Encarte Inverno no CCB 2015

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inverno no ccb espetáculos

sala de leitura

museu coleção berardo

exposições

visitas guiadas

restauração

serviços educativos

eventos

jardins

ciclos literários

galeria comercial


Conversa com António Lamas, novo presidente do conselho de administração do CCB

«GOSTAVA QUE O CCB FOSSE PROTAGONISTA DE mais PARCERIAS.»

A sensação que se tem ao entrar no gabinete é de espaço. ­Sobretudo pela transparência das paredes de ­vidro, que convida o olhar a espraiar-se pela praça do Império, pelos Jerónimos, ­enfim pela zona monumental de ­Belém. O gabinete é o da presidência do CCB e é nele que tem lugar a conversa com António Lamas, o recentemente empossado presidente do conselho de administração. António Lamas inicia a conversa manifestando entusiasmo pela consagração como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO do cante alentejano: «O C ­ ante Alentejano mobiliza uma região inteira e o próprio país, com grande abertura à sociedade e uma forte vertente popular, o que corresponde aos critérios da própria UNESCO ao apreciar candidaturas a Património Imaterial da Humanidade. A candidatura, liderada por Serpa, foi muito bem organizada, discreta e conseguiu mobilizar o Alentejo todo: onde já existem mais de 150 grupos de cante. E existe gente nova que vai entrando. Eu sou um fã do cante alentejano e de Serpa.» Por estar no cargo há pouco tempo, reconhece não possuir «ainda saber na área da programação» para nela intervir de modo estruturado. Sabe também que um espetáculo de consagração deste acontecimento maior da cultura portuguesa «sai da rotina do CCB», mas insiste em que «tem de se fazer». E vai-se fazer, já no próximo dia 25 de janeiro. Esta primeira incursão do novo presidente na programação contém em si um sinal: o de que é preciso capacidade de resposta, em cima do acontecimento, a factos relevantes da vida cultural e artística nacional. Um outro sinal foi dado com a aprovação pelo conselho de administração da sua su-


gestão para que o CCB, de futuro, permaneça em atividade em agosto. Desde que «haja imaginação», a indisponibilidade dos auditórios, por questões de manutenção, não é impeditiva da continuação do funcionamento, sobretudo tendo em atenção ser essa a época do ano em que o turismo é mais intenso em Belém. Partindo do conhecimento privilegiado que tem das condições técnicas do Grande Auditório, já que esteve envolvido no processo da sua construção, António Lamas manifesta o desejo ambicioso de «fazer todo o possível para incluir a ópera na programação.» Conta então que o projeto inicial da sala «considerava apenas música sinfónica, mas (…) procurou-se incluir uma valência de ópera. Tal foi muito difícil, mas conseguiram-se o dinheiro e a solução arquitetónica.» É por isso que carrego essa memória da ópera.» As condições técnicas – além da acústica, «um ­palco feito para ópera e com equipamentos que permitem nova cenografia, mudanças rápidas de cenários, cenários com maior animação e dimensão, etc., tecnologias de palco únicas em Lisboa» – existem e estão prontas a funcionar, pois tem havido cuidado na sua manutenção. «A máquina está bem oleada», só é preciso pô-la a trabalhar…

Explica então que a ideia «não é mudar os desígnios e as funções de cada instituição, mas potenciar o recurso que são os muitos visitantes de Belém, para que haja mais receitas e haja valorização destas instituições e da zona». Em termos económicos não é só o aumento de receita – através da sinalização, da divulgação, da bilhética conjunta, etc. – mas também a partilha de serviços que todas estas instituições requerem – de pessoal, financeiros, de limpeza, de segurança, de manutenção, de conservação de infraestruturas, etc. –, num espaço limitado, num território bem estruturado”. Tomando como exemplo o caso da bilhética, pergunta-se António Lamas: «Como é que estas instituições nunca se sentaram para articular a venda de bilhetes? Porque não se vendem bilhetes para mais do que um dos lugares, com desconto?». E evoca o exemplo de Sintra, em que a estratégia «fez aumentar muito a receita global». Tem o cuidado de referir estar «a falar de re-

ceitas do turismo porque estas são um fator fundamental: este património dificilmente sobreviverá sem atenção a esse parâmetro e o turismo urbano tem crescido mais do que o das praias. A questão é conseguir que haja articulação entre as entidades que operam na zona». Ora, «o CCB tem valências, tem competências, tem um manancial de capacidades que pode oferecer à dinamização deste projeto e da zona. E isso motiva-me imenso. Até porque a experiência da Parques de Sintra, que eu gostaria de poder partilhar, indica que a gestão integrada de uma série de valores patrimoniais com interesse turístico é potenciadora de receitas: a Parques de Sintra passou de um passivo de 9 milhões de euros e 2 milhões de receitas, para um orçamento de 19 milhões de receitas e sem recorrer a qualquer subsídio do Orçamento de Estado; isto com menos de dois milhões de visitantes, enquanto aqui são quase cinco milhões!» O olhar final é “para dentro” e as palavras-chave são “revigorar” e “mobilizar”: «se eu pudesse agora dar uma mensagem à casa diria que é preciso mobilizar todos para revigorar a intervenção pública na zona, nos media e nos acontecimentos que aqui se passam, porque é isso que torna o CCB atrativo e gera receita.» É desse “círculo virtuoso”, como lhe chama, que resulta «que o CCB se inscreva na lista das entidades [potenciais clientes] que se perguntam: onde é que eu vou fazer o meu congresso, o meu encontro? E escolhem o CCB.» António Lamas é um homem determinado, tem um programa e gosta desta sua nova missão.•

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À objeção de que o espetáculo de ópera é muito caro, Lamas responde que procurará promovê-lo «não de uma forma isolada, mas em parceria com a Gulbenkian e com o S. Carlos, para se poder criar aqui uma pequena época operática. Óperas em parceria, em coprodução e com apoios financeiros especiais, até de fundos europeus. ­ Estou interessado em que estas três instituições se juntem para tirar partido do nosso palco de ópera moderno, o único em Portugal reunindo estas características.»

A ideia de que as instituições se juntem é peça fulcral do seu discurso: «eu gostava que o CCB fosse protagonista de mais parcerias e que o que produz possa circular no país.» Intenção que, em termos locais, envolve as entidades atuantes em toda a zona de Belém. “Escrevi uma vez um artigo sobre esta ideia, o qual foi discutido e esteve na base das conversas que tive aquando do convite que me foi feito para o CCB. Interessava-me muito presidir ao CCB, não só porque era quase uma coisa “astral”, pois tendo estado na sua origem, entrar 20 anos depois no Centro acabado foi um convite irresistível. No entanto achei que não podia aceitar sem pensar um pouco no futuro do CCB e desta zona, porque 20 e tal anos depois ela está quase na mesma.»


O CÍRCULO VIRTUOSO DO CCB

Para a programação do CCB contribuem as produções próprias, as coproduções entre o CCB e entidades exteriores e as produções externas. O encontro anual da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) é das produções externas que mais se compagina com a vocação do CCB, desde logo por se tratar de um acontecimento culturalmente relevante.

DR Posso adiantar que, no ranking de preços, o CCB está muito bem posicionado…

Sendo esta a segunda vez que o evento teve lugar no CCB, interessava sentar à conversa os responsáveis do CCB (Dalila Rodrigues (DR), administradora) e da empresa contratada pela FFMS para a produção executiva do evento, a Multilem (Pedro Castro (PC), administrador).

DR O CCB nunca perde a sua identidade e a sua dignidade, que são dois aspetos fundamentais enquanto palco para a realização dos eventos. No entanto existe essa imagem de que o CCB é caro, de o associar a uma certa arrogância, que torna difícil chegar cá; e não: é extremamente simples e facilitador.

A par de uma insuspeitada capacidade camaleónica do edifício, ressalta da conversa a conclusão de que é possível um círculo virtuoso, no qual a geração de receitas convive e é alimento de eventos culturais, tudo contribuindo para a notoriedade pública do CCB e simultaneamente para o estabelecimento do hábito de o frequentar. Dalila Rodrigues Gostava de ouvir o Pedro relativamente à capacidade de acolhimento do CCB e também àquilo que é menos bom, eventualmente com sugestões de melhoria.

