Sementes de Esperança
Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
MAIO: Pelos movimentos e grupos eclesiais Rezemos para que os movimentos e grupos eclesiais redescubram cada dia a sua missão evangelizadora, pondo os próprios carismas ao serviço das necessidades do mundo.
A Consignação de 0,5% do IRS não tem qualquer custo para si. Para tal, basta que no Modelo 3, Quadro 11, Campo 1101, seleccione a opção “Instituições religiosas”.
SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
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REDACÇÃO E EDIÇÃO
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Fundação AIS
Catarina Martins de Bettencourt
Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Alexandra Ferreira
L’Église dans le monde – AIS França
© AIS; © www.bradi-barth.org
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Nossa Senhora e o Menino
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12, 2182-3928
Omês de Maio é consagrado a Nossa Senhora, é o “mês de Maria”, como se diz habitualmente. É admirável esta pedagogia espiritual da Igreja que consagra os anos, os meses, as estações e mesmo os dias da semana à memória dos mistérios fundamentais da nossa fé cristã.
Os anos são consagrados, logo no primeiro dia do ano, a Nossa Senhora, Mãe de Deus e Rainha da Paz. Março é consagrado a S. José; em Abril celebra-se geralmente a Páscoa (mas que pode, em alguns anos, ocorrer em Março); Maio é o mês de Nossa Senhora; Junho é o mês dedicado ao Coração de Jesus (e por isso é o mês do Coração); em Agosto a Igreja celebra a “dormição de Nossa Senhora”; em Setembro, a “natividade de Nossa Senhora”; Outubro é o mês do Rosário; Novembro, dos fiéis defuntos; e Dezembro é o mês do Menino, porque nele se celebra o Nascimento de Jesus, o Natal. Mesmo aqueles meses que não mencionei, e praticamente só fica
Janeiro, Fevereiro e Julho, estão também marcados por celebrações importantes: em Fevereiro começa a Quaresma, e logo no início, no dia 2, temos a “Senhora das Candeias” (a Candelária), que é também o nome de muitas das nossas povoações. E Julho tem celebrações importantes, como a festa do Preciosíssimo Sangue e a celebração de Nossa Senhora do Carmo, para não falarmos da importantíssima aparição de Nossa Senhora em Fátima, a 13 de Julho de 1917, na qual revelou aos Pastorinhos o que ficou conhecido como o “Segredo de Fátima”.
Neste mundo cada vez mais afastado das referências religiosas em geral e das cristãs em particular (pelo menos no que se refere à chamada vida pública), estas celebrações, que, sobretudo nas regiões mais rurais da província, são acompanhadas por manifestações públicas, como sejam as procissões, são irrupção do transcendente no mundo secularizado e, portanto, um sinal de que afinal o nosso
mundo não está assim tão fechado em si mesmo, mas com importantes janelas abertas para o infinito divino que o atrai para o seu fim.
Mas o sinal mais forte, mesmo sacramental, no sentido de conter em si o mistério que celebra, é a Igreja em si mesma como comunidade que peregrina na história, entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus. E bem precisamos das consolações de Deus, neste tempo complexo no qual a Igreja sofre por toda a parte a perseguição de muitos dos Seus filhos, apenas por terem a coragem de testemunhar, pela palavra, mas sobretudo pelo testemunho, a fé que os anima. Mas também no velho continente, os Cristãos em geral e os Católicos em particular, que tiverem a coragem de assumir publicamente a sua fé, não tanto por palavras, mas pelo estilo próprio do ser cristão, são também perseguidos, caluniados, para os quais se torna verdadeira aquela palavra de Jesus que recomenda aos Seus discípulos que não resistam ao mau (cf. Mt 5,39), que amem os seus inimigos, que rezem pelos que os perseguem (Mt 5,38-47). Não há dúvida que vivemos uma nova era dos mártires, em que os Cristãos são lançados às feras.
O Papa Bento XVI deixava esta recomendação que me parece muito importante termos sempre na memória: Permanecei firmes na fé, pois é a fé que não nos deixa acomodar a esta “geração má e perversa” (cf. Act. 2,40). Nesta hora histórica que estamos a viver, precisamente por ser a nossa, tem sentido renovarmos neste mês de Maio a nossa consagração a Nossa Senhora, pois só ela nos pode valer, como numa das suas aparições disse em Fátima aos Pastorinhos. Nunca será demais falarmos e recordarmos e louvarmos Nossa Senhora, nas suas mais diversas invocações, porque foi Ela que nos manifestou o Seu Filho Jesus, no-lo-deu à luz e será ela, que no final da nossa peregrinação na terra, no-lo há-de mostrar, como rezamos todos os dias naquela belíssima oração que é a “Salve Rainha”: e depois deste desterro nos mostrai Jesus.
Seja ela a nossa protecção e guia que nos conduza ao Seu Filho, que é para nós o caminho, a verdade e a vida..
Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS
Superfície:
130,373 km2
População: 6,5 milhões
Religiões:
Cristãos: 94,8%
Agnósticos: 2,8%
Espíritas: 1,5%
Outras: 0,9%
Língua: Espanhol
Desde as manifestações pacíficas de 2018, violentamente reprimidas pelo Governo de Ortega, aperta-se o cerco à volta da população, nomeadamente da Igreja Católica.
