flĂĄvia bastos juliana rizzuto
ilustraçþes
caroline pereira
S
abe aquele dia em que você acorda e já ouve um montão de orientações: “faz isso, não esquece aquilo, vai buscar o pão” e coisas do tipo? Tenha certeza de que não é exclusividade apenas da sua casa; acontece em milhares de residências espalhadas, principalmente nos países “latinos”, onde parece que as pessoas são mais “intensas”, assim como seus relacionamentos. Mas acreditem, isso não chega a ser um defeito. Pode até aproximar as pessoas. Experimente contar até dez, escutar o que sua mãe tem a dizer. Você pode acreditar que sempre vai ter alguém querendo dar opinião na sua vida e até falar o que pode ou não ser certo. — Kátia, minha filha, você vai se atrasar! Apresse-se! Não se esqueça de pegar as cartas que estão na caixinha lá fora. Na casa de Kátia, acontecia tudo isso e mais um pouco. Ela era a caçula da família e seus irmãos tinham a personalidade muito forte. Desde pequenininha escutava a opinião e os conselhos dos mais velhos. É lógico que ela gostava do ambiente familiar, apesar de, às vezes, ficar um pouco “maluca” com tanta informação. Todos eram muito unidos, mas muitas vezes, se sentia como um “peixe fora d’água” porque sua personalidade era bem diferente dos demais. Não queria ficar acuada de jeito nenhum. Não gostava da ideia de ser um “pau mandado”. Queria ter suas próprias vontades, desejos, realizações, superar seus medos. Sonhava, desde os 15 anos, ser independente. Sempre quis viajar pelo mundo e sabia que iria conseguir. Tanto que já tinha uma certeza em sua vida: logo que concluísse os estudos seguiria para um país distante com o qual tinha até sonhos com aqueles incríveis ônibus vermelhos de dois andares. Por isso, não se preocupava com os problemas e a 5
ciumeira que tinha em sua casa. Procurava deixar tudo isso em segundo plano. Sabia que sua família sempre, de uma forma ou de outra, estaria por ali. Gabriel, o irmão mais velho e o “queridinho da mamãe”, sem dúvida era o mais independente. — Você precisa ter planos para sua vida, sonhar, ter um objetivo — dizia ele. Kátia ouvia com atenção. Gabriel era um rapaz muito bonito, moreno, alto e fazia muuuuiiito sucesso com as garotas. Também muito gente boa. Gostava de ajudar seus amigos com conselhos e palavras sábias. Vocês sabem o que significa estar bem e se sentir seguro, rodeado de pessoas interessantes e que gostam da gente e a gente delas? Kátia não sentia isso com todo mundo. Aliás, era um pouco tímida para se abrir com todos os tipos de pessoas. No colégio, nunca foi de ter muitos amigos. Era apenas para algumas amigas mais próximas que contava seus segredinhos, como uma paquera nova, uma nota baixa na prova de Matemática, que por sinal, odiava. Gostava mesmo de Português, História, Geografia e adorava ouvir histórias, e depois contar para as pessoas. A família era uma parte importante de sua vida, mas não a única. Dona Tereza, sua mãe, sempre lhe dizia: — Filha, a vida é como uma pizza: tem a fatia da família, dos relacionamentos e amigos, do trabalho, das viagens… Ainda era um pouco difícil para a menina Kátia entender tudo aquilo. Mas o que a mãe falava sempre tinha uma força muito grande para a garota, que a escutava cuidadosamente e com toda atenção deste mundo. Percebeu que a mãe tinha razão. A vida era mesmo como uma pizza, e ela estava disposta a colocar mais energia nas outras “fatias dessa pizza maravilhosa” que 6
pode ser a vida se a gente quiser. Percebia também que, quanto mais os outros lados da “pizza” estivessem “gostosos”, mais iam ficando fáceis de digerir os que estavam menos agradáveis. Uma coisa era certa: o que a garota gostava mesmo era de conversar, conhecer pessoas diferentes, trocar experiências, aventuras e até tristezas. Com isso, percebia e tinha mais consciência do planeta que estava habitando.
