Encarte DN Outono no CCB 13

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Outono no CCB

© João Queiroz


A transformação de um dos parques de estacionamento em galeria de exposições de arquitectura permite ao CCB retomar a programação nesta área, que passou a ser valorizada no seu programa anual de actividades. Paralelamente, outras novidades no CCB, como a associação da obra de um artista português à sua programação regular, nos diversos suportes e meios de comunicação, a requalificação dos bares e restaurantes, tanto em termos de restauro e decoração como de oferta gastronómica, ou a realização do mercado Novo & Antigo, na praça central, no primeiro Domingo de cada mês, valorizam o edifício, a programação e procuram gerar receita. Dalila Rodrigues, administradora, fala-nos das suas áreas de trabalho ao longo dos seus quase dois anos de mandato no CCB. [rl]

↘Sábado 23 de Novembro teremos no CCB um quarteto de bons motivos para uma noite inspiradora: o Schostakovich Ensemble, música de Schumann, Fauré e Mahler. • Nuno Crato Ministro da Educação e Ciência

↘A uma programação, que tornou o CCB incontornável, junta-se agora um novo espaço dedicado à Arquitectura. Hoje uma exposição do Sou Fujimoto sublinha um entendimento cultural da Arquitectura compreensível por todos os públicos e particularmente didáctica para estudantes. • Manuel Aires Mateus Arquitecto

↘Sugiro a exposição que o CCB inaugurará a 14 (de Dezembro), com livros nunca expostos das colecções régias do Palácio Nacional de Mafra, do Palácio Nacional da Ajuda e do MuseuBiblioteca de Vila Viçosa. A temática são as Cidades Europeias. • Marcelo Rebelo de Sousa Professor Catedrático DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

© Rita Carmo © Rita Carmo

A ARQUITECTURA REINVENTOU O CCB

Carlos do Carmo: os primeiros cinquenta anos É um dos poucos músicos portugueses em torno dos quais existe unanimidade. Admiração, respeito, ternura por um homem e pela sua carreira que se iniciou há cinquenta anos. [rl] É um final de ano de ritmo frenético para Carlos do Carmo. O mais conhecido fadista português tem disco novinho. Em “Fado é amor” revisita dez dos seus fados em dueto com aqueles a quem chama “os seus meninos”: Aldina Duarte, Ana Moura, Camané, Carminho, Cristina Branco, Mafalda Arnauth, Marco Rodrigues, Mariza, Raquel Tavares, Ricardo Ribeiro. Apostamos que nenhum deles vai faltar ao concerto em que o cantor comemora os cinquenta anos de carreira, no Centro Cultural de Belém (30 de Novembro, 1 de Dezembro).

Carlos, como preparou este concerto? Comecei em Janeiro com a equipa que me acompanha a pensar este projecto. Desde o início que pensámos em dois eixos fundamentais dos quais procuramos não nos afastar. Procurámos que o concerto fosse simultaneamente sóbrio e alegre. Que contrariasse os tempos de angústia e de tristeza que nos acompanham e que reflectisse no que tenho feito neste meio século que, para mim, passou num ápice.

Há quase um ano que a arquitectura tomou conta da Garagem Sul. As exposições dedicadas ao trabalho de Nuno Portas, à ARX, de José e Nuno Mateus, e à representação de Portugal na Bienal de Veneza de arquitectura, Lisbon Ground, marcaram os primeiros meses. Actualmente, a galeria mostra o trabalho de um dos mais talentosos e jovens arquitectos japoneses, Sou Fujimoto. A exposição Futurospective, um olhar sobre a sua forma de trabalhar e pensar a arquitectura, é um sucesso. Esperava que em apenas um ano a Garagem Sul se tornasse num dos espaços mais dinâmicos do Centro Cultural de Belém? A arquitectura é uma área disciplinar complexa, com inúmeras possibilidades de trabalho, e com excelentes profissionais, tanto num plano teórico e crítico, como prático. E o público da arquitectura é muito interessado e generoso. As parcerias que estabelecemos com a Ordem dos Arquitectos, com a Trienal de Arquitectura de Lisboa e com as universidades têm também contribuído para a qualidade do trabalho que se apresenta na Garagem Sul, ou nos auditórios quando se trata de conferências, e para o sucesso junto do público. A Direcção de Comunicação e Marketing é um dos seus pelouros. Que mudanças houve na forma de comunicar as actividades do CCB? Considerando a enorme diversidade e a abrangência da oferta cultural do CCB, não apenas da programação de espectáculos, mas também dos ciclos na área das Humanidades, de exposições

