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Lisboa Republicana espa莽o e mem贸ria
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Apoios Arquivo Histórico do Banco de Portugal Arquivo Municipal de Lisboa - Arquivo Arco do Cego Arquivo Municipal de Lisboa - Arquivo Fotográfico Carris – Companhia Carris de Ferro de Lisboa, S.A. Direcção de Infra-Estruturas do Exército Divisão de Programação e Divulgação Cultural Divisão Reparação e Manutenção Mecânica Hemeroteca Municipal de Lisboa (HML) Museu da Música Regimento Sapadores Bombeiros Videoteca Municipal de Lisboa
Agradecimentos Álvaro Matos / Hemeroteca Municipal de Lisboa / Ana Paula Pires / IHC, Universidade Nova de Lisboa / António Cunha / Videoteca Municipal de Lisboa / Arquivo Municipal de
Mostra bibliográfica COMEMORAR A REPÚBLICA: o 5 de Outubro na Primeira República Pesquisa, selecção de imagens e textos Manuela Canedo Legendagem, grafismo e montagem Celina Trindade Créditos fotográficos Arquivo Municipal de Lisboa - Arquivo Fotográfico Gabinete de Estudos Olisiponenses
Vídeo COMEMORAR A REPÚBLICA: O 5 de Outubro na Primeira República Produção Videoteca Municipal de Lisboa
Lisboa - Arquivo Arco do Cego / Carla Pinho / CML - Divisão de Reparação e Manutenção Mecânica / Cecília Cameira / Arquivo Municipal de Lisboa - Arquivo Fotográfico / Conceição Ribeiro / Centro de Documentação e Informação do Museu das Telecomunicações / Dina Grácio / Centro de Documentação e Informação do Museu das Telecomunicações / Família Almada Negreiros / Fernando Carrilho / Videoteca Municipal de Lisboa / Fundação Calouste Gulbenkian / Gil de Matos / Arquivo Histórico do Banco de Portugal / Inês Viegas / CML - Divisão de Gestão de Arquivos / João Vieira / Arquivo Histórico do Banco de Portugal / Júlia Serra / Secretaria Geral do Ministério da Educação / Luísa Costa Dias / Arquivo Municipal de Lisboa - Arquivo Fotográfico / Manuel Diogo / Banda do Regimento de Sapadores Bombeiros / Manuela Rêgo / Biblioteca Nacional de Portugal / Maria de Lurdes Baptista / Arquivo Municipal de Lisboa - Arquivo Fotográfico / Maria Helena Trindade / Museu da Música / Paula Teixeira / CML - Divisão de Programação e Divulgação Cultural / Rodrigues da Costa / Direcção de Infra-Estruturas do Exército / Victor Palma / Museu da Música / Vilas Boas / Direcção de Infra-Estruturas do Exército
Abreviaturas AML-AC Arquivo Municipal de Lisboa, Arquivo Arco do Cego Execução e montagem da exposição F. Costa, Oficina dos Museus Edição Câmara Municipal de Lisboa Direcção Municipal de Cultura Gabinete de Estudos Olisiponenses ISBN 978-972-9231-04-09 Depósito Legal 316700/10 Impressão www.textype.pt Tiragem 1000 exemplares
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AML-AF Arquivo Municipal de Lisboa, Arquivo Fotográfico ant. anterior c. cerca CML Câmara Municipal de Lisboa FCG-CAM Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna GEO Gabinete de Estudos Olisiponenses HML Hemeroteca Municipal de Lisboa IP Ilustração Portuguesa post. posterior s.d. sem data
Lisboa Republicana espaço e memória CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA Presidente António Costa
Coordenação Geral Anabela Valente
Vereadora do Pelouro da Cultura Catarina Vaz Pinto
Comissário científico António Reis (IHC / Universidade Nova de Lisboa)
Director Municipal de Cultura Francisco Motta Veiga
Coordenação e direcção de projecto Eunice Relvas Investigação e textos Ana Homem de Melo Delminda Rijo Elisabete Gama Eunice Relvas Guilherme Pereira Helena Gonçalves Pinto (CESTUR / Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril) Manuela Canedo Desenho da exposição e livro João Rodrigues Digitalização e tratamento de imagem António Vilhena Celina Trindade Elsa Ferreira (HML) João Rodrigues José Cerdeira (HML) Colaboração na pesquisa Ana Paula Garcês Catarina Cadete Fátima Aragonez Patrícia Veríssimo Créditos fotográficos Arquivo Histórico do Banco de Portugal Arquivo Municipal de Lisboa - Arquivo Fotográfico Gabinete de Estudos Olisiponenses Produção e divulgação Ana Paula Garcês Paula Candeias Vanda Souto Serviço Educativo Elisabete Gama
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Apresentação António Reis