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#amigas
A
ndrea e Fernanda são as amigas mais próximas de Kátia. Andrea é daquelas amigas confiáveis com a qual se pode contar até debaixo d’água. Mas também não poupava palavras e era super direta em seus conselhos. O importante para ela era a sinceridade e esperava o mesmo de suas amigas. Além dos programas culturais adorava umas comprinhas e de estar sempre bem-arrumada. Já, Fernanda, era aquele tipo de pessoa que sempre tem uma resposta para tudo; não gostava de dizer “não sei!”. Kátia a entendia perfeitamente. Por fim, tornaram-se grandes amigas também. Fê faz mais o tipo hippie-chic. Adora roupas confortáveis, porém sempre com um toque especial, como uma bijuteria, brinco, colares e pulseiras. As três se tornaram muito amigas e adoravam, na hora do intervalo das aulas, fofocar sobre os “gatinhos” da escola. Tornaram-se as “super garotas”. Não que tivessem poderes paranormais — de fato não tinham —, mas parece que sempre sabiam quando uma precisava da outra. O que mais gostavam mesmo de fazer eram programas culturais aos finais de semana. Iam ao cinema, teatro, exposições, parques e faziam piquenique. Andrea e Fernanda, inclusive, já sabiam que queriam buscar alguma atividade relacionada com cultura quando saíssem da escola. Kátia tinha outro sonho: queria ser professora ou médica quando fosse mais velha. Esses eram outros temas discutidos nas conversas que as amigas tinham até tarde, quando uma dormia na casa da outra. Cada final de semana era na casa de uma. Alugavam filme, estouravam pipoca, conversavam até tarde e ninguém queria saber de ir para a cama tão cedo.
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#beijomeliga
P
ouco depois, vinha outro tema muito mais picante… Sabem qual era? Paqueras! O assunto de quando deve acontecer pela primeira vez, como deve ser e… namorados. Kátia e as amigas já estavam vivendo isso. Queriam ter um compromisso mais sério, um companheiro para todas as horas. Será que agora era a hora?
* * * Triiimmmmm Triiimmmmm Triiimmmmm Toca o telefone de Kátia. — Amiga! Você não sabe quem está aqui no parque jogando basquete bem na minha frente. O Tony! Ele está lindo, eu não sabia que jogava tão bem. Gatérrimo! Não consigo parar de olhar para ele, e acho que ele também está na minha. Sempre que faz uma cesta, olha para mim e me dá uma piscadinha… Ai, o que é que eu faço? Estou tão nervosa! — Olha só Fê, você tem que prometer que a única coisa que vai fazer hoje é adicioná-lo no Whatsapp. Combinado? — Ai, tenho que desligar; ele está vindo em minha direção, ufaaaa! Beijo e não me liga, disse Fernanda, desligando o aparelho. Kátia ficou do outro lado do telefone pensando se Fernanda tinha ouvido seu conselho. Refletia sobre quanto uma amizade era importante. Não sabia se o conselho surtiria ou não muito resultado na prática. Esperava que sim. Há amigas que, às vezes, parecem chatas, mas só querem ajudar. Depois disso, Kátia ficou sabendo que Fê trocou não 15
somente o telefone com o interessante e charmoso Tony, mas também alguns beijinhos! Depois, deu uma de difícil e não atendia o telefone. Ele ligou diversas vezes para ela. Mas Fernada queria fazer charminho e suspense para ele ficar com mais saudades. Será que esta técnica da Fê vai dar certo?
