Sementes de Esperança | Junho de 2023

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Sementes de Esperança

Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

Junho 2023

Intenção de Oração do Santo Padre

EVANGELIZAÇÃO

JUNHO: Pela abolição da tortura

Rezemos para que a comunidade internacional se empenhe concretamente na abolição da tortura, garantindo apoio às vítimas e aos seus familiares.

30 de Junho a 2 de Julho – Casa de Nossa Senhora do Carmo (R. da Rainha Santa Isabel, 360, Fátima)

O custo do retiro será de 100€ por pessoa, com alojamento e refeições incluídas.

O retiro será orientado pelo Padre Jacinto Farias, scj, assistente espiritual da Fundação AIS, com o tema “Permanecei firmes na fé”.

Data limite de inscrição e pagamento: 5 de Junho

NOTA: A reserva do quarto só fica garantida aquando do pagamento do mesmo.

Agradecemos que entre em contacto com a Fundação AIS para fazer a sua inscrição através do telefone 21 7544000 (de 2ª a 6ª feira, das 9h00 às 18h00) ou por e-mail para catarina.martins@fundacao-ais.pt uma vez que o retiro tem vagas limitadas.

SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

PROPRIEDADE

DIRECTORA REDACÇÃO E EDIÇÃO

Fundação AIS

Catarina Martins de Bettencourt

Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Alexandra Ferreira

L’Église dans le monde – AIS França © AIS; © www.bradi-barth.org

Santíssimo Sacramento

11 edições anuais

Gráfica Artipol

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FONTE FOTOS CAPA PERIODICIDADE IMPRESSÃO PAGINAÇÃO DEPÓSITO LEGAL ISSN
JSDesign 352561
Isento de registo na ERC ao abrigo do Dec. Reg. 8/99 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A
12, 2182-3928
A Fundação AIS vai organizar um retiro de silêncio para os seus benfeitores e amigos.

O Mês do Coração

Omês de Junho é tradicionalmente o mês dos santos populares, que entre nós são especialmente Santo António, São João e São Pedro. Mas não devemos esquecer que, mais profundamente, a Igreja celebra em Junho três grandes solenidades: a Santíssima Trindade, o Corpo de Deus e o Coração de Jesus. Destas é sobretudo a festa do Corpo de Deus que mais manifestações públicas tem, sobretudo a grande procissão que se realiza em todas as cidades do mundo católico e em Portugal, nomeadamente. Em tempos não muito distantes estavam representadas nesta procissão do Corpo de Deus as grandes instituições do Estado e da Sociedade, o que agora não acontece, o que, de muitos pontos de vista, representa um empobrecimento, como se a sociedade e o Estado estivessem encerrados em si mesmos, sem abertura para o Futuro absoluto da divina Transcendência. Mesmo assim, são as festas cristãs, e as religiosas em geral, que mantêm

janelas abertas que permitem que as nossas sociedades não se asfixiem, por falta de ar, do oxigénio espiritual que alimenta as nossas vidas.

Na solenidade do Coração de Jesus, em que antigamente, ainda na minha adolescência, se realizava uma majestosa procissão que percorria as principais artérias das nossas cidades, a Igreja cumpria o pedido feito a Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), de fazer uma grande festa na sexta-feira da semana seguinte ao Corpo de Deus, como forma de corresponder ao desabafo do Coração de Jesus, que assim Se lamentava do desprezo e da ingratidão das almas ao amor do Seu divino coração: “Eis o coração que tanto amou aos homens e que da maior parte deles e sobretudo das almas consagradas, só recebe desprezo e indiferença”. Tem origem nesta experiência mística de Santa Margarida Maria a devoção das primeiras sextas-feiras, em nove meses seguidos, que consiste em três