e do projecto educativo Fábrica das Artes, tentámos evitar a dispersão e encontrar um sentido unitário. Assim, as nossas actividades passaram a ser divulgadas de modo segmentado, ao ritmo das quatro estações do ano. Por outro lado, o convite a um artista que nos cede os direitos de uso de quatro imagens da sua obra, permite ao CCB uma comunicação mais interessante e eficaz. No ano passado foi nosso convidado o fotógrafo Nuno Cera, com quatro excelentes fotografias que correspondiam a cada uma das estações do ano. Este ano, a nossa oferta cultural está associada ao trabalho do pintor João Queiroz. Como se pode ver, o “Outono no CCB”, com indicação do nosso website, usa uma bela imagem de uma pintura deste artista. Numa época de crise, é difícil promover a utilização dos espaços de reunião do CCB, disponíveis para a realização de eventos por empresas? Não é só a crise que nos obriga a repensar o modo de rentabilizar os espaços comerciais do CCB. É também a mudança de paradigma, são as transformações profundas na acção e na forma de comunicar das empresas. O desafio passa pela apresentação às empresas das nossas actividades culturais e também pela apresentação da nossa capacidade, única em Lisboa, de organizar eventos em espaços altamente qualificados. Mas passa também pelo desenvolvimento de um conjunto de actividades culturais e lúdicas com uma vertente comercial, nesta micro-cidade que é o CCB. O mercado Novo & Antigo é disso um exemplo. No primeiro Domingo de cada mês a praça central serve de palco a pequenos produtores nas mais diversas áreas, das antiguidades à gastronomia. No “palco do mercado”

os artistas programados apresentam os seus espectáculos, e uma escola ligada às artes, convidada por nós, divulga aqui as suas actividades. O significativo acréscimo de visitantes que resulta destes acontecimentos, sobretudo de famílias que aqui vêm aos fins-de-semana, permite gerar receitas nos diversos espaços comerciais do CCB. No dia do mercado, por exemplo, os bilhetes dos espectáculos programados para esse mês são vendidos com um desconto de 30%, o que motiva a visita de muitas pessoas. Que desafios enfrentam actualmente aqui no CCB? Muitos desafios, porque o contexto é desfavorável. A mobilização de algum turismo de Belém, que visita o Mosteiro dos Jerónimos e parte em autocarros para o eixo Estoril/Cascais/Sintra, constitui um desafio muito importante. Estamos a trabalhar com os operadores turísticos mas os resultados são ainda pouco ou nada expressivos porque os circuitos estão viciados. É muito importante para os turistas e para a cidade que este trabalho seja feito, pois o turismo massificado pode ser um elemento altamente predador deste território. Uma das grandes vantagens do trabalho no CCB são a qualidade e a motivação da equipa, pelo que acredito em resultados muito positivos a breve prazo.

