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Como administrar as finanças em pequenos e médios negócios
REALIZAÇÃO
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Expediente Copyright @ 2022 Fundação Demócrito Rocha FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidência Luciana Dummar Direção Administrativo-Financeira André Avelino de Azevedo Gerência-Geral Marcos Tardin Gerência Editorial e de Projetos Raymundo Netto Gerência de Audiovisual Chico Marinho Gerência Marketing & Design Andrea Araujo Análise de Projetos Aurelino Freitas e Fabrícia Góis Edição de Mídias Isabel Vale UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerência Pedagógica Viviane Pereira Coordenação de Cursos Marisa Ferreira Design Educacional Joel Lima Front End Isabela Marques CUIDAR PARA CRESCER: GESTÃO FINANCEIRA DE PEQUENOS NEGÓCIOS Coordenação Geral Valéria Xavier Coordenação de Conteúdo Randal Mesquita Coordenação Editorial e Revisão Daniela Nogueira Edição de Arte Andrea Araujo Projeto Gráfico Miqueias Mesquita Design Miqueias Mesquita e Kamilla Damasceno (estagiária) Ilustração Rafael Limaverde Análise de Projeto Taci Morais Análise de Marketing Digital Fábio Júnior Braga Este módulo é parte integrante do projeto Cuidar para Crescer: Gestão financeira dos pequenos negócios, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Câmara Municipal de Fortaleza (CMF), sob o nº 02/2021 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD C966
Cuidar para Crescer – Gestão Financeira de Pequenos Negócios / Randal Glauber Santos Mesquita...[et al.]. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2022. 96 p. : il. ; 21cm x 29,7cm. – (6v.) ISBN: 978-65-5383-005-9 (Coleção) 978-65-5383-004-2 (Módulo 3) 1. Empreendedorismo. 2. Finanças. 3. Economia. 4. Administração. 5. Estratégia. I. Mesquita, Randal Glauber Santos. II. Almeida, José Wandemberg Rodrigues. III. Gurgel, Danielle Maria Porto. IV. Oliveira, Fauber Diogo de. V. Alencar, Luís Carlos Queiroz de. VI. Título.
2022-134
Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949
Índice para catálogo sistemático: 1. Empreendedorismo 658.421 2. Empreendedorismo 65.016
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CDD 658.421 CDU 65.016
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Introdução A tecnologia vem mudando a relação entre cidadãos e o consumo em todas as áreas, inclusive na financeira. Rapidamente surgem empresas com soluções on-line para melhorar a forma com que nos comunicamos, compramos, vendemos, estudamos e administramos nossos negócios. É a inclusão digital. De acordo com a Caixa Econômica Federal, 60 milhões de brasileiros não tinham qualquer relação com soluções bancárias até fevereiro de 2020. Essa realidade foi fortemente modificada nos últimos meses, muito em função da pandemia de covid-19. Segundo o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, 40% dos brasileiros que receberam o auxílio emergencial não tinham conta em banco antes da pandemia.
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Essa mudança nos fez presenciar uma verdadeira aceleração no ritmo da bancarização digital no Brasil. Considerando o universo do empreendedorismo brasileiro, os números não são muito diferentes: grande parte dos pequenos e médios negócios tem enormes limitações no que diz respeito a gestão e controles financeiros. Costumamos dizer que quanto menor o negócio, menos informações técnicas ele produz. Daí a grande dificuldade para análise e tomada de decisões. Nesse contexto, preparamos um e-book repleto de dicas e orientações para desenvolver suas habilidades nesse importante e desafiador mundo da gestão financeira dos pequenos e médios negócios. Ao iniciar uma jornada empreendedora de sucesso, é preciso entender que processos de gestão organizados são tão importantes quanto uma boa ideia de negócio. Nesse caso consideramos que investimento em formação e soluções eficientes de gestão financeira farão muita diferença no êxito de projetos empreendedores.
