, esse imposto passa a ser facultativo. Qual é o impacto dessa mudança para o sindicato? O impacto é gigante, uma vez que, em muitos casos, essa receita era determinante para a existência ou não do sindicato. Muitos sindicatos vão fechar as portas e, como consequência, o trabalhador ficará desamparado quando precisar de alguma orientação ou auxílio. Em geral, as contribuições dos sócios são em menor quantidade do que o arrecadado por meio de contribuição anual. Ainda que uma parte desse valor arrecadado fique com o governo federal e não com os sindicatos, essa parcela que fica mantém o funcionamento dos sindicatos com atendimento advocatício, odontológico, psicológico, médico, entre outros. Com a nova legislação, o negociado e legislado sofrem mudanças em relação aos acordos feitos entre sindicatos de traba-
TERCEIRIZAÇÃO Tradicionalmente, a terceirização foi introduzida com o objetivo de permitir a transferência de atividades consideradas genéricas, secundárias e de suporte para a empresa a terceiros, para que a mesma concentre sua atenção nas atividades centrais. Com a reforma trabalhista, não há mais restrições quanto à terceirização das atividades-fim dos empregados. As novas medidas podem criar problemas quanto a maiores dificuldades na fiscalização das atividades terceirizadas. O Brasil ocupa o 4º lugar do mundo onde mais se registram acidentes de trabalho, segundo dados da Previdência Social. Mais de 700 mil acidentes laborais são registrados todos os anos com dados apenas de trabalhadores com carteira assinada. Muitos desses acidentes resultaram em mortes ou mutilações tornando grande a lista de trabalhadores incapacitados no País. De acordo com pesquisa realizada pela Federação Nacional dos Técnicos de Segurança do Trabalho (Fenatest), em cada 10 acidentes de trabalho graves, oito envolvem trabalhadores terceirizados. Fica evidente que, com o aumento da terceirização, as chances do número de acidentes de trabalho crescerem são ainda maiores.
lhadores e empregadores. Essa regra dificulta ou auxilia a organização de convenções coletivas? Por quê? Pode dificultar, pois muitas vezes as convenções são feitas de acordo com a realidade de cada local ou categoria. Quando o negociado, individualmente, se sobrepõe ao legislado, as entidades sindicais podem não ter um acor-
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do coletivo com algumas cláusulas ou conquistas específicas e, um trabalhador qualquer, ao sentar e negociar com o chefe, pode conseguir mais ou menos benefícios. Essa realidade pode desequilibrar as relações de trabalho entre colegas e até causar frustrações e desentendimento, conclui.
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namentos e acúmulo de novos conhecimentos.
POLÍTICA
A trama da Previdência Justificando-se com os possíveis deficits orçamentários da União, a reforma previdenciária vem como proposta para resolver a economia brasileira e abre discussão sobre sua necessidade Foto: João Badari
Discussão sobre reforma previdenciária colocou em debate os direitos de trabalhadores de diversas categorias POR RODRIGO MORAES
O
governo do presidente Temer encaminhou, em 6 de dezembro de 2016, ao Congresso Nacional, uma proposta de emenda à Constituição, a PEC 287/2016, que tratava da reforma da Previdência brasileira. Os pontos levantados pelo governo federal eram: o perfil etário da população brasileira, apontando o aumento da expectativa de vida e a redução do número de nascimentos, o que se traduz num envelhecimento da população. Segundo Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, em declaração à Agência Brasil, em dezembro de 2016, a seguir o mesmo ritmo, em 2060 vamos ter 131
milhões de brasileiros em idade ativa. Hoje esse número é 141 milhões resultando no aumento de 263% no número de idosos.