São dois concertos num, visto que vai existir um acompanhamento clássico mas também uma orquestra em palco? Não. É o mesmo concerto com duas partes. Numa delas sou acompanhado pelos músicos que me acompanham aqui e no mundo inteiro, o José Manuel Neto na guitarra, o Carlos Manuel Proença na viola e o José Marinho Freitas no baixo. Na outra junta-se a mim a Orquestra Sinfónica Portuguesa com a qual cantei recentemente no Teatro Nacional de São Carlos. São músicos admiráveis e vou cantar com eles dez fados. O meu amigo Vasco Pearce de Azevedo dirige. Participa ainda no concerto, como convidado muito especial, o António Serrano, um grande tocador de harmónica vocal, um músico espanhol que acompanha o Paco de Lucia, e de quem eu gosto muito. Cabe-lhe encaixar-se de uma forma subtil entre os meus músicos, durante três ou quatro temas. E depois, graças à tecnologia, mergulhei nos arquivos da minha mãe e repesquei o fado Loucura, curiosamente o primeiro tema dela que eu gravei. Vai-se ouvir a voz da Lucília do Carmo e depois eu desço de pára-quedas, canto algumas estrofes e calo-me. Vai ser bonito. Ao longo da sua carreira, gravou quase duzentos e cinquenta fados. Como escolheu o repertório para este concerto? É angustiante escolher uns temas e preterir outros? Há fados clássicos que eu tenho sempre de cantar, senão desiludo o público. Lisboa menina e moça, Canoa, Os Putos… Eu chego a sentir a impaciência da sala, quando demoro a cantar alguns destes temas mais conhecidos. Mas ao mesmo tempo, o mesmo público que me é fiel, espera que eu o surpreenda sempre. E o concerto dos cinquenta anos de carreira não pode ser igual ao dos quarenta e cinco. Nesse sentido, agora que voltei a ouvir todo o meu repertório, escolhi alguns temas menos conhecidos que me apetece voltar a cantar. Tenho a certeza de que estas surpresas vão agradar.

Porque escolheu o Grande Auditório do CCB? É uma sala de que gosta? Muito. Sou muito mimado por toda a gente. Desde os camarins ao senhor que leva para o palco, são todos de uma grande delicadeza, correcção e simpatia. Sinto-me em casa. Ficou mesmo surpreendido pelo facto de ter esgotado tão rapidamente o primeiro concerto? Estava à espera doutra coisa? Ouça Rui. Vivemos tempos difíceis e cada despesa que hoje fazemos tem de ser bem ponderada. Fiquei vaidoso, não o nego. Também pelo facto de sentir um carinho que é transversal: há gerações de uma mesma família que se juntam para vir aos meus concertos. Comentei com uma grande amiga a minha perplexidade e ela respondeu-me: Oh Carlos. Já reparaste que só estás a recolher aquilo que semeaste?

↖ CCB / novagência

Há fado no cais › Carlos do Carmo 50 anos de carreira Carlos Manuel Proença viola José Manuel Neto guitarra portuguesa José Marino Freitas baixo Orquestra Sinfónica Portuguesa Antonio Serrano harmónica

30 NOV / 1 DEZ 21h GRANDE AUDITÓRIO M/3

↘Destaco na programação do Centro Cultural de Belém os cinquenta anos de carreira de Carlos do Carmo (1 de dezembro, 21 horas). É uma homenagem ao artista, ao fado, à poesia e à cultura portuguesa.

• Guilherme d’Oliveira Martins Presidente do Centro Nacional de Cultura


© BRUNO SIMÃO

© MARIANA SILVA

O livro da vida de Rui Horta Em Multiplex o coreógrafo Rui Horta dá-nos a sua visão das Memórias de Adriano de Marguerite Yourcenar. Uma lição sobre a forma como a memória é o presente. [rl] Um rectângulo de branco é habitado por um homem e as suas memórias durante uma hora e vinte minutos. Esse homem chama-se Adriano e quis o destino que fosse imperador de Roma durante vinte anos. Graças a Marguerite Yourcenar, que escreveu as suas memórias em 1951, a sua postura na vida marcou também gerações sucessivas de leitores que se reviram na sua perene condição de homem que vive cada momento como único e que nos devolve dilemas que são contemporâneos. Memórias de Adriano é o livro da vida de Rui Horta: A partir de certa altura na nossa vida de criador, o grande desafio é fazermos o melhor que sabemos, com aquilo de que mais gostamos. E, para mim, este era o momento de abordar este livro que há muito me acompanha. Multiplex é o meu primeiro tour de force em torno de um texto não escrito por mim. Representa um exercício de reinvenção da minha linguagem. O que me toca aqui está nas palavras e não no corpo. Para além do actor Pedro Gil, neste território de palavras moram também o corpo e a voz da bailarina italiana Silvia Bertoncelli, que umas vezes é contraponto, outras é um eco, consciência, sonho que se esfuma através das palavras sussurradas em italiano. Para Rui Horta é aqui que se poderá reconhecer alguma da sua identidade criativa: Todos os meus trabalhos