* * * Dias depois, Fernanda comenta com as amigas: — Adivinhem? Estou namorando o Tony e hoje vamos ao cinema. Vamos? — Nossa, jura?, perguntaram Kátia e Andrea à amiga, não tão surpresas assim. — É verdade! Quero ver como é. Afinal, nunca namorei “sério” e ter alguém que se preocupe com a gente, nos faça companhia, esteja ali para todas as horas, deve ser gostoso, não acham? — disse Fê às amigas enquanto experimentava uma sandalinha nova que acabara de comprar na promoção da loja ao lado de sua casa. — Ah, meninas… — continuou Fê, um pouco preocupada — vocês não estão com ciúmes, né? Não vou deixar de ser amiga de vocês só porque estou saindo com o Antônio. Inclusive, ele vai ser mais um para nossa turma. Que, cá para nós, estava carente de uma opinião masculina, vocês não concordam? Acreditam que, no começo, as amigas ficaram mesmo com uma certa ciumeira? Aceitaram o convite para ir ao cinema. Estava passando um filme sobre vampiros, e aquela noite seria a pré-estreia. Era 20 de novembro e todas se animaram. — Vamos comer uma pizza? — sugeriu Tony às garotas. 16
Elas se entreolharam e aceitaram o convite. “Não é que o Tony é bacana mesmo? Acho que o aprovei como namorado da Fê”, pensou Kátia. — Vamos sim.Tem uma pizzaria maravilhosa logo ali na esquina, disse Kátia, apontando na direção do local.
* * * Com o tempo, Kátia observou que seu mundo estava pequeno demais. Apesar da timidez, sempre gostou de conhecer gente nova, viajar, fazer programas culturais interessantes. Ainda sentia-se um pouco culpada por ter se enciumado pela amiga de namorado novo. Mal sabia ela que isso era normal. Sentia medo de perder a companhia da amiga, que certamente passaria mais horas do dia com o namorado. Mesmo assim, entendia que não era certo. Então, resolveu ela também expandir o seu círculo de amizades e quem sabe conhecer alguém legal também? hum… quem sabe? — Quero fazer algo diferente! — pensou Kátia, em voz alta. Começou a participar de grupos de estudos especializados em saúde e qualidade de vida. Conseguiu convencer Andrea a frequentar as palestras junto com ela. As palestras eram realizadas todos os finais de semana das 8 às 12 horas. Coincidência ou não, com o tempo, Kátia começou a sentir alguma coisa diferente pelo seu professor… Era muita admiração: ele sabia tanto do que falava! E como abordava cada assunto! Nossa, era de deixar qualquer uma de queixo caído! Tanto que ela não faltava a uma única aula. A amiga desistiu no meio do curso, mas 17
Kátia nem ficou chateada: sabia que os interesses dela não eram os mesmos que os seus. Estava certa de que queria seguir algo em sua vida e trabalhar com alguma atividade relacionada com a saúde. Gostava de ajudar as pessoas. Ela lembrou-se de que, quando era bem pequenininha, tinha visto um senhor de idade cair no chão e não pensara duas vezes antes de ajudá-lo a se levantar. E agora tinha absoluta certeza do que queria ser quando “crescesse”: médica. Todos em sua casa a apoiaram nessa decisão. Outra mudança que a garota Kátia percebeu foi como a família a tratava: parecia que a estavam respeitando mais, valorizando-a, ouvindo-na quando tinha algo a dizer e não mais a recriminavam: “Obaaaa!”, pensava ela. “Gol”! No curso que estava frequentando, também conheceu muitas pessoas interessantes, com um gosto parecido com o seu. Gostava também porque as matérias do novo curso complementar eram todas de seu interesse. — Nossa, que bom poder fazer aquilo que a gente gosta de verdade! — disse Kátia à amiga Fernanda. Ela começou a explicar-lhe como era prazeroso ter interesse por algum assunto e “meter as caras” para ser, — por que não? —, a melhor naquilo que escolheu. — Estou amando esse cursinho que faço aos finais de semana e agora tenho certeza de que quero focar mais nos estudos para ter a chance de ser uma profissional de sucesso. Sei que vou conseguir! — disse a garota sorrindo. Porém, à noite não deixava de sair com os amigos e estava tão animada que a maioria dos assuntos que 18