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Introdução Eunice Relvas
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Lisboa Republicana Dados e Números Delminda Rijo e Eunice Relvas
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Política e Sociedade Eunice Relvas
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Sítio e População Delminda Rijo
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Espaço Público e Memória Ana Homem de Melo
Arquitectura e Urbanismo Elisabete Gama
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Educação Eunice Relvas
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Saúde e Assistência Helena Pinto Gonçalves
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Cultura, Artes e Património Elisabete Gama
Lazer e Quotidiano Manuela Canedo
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Lojas da Baixa-Chiado na I República Guilherme Pereira
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Festas Populares e Cívicas Eunice Relvas
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Ao longo da primeira década do século XX, Lisboa tornou-se uma cidade visceralmente republicana, sob a influência de uma pequena burguesia urbana de lojistas e caixeiros aliada a um operariado em franco crescimento e agitação, ideologicamente enquadrados por uma activa plêiade de intelectuais – professores, médicos e juristas – seduzidos pelo positivismo cientista e anticlerical. Entre 1900 e 1910, o Partido Republicano Português duplica a sua percentagem de votos em eleições legislativas, de 31 para 62%, triplicando o número de votos, de 5 000 para 15 000. Em 1 de Novembro de 1908 conquista mesmo a Câmara Municipal sem que os partidos monárquicos se atrevessem a apresentar as suas próprias listas, o que não o impediu de triplicar os votos obtidos nas municipais de 1906! Era o fruto de um abnegado e persistente trabalho educativo, cultural e social desenvolvido pelos centros republicanos e por toda uma constelação de instituições filantrópicas criadas pela maçonaria. A eficácia administrativa rapidamente demonstrada pela nova vereação em contraste com a anterior vereação monárquica credibilizou o Partido Republicano como partido de governo e não apenas como partido de protesto. As folhas de imprensa, os comícios e as conferências constantes encarregavamse de difundir o ideário republicano e de propalar as realizações administrativas, tais como o saneamento das finanças, o novo regime laboral de 8 horas diárias, os progressos no abastecimento de víveres, os melhoramentos urbanísticos. Entre 1878 e 1911, Lisboa quase duplica a sua população atingindo neste último ano 435 359 habitantes, quase metade da população urbana do país e 8% da
população total, convertendo-se no símbolo da macrocefalia nacional, verdadeiro centro político, administrativo, económico e cultural do país. Nestas condições, a província tinha necessariamente de obedecer e seguir Lisboa. As excepções ao longo da República foram a Monarquia do Norte rapidamente jugulada pela capital e o 28 de Maio que arrancou em Braga. O crescimento industrial é acompanhado pelo crescimento dos serviços e do comércio, assim se criando toda uma plebe urbana disponível para a agitação revolucionária e onde a Carbonária irá recrutar alguns milhares dos seus membros. Dos caixeiros da Baixa aos operários de Alcântara e Xabregas, com as suas organizações de classe, é um barril de pólvora que se vai montando e que será decisivo para o triunfo da República no 5 de Outubro e continuará a marcar presença nos vários golpes que ciclicamente perturbarão a vida do novo regime, do 14 de Maio de 1915 à tentativa monárquica de Monsanto em 1919 e ao 19 de Outubro de 1921 e, posteriormente ao 28 de Maio, nas revoltas do Reviralho de 7 de Fevereiro de 1927 e 26 de Agosto de 1931. É dos diversos aspectos desta Lisboa popular e republicana que a presente exposição, oportunamente organizada pelo Gabinete de Estudos Olisiponenses, pretende dar conta, percorrendo não apenas os acontecimentos políticos e sociais que a foram marcando ao longo da República, mas também a sua arquitectura e urbanismo, os seus centros de ensino, a saúde e assistência, a sua cultura e património, a sua vida quotidiana e as festas populares e cívicas. António Reis