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Pedro Castro Um dos principais requisitos dos eventos é que devem ser personalizados: as pessoas devem sentir um ambiente particular. À partida a utilização do CCB seria de grande dificuldade, porque é de pedra e é um edifício especial. Veio no entanto a revelar-se precisamente o contrário: molda-se completamente e conseguimos vestir a camisola do Presente no Futuro [título genérico dos encontros], porque nesses dias, por qualquer sítio que se ande sente-se o evento; é essa a principal vantagem do CCB. Poderá não ser fácil, poderá não ser barato, transformar o CCB...

PC Sim, mas refiro-me ao investimento feito na decoração, nos cenários para transformar e personalizar o espaço. Porque o CCB é uma construção de imensa qualidade, não se pode estar a furar aqui e acolá, fazer da maneira mais barata. O que é certo é que conseguimos transformar completamente o CCB.

PC Eu acho que sim. Connosco o que aconteceu foi que, quando o CCB percebeu que vínhamos acomodar-nos aqui e fazer um evento muito especial, preocupando-nos com a nobreza do edifício, tudo se tornou simples. Fizemos transformações profundas na parte da tenda [equipamento efémero, montado no espaço vazio para onde estão previstos os módulos quatro e cinco]. E também quanto a isso o CCB foi absolutamente extraordinário, porque nos deu o tempo de que precisávamos para fazer uma intervenção de fundo, e isso para nós é decisivo. Não tenho nada a dizer de mal do CCB, muitas vezes existe alguma rigidez na pedra…

cada um dos participantes exprimia a sua perspetiva da vida em liberdade, um dos oradores, o maestro Rui Massena, disse que preferia exprimir-se a tocar piano. Isto cerca de meia hora antes de começar a transmissão… Mas resolveu-se tudo, o piano apareceu, e isso foi um mérito da equipa do CCB. Eu não devia estar a dizer isto, mas noutro local diriam «ah, agora já não dá, devia ter pedido antes». E acho que por ser um sítio de cultura, o CCB consegue perceber que há coisas que nós não conseguimos prever… DR A programação e a produção do CCB são muito diversificadas, o que dá à equipa uma competência técnica muito rara. PC Mas também quanto à apropriação do espaço, este encontro tem uma característica especial: não são palestras a que as pessoas vêm e depois se vão embora. Há muita gente que não vai assistir à palestra: fica à conversa, sentado. Por isso criámos zonas de estar; não esqueçamos que se trata de um “encontro”. DR Existem muitos ambientes… Por exemplo, na última edição, a Sala Luís de Freitas Branco foi transformada num jardim… PC … com um coreto, e todo forrado a relva e… DR … e tinha o conforto de um espaço interior, com uma vista fantástica, mas era um jardim, com bancos e tudo.

DR A verdade é que a equipa é muito dedicada…

PC O tema era a procura da liberdade; que melhor sítio para se falar sobre isso do que num banco de jardim… E temos variadíssimos modelos de reunião que se adaptam às diferentes salas: o CCB tem tantas salas e com características tão diferentes que é possível criar quer ambientes mais intimistas quer mais formais.

PC Sente-se uma presença permanente. Lembro-me de algumas situações… uma vez, numa transmissão para a TVI em que

DR Nós, CCB, temos a ambição de fixar os grandes acontecimentos nacionais, como é o caso, que de algum modo reforçam a

DR São notas menos positivas… PC Temos conseguido ultrapassar todas essas situações. O resultado final é notável. Tem uma equipa também bastante flexível.


nossa própria programação, mas também outras tipologias, como congressos internacionais de psicologia, a APDC, etc. São eventos da maior relevância na vida do CCB, não só como geradores de receita mas também, e fundamentalmente, como mobilizadores de milhares de pessoas, que assim estabelecem um contacto connosco. O nosso interesse ultrapassa largamente a imediata função de gerar receita, porque os eventos nos permitem conquistar, alargar e fidelizar público. PC No caso dos encontros Presente no Futuro, as ligações em direto daqui, de quarto em quarto de hora, acabam também por dar notoriedade. Os debates ainda continuam a ir para o ar. O acontecimento foi acompanhado por um milhão e meio de pessoas. DR Obtemos notoriedade, público e receita. PC A vossa receita é sempre um aspeto negativo para o nosso cliente… [risos] DR Bom, mas repare: quando fui cumprimentar o representante da FFMS, o cliente final, tive ocasião de lhe lembrar que o pagamento feito vai depois ser traduzido em oferta cultural [risos] •