Em 2017, aposentados somaram 27 milhões de pessoas
Ainda segundo o ex-ministro, os déficits do INSS, R$ 149,73 bilhões (2,4% do PIB) no ano de 2016 e R$ 182,45 bilhões (2,8% do PIB) em 2017, são um segundo fator
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importante. O terceiro ponto diz respeito ao déficit relacionado aos servidores da União: R$ 77,15 bilhões no ano de 2016 e R$ 86,34 bilhões em 2017. Segundo Meirelles, a maior parte do déficit do INSS, registrado no último ano, está relacionada à Previdência dos trabalhadores rurais, com participação de R$ 107,2 bilhões dos R$ 149, 73 bilhões em 2016, representando 71,59% do déficit, e R$ 111,6 bilhões dos R$ 182,45 bilhões de 2017, representando 61,16% do déficit. No plano previdenciário exclusivo dos servidores da União, o Regime Próprio da Previdência Social (RPPS), o déficit aumentou
CONTA DO TRABALHADOR? Quando se fala em déficit, de ve-se entender o que entra nessa
conta. As aposentadorias e pensões do INSS, cerca de 27 milhões de pessoas, no ano passado, representa um déficit de R$ 149,73 bilhões. Já para os servidores federais, atendendo a cerca de 982 mil aposentados e pensionistas, o déficit no mesmo período foi de R$ 77,2 bilhões. Segundo o site da Associação Nacional de Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) em setembro de 2017, a diferença fica mais nítida quando se calcula e compara a aposentadoria por pessoa física nas duas formas de benefício. No INSS, equivale a R$ 5,5 mil por pessoas, no RPPS chega a 77,2 mil. Com o objetivo de esclarecimento, foi instaurado um inquérito sobre a possível quebra da economia da União, por conta da Previdência Social, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Previdência que, no dia 25 de outubro de 2017, apresentou o parecer final. Encerrados os trabalhos, o senador e relator da CPI, Hélio José (Pros- DF), apresentou
o relatório, aprovado por unanimidade e que nega a existência de déficit nas contas da aposentadoria e discorda da necessidade
CPI discorda de dados apresentados pelo governo de mudanças. A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip) apresentou dados à CPI da Previdência, em relação à Seguridade Social, com média de saldo anual positivo de R$ 50 bilhões entre 2005 e 2016. Somente no ano de 2017, o saldo apresentado foi negativo de R$ 57 bilhões, e, segundo site da Anfip, em 6 de novembro de 2017, foi um reflexo da crise econômica, que reduziu a arrecadação de tributos; no entanto, tratando-se de uma situação reversível com a retomada do Arte: Conlutas
Cálculo para a aposentadoria não considera períodos de desemprego do trabalhador
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11,9% comparado ao do ano anterior, distribuído entre servidores civis, R$ 45, 24 bilhões; servidores militares, R$ 37,68 bilhões; e demais servidores, R$ 3,42 bilhões. O advogado e mestre em Direito trabalhista pela Universidade de Salamanca, Alex Caldas, critica o governo por utilizar como argumento um envelhecimento exagerado da população, as medidas neoliberalistas que contribuem para a exploração do Brasil, e a utilização da Desvinculação de Receita da União (DRU), o que permite a retirada de 30% da arrecadação da Seguridade Social para outros fins. “Chega ser vergonhosa a utilização do DRU para pagar dívidas públicas e, ao mesmo tempo, incluir no déficit da Previdência o que lhe é retirado”, aponta Caldas, em entrevista à revista Expressão.
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crescimento econômico. A União, em 2017, ofereceu isenção ao setor de pequenas emprera e entidades filantrópicas. Estima-se que as desonerações representaram menos R$ 65 bilhões ao cofres públicos. Ainda, de acordo com o relatório da CPI da Previdência, finalizado em outubro de 2017, cerca de R$ 450 bilhões em contribuições não foram pagos por empresas de médio e grande porte. Desse valor hoje se tem estimativa de débitos recuperáveis em R$ 175 bilhões. As demais declararam falência. Para Nelson Mello, advogado
O ponto-chave da reforma é a rigidez na cobrança dos empresários trabalhista, o relatório final da CPI da Previdência dá por encerrada a discussão da reforma previdenciária. “As aposentadorias pagas aos servidores são significativamente mais altas do que as pagas aos beneficiários do setor privado,
além das desonerações e sonegação de impostos, em que, sim, é necessária uma reforma no que legisla sobre esses crimes que se refletem na população”, observa o advogado, em entrevista à revista Expressão. NECESSIDADE DE REFORMA Entre os conceitos econômicos e sociais existem divergências, mas ambos os lados concordam que é necessária uma reforma previdenciária, o que se opõe são os sentidos que ela deve tomar. Numa política de incentivo de mercado, existe a visão da necessidade de um tempo de contribuição maior e da revisão das bolsas de estudo fomentadas pelo governo federal. O economista Roberto Souza, entrevistado pela revista Expressão, constata que mais dias ou menos dias ela tera que ser realizada. “Nos países de primeiro mundo, foi necessário aumentar o tempo de contribuição e diminuir as bolsas de estudos pelos governos, transferindo a responsabilidade para as instituições privadas. Em contraponto, essas
mesmas universidades privadas se beneficiam com destinação de impostos, ampliando a qualidade da educação”, comenta. No sentido de uma política que parte da ótica trabalhista, a reforma previdenciária é pensada para diminuir a jornada de trabalho semanal, manter o tempo de contribuição atual e focar em medidas mais rigorosas, para resolver os déficits por parte da classe dos empresários. O historiador e pós-graduado em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Eduardo Ziegler, em entrevista à revista Expressão, pondera sobre uma reforma que resulta na qualidade de vida do proletariado. “Não é citada a flexibilização das leis de trabalho. Para nosso povo já é bastante tamanha precarização. Aumentar o tempo de contribuição seria determinar o extermínio de aposentadorias dignas. O ponto-chave é rigidez nas cobranças aos detentores do capital, diminuição da jornada de trabalho semanal e, por fim, um patriotismo legítimo, que vise à nação, não a uma posição no ranking econômico mundial”.