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bibliografia
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O ano de 1908 viu “nascer” a Lisboa Republicana quando os lisboetas asseguraram, nas eleições municipais de 1 de Novembro, a escolha de uma vereação inteiramente republicana para gerir os destinos da capital, expressando a sua vontade de passarem de súbditos a cidadãos de uma República anunciada. Este acto, assim como depois a implantação da República, no dia 5 de Outubro de 1910, não implicou uma mudança radical no quotidiano dos alfacinhas. Os elegantes e ricos continuaram a abrilhantar a Baixa e o Chiado: comprando nas suas lojas chiques com produtos requintados e novidades; indo às modistas e alfaiates que ofereciam a última moda de Paris; frequentando os seus cafés, as livrarias, os teatros e animatógrafos (mais tarde, cinemas); cruzando-se, diariamente, com lojistas, cambistas, contabilistas e empregados públicos, numa azáfama citadina semelhante a outra capital europeia. Contudo, a esmagadora maioria dos lisboetas e dos novos imigrantes, que chegavam todos os dias à capital, eram pobres e habitavam nos bairros populares. Amontoados em casas, nas vilas e pátios insalubres, alimentavam-se pauperrimamente, andavam descalços e sujos. Os mendigos pululavam pelas ruas. Os homens trabalhavam nas fábricas, no porto de Lisboa (na descarga do carvão e mercadorias), na venda ambulante e no comércio. As mulheres labutavam como vendedoras ambulantes, criadas, costureiras, modistas, floristas, actrizes, coristas; mais tarde, surgiram as vendedoras de lojas ou de grandes armazéns e as dactilógrafas; outras, ficavam em casa a cuidar dos filhos.
Após a Grande Guerra, nos loucos anos 20, Lisboa modificou-se. Agravaramse as diferenças sociais entre os novos-ricos, banqueiros, especuladores e industriais que aumentaram o seu capital e viviam uma vida faustosa e, os pobres, que dependiam do seu magro salário para sobreviver. A instabilidade laboral e a contestação social agravaram-se. Era «Lisboa a invadida» (ABC,1920: 24) onde, devido à chegada diária de imigrantes de todo o país, não se encontravam casas para alugar e os eléctricos abarrotavam. Uma cidade de grandes desigualdades sociais, num formigar de greves e tentativas de golpes e revoltas contra a hegemonia do Partido Republicano Português, instalando nas suas gentes descrença e vontade de mudança. As elites, cépticas em relação aos políticos e ao regime liberal, viam num regime ditatorial a solução de todos os problemas do país. A ditadura militar instalada, pouco tempo após o golpe militar de 28 de Maio de 1926 (para os seus contemporâneos mais um entre tantos), marcou o início do fim da Primeira República. O que se propõe com esta Exposição é uma “visita” à Lisboa da República: à “Lisboa da rua”, aos seus espaços – nalguns casos tão distintos – e memórias pouco presentes...
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Posto de Relógio Padrão da Hora Legal 1914 Benoliel, Joshua AML-AF, A4099 No dia 1 de Janeiro de 1912 foi adoptada a nova a Hora Legal em Portugal, tendo por origem o meridiano de Greenwich, até essa data a hora oficial era a do tempo médio de Lisboa, referente à passagem do sol pelo meridiano de Lisboa. Em 1914, junto ao edifício Oeste dos escritórios do Porto de Lisboa, foi instalado um grande relógio, regulado electricamente pelo Pêndulo Padrão do Observatório Astronómico de Lisboa (Tapada da Ajuda), para dar, 14 rigorosamente, a Hora Legal.
50 centavos Portugal 1912 Prata Ø 30 mm Arquivo Histórico do Banco de Portugal O Decreto de 22 de Maio de 1911 remodelou o sistema monetário português substituindo o «real» pela nova moeda – o escudo. No ano seguinte, a 28 de Setembro, entrou em circulação a moeda de 50 centavos, a nova moeda da República. Porém, somente no dia 1 de Julho de 1913 entrou em vigor o novo sistema monetário (escudos e centavos) na contabilidade pública e particular. A nova unidade monetária – escudo – era mil vezes superior à antiga (real). Para fazer a conversão de réis para escudos dividia-se por 1.000.
