Sementes de Esperança | Dezembro 2017

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Sementes de

Dezembro 2017

Esperança Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre


Intenções de Oração do Santo Padre INTENÇÃO GERAL

Pelos idosos, para que, sustentados pelas famílias e pelas comunidades cristãs, colaborem com a sua sabedoria e experiência na transmissão da fé e na educação das novas gerações.

Deus foi-Se embora Deus foi-Se embora. Mas, cada pessoa é também a porta pela qual Ele quer voltar. Uma vez, Ele voltou pela encarnação de Jesus Cristo. Mas, hoje, Ele procura um acesso ao nosso tempo em milhões de pessoas. O Seu dia está próximo. Deus virá ao mundo, quando Lhe oferecermos morada no nosso coração. Quando O aceitarmos na Sua lei de amor. Quando cumprirmos a missão de Maria: conceber Jesus e carregá-Lo em nós, de forma que Ele Se torne o coração da nossa vida. Então Ele amará o Pai Celeste com todo o nosso coração, com toda a nossa alma e com todas as nossas forças. Então, o Seu amor, a Sua bondade, a Sua compaixão para com as pessoas irradiarão, através de nós, como um raio de luz no mundo. Então, Ele sorrirá pelos nossos olhos, ajudará com as nossas mãos, reviverá no nosso corpo a Sua vida redentora de outrora. Então, nós seremos as portas, as dezenas, as centenas de milhares, os milhões de portas, os portões escancarados através dos quais Ele, o Príncipe da Paz, o Deus-Connosco, ingressará no Seu mundo, no Seu Reino. Pe. Werenfried van Straaten

A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor, ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.

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Reflectir Intenção Nacional

Para que em Portugal neste mês de Dezembro se celebre verdadeiramente um Natal cristão e o presépio (não o pai-natal) seja bem visível em todos os lares!

Ao menos tu, faz-Me companhia Vivemos tempos difíceis, em que os homens verdadeiros e santos são provados, não só na sociedade mas também na Igreja, que sofre, como mãe, o desnorteamento e a obstinação de muitos dos seus filhos. Celebrações de diálogo ecuménico e inter-religioso tão abundantes hoje e por toda a parte – em Portugal temos sido poupados a esta vaga de neopaganização e neoprotestantização da Igreja graças, assim o creio, à protecção materna de Nossa Senhora que tem esta terra como sua – introduz nos fiéis uma certa perplexidade, porque, com tantas “aberturas”, com as portas tão escancaradas, a Santa Casa de Deus, o santuário, não de granito ou de basalto, o santuário das “pedras vivas” (1 Pe 2,5) mais se assemelha a um mercado ou a uma praça pública, do que a uma casa de oração. A passagem do Evangelho em que Jesus expulsa os vendilhões do templo e o purifica (Cf Jo 2,13-22) torna-se urgente que se repita hoje, e são muitos os que

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já clamam por isso, que o Senhor envie o seu Anjo, que expulse os vendilhões do seu templo e o restitua, renovado, à sua esposa amadíssima como casa de oração, como lugar santo. Em Portugal Nossa Senhora prometeu que se manteria sempre o “dogma da fé” e muito recentemente o Cardeal Burke, peregrino do Santuário de Fátima, confessou que acredita verdadeiramente que a nação portuguesa tem uma importante missão a desempenhar no mundo. Eu acredito nisso também! Neste tempo difícil, tanto para a sociedade em geral como para a Igreja, é necessário que todos os homens de boa vontade e todos os que se mantêm firmes na defesa da “verdade”, arregacem as mangas e se munam com a força do Alto para este combate que assume cada vez mais contornos apocalípticos e escatológicos. Em Pontevedra, a 10 de Dezembro de 1925, dia em que Nossa Senhora fez a “grande