são caleidoscópicos na medida em que se desdobram em vários níveis simultâneos. Aqui senti a necessidade de ter esta voz que me transportasse para o espaço que às vezes é lugar, que às vezes é tempo. Outras ainda, rede protectora deste homem, deste actor todo o terreno que é o Pedro Gil. Mais do que sobre a história de Roma, ou uma visita cronológica à biografia de um homem, este é um livro sobre a condição humana em geral revista através da memória de uma vida. Multiplex é uma reflexão sobre a complexidade. Sobre construções, vitórias, derrotas, pertença e tudo aquilo que nos faz ser o que somos: a necessidade de estarmos onde estamos. É também sobre a perda de tudo isso. Sobre a memória do branco e a inevitabilidade do negro. A sombra. Sentimos que nos ensaios o rigor da palavra já estava embrenhado no corpo dos intérpretes. Em palco, no princípio, no desenho dos movimentos, no fim, existirão surpresas que não poderão ser reveladas. É uma homenagem ao espírito de liberdade e de afirmação que o texto contém: Antes e depois da publicação do livro, a Yourcenar falou sempre da questão da liberdade plasmada no livro como um expoente civilizacional. A vida de Adriano decorre numa época em que os homens ainda se sentiam quase iguais perante os deuses. Não tiranizados por eles. Depois na nossa civilização, tudo isso acaba.

↖ dança/teatro

› Multiplex Nova Criação | Rui Horta Rui Horta Direcção, luzes, espaço cénico / Pedro Gil e Silvia Bertoncelli Intérpretes

© MARIANA SILVA

Tiago Cerqueira Música original / Guilherme Martins e André Almeida Robótica e vídeo Tiago Coelho Direcção técnica

8.9 NOV dia 8 às 21h / dia 9 às 16h e 21h PEQUENO AUDITÓRIO M/3

↘Dia 10 de Novembro irei, com certeza, ao concerto de Pedro Burmester com a minha filha Teresa, de 9 anos, que gosta tanto de tocar piano. É um recital muito bonito e variado, com obras de compositores de várias épocas e de países muito diferentes. Vai ser muito bom ouvirmos Bach, Liszt, as fabulosas Variações sobre um Tema Popular Português do nosso Fernando Lopes-Graça, e a maravilhosa Musica Ricercata de György Ligeti!

• João Madureira Compositor

Lembrar é resistir A Companhia Maior, um projecto criado em 2010, no CCB, para artistas com mais de sessenta anos vindos de diversas áreas, tem um novo projecto. Em Estalo Novo o desafio foi trabalhar as memórias da desobediência. [rl]

↘Em Novembro, não quero perder o recital do Pedro Burmester, um dos mais conceituados e interessantes pianistas portugueses e que é raro poder ouvir ao vivo e a solo. O programa começa com Bach e acaba com Ligeti, passando por Liszt e por Lopes-Graça, prometendo uma série de relações sonoras fascinantes. Já no final do mês, também aconselho a reunião do maestro Emilio Pomàrico e da Orquestra Sinfónica Metropolitana num concerto com mais um programa aliciante em que Stravinsky e Britten estarão lado a lado. Oportunidade, aqui também, de conferir o virtuosismo do pianista António Rosado.

• Francisco Sassetti Gestor Cultural

↘Aconselho vivamente a Aula de Latim, de Mafalda Viana, que me espicaçou o interesse. Todas as aulas de latim que se possam dar serão necessárias e bem vindas. Conhecer a história da Língua pode ser muito fixe, garanto-vos. • Luísa Costa Gomes