A 19 de Agosto de 2022, D. Rolando Álvarez, Bispo de Matagalpa é preso pela polícia juntamente com mais oito pessoas, três das quais sacerdotes. Acusado de crime de conspiração “por atentar contra a integridade nacional” fica em regime de prisão domiciliária, até nova ordem.
A 2 de Julho de 2022, o Ministério do Interior da Nicarágua anunciava o encerramento de 101 organizações não-governamentais, entre as quais a Associação das Missionárias da Caridade, fundada pela Santa Madre Teresa de Calcutá. Estas 18 religiosas que se dedicavam aos cuidados dos mais pobres, dispunham de uma casa de repouso, uma creche para os filhos de mães sem recursos e uma casa para os
jovens abandonados. A priori, não é possível derrubar o actual Governo sandinista. E, contudo, esta ONG vem juntar-se às outras 758 ONG declaradas ilegais sob a presidência de Ortega.
Alguns dias antes, a 28 de Junho, a emissora de televisão Telecable retirou da sua rede os canais TV Merced e Canal San José, operados respectivamente pelas Dioceses de Matagalpa e Estelí. O canal 51, da Conferência Episcopal, e que de alguma forma representava a Igreja ao nível da televisão, já tinha sido silenciado no dia 21 de Maio. A 12 de Março de 2022, a Nicarágua expulsava, sem aviso prévio, o Núncio Apostólico D. Waldemar Stanislaw Sommertag. Sinal também do conflito
Álvarez Lagos, Bispo de Matagalpa, nas ruínas das instalações da Cáritas incendiadas pelos apoiantes de Daniel Ortega.
entre Igreja e Governo, foi a decisão, inédita, do Bispo de Matagalpa, D. Rolando Álvarez – que é também administrador apostólico de Estelí –, de iniciar, a 19 de Maio, uma greve de fome em protesto contra o assédio policial de que dizia estar a ser vítima a Igreja na Nicarágua e pedia respeito pela liberdade de culto.
Prisões, expulsões, profanações de igrejas, torturas… A lista aumenta todos os dias, desde que o guerrilheiro Daniel Ortega concorreu ao seu 4º mandato, em Novembro de 2021. O homem de 75 anos, que já tinha governado o país entre 1985 e 1990, foi reeleito depois de ter reduzido ao silêncio toda a oposição. Em conjunto com a sua mulher, Rosario Murillo, vice-presidente desde 2017, não hesita em eliminar todos aqueles que se colocam no seu caminho, a Igreja Católica incluída.
Esta hostilidade contra a Igreja aumentou de maneira considerável desde as manifestações pacíficas dos Nicaraguenses contra a corrupção, em Abril de 2018. Para além das acções directas de repressão contra membros individuais do clero, há também a proibição de procissões nas ruas, a interrupção de celebrações
religiosas, a intimidação dos fiéis por destacamentos policiais nas imediações das igrejas e a ameaça a proprietários de meios de transporte da perda do seu veículo se estes colaborarem no transporte de fiéis em actividades religiosas.
Oração
Pelo Bispo de Matagalpa, D. Rolando Álvarez, e pela sua libertação, e a de todos os presos políticos na Nicarágua, nós Te pedimos Senhor.
Na altura das violentas repressões, que causaram mais de 355 mortos, centenas de desaparecidos e 150.000 refugiados, as igrejas tinham aberto as portas para cuidar dos feridos e consolar os entes queridos dos cidadãos assassinados ou raptados. Em consequência, Ortega chamou “golpistas” aos bispos. Como é óbvio, testemunha um padre que prefere manter o anonimato: “Não se pode ficar de braços cruzados quando as pessoas irrompem pela igreja porque as querem matar!” E acrescenta: “As nossas igrejas tornaram-se abrigos e não centros de planeamento de oposição, como o Governo quer fazer querer.”
Após estes acontecimentos, as hostilidades contra a Igreja, que eram apenas esporádicas, tornaram-se recorrentes. Todos estes casos vêm reforçar os dados do relatório ‘Nicarágua: Igreja perseguida?’, de Martha Patrícia Molina Montenegro, membro do Observatório para a transparência e a luta contra a corrupção. O documento reporta o período compreendido entre 2018 e 2022 e permite perceber que a Igreja Católica sofreu 396 ataques,
profanações e perseguições ao clero neste país. Entre os incidentes mais graves está o incêndio criminoso na Catedral de Manágua, em 31 de Julho de 2020, Os números apresentados neste relatório mostram que 37% da hostilidade reportada tem como alvo específico padres, bispos, membros de congregações religiosas, seminaristas e leigos. Cerca de 19% dos incidentes são profanações de locais de culto. Houve também um elevado número, cerca de 17%, de agressões, destruição, fogo posto, bloqueio de serviços básicos e, entre outros, invasão de propriedade privada.
O trabalho de Martha Molina permite fazer um retrato pormenorizado do estado a que chegou a Nicarágua face ao abuso sistemático de direitos humanos. “Hoje, estudantes, camponeses, médicos, professores, padres, religiosas, seminaristas, jornalistas, advogados, leigos da Igreja Católica e defensores dos direitos humanos são criminalizados pelo sistema de justiça do país e, como consequência, à data da publicação deste estudo, há 2194 prisioneiros políticos e milhares de cidadãos forçados ao exílio.”
Por todo o clero da Nicarágua, para que se mantenham fiéis e ao lado do povo da Nicarágua, nós Te pedimos Senhor, nós Te pedimos Senhor.