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Reflectir promessa”, e perante os males do mundo de então e que afectavam também a Igreja, pediu à Lúcia: “Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação”. Nossa Senhora sugere uma “devoção” muito simples, acessível a todos, de qualquer cultura ou condição social, que consiste em “fazer-lhe companhia” e em consolá-la uma vez por mês e durante cinco sábados seguidos, que, em contrapartida, Nossa Senhora promete estar com o devoto nos momentos difíceis da sua vida e muito particularmente na hora da morte. Ainda antes desta promessa tão explícita, os Pastorinhos perceberam bem a Mensagem e por isso, especialmente S. Francisco Marto, se recolhiam sempre que podiam para junto do sacrário e aí faziam companhia a Jesus escondido.

de amor agradecido no início de cada mês. Cinco sábados, mas que podem ser todos. Porque a Igreja acolheu como autênticas as aparições de Nossa Senhora em Fátima, então porque não havemos de corresponder ao seu pedido? O que está aqui em causa é a nossa docilidade à solicitude materna da Mãe de Deus em despertar as nossas consciências para que cada hora possa ser vivida como a última e mais solene das nossas vidas, na presença e com a protecção da Senhora da boa morte! Não deixemos para mais tarde este tempo de amor e reparação que Nossa Senhora nos pede. Comecemos já a devoção dos primeiros sábados, e, na mesma onda, também as primeiras sextas-feiras, correspondendo assim ao pedido que o Coração de Jesus fez a Santa Margarida Maria no séc. XVI. De uma forma simplificada, temos o terço da misericórdia às 15h de cada dia, para recordar, ao ritmo diário, a hora em que o Senhor levou até ao extremo o seu amor, morrendo de amor por cada um de nós. Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS

Uma espiritualidade tão simples e eficaz que recomendo vivamente que todos a pratiquem, criando um ritmo mensal 4

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Superfície 22.100 Km2 • Turquia

População 8 milhões de habitantes Religiões

• Síria

Judeus: 75,6% Muçulmanos: 18,6% Outras religiões: 3,8%

Chipre •

Mar Líbano • Mediterrâneo

Cristãos: 2%

Israel •

Católicos: 1,2% Protestantes: 0,4%

• Jordânia

Ortodoxos: 0,4% Língua oficial

• Iraque

• Egipto

• Arábia Saudita

Hebraico e árabe

TERRA SANTA

“VINDE, VEDE O LUGAR ONDE JAZIA.” (MT 28, 6-7) O túmulo de Cristo no Santo Sepulcro, em Jerusalém, acaba de ser alvo de uma restauração inédita. As três comunidades por ele responsáveis puseram-se finalmente de acordo. Uma boa notícia para a unidade? Houve reacções mistas da parte do Irmão Athanasius Macora, franciscano, encarregado, há 18 anos, do status quo dos Lugares Santos para a Custódia da Terra Santa.

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Terra Santa O Santo Sepulcro não é mais do que o epicentro de toda a Cristandade.

em 1810, para limpar todas as peças e reforçar a estrutura. Depois, montar novamente tudo da mesma maneira, à excepção dos feixes de aço que os engenheiros do mandato britânico A Edícula é o lugar mais importante tinham instalado nos flancos, em de toda a peregrinação à Terra Santa. 1947, para evitar o desabamento. É incontornável, dado que se ergue Lavar e reforçar, é tudo. no sítio em que se julga que Cristo foi enterrado e ressuscitou. A mensagem do anjo às santas mulheres, Porque não se optou por um na manhã de Páscoa, é clara: “Vinde, projecto mais ambicioso? vede o lugar onde jazia e ide depresSimplesmente por causa do status sa dizer aos seus discípulos: ‘Ele quo! Este mandato, imposto em 1852 Ressuscitou…’” (Mt 28, 6-7). Na verdapelo sultão otomano, regula, desde de, este local é um grande projecto. então, os lugares santos e estabeleAltamente simbólico. Infelizmente ce as relações entre as comunidades é extremamente conservador e, de cristãs que lá coabitam: latinos, modo nenhum, à altura do acontecigregos, coptas, sírios, arménios e mento pascal. Vai apenas desmontaretíopes (estes não estão na basílica -se a Edícula de mármore, construída mas no tecto). De um modo geral O túmulo de Cristo é o coração da Basílica do Santo Sepulcro. O coração do Cristianismo. Restaurá-lo não é uma tarefa fácil…