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Best of Fábrica das Artes

© ALÍPIO PADILHA

OS MELHORES ESPETÁCULOS PARA «TODAS AS INFÂNCIAS» 22 – 25 jan

12 – 15 mar

M/12

M/8

Isaac

Tropeçar

Espetáculo de teatro

Espetáculo de teatro

Pequeno AUDITÓRIO QUINTA-SEXTA 11H sábado 15H30 domingo 11H30

sala de ensaio QUINTA-SEXTA 11H sábado-domingo 11H30

Teatro Praga

30 – 31 jan M/16

Raízes da curiosidade

Tempo de Ciência e Arte

Teatro do Vestido

7 – 10 maI M/6

Cruzada das crianças Gato que Ladra Espetáculo de teatro

fundação champalimaud

sala de ensaio QUINTA-SEXTA 11H sábado 15H30 domingo 11H30

30 – 31 jan

30 mai – 1 juN

M/4

M/5

Diáspora: agora vou de fugida

Projeto Secreto

Concerto

Espetáculo de teatro físico

Pequeno AUDITÓRIO SEXTA 11H sábado 15H30 domingo 11H30

praça CCB sábado-domingo 11H30 segunda 11H30 E 14H30

Conferência

Sete Lágrimas

Música pra Ti Miniconcertos M/6

31 jan

José Galissa corá

28 FEV

Edu Miranda

bandolim, cavaquinho, viola

Carlos Lopes acordeão

14 MAR

Rodrigo Viterbo didgeridoo

sala eugénio de andrade 18H

26 FEV – 1 mar M/6

Às Cavalitas do Tempo Étienne Lamaison Sylvain Peker Espetáculo de música sala de ensaio QUINTA-SEXTA 11H sábado-domingo 11H30

Episódio 1

Radar 360º

4 – 7 juN M/3

Canções Nómadas

Carla Galvão, Fernando Mota Rui Rebelo Espetáculo de música sala de ensaio quinta-sexta 11H sábado 15H30 domingo 11H30

12 – 15 NOV M/8

Sopa Nuvem

Companhia Caótica Thriller gastronómico sala de ensaio quinta-sexta 11H sábado 15H30 domingo 11H30

A conversa com Madalena Wallenstein, coordenadora do projeto Fábrica das Artes (FA), justifica-se por 2015 se anunciar como um ano síntese programática, traduzida pelo título “Best of Fábrica das Artes”. O inglês tornou-se uma língua de tal modo universal que já todos sabemos que best of é a seleção do que de melhor se fez – na Fábrica das Artes, neste caso. Com seis anos acabados de fazer, o projeto FA entrou na “idade escolar”, abrindo o ano letivo com o ciclo de transversalidades “Raízes da Curiosidade – Tempo de Ciência e Arte”, uma parceria do CCB com a Fundação Champalimaud. Deste ciclo, diz-nos Wallenstein, «estão neste momento a decorrer oficinas, que se desmultiplicaram numa série de vias, mas que têm uma instalação comum. Fizemos um espetáculo, criado por colaboração entre artistas e neurocientistas, em três sessões, sempre esgotadas, na sala de ensaios do nosso espaço.» O acontecimento foi pretexto para um documentário da realizadora Cláudia Varejão, que fará a abertura da conferência final, na Fundação Champalimaud. «Todo este processo dará origem a um catálogo, com textos de todos os participantes», à semelhança do que foi feito em 2013 para o projeto “Se não havia nada, como é que surgiu alguma coisa?”. Assumido como «uma plataforma de criação, ou um laboratório de experimentação que lança desafios aos artistas, mantendo públicos escolares, durante a semana, e familiares, durante o fim de semana», o projeto FA reveste também «uma vertente formativa para adultos que estejam interessados no território que cruza arte e educação». É neste projeto que se encaixa o “Best of Fábrica das Artes”, nascido «de uma reconsideração crítica da experiência de criação e de programação artística para a infância destes seis anos e da perplexidade que daí decorre quanto ao que esta é, ou deve ser,