Praça dos Restauradores: [circulação automóvel pela esquerda] [ant. 14-04-1928] Album de Bilhetes Postaes: vistas de Lisboa, vol. 3, p. 10, n.º 39 GEO – MNL 6-G O sentido da circulação automóvel fazia-se pela esquerda da via pública. Os primeiros automóveis foram importados no século XIX. A 3 de Outubro de 1901 publicou-se o primeiro Regulamento sobre a Circulação de Automóveis, um novo Regulamento sairia em 27 de Maio de 1911. O primeiro Código da Estrada foi publicado a 6 de Fevereiro de 1928, estabelecendo o sentido da marcha automóvel pela direita, à semelhança do que sucedia em toda a Europa continental, entrou em vigor no dia 14 de Abril de 1928.
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LISBOA REPUBLICANA dados e números 1910
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LISBOA REPUBLICANA dados e números 1910
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NOTAS 1 Censos de População 1911 e 1925. 2 Decreto de 12-10-1910. 3 Lei de 12-05-1912. 4 Cálculos baseados nos Censos da População de 1911 e 1925. Retirados os menores de 7 anos. 5 Anos lectivos de 19091910 e 1925-1926. 6 Lisboa e subúrbios. 7 Em 1910 as cabines públicas (ou melhor, telefone público) funcionavam em muitos estabelecimentos comerciais sendo muito reduzidos em 1926, o que explica o decréscimo do seu número. 8 Incluindo o Banco de Portugal.
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1 hora da madrugada do dia 4 de Outubro de 1910. Início da Revolução que triunfaria no dia seguinte. Ao contrário do plano gizado, que previa o avanço dos revoltosos para o Palácio das Necessidades (onde estava o rei) e para o Largo Carmo, sede da Guarda Municipal, os insurrectos acabaram por se juntar na Rotunda (actual Praça Marquês de Pombal), palco onde se jogou a vitória republicana. Aí, com o comissário naval Machado Santos estiveram um punhado de revoltosos que não excederiam os 200 militares, juntamente com civis, armados e desarmados, que improvisaram barricadas (troncos de árvores, chapas de zinco, madeiramento, etc.). De manhã, foi bombardeado o Palácio, a partir do Tejo, levando à fuga do rei D. Manuel II que partiria da Ericeira com a família real, no dia 5, para o exílio. Por volta das 12h30 minutos as tropas fiéis de Paiva Couceiro, lançaram granadas sobre a Rotunda. No eixo Avenida-Restauradores verificaram-se confrontos entre monárquicos e republicanos. A intervenção da Carbonária, com objectivos de combate efectivo, levou à desmoralização dos militares monárquicos. Pelas quatro horas da tarde retiraramse as baterias de Queluz derrotadas. Na manhã do dia 5, instalou-se o desânimo nas forças monárquicas. Aproveitando uma hora de armistício concedido por Machado Santos ao encarregado de negócios da Alemanha, para a saída das famílias estrangeiras residentes na capital, os republicanos começaram a descer a Avenida. No Rossio as tropas fiéis recusaram combater.
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Machado Santos foi levado em ombros até ao Quartel-General dos monárquicos em S. Domingos, onde disse ao General Rafael Gorjão que fora implantada a República. O General, resignado, rendeu-se sem resistência. Cerca das 9 horas da manhã, José Relvas, da varanda dos Paços do Concelho, proclamou a República Portuguesa. Em cerca de 30 longas horas estava implantado o regime republicano em Portugal. O seu futuro numa Europa monárquica (exceptuando a França e a Suíça) revelou-se repleto de dificuldades.
