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POSTAIS DO ALGARVE

DUAS HORTAS (ESTOI)

Havia a horta havia um limoeiro ao fundo alfarrobeiras à frente as oliveiras, no muro uma passagem depois de atravessarmos a estrada

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Na horta atrás da casa laranjeiras figueiras e uma romãzeira junto à nora

Às vezes vagarosa a mula com antolhos rodava toda a tarde fazendo os alcatruzes despejar incessantemente águas

GASTÃO CRUZ

« SOUVENIR DE OLHÃO

Eh! menina do quiosque, dê-me aí uma lembrança que eu vou a sair de Olhão Não quero cestos de empreita nem sardinhas enlatadas nem cinzeiros-chaminés. Postais ilustrados, não. Talvez... tem algum inédito do poeta João Lúcio? Ou antes... dê-me depressa um cubo de cal, um punhado de sal e aquela espada de luz!

LEONEL NEVES

[PALÁCIO DE ESTOI]

Paira o silêncio no corredor onde cada árvore oculta o rasto dos primeiros habitantes.

FERNANDO CABRITA

«

[As açoteias] embrincam-se, acasalam-se, desarticulam-se, anuladas pela brancura e pela miragem das leis da perspectiva e do volume. São milhares de cubos em equilíbrio instável, paradoxal, absurdo, como cantarias duma Babel juncando um campo raso.

RAÚL PROENÇA

«

É que a soteia é o seu encanto: sítio esplêndido para respirar, eira para a alfarroba e o figo, e quarto para dormir no Verão sob um pedaço de vela.

RAUL BRANDÃO

« Ó vila de Olhão

Da Restauração

Madrinha do povo Madrasta é que não Com papas e bolos

Engana o burlão Os que de lá são

E os que p’ra lá vão E os que p’ra lá vão E os que p’ra lá vão

Ó flor da trapeira Ó rosa em botão

Tuas cantaneiras

Bem bonitas são

Larga ó pescador O que tens na mão Que o peixe que levas É do teu patrão É do teu patrão É do teu patrão

Limpa o teu suor

No camisolão

Que o peixe que levas É do cais de Olhão

Vem o mandarim

Vem o capitão

Paga o pagador

Não paga o ladrão

Não paga o ladrão Não paga o ladrão

Ó vila de Olhão

Da Restauração Madrinha do povo Madrasta é que não

Quem te pôs assim Mar feito num cão Foi o tubarão

Foi o tubarão

Foi o tubarão

Mulher empregada

Diz o povo vão Que aquela empreitada Não dá nada não

Ó vila de Olhão

Da Restauração Madrinha do povo Madrasta é que não Madrasta é que não Madrasta é que não

Ó pata descalça

Deixa-me da mão

Que os da tua raça Já não pedem pão

Passa mais um dia Todos lembrarão

CASIMIRO DE BRITO

Passa mais de um ano Já não pedem pão

Ó vila de Olhão

Da Restauração Madrinha do povo Madrasta é que não JOSÉ AFONSO

Da

RAUL BRANDÃO

Abro a janela sobre as açoteias. A luz é uma indolência universal, despida.

Nos tépidos lençóis de cal varrida Acordam estremunhadas Do mesmo sono

Sombras pacificadas No total abandono Que volúpia pedia.

MIGUEL TORGA

« De uma brancura lavada do sol, amaciadas de sombras claras, dispostas, desde esta torre até ao mar, em diferentes tamanhos, as casas das açoteias, lineares, nítidas, como cubos de cal, floridas de delicadas, alvas chaminés...

MANUEL DA FONSECA

Metamorfose Em Agosto

O verão que subiu às açoteias do litoral como o grito dos amantes que incendiou a tarde e atravessou a terra com um calafrio de nortada, transformou-se no carreiro de formigas que se perderam da sua cova. Sigo-as num caos de vagabundagem, como se elas me levassem ao encontro de uma recordação de madrugadas de ócio, ouvindo a voz que ficou da insónia emergir de uma dobra de lençóis, com as sílabas exaustas de um imenso abraço.

Nuno J Dice

POSTAIS DO ALGARVE é uma rubrica criada em 2020, quando o país e o mundo se viram mergulhados na pandemia da covid-19. Numa altura em que as casas de cultura se encontravam encerradas ao público, a FMVG iniciou o levantamento e a publicação regular de descrições da região, do litoral à serra, de barlavento a sotavento, através das palavras de mais de 120 autores/as. Todos/as se encontram reunidos/ as no CentrodeEstudosAlgarvios LuísGuerreiro , alojado na Fundação.

Uma Rua De Olh O

Uma mulher espreitando num postigo; um carro velho abandonado um cão vadio na esquina, uma linha de sombra casas, açoteias e mirantes, calor e estagnação deste Sul luminoso e inóspito.

Ant Nio Jos Ventura

Nesta itinerância pelas imagens escritas sobre o Algarve, convidamos a fazer uma breve paragem em Olhão para mirar o que se escreveu sobre a vila, depois cidade, e suas açoteias. As descrições de lugares ou do pensamento dos poetas que aqui nasceram apresentam-se em versão excerto.

Não deixe de as ler na íntegra, nos livros que Querença acolhe. PostaisdoAlgarveé só um aperitivo para algo mais enriquecedor.

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