4 minute read

EDITORIAL NUTRINDO RAÍZES

Next Article
ESCAPARATE

ESCAPARATE

No início de mais um ciclo de 365 dias, a Fundação

Manuel Viegas Guerreiro (FMVG) prossegue na execução dos seus princípios fundamentais, respondendo aos desafios que hoje se colocam à Humanidade e às instituições, das regionais às de escala mundial, como as Nações Unidas. A partir deste pequeno “acampamento” onde se ergue a Fundação, a transformação germina de forma minimalista, mas de ensejo cada vez mais radicular. É aqui, centro nevrálgico do pensamento do Professor Viegas Guerreiro, que se estabelecem em permanência essas trocas “umbilicais”

Advertisement

Se porventura a afirmação pode parecer panfletária, sigamos a sua obra, onde tantas vezes se pontua a necessidade de (re)conhecer o outro, esquecendo preconceitos, prática distante da antropologia europeísta do seu tempo.

No seu ciclo de vida, Viegas Guerreiro não se apouca nas chamadas de atenção para a diversidade sócio-cultural e ecológica. Para a busca incessante De equilíbrio na exploração dos recursos naturais e de harmonia entre as comunidades e os processos de reforma estruturais, que visam o chamado “progresso”. Nome essencial na luta pela construção de pontes culturais e humanas, elos que trabalha através da Ciência. O etnólogo e antropólogo aproxima a Humanidade e tenta derrubar fronteiras mentais. Confirma que entre as comunidades ditas primitivas, que estudou no Sul de Angola, a evolução é real: «Os Bochimanes do deserto mantêm alguns mitos, continuam a contar histórias, a cantar e a bailar. E, se perderam determinadas tradições [os seus antepassados remotos são autores de gravuras e pinturas rupestres, Drakensberg, África do Sul], outras ganharam, que a evolução não é fenómeno privativo das civilizações progressivas.» (Bochimanes!Khũde Angola.Estudoetnográfico , 1968).

Ciente da «escassez de especialistas», fundamenta a analogia cultural com a sua observação em pequenas comunidades rurais de África e da Europa. Cita George M. Foster no seu livro LasCulturasTradicionalesylos CambiosTécnicos , alertando para os riscos de não atentarmos nessa diversidade:

«Uma vez, em tempos idos, um macaco, ágil e experimentado, teve a sorte de poder subir a uma árvore, onde ficou seguro. Ao olhar de cima para as águas embravecidas, lobrigou o peixe, que lutava contra a corrente. Movido por humanitário desejo de ajudar o desafortunado companheiro, estendeu-lhe a mão e tirou-o da água. Foi, porém, grande a sua surpresa, ao ver que o peixe de modo nenhum lhe agradecia aquele favor.»

Porque o mundo não se sintetiza em uma grande urbe, o Professor coloca o Homem no centro do desenvolvimento rural, formulando a recomendação de que técnicos e antropólogos andem de mãos dadas. É também em OPapeldaAntropologiaSocialnos ProgramasdeDesenvolvimentoRural(1974) que destaca Possinger: «O homem do campo deve ser considerado sujeito e não objecto de uma política de desenvolvimento. Devemos ir ter com ele, ouvi-lo, saber o que quer, como quer e para que quer, e não tomá-lo como coisa que vamos modelar à nossa vontade.»

MVG e os ODS

A obra e as conferências que Manuel Viegas Guerreiro promoveu materializam uma orientação apontada à educação, à comunidade, à sustentabilidade, à saúde e ao papel da mulher. É inevitável escutar nos seus textos ecos do memorandum da Organização das Nações Unidas e da Agenda 2030: os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, com os quais a Fundação se sente inequivocamente alinhada. Não só na áreas da saúde, através da promoção de estudos científicos, mas também de princípios de igualdade de género, de redução das desigualdades, disponibilizando acessibilidade, física e intelectual, para públicos com necessidades específicas, com uma aposta em projectos que consubstanciem o recurso às energias renováveis e acessíveis, de protecção da vida terrestre. De forma simples e convocando L. Farnoux-Reynaud, note-se: «Dado que o homem é o único animal que bebe sem sede, convém que o faça com discernimento.» De Querença, se ouve também Casimiro de Brito que escreve a determinada altura num dos seus poemas:

Um figo é uma / dádiva do sol e da terra e da nossa / humilde fome, e tudo são figos, ah não comas, / não comas nunca nada / sem fome

Epítome desse pensamento: o Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro (PEB-MGG), a inaugurar em Março, com a presença do General Ramalho Eanes e do destacado biólogo Jorge Paiva, tal como pensado em 2020.

Cartilha esta, para a paz e para a justiça, que só se cumpre com uma sólida rede de parcerias. Exemplo disso, a embrionária mas futura ligação ao Colégio

Doutoral franco-luso-alemão RepresentaroOutro: museus,universidades,etnologia , criado este ano no seio da universidade Sorbonne Nouvelle e do Instituto alemão Frobenius, triangulado pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto.

A nível local, fruto de outras parcerias, a Fundação prepara-se para apresentar em Junho um conjunto de recursos educativos sobre Viegas Guerreiro. O projecto AntropologiadoEspantodará a conhecer a figura do Professor através de jogos, na fórmula original de estes serem concretizados por crianças e jovens para outras crianças e jovens. A iniciativa está inserida no calendário da I Bienal Cultura e Educação, Retrovisor:umahistória defuturo , do Plano Nacional das Artes.

A raiz da Fundação

Esse desejo maior de transformação através da Cultura reflecte-se no enraizamento dos princípios enunciados, somados aos da sustentação e da perseverança, todos implantados no nome Raiz , que titula a partir de 2023 a revista da Fundação. Publicada desde 2017, tem vindo a acrescentar páginas e colaborações. Sinal disso, à plêiade de investigadores/as, junta-se agora o notável médico pediatra Francisco José, com uma vida de experiência nos hospitais de Faro, Abrantes, D. Estefânia, Maternidade Alfredo da Costa e Portimão. Com ele se estreia a secção Brincarcomaspalavrasecoma escultura , que abre as portas do seu atelier , génese de museu com peças da História de Portugal. Representada por inúmeras figuras nacionais feitas em massa moldável, madeira ou esferovite, não raras vezes, Francisco José acompanha as esculturas com poemas, inéditos ou de autores conhecidos. Vale a pena ler a estória que liga Francisco pai e Francisco filho ao General Ramalho Eanes. Esta conta-se aqui, com direito a novos episódios com o regresso do Presidente ao Algarve, em Março. Neste novo ciclo, a FMVG espera dar-se a conhecer a cada vez mais seguidores, se não em Querença, no mundo digital, através do novo site, de grafismo moderno, intuitivo, multilingue e adaptado a pessoas com necessidades específicas, que permite descobrir a história e as iniciativas da Fundação em hebraico, árabe, mas também em inglês, francês, alemão, holandês, finlandês, e em outras línguas. Ou então, acedendo, desde já, a esta Raiz , nutrida em Querença.

This article is from: