Marco Zero
Sant’Ana do Livramento, novembro de 2010
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EXPEDIENTE
COLABORADORES
EDITORES: Celina Hamilton Albornoz, Thomaz Guilherme Albornoz Neves e José Artur Lesina Montanari PROJETO GRÁFICO: Marco Zero ARTE DA CAPA: Jotaele ILUSTRAÇÕES: Beto Colabore, opine, participe: marcozerocultural@gmail.com
Enilda Cruz Martins é professora aposentada, participa de um centro de Umbanda. Atualmente é vice-presidente do Centro Cultural Zumbi dos Palmares. Zohra Hanini é muçulmana, Bacharel em Direito. Saúl Ibargoyen é escritor uruguaio, reside no México, possui inúmeras obras publicadas. Rachel Gutierrez, escritora nascida em Livramento e radicada no Rio de Janeiro, é autora de diversos livros.
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Manifestações da Fé entre nós Quando começamos com os depoimentos sobre a Fé, no número anterior deste caderno, não tínhamos em mãos a Dissertação de Licenciatura da santanense Ítala Irene Basile Becker, de 1966, "Alguns Aspectos da Religião num Município da Campanha Riograndense", publicada na forma de ensaio em 1967, na revista da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Leopoldo. Baseados em Ítala, apresentamos abaixo uma cronologia das várias manifestações religiosas abordadas em seu artigo, cuja íntegra encontra-se no acervo da Biblioteca Cecília Meireles, da Academia Santanense de Letras. Os dados cobrem o período de 1823, quando foi construída a capela original, até o ano de 1962, quando a autora registra a chegada do último grupo religioso desse período. A autora também inclui, como parte das manifestações de religiosidade em nosso município, a Benzedura, a Crendice e a Superstição.
• Em 1823, Santana do Livramento nasce, segundo a tradição histórica, da construção de uma capela. A vida social do município começa pela organização da Paróquia. • Em 1872, quando se concretiza no espaço nacional a ruptura Igreja-Estado, a maçonaria ganha espaço, instalando a segunda loja maçônica do estado em Livramento. • Em 1876 torna-se cidade, já não mais como uma unidade religiosa. • Em 1909, um novo credo se faz presente, é o protestantismo, representado pela igreja Metodista. • Em 1910, quase em simultaneidade, surge a Igreja Episcopal Brasileira. • Em 1911 aparece oficialmente o espiritismo, sob a denominação de Sociedade Espírita Bezerra de Menezes. • Depois das duas guerras mundiais, acontece a diversificação, surgindo as chamadas religiões americanas: • Em 1938, o Exército da Salvação e a Assembléia de Deus em 1948. • Mais ou menos na mesma época começa a atividade da Umbanda, tendo em 1960 e poucos, mais de 50 terreiros em plena atividade. Em 1965 fundam o Núcleo Local filiado a Confederação Espiritualista de Umbanda do Rio Grande do Sul. • Em 1962 chega a Igreja de Cristo dos Santos dos Últimos dias, os Mórmons. Os Evangélicos, fenômeno da contemporaneidade, com sua dissidência interpretativa da Bíblia, estão representados em nossa fronteira em todos os seus segmentos e igrejas, desde que surgiram como fenômeno de massa na década de 80. A partir dos anos 90, portanto bem depois do término do trabalho de Ítala, ganha expressão em nosso meio o Islamismo, instalando sua Mesquita em Livramento, há aproximadamente dez anos atrás. Enilda Cruz Martins é filha de umbandista, cujo Centro tem mais de sessenta anos. Sua fé vem de suas origens, do exemplo de sua casa, da cultura negra. Com parceiros do vizinho país, desenvolve um trabalho de preservação da consciência negra. É autora de "Os caminhos do negro...da África à abolição", publicado em 2006.
