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ccb © DANIEL MALHÃO ccb © DANIEL MALHÃO

Uma exposição e uma perspectiva de gestão cultural DANIEL MALHÃO

Do ponto de vista da realidade mais imediatamente apreensível, a exposição do Centro de Reuniões do CCB, sem data de encerramento pré-definida, resulta de duas abordagens: uma “histórica”, que nos mostra a génese do edifício do Centro Cultural de Belém e se corporiza nas maquetas das cinco propostas finalistas do respectivo concurso público internacional, permitindo, através da enorme maqueta do lugar também presente na exposição, inseri-las no contexto urbano de Belém; outra “fotográfica”, constituída por uma série de fotografias actuais do edifício do CCB, da autoria de Daniel Malhão. As maquetas, objectos felizmente recuperados e restaurados para esta exposição, são memória do concurso lançado há pouco mais de 25 anos, para projectar e construir um edifício que albergasse a primeira e efémera presidência portuguesa da Comunidade Europeia e que, de futuro, pudesse atender e promover diferentes actividades culturais, comerciais e de lazer. Os visitantes verão que o projecto vencedor, dos arquitectos Vittorio Gregotti e Manuel Salgado / RISCO, compreendia cinco módu-

los ­(Centro de Reuniões, Centro de Espectáculos, ­Centro de Exposições, Zona Hoteleira e Centro Comercial) e obedecia a um rigoroso planeamento. Habitando o vasto território situado entre o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, com um olhar privilegiado sobre o rio Tejo, fonte da riqueza de Lisboa, o conjunto tinha um desígnio: a construção de uma microcidade (objectivo ainda não plenamente conseguido, dada a não construção dos dois últimos módulos) que constituísse uma ligação harmoniosa entre aqueles dois esplendorosos marcos quinhentistas. Sendo a história um alicerce fundamental, é sabido que os edifícios, como corpos orgânicos, sofrem as vicissitudes da passagem do tempo e do uso, o que, no caso do CCB, torna “necessária uma perspectiva contemporânea: perceber como é que hoje podemos habitá-lo e ampliar os seus sentidos, os seus significados e as suas possibilidades de uso em todas as suas vertentes.”1 É essa função que o belo trabalho fotográfico de Daniel Malhão preenche nesta exposição. Através das imagens, obtidas em diversas horas do dia, portanto atribuindo um papel

fundamental à luz, “os espaços são reconhecíveis, relançam na nossa memória eventos, passeios, exposições, locais, momentos de descanso e, sobretudo, propõem-nos um encontro com esse outro construído, cuja intimidade é agora mais próxima, tornando-nos mais atentos e permeáveis a essa arquitectura que nos é veiculada pelo olhar do outro.”2 As fotografias remetem-nos, pois, para um presente que desde logo se expressa no título do programa em que a exposição se insere, “CCB, Cidade Aberta”, denominação sugerida por Nuno Grande, arquitecto e crítico de arquitectura, para o colóquio sobre os vinte anos do CCB, também por ele coordenado, e logo aprovada e ampliada por Dalila Rodrigues, administradora do CCB e mentora deste programa. Porquê “cidade aberta”? Desde logo porque o CCB é uma cidade aberta a todos e a todas as formas de manifestação cultural e artística. Acresce que este programa enfatiza a singularidade do projecto de arquitectura: o CCB foi concebido como uma microcidade, com ruas, praças, pontes, terraços e jardins, e com

módulos articulados, evocando os quarteirões ou até os palacetes à beira-rio, realidade que o visitante poderá comprovar na exposição. Finalmente, para este programa e para a sua mentora, é fundamental ter em conta que, pese embora a designação de “centro cultural”, a oferta do CCB não se esgota na dimensão cultural. As vertentes de lazer e de negócios estão bem patentes nesta cidade aberta, com os seus restaurantes, esplanadas e lojas. Aliás, este é um aspecto essencial, a dimensão cultural do CCB é significativamente financiada pelas receitas geradas pela realização de eventos, pelo aluguer de espaços, pela facturação dos restaurantes e das lojas comerciais. Esta simbiose entre as vertentes cultural e comercial inspirou a reorientação estratégica de toda a actividade comercial do CCB, a qual, de acordo com a sua mentora, passa por conteúdos culturais. Passa pela valorização do edifício (devolvendo a dignidade original aos seus alçados, recuperando estruturas, requalificando espaços degradados – veja-se a anterior cafetaria do Jardim das Oliveiras, hoje restaurante Este Oeste –

e actualizando a sinalética); passa também pela reconversão funcional de espaços, de que são exemplos a Garagem Sul, parque de estacionamento nunca utilizado como tal, feito galeria de exposições dedicada a uma nova categoria na programação, a arquitectura, ou a praça central, que descobriu uma nova vocação com o Mercado Novo&Antigo, aí realizado no primeiro domingo de cada mês; passa ainda pela faculdade dada aos residentes em Belém de beneficiarem de um conjunto de vantagens para frequentar as salas de espectáculo, os restaurantes e as galerias comerciais bem como pela reformulação da própria imagem comunicacional do CCB, com a presença de um artista convidado anualmente nos seus meios. Todos estes aspectos se inserem no programa “CCB, Cidade Aberta”. E mais um, bem evidenciado pela presente exposição: é que, a par do Centro de Espectáculos e do Centro de Exposições, o CCB possui um Centro de Reuniões, módulo cuja fachada é contígua à Praça do Império, destinado à utilização diária pelo mundo empresarial. Treze salas e dois auditórios

excelentemente equipados, restaurantes, terraços e jardins estão à disposição de potenciais clientes externos, para a realização dos acontecimentos empresariais mais diversos – conferências, congressos, lançamento de produtos, entre outros. E o CCB, aberto a todos, aposta muito nas empresas sensíveis ao prestígio e à valorização cultural associados a este equipamento. Com tais empresas, este programa pretende criar um verdadeiro intercâmbio cultural, numa relação de proximidade e até de fidelidade, trocando serviços e benefícios. Caso venha a obter o estatuto de “empresa amiga CCB”, a empresa beneficiará, entre outras vantagens, de descontos na aquisição de bilhetes para espectáculos, para os seus colaboradores e clientes, e até da oferta de entradas para os concertos de estação. Mais do que um conjunto de acções e de actividades, o programa CCB, Cidade Aberta é um conceito de gestão cultural que afirma o CCB como «o lugar certo para todos os acontecimentos da sua empresa». [RH]

exposição

› CCB - Cidade Aberta Daniel Malhão, fotografias centro de reuniões / entrada livre SEGunda A SEXTA das 8h às 20h SÁBados, DOMingos E FERIADOS das 10H às 18H encerrado de 1 a 17 de agosto reabre a 18 de agosto

1 Esta citação e as informações sobre o programa CCB, Cidade Aberta provêm de declarações colhidas em entrevista com Dalila Rodrigues.

2

João Silvério, texto de apoio à exposição.


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