No dia 10 de Janeiro de 2023, houve uma audiência preliminar e a principal conclusão foi que D. Rolando Álvarez iria mesmo ser julgado. O Bispo teria de responder
Momento de oração durante as manifestações pacíficas de Abril de 2018 violentamente reprimidas pelo Governo.
pela acusação de “conspiração” contra a integridade nacional e de “propagação de falsas notícias”, através das tecnologias de informação e comunicação “em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense”.
A 12 de Fevereiro, o Papa Francisco manifestou-se triste e preocupado com a condenação a 26 anos de prisão do Bispo de Matagalpa, na Nicarágua, sentença que foi conhecida na sexta-feira, 10 de Fevereiro. No dia anterior, D. Rolando Álvarez recusou ser exilado, como o regime de Daniel Ortega pretendia. E por isso ficará na prisão até 2049.
A condenação do Bispo de Matagalpa foi conhecida no dia 10 de Fevereiro, apenas um dia depois de mais de duas centenas de presos, entre os quais vários sacerdotes e seminaristas, acusados de “conspiração”, terem sido deportados para os Estados Unidos. O Bispo de Matagalpa fazia parte dessa lista de pessoas a exilar, mas terá recusado abandonar o país e foi julgado logo no dia seguinte, apesar de o seu julgamento estar agendado apenas para dia 15 de Fevereiro. Foi antecipado o julgamento e a condenação.
Ao todo, foram expulsos do país 222 presos que o regime de Manágua considerou também como “traidores da pátria”, e que estariam a “minar a independência, soberania e autodeterminação do povo”, incitando “à violência, ao terrorismo e à desestabilização económica”.
Duas semanas após D. Rolando Álvarez ter sido condenado a 26 anos de prisão, o regime de Manágua voltou a atacar a Igreja Católica, desta vez proibindo procissões na rua e apenas as permitindo dentro do espaço das igrejas durante a Quaresma e Semana Santa.
Este clima de forte hostilidade não fica por aqui. Segundo informações obtidas pela Fundação AIS, o Governo tem estado a advertir e a prender os padres que mencionam o Bispo de Matagalpa nas suas celebrações.
No passado dia 3 de Março, no relatório apresentado ao Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra, pela secretária-geral adjunta da ONU, Ilze Brands Kehris, é denunciada a degradação “dos direitos humanos na Nicarágua” desde Dezembro de 2022, havendo uma referência explícita à situação do Bispo de Matagalpa e administrador apostólico da Diocese de Estelí, D. Rolando Álvarez. O prelado, afirmou Brands Kehris, foi “acusado de traição à pátria, destituído da sua nacionalidade nicaraguense e privado de direitos políticos para toda a vida”. A responsável das Nações Unidas diz ainda que a sentença contra o Bispo foi proferida “sem julgamento prévio”, e refere diversas outras situações de arbitrariedade, como a deportação, a 9 de Fevereiro, de 222 pessoas; a condenação, à revelia, a 15 de Fevereiro, de mais 94
indivíduos também por “traição à pátria”; e, entre muitos outros casos, um que inclui também “um padre nicaraguense proibido de regressar ao seu país”.”
Pela Igreja na Nicarágua e para que a comunidade cristã se sinta fortalecida na sua fé apesar de todas as dificuldades actuais, nós Te pedimos Senhor.
Desde então, as medidas repressivas contra a Igreja têm continuado. A mais recente é o encerramento forçado de duas universidades católicas, a de São João Paulo II e a Autónoma Cristã da Nicarágua. Além disso, o Governo de Manágua decidiu fechar a Fundação Mariana de combate ao Cancro e dois escritórios da Cáritas, a da Nicarágua e a diocesana de Jinotega.
Mal se soube de mais esta atitude contra a comunidade católica, D. Silvio José Báez, Bispo Auxiliar de Manágua e que vive exilado nos Estados Unidos desde 2019, escreveu nas redes sociais que “a ditadura da Nicarágua proibiu as estações da Via Sacra nas ruas”, mas “o que não poderão impedir é que o Crucificado revele a Sua vitória em cada acto de solidariedade, em cada luta pela verdade e pela justiça e em cada esforço para defender a dignidade das pessoas”.
Entretanto alguns fiéis contactados pela Fundação AIS – mas que não podem ser identificados por questões de segurança – dizem que há padres cujos sermões nas Missas “estão a ser gravados”, que “ninguém pode pedir publicamente a
libertação do Bispo Álvarez”, e que “os Católicos têm medo que os seus padres e bispos possam ser presos e deportados”.
Este clima de perseguição tem afectado também as congregações religiosas. O caso mais recente é o das Trapistas e de um grupo de religiosas de Porto Rico, que decidiram também deixar o país devido à pressão das autoridades. As religiosas da Congregação das Irmãs Trapistas da Nicarágua informaram no dia 1 de Março, na sua página oficial no Facebook, que deixavam “voluntariamente o país”, rumo ao Panamá, mas que permanecerão “sempre unidas na oração, na amizade e no amor que o Senhor nos deu nestes 22 anos”. Estas religiosas entraram assim na longa lista das vítimas das medidas repressivas tomadas pelo Governo de Daniel Ortega contra a Igreja Católica.