Escritora

Na sala de ensaios, dispostos em roda, quinze actores fazem aquecimento de voz. Descarregam: Os barcos que partem dos portos, os próprios são postos à prova pela intempérie. Será pura coincidência mas iremos nos lembrar das palavras deste exercício mais à frente, quando seguirmos o ensaio de Estalo Maior, a quarta produção no CCB da Companhia Maior que este ano trabalha com a dupla de criadores Ana Borralho & João Galante. O trabalho, explicam os criadores, arrancou com uma ideia colhida na rua: Encontrámos uma obra grafitada numa parede que dizia – Estalo Novo. O autor é um anónimo, designer gráfico, que assina como: ± (Mais Menos) e que cria as suas obras através de mensagens de protesto e de subversão duma forma concisa e directa. Estalo Novo, surge-nos como uma ideia que remete para uma junção de um novo Estado Novo que ressurge ameaçadoramente disfarçado de democracia, com a ideia de um Estalo necessário que a arte pode e deve criar numa sociedade. Os performers da Companhia Maior são artistas que já eram maiores de idade aquando da revolução de Abril de 1974. Interessou-nos trabalhar sobre a memória pessoal e privada dos intervenientes da Companhia Maior antes e depois do 25 de Abril.

E é assim que depois de se disporem à frente do público de olhos fechados, quando os abrirem, os intérpretes da Companhia Maior vão contar histórias, episódios da vida em que de alguma forma resistiram, desobedeceram. Cristina Gonçalves lê versos de um poema de Yvette Centeno: Nós somos velhos…mas já fomos novos. Realça: Somos uma geração que atravessou tudo. E apesar de sermos os velhos que se calhar já ninguém quer ouvir, voltámos a ser importantes, como pilares solidários de uma sociedade onde tudo se desagrega. Michel está a gosto neste desafio: Sensibilizar as novas gerações para histórias de vida privada que, juntas, contam uma história maior. É interessante ver como as histórias que os diversos membros da companhia trazem para o palco interagem. Aprendemos a contar, mas também a ouvir. É uma catarse muito dinâmica e um processo de trabalho muito interessante que a generosidade da Ana e do João colocam em evidência. Elisa Worm, bailarina e coreógrafa, vai desenhar movimentos para os seus colegas enquanto conta a história escandalosa da criação pelo bailarino russo Nijinski do Prelúdio à sesta de um fauno: É uma história de resistência que tem cem anos. Parece passado, mas não é tanto assim. O tempo às vezes passa e nada muda. Também há quase cem anos o mundo se chocava com as armas químicas usadas na I Guerra e ainda andamos a

tratar da não proliferação dessas armas, nas guerras de hoje. No final de Novembro, estes homens e estas mulheres vão partir dos portos onde se abrigaram e descarregar histórias de tempestades e de alguma bonança frente ao público.

↖ dança/teatro

› Estalo Novo Companhia Maior Ana Borralho & João Galante Conceito direcção artística, cenografia e figurinos

Rui Catalão Apoio dramatúrgico ANTÓNIO PEDROSA, CARLOS NERY, CRISTINA GONÇALVES, DIANA COELHO, ELISA WORM, HELENA MARCHAND, ISABEL MILLET, ISABEL SIMÕES, IVA DELGADO, JORGE FALÉ, JÚLIA GUERRA, KIMBERLEY RIBEIRO, MICHEL REBIFFÉ, PAULA BÁRCIA, VÍTOR LOPES INTERPRETAÇÃO Thomas Walgrave Desenho de luz Ghuna X (aka Pedro Augusto) Banda sonora original Catarina Gonçalves, Tiago Gandra Assistência de ensaios

Fernando Ribeiro Colaboração artística Luís Moreira Produtor

28 NOV > 1 DEZ dias 28/29/30 às 21h / dia 1 às 16h PEQUENO AUDITÓRIO M/3


© João Tuna

Os dias de Beckett

CCB uma cidade dentro de Lisboa

Nuno Carinhas encena Ah, os dias felizes de Samuel Beckett. Um título, diz o Director Artístico do Teatro Nacional São João, que iria bem a Tchékhov. [PS]

Fazemos uma primeira pausa no Jardim da Oliveiras. Fruímos da paisagem, como se estivéssemos a vê-la pela primeira vez. Hesitamos que rumo seguir. Este? Ou Oeste? O mais novo restaurante do CCB recebe-nos com uma instalação de origamis de Teresa Cálem. Seja sushi do Este, sejam as pizzas do Oeste come-se muito bem. A Diavola e a Calábria estão boas e recomendam-se. [mjv]