O que é a Umbanda? Um = Deus único, onipresente. Banda = grupo ou banda de Deus. A Umbanda é a única religião brasileira. Foi criada no quilombo de Palmares por um grupo de negros bantus, indígenas e brancos. Dos negros recebemos a parte espiritual de seus ancestrais. Do índio, seus ancestrais e seu chamanismo, e dos brancos, a espiritualidade em si e os dogmas da religião católica. Na Umbanda existe um sacerdócio, pois quem trabalha na Umbanda tem que ter muito amor e fé. Na Umbanda devemos praticar a caridade em nome de nosso irmão maior Jesus Cristo. Já passei por várias religiões aqui nesta cidade, já conheci outras doutrinas, mas acabei voltando para a Umbanda, pois nela todos somos iguais, tratados com amor e respeito, mesmo nas adversidades. Acima de tudo, a Umbanda é cristã e necessária para ajudar as pessoas. Nada é cobrado, damos de graça o que de graça recebemos. Em minha religião não tem proibição para que seus membros conheçam ou freqüentem outras religiões, pois conhecer é uma maneira de não fazer julgamentos preconceituosos das demais. Enilda Cruz Martins
Em nome de Deus, o Misericordioso, o Misericordiador! Todo ser humano por natureza questiona sua origem e seu destino final. O homem é uma criatura que foi dotada com o poder de raciocínio, algo que o faz superior às demais criaturas, e justamente por esse motivo deve se utilizar dele na busca das respostas que tanto o assolam. Mas não é preciso muito para se alcançar a certeza, ao olharmos a nossa volta e refletirmos, de que o universo e tudo que o contém é prova de que existe um Criador Supremo e Sábio que criou, sustentou e proveu tudo a nossa volta. A partir do momento em que o homem sabe e tem certeza de que não teve influência alguma em sua própria criação nem na criação dos céus e da terra, possui então uma prova determinante de que houve um Criador que criou tudo na melhor proporção, já que negar isso é, no mínimo, falta de discernimento. Deus criou o ser humano e o agraciou com todo o bem e o fez líder na terra, e criou a vida e a morte com o objetivo de testar qual melhor se comporta nesta vida passageira. O Islam, que significa literalmente paz e submissão a Deus, é um verdadeiro código de vida e não somente uma religião, já que regra todos os passos da vida do ser humano ensinando a conduta justa e correta em cada situação, trazendo todas as respostas às perguntas de maneira clara e objetiva fundamentando-se na revelação divina e não em conjecturas. Em primeiro lugar, o Islam nos ensina a adoração a Deus como Único Ser digno de adoração e culto, sem parceiros, filhos ou sócios, Deus este que é livre de toda e qualquer imperfeição ou erro e que é totalmente distinto a Sua criação, sendo que nada se assemelha a Ele. Também nos ensina a submissão somente a
Deus e a nenhuma criatura. Ensina-nos a seguir o caminho dos profetas e dos virtuosos como verdadeiros exemplos a serem seguidos, mas não como seres a serem cultuados. Ensina-nos que esta vida é passageira e é um teste que acabará com a morte, e que após ela virá o julgamento de cada ação, seja ela pequena ou grande, o que culminará na decisão final do mais Justo dos justos e do Maior dos misericordiosos, Deus, que julgará cada alma e lhe dará a recompensa por suas obras. Minha escolha em ser muçulmana (submissa a Deus) se deve ao fato principalmente do Islam ser o caminho ensinado por todos os profetas, entre eles Abraão, Moisés, Jesus e último dos profetas, Muhamad, que a paz esteja com eles, já que todos ensinaram o monoteísmo puro livre de qualquer idolatria. Foi esta a mensagem que Deus enviou em todos os tempos para a humanidade, é a obra inata na qual Deus criou a humanidade, é o único caminho até Deus, já que este foi o caminho ensinado por Ele através dos Seus Mensageiros. Ser muçulmana é ser consciente de que a submissão a Deus é o caminho de orgulho e vitória da humanidade, já que significa se submeter ao Todo-Poderoso e às Suas Leis, enquanto que a submissão aos homens é humilhação e opressão, uma vez que estes são falhos e impotentes. Escolhi o Islam porque através dele minha vida passou a ter sentido, vivo hoje sabendo o objetivo e a missão que possuímos na vida, vivo sabendo que devo alimentar minha alma da mesma maneira que alimento meu corpo, vivo sabendo que a dignidade está em seguir as ordens de Deus e a depravação e destruição está em