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Terra Santa O final do restauro da Edícula do Santo Sepulcro.

significa: “Não se muda nada, não se toca em nada, não se mexe em nada” desde o número das velas à colocação dos tapetes. E qualquer trabalho nos espaços comuns não pode ser feito sem o aval das comunidades, nomeadamente das três principais que são os latinos, os gregos e os arménios. O único meio de chegar rapidamente a um entendimento era ceder ao que se chama status quo. De outro modo, entrar-se-ia no caminho de 30 ou 40 anos de negociações difíceis… e não havia tempo para isso. Serão os trabalhos assim tão urgentes? E como! Uma equipa de cientistas gregos descobriu que as fundações Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

do edifício são sólidas, mas que a argamassa que une as placas de mármore está corroída pela “condensação da respiração dos visitantes”. Sem falar dos problemas de oxidação causados pelo calor e fumo das velas que ardem, praticamente, dia e noite. As fragilidades estruturais da Edícula, há muito tempo conhecidas, acentuaram-se devido às multidões de turistas e peregrinos. É preciso perceber até que ponto a situação mudou. Antes de 1967 milhares de sírios, jordanos egípcios e gregos vinham em peregrinação, sobretudo nos dias santos. Mas, desde a democratização do transporte aéreo são aos milhares as pessoas que, vindas de todo o mundo, afluem ao Santo Sepulcro. Diria que cerca de 1.5 milhões de 7


Terra Santa O Padre Giuseppe Gaffurini, ofm, esteve presente na abertura do Túmulo

como em Jafa ou Caná, as relações são cordiais e amistosas. Há, seguramente, alguns problemas relativos por exemplo aos casamentos mistos, mas as relações continuam a ser positivas. Mais para o interior as relações são estranhas, porque “a propriedade divide a família” e Poder-se-á falar de um pequeno são mais ditadas pelo pragmatismo passo no caminho de uma maior do que pelo amor cristão. unidade entre as comunidades cristãs? O status quo é um obstáculo Sim e não. Para ser honesto, pen- à vida no Santo Sepulcro ou so que o status quo é um travão o que a torna possível? ao ecumenismo, um obstáculo à unidade, porque produz efeitos É, provavelmente, o único meio que contrários: muitas invejas, zangas, funciona, o único mecanismo que ressentimentos… Em todos os se encontrou. Há ainda disputas, lugares onde se vive perto de outras problemas, lutas, mas muito menos comunidades e fora dos lugares que antes. O ideal seria codificá-lo, santos regidos pelo status quo, porque o status quo não é um código peregrinos por ano (metade dos três milhões que chegam a Israel) são cristãos e, às vezes, até três mil em menos de duas horas. É pois uma boa notícia que nos tenhamos posto de acordo.

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Terra Meditação Santa “o Túmulo de Jesus abriu-se completamente diante de nós.”

escrito partilhado, um acordo ente nós, mas uma falta de um código, um cessar-fogo: cada um deve ficar no seu lugar.

medo de perder um pedacinho do Santo Sepulcro – seria uma perda de identidade – que preferem não fazer nada.

Ou pô-lo em causa…

E a questão da unidade?

Não estamos no Ocidente mas no Médio Oriente! É todo um outro mundo. Cada comunidade tem a sua própria dinâmica. A maior parte dos católicos pensa que o status quo é estúpido, mas os greco-ortodoxos e os arménios estão muito conectados com ele, porque a sua identidade está visceralmente ligada ao Santo Sepulcro. Utilizo muitas vezes a analogia do ecossistema: a menor alteração pode provocar, logo a seguir, mudanças numerosas e maiores. Os ortodoxos têm tanto

A unidade é como o casamento: é preciso a união de duas vontades. Não se pode forçar. Não digo que os ortodoxos não queiram a unidade, mas alguns ainda não se sentem à vontade com a ideia, por motivos particulares. De há 40 anos para cá que as relações melhoraram muito e estão muito mais cordiais. Nomeadamente com as Igrejas grega, arménia e copta. Mas é preciso respeitá-los e dar-lhes tempo.