para esse público. Queremos suspender, em 2015, a criação e ter a oportunidade para revisitar estes objetos artísticos, para, com todos os que fazem acontecer a nossa programação, questionar e refletir sobre as evidências e as consensualidades implícitas e silenciosas, quanto às potencialidades educativas da arte, que, no turbilhão da atividade, nos “esquecemos” de confrontar». Esta reflexão – «a desenvolver com os artistas, com públicos e com a nossa própria equipa» – terá como “mote” as perguntas: «o que é afinal um objeto artístico para a infância? Será que há arte para a infância?» Na reflexão com os artistas, «constituiremos mesas de trabalho, projeto a projeto, em que nos vamos sentar para fazer perguntas»; no trabalho com os públicos «vamos poder isolar e seguir – antes de virem, enquanto vêm e depois de virem – alguns públicos (escolar, adolescentes, alguns familiares que são recorrentes aqui) que a tal se prestem. E vamos naturalmente aproveitar para trabalhar com a nossa equipa, que faz uma ação de mediação entre o universo artístico e os públicos.» Para memória futura, «produziremos um documentário deste processo durante o ano, para depois o podermos partilhar, fazendo uma conferência em que possamos devolver respostas ou pelo menos abrir reflexão.» É neste contexto que a programação da Fábrica das Artes propõe a revisitação a algumas das criações de maior impacto encomendadas a criadores portugueses, «escolhendo do mapa destes seis anos de produção os projetos de maior impacto e que levassem a uma identificação mais clara daquilo de que andámos à procura neste período.» Façamos uma enumeração:

a da cadela Rita, intérprete inesperada, no papel do cordeiro – para «estabelecer uma relação afetiva entre a Rita e o público.» O espetáculo de música Às Cavalitas do Vento «é um projeto com crianças-músicos que fala das quatro estações, com um universo plástico lindíssimo, que cria um efeito de espelho entre miúdos do palco, escolhidos nas escolas de música de Lisboa, e miúdos da plateia.» Tropeçar é um espetáculo que fala «do ponto de vista das crianças sobre a infância propriamente dita. É uma experiência artística para “todas as infâncias”, que brinca justamente com o que é infância e com o que é um objeto artístico para a infância.» O espetáculo de teatro Cruzada das Crianças «nasce de um pequeno ciclo feito em 2013 em homenagem ao 25 de Abril, e debruça-se sobre o papel social que a infância pode assumir. Por trás corre uma teoria de que há um desaparecimento da infância desde que surgiram os grandes media, que retiraram à criança um determinado tempo de proteção e que a transformaram em ator social. O que este espetáculo faz é dar voz a crianças, que também têm um papel social, que também querem ser ouvidas.» Respondendo à «enorme procura de objetos artísticos para a primeira infância pelas famílias» o espetáculo de música Canções Nómadas insere-se numa procura «de formatos possíveis, que sejam menos didáticos, que sejam mais experiência artística do que uma coisa explicativa.» •

Em Isaac, o Teatro Praga interroga-se sobre como fazer um espetáculo sobre os direitos dos animais, sem cair no paternalismo, sem aborrecer. Conta com três ajudas preciosas – a de cada espetador, no papel de Isaac, a de Pedro Penim, no papel de pai, e Oficinas consulte a programação de oficinas da fábrica das artes para vários públicos em www.ccb.pt


GARAGEM SUL

VALORIZAR E DIVULGAR A ARQUITETURA A Arquitetura foi desde o início da atividade do CCB uma área de programação importante. Numa primeira fase, no seu Centro de Exposições, até 2006, o CCB realizou sucessivas exposições sobre arquitetura em que estiveram representados vários dos mais eminentes arquitetos contemporâneos portugueses (entre outros, Fernando Távora, Eduardo Souto de Moura, Álvaro Siza, Nuno Teotónio Pereira, Aires Mateus) e alguns estrangeiros cuja arquitetura foi legitimada pela história (Alvar Aalto, Frank Lloyd Wright, Mies Van der Rohe), além do contemporâneo Santiago Calatrava. As exposições e as conferências, os debates e as edições que suscitaram, em muito contribuíram para valorizar e divulgar a Arquitetura. A partir de 2006, com a afetação do Centro de Exposições do CCB ao Museu Coleção Berardo, a realização de exposições de arquitetura no CCB ficou menorizada na programação. No final de 2012, porém, o CCB abriu ao público uma galeria de exposições dedicada em exclusivo à apresentação de conteúdos deste universo disciplinar, a Garagem Sul, um espaço até então subaproveitado. até 28 fev 10H – 18H terça a domingo