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Reflectir

exercícios espirituais, a confissão sacramental, a comunhão eucarística e a adoração, com esta promessa, entre outras, mas que considero a mais importante: “a quem fizer estas primeiras sextas-feiras, durante nove meses seguidos, Eu prometo estar com ele na hora da morte”. O que aqui está presente é duma enorme transcendência, que pode traduzir-se deste modo: quem me fizer companhia uma vez por mês, na primeira sexta-feira, apenas com a intenção de estar comigo, reparando por aqueles que nunca me visitam nem se interessam por Mim (uma referência ao ateísmo e secularização modernos), Eu estarei com ele na hora da sua morte. Não devemos pensar na hora da morte como um momento distante e o mais distante possível; mas porque a hora da morte pode ser qualquer uma, pois não sabemos nem o dia nem a hora, então a promessa de Ele estar com o devoto na “hora da morte” concretiza-se em todas as horas, que podem ser, como são muitas vezes, horas de indizível solidão, que só Deus pode preencher, para quem deixar que Ele entre no

Por isso, o mês de Junho é especialmente dedicado ao Coração de Jesus, a expressão que traduz, de uma forma sensível, afectiva, o mistério da Incarnação e da Redenção, concentrado no sinal do lado, aberto pela lança do soldado, segundo a narrativa do Evangelho de S. João. A devoção ao Coração de Jesus, nas primeiras sextas-feiras de cada mês, é um exercício espiritual no qual o devoto fixa o seu olhar cordial no mistério do Lado aberto de Jesus na Cruz, correspondendo ao dito da Escritura: “Hão-de olhar para aquele que transpassaram” (Jo 19, 37).

O Coração de Jesus, mesmo na sua representação icónica, é a porta aberta que nos permite o acesso ao Coração de Deus e ao mesmo tempo a porta de acesso ao coração do homem, essa instância onde o homem é o que é.

Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS

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seu
coração.

Superfície: 27,750 km2

População: 11,4 milhões

Religiões:

Cristãos: 94,1%

Agnósticos: 2,9%

Espíritas: 2,7%

Outras: 0,3%

Língua: Crioulo haitiano, francês

HAITI O CAOS

País em derrocada, antiga colónia francesa, outrora chamada “Pérola das Antilhas”, vive um clima de terror alimentado por gangues armados que agora têm, também, como alvo a Igreja.

A situação actual do Haiti está pior que no tempo da ditadura dos Duvalier (1975-1986), afirmam alguns habitantes, enquanto em todo o país continuam as manifestações antigovernamentais. Com o Estado em colapso, o mais pobre da região da América Latina e Caraíbas, a antiga colónia francesa vê as crises sucederem-se uma após outra. A pandemia da COVID-19, o assassinato do presidente Jovenel Moïse e depois o terremoto de 14 de Agosto aumentaram ainda mais neste país a pobreza que em

2021 atingia 52,3 % da população, de acordo com os dados do Banco Mundial.

A situação agravou-se a partir de Junho, com ataques contra as igrejas e as instituições. “A Igreja do Haiti tornou-se, por sua vez, o alvo da violência”, conta à Fundação AIS a Ir. Marcella Catozza, missionária franciscana, no Haiti desde 2005. O cargo de presidente está vazio desde o assassinato de Jovenel Moïse e, na ausência duma data para novas eleições, a luta para governar o país e

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Pacífico Atlântico • Brasil Costa Rica • Panamá • • República Dominicana • Porto Rico •Nicarágua •Honduras • México • EUA Equador • • Cuba Guatemala • • Colômbia • Venezuela • Guiana

O país assemelha-se a um campo de ruínas. a falta de liderança desencadearam manifestações, o caos e uma violência extrema nas ruas (ver caixa).