Não por acaso um dos autores que fazem parte do percurso mano-a-mano que o encenador vem fazendo há quase duas décadas com os actores Emília Silvestre e João Cardoso, protagonistas de aventuras de uma imensa e quase desesperante intimidade. O encenador fala-nos de Winnie e Willie e do seu colóquio sentimental. Uma mulher enterrada até à cintura num terreno árido, sob um sol inclemente. Esta imagem continua a surpreender-nos ou a perturbar-nos, mais de cinquenta anos volvidos sobre a estreia da peça? Nunca se percebe como é que ela foi ali parar. Não sabemos se foi tragada por uma espécie de areia movediça ou se ficou naquele estado por via de alguma derrocada. Faz-me também lembrar as brincadeiras de infância na praia, de se enterrar o corpo até determinada altura. Por outro lado, a condição da Winnie é um sepultamento em vida. É como se o corpo estivesse já em transformação. Um casal questiona-se em relação ao que se passará da cintura para baixo, como é que ela estará de facto. Essa metamorfose do corpo em terra é muito forte. Como é que vê aquele lugar: um baldio, um aterro, um paraíso não apenas perdido mas também falhado? As primeiras palavras da Winnie são: Mais um dia divino… É difícil quotidianizar esta paisagem, que pode ir da reprodução de um campo de golfe à memória do prédio destruído, passando pela biblioteca bombardeada, pelo deserto propriamente dito… Importa a própria condição, mais do que a qualidade da paisagem – o facto de aquela mulher estar enterrada até à cintura, não se sabendo muito bem em que sítio. Qualquer materialização reconhecível arrisca-se a acrescentar à condição física daquele casal alguma coisa que estraga a narrativa, fazendo deles vítimas de um movimento exterior, sociopolítico, que os tivesse condenado àquele lugar. A metáfora é mais transcendente, até porque é também uma metáfora do próprio teatro e da condição da actriz. Essa condição deve ser respeitada até às últimas consequências.

Beckett disse que esta mulher é de uma profunda frivolidade. Uma expressão curiosa, porque a frivolidade não é profunda, mas superficial. Que profundidade encontra na frivolidade desta Winnie? Intrigam-me os utensílios de sobrevivência que tem à mão, naquele saco caótico onde cabem as coisas que lhe são essenciais para a narrativa do dia. São objectos de um quotidiano banal de uma mulher que ainda se arranja, objectos conotados também com uma certa coquetterie… A dada altura, ela tira do saco uma caixa de música. É uma mala cheia de objectos que servem a uma mulher adulta como poderiam servir a uma jovem. Aqui encontramos a extensão temporal a que o título Ah, os dias felizes faz alusão. O discurso da Winnie parece conversa fiada. Ela tenta despertar a atenção do Willie, socorre-se de determinadas coisas em relação às quais tem a expectativa que ele responda. Dá a deixa ao Willie e fica à espera da deixa que ele lhe possa dar. A palavra que Beckett usa em inglês para versos é lines, que também pode ser traduzida por deixas, na acepção teatral. Quando a Winnie pergunta Como eram aqueles versos sublimes?, é como se a actriz perguntasse a si própria o que está ali a fazer. Há na peça uma noção de perecibilidade. A tagarelice dela é um esforço de preencher ou deter o tempo. Sempre que tenta repousar, não consegue. Há uma condenação não só à sua condição física como também à perpetuidade da efabulação e da verbalização, como se o silêncio representasse aquilo que vem a seguir…

↖ teatro

› Ah, os dias felizes de Samuel Beckett Encenado por Nuno Carinhas Emília Silvestre E João Cardoso Interpretação / Alexandra Moreira da Silva tradução Nuno Carinhas cenografia e figurinos / Nuno Meira desenho de luz / Francisco Leal desenho de som João Henriques voz e elocução / CCB/TNSJ co-apresentação

8.9 NOV 21h grande auditório M/12

↘Desculpem mas esta é uma mensagem privada para o meu filho. Alexandre, já alguma vez viste alguém a dançar ao som de frases ditas por um filósofo? Eu também não. Aquilo é capaz de ser música no corpo da Vera Mantero. Acho que te levei a vê-la há muitos anos, suspensa de uma estrutura de ferro desenhada pelo escultor Rui Chafes mas já não te deves lembrar. Agora vai dançar as palavras de Gilles Deleuze, nos dias 6 e 7. Tenho a certeza de que nunca vimos nada assim (e como isso é raro, caramba): um corpo a pensar em movimento. Vamos?