seguir descontroladamente nossos desejos. Como ser humano, o Islam valorizou-me ensinandome a virtuosidade, a oração, a caridade, a bondade e obediência aos pais, fazer bem ao próximo, a ter paciência nos momentos de atribulações, a alimentar a alma todos os dias e em todos os momentos aproximando-a do seu Senhor, a purificar a conduta dos vícios e tudo aquilo que lhe leva a destruição, e a buscar em primeiro lugar sempre a verdade e a justiça, e saber que a maior das injustiças é atribuir parceiros a Deus. Como mulher, o Islam elevou minha posição uma vez que a mulher é valorizada pelo seu intelecto e não pelo seu físico. Dá-lhe o direito de preservar seu corpo e ser protegida, através de sua vestimenta e conduta, e ter seus direitos garantidos na sociedade sem ter que se expor como mercancia para alcançar seus direitos devidos. Como muçulmana, o Islam me ensinou que a fé, a recordação de Deus e as boas ações são a senda dos virtuosos que alcançarão a paz e a verdadeira felicidade nesta vida e a magnífica recompensa da vida eterna no Paraíso. Sem dúvida, creio que este é o caminho para se alcançar o triunfo, e é neste caminho que nasci, que vivo e que morrerei, se Deus quiser! Eis, pois, a religião para toda a humanidade, aberta a todo aquele que queira prestar testemunho de que não há divindade digna de adoração, exceto Deus, o Único, e seguir a senda reta. Zohra Hanini
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EL PORTUÑOL, ¿LENGUA LITERARIA? El término frontera (del latín frons, frontis: frente) admite en general dos significados o interpretaciones: la primera muy precisa ("puesta y colocada enfrente") y la segunda tan precisa como aquélla pero de cuestionable contenido ("confín o límite de un Estado"). Un Estado necesita forzosamente un límite; una nación, no. Por eso pensamos que una zona fronteriza es más una nación que un encuentro entre dos Estados. Actualmente, en la práctica el término frontera es manejado más bien como un indicador de separaciones, divisiones, rompimientos, lejanías, y no pocas veces en cuanto un obstáculo a traspasar, a derrotar. En la demarcación de fronteras, a veces violenta o arbitraria, entre Estados y naciones o en la definición de entidades nacionales o regionales, suele no tomarse en cuenta -y la Historia lo comprueba- nada menos que el sustrato cultural de comunidades enteras y hasta sus componentes humanos de la mera cotidianidad. Las razones o sinrazones políticas, geopolíticas, militares y económicas así lo deciden y resuelven. Pero, ¿existen fronteras absolutamente fijas, con o sin bardas, con o sin agentes que las preserven, con o sin rigurosos puestos fronterizos, con o sin cazadores de inmigrantes, con o sin acuciosas aduanas, con o sin reglamentos más o menos flexibles? Y si un río, por ejemplo, forma parte de una frontera, ese río -como el heraclitanonunca repetirá sus aguas, así como las fronteras tampoco nunca se repiten a sí mismas. No hay tal fijeza, porque -es obvio decirlo- las fronteras, en especial las culturales, respiran, se mueven, se trasladan. Las fronteras, como las arenas del desierto, son ajenas a la quietud. Sucede que soplan las brisas y los vientos y las tormentas de la Historia, que jamás dejan de soplar, y la aparente inmutabilidad de las marcas fronterizas se vuelve vacilante, insegura, temerosa. Algo parecido cuando las fronteras entre castas, clases, familias, clanes, tribus y grupos sociales se rompen o amenazan romperse, porque en verdad estamos rodeados de fronteras ideológicas, de límites materiales, de bardas invisibles, de contenciones psicológicas. Estas rápidas reflexiones tienen su explicación, si es que la necesitan, en cuanto al hecho de que otros vientos nos llevaron a vivir, hace años y de los dos lados, a un punto de la frontera norte de Uruguay: la ciudad de Rivera y su junción con Livramento. Fue allí, precisamente, adonde aprendimos a percibir la movilidad de los límites fronterizos; allí, en el encuentro contradictorio y solidario a la vez de dos ciudades tan similares como distintas, aprendí asimismo que las líneas de separación, con sus marcos y sus garitas y sus controles aduaneros, no tenían mayor sentido. Porque, como se sabe, se trataba y se trata de una frontera seca y abierta: uno puede cruzarla varias veces al día -a pie o en carro o a caballo o en bicicleta- en ambos sentidos sin que haya que presentar ningún documento. Cruzar "la línea" es un suceso cotidiano, al punto de que esa línea imaginaria pese a sus señales y referentes físicos- parece que se ha borrado de la mentalidad fronteriza.