SAIBA MAIS Dificuldades com a gestão financeira está entre os três principais motivos de insucesso no empreendedorismo brasileiro, de acordo com o Sebrae. Os outros dois motivos são a burocracia tributária e o desalinhamento entre sócios.
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Como fazer a gestão financeira de pequenos e médios negócios À medida que um pequeno negócio cresce, naturalmente aumenta a complexidade de sua administração. O empreendedor, que antes fazia tudo praticamente sozinho, começa a sentir a necessidade de dividir tarefas, contratar mais pessoas e até mesmo ter outros sócios.
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Nesse universo de atividades, uma tarefa requer especial atenção – a gestão financeira, que é o conjunto das ações administrativas relacionadas com o planejamento, a execução, a análise e o controle das atividades financeiras do negócio. Em palavras simples: obter o melhor resultado nas atividades da empresa. Para iniciar uma boa gestão financeira, o primeiro passo é tomar uma decisão importante: separar os recursos do negócio (PJ) dos recursos dedicados às despesas particulares (PF), como gastos familiares. É muito comum que empreendedores de pequenos negócios misturem as contas da pessoa física com as da pessoa jurídica. Como o caixa que realiza pagamentos é o mesmo que recebe o dinheiro proveniente das vendas, é preciso dedicar atenção especial para que não se torne um caixa único que atenda ao negócio e às despesas pessoais ou familiares. Tecnicamente existem três importantes frentes de ação da gestão:
• Gestão do caixa no dia a dia: administrar as entradas e as saídas de recursos financeiros relativos a vendas, prestação de serviços, pagamentos de fornecedores, salários, tributos, despesas, entre outros;
• Gestão de investimentos: ocorre quando a empresa resolve expandir, modernizar, abrir novas unidades, comprar novas máquinas e equipamentos etc.;
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• Gestão de crises: é um assunto pouco comentado, mas muito frequente. Envolve renegociação de prazos com clientes e fornecedores, dívidas em instituições financeiras, protestos, negativações, ações de execução, enfim, é uma área que exige saber fazer escolhas difíceis em eventuais tempos difíceis. Confira alguns pontos de atenção e dicas para uma boa gestão financeira de cada um dos itens anteriores.
Gestão do caixa no dia a dia Embora um pequeno negócio não seja uma miniatura de uma grande empresa, é importante que o empresário tenha um pouco de conhecimento de vários aspectos relativos à administração, tais como custos, formação de preços, recursos humanos e marketing. Administrar dinheiro exige tempo, dedicação e conhecimento. Nem sempre o empreendedor se dedica a analisar qual é a melhor solução para os problemas financeiros do cotidiano, como a falta de recursos para manter as contas do empreendimento em dia.
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Regime de competência e regime de caixa É importante saber a diferença entre regime de competência e regime de caixa. Esse entendimento proporcionará uma visão bem mais assertiva sobre o desempenho do negócio. Afinal, como explicar uma demonstração de resultados sinalizando lucro se a empresa fechou o mês com problemas de caixa, chegando até a utilizar o limite do cheque especial? Para quem não domina os conceitos, de fato é confuso. Quando falamos de receitas, despesas, custos, lucro ou prejuízo, estamos utilizando termos contábeis, geralmente apurados pelo regime de competência. Na contabilidade, via de regra, temos a DRE – Demonstração de Resultado do Exercício baseado neste regime, ou seja, os lançamentos da empresa devem ser reconhecidos nos períodos nos quais ocorrem, independentemente de terem sido recebidos ou pagos. De forma simplificada, para se chegar ao resultado da empresa, tem-se: receitas (-) custos (-) despesas (-) impostos = resultado (lucro ou prejuízo).
Fique atento! Nem todo lançamento contábil corresponde a uma movimentação no caixa da empresa.