• Carlos Vaz Marques

Jornalista, Director da Granta

↘Parece impossível mas pode-se falar de Angola sem ser por causa das tolices dum ministro português. Deve-se falar de Angola – fonte de música muito boa e de grandes vozes. Waldemar Bastos não é só uma das melhores vozes de Angola e da Lusofonia. É um verdadeiro músico do Mundo. Um cantor nada oficial que tem construído a sua discografia viajando entre as capitais da música, apaixonando Chico Buarque, Dorival Caymmi ou David Byrne. É tão raro poder ouvi-lo em Lisboa que este concerto, no dia 16 de Novembro, é mesmo, mesmo, para não perder. • David Ferreira Programa “A cena do ódio” e “a contar” [antena 1]

Com uma vista igualmente magnífica, o restaurante Commenda apresenta variações do receituário português pela mão do chef Vítor Santos. Na carta há raia alhada, pastéis de bacalhau, alheira e morcela da Beira, ementa perfeita para quebrar o gelo numa reunião de negócios. Espreitámos o Centro de Reuniões que acolheu a Presidência da União Europeia e que dispõe não só de uma cozinha altamente profissional como reúne todas as condições para criar eventos inesquecíveis. Neste módulo do CCB há outras opções: o Sanduíche bar para refeições rápidas e o Terraço com menus, mini pratos a preços bastante em conta, que podem ser degustados enquanto os olhos comem as vistas incríveis sobre o Tejo. Já na galeria comercial do CCB, na loja ocupada pelo Centro Português de Serigrafia, encontramos preciosidades, como uma escultura de Cesariny ou uma enigmática serigrafia de uma tela de Noronha da Costa. Apetece- -nos criar. Na loja Arte da Periférica abastecemo-nos de telas e pincéis, cavaletes e tintas. Na Mercadores de Memórias fechámos os olhos e sentimo-nos num Night Market de uma cidade qualquer do sudeste asiático. Há incensos de mirra, jasmim e lavanda que criam toda esta atmosfera zen que nos remete para a Índia, Tailândia ou Indonésia. Namorámos, depois, com alguns dos colares da colecção de jóias de Margarida Pimentel. De repente sentimo-nos forasteiros, naquela praça que conhecíamos tão bem, e tivemos o devaneio de comprar uma casa com vista sobre o casario de Lisboa na

Sotheby’s International Realty Portugal. Um papel amachucado perdido no bolso, lembra-nos que a razão principal que nos trouxe aqui foi reservar alguns lugares sentados para o concerto de Jorge Palma, dia 10 de Dezembro. Guardámos os bilhetes em lugar seguro, pois nessa noite teremos encontro marcado com os novos e sofisticados canapés dos bares do Grande Auditório. A volta ao CCB completase nas galerias voltadas para o planetário. Há o artesanato do Espaço Georgette, vinho nacional e estrangeiro na Loja Coisas do Arco do Vinho. Além do néctar dos deuses, nas prateleiras moram produtos gourmet. Há também provas diárias de vinho do Porto. Qualquer dúvida relativa a esta temática pode ser esclarecida com o escanção Nuno Martins. Para o seu momento “verniz para as unhas e molas para o cabelo” ser inesquecível, entregue-se nas mãos das profissionais do São Rocha Cabeleireiros. Termine este périplo de beleza no Centro de Tratamento estético Mara. Já nós lanchámos chá e scones na Saboreia Chá e Café. Regressámos à infância na loja de brinquedos Alex. As tintas laváveis, os lápis para escrever nos azulejos da casa de banho e o kit de colagem poderão formar pequenos artistas. Outro lugar onde nos perdemos foi a Hangar Design Store. Um espaço de extremo bom gosto. Das faianças Bordallo Pinheiro aos sabonetes Claus Porto e Ach Brito. O anoitecer diz-nos que é tempo de regressar a casa. Havemos de voltar, nem que seja para pôr as leituras em dia. Haverá outra cidade em Lisboa onde se fique a