En Brasil el golpe de Estado ocurrió el 31 de marzo de 1964; nosotros vivíamos en ese momento en Sant'Ana do Livramento, abrazada a la uruguaya Rivera. Ciudades fundadas la primera en 1823 y la segunda en 1862, "para asegurar la frontera". A consecuencia del golpe de Estado, el tráfico y el tránsito en ese punto se volvieron súbitamente ásperos, dificultosos. La "línea" fronteriza casi transparente por el uso histórico, definió de un lado a una dictadura de contenido fascista, y del otro confirmó por oposición una democracia que pronto demostraría sus debilidades internas.
Esta información, que se parece a una crónica histórica, tiene como objetivo orientar al posible escucha o lector sobre algunas de las condiciones que se presentaban en aquel ámbito fronterizo y que sin duda estimularon y condicionaron, en definitiva, nuestra escritura narrativa. En verdad, en aquellos años nuestro arribo a una frontera ya conocida por algunas visitas en época de vacaciones, se produjo por razones de mera necesidad.
Significaba ese arribo un cambio casi total en cuanto a modalidad de vida, de códigos sociales, de pensamiento. Dicho cambio se fue procesando con diferentes pausas, de acuerdo con innumerables sucesos de la existencia personal y colectiva que no es de necesidad enumerar. Una especie de exilio voluntario. En primer lugar, pudimos ratificar algún hallazgo de aquella fugaz experiencia de visitas anteriores: nuestro país no era tan homogéneo en lo social, lo religioso, lo étnico, lo cultural y lo lingüístico como desde la primaria se nos había enseñado. La ideología predominante (aun dentro de una propuesta democrático-burguesa), desde todo el aparato disponible apoyado en el sistema educativo, indicaba que Uruguay era un país republicano, de economía agropecuaria, de lengua española, población blanca, religión católica, profundamente influido por Europa sobre todo Francia- y ¡libre de indios! Pocos negros había, resultado de haber sido Montevideo en el siglo XVIII el único puerto autorizado para el ingreso de esclavos africanos cuyo destino estaba en otros países. Mercado colonial de la negritud más que una plaza donde se necesitara un tipo de fuerza de trabajo como el del sistema de plantaciones del Caribe, por ejemplo. Anotamos ahora el haber escuchado en la infancia y la adolescencia, y algo más hacia acá, frases terribles salidas de integrantes de capas medias y clase alta (gente educada y de agradables modales), celebrando que en Uruguay los indios charrúas y de otras etnias habían sido oficialmente liquidados por la represión estatal en 1832, tema casi traumático en nuestra historia, sobre el que han escrito admirablemente Acevedo Díaz y Tomás de Matos. ¿Y la negritud?, pues malvivía en los barrios marginales de la capital y las ciudades o pueblos de provincia, en el campo… y en la frontera, casi cayéndose para el otro lado. "Ahí están bien", escuché una vez en la voz de alguien, un militar fazendeiro cuyo nombre se me borró. En segundo lugar, pude descubrir (ya van más de cuatro décadas…) lo que muchos sabían por la mera práctica fronteriza y lo que otros recién comenzaban a examinar: que Uruguay no era un país monolingüe. El francés estaba considerado como la lengua por excelencia de la cultura. Esto ha cambiado bastante, bajo las presiones globalizadotas del capitalismo salvaje aunque el portugués está propuesto en los programas actuales. Debe recordarse que en ciertos momentos de la historia uruguaya, se hablaba portugués en casi todo el territorio nacional, y hasta guaraní; el portugués retrocedería con la extensión de la escuela primaria desde finales del XIX para permanecer al otro lado de la frontera con Brasil, ayudando a la confirmación del portuñol; éste se transformó así en una barrera de contención de la vieja lengua imperial. En tercer lugar, me encontré con otro país o, como dirían los antropólogos, "con el Uruguay profundo". O sea, la diversidad o la multiculturalidad ya sugerida en el punto primero, plena de válidas supervivencias e innovaciones culturales. Y en esa diversidad cabía, por encima y por debajo de las clases sociales, las ideologías, el imaginario social y el color de la piel, una axiología bien diferenciada: la fronteriza.