A Igreja não escapa aos ataques dos gangues armados, afirma a missionária italiana. A 25 de Junho de 2022, a religiosa italiana Luisa dell’Orto, Irmãzinha do Evangelho de Charles de Foucauld que estava no Haiti há 20 anos, foi assassinada. “Era para mim mais do que uma amiga. Ainda não sabemos porque foi morta. No início, disseram-nos que tinha sido um assalto, mas estou convencida que alguém pagou para que fosse morta na rua…”

Duas semanas mais tarde, a catedral da capital haitiana foi atacada. “Lançaram fogo à catedral e tentaram matar os bombeiros que vinham apagar as chamas. Depois, com um camião, tentaram destruir as paredes da catedral”, explica

a religiosa da Fraternidade Missionária

Franciscana, que dirige um orfanato numa das favelas mais perigosas do mundo: “Há cerca de um mês, lançaram fogo à capela da nossa missão. Ficou tudo queimado. Já não temos altar nem bancos… não há mais nada.” A Ir. Marcella é a única religiosa da missão. As condições em que vive são extremamente difíceis. O seu bairro nasceu há 20 anos, por cima dum aterro da capital, e hoje mais de 100 mil pessoas vivem aí em barracas de zinco, sem água nem electricidade. “De há um ano para cá que não posso sair para ir à Missa de manhã, porque os grupos cercam o bairro e ninguém pode entrar nem sair. É muito doloroso”, lamenta-se a religiosa.

As agressões e ataques a edifícios religiosos e organizações religiosas ocorreram não só na capital, mas também

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noutras partes do país. “Em Port-dePaix ou em Caios e noutras cidades do país, os gangues atacaram os edifícios da Cáritas e levaram tudo o que lá havia, toda a ajuda humanitária recebida.”

A Ir. Marcella está de visita à Itália, desde Agosto, quando os ataques se intensificaram. Esta situação impede-a de voltar ao Haiti e enche-a de tristeza: “Pediram-me para não regressar, porque mais valia esperar um pouco. Entre outros motivos porque a Ir. Luisa tinha sido assassinada. Não querem mais uma irmã mártir neste país. É por isso que continuo à espera. É muito difícil para uma missionária estar fora do seu país de missão.” Suplica que se reze pelo Haiti: “Peço orações pelas crianças que estão a meu cargo. São 150. Tendo em conta a situação actual no Haiti, não há, aparentemente, futuro para estas crianças, mas peçamos

a Deus que o bem que preparou para elas se possa concretizar.”

Oração

Para que o mundo não esqueça o povo do Haiti e surja um futuro de esperança para o seu país, nós Te pedimos Senhor.

A INDIFERENÇA DO MUNDO

“A luta é demasiado horrível. A cidade está nas mãos dos gangues. As pessoas têm fome, as escolas estão fechadas. Não há trabalho. Os hospitais estão encerrados, porque já não têm gasolina nem diesel para os geradores. É impossível viver nestas condições”, insiste a Ir. Marcella. As pessoas, sobretudo na Europa, observam com muito medo o que se passa na Ucrânia e na Rússia. No entanto, não devemos esquecer as outras populações do mundo, como a do Haiti, que viveram em situação de guerra não simplesmente durante alguns anos, mas toda a vida.

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Irmã Marcella, franciscana
Haiti
A juventude da sua população é a única riqueza do Haiti.

A ORAÇÃO DE SÃO THOMAS

MORE,

recomendada pelo Papa Francisco em “Gaudete et Exsultate”

“Dai-me, Senhor, uma boa digestão e também qualquer coisa para digerir.

Dai-me a saúde do corpo, com o bom humor necessário para a conservar.

Dai-me, Senhor, uma alma santa que saiba aproveitar o que é bom e puro, e não se assuste à vista do pecado, mas encontre a forma de colocar as coisas de novo em ordem.

Dai-me uma alma que não conheça o tédio, as murmurações, os suspiros e os lamentos, e não permitais que sofra excessivamente por essa realidade tão dominadora que se chama “eu”.

Dai-me, Senhor, o sentido do humor.

Dai-me a graça de entender os gracejos, para que conheça na vida um pouco de alegria e possa comunicá-la aos outros.

Assim seja.”

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SÃO

THOMAS MORE (LEIGO MÁRTIR) 22 DE JUNHO

Inglês, nascido em 1477, foi decapitado em Londres, por ordem de Henrique VIII pela sua fidelidade à Sé apostólica romana. Estudou na Universidade de Oxford. Era de carácter extremamente simpático. De honrada burguesia, filho de um juiz. Foi pajem do arcebispo de Cantuária. Pai de família, teve um filho e três filhas. Era jurista e amigo de Erasmo, que lhe dedicou a sua obra-prima: “O Elogio da loucura”. Foi nomeado chanceler do Reino.