ler em silêncio horas a fio tendo o rio como pano de fundo? Mercado Novo & Antigo NA PRAÇA CCB Como qualquer cidade o CCB tem o seu mercado. Este realiza-se no primeiro domingo de cada mês. Chama-se Novo & Antigo, e como o nome indica propõe produtos e talentos que tenham que ver com cultura, antiguidades e velharias. De salientar que em cada edição pode obter-se bilhetes para os espectáculos que decorrem no CCB com 30% de desconto.

↖ GALERIA COMERCIAL CCB .ALEX A ARTE DO DIVERTIMENTO .ARTE PERIFÉRICA GALERIA E BELAS-ARTES .BERTRAND LIVRARIA .CENTRO PORTUGUÊS DE SERIGRAFIA .Coisas do Arco do Vinho .CULTURA DO TABACO PAPELARIA .DOCEARTE DOÇARIA .ESPAÇO GEORGETTE ARTESANATO .GALERIA MARGARIDA PIMENTEL JÓIAS .HANGAR DESIGN STORE .MARA CENTRO DE ESTÉTICA .SABOREIA CHÁ E CAFÉ SALÃO DE CHÁ .SÃO ROCHA CABELEIREIROS .SOTHEBY´S INTERNATIONAL REALTY PORTUGAL

BARES E RESTAURANTES CCB .COMMENDA RESTAURANTE .ESTEOESTE SUSHI E PIZZA .SANDUICHE-BAR CAFETARIA/REFEIÇÕES LIGEIRAS .TERRAÇO CAFETARIA/REFEIÇÕES LIGEIRAS

Já a seguir ↘

LITERATURA E HUMANIDADES

› Ciclo História de Portugal Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro Professores

7.14 Dez´13 / 4.11.18.25 Jan´14 / 1.8.25 Fev´14 12h>13h Entrada livre mediante inscrição prévia para inscricoes.ciclos.humanidades@ccb.pt Em colaboração com o Centro Nacional de Cultura / O DN e a Caixa Geral de Depósitos apoia a programação de Literatura e Humanidades


O Centro de reuniões oferece as melhores soluções para organização e produção do seu evento. Contacte-nos. Direcção de Comunicação e Marketing eventos @ccb.pt | Tel. 213 612 697

Tudo sobre o CCB e a sua programação em w w w . ccb . p t Informações/reservas 1 3 h > 2 0 h 21 3 61 2 627 O CCB informa que, de acordo com o Decreto-Lei n.º 116/83 de 24 de Fevereiro, os menores de 3 anos não podem assistir a quaisquer espectáculos.

B i l h e t es Pode adquirir os seus bilhetes em:

p a r ce i r o s med i a p a r a a t em p o r a d a CCB / 2013

Textos Rui Lagartinho [rl] maria joão veloso [mjv] pedro sobrado [PS]

S U B S C R E VA A NO S S A AG E N D A S E M ANAL , R E GI S TAN D O - S E E M WWW . C C B . PT

Produção/Paginação DCM | Direcção de Comunicação e Marketing

› w w w . ccb . p T (e apresentar a respectiva impressão à entrada do espectáculo) › B i l h e t e i r a (todos os dias das 11h às 20h) › l o j a s F n a c , W o r t e n , A g ê n c i a s Ab r e u , C a s i n o de L i sb o a , ce n t r o s c o me r c i a i s D o l ce V i t a , G a l e r i a C o me r c i a l C a m p o Pe q u e n o ,

C C B m o b i l e ( ta b l e t / m o b i l e ) ccb f a ceb o o k ccb y o u t u be

w w w. t i c k e t l i n e . p t

a n de sem p r e c o n n o sc o .

M M M e M u n d i ce n t e r , E l C o r t e I n g l é s ,

NOVEMBRO/2013


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