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Terra Santa Não é uma contradição insustentável que tantas divisões ocorram onde Cristo ressuscitou? Na verdade é triste. Só Cristo pode mudar esta realidade. O problema de fundo é que a identidade possa ser mais importante que a fé. Acredito na tradição e agrada-me mas, evidentemente, há elementos da nossa fé que são culturais. Todos vivemos com as tradições locais, mas aqui a identidade está ligada à etnicidade. As comunidades ortodoxas são muito “tribais” se é que o posso dizer assim… Ora, a fé deve ir além das fronteiras do meu grupinho. Deve transcender a família. O Evangelho é límpido nesse ponto: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.” (Lc 8, 21). A Igreja-mãe de Jerusalém deve deixar-se renovar na fé. Dar o grande salto na fé. O rei da Jordânia, Abdallah II, anunciou por édito real que financiará uma parte da restauração. Ao mesmo tempo que o Islão radical semeia a destruição. Será este gesto um símbolo de esperança?

símbolos. É um belo gesto, mas que não muda nada no pano de fundo: as comunidades cristãs são oprimidas, perseguidas, no Médio Oriente. A sua situação é melhor na Terra Santa, onde os Cristãos não são perseguidos mas onde há grandes dificuldades… Gostaria de acreditar que daqui vai sair algo de bom, mas espero sobretudo uma mudança geral e profunda de atitude para com os Cristãos. Parece um pouco pessimista no que diz respeito ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso…. Não se pode ser ingénuo e os Católicos podem sê-lo demasiado. Sobretudo no Ocidente. Mas, se se quer continuar cristão é preciso “esperar contra toda a esperança”. É a única coisa que nos impede de nos tornarmos cínicos. Eu sou-o um pouco (risos…) A nossa capacidade humana de ir para além da nossa zona de conforto é muito limitada e, por isso, é preciso rezar e pedir ao Deus vivo, ao Ressuscitado, a capacidade para transcendermos as nossas fronteiras.

Oração Para que haja unidade e paz na Terra Santa, o local onde nasceu, Na verdade, não sei como interpretar viveu, morreu e ressuscitou Nosso esta notícia. É talvez um pequeno Senhor Jesus Cristo, nós Te pedimos símbolo, mas vivemos de leis e não de Senhor! 10

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Terra Santa TESTEMUNHO DO PADRE GIUSEPPE GAFFURINI, OFM, QUE ESTEVE PRESENTE NA ABERTURA DO TÚMULO

Páscoa ortodoxa no Santo Sepulcro.

Após nove meses de trabalhos meticulosos, o restauro da Edícula do Santo Sepulcro está a terminar. Para festejar este grande momento, fruto de uma decisão comum das três comunidades cristãs que partilham a responsabilidade dos trabalhos – as Igrejas greco-ortodoxa católica e arménia – foi celebrada uma liturgia ecuménica, em 22 de Março. Os fiéis puderam agradecer por esta pedra original sobre a qual teria repousado o corpo de Jesus e pelos trabalhos a terem exposto. Uma estreia datada de 1810. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

Os batimentos dos nossos corações eram tão fortes que abafavam a nossa respiração! Tínhamos consciência de estar a viver um momento histórico. A sensação de estarmos a transpor os séculos e de nos encontrarmos nesse preciso momento da história em que a Pedra do Santo Sepulcro foi deslocada e se viu o túmulo vazio, manifesto da Ressureição de Cristo! Para transmitir a emoção que experimentei nesse momento veio-me à cabeça um episódio da vida de São Bernardo de Claraval. Todos os dias, sempre que passava em frente a uma estátua da Virgem Maria, saudava-a com uma fervorosa Avé Maria. Muitos anos depois, tendo-a saudado como habitualmente, ouviu uma resposta: “Avé Bernardo”! Isto foi o que experimentámos. Após tê-lo venerado dia e noite durante tantos anos, o Túmulo de Jesus abriu-se completamente diante de nós. E da Pedra viva do Sepulcro o primeiro anúncio ressoou aos nossos ouvidos: “não está aqui, pois ressuscitou, como tinha dito. Vinde, vede o lugar onde jazia” (Mt 28, 5-6).