Carlo Scarpa – Túmulo Brion Guido Guidi Joaquim Moreno e Paula Pinto curador até 28 fev 10H – 18H terça a domingo

Homeland | News from Portugal Pedro Campos Costa curador Serviço Educativo

Visita guiada Visita-jogo Oficinas informações ⁄ marcações garagemsul.servicoeducativo@ccb.pt 213 612 614 ⁄ 5

Nos primeiros dois anos desta nova fase, realizaram-se as seguintes exposições: “O Ser Urbano nos Caminhos de Nuno Portas”, em 2012 (também apresentada pelo CCB no IAB do Rio de Janeiro, de junho a agosto de 2013); “Lisbon Ground”, “ARX arquivo ⁄ archive” e “Sou Fujimoto: Futurospective Architecture” e “África – Visões do Gabinete de Urbanização Colonial”, em 2013. Lê-se no Programa de Atividades do CCB para 2014 que «o enorme sucesso público das atividades realizadas na Garagem Sul (…) confirma o acerto da decisão de reconversão do parque de estacionamento em galeria de exposições, na área da Arquitetura, assim como a continuidade e o desenvolvimento dos critérios da sua programação.»

Foi com estes pressupostos que tiveram lugar, em 2014, as exposições “Tanto Mar – Portugueses fora de Portugal” e “Rafael Moneo. Uma reflexão teórica a partir da profissão – Materiais de arquivo (1961-2013)” e que se inauguraram no passado dia 9 as exposições “Guido Guidi / Carlo Scarpa – Túmulo Brion” e “Homeland – News from Portugal”. É destas duas últimas exposições, visitáveis até dia 28 de fevereiro, que importa aqui brevemente falar. “Guido Guidi / Carlo Scarpa – Túmulo Brion” tem a curadoria de Joaquim Moreno e Paula Pinto e baseia-se na constatação de que, sendo «o tempo eterno da modernidade o tempo das imagens, a imagem fotográfica é o centro imóvel do vórtice do novo, o mesmo novo que dessacralizou a vida eterna e engendrou a materialização física de lugares do nada para sempre, os cemitérios modernos. (…) Guido Guidi fotografou obsessivamente um destes campos de imagens eternas, o que Carlo Scarpa desenhou para a família Brion. Realizadas em diferentes estações, em diversas horas do dia, de diversos ângulos, logo com contrastes de luz também muito variados, com muitas das fotos anotadas com reflexões, registo de ângulos e de enquadramentos feitos pelo autor, «as várias campanhas fotográficas que Guido Guidi tem conduzido desde 1996 no cemitério Brion desvendam a temporalidade cíclica deste campo sagrado, levando a pensar numa inversão de vetores, hipotizando que o projeto aprendeu das imagens.» O visitante constatará que «nesta exposição, as imagens de Guidi são o modo de expor, de colocar em diálogo a arquitetura de Scarpa.» O Túmulo Brion foi projetado e construído por Carlo Scarpa entre 1969 e 1978. Foi objeto de uma muito numerosa quantidade de desenhos, uns ilustrativos do projeto, muitos outros desenhados em obra, sobre cópias, na intenção de explicar pormenores construtivos aos encarregados da obra e para ilustrar a colaboração pedida aos vários artesãos. São um manancial de aprendizagem para quem se interessa por arquitetura.