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Imagine a seguinte situação prática: um pequeno negócio vende uma mercadoria por R$ 120 na seguinte condição: 3 vezes de R$ 40 no cheque pré-datado (uma entrada mais 30 e 60 dias); emite a nota fiscal e faz a entrega. Pronto! Do ponto de vista do regime de competência, houve a venda e houve a receita de R$ 120. Porém, do ponto de vista do caixa, entraram somente R$ 40 até agora. O restante deverá entrar somente após 30 e 60 dias. A mesma lógica serve para as compras a prazo, os impostos com recolhimentos trimestrais etc. Diferentemente do regime de competência, no regime de caixa as receitas e as despesas são apropriadas no período de seu recebimento ou pagamento, respectivamente, independentemente do momento em que são realizadas. Por isso, é importante administrar as contas pelo regime de caixa, ou simplesmente, administrar o caixa no dia a dia. Quando se fala em regime de caixa, é adequado utilizar os termos entradas e saídas de recursos (para caracterizar o fluxo financeiro) e sobras ou faltas de caixa (para o resultado do período analisado). Portanto, comprar é diferente de pagar, enquanto que vender é diferente de receber. Pagar e receber são processos do fluxo de caixa (regime de caixa). Comprar e vender são processos da demonstração de resultado (regime de competência).
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Entenda as diferenças entre contas a receber e a pagar A saúde financeira de sua empresa depende principalmente do controle e da gestão de três pilares: pessoas, processos e ferramentas. Ou seja, pessoas competentes, operando processos bem definidos e utilizando boas ferramentas. Contas a receber e contas a pagar são exemplos desses processos e são muito úteis para mensurar a saúde financeira da empresa.
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Contas a receber É o controle financeiro em que são registradas as entradas (aumentos) e as baixas (reduções) das vendas de uma empresa. Contas a receber está relacionado com as vendas em sua forma mais ampla, no âmbito de produtos ou dos serviços. O controle de contas a receber funciona assim: se houver um controle financeiro eficaz, você poderá avaliar como seu capital rodou no passado e o que está acontecendo no presente. Dessa forma, é possível identificar possíveis falhas e despesas desnecessárias, além de alternativas de lucro a partir do remanejamento de aplicações. De forma estratégica, o controle de contas a receber fornece informações para tomada de decisões sobre um dos ativos mais importantes de que a empresa dispõe: os créditos a receber originários de vendas a prazo.
Contas a pagar É o controle das obrigações financeiras do negócio, assumidas com fornecedores e demais credores. Ficam registrados os compromissos financeiros a serem liquidados, como fornecedores ou impostos.
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É importante ficar atento a esse processo, pois a falta de controle sobre o que tem de ser pago pode significar, além de falta de organização, um grande perigo para a saúde financeira e, consequentemente, para o futuro do negócio. Veja algumas recomendações que podem auxiliar a manter o controle desta parte do processo financeiro.
• Tenha atenção com as dívidas de longo prazo. • Saiba qual é o limite de endividamento que sua empresa pode assumir.
• Não gaste mais do que ganha. • Registre todas as suas contas a pagar. • Tenha uma ferramenta de controle financeiro. • Pague suas contas em dia, evitando multas e juros. • Sempre que possível, antecipe os pagamentos que oferecem descontos.
• Em caso de dificuldades, renegocie; não espere a bomba estourar. Nos controles de contas a pagar ou contas a receber, a gestão financeira do caixa no dia a dia assume nível estratégico ao utilizar ferramentas mais eficientes, como os relatórios gerenciais. Entre os mais conhecidos, destacamos o fluxo de caixa, que propõe exatamente o acompanhamento diário de pagamentos e recebimentos. Falaremos mais sobre esse importante relatório.
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Como utilizar o fluxo de caixa na sua empresa O fluxo de caixa é um relatório gerencial que controla e informa todas as movimentações financeiras (entradas e saídas de valores) de um dado período. Pode ser diário, semanal, mensal etc. É composto pelos dados obtidos dos controles de contas a pagar, contas a receber, de vendas, de despesas, de saldos de aplicações e de todos os demais elementos que representem as movimentações de recursos financeiros do negócio.