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Oração

NATAL DE DEUS, MEU NATAL Nos braços da Mãe contemplamos-Te, ó mistério da ternura de Deus! Meu Menino Jesus, és a certeza que a vida tem sentido. Tu és o Acontecimento da vida do mundo. Não apenas o renovas, mas és o novo Ser no mundo, onde a novidade de Deus e a sua Presença salvadora predominam. Em Ti contemplamos o rosto de Deus feito carne, feito homem, feito um de nós! Tu és o meu verdadeiro ser e eu quero-Te nesta noite de Natal! Que eu possa descobrir-Te e espantar-me diante da tua Presença, tal como os magos e os pastores. Encontrar-Te é encontrar-me! Na alegria de receber-Te que tudo na minha vida se torne canto… um grito de alegria: “Vem Senhor Jesus”! Ámen. Bridget Eason asm

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Meditação

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA: SABER DAR TEMPO AO TEMPO A festa da Sagrada Família tem as suas origens no fim do séc. XIX. A Igreja inquietava-se então com o que considerava a decadência moral: o progresso do “naturalismo” devido aos avanços da ciência, a penetração do ateísmo e a autonomia cada vez maior da política e do direito em relação à Igreja. Certos Estados chegaram mesmo a aprovar legislação que permitia o casamento civil. E viam-se cada vez mais casais compostos por católicos e não católicos. Por isso os papas tentaram valorizar a comunidade familiar como instituição propriamente cristã, fundada sobre o Evangelho. Assim, a 26 de Outubro de 1921, o Papa Bento XV instituiu um dia consagrado especificamente à Sagrada Família. A passagem evangélica para esta festa era a mesma da data escolhida para a sua celebração (Domingo a seguir à Epifania): Lucas 2, 41-52. O trecho bíblico situava-se na continuidade das leituras do ciclo do Natal: depois da manifestação aos pastores e aos magos, o Menino expressava-se aos sábios, em Jerusalém. No entanto, a introdução da festa fez com que se desvanecesse a evocação da manifestação de Jesus no Templo de Jerusalém, em detrimento da acentuação da sua família. Com a reforma do calendário litúrgico ocorrida após o concílio, a festa da Sagrada Família transitou para o coração do Natal, no Domingo a seguir ao dia 25 de Dezembro. Do ponto de vista pastoral, pode encontrar-se um certo interesse: o Natal é uma festa intimamente ligada Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Meditação à vida familiar, pelo que a escolha da data nada tem de incongruente, bem pelo contrário. Contudo, a perspectiva com que a narrativa é abordada não lhe faz justiça. Lembremos que o texto centra-se, antes de tudo, na revelação de Cristo como Filho de Deus, e não tanto na sua família humana. Ainda assim, é sempre possível reflectir sobre a família, sem perder de vista a questão da manifestação de Jesus. Com efeito, é interessante sublinhar que o evangelista Lucas situa esta revelação no quadro de uma cena muito simples. José, Maria e o Menino participam na peregrinação anual, tal como hoje muitas pessoas saem de casa para visitar os familiares durante o período das festas. Nada de extravagante como acontecimento: é quase uma rotina. Mas o ambiente da festa litúrgica constitui, sem dúvida, uma condição favorável ao despertar espiritual... Se o contexto é relativamente modesto e, por assim dizer, comum, o mesmo não se pode dizer da maneira como Jesus manifesta a sua identidade profunda. Ele desaparece da vista dos seus parentes durante três dias. Quando o reencontram, está a conversar com os sábios do Templo! Jesus acabava de desorientar a vidinha tranquila da sua família: a narrativa refere que os seus próximos “ficaram assombrados”. Esta cena convida-nos a reconhecer que o Senhor pode manifestar-se em todas as dimensões da nossa vida, inclusivamente no meio familiar. E, por vezes, os efeitos da sua presença podem provocar espanto ou incompreensão. Em nome da sua fé, uma pessoa poderá fazer escolhas ou comprometer-se na sociedade de uma maneira que perturbe a célula familiar. Como reagir numa situação semelhante? Lucas propõe discretamente a figura de Maria: “Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração”. Esta frase curta comporta um ensinamento de grande riqueza e de duplo alcance. Em primeiro lugar, a atitude de Maria está marcada pela sabedoria. Ela ilustra a aceitação de que nem sempre se pode compreender e controlar o que acontece na nossa vida, incluindo o que acontece no nosso contexto mais imediato. Maria toma consciência de que há alguma coisa no seu filho que lhe escapa. Não somente porque ele é Filho de Deus, mas também porque é inteiramente um ser humano. Por outro lado, Maria nunca procura disfarçar, abafar ou desembaraçar-se destes acontecimentos. Pelo contrário, dá-lhes um lugar privilegiado: “no seu coração”. O que acabou de suceder está longe de ser uma ocorrência banal: o seu filho fugiu e respondeu aos parentes em tom de censura. Não se trata de curar as feridas, mas de reconhecer que, muitas vezes, é preciso um tempo de maturação para dar sentido a um acontecimento. Jean Grou, in http://www.snpcultura.org/vol_sagrada_familia.html