tinha com eles era sobre o curso que estava fazendo. Ainda faltavam alguns meses para entrar na faculdade e ela estava certa do que queria, e aquilo a fez sentir-se muito bem. Os dias ia passando e as amigas sempre vinham com papo de namorado. Como Fernanda já estava namorando, perguntavam-se se Kátia não seria a próxima. Pois é, mas para ela, esse assunto não era dos mais fáceis. Não achava que era importante para ela, mas as amigas insistiam: — Vamos! Tudo bem que você esteja superanimada com seu curso de saúde e qualidade de vida, mas por que não arrumar uma paquerinha? — diziam elas — Não precisa sair para procurar casamento, é só para deixar a vida um pouco mais florida. Ela começou a pensar no assunto…
* * * Sérgio aparentava uns 28 anos e estava se formando em medicina. Tinha um porte que realmente chamava a atenção das garotas: cabelo bem preto que o destacava mais ainda, contrastando com seus olhos azuis que faziam lembrar uma pintura renascentista. Kátia sempre aguardava um pouco até que ele descesse para ir embora. Mantinha, secretamente, uma forte esperança de que o professor ainda lhe daria uma atenção especial e, quem sabe, a convidaria para jantar ou um cineminha. Um dia, enquanto fazia “uma hora” na escadaria que ia para a lanchonete notou uma linda moça, super produzida, de salto alto, toda maquiada, bijuterias, vestida no estilo “esporte fino”, muito elegante. 19
Para sua desagradável surpresa, a mulher também esperava por Sérgio. Ao ver os dois se beijando, Kátia fugiu, correndo, para bem longe dali. Soube, mais tarde, que aquela era noiva de Sérgio. Naquela noite, quando foi dormir, Kátia deitou-se e chorou abraçada ao travesseiro. Chateada, enviou uma mensagem para Andrea a fim de desabafar. “Oi, preciso falar com você, me encontre no esconderijo”, dizia a mensagem. O esconderijo era um lugar “mágico” dentro do parque da cidade e que tinha, entre as diversas árvores e lagos, um cantinho especial onde as meninas ficavam horas sentadas conversando sobre os assuntos da vida. Faziam isso desde a infância e por isso ainda chamavam aquele espaço de “esconderijo”. Quando Andrea chegou lá, viu Kátia chorando, logo perguntou: — Amiga, o que aconteceu? — O Sérgio, meu professor, lembra que eu falei dele? Confundi tudo! Achava que ele me olhava diferente. Várias vezes íamos juntos até o ponto de ônibus conversando sobre os mais diversos assuntos. Pensei que ele tinha um interesse diferente por mim, sabe? — Mas o que foi que houve, então? — quis saber a amiga, bastante curiosa. — Ontem, quando estava esperando por ele, vi que tinha uma moça no portão, olhando no relógio. No começo relutei a acreditar, achei que estava esperando outra pessoa. Mas não: era ele. Quando o professor chegou trocaram um beijo na boca e entraram no mesmo carro. Ai, meu Deus, estou tão triste… O que é que eu vou fazer agora da minha vida? Tinha certeza de que ele era apaixonado por mim, assim como sou por ele. 20
— Calma, minha amiga, não fique assim. Vamos caminhar um pouco; está tão calor! Vamos tomar um sorvete na Picoleteria do bairro. Assim você vai se acalmando. — Oh, muito obrigada por ter vindo falar comigo. — Amigas são para essas coisas e para essas horas: nunca se esqueça disso. No dia seguinte, Kátia estava um pouco mais tranquila e mais conformada. Precisou de algum tempo para se recompor. Conversou com amigos mais próximos e em quem confiava. Ouviu diversas histórias de amor, com e sem final feliz. Depois de uma semana, percebeu seu coração mais calmo: o que fosse para acontecer, aconteceria; senão, partiria para outra.