No passado dia 17 de Março, o Mons. Marcel Diouf, encarregado de negócios da Nunciatura em Manágua, deixou a Nicarágua, e mudou-se para a Costa Rica. O encerramento da Sede Diplomática do Vaticano fora pedido pelo Governo nicaraguense sete dias antes, a 10 de Março, na sequência de declarações do Papa Francisco a um ‘site’ argentino. Nessa entrevista, o Santo Padre fala do “desequilíbrio da pessoa que lidera” a Nicarágua, referindo-se a Daniel Ortega e descreve o país como sendo uma “ditadura grosseira”, comparando-a à tirania soviética de 1917 e à de Hitler, em 1935
O Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos (CENIDH) denunciou também a repressão do Governo de Daniel Ortega e disse que, este ano, sem as procissões, a Semana Santa ficou “incompleta,
mutilada…” e que tudo isto representa uma “flagrante violação da liberdade de consciência, religião e expressão”. E acrescenta ainda: “O regime de Daniel Ortega quer destruir o mais sagrado e solene do povo: a sua fé cristã e as suas tradições”.
A dia 3 de Abril, a ONU aprovou por mais dois anos a extensão do mandato dos peritos internacionais que estão a investigar a situação de direitos humanos na Nicarágua. Este mandato chegava agora ao fim e era necessária a votação de uma resolução para prolongar esse trabalho.
O futuro é, portanto, sombrio para este pequeno país da América Central. Todavia, a Igreja sabe que é vencedora: “Para além das ameaças dos que odeiam a Igreja, há uma mão poderosa que a guia e a protege”, lembra D. Silvio José Báez, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Manágua. “A mão de Jesus que sustém a Igreja é mais forte do que as calúnias e as perseguições de que esta é alvo. Não tenhamos medo. Estamos em boas mãos.”
Pelos dirigentes na Nicarágua, para que saibam respeitar os direitos da liberdade de consciência, religião e expressão dos Nicaraguenses, nós Te pedimos Senhor.
“Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz.” Com estas palavras que escutamos no Evangelho deste Domingo, e que em cada Eucaristia nós repetimos, Jesus transmite aos discípulos o que tem para lhes dar. Parece uma coisa só, mas trata-se, na verdade, de duas coisas distintas: “deixo-vos a paz” e “dou-vos a minha paz”. Jesus deixa-nos a paz, isto é, mobiliza-nos para a paz, investe-nos a todos como artífices da paz. A paz que o nosso mundo tanto precisa nesta hora, depois da dura tempestade que a pandemia representou, e em parte ainda representa, e diante do cruel e inaceitável espectáculo da guerra. Durante a pandemia repetiu-se tantas vezes que o mundo tinha de sair melhor depois desta experiência e, afinal, o pesadelo não só continua mas parece que ainda se agrava. Jesus deixa-nos a paz, mas não nos deixa uma paz instantânea, pronta a servir. Deixa-nos a paz como projecto, a paz como tarefa confiada às nossas mãos. Por exemplo, em relação à crise pandémica, deixa-nos com a responsabilidade de perguntar: “Como é que esta dor nos pode ser útil? Como é que a crise se pode tornar uma oportunidade para redescobrir coisas e valores de que precisamos?” De facto, é necessário tirar lições profundas, em vez de enxotar depressa demais esta experiência para debaixo do tapete. Mais do
que escapismo, precisamos de resiliência e de audácia profética para relançar a vida comum, a partir de alicerces justos, a partir da ideia de fraternidade, construindo um mundo onde o homem não seja lobo dos outros homens. (…)
O que significa, hoje, receber a paz como tarefa? É fundamental, queridos irmãs e irmãos, que cada um acolha esta pergunta no seu coração.(…)
Rezamos hoje pelas vítimas da guerra. Confiamos ao Senhor Santo Cristo dos Milagres o que está a acontecer na martirizada Ucrânia. Que Ele nos ajude, como sociedade e como indivíduos, a sentir que a paz depende de nós e começa nas nossas mãos. Ele deixou-nos a paz como caminho, um caminho feito de pequenos passos, de gestos quotidianos, de escolhas concretas. A paz é, de facto, como se diz na Encíclica Fratelli tutti, um artesanato, um trabalho humilde, humano, escondido, que avança pacientemente, ponto por ponto, mas só esse artesanato devolve ao mundo a esperança.
Ao mesmo tempo que Jesus nos apresenta a paz como tarefa, Ele também afirma, “dou-vos a minha paz”. Que paz é esta?
É uma paz que, naturalmente, não se opõe à primeira mas que a leva mais longe. De facto, a primeira paz nasce do respeito
pelo outro, brota da concertação, progride no diálogo e na tolerância, cimenta-se nos acordos de interajuda, instaura-se na gestação de pequenos e grandes equilíbrios. Isso é já extraordinário, e todos podemos dizer que pelo menos em parte isso já é a nossa tarefa, isso já nos ocupa. Mas hoje, queridos irmãs e irmãos, Jesus segreda ao nosso coração, “Tu podes ainda ir mais longe. Tu podes ainda ir mais longe.”