É precisamente o diálogo entre formas artísticas, fotografia e arquitetura neste caso, que confere riqueza e originalidade à exposição. Muito diferente da exposição com a qual partilha o espaço, “Homeland | News from Portugal” pretende resumir os exercícios de reflexão e de trabalho prático desenvolvidos ao longo dos seis meses da Bienal de Veneza, terminada em novembro de 2014. Pedro Campos Costa, curador de “Homeland”, dizia, no editorial da 1.ª edição do jornal, que «o projeto não é só uma reflexão crítica, para ser impressa numa exposição como um catálogo – pretende ser muito mais do que isso»: criar algo de concreto, construtivo e crítico em Portugal. “Homeland” conjuga assim duas dinâmicas complementares: retrospetiva crítica e trabalho projetual, teoria e prática. Partindo das temáticas de “Homeland”, seis equipas de arquitetos trabalharam sobre o território nacional e desenvolveram propostas de intervenção em seis cidades do país, em estreita colaboração com as autarquias locais e com os moradores. Os projetos abordam seis tipologias habitacionais (coletiva, unifamiliar, informal, reabilitação, rural, temporária) através de seis processos urbanísticos. A exposição dá a conhecer estes projetos, atualmente em curso em diferentes estádios e com potencial de continuidade nas cidades de Matosinhos, Porto, Lisboa, Setúbal e Évora •


Paul van nevel artista associado da temporada 2015

Paul Van Nevel e a natureza cosmopolita do CCB Cumprindo a sua missão de serviço público, o CCB tem vindo a responder ao evidente florescimento das atividades criativa e cultural portuguesas, nas últimas décadas. Não espanta por isso que, até agora, a escolha de artistas associados de temporada tenha recaído sobre portugueses (Maria João Pires, Artur Pizarro, Rui Horta, Teatro Praga, para ­cit­ar alguns). Porém, como grande centro cultural europeu que é, o CCB não pode perder de vista a natureza cosmopolita que faz parte do seu “ADN”. É nessa perspetiva que se situa o convite dirigido a Paul Van Nevel, criador (nos idos de 1971, tinha ele 25 anos), diretor musical e alma mater do Huelgas Ensemble (HE). Entre os fatores que justificam a escolha está, desde logo, a especial atenção que a música antiga sempre mereceu por parte do CCB; o HE é um dos mais notáveis agrupamentos europeus na interpretação da música polifónica da Idade Média e do Renascimento, interpretação essa que repousa sobre um conhecimento aprofundado da estética do discurso musical e sobre a prática específica do canto dessas épocas. O grupo surpreende sempre e com a apresentação de programas originais de obras inéditas ou pouco conhecidas, que o “detetive musical” Paul Van Nevel descobre através das múltiplas pesquisas que faz regularmente nas bibliotecas musicais da Europa. Tendo estudado a teoria da retórica, analisado a teoria dos temperamentos e lido as grandes obras literárias em voga na época de vida dos compositores do seu repertório, Nevel situa a música no modo de pensar que estruturava o saber na época em que foi escrita. Na mencionada pesquisa entronca outra razão da escolha: é que Nevel investigou também a música portuguesa antiga e tem sido um dos grandes divulgadores dos compositores portugueses dessas épocas, integrando no repertório do HE várias das suas obras; é assim que entre as cerca de sessenta gravações do grupo encontramos em

CD, designadamente, Canções, Vilancicos e Motetes Portugueses, dos séculos xvi e xVii. Algumas gravações do HE foram mesmo feitas em Portugal, sendo conhecida a paixão de Nevel por Lisboa e por Portugal, ele que passa no nosso país grandes temporadas. Desengane-se quem do perfil traçado deduza que Nevel é um erudito distante das coisas e dos interesses da gente comum; pelo contrário, esta figura tão extraordinária quanto eivada de simplicidade, é um amante das coisas boas da vida e, pasme-se, do fado. Mas talvez esse amor não seja motivo de espanto, se pensarmos que advém sobretudo da forma como o fado é cantado, o que tem nomeadamente a ver com o recurso a melismas (entoação de várias notas numa mesma sílaba), também característico da música polifónica. O HE participará em três grandes concertos: um, de programa ainda não estabelecido, nos Dias da Música em Belém; o Concerto de Reis; e a ópera Ruggiero, de Francesca Caccini. Já a 9 de janeiro, teremos o Concerto de Reis, intitulado «Mirabile Mysterium», com composições que vão do período medieval até ao século xix. Trata-se de um programa muito variado, com vozes e instrumentos, num concerto que se divide em quatro partes: “O Nascimento em Belém”, “O Crime de Herodes”, “A Viagem dos Três Reis, Belchior, Gaspar e Baltazar” e “Epílogo”. Poderá estranhar-se que o programa do concerto inclua música de épocas em que o HE não é especializado, interpretando neste concerto obras que vão até ao século xix. É que Nevel, homem com uma personalidade muito característica e interessante, gosta fundamentalmente de música, o que inclui a contemporânea (por exemplo gosta da música de Emmanuel Nunes, tendo-se deslocado a Lisboa, em 2013, para assistir a um concerto em que a Orquestra Metropolitana de Lisboa tocou uma obra desse compositor contemporâneo português). Sendo a par de musicólogo também um historiador de arte, gosta de montar os programas do HE de forma temática: aqui há alguns