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#triste
O
s colegas do curso acharam Kátia um pouco abatida. Ela, com medo do que os outros alunos diriam e até da fofoca, não deixava nada “vazar” e logo tratava de mudar de assunto quando o tema era relacionamentos. Tinha receio que a escola inteira ficasse sabendo de seu amor platônico pelo professor Sérgio. “Ai, se desconfiarem”, pensava ela. Mas Kátia sabia disfarçar. Quando os amigos notavam alguma modificação em seu comportamento, ela, mais uma vez desconversava. Chegou a pensar em desistir do curso por causa do professor, mas as amigas não permitiriam. — Como é que é? Mas nem pensar! Você estava tão animada e, agora, por causa disso, cisma em largar o curso? — disse Fernanda com todo o apoio de Tony e Andrea. Kátia persistiu e não desistiu. E nesse vai e vem do coração, conheceu Renato — um aluno que também frequentava o curso — alguns anos mais velho do que ela. Tornaram-se ótimos amigos e começaram a frequentar os mesmo lugares. Foi assim que Kátia então o apresentou às amigas mais íntimas. O garoto se enturmou bem. Entretanto, Kátia tinha um pouco de medo e vergonha que ele soubesse sobre seus sentimentos pelo professor. Era, decerto, mais uma desconfiança dela. Renato mostrou-se mais um amigo que foi se envolvendo com a menina, e que discutia e conversava com ela até tarde da noite. Tinham ambições e interesses parecidos e juntos formavam uma bela dupla. Certo dia, inventaram de fazer um piquenique. Estava um dia ensolarado, quase sem nuvens no céu. Enquanto comiam e bebiam as delícias trazidas para o 25
encontro, trocavam algumas confissões sobre a vida. Ela estava em dúvida se contava ou não sobre o seu amor platônico. Tinha muito medo de que ele achasse graça da situação. Mas a essa altura, já tinha percebido que podia confiar em Renato. Conversavam sobre vários assuntos, principalmente os que algumas vezes os afligiam. Ambos já tinha passado por muitos momentos difíceis como conflitos em família e diversas situações de amor e de amizade. Por isso se davam tão bem. Kátia, no entanto, não achava que dali sairia um namoro: eram muito amigos para isso. Em pouco tempo, os colegas mais próximos começaram a pensar que os dois tinham “alguma coisa” a mais entre eles. Realmente tinham: uma grande amizade. Porém, quando o papo entrava em namorados, algumas vezes se intimidavam.
* * * Triiimmmmm Triiimmmmm Triiimmmmm Toca o telefone. — Katinha, vem para cá, está “rolando” uma reunião da turma e vai começar um “Quem bebe”, que tal? “Quem bebe” era uma brincadeira muito engraçada que, resumindo: quem fala a resposta errada tem que beber toda a cerveja do copo. — Ótimo! Estamos a caminho!, respondeu ela. — Beijo. Kátia tinha pedido a Renato para acompanhá-la até sua casa para trocar de roupa. Colocou uma calça jeans, uma camiseta branca e complementou o visual com um 26
brinco comprido em formato de flor. Meia hora depois, os dois chegaram ao encontro. No meio da brincadeira, resolveram trocar as regras e mesmo quem não quisesse dar a resposta certa teria que entornar a cerveja. Na maioria das vezes, Kátia, controlada, respondia sem grandes problemas. Até que Renato, maliciosamente, perguntou se ela gostava dele. Os amigos caíram na risada e a garota, constrangida, corou, engasgou e acabou tendo que dar um generoso gole na bebida. Confusa e preocupada, passou o resto noite pensando: “como assim, será que ele gosta