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Una multiplicada y colorida bandera que nuestros pueblos tejen dia con dia! Porque esos valores, que funcionan fluidamente en un contexto físico e ideológico determinado por los avatares históricos (organización republicana, dictaduras oligárquico-militares, fijación de fronteras, cotizaciones cambiarias, flujos de mercancías, corrientes mediáticas, drogas, contrabando, free shopps) y por los sistemas religiosos (catolicismo, protestantismo, evangélicos, cultos de origen afro -umbanda, quimbanda, candomblé- y aun indoafricano, a más de curanderismo y artes adivinatorias), no tienen equivalencia con los predominantes en la capital. En la "gran aldea" o "gran ciudad" todo parece más "civilizado", más "moderno", más vinculado con la movida actualidad el mundo, por más que exista una creciente interacción entre Montevideo y lo que nosotros bautizamos literariamente como Rivamento. Y en cuarto lugar, los elementos y factores antes mencionados nos sugirieron, casi desde el inicio de la radicación en la frontera, tal vez de una manera secreta, que algo nuevo iba a ocurrir con la escritura, y no sólo con ella. Particularmente, la presencia del "portuñol", esa mezcla del portugués del sur brasileño con el español del norte, del este y del sur uruguayos, de la cual se han percibido tres o cuatro variantes en otros tantos sitios fronterizos. Los valiosos trabajos de investigación que sobre este asunto se han efectuado en la Facultad de Humanidades en nuestro país, nos liberan de un comentario más completo, a más de nuestras limitaciones para examinar tema tan rico y complejo. Pero digamos que no se trata de una mezcla equilibrada entre dos idiomas, surgida del habla en el siglo XIX -quizá en el XVIII- a consecuencia de las luchas entre los imperios de España, Portugal y Brasil en esa zona, sino que el portuñol tiene un mayor componente de portugués que de español. Eso es lógico, como se ha dicho, pues el portugués llegó a hablarse en casi todo el territorio de lo que hoy es Uruguay. Al producirse su retroceso, según se vio, no sólo se mantuvo en el lado fronterizo uruguayo, sino que, al irse conformando el portuñol, éste se transformó también, reiteramos, en una barrera para que el portugués no regresara a tierras uruguayas. Sólo algunos kilómetros, no más. Pero, hoy mismo, en ciertos departamentos hay bolsones de portugués o portuñol, o se le usa con alguna frecuencia en el habla diaria, ya bastante adentro del territorio nacional. Además, con los nuevos acuerdos comerciales, el turismo, los intercambios culturales, los medios de comunicación, el estudio más generalizado, etcétera, el portugués va interactuando sin violencia y sin colonizarlos en los espacios actuales, alcanzados por la llamada modernidad. Si aparecen aquí tantas referencias históricas, interpretadas desde una perspectiva muy personal, es porque en la frontera tuvimos acceso a la certeza de que éramos ciudadanos históricos, pues el hecho de adquirir bastante práctica en una lengua o dialecto como el portuñol, nos ubicaba en una tradición lingüística y escrituraria muy reciente. "El río de la historia: en él estamos", pudimos pensar sin demasiada imaginación. Y para tener un sitio en ese río debíamos agregarle una cuota de aguas y espumas aún no definidas. En puridad de verdad, nadie había utilizado en Uruguay el portuñol como lengua literaria; varios escritores (José Monegal, Alfredo Gravina, Agustín R. Bisio, Enrique Amorim, Paulina Medeiros, Olintho María Simoes y otros) habían apelado a palabras o frases sueltas de sus personajes, en su mayoría campesinos o gauchos o peones o habitantes de mínimos pueblos perdidos en medio de poderosas haciendas patriarcales. Pero hasta ahí.