Deixou várias obras escritas, versando sobre negócios civis e liberdade religiosa. A sua obra mais conhecida intitula-se “A Utopia” (vocábulo grego que significa: em parte nenhuma).

Opôs-se duramente ao divórcio de Henrique VIII, que desejava anular seu primeiro casamento a fim de casar-se com Ana Bolena. Recusou-se a comparecer aos cerimoniais de coroação da nova rainha. Por ordem do rei, foi preso e lançado na Torre de Londres. Na prisão escreveu Diálogo do Conforto nas Tribulações.

Mesmo condenado à morte, não perdeu o seu peculiar bom humor cristão, sua naturalidade e simplicidade. No dia da execução, pediu ajuda para subir ao cadafalso. E disse ao povo: “Morro leal a Deus e ao Rei, mas a Deus antes de tudo”. E abraçando o carrasco, disse: “Coragem, amigo, não tenhas medo! Mas como tenho o pescoço muito curto, atenção! Está nisso a tua honra!” E pediu para que não lhe estragasse a barba, porque ela, ao menos, não cometera nenhuma traição. Morreu no dia 6 de Julho de 1535. Foi beatificado em 1886 por Leão XIII e canonizado em 1935 por Pio XI.

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In https://evangelhoquotidiano.org

A EUCARISTIA CURA

“Recorda-te de todo esse caminho que o Senhor, teu Deus, te fez percorrer” (Dt 8, 2). Recorda-te: foi com este convite de Moisés que se abriu hoje a Palavra de Deus. Pouco depois Moisés reiterava: “Não te esqueças do Senhor, teu Deus” (8, 14). Foi-nos dada a Sagrada Escritura para vencermos o esquecimento de Deus. Como é importante tê-lo na memória, quando rezamos! Assim no-lo ensina um Salmo, que diz: “Tenho na memória os teus feitos, Senhor; lembro-me das tuas maravilhas” (77/76, 12). Incluindo as maravilhas e prodígios que o Senhor fez na nossa própria vida.

É essencial recordar o bem recebido: se o não conservamos na memória, tornamo-nos estranhos a nós mesmos, meros “passantes” pela existência; sem memória, desenraizamo-nos do terreno que nos alimenta e deixamo-nos levar como folhas pelo vento. Pelo contrário, fazer memória é amarrar-se aos laços mais fortes, sentir-se parte duma história, respirar com um povo. A memória não é uma coisa privada, mas o caminho que nos une a Deus e aos outros. Por isso, na Bíblia, a lembrança do Senhor deve ser transmitida de geração em geração, contada de pai para filho, como se diz neste texto estupendo: “Quando, amanhã, os teus filhos te perguntarem que regras, leis e preceitos são estes que

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Meditação

o Senhor, nosso Deus, vos impôs, dirás aos teus filhos: ‘Éramos escravos (…) [toda a história da escravidão] e, à nossa vista, o Senhor fez sinais e prodígios’ (Dt 6, 20-22). Tu comunicarás a memória ao teu filho.”

Aqui põe-se um problema: E se a corrente de transmissão das recordações se interromper? Depois, como se pode lembrar aquilo que só ouvimos, mas sem o ter experimentado? Deus sabe como isso é difícil, sabe como é frágil a nossa memória e realizou, em nosso favor, uma coisa inaudita: deixou-nos um memorial. Não nos deixou apenas palavras, porque é fácil esquecer o que se ouve. Não nos deixou só a Escritura, porque é fácil esquecer o que se lê. Não nos deixou apenas sinais, porque se pode esquecer também o que se vê. Deu-nos um Alimento, e é difícil esquecer um sabor. Deixou-nos um Pão em que está Ele, vivo e verdadeiro, com todo o sabor do seu amor. Ao recebê-Lo, podemos dizer: “É o Senhor! Ele lembra-Se de mim”. Foi por isso que Jesus nos pediu: “Fazei isto em memória de Mim” (1 Cor 11, 24). Fazei. A Eucaristia não é simples lembrança; é um facto: é a Páscoa do Senhor, que ressuscita para nós. Na Missa, temos diante de nós a morte e a ressurreição de Jesus. Fazei isto em memória de Mim: reuni-vos e, como comunidade, como povo, como família, celebrai a Eucaristia para vos lembrardes de Mim. Não podemos passar sem ela, é o memorial de Deus. E cura a nossa memória ferida.