anos, nuns Dias da Música em Belém, Nevel compôs um programa à volta do charuto (ele é um apreciador de “puros”); tem também um programa à volta da matemática. No fundo ele consegue estruturar o tema que quer ilustrar recorrendo a músicas de diferentes épocas. Por fim, a 13 de setembro, terá lugar a apresentação de Ruggiero, ou A Libertação de Ruggiero da Ilha da Feiticeira Alcina, obra que tem um lugar indiscutível na História da Música, por ter sido a primeira ópera escrita por uma mulher. A compositora é Francesca Caccini (1587-1641), também cantora, alaudista e poetisa, filha do grande Giulio Caccini, talvez uma das mulheres mais importantes e influentes na história da música, entre Hildegard von Bingen, no século xii, e Clara Schumann, no século xix. Com libreto de Ferdinando Saracinelli, a partir de Orlando Furioso, de Ludovico Ariosto, Ruggiero é uma ópera cómica, que foi apresentada pela primeira vez a 3 de fevereiro de 1625 no Villa di Poggio Imperiale, em Florença. Foi composta para comemorar a visita do príncipe Wladislaw da Polónia, durante o Carnaval de 1625. O príncipe gostou de tal maneira do que viu que faria apresentar três anos depois a obra em Varsóvia, o que a fez ser por muito tempo considerada a primeira ópera italiana apresentada com sucesso fora da Itália. Este projeto é pretexto para pôr Paul Van Nevel a trabalhar com músicos portugueses, tendo o CCB convidado dois importantes agrupamentos portugueses para se juntarem ao Huelgas Ensemble: o grupo vocal Officium (com direção de Pedro Teixeira) e o Ludovice Ensemble (com direção de Fernando Miguel Jalôto). A presença de Paul Van Nevel e do Huelgas Ensemble torna-se, deste modo, uma ocasião de ouro para o intercâmbio artístico e para a aprendizagem por parte dos músicos portugueses com uma figura de nível mundial. Promovendo oferta cultural e artística de qualidade, o CCB contribui decisivamente para fazer de Lisboa uma cidade cada vez mais cosmopolita •

9 jan 21H pequeno AUDITÓRIO M/6

Concerto de Reis: Mirabile Misterium Paul Van Nevel direção musical Programa The birth in Bethlehem (a natividade)

Balaam de quo vaticinans (à 3) Anonymus Myrabile Mysterium (à 5) Jacobus Gallus Este niño que es sol del Aurora (à 2, 4 & 8) Jerónimo Luca Carol for Christmas-Eve (à 4) (from: Christmas Carols The crime of Herodes (o crime de herodes)

Hostis Herodes Impie (à 4) Anonymus Interrogabat Magos Herodes (à 4) Jean Mouton Vox in Rama (à 5) Giaches de Wert A voice from Ramah was there sent (à 4) B. Luard Selby The travel of the three Kings Melchior, Gaspar and Balthazar (a viagem dos três reis magos: gaspar, Baltazar e Belchior)

Vincti Presepio (à 3) Anonymus Reges Terrae (à 6) Pierre de Manchicourt Ab Oriente (à 5) Jan Pieterszoon Sweelinck Drei Könige (à 5) Peter Cornelius Epilogue (epílogo)

Quae stella sole pulchrior (à 1 & 4) Breviary of Paris Dexen que Llore mi Niño (à 1, 4 & 8) António Marques Lésbio


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