Este fue, sin duda, el más grande desafío que me propuse como narrador. Sin embargo, para pasar del habla portuñolesca a la escritura creativa, se necesitó un tiempo de maduración, reflexión, estudio más amplio e informal del portugués y lecturas de poetas, narradores y ensayistas muy admirables, que en Brasil abundan. Mientras, continuaba escribiendo poesía, mejor dicho, poemas, pero sin que el portuñol se engarzara a esa producción; poemas que publicaba en Montevideo, aunque también en revistas brasileñas y argentinas. Mientras hacía eso y trabajaba en varios y diferenciados oficios, logré adentrarme en muchos rincones fronterizos. Otros rincones de frontera fueron los cabarets, los antros de varias categorías, las canchas de básquetbol, los pequeños estadios de fútbol, los bares, los "terreiros" del culto umbanda, las viviendas precarias en los barrios más empobrecidos, los clubes políticos en los que se gestaban las luchas locales, los cuarteles en donde "los sospechosos de comunistas" o sindicalistas o empleados de la banca debíamos presentarnos cada tanto cuando la etapa predictatorial (era dura la vigilancia en ambos lados de la frontera), las parroquias adonde me reunía a tomar unas cañas con un par de curas amigos; el ámbito de la enseñanza oficial, pues yo daba clases de letras hispanoamericanas en secundaria y preparatoria (Carlos Reyles, Garcilaso, José Hernández, Rulfo y Carpentier, entre otros autores) a alumnos de ambos lados… Muchos rincones, pues, y siempre el portuñol volando y llegando y desvaneciéndose y reapareciendo… Era curioso, y hasta algo perturbador, por ejemplo, escuchar a un alumno leer un soneto de Lope de Vega o un parlamento de Pedro Páramo con aquel acento y aquella dicción de frontera que se adhirieron para siempre a mis oídos. Y que, por la mera oralidad que aún no me abandona, pasaron a mi escritura narrativa. El resultado fue una serie de cuentos redactados luego de mi regreso a Montevideo (el inicial se publicó en el diario El Popular), y la primera novela empezada en esa ciudad, 1974, y terminada y publicada en México, en 1982, ya en el exilio. Luego vinieron otros textos, escritos aquí y allá, al ritmo de viajes y nuevas resi-
dencias, hasta agrupar una saga de cinco novelas y un volumen de cuentos de 400 páginas, a más de algunos relatos sueltos. Mi primer volumen de cuentos Fronteras de Joaquim Coluna fue finalista en el Premio Casa de las Américas, La Habana, 1973. Tres de esos relatos fueron traducidos al francés, al polaco y al croata. Sin embargo, un hecho que transformó mi noción de escritura (nuevo uso del significante, nueva elaboración y percepción del significado) y aun de ciudadano de muchas banderas, resultó sin duda de que al abrirme al portuñol, me abrí luego a las maravillas lingüísticas del español de América, en vivo y en directo. Nicaragüismos, cubanismos, colombianismos, chilenismos, mexicanismos, guanaquismos, chapinismos, paraguayismos, chicanismos, etcétera, se abrazaron al portuñol, tal vez para siempre… Este trabajo así históricamente acumulado, representó un cuestionamiento del propio idioma materno, del desarrollo histórico y cultural del país y de la propia ubicación en una realidad asombrosamente cambiante, aunque no menos injusta y desgarradora. Realidad que para mí confirman aquellas fronteras respiradas junto con tantas personas y personajes, y que se han identificado a su vez con las incontables fronteras culturales que, a partir sobre todo de México y Cuba, me enseñaron a percibir el cosmos latinoamericano como una multiplicada y colorida bandera que nuestros pueblos tejen día con día. Espero que las esquivas musas me permitan agregar algo más de mi trabajo literario fronterizo a este insoslayable esfuerzo incluyente, colectivo y liberador. Saúl Ibargoyen (Texto leído en la Biblioteca Nacional, Montevideo, con ocasión de recibir el autor su nombramiento como miembro de la Academia Nacional de Letras de Uruguay, el 17 de diciembre de 2008. Se publica con varios cambios posteriores a su lectura, resumidos para esta publicación, que no alteran el sentido de la propuesta.)