Cura, antes de mais nada, a nossa memória órfã. Vivemos numa época de tanta orfandade. Cura a memória órfã. Muitos têm a memória lesada por faltas de afecto e dolorosas decepções, vindas de quem deveria ter dado amor e, em vez disso, tornou órfão o coração. Gostaríamos de voltar atrás e mudar o passado,

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mas não se pode. Deus, porém, pode curar estas feridas, introduzindo na nossa memória um amor maior: o d’Ele. A Eucaristia traz-nos o amor fiel do Pai, que cura a nossa orfandade. Dá-nos o amor de Jesus, que transformou um sepulcro, de ponto de chegada, em ponto de partida e da mesma maneira pode inverter as nossas vidas. Infunde-nos o amor do Espírito Santo, que consola, porque nunca nos deixa sozinhos e cura as feridas.

Com a Eucaristia, o Senhor cura também a nossa memória negativa, aquele negativismo que frequentemente se apodera do nosso coração. O Senhor cura esta memória negativa, que sempre faz vir ao de cima as coisas mal feitas e deixa-nos na cabeça a triste ideia de que não servimos para nada, que só cometemos erros, que nos fizeram “errados”. Jesus vem dizer-nos que não é assim. Ele é feliz quando está na nossa intimidade e, sempre que O recebemos, lembra-nos que somos preciosos: somos os convidados esperados para o seu banquete, os comensais que Ele deseja. E não só porque é generoso, mas porque Se enamorou verdadeiramente de nós: vê e ama a beleza e o bem que somos. O Senhor sabe que o mal e os pecados não são a nossa identidade; são doenças, infecções. E Ele vem curá-las com a Eucaristia, que contém os anticorpos para a nossa memória doente de negativismo. Com Jesus, podemos imunizar-nos contra a tristeza. Continuaremos a ter diante dos olhos as nossas quedas, as canseiras, os problemas de casa e do trabalho, os sonhos não realizados; mas o seu peso deixará de nos esmagar, porque, na profundidade de nós mesmos, temos Jesus que nos encoraja com o Seu amor. Aqui está a força da Eucaristia,

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que nos transforma em portadores de Deus: portadores de alegria, não de negativismo. Nós, que vamos à Missa, podemos perguntar-nos o que levamos ao mundo: as nossas tristezas, as nossas amarguras ou a alegria do Senhor? Fazemos a Comunhão e, depois, continuamos a reclamar, a criticar e a lamentar-nos? Mas isto não melhora coisa alguma, ao passo que a alegria do Senhor muda a vida.