Arte: Jota A
A incerteza da aposentadoria continua no imaginário dos brasileiros
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A partir da Constituição Federal de 1988, que deu aos jovens de 16 e 17 anos o direito ao voto, o processo eleitoral brasileiro passou a contar com uma participação ainda maior da juventude POR TAINARA ALBA
U
ma pesquisa recente, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), mostra que 70,24% dos jovens brasileiros se interessam pela política, mas ao mesmo tempo 76,41% desacreditam no País e 82,41% acreditam que é possível mudar a realidade do Brasil com o voto consciente. O aumento de interesse e participação dos jovens na vida po-
esse voto é determinante. Pelos dados do Tribunal Superior Eleitoral, 833.333 jovens de 16 anos e 1.477.787 de 17, estavam aptos a votar em 2016. Uma das possibilidades de inclusão da juventude, na participação política está nos movimentos sociais. Um bom exemplo disso são os protestos do Movimento Passe-Livre, que tiveram início em 2013, em São Paulo, quando se
nal isso influencia diretamente na vida de todos. Precisamos buscar um cenário mais igualitário, mais justo e com melhores condições de vida”, declara. JUVENTUDE ATIVA A participação influencia de forma efetiva as políticas locais, regionais, nacionais e internacionais. Por isso, no âmbito municiFoto: Clever Moreira
Alunos da rede municipal de ensino participaram do projeto Vereador por um dia
lítica, inclusive com o comparecimento às urnas, é um dos fatores que contribuem para o fortalecimento da democracia e dos debates nas instâncias municipal, estadual e nacional. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 51 milhões de jovens (de 15 a 29 anos), correspondendo a um quarto da população nacional. Eles representam 27% do eleitorado nacional, o que mostra como
discutia o aumento do preço das passagens de ônibus. Milhares de pessoas, mobilizadas pela força das mídias sociais, saíram às ruas num processo articulado de protestos que há muito tempo não se via. Segundo Malu Carvalho, membro da União da Juventude Socialista, que atua em Caxias do Sul, a discussão é muito importante. “A juventude precisa estar presente nos espaços de poder, discutindo os rumos do País, afi-
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pal, desenvolvidos pela Escola do Legislativo e da Câmara Municipal de Vereadores de Caxias do Sul, existem programas voltados a estreitar os laços da Casa com a comunidade, fortalecendo esse relacionamento da juventude com a política. Um exemplo disso é o Programa Estudantil Vereador por um Dia, que envolve alunos do Ensino Fundamental das redes de ensino municipal, estadual e parti cular da cidade. A iniciativa existe
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Laços entre jovens e política
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Foto: Matheus Teodoro
Ações da Câmara estreitam laços com a juventude
Iniciativa propõe que jovens atuem por um dia como parlamentares
desde 1999, com o objetivo de mostrar um pouco do trabalho parlamentar e despertar nos jovens interesse pelas funções legislativas. O presidente da Comissão de
Jovens representam 27% do eleitorado nacional Educação, vereador Paulo Perico (MDB), entende que o programa desperta nos jovens o interesse por ações de democracia. “São realizadas atividades durante o ano, na Câmara e na escola, culminando com uma sessão plenária simulada, para que eles tenham a experiência da vivência dos parlamentares”, detalha. Yasmin de Lima, 15 anos, participou do programa em 2015 com a Escola Rachel Calliari Graz ziotin, e apresentou um projeto que discutia a obrigatoriedade da implantação das questões de gênero e direitos da mulher como conteúdo curricular da disciplina de Ensino Religioso na rede municipal de ensino. Ela fala sobre o momento: “É uma experiência muito importante. Envolve desde a responsabilidade em se dedicar