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Observando o tumultuado mundo de hoje, os inúmeros exemplos em nosso viver, fico impressionado como o ser humano é imperfeito. Uma dessas imperfeições é o EGOÍSMO, que em menor ou maior grau, todos possuem, por isso vou me referir especificamente aos que chegam ao extremo de não sentirem nenhuma consideração pelos outros. A insensibilidade é o resultado desse viver imperfeito no trato, na palavra, na convivência, anulando todo tipo de sentimento bondoso. O ato egoísta restringe o universo das pessoas, e em grande parte diminui a percepção do seu entorno, a preocupação com os outros. Os egoístas se enaltecem, se atribuem mérito alheio ou superestimam sua contribuição pessoal. Alegram-se com o fracasso dos outros e são aproveitadores. O egoísmo torna as pessoas mal educadas, desdenhosas, grosseiras, egocêntricas. Erguem a "espada do poder" e exclamam: "eu por mim mesma, eu tenho a força!". Os egoístas privam as pessoas de elogio e reconhecimento quando passam por elas e não as notam. Em alguns casos, é a riqueza ou a posição social que os fazem agir dessa maneira. Concordo que é importante ter dinheiro para suprir nossas necessidades, mas, além disso, o dinheiro tem pouco a ver com a verdadeira felicidade. Geralmente o trabalho e o sacrifício por um propósito digno dão maior satisfação. O comportamento egoísta leva às piores situações, como agir grosseiramente, falar asperamente, tirando a pessoa de seu caminho. Leva-a ao ponto de não sentir afeto, humildade, misericórdia, sinceridade. Os egoístas usam as pessoas, mas não as amam. São como as águas do mar Morto, estagnadas, adormecidas, salgadas, inúteis e que matam. Constroem uma vida amarga, chamando para si a infelicidade. Porém, para tudo existe um remédio, um antídoto. Neste caso, são os atributos da humildade e do altruísmo: amor ao próximo, filantropia. A humildade é mansidão, conhecimento perfeito do que realmente somos, de como podemos ajudar ao próximo, sem fantasiar qualidades que não temos. É posição do espírito, virtude, saber o que se pode, sem precisar manifestar para os outros. O altruísta é o que se oferece com generosidade sem esperar recompensa. O que sabe partilhar abre as portas à felicidade. Há um provérbio que diz: "... sábio é aquele que é humilde; tolo é o soberbo". Concluo: queixo levantado e olhar altivo destroem os mais nobres sentimentos do ser humano, pois cada um recebe o que dá. Os generosos que amam ao próximo, com esse espírito vivem e fazem viver. Somos como "pedra bruta", devemos talhar e moldar nossas arestas para alcançar a perfeição. Como barro na mão do oleiro, que o transforma num belo vaso. Victor Hugo Vargas Cadeira nº 30
Jorge Luis Borges, certa vez teria afirmado
DAS METÁFORAS
Cá
O egoísmo
que uma forma de felicidade é a leitura. José Mindlin, disse em uma ocasião que num mundo onde o livro deixasse de existir ele não gostaria de viver. Ambos tinham convicção de que uma das metáforas possíveis para a Eternidade, é uma biblioteca sem fim. José Ronaldo Viega Alves Cadeira n°21
Do livro “Novas Especulações Sobre A Criação & Os Golens”, a ser publicado em breve.