de mim e está confundindo as coisas?” Enquanto isso, na cozinha, Tony passou a ter um comportamento estranho com Andrea. No começo, ela ficou um pouco assustada, afinal ele era namorado de Fernanda, uma de suas melhore amigas. É certo que as “cervejinhas” da brincadeira deixaram todos mais relaxados, mas daí a “dar em cima” já era um pouco de exagero. Fê e Andrea eram super companheiras e isso era uma das regras invioláveis que nunca poderia ser quebrada. Andrea ficou pensando se não era coisa da sua cabeça: será que ele teria coragem de fazer isso? — Você está tão bonita e cheirosa hoje, sabia? Hum… que perfume está usando? Aposto que é aquele do comercial! Andrea ficou tão sem jeito… sorriu amarelo, mas pensou: “Bem… ele é bonitão. Afinal, a Fernanda é muito sortuda… E que droga! Por que não tenho a mesma sorte que minha amiga?”. Perdida em seus pensamentos, Andrea nem percebeu que ele tinha se aproximado mais 27
e… foi quando sentiu que seus lábios eram tocados… — Tony! Seu cachorro! Andrea e Tony se assustaram! Fernanda estava tão furiosa que jogou a primeira coisa que encontrou na frente no namorado (uma xícara de porcelana). Andrea se desviou e, por sorte, a xícara foi parar na parede! Fernanda saiu chorando e, enlouquecida, correu para rua. Tony foi atrás. Andrea, chocada com a situação, continuou paralisada pensando: “Ai, caramba… o que fiz?” Nesse momento, Kátia e Renato entraram na cozinha e perguntaram para Andrea o que tinha acontecido. — Como posso explicar ? Bem… o Tony me beijou… — Como é que é? O Tony o quê? — questionou Kátia. “Aí vem problemas…”, pensou ela.
* * * Trrrriiimmmmmmmmmmm — Alô, Fê! Vem para cá, acabo de ter uma conversa “daquelas” com o Renatinho. Falamos bastante, mas tudo ficou como estava antes. Ele disse que me entendia e que mesmo assim queria continuar sendo meu amigo. No dia seguinte à festa, Kátia tinha decidido esclarecer tudo para não estragar a amizade com seu companheiro. E foi assim que contou nutrir uma paixão platônica por seu professor. Mesmo chateado, Renato acabou aceitando. Afinal, era melhor serem amigos e tê -la por perto, do que ser ele o apaixonado e vê-la sempre à distância. — Ok, tô indo. — Te espero. Beijooooooo. 28
Andrea e Fernanda estavam há um tempo sem se falar. Andrea se mordendo de culpa e Fernanda achando que a menina era “traíra”. Quem colocou “panos quentes” na situação? Ela mesma, a sempre bondosa Kátia. Ela sabia como reconciliá-las… Nada como um bom convite para fazerem cupcakes juntas. Então, num sábado à tarde, Kátia convidou as amigas para irem a sua casa. Uma não sabia que a outra iria. Quando dona Tereza, mãe de Kátia, abriu a porta para Fernanda entrar, lá estava Andrea. Entreolharam-se: a Fê com raiva, e Andrea preparando-se para correr. — Vamos parar de criancices e agir como adultas? — propôs Kátia. E assim, conversa vai, conversa vem… até que se entenderam! As duas se abraçaram, choraram e pediram desculpas uma à outra. Perceberam que esses reveses da vida existem para serem superados. No namoro, Fernanda também tinha algumas coisas para resolver. Ela e Tony não estavam às mil maravilhas, principalmente depois da cena da cozinha. Brigavam demais e, às vezes, até parecia que iam esganar um ao outro! Mas, naquela noite, completariam oito meses de namoro e queriam deixar um pouco de lado os desentendimentos e comemorar. Ela convidou-o para comer um sanduíche na lanchonete mais bacana da cidade.