O Senhor Santo Cristo é o Ecce Homo, isto é, é o Homem Filho de Deus que Se apresenta como critério para uma humanidade renovada. É verdade, já fazemos alguma coisa, mas não sempre. Já damos muito de nós próprios, mas ainda não nos damos por inteiro e sem reserva. Já vivemos algumas dimensões do Evangelho, mas continuamos ainda longe de outras. Carregamos Jesus num trono, e isso é belo, mas Ele ainda não reina completamente nos nossos corações. Por isso, Jesus diz-nos “tu podes ainda ir mais longe” e acrescenta “a minha paz não vo-la dou como a dá o mundo”. A paz de Jesus é uma paz que nasce do amor, que nasce dessa oferta radical de si, dessa entrega oblativa, dessa forma de santidade, que é, no concreto, deixarmo-nos contagiar, moldar, encharcar, configurar e inspirar pelo amor. Podemos ser pessoas correctas, e isso é bom. Podemos ser pessoas de bem, e isso já é tanto. Mas, aos olhos de Jesus, ainda é insuficiente. Ele espera de cada um de nós ainda mais.
Coloquemos os olhos na Sua imagem sagrada que veneramos e perguntemos, “Que trazes ao Teu pescoço, Senhor?” E Ele responde-me, “Não sabes? Estas cordas são o sinal daquelas e daqueles que assumem que são eles que têm de ser, não os
outros, que por amor aceitam a condenação à volta do próprio pescoço, em vez de a colocar no pescoço de outros, daquelas e daqueles que aceitam sofrer por aquilo que amam.” E continuemos, “Que trazes à cabeça, Senhor Santo Cristo?” E Ele responde-nos, “Não te equivoques com o ouro e as pedras preciosas. A minha e a tua são coroas de espinhos, que é a coroa daqueles que renunciam a toda a lógica do poder pelo poder e querem para si o papel de servos, de servidores, e ambicionam, não o primeiro, mas o último lugar, aquele que jamais lhe será tirado.” E perguntemos ainda, “Senhor, porque Te cobriram com um manto?” E Ele responde-nos, “Não repares no manto com que, primeiro ironicamente e agora devotamente, Me cobriram. Repara antes na minha nudez posta a descoberto. A nudez de quem se faz pobre pequeno, a nudez de quem descobre a felicidade no despojamento e no serviço, e a própria glória no esvaziamento de si. Não te escandalizes comigo, mas também não te iludas. Não há outra maneira de amar se não através da nudez.” E, por fim, “Senhor, que feridas são essas que transportas?” E Ele responde-nos, “Aproxima de Mim o teu ouvido e eu te explicarei. A vida não é o que tu pensas. A vida não se mede pelo triunfo e pela força. A vida é como a Eucaristia: só quando se estilhaça por amor, só quando se estilhaça por amor se torna fonte de paz e pão para muitas fomes. As feridas são, por isso, a minha e a tua vida dada, a minha e a tua vida entregue por amor. Estás disposto a fazer o mesmo da tua vida?”
“Dou-vos a minha paz” diz-nos hoje Jesus. Queridos irmãos e irmãs, que significa para nós amar esta imagem de Cristo? Queremos
nós a paz que Ele nos dá? Na Exortação
Apostólica Gaudete et Exsultate, sobre a chamada à santidade no mundo actual, o Papa Francisco escrevia, “O Senhor pede tudo. O Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos a uma vida medíocre, superficial e indecisa.” “Para um cristão,” diz o Papa “não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade”. Mas ao falar de santidade, o Papa não pensa apenas nas vidas heróicas que aos nossos olhos tantas vezes nos parecem inalcançáveis. Fala dos santos da porta ao lado, de uma santidade do quotidiano, feita da configuração com Cristo, na família, na profissão, entre os amigos, no nosso mundo mais próximo, na contemplação e no silêncio da nossa interioridade. O segredo é sempre seguir Jesus e Ele não Se cansa de repetir a cada um de nós, “Tu podes. Tu podes receber a minha paz e viver à minha maneira. O teu coração pode encher-se da minha paz. Tu podes aprender a ver-Me em todas as coisas.”
Caminhemos juntos na unidade, caminhemos juntos na comunhão, tornemo-nos uma Igreja mais próxima do Evangelho, uma Igreja que se faz serviço incondicional de amor, uma Igreja inclusiva, uma Igreja que espera por todos, uma Igreja em saída da auto-referencialidade e que vai ao encontro não só daqueles que já acreditam, daqueles que já fazem parte do rebanho, mas anuncia Cristo nas periferias existenciais, sociais e culturais, aceitando ser hoje esse hospital de campanha que ajuda a reconstruir, ajuda a refazer a
No Livro do Apocalipse, e com isso termino, há uma imagem talvez inesperada, mas que dá que pensar. Está-se a descrever a Nova Jerusalém, que desce do Céu, e diz-se o seguinte: “Na cidade não vi nenhum templo” e também “A cidade não precisa da luz do sol nem da lua” Que cidade estranha esta, pensamos nós. Uma cidade sem igrejas e sem a luz do astro rei. Mas o autor do Livro Sagrado explica essa estranheza assim, “porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro”, “porque a glória de Deus a ilumina e a sua lâmpada é o Cordeiro.” A sua lâmpada é Cristo.
Queridos irmãs e irmãos, queridos peregrinos e romeiros do Senhor Santo Cristo, que a celebração do Senhor Santo Cristo nos dê esta compreensão profunda, exacta e vital de que o nosso templo, a nossa amarra, a nossa lua e o nosso sol são Cristo e que Cristo é a nossa vida em todos os momentos, em todas as estações. Ele é a nossa arte de viver e de construir a paz. Que Maria Santíssima, aqui venerada com os belos títulos Senhora da Esperança e Senhora da Paz, ensinando-nos o caminho para o seu Filho, nos faça sentir filhos, filhinhos, que com confiança se sabem alojados no seu colo materno, e na eterna e salvífica mão de Deus, como pedia o grande poeta Antero de Quental, recordado nesta praça, com aqueles versos que não esquecemos porque são uma das mais belas orações da cultura portuguesa: “Como criança, em lôbrega jornada, que a mãe leva ao colo agasalhada. E atravessa, sorrindo vagamente, selvas, mares, areias do deserto… na mão de Deus eternamente!”