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A sua maior utilidade é possibilitar a identificação das sobras e das faltas no caixa, permitindo à empresa planejar melhor suas ações futuras ou acompanhar o seu desempenho financeiro. Em um negócio em funcionamento, o recomendável é que o período de acompanhamento seja diário. Entretanto, dependendo do volume de movimentações financeiras, poderá utilizar períodos mais longos – semanal, quinzenal e até mensal. Em períodos menores, o acompanhamento é mais eficiente, possibilitando o ajuste das finanças em caso de contingências. Por outro lado, requer maior esforço no acompanhamento. Seja por qual motivo for, um controle de fluxo de caixa bem feito é uma grande ferramenta para lidar com situações recorrentes no âmbito organizacional, como o eventual alto custo de crédito, taxas de juros elevadas, redução do faturamento e outros problemas que rondam os empreendimentos.
Vantagens do fluxo de caixa A manutenção do controle do fluxo de caixa na empresa apresenta as seguintes vantagens:
• Planejar e controlar as entradas e as saídas de caixa num período de tempo determinado.
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• Avaliar se as vendas presentes serão suficientes para cobrir os desembolsos futuros já identificados.
• Auxiliar o empreendedor a tomar decisões antecipadas sobre a falta ou a sobra de dinheiro na empresa.
• Verificar se o negócio está trabalhando com aperto ou folga financeira no período avaliado.
• Verificar a necessidade de realizar promoções e liquidações, reduzir ou aumentar preços.
• Verificar se os recursos financeiros próprios são suficientes para tocar o negócio em determinado período ou se há necessidade de captar recursos com terceiros.
• Avaliar se o recebimento das vendas é suficiente para cobrir os gastos assumidos e previstos no período.
• Verificar a necessidade de realizar promoções e liquidações, reduzir ou aumentar preços objetivando o ingresso de recursos na empresa.
• Avaliar a capacidade de pagamentos antes de assumir compromissos.
• Antecipar as decisões sobre como lidar com sobras ou faltas de caixa.
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A implementação do relatório do fluxo é uma tarefa sem grandes complexidades. Entretanto, cabe lembrar que a manutenção de um fluxo de caixa requer que os dados sejam confiáveis e constantemente atualizados, pois somente assim terá utilidade. Dessa forma, é importante manter um bom controle de contas a receber, contas a pagar, caixa, saldo de aplicações financeiras, faturamento, vendas à vista e a prazo, enfim, um controle efetivo das finanças da empresa.
Vamos à prática Agora que já conhecemos o que é um fluxo de caixa, veremos seu funcionamento na prática. Para tanto, vamos utilizar a planilha a seguir. Na primeira coluna, apresentamos os itens que representam as entradas e as saídas de recursos da empresa. Nas colunas seguintes, há a movimentação efetuada em cinco dias. Note que existem duas colunas para cada dia: uma para os valores previstos e outra para os realizados. A segunda coluna, referente aos valores realizados do dia, será concluída somente no fim de cada dia transcorrido.
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910
Duplicatas recebidas
DIA 03
DIA 04
DIA 05
2430
730
1700
2900
1050
1850
2230
630
1600
2930
1030
1900
2430
630
1800
3180
1230
1950
2610
910
1700
5150
1300
3850
4680
980
3700
1000
700
1700
1010
200
1210
Custos e despesas variáveis
Total das saídas (b)
Saldo do dia (c = a - b)
Saldo do dia anterior (d)
Saldo atual (c + d)
2130
200
1930
500
300
200
3210
1210
2000
900
400
500
3110
2130
980
1250
250
1000
5240
3210
2030
900
400
500
4640
3110
1530
900
400
500
8120
5240
2880
300
200
100
6750
4640
2110
500
400
100
-3654
8120
-11774
16924
10000
6924
-2894
6750
-9644
14324
10000
4324
Previsto Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado
Custos e despesas fixas
SAÍDAS
Total das entradas (a)
2710
1800
Outras entradas
DIA 02
Previsto Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado Previsto Realizado
Vendas à vista
ENTRADAS
DIA 01
Modelo de fluxo de caixa
Recomendações para análises Como pode ser observado, a planilha não é complexa, embora a obtenção dos dados possa ser uma tarefa trabalhosa, pois exige outros controles adicionais e muita disciplina. Agora, que já temos um fluxo de caixa pronto, podemos fazer algumas análises sobre a movimentação financeira apresentada. Assim, identificamos algumas situações que merecem atenção:
• Os valores previstos para vendas à vista não foram realizados uniformemente, isto é, em alguns casos as vendas à vista foram em valor menor do que o previsto;
• Os valores previstos para recebimento de duplicatas foram inferiores aos previstos;
• É necessária atenção redobrada em relação aos pagamentos previstos e não realizados por falta de caixa, pois esse cenário implica diretamente a cobrança de multa e juros, que são grandes vilões da saúde financeira de um negócio;
• Outro aspecto fundamental é o estabelecimento de rotinas de cobrança de recebíveis em atraso, tendo em vista que, diante do grande volume de atividades que normalmente o empreendedor tem, essa rotina acaba ficando em segundo plano.