* * * Bip! O telefone celular de Kátia acusa a mensagem:
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Kátia sorri e fica feliz pela amiga. — Ufa! Acho que enfim se entenderam — diz ela a Renato enquanto assistem a um filme, na casa do amigo. Entre um susto e outro (afinal, a história era de terror) os amigos faziam planos. As férias estavam perto e eles tiveram a ideia de organizar uma viagem. — Que tal um acampamento? — sugeriu Kátia bastante animada. Entraram no Google e começaram a pesquisar qual seria o destino da aventura. Decidiram que iriam para uma praia linda e paradisíaca, quase deserta. No mesmo momento pararam: não seria muito romântico? Mas se a ideia era chamar os amigos, talvez um lugar badalado fosse mais interessante, com festinhas, saraus, ondas e algumas comprinhas. A Praia das Filipas ficou decidida como destino final. Biiip, faz o sinal de mensagem no telefone das amigas:
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No dia seguinte, as amigas se encontraram. Pauta da reunião: destino da viagem. — As férias estão aí. Vocês já pensaram nisso? Precisamos decidir para onde vamos. — Eu já tenho uma sugestão: Praia das Filipas. — Você está maluca! — retrucou Andrea — Onde é que fica isso? Nunca ouvi falar. — Fica no litoral norte, é uma delícia. Tem pousadas e hotéis com preços bastante acessíveis e muitas baladas. — Não quero ir para praia — disse Fernanda. — Mas nada como a praia para repor as energias. Vai ser uma delícia, vocês vão ver!, falou a garota tentando convencer a turma. Não chegaram a nenhuma conclusão e, por fim, cada uma voltou para sua casa.
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#destino
K
átia continuava pensando muito sobre sua amizade com Renato, sua paixão e admiração por seu professor, suas outras amizades, quando surgiu o convite de sua amiga para irem à uma cartomante. Em meio a tantas dúvidas poderia ser um bom recurso para, pelo menos, ter algumas orientações para o futuro. — Ah vamos lá! A Cidinha foi e falou que Madame Juju é ótima e faz excelentes previsões. Mesmo que não acerte muita coisa, dará ótimas dicas sobre a vida e como viver bem. — Será? — disse a amiga, receosa. — É batata! — dizia Andrea. — Tá bom, você tem o endereço? — Tenho, sim. Fica na rua dos Sininhos, 3.333. Não é longe, não. Cidinha me explicou direitinho como faz para chegar lá. A gente se encontra na minha casa, que é mais caminho, ok?, disse Andrea. — Fechado. Ligaram e marcaram para o dia seguinte, às quatro horas da tarde. Lá estavam as amigas, no horário combinado. O cheiro de incenso tomava o ambiente. Uma moça muito simpática abriu as portas do “consultório”. A sala tinha um aroma relaxante e gostoso. Lenços tipo indianos estavam dispostos pela sala onde elas aguardavam para ser atendidas. Andrea sentiu alguma coisa escorregando em suas costas assim que passou próxima de uma estante com estátuas de fadinhas. Um vulto pulou bem na frente das meninas. Quando repararam o que era, caíram na risada: um gatinho preto ligeiro “errou de mão” para descer da estante. O pequenino inclinou a cabeça, curioso, como 35
se perguntasse o que elas queriam saber. Nisso, entra Madame Juju. A cartomante usava um longo vestido verde com detalhes em dourado e muitos colares, brincos e pulseiras. Lembrava um pouco Carmem Miranda. Extravagante, mas bonita e engraçada. — Você é a que está em dúvidas com um homem muito inteligente e mais velho do que você? — perguntou a cartomante à Kátia. — Nossa! — respondeu a garota impressionada. — Como é que você sabe? — Estou vendo em seus olhos. — Sente-se, orientou a cartomante. Automaticamente, ela retira de um saquinho de veludo, o Tarô de Marselha. A madame embaralha as cartas diante de Kátia e das amigas, que esperavam ansiosas sentadas em um sofá verde-claro. — Concentre-se e corte o maço em três partes — disse a cartomante. Cartas dispostas, Madame Juju prossegue: — Hum… Você está com Enamorados na cabeça. Indecisa, insegura e diante de dois caminhos… Um rapaz mais velho representado pela carta do Eremita. Ele sabe das coisas, é influente, silencioso e estudioso. Mas, há outro mais jovial, mais galante e divertido. Sensível, talvez sofra calado por seu amor… Kátia levanta a cabeça automaticamente com olhar bem assustado: — Ele sofre por mim? — Ou pelo menos morre de ciúmes de você, não é mesmo? Aliás, ele é doce, apesar de meio “nó cego” — comentou a cartomante, sorrindo. 36
Nesse momento, ouvem-se risadas baixinhas e se alguém mais atento reparasse, veria que o gato parecia rir também… — Bem, acredito que você deva seguir seu coração, mas precisa colocar organizar as ideias. Afinal, você é muito nova para deixar passar momentos interessantes na sua frente sem vivê-los… Pense nisso! Logo após, seguiram-se as previsões para Fernanda: “não se preocupe demais com o futuro. Às vezes, é melhor deixar as coisas acontecerem por elas mesmas”. E, para Andrea, o conselho foi ainda mais inquietante: “cuidado com as palavras, menina… Lembre-se: quem fala o que quer, ouve o que não quer e ainda pode arcar pesadamente com as consequências”. Andrea, que é desligada, nem deu muita atenção. Achou natural porque acreditava que, se algo acontecesse, seria por causa da profissão escolhida: jornalista… “Será que vou descobrir algum escândalo no mundo da política?”, pensou ela.
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#perfil
A
ndrea começou a se sentir sozinha. Via que as amigas estavam todas, de um jeito ou de outro, com algum tipo de “romance no ar”. Ela também queria. “Sabem o que vou fazer?”, disse a si mesma, “Um perfil no Tinder”. Foi então que começou a procurar sua “cara-metade” nos aplicativos de relacionamentos. Chamou as amigas para ajudá-la. Não sabia se aquilo daria certo, sabia que caso marcassem algum encontro, teria de ser em um local público. — Meninas, o que vocês acham desses apps de relacionamentos para encontrar, de repente, alguém especial? — Olha, já ouvi várias histórias sobre esse tipo de encontro de pessoas que se conhecem pela internet. Você sabe que uma amiga da minha irmã casou com um rapaz que conheceu na internet? — É, mas por outro lado já ouvi relatos também de grandes decepções. Bem, acho que sabendo tomar o devido cuidado, por que não arriscar? Quando as meninas foram embora, ela entrou em um site chamado “Almas Gêmeas” e lá procurou alguém que a agradasse. Viu o perfil do “saradão”, do intelectual e do “gatão tá te esperando”.“Nossa, que diversidade!”, pensou. “Será que alguém tem a ver comigo?”, perguntou-se. Identificou-se mais com o intelectual e resolveu marcar um encontro na biblioteca central da cidade. Achou o local bastante apropriado. Eles logo se identificaram, depois de se reconhecerem por 41
detalhes combinados anteriormente: ela estaria com um livro da Becky Bloom nas mãos e, ele com o de Dan Brown. Os dois ficaram horas conversando sobre literatura, cinema, tudo do que gostavam. Desde o primeiro minuto, Andrea achou-o com um ar misterioso, encantador. Sabia vestir-se bem, e entre uma página e outra do livro que segurava, arrumava a gola da camisa listrada que caía muito bem acompanhando a calça de sarja bege que escolheu usar para a ocasião. Vocês acreditam que logo começaram a namorar sério? Na vida real, o intelectual chamava-se Daniel e era bastante interessante, romântico e atencioso. Não demorou muito para fazer declarações e juras de amor. Eles estavam muito felizes e faziam tudo juntinhos. Além disso, Andrea também percebeu que era muito importante os conselhos que um dava ao outro. Sentiam-se mais fortes quando estavam juntos. Antes de conhecer Daniel, Andrea tivera grandes decepções ao tentar encontrar sua cara-metade na net. Uma vez, fora até a lanchonete do bairro para conhecer um rapaz que