Enfim a Eucaristia cura a nossa memória fechada. As feridas, que conservamos dentro, não criam problemas só a nós, mas também aos outros. Tornamnos medrosos e desconfiados: ao princípio, fechados; com o passar do tempo, cínicos e indiferentes. Levam-nos a reagir aos outros com insensibilidade e arrogância, iludindo-nos de que assim podemos controlar as situações; mas enganamo-nos! Só o amor cura o medo pela raiz, e liberta dos fechamentos que aprisionam. É assim que faz Jesus, vindo ter connosco com mansidão, na fragilidade desarmante da Hóstia; assim faz Jesus, Pão partido para romper a carapaça dos nossos egoísmos; assim faz Jesus, que Se dá para nos dizer que só abrindo-nos é que nos libertamos dos bloqueios interiores, das paralisias do coração. O Senhor, oferecendo-Se a nós tão simples como o pão, convida-nos também a não desperdiçar a vida, correndo atrás de mil coisas inúteis que criam dependências e deixam o vazio dentro. A Eucaristia apaga em nós a fome de coisas e acende o desejo de servir. Levanta-nos do nosso estilo cómodo e sedentário de vida, lembra-nos que não somos apenas boca a saciar, mas também as mãos d’Ele para saciar o próximo. Agora é urgente cuidar de quem tem fome de alimento e dignidade, de quem não trabalha e tem dificuldade em seguir para diante. E fazê-lo de modo concreto, como concreto é o Pão que Jesus nos dá. É precisa uma proximidade real; são necessárias verdadeiras correntes de solidariedade. Na Eucaristia, Jesus aproxima-Se de nós: não deixemos sozinho, quem vive ao pé de nós!

Queridos irmãos e irmãs, continuemos a celebrar o Memorial que cura a nossa memória (ao dizer aqui que cura a memória, recordemo-nos que é a memória do coração), este memorial é a Missa. É o tesouro que deve ocupar o primeiro lugar na Igreja e na vida. E, ao mesmo tempo, redescubramos a adoração, que continua em nós a acção da Missa. Faz-nos bem, cura-nos por dentro. Sobretudo agora, temos verdadeiramente necessidade dela.

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Papa Francisco, Santa Missa na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, 14 de Junho de 2020

BLESSING UKERTOR (20 anos)

NIGÉRIA, UMA FERIDA

OLHOS

Testemunhos de vítimas de perseguição e violência

A29 de Novembro de 2022, Blessing Ukertor, de 20 anos, sobreviveu a um ataque dos pastores Fulani à sua aldeia de Yeluwata. Os seus pais foram mortos no ataque, e Blessing ainda está no hospital a recuperar de ferimentos na mão e na perna. Ela falou com a Fundação AIS sobre o seu calvário.

O que é que lhe aconteceu?

O dia 29 de Novembro de 2022 foi um dia negro para mim e para a minha família. Quando acordei, o meu pai queria que fôssemos à quinta para colher inhame. Eu estava relutante, eu nunca queria ir para a quinta, por isso arranjei uma desculpa, dizendo que tinha de cozinhar para a família. Mas o meu pai insistiu,

15 Sementes de Esperança | Junho 2023
“EU SÓ QUERO FECHAR OS
E ACABAR COM ESTE PESADELO”
QUE SANGRA Destaque

dizendo que não iria demorar, uma vez que metade do trabalho tinha sido feito no dia anterior. De má vontade, eu fui.

Começámos a trabalhar e estávamos a acelerar o ritmo para terminarmos antes das 8h da manhã. Eu estava a limpar os arbustos da quinta, enquanto os outros estavam a escavar os inhames, quando ouvi a minha mãe gritar. Virei-me para ver o que se passava e percebemos que estávamos cercados por pastores Fulani. Eram seis. Um deles tinha uma arma na mão, os outros tinham catanas. Eu estava aterrorizada e disse para mim mesma: “É assim que toda a minha família vai desaparecer da face da terra.”

Eles estavam tão perto que não podíamos correr muito antes de sermos apanhados. Um dos homens pegou na sua catana e cortou a cabeça da minha mãe. O sangue dela salpicou-me a cara e eu gritei. Eu nunca tinha vivido nada assim. É algo que ouvimos nas notícias ou nos filmes. Eu vi alguém tirar a vida à minha mãe. Eu estava de pé ali mesmo, mas não pude fazer nada. O meu peito doeu, ficou tão pesado, como se fosse um pedregulho.

O meu pai fez-me sinal para correr enquanto ele os distraía. Deitei-me logo no chão para rastejar para longe. Mas quando me levantei, acreditando que tinha fugido, um dos Fulanis apontou-me uma arma e disse: “Pensas que és esperta, não é? Volta para trás ou eu acabo contigo, como a tua mãe”. Eu obedeci.