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Quando menos se espera, o relatório de inadimplência está fora de controle, comprometendo mais uma vez a saúde financeira do negócio. Além disso, a falta de recursos implica a revisão das estratégias da empresa, devendo observar os seguintes aspectos: renegociar com fornecedores o pagamento das obrigações; revisar o sistema de cobrança; fazer uma promoção de mercadorias; trabalhar com estoques mínimos; reduzir os períodos nas vendas a prazo; programar melhor as compras; vender bens e equipamentos ociosos. Caso haja sobra de recursos, a empresa poderá investir de forma planejada em: estoques; mercado financeiro; antecipação do pagamento de obrigações mediante desconto financeiro; ativo imobilizado, entre outros. É importante ressaltar que a sobra de caixa pode ser momentânea, ocorrendo por alguns dias e, logo em seguida, essa sobra ser necessária para quitar os compromissos. Assim, é fundamental fazer uma análise da situação da empresa no curto, médio e longo prazo, para que ela não seja descapitalizada e passe a depender de recursos de terceiros. As informações apresentadas no fluxo de caixa revelam a diferença entre previsto e realizado. Com essas informações, o empreendedor tem melhores condições para administrar o negócio. Sem um controle financeiro eficiente, é mais difícil atingir os resultados planejados.
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Lembre-se de que implementar, e sobretudo manter um fluxo de caixa eficiente, exige disciplina, inclusive com a manutenção de outros controles financeiros, como contas a receber, contas a pagar, estoques etc. É sempre melhor saber com antecedência e precisão sobre a situação financeira da empresa do que ser apanhado de surpresa com uma situação desfavorável.
Gestão de investimentos Para uma empresa crescer, expandir-se, modernizar-se, reestruturar-se, abrir filiais e aumentar a capacidade de produção, são necessários investimentos planejados para tais objetivos. Nessas horas, o empreendedor vai deparar com as seguintes dúvidas: devo ou não investir? Será que isso vai dar o retorno que eu espero? Quanto esse investimento vai custar? Como obter os recursos? O primeiro passo é fazer um pequeno projeto de viabilidade do investimento.
SAIBA MAIS Existem vários modelos de planos de negócio: https://is.gd/vPPYkN
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Após analisar e perceber que o projeto é economicamente viável, surge a questão: como financiá-lo? Nessa hora é preciso tomar muito cuidado para não cometer um dos erros mais clássicos na gestão financeira de uma empresa: investir com recursos próprios e depois ficar sem capital de giro.
Gestão do capital de giro Com o crescimento dos negócios, muitas vezes o empreendedor usa as sobras de caixa para fazer novos investimentos. Isso por si só não é um erro. Afinal, se o dinheiro está sobrando, por que não o reinvestir na própria empresa? Mas, com o aumento/expansão dos negócios, cresce também a necessidade de capital de giro. É ele que vai ajudar a manter as contas em dia, a ter poder de barganha com os fornecedores e a ter condições de oferecer algum diferencial na hora de facilitar o pagamento para um cliente. O problema é usar os recursos próprios e depois a empresa ficar sem capital de giro. Mesmo que a empresa tenha acesso a linhas de crédito para capital de giro nos bancos ou cooperativas de crédito, isso tem um alto custo, pois as taxas de juros para capital de giro são mais caras do que aquelas destinadas às linhas de investimento em estoque, máquinas, equipamentos, reformas e aquisição de imóveis.