à criação de um projeto que pode ou não ser aceito pelos colegas vereadores, até se conscientizar sobre a importância da política na sociedade”, conta. Segundo Lucas Suzin, 18 anos, que viveu a experiência em 2016, foi um grande desafio. “O programa abre espaço para o jovem expressar seu pensamento político, que geralmente não é aceito na sociedade, justamente por sermos jovens. Eu era o único representante de um pensamento mais liberal para a área econômica, e mais conservador para a área social. Representei minha ideologia sozinho e a pressão da oposição foi muito grande”, conta o estu-
dante. Para Gabriel de Almeida, 15 anos, que teve a vivência em 2017 com a Escola Prefeito Luciano Corsetti, foi um momento inesquecível. “Quando vemos as sessões do Senado pela televisão, temos uma visão, mas não sentimos como é estar lá. Por isso, poder defender e discutir nossas ideias, justamente no ambiente onde isso ocorre de forma oficial, é uma grande experiência. Aprendi a propor ideias e também respeitar as dos outros”, conta. Nesse sentido, outro exemplo é o Programa Jovem Parlamentar, voltado para estudantes do Ensino Superior. A iniciativa possibilita apresentar projetos e vivenciar a experiência legislativa, em uma sessão ordinária simulada no plenário, onde os jovens atuam como parlamentares, apresentando propostas, demandas, indicações, moções e discursos, em busca de soluções para problemas da cidade. Para o diretor da Escola do Legislativo, vereador Edson da Rosa (MDB), o programa é uma forma Foto: Matheus Teodoro
Estudantes apresentam demandas de suas comunidades
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Vereadores acompanham jovens em atividades na Câmara Municipal
de incentivo ao exercício da cidadania. “Queremos que a juventude tenha motivação e entenda que fazer política trata da nossa vida e não está distante de nós. Estamos desenvolvendo diversas ações voltadas à formação para a cidadania, possibilitando que os participantes se apropriem, por exemplo, das leis hoje em vigor na cidade”, complementou.
Caxias soma mais de 30 mil jovens entre e 19 anos Porém para André Sebben Ramos, que participou do programa em 2016, a experiência não foi tão positiva. “O Jovem Parlamentar é o mínimo que a Câmara pode oferecer para que os jovens tenham um contato mais próximo com o Poder. Só que tudo é resumido a uma simulação e faltam explicações, dando a entender que é só uma forma de a Câmara dizer que
faz algo pela sociedade”, declara. A Escola do Legislativo de Caxias do Sul é filiada à Associação Brasileira de Escolas do Legislativo e de Contas, o que a reconhece como Escola de Governo pelo órgão representativo nacional. De acordo com Edson da Rosa, os últimos anos estão sendo marcados pela aproximação do Legislativo com a comunidade. “A escola é um braço da instituição, contribuindo para o fortalecimento da Casa. A expectativa é expandir a atuação para outros segmentos da sociedade, a fim de
que todos possam se apropriar da realidade da Câmara de Vereadores caxiense”, destaca. Atualmente, o grupo de trabalho da Escola do Legislativo é composto por dez servidores, que atuam de forma voluntária e paralela às atribuições do cargo. Instituído por meio da Resolução 245/A, de 2015, o órgão tem como uma de suas principais missões desenvolver atividades para a compreensão do funcionamento do Poder Legislativo e de suas relações com os demais Poderes e a sociedade.