“Apareceu no Céu (…) uma mulher revestida de sol”: atesta o vidente de Patmos no Apocalipse (12, 1), anotando ainda que ela “estava para ser mãe”. Depois ouvimos, no Evangelho, Jesus dizer ao discípulo: “Eis a tua Mãe” (Jo 19, 26-27). Temos Mãe! Uma “Senhora tão bonita”: comentavam entre si os videntes de Fátima a caminho de casa, naquele abençoado dia 13 de Maio de há 100 anos atrás. E, à noite, a Jacinta não se conteve e desvendou o segredo à mãe: “Hoje vi Nossa Senhora”. Tinham visto a Mãe do Céu. Pela esteira que seguiam os seus olhos, se alongou o olhar de muitos, mas… estes não A viram. A Virgem Mãe não veio aqui, para que A víssemos; para isso teremos a eternidade inteira, naturalmente se formos para o Céu.
Mas Ela, antevendo e advertindo-nos para o risco do Inferno onde leva a vida – tantas vezes proposta e imposta – sem Deus e profanando Deus nas suas criaturas, veio lembrar-nos a Luz de Deus que nos habita e cobre, pois, como ouvíamos na Primeira Leitura, “o filho foi levado para junto de Deus” (Ap 12, 5). E, no dizer de Lúcia, os três privilegiados ficavam dentro da Luz de Deus que irradiava de Nossa Senhora. Envolvia-os no manto de Luz que Deus Lhe dera. No crer e sentir de muitos peregrinos, se não mesmo de todos, Fátima é sobretudo este manto de Luz que nos cobre, aqui como em qualquer outro lugar da Terra quando nos refugiamos sob a proteção da Virgem Mãe para Lhe pedir, como ensina a Salve Rainha, “mostrai-nos Jesus”. Queridos peregrinos, temos Mãe, temos Mãe! Agarrados a Ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em Jesus, pois, como ouvíamos na Segunda Leitura, “aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo” (Rm 5, 17). Quando Jesus subiu ao Céu, levou para junto do Pai celeste a humanidade – a nossa humanidade – que tinha assumido no seio da Virgem Mãe, e nunca mais a largará. Como uma âncora, fundeemos a nossa
esperança nessa humanidade colocada nos Céus à direita do Pai (cf. Ef 2, 6). Seja esta esperança a alavanca da vida de todos nós! Uma esperança que nos sustente sempre, até ao último respiro.
Com esta esperança, nos congregamos aqui para agradecer as bênçãos sem conta que o Céu concedeu nestes 100 anos, passados sob o referido manto de Luz que Nossa Senhora, a partir deste esperançoso Portugal, estendeu sobre os quatro cantos da Terra. Como exemplo, temos diante dos olhos São Francisco Marto e Santa Jacinta, a quem a Virgem Maria introduziu no mar imenso da Luz de Deus e aí os levou a adorá-l’O. Daqui lhes vinha a força para superar contrariedades e sofrimentos. A presença divina tornou-se constante nas suas vidas, como se manifesta claramente na súplica instante pelos pecadores e no desejo permanente de estar junto a “Jesus Escondido” no Sacrário.
Nas suas Memórias (III, n. 6), a Irmã Lúcia dá a palavra à Jacinta que beneficiara duma visão: “Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos cheios de gente, a chorar com fome, e não tem nada para comer? E o Santo Padre numa Igreja, diante do Imaculado Coração de Maria, a rezar? E tanta gente a rezar com ele?” Irmãos e irmãs, obrigado por me acompanhardes! Não podia deixar de vir aqui venerar a Virgem Mãe e confiar-lhe os seus filhos e filhas. Sob o seu manto, não se perdem; dos seus braços, virá a esperança e a paz que necessitam e que suplico para todos os meus irmãos no Baptismo e em humanidade, de modo especial para os doentes e pessoas com deficiência, os presos e desempregados, os pobres e abandonados. Queridos irmãos, rezamos a Deus com a esperança de que nos escutem os homens; e dirigimo-nos aos homens com a certeza de que nos vale Deus.
Pois Ele criou-nos como uma esperança para os outros, uma esperança real e realizável segundo o estado de vida de cada um. Ao “pedir” e “exigir” o cumprimento dos nossos deveres de estado (carta da Irmã Lúcia, 28/II/1943), o Céu desencadeia aqui uma verdadeira mobilização geral contra esta indiferença que nos gela o coração e agrava a miopia do olhar. Não queiramos ser uma esperança abortada! A vida só pode sobreviver graças à generosidade de outra vida. “Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (Jo 12, 24): disse e fez o Senhor, que sempre nos precede. Quando passamos através dalguma cruz, Ele já passou antes. Assim, não subimos à cruz para encontrar Jesus; mas foi Ele que Se humilhou e desceu até à cruz para nos encontrar a nós e, em nós, vencer as trevas do mal e trazer-nos para a Luz.
Sob a protecção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor.
