Sou Fujimoto no CCB

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ID: 48895410

24-07-2013

Tiragem: 44377

Pág: 28

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Diária

Área: 27,28 x 30,61 cm²

Âmbito: Informação Geral

Corte: 1 de 2

Sou Fujimoto entra na garagem sul do CCB com a nova arquitectura japonesa Aos 41 anos, pode dizer-se, sem muitas dúvidas, que Fujimoto é o futuro da arquitectura japonesa. As suas casas desconcertantes falam do século XXI e do que é viver na floresta de Tóquio Exposição Isabel Salema Sai da garagem sul a exposição do atelier português ARX e entra a do arquitecto japonês Sou Fujimoto, a primeira de um estrangeiro neste novo espaço expositivo do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa. A inauguração da exposição será a 10 de Setembro, anunciou ontem Dalila Rodrigues, a administradora do CCB com o pelouro da garagem sul, e “vai abrir as linhas de programação para uma dimensão internacional deste espaço dedicado à arquitectura”. Sou Fujimoto, de 41 anos, foi o arquitecto escolhido este ano para fazer o pavilhão temporário da Serpentine Gallery, a galeria londrina que todos os anos encomenda uma obra de arquitectura efémera para erguer no Verão no Hyde Park com o objectivo de questionar a cultura arquitectónica contemporânea. Nunca tinha sido encomendado a alguém tão novo (Siza e Souto Moura já fizeram parte do programa). Diogo Seixas Lopes, que assessoria o CCB nas exposições da garagem sul, diz que esta exposição, “de altíssimo gabarito”, é a primeira monográfica de Fujimoto fora do Japão. O arquitecto japonês, “ainda que de tenra idade”, é um dos “mais conhecidos” arquitectos japoneses do momento e a exposição “coloca Lisboa no centro do mapa de uma cultura arquitectónica”. Foi concebida para o Kunsthalle de Bielefeld, na Alemanha, e já esteve também em Genebra. Fujimoto “é como o Tintin”, diz Diogo Lopes, é muito fácil gostar da sua arquitectura, “agrada e encanta dos 7 aos 77 anos. O arquitecto tem ainda pouca obra construída, mesmo no Japão, o que não deixa de ser normal num profissional da sua idade. Diogo Seixas Lopes saudou o número restrito de edifícios de Fujimoto, “porque antes da construção tem que vir o pensamento, a imaginação e depois a beleza”. Exemplo desta arquitectura ino-

vadora é a sua Casa NA, em Tóquio, que quase não tem paredes e mais parece uma estante que uma casa. Faz lembrar o projecto da Serpentine, uma complexa estrutura que cruza a natureza e o artificial, e tanto parece uma nuvem como uma geometria futurista.

Arquitectura como floresta A seguir, na conferência de imprensa de ontem, foi a vez de falar Julia Albani, a comissária associada desta exposição intitulada Futurospective Architecture, que começou por dizer que “abrir janelas” é uma ideia muito relevante no trabalho de Fujimoto. E falámos, já na hora das perguntas dos jornalistas, da Casa N, em Oita ( Japão), onde Fujimoto liberta as janelas da sua função, como fronteira entre o interior e o exterior, onde “o exterior passa para o interior”. Voltámos aqui ao cruzamento entre a natureza e o artificial, “à arquitectura como floresta”, sendo esta última uma palavra-chave para compreender a exposição. A floresta é uma ideia a que Fujimoto regressa constantemente, diz Albani — à floresta de Hocaido, a ilha onde nasceu —, porque a floresta vista do exterior é um espaço uno, denso, mas o seu interior pode percorrer-se com liberdade. A cidade de Tóquio, muito densificada, também se comporta da mesma maneira. Natural e artificial não têm que ser opostos, defende Sou Fujimoto. Os espaços que Fujimoto constrói são ambíguos, de fronteira, como as 21 “divisões” desniveladas da Casa NA. Julia Albani, uma curadora que trabalha entre Lisboa e Berlim, cita várias frases do arquitecto, que tem um ensaio intitulado Futuro Primitivo (2008). Sobre as semelhanças entre uma casa e uma árvore, disse ele a propósito desta obra datada de 2010: “Viver numa casa é semelhante a viver numa árvore. Existem muitos ramos e cada um é um lugar agradável para se estar. Não são quartos hermeticamente isolados, mas interligados e continuamente a redefinir-se uns aos outros.” Fujimoto faz parte de uma longa tradição da arquitectura japonesa

BEN STANSALL/AFP

Em cima, Casa NA, em Tóquio; à esquerda, o arquitecto no pavilhão temporário da Serpentine Gallery; e a casa N, em Oita

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24-07-2013 IWAN BAAN

IWAN BAAN

Tiragem: 44377

Pág: 29

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Diária

Área: 11,26 x 26,65 cm²

Âmbito: Informação Geral

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que tem uma ligação intensa com a natureza. Mas essa ligação não é tanto poética — ele acha toda a conversa da arquitectura japonesa sobre as rochas, as pedras e as flores “bastante irritante” —, “não é a beleza da natureza”que lhe interessa mas “o caos da natureza”, explicou a comissária. Sobre o que se alterou na geração de Fujimoto para haver esta mudança de paradigma na relação com a natureza, Albani disse-nos que os seus 41 anos fazem dele um pioneiro e que não há muitos com quem comparar. “Ele acredita mesmo que uma floresta é o exemplo futuro da forma da cidade”, continua a comissária, lembrando a força do movimento metabolista no Japão dos anos 60, com as suas visões utópicas (e libertadoras) da cidade vertical. Fujimoto fala antes de uma paisagem tridimensional. “Podemos ver o futuro das nossas cidades como uma paisagem tridimensional? Um lugar onde continuidade e descontinuidade coexistem?”, é outra das citações do arquitecto escolhidas para constar no dossier de imprensa. “Na floresta, das folhas, insectos e sementes até à grande escalada dos troncos das árvores, todo um conjunto de coisas verdadeiramente diversas coexiste e está em relação. É esta diversidade que me atrai, uma riqueza nascida do espaço, entre a ordem e o caos.” O seu Centro de Reabilitação Psiquiátrica para Crianças, construído na sua Hocaido natal, propõe-se exactamente como uma mini-cidade, entre a ordem e o caos, onde se joga com a imprevisibilidade dos espaços, pois para Fujimoto “a arquitectura é um modo delicado de criar surpresa”. No dia da inauguração da exposição, que abre pouco antes de começar a terceira Trienal de Arquitectura de Lisboa e vai beneficiar desta convivência, como disse Diogo Lopes, Sou Fujimoto dará uma conferência no Grande Auditório do CCB às 21h30. Dalila Rodrigues já tem duas outras exposições pensadas para a garagem sul, uma comissariada por Ana Vaz Milheiro, crítica de arquitectura do PÚBLICO, numa parceria com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, sobre a cidade e a arquitectura em África, outra que quer mapear os arquitectos portugueses que trabalham lá fora na área da arquitectura social e que tem o apoio da Direcção-Geral das Artes.

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ID: 48895610

24-07-2013

Tiragem: 39669

Pág: 44

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Diária

Área: 15,70 x 32,99 cm²

Âmbito: Informação Geral

Corte: 1 de 1

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