Muitos lisboetas depositavam todas as esperanças no novo Portugal republicano, que alcançou o reconhecimento internacional em menos de um ano. Porém, a união entre as várias fracções republicanas assentava no objectivo comum (queda da Monarquia) e as divergências latentes em breve se instalaram. A cisão do Partido Republicano Português (Outubro, 1911) consumou-se com a eleição de Afonso Costa para o Directório, juntando ao Partido a designação de Democrático. A história da Primeira República, maioritariamente escrita pelos democráticos, fez-se da oposição à sua hegemonia, na continuidade do período monárquico, em que os governos se sucediam, numa luta incessante do poder pelo poder; e, ainda, da desordem revolucionária (a primeira revolução a seguir ao 5 de Outubro ocorreu em 1915), da contestação social, das tentativas de restauração dos monárquicos e dos efeitos da Grande Guerra.
Em Janeiro de 1917 partiram os primeiros militares portugueses do Corpo Expedicionário Português (CEP). Este ano foi muito difícil: a escassez de alimentos e a carestia de vida levaram a fome ao operariado, instalando-se um clima de rebelião. As greves sucederam-se, a repressão policial foi dura. Como resposta à crise, em Dezembro, a revolta de Sidónio Pais, anunciou um novo tipo de governo populista e centrado na figura de um chefe. Passado um ano Sidónio seria assassinado. Em 1919, de 22 a 24 de Janeiro, o povo de Lisboa pegou em armas e derrotou os monárquicos em Monsanto, defendendo a República. Porém, adivinhavam-se novos tempos. Na Europa do pós-guerra brotavam os novos movimentos comunistas e fascistas, ameaçando a ordem liberal e burguesa. Em meados dos anos 20 muitos portugueses desiludidos com a República, cansados das revoltas constantes, receando o bolchevismo e o anarquismo, desejavam um governo forte que impusesse ordem. A revolta militar de 28 de Maio de 1926, iniciada pelo General Gomes da Costa, foi o seu prenúncio. A 9 de Julho de 1926, nova revolta militar levá-lo-ia para o exílio, sendo substituído pelo General Carmona. A ditadura militar instaurada reprimiu com violência as revoltas de resistência republicana no país; em Lisboa, estas ocorreram a 7 de Fevereiro de 1927, a 20 de Julho de 1928 e, a última, a 26 de Agosto de 1931. bibliografia
A MAÇONARIA e a Implantação da República (Alfredo Caldeira e António Lopes, Coord.), [Lisboa]: Fundação Mário Soares/Grémio Lusitano, 2009. MARQUES, A.H. de Oliveira (Coord.) - Portugal da Monarquia para a República. Nova História de Portugal (dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques), vol. XI, Lisboa: Editorial Presença, 1991. MATOS, Luis Salgado de - Tudo o que sempre quis saber sobre a Primeira República em 37 mil palavras, Lisboa: ICS - Imprensa de Ciências Sociais, 2010. PORTUGAL. Biblioteca Nacional - 1910: O ano da República. [Catálogo de Exposição]. Lisboa: BNP, 2010. ROSAS, Fernando, Lisboa Revolucionária: roteiro dos confrontos armados no século XX, Lisboa: Tinta da China, 2007. ROSAS, Fernando; ROLLO, Maria Fernanda (Coord.) - História da Primeira República Portuguesa, Lisboa: Tinta-da-China, 2009. SANTOS, Machado - A Revolução Portuguesa: 1907-1910, [1911], Pref. António Reis, Lisboa, Sextante Editora, 2007. SERRA, João Bonifácio – “Do 5 de Outubro ao 28 de Maio: a instabilidade permanente” in REIS, António (dir.), Portugal Contemporâneo, vol. 3, Lisboa: Alfa, 1990, pp. 13-84. 19
A Revolução de 5 de Outubro de 1910: [na Rotunda] Franco, Anselmo AML-AF, A11488 A resistência dos revoltosos na Rotunda constituiuse no bastião para o triunfo da Revolução, mas era “(...) por toda a parte o mesmo. Os que não tinham armas, tratavam dos feridos, procuravam comida para os combatentes, expunham-se também e outros homens, quase elegantemente vestidos, iam carregar munições 20 para a artilharia” (IP, 1910: 495).
Lisboa Republicana: espaço e memória (138 páginas, 16x23cm) Uma publicação disponível para venda no Gabinete de Estudos Olisiponenses Estrada de Benfica, 368