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O capital de giro é composto pelos recursos (dinheiro, crédito, estoques etc.) que são necessários para bancar a liquidez, isto é, possibilitar que a sua empresa continue funcionando pagando seus compromissos na data correta. Por que é tão importante? O capital de giro garante a saúde financeira da empresa, proporcionando:
• Oferecer financiamento aos clientes (nas vendas a prazo);
• Manter os estoques; • Pagar fornecedores (compras de matéria-prima ou mercadorias de revenda), impostos, salários e demais custos e despesas operacionais. Tudo começa com um bom planejamento, detalhando os gastos a curto e a longo prazo e as possíveis entradas de dinheiro: Todas as suas contas a receber
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O valor que você possui em estoque
Agora, pegue o primeiro valor e faça uma conta simples de subtração: Todas as suas contas a receber
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O valor que você possui em estoque
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As contas a pagar
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O valor a pagar em impostos e despesas
Pronto, este é o valor necessário para fazer seu negócio funcionar por um certo período de tempo, ou seja, o seu capital de giro.
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Como manter um capital de giro satisfatório:
• Identifique e corte gastos. • Descubra custos que podem ser diminuídos e faça o que for necessário para cortá-los.
• Tenha disciplina. Fique atento às contas da sua empresa! Não use seu capital de giro para cobrir despesas, a menos que seja absolutamente inevitável. Se tiver mesmo que fazer isso, reponha a mesma quantia assim que entrar dinheiro em caixa. Manter seu negócio saudável e operante deve ser do interesse de todos os envolvidos. Com isso em mente, converse com fornecedores, procure formas de pagamento mais confortáveis, peça aumento de prazo ou desconto no preço à vista e verifique se esse desconto cabe no seu planejamento de capital de giro. Para os clientes, tente sempre que possível reduzir os prazos de financiamento. É difícil, já que os concorrentes podem oferecer condições de pagamento melhores do que a sua. No entanto, não custa tentar – utilize a criatividade e o seu repertório comercial, destacando benefícios e estímulos para essa antecipação. Para ter mais dinheiro em caixa, o empreendedor também pode procurar instituições financeiras e antecipar seus recebíveis, tendo logo os valores que receberia só no futuro. Mas é preciso tomar cuidado e ficar atento
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às taxas de juros cobrados por esse serviço. Veja se realmente vale a pena para o negócio. Se a empresa precisa pagar dívidas e não tem dinheiro em caixa, o empréstimo é uma alternativa. Contudo, aqui entra novamente o planejamento. Não procure esse serviço se sua empresa não tem garantias futuras para quitá-lo. Pesquise os menores juros do mercado e não faça dessa alternativa um hábito. Corrija os procedimentos de compra e venda para conseguir ficar no azul com seu capital de giro, sem precisar recorrer a meios que podem fazer suas dívidas aumentarem mais ainda. No Brasil, existem diversas linhas de crédito para financiar os investimentos de pequenos e médios negócios como o Cartão BNDES, o Finame (também do BNDES) e os Fundos Constitucionais. O empreendedor precisa ser cuidadoso e pesquisar sobre as condições de cada linha em uma instituição financeira operadora.
Entendendo as garantias bancárias No âmbito dos investimentos financeiros, uma decisão muito importante está relacionada à política de garantias. As garantias podem ser reais (penhor, hipoteca e alienação) ou pessoais (aval e fiança). Para a obtenção de linhas de crédito com juros subsidiados, as exigências de garantias são normalmente maiores.