MAIS INFORMAÇÕES Escola do Legislativo Endereço: Rua Alfredo Chaves, 1323 - Bairro Exposição, Caxias do Sul/RS - 95020-460 Telefone: (54) 3066-3906 E-mail: escoladolegislativo@camaracaxias.rs.gov.br Horário de atendimento: seg. a sex., das 8h às 17h
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POLÍTICA
Foto: Matheus Teodoro
ESPORTE
Caxias Basquete escreve seu nome na história do esporte
No Novo Basquete Brasil 10 (NBB10), o time do técnico Rodrigo Barbosa conquistou seu melhor desempenho na classificação e no número expressivo de torcedores nas arquibancadas Foto: Rodrigo Onzi
Banrisul Caxias do Sul Basquete contou com a presença da torcida e jogou no ginásio lotado durante o NBB POR FRANCIELE MESARI E
T
LETÍCIA BAREA
orcedores de pé, aplausos, choro, um misto de sentimentos dentro do ginásio Vasco da Gama marcaram a última partida da temporada 2017/2018. Mesmo com a derrota nas quartas de final, 2018 será para sempre lembrado por torcedores e jogadores que fizeram parte dessa fase histórica. Não apenas a equipe ganhou com esses feitos. A cidade, além de abraçar os acontecimentos, teve visibilidade nacional diante de adversários de grande expressão. Cauê Borges, representante da equipe no Jogo das Estrelas, evento de três dias que reuniu atletas dos 16 times participantes do campeonato, no ginásio do Ibirapuera em São Paulo, é uma prova
de que o time cresceu e honrou a camisa nos lugares por onde passou. “Essa convocação para o Jogo das Estrelas é importante. A gente fica muito feliz porque demonstra o que estamos fazendo dentro da quadra. Então, isso tem um valor pessoal para mim e também para o clube.” Outro jogador com grande afinidade com a torcida é Cauê Verzola, xará não apenas no nome, mas na qualidade técnica. O atleta foi um dos destaques do Caxias Basquete, na conquista da Liga Ouro (Série B em 2015). Depois disso, retornou ao time em 2018, um momento especial em sua carreira. “Tenho uma história muito bacana aqui; é o lugar que eu gosto e onde eu me sinto em
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casa. Não queria ter saído naquela época. Fiquei muito feliz com a volta.” Uma prova de que não se trata apenas de um time de basquete, mas de uma família, é o pivô Dida, que está há 12 anos na equipe. O atleta acompanhou a evolução, desde os tempos em que o time atuava no ginásio do clube Juvenil, até chegar ao Vascão lotado e à campanha histórica do NBB. “Dá muito orgulho saber que a gente começou singelo, um projeto sério, porém sem tantos resultados como teve esse ano, mas acho que é motivo de muito orgulho para a cidade e para nós que estamos participando, desde o primeiro projeto.” O jogador considera o Caxias
Esse é o caso da jornalista Kelly Isis Pelisser, que segue o time há mais de 10 anos. “É uma questão complexa. Quando o time subiu da Liga Ouro para o NBB, eu defendi que os jogos não poderiam ser no Vascão. O lugar já estava pequeno, porque, especialmente, nos últimos jogos da Liga Ouro, o
A torcida incentiva sempre, mesmo com altos e baixos durante a partida ginásio já estava enchendo bem.” Uma alternativa para essa questão seria o ginásio do Sesi, que é muito grande, e o aluguel não seria viável para o clube. “Me parecia que o Sesi seria o melhor lugar da cidade. Mas, depois, vi que o time e a torcida foram criando uma identidade muito forte com o Vascão, que, justamente por ser pequeno e lotar, dá a ideia de “caldeirão”, de lugar para fazer pressão, “bafo na nuca” dos adversários. O Sesi, por ser tão grande, perde um pouco desse efeito”, garante Kelly.
O crescimento de público é devido à boa fase do time, e das ações de marketing também. A relações públicas, Jéssica Biondo, 27 anos, participou de algumas dessas atividades. “Esse ano foi voltado a convidar as pessoas para prestigiar o time, com o sofá premiado (colocado na beira da quadra), as redes sociais atualizadas com mais frequência, convidando a população a fazer o vídeo ‘no basquete eu sou Caxias do Sul’, no início da temporada. São ações para aproximar a cidade do esporte, deslocando o foco do futebol, tão adorado por todos.” A temporada 2018/2019 deverá ser estudada, com esse alto crescimento da torcida. Com a interação dos públicos, o Sesi seria uma alternativa, mas o torcedor se opõe. “Eu gostei do clima do Sesi. Tem cara de “ginásio profissional.” Tem mais conforto para a torcida, que, aliás, compareceu em grande número, apesar de o ginásio ser muito maior do que o Vascão” – conta Kelly. Já Jéssica não gostou dos jogos realizados lá: “O estacionamento é horrível, só tem uma saída. Levei mais de 1h30min para conseguir sair do jogo, nas duas partidas”, argumenta. Foto: Rodrigo Onzi
OLHAR DA TORCIDA Há quatro anos, o Ginásio do Clube Juvenil ficou pequeno para o público que acompanhava o esporte. Em 2018, com o recorde de 1.069 pessoas no último jogo, contra o Mogi, o Vasco da Gama também ficou uma caixa de fósforo para os torcedores. Essa é uma das maiores preocupações da diretoria para a próxima temporada.