Maryamu Joseph
(16 anos)
Testemunhos de vítimas de perseguição e violência
Hádois meses, Maryamu Joseph escapou do Boko Haram após nove anos de detenção. Juntamente com 21 pessoas, ela foi raptada em 2014, aos 7 anos de idade, quando o grupo terrorista atacou a sua comunidade de Bazza e a levou para um acampamento. Dois dos seus irmãos foram mais tarde levados para o mesmo campo, onde um foi morto e o outro permanece em cativeiro.
Como descreveria aquilo por que passou?
Nove anos a viver na escravidão! Nove anos de tortura! Nove anos de agonia! Sofremos tanto às mãos daquelas pessoas impiedosas e sem coração. Durante nove anos assistimos ao derramamento do sangue inocente dos meus companheiros cristãos, mortos por pessoas que não valorizam a vida. Assassinaram sem remorsos, como se fosse uma coisa normal. Estes nove anos desperdiçados na floresta de Sambisa não podem ser esquecidos de um momento para o outro. As palavras não podem fazer justiça ao que eu passei.
O Boko Haram atacou a minha comunidade em Fevereiro de 2013. Depois de uma matança que provocou inúmeros mortos, levaram 22 de nós para uma floresta densa e caminhámos durante 22 dias antes de chegarmos ao nosso destino. Colocaram os cristãos em jaulas, como animais. A primeira coisa que eles fizeram foi converter-nos à força ao Islão. Mudaram o meu nome para Aisha, um nome muçulmano, e avisaram-nos para não rezarmos como cristãos, ou seríamos mortos. Quando fiz 10 anos, eles queriam casar-me com um dos seus patrões, mas eu recusei. Como castigo, trancaram-me numa gaiola durante um ano inteiro. Traziam comida uma vez por dia e empurravam-na por baixo da porta sem nunca abrirem a gaiola. Em Novembro de 2019, capturaram dois dos meus irmãos e trouxeram-nos para o acampamento. Só Deus sabe como eu me senti quando os vi. Estava cheia de raiva intensa, apeteceu-me pegar numa catana e massacrá-los um a um. Mesmo diante dos meus olhos, eles pegaram num dos meus irmãos e mataram-no. Cortaram-lhe a cabeça, depois as mãos, as pernas e o estômago. Trataram o corpo do meu irmão tal como uma galinha antes de ser cozinhada. Fiquei destroçada. Perguntei a mim própria: “Quem será o próximo?” Uns dias depois comecei a ter pesadelos, comecei a alucinar. Via pessoas e ouvia vozes que nem sequer conheço. Por vezes, pessoas armadas aproximavam-se de mim, para me magoarem. Quando eu gritava, sentia uma mão no meu ombro e um dos meus companheiros dizia: “Acalma-te! Respira! Vais ficar bem.” Era então que percebia que era apenas um sonho.
Foi mantida em cativeiro durante nove anos.
A 8 de Julho de 2022, por volta da 1h da manhã, o acampamento estava calmo e todos estavam a dormir, excepto os meus companheiros de cabana e eu. No início, fiquei confusa se deveria ficar por causa da minha irmã mais nova, que estava noutra cabana, mas achei que assim poderia passar o resto da minha vida naquele acampamento, por isso tinha de partir, custasse o que custasse. Saímos do acampamento pela calada e corremos pela floresta densa. Continuámos enquanto as nossas pernas aguentaram, durante dois dias, até chegarmos finalmente a Maiduguri, a 10 de Julho de 2022. Quando chegámos, desmaiei, e quando acordei estava nos braços de um bom samaritano. Ele deu-nos água e comida para recuperarmos as nossas forças e mais tarde vim para o acampamento dirigido pela Igreja.
A primeira coisa que eles fizeram foi rezar por mim e encorajar-me a voltar à minha fé. Estou feliz por regressar ao Cristianismo. Desde que regressei a Maiduguri, a dor tem diminuído. Espero que, com o tempo, Deus me ajude a superar a minha amargura e a abraçar a paz, embora não veja isso acontecer tão cedo. Continuo a sentir a dor
a ecoar nos meus ouvidos. Continuo a ter pesadelos, embora não tão maus como dantes. Graças ao Centro de Trauma já não tenho alucinações.
O que aprendeu no Centro de Trauma?
Quando cheguei a Maiduguri, antes de iniciar o meu processo de cura, não suportava os homens! Não conseguia olhá-los nos olhos. Tinha nojo deles! Agora, graças ao meu processo de cura, aprendi a deixar de lado o ódio. Creio ter aprendido a adaptar-me ao mundo exterior e a falar com as pessoas. Começo a relacionar-me com os meus conselheiros de uma forma muito amigável, e não de uma forma agressiva como no início do meu processo de cura. Em termos de aptidões de trabalho, quero aprender a fazer belos vestidos, sapatos e malas.
O seu sofrimento aproximou-a de Deus?
O que eu passei afastou-me de Deus. É tão difícil regressar a Deus. Acho difícil confiar n’Ele. Estou a tentar dizer a mim mesma que Ele ainda é Deus, mas não está a entrar. Senti-me abandonada por Deus por causa do que passei. Ele dizem que Deus é todo-poderoso e que não é injusto. Então, porque é que não me ajudou quando eu mais precisei d’Ele?
Será que tudo isto foi um desafio para a sua fé?