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Caso o empreendedor, o negócio ou seus sócios não tenham garantias suficientes, deve-se conversar com seu gerente sobre a possibilidade de utilizar um Fundo de Aval ou o apoio de uma Sociedade de Garantia de Crédito (SGC).
Dica Mesmo o investimento sendo em imóvel, máquinas, equipamentos e reformas, há a possibilidade de ser incluído o capital de giro associado ao investimento (Operação Mista) com condições mais favoráveis. Conversar com o gerente sobre isso é a melhor opção do empresário.
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Gestão de crises Historicamente a estatística mostra que muitas empresas fecham por não conseguir superar uma crise. Na verdade, não existe fórmula mágica para o enfrentamento de crises financeiras, mas algumas recomendações são importantes. Mesmo que muitas dessas recomendações sejam óbvias, na prática, sua aplicação requer disciplina, persistência, vontade de superação e muita, muita ação.
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A primeira reflexão deve ser sobre a origem das dificuldades financeiras. É fácil achar que são as receitas que estão baixas, mas o problema pode estar nos custos variáveis diretos e indiretos, nas despesas operacionais e nos gastos extraordinários. É muito importante identificar o problema. Em situações emergenciais de falta de caixa, o empreendedor deve pagar primeiro os compromissos com juros maiores. Assim, os gastos com juros vão diminuindo ao longo do tempo. Na prática, nem sempre dá para fazer isso. Então, a recomendação é:
• Negociar prazos maiores com os fornecedores; • Se estiver utilizando linhas de crédito mais onerosas, procurar renegociá-las com juros e prazos mais adequados;
• Conversar com o gerente sobre a possibilidade de obter uma linha de crédito com juros menores para quitar as dívidas mais caras em outras instituições (portabilidade);
• Reduzir custos e despesas, mas sem comprometer um padrão mínimo de operação condizente com o perfil da empresa.
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Atenção Pagar uma dívida mais cara e depois usar o mesmo limite para se endividar novamente pode aumentar os problemas financeiros.
Durante um momento de crise, é importantíssimo ter um controle bem apurado de todos os recursos que entram e saem da empresa. Faça um fluxo de caixa diário ou semanal para identificar as prioridades financeiras e tomar as medidas necessárias com antecedência.
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Considerações finais Em resumo, é comum nas pequenas empresas que o empreendedor dedique mais tempo e atenção às operações diárias de compra/produção e venda, em detrimento da organização administrativa e financeira. Nesse sentido, é sempre importante destacar que o controle da empresa será mais eficiente quando os processos financeiros estiverem implantados e funcionando bem. Somente assim poderá alcançar melhores resultados.
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Na prática, o empreendedor moderno precisa estar atento às informações que partem de diversas direções e tem o enorme desafio de absorver principalmente o que estiver relacionado ao seu negócio e, especificamente, à sua cadeia de valor. Por isso o investimento em ferramentas ágeis e controles são essenciais para obter os resultados esperados, tendo em vista que os mercados estão cada vez mais dinâmicos e desafiadores. Utilizar a tecnologia de forma estratégica e eficiente será um importante diferencial em sua jornada empreendedora. Muito sucesso!
Referências ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2009. CASAGRANDE, Humberto. et al. Guia do Mercado de Capitais. 2ª ed. São Paulo: Lazuli. GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 12ª ed. São Paulo: Pearson Education, 2010. PINHEIRO, Juliano Lima. Mercado de Capitais: Fundamentos e Técnicas. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2010. FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro: Produtos e Serviços. 18ª ed. São Paulo: Qualitymark, 2010.
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Autor Randal Mesquita É contador, especialista em Controladoria, em Educação Financeira e em Varejo e Serviços. É mestre em Administração de Empresas, professor do ensino superior e sócio da Result Consultoria em Varejo e Serviços.
Ilustrador Rafael Limaverde É artista visual, xilogravurista, ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente). É formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE). Escreve e tem livros ilustrados em editoras cearenses e paulistas.
Sugestões ou dúvidas tutoria@fdr.org.br
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