Pela primeira vez na minha vida, vi o meu pai desamparado e a chorar. Um dos homens, segurando uma catana e uma arma, perguntou ao meu pai: “O que é que preferes, morrer com arma ou catana?” O meu pai estava com medo de responder, então o mesmo pastor disse: “Eu dei-te uma escolha, mas abusaste dela por não dizeres nada. Descansa em paz.” Ao dizer isto, disparou contra o meu pai. O meu coração não podia aceitar este acto doentio. Ajoelhei-me e comecei a suplicar por misericórdia. Eles começaram a bater-me com uma catana na mão, na perna e na cabeça. Só consigo lembrar-me disto. Quando acordei, estava no hospital.

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Vai viver num acampamento para Deslocados Internos?

Depois do meu tratamento no hospital, irei para um acampamento.

Um sacerdote e membros da Igreja vieram visitar-me várias vezes. Rezaram por mim e trouxeram-me comida. A minha conta do hospital foi paga pela Cruz Vermelha, e a Igreja ajudou com o funeral dos meus pais. Estou grata.

Quais são as suas perspectivas para o futuro?

Não consigo dizer. A vida para mim não tem sentido. Quero apenas fechar os olhos, abri-los, e parar com este pesadelo. Quero ficar curada e ser independente. Anseio por justiça para Clement e Christiana Ukertor, os meus pais. Desejo esquecer a tortura e a humilhação por que passei. Mas viverei um dia de cada vez. Acima de tudo, desejo que estes ataques terminem, para podermos viver em paz uns com os outros, regressar às nossas casas e continuar com as nossas vidas.

Prevê um regresso à agricultura? Se sim, onde?

Nem pensar. A agricultura para ganhar dinheiro é boa, mas o dinheiro não traz de volta a vida. Eu quero ser capaz de gozar da liberdade e da paz de espírito.

A sua fé tem sido uma fonte de força para si?

Por um lado, estou zangada com Deus por não ter impedido esta tragédia. Mas por outro lado, Ele ainda é Deus e eu não posso contestá-l’O. Por isso, que o Seu nome seja louvado.

Pode imaginar perdoar os seus agressores?

Isto acabou de acontecer há algumas semanas. Ainda é muito recente. Da forma como me estou a sentir agora, talvez considerasse perdoá-los no futuro, mas este ataque deu origem a uma enorme sede de vingança! E envenenou o meu coração. Estou cansada de fugir. Estou pronta para enfrentar o meu medo.

17 Sementes de Esperança | Junho 2023 Destaque

FRANÇA

Após uma longa disputa judicial, o Conselho de Estado decidiu que a autarquia de Sables-d’Olonne tem de retirar a estátua do Arcanjo São Miguel que está colocada em frente à igreja local. Em causa está a presença de um símbolo religioso no espaço público, o que contraria a lei da laicidade…

NICARÁGUA

O Relatório da Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa revela um nível brutal de agressão à Igreja com mais de 520 ataques nos últimos cinco anos. Os dados compilados por Martha Molina são avassaladores: um bispo na prisão, 37 padres exilados, 32 religiosas expulsas do país, confisco de, pelo menos, 7 edifícios da Igreja, nomeadamente um convento, e encerramento de meios de comunicação católicos, rádios e televisão. No total foram 529 ataques, do regime liderado por Daniel Ortega, à Igreja desde Abril de 2018.

Dinamismo

Inquietação

Sofrimento

O Rei Carlos III, cuja cerimónia de coroação, no sábado, dia 6 de Maio, foi seguida em directo por milhões de pessoas em todo o mundo, tem alertado, ao longo da sua vida pública, para o drama dos Cristãos perseguidos. Defendendo intransigentemente a liberdade religiosa, tem tido também diversas manifestações de apreço e proximidade para com a Fundação AIS.