Sim, mas está a melhorar a cada dia que passa. Voltar ao Cristianismo após nove anos de prática do Islamismo envolve muito trabalho árduo. No início parece quase impossível. A minha mente ainda está pesada, cheia de raiva, amargura e angústia. A dor vai e vem. Num minuto estou feliz, no minuto seguinte a tristeza volta.
Acha que consegue perdoar aqueles que a magoaram e os seus entes queridos?
Perdoar aqueles seres sem coração? Acho que não consigo perdoar. Preciso de tempo para digerir tudo o que me aconteceu e depois talvez, apenas talvez, possamos então falar de perdão. Mas hoje não, não sou capaz de os perdoar.
Quais são as suas esperanças para o futuro?
De momento, não penso nisso. Só quero voltar a ser eu. Quero ser libertada da dor e da angústia que estou a sentir. Mas em breve gostaria de ter uma educação, de estudar, aprender a fazer amigos, a falar e a expressar-me em Inglês. Gostaria de estudar direito para defender os indefesos. Apelo a qualquer pessoa tocada por Deus que me ajude. A minha vida não está completa e verdadeiramente segura, tenho de deixar este ambiente e começar de novo. Ficaria mais feliz se pudesse obter uma bolsa de estudo para ir estudar. Estou apenas a pensar em voz alta, mas ficaria super entusiasmada se o meu desejo me fosse concedido.
O Núncio Apostólico destaca, na primeira visita ao país, o papel da rádio católica local, apoiada pela Fundação AIS. D. Stanislaw Sommertag, antigo embaixador da Santa Sé na Nicarágua, foi nomeado pelo Papa como Núncio da Guiné-Bissau, entre outros países, onde esteve de visita em Março para apresentar as suas credenciais. Durante a curta estadia, destacou a importância da Rádio Sol Mansi, que é apoiada pela Fundação AIS, “como instrumento de paz e de diálogo”.
O Vaticano encerra, em Março, a embaixada em Manágua, em mais um sinal de ruptura com Governo de Daniel Ortega. O fecho da sede diplomática foi pedido pelas autoridades de Manágua que há um ano já tinham expulsado o Núncio Apostólico.
Inquietação
Sofrimento
Semanas depois da passagem do ciclone Freddy por Moçambique, que ocorreu em Março, é imenso ainda o rasto de destruição e pelo menos 67 mortos, 50 mil deslocados e mais de 350 mil pessoas afectadas. O Bispo de Quelimane, uma das zonas mais atingidas pelas chuvas e ventos fortes, descreveu, à Fundação AIS, um cenário dramático com pessoas a morrer de fome e também de cólera. E pediu ajuda. Todas as igrejas da diocese ficaram sem telhados, ficaram parcialmente destruídas…
Moses Sense Simukonde, um jovem missionário zambiano de apenas 34 anos de idade, foi alvejado no dia 29 de Março, na capital do Burquina Fasso, por militares que, alegadamente, tentavam impedir um indivíduo de ultrapassar uma zona de segurança. O jovem missionário viajava num veículo que passava na ocasião pelo local e terá sido alvejado, embora se desconheçam ainda pormenores do que terá acontecido.
Família consegue libertar jovem cristã, de 14 anos, raptada e forçada a converter-se ao Islão. A jovem vivia em Lahore, uma das principais cidades do Paquistão, quando foi raptada por cinco homens a 19 de Setembro do ano passado. Violentada, forçada a converter-se ao Islão e a casar com um dos raptores, a jovem acabou por ser libertada depois dos seus pais terem alertado a polícia e do caso ter chegado ao tribunal. Mas os problemas não acabaram aí e a família tem vindo a ser ameaçada…
A Beatificação da Ir. Maria de Coppi, assassinada em Moçambique, “tem pernas para andar”, diz o Bispo de Tete. A religiosa italiana Maria de Coppi, foi morta a tiro em Setembro do ano passado por terroristas que atacaram a missão de Chipene. O Bispo de Tete, D. Diamantino Antunes, conhecedor profundo deste caso, assegura, à Fundação AIS, que o heroísmo desta irmã vai ser um dia “reconhecido pela Igreja…”
Verdes são as folhas, perfumadas as flores e ricas, muito ricas as cores de Maio. Enchem os nossos jardins e as bancas do mercado.
Pelos caminhos, pelos carreiros e ao longo dos vales, os nossos olhos despertam para o clarão intenso da luz do Sol e fixam-se na transparência azul do céu.
Ó Virgem Santa Maria, sê o nosso auxílio neste início de ano, para que os horizontes terrenos não gerem o pecado e não nos ponham ao lado do Tentador.
Verde é a erva, mas olha que ela vai crescer e murchar. Os botões que agora riem, brilhando, daqui a pouco vê-los-ás perecer.
E dirás certamente: a alegria do Sol nunca se ocultará nas trevas; é verdade, mas as alegrias
da terra têm um fim e os pecados uma pesada condenação.
Ó Virgem Mãe, só tu nunca murchas; as estrelas cingem-te a fronte, a pálida Lua está a teus pés, e tu estás no seu trono para sempre.
O prado verde, tão verde o bosque cintilante e a abóbada majestosa do céu dão-nos a imagem de uma morada mais delicada e de uma casa mais esplendorosa.
É aquele paraíso de paz sem fim e aquela Árvore alta, cheia de flores e frutos, a mais doce e sempre a melhor.
Ó Maria, pura e bela, és a rainha de Maio;
as nossas grinaldas de flores, que nunca murcharão coroam os teus cabelos