Pedro teve a melhor temporada da carreira, defendendo o time do Caxias
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ESPORTE
Basquete a sua base, o seu pilar familiar, e isso mostra que o esporte cria laços afetivos. “Pode-se dizer que é a primeira família, não a segunda, sem sombra de dúvida, porque já estou nesse time há 12 anos. Então, eu pude acompanhar tudo aqui, desde rebaixamento, subida para o NBB, título da Liga Ouro, vice-gaúcho até seis vezes campeão gaúcho seguido.” Mas nem só de veteranos o time é composto. Além das categorias de base serem valorizadas, na equipe os garotos mais novos se destacam, como o Pedro Mendonça, 23 anos. O ala está em sua quarta temporada no NBB (dois anos no Franca e uma temporada no Brasília) e, comparando com sua bagagem anterior, o time do Caxias é o de menor expressão; porém foi aqui que o garoto teve oportunidade de estar mais tempo nas quadras. “Eu vim para isso, para ganhar rodagem e, aqui, o Caxias, por ser um time teoricamente de menor expressão, era o lugar ideal. Eu abracei o projeto. Então foi show de bola.” A preparação para a temporada do NBB11 começa em setembro, e, com o esporte em alta, espera-se que a cidade abrace de vez o projeto do Banrisul Caxias do Sul Basquete. Para que, novamente, no final de um novo campeonato, os torcedores possam aplaudir de pé o time inscrever seu nome no cenário nacional do esporte.
CRÔNICA
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A paixão acontece, a liberdade se busca A paixão propicia sentimento de empatia e generosidade com quem está ao nosso redor. Mas, a bem da verdade, rouba um pouco da liberdade que todos tanto prezam ao longo da vida
A
POR DENISE COSTA
gente consegue reparar em tudo, quando está apaixonado. No sorriso, na roupa, no lugar... O céu fica mais azul, o vento parece mais fresco, os cabelos voando não parecem incômodo. A gente repara o olhar, a alegria, as palavras doces que recebe ou ouve. Repara mesmo em todas as formas de amor possíveis e em como elas são inocentes e, ao mesmo tempo, transformam a vida das pessoas. Percebe-se e se recebe muitos sentimentos, fazendo o possível para assimilar tudo o que ocorre em volta, mesmo estando em estado de “êxtase”. Isso constitui um bom observador? Com certeza. Traz sensação de liberdade? Talvez. A paixão propicia sentimento de empatia e generosidade com quem está ao nosso redor. Mas, a bem da verdade, rouba um pouquinho da li-
berdade que todos tanto prezam. Aquela liberdade de não precisar preocupar-se 100% com a vida e os mil problemas que ela traz. Essa paixão talvez venha com a
É preciso ter paixão pela forma de vestir, por sentir-se seguro. Paixão pela vida
insegurança e aprisione um pouco daquela liberdade de não se importar com o que os outros falam ou pensam, pois, o que passa a importar, de fato, é o que o outro nota, pensa e comenta, seja sobre o modo de vestir, ou sobre aquele hambúrguer gigantesco ou sobre preferir ficar em casa na sexta-feira gelada, quando a pedida é somente um chocolate quen-
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te, um bom filme e um cobertor. Que passe longe chamar a paixão de algo fajuto. Não é isso. É algo incerto, mas tratada com cuidado pode ser libertadora. Antes de viver a paixão como ela é, com outro ao lado, e antes mesmo de conhecer o amor, que vem logo após esse momento, é preciso lembrar sempre de ter paixão. Paixão pela maneira de vestir; paixão pelos gostos diferentes; paixão pelo dia cinza, assim como, pelo céu azul. Paixão pelo hambúrger degustado sem culpa. Paixão por preferir ficar em casa quando todos estão saindo. Paixão por sentir-se seguro. Paixão pela vida. Depois de entender que a paixão e o amor pela vida e pelo que vivemos são a maior certeza da existência, estaremos prontos para nos apaixonarmos, amarmos e sentirmos liberdade sem culpa alguma.