PORTUGAL

Durante o mês de Maio, a Fundação AIS desafiou os benfeitores Portugueses a rezarem o Terço pela paz no mundo. Todos os dias, a todas as horas, cumpriu-se uma grande jornada de oração em que todos tiveram os seus pensamentos virados para a Ucrânia, país em guerra desde Fevereiro do ano passado. “Nunca nos podemos resignar perante a violência”, disse Catarina Bettencourt, directora da Fundação AIS em Portugal, no arranque desta iniciativa.

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REINO UNIDO

EGIPTO SÍRIA

Os 21 mártires coptas assassinados por jihadistas numa praia da Líbia em 2015 vão ser incluídos no martirológico católico, como sinal também do diálogo ecuménico entre os Cristãos. A decisão foi anunciada pelo Papa Francisco durante um encontro com o chefe da Igreja Ortodoxa Copta.

Uma década depois de terem sido raptados, quando procuravam negociar a libertação de dois sacerdotes, os Arcebispos greco-ortodoxo Boulos Yazigi e siríaco-ortodoxo Gregorios Yohanna Ibrahim continuam desaparecidos, mas a comunidade cristã não os esquece. A data em que os dois prelados foram raptados, 22 de Abril, vai passar ser um “dia ecuménico” para lembrar todos os que foram raptados…

PAQUISTÃO

No Paquistão, as minorias religiosas estão seriamente desprotegidas e isso comprova-se com o problema, muito sério e delicado, dos raptos de jovens raparigas cristãs e hindus, duas das principais minorias religiosas do país. O Pe. Emmanuel Yousaf, responsável pela Comissão Católica de Justiça e Paz do Paquistão, denuncia esta situação e, em declarações à Fundação AIS, garante que a pressão sobre os Cristãos se faz sentir essencialmente por parte de elementos mais radicais da comunidade muçulmana nas províncias de Sindh e do Punjab.

SUDÃO

NIGÉRIA

No domingo, 14 de Maio, Leah Sharibu fez 20 anos. Pela sexta vez, esta jovem cristã passou o seu aniversário em cativeiro. Raptada pelo Boko Haram no dia 19 de Fevereiro de 2018, juntamente com cerca de uma centena de colegas da sua escola em Dapchi, Leah é hoje um símbolo da perseguição aos Cristãos na Nigéria, por ter recusado renunciar ao Cristianismo, como os terroristas exigiam. Todas as colegas foram libertadas menos ela.

A crise humanitária agrava-se a cada dia que passa, mas a Igreja permanece junto das populações. Calcula-se que cerca de 100 mil pessoas já abandonaram o Sudão e mais de 300 mil estão deslocadas dentro do próprio país, desde que eclodiram os combates, a 15 de Abril, entre as forças de dois generais rivais. A situação é muito inquietante, mas um missionário, contactado pela Fundação AIS Internacional, assegura que quer continuar por lá “até ao último minuto”, para não deixar ninguém para trás.

19 Sementes de Esperança | Junho 2023 Actualidade
A Igreja no Mundo

ORAÇÃO POR PORTUGAL

Senhor Pai santo, confiamos o nosso Portugal à Vossa misericórdia e protecção.

Vós sois a rocha sobre a qual a nossa nação se fundou.

Só Vós sois a fonte da verdade e do amor.

Reclamai esta terra para a Vossa glória e habitai no meio do Vosso povo. Enviai o Vosso Espírito e tocai os corações dos líderes da nossa nação.

Abri os seus corações ao grande valor da vida humana e às responsabilidades que acompanham a liberdade humana.

Relembrai o Vosso povo que a verdadeira felicidade está enraizada na procura e no cumprimento da Vossa vontade.

Por intercessão de Maria Imaculada, Padroeira da nossa terra, concedei-nos a coragem de levar o Evangelho do Vosso Filho Jesus a todos aqueles com quem convivemos e de o testemunhar com uma vida santa. Por Cristo Nosso Senhor. Ámen.

Rua Professor Orlando Ribeiro, 5 D, 1600-796 LISBOA Tel 217 544 000 | IBAN: PT50 0269 0109 0020 0029 1608 8 fundacao-ais@fundacao-ais.pt | www.fundacao-ais.pt

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