Patrimônio Cultural é o conjunto de bens culturais, materiais e imateriais que possuem valor histórico, artístico, científico ou associativo e que definem, em diferentes escalas, a identidade de uma comunidade, um Estado ou uma Nação e que devem ser preservados como legado às futuras gerações. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, o Patrimônio Cultural é classificado em categorias: Patrimônio Natural, Patrimônio Edificado, Patrimônio Urbanístico.
entre
Patrimônio Imaterial ou Intangível: manifestações de natureza imaterial que constituem importantes referências culturais e se relacionam à identidade, à maneira e à ação dos grupos sociais. Patrimônio Documental: formado pelos documentos que constituem o acervo histórico e fontes de comprovação de fatos históricos e memoráveis. Dos bens culturais produzidos pela humanidade, a arquitetura é um dos que mais se destaca na formação da memória histórica, na identidade de uma sociedade, estando impregnada de sentimentos de acontecimentos novos e antigos, sendo que sua história poderá, às vezes, transformá-la em monumento. Patrimônio cultural é toda criação humana, carregada dos valores e sentidos próprios de cada sociedade. Os prédios, como formas de comunicação não verbal, possibilitam a leitura de parte da história de uma sociedade. Ainda hoje, percebe-se a alienação da maioria da população em relação ao patrimônio histórico. Segundo Funari, a política de patrimônio preservou a casa grande, as igrejas barrocas, os fortes militares, as câmaras e cadeias como referências para a construção de
nossa identidade histórica e cultural, relegando ao esquecimento as senzalas, as favelas, os bairros operários. Para Byrne, é comum que os grupos dominantes usem seu poder para promover seu próprio patrimônio, ao forjar uma identidade nacional à sua própria imagem, fazendo com que o povo não se interesse com a proteção cultural, vendo-a como um problema que não é seu. Os velhos prédios, as praças, além da presença da história, dão um sentimento de segurança e afetividade familiar e também a sensação de estarmos ligados a gerações passadas. José Isola Filho contava que seu pai, engenheiro auxiliar do Dr. César Tettamanzi na Prefeitura Municipal, idealizou a Praça General Flores da Cunha, popularmente conhecida como Praça dos Cachorros, inspirado no "rosedal" de Palermo- Argentina. Tendo estudado engenharia na Faculdade de La Plata, com frequência ia a Buenos Aires, onde se abastecia de livros e material para a Prefeitura, adquiridos com seus próprios recursos. Apaixonado por Márgara, sua esposa, prometeu-lhe construir um "rosedal" para que os turistas pudessem dizer: "Que lugar lindo!". De seu amor por Márgara e pela sua cidade, surgiu a praça. As "roseritas" - balaios com rosas, vieram de Buenos Aires junto com os cachorros que passaram a emoldurar o lugar. Lugar construído como prova de amor para sua amada: palmeiras, um jardim, um caramanchão coberto de rosas, uma pequena fonte de água, bancos que acolhiam os casais enamorados e os turistas que por ali passavam. Hoje, um patrimônio relegado, carregado de história e sentimentos que, acredito, voltará a acolher os enamorados, a orgulhar os santanenses e a encantar os visitantes.
Cecília Siqueira Amaral Cadeira nº27
“Hoje, um patrimônio relegado, carregado de história e sentimentos que, acredito, voltará a acolher os enamorados, a orgulhar os santanenses e a encantar os visitantes.” Praça dos Cachorros
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PATRIMÔNIO CULTURAL
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