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Actualidade

Concerto de Natal Mariano A Fundação AIS e a cantora lírica Teresa Cardoso de Menezes têm a alegria de convidar todos os seus amigos e benfeitores para o Concerto de Natal dedicado inteiramente a Nossa Senhora, precisamente no dia da Festa da Imaculada Conceição. O programa deste concerto consiste na interpretação do CD Mater Dei, o qual foi lançado no passado mês de Setembro em Fátima, por ocasião do Centenário das Aparições de Fátima, que será acompanhado por uma pequena orquestra. Particularmente neste concerto irão ser interpretadas algumas peças de Natal, acompanhadas por um coro infantil.

8 DEZEMBRO (Sexta-feira) IGREJA DA BOA NOVA ESTORIL 16H ENTRADA LIVRE - Seria uma grande alegria contar com a vossa presença. COMPAREÇA e divulgue esta informação pelos seus amigos e família.

Votos de um Santo Natal! Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Destaque

CD MATER DEI Um CD com 13 árias sacras, interpretadas pela cantora lírica Teresa Cardoso de Menezes e orquestra, dedicado inteiramente a Nossa Senhora. “Mater Dei, da cantora lírica Teresa Cardoso de Menezes é um hino de louvor, elevação e beleza, um maravilhoso tributo ao maior amor da maior de todas as mães. Uma parte das receitas da venda deste CD revertem para a Fundação AIS. Obrigada, Teresa, por nos acrescentar esta música e emprestar a sua voz desta forma tão extraordinária. Faço quilómetros de estrada ao som deste CD e confesso que não me canso de a ouvir.” Laurinda Alves, jornalista

Inclui entre outras: Ave Maria – Schubert Ave Verum – Mozart Ave Maria – Haendel Ave Maria – Gounod Fado inédito: Maria Mãe Jesus – – Alfredo Marceneiro

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SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, Alexandra Ferreira FONTE L’Église dans le monde – AIS França FOTOS © AIS; © P. Giuseppe Gaffurini; © Fr. Enrique Bermejo; © Margaret Tarrant

CAPA PERIODICIDADE IMPRESSÃO PAGINAÇÃO DEPÓSITO LEGAL ISSN

Presépio 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign 352561/12 2182-3928

Isento de registo na ERC ao abrigo do Dec. Reg. 8/99 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A

Rua Professor Orlando Ribeiro, 5 D, 1600-796 LISBOA Tel 21 754 40 00 • Fax 21 754 40 01 • NIF 505 152 304 fundacao-ais@fundacao-ais.pt • www.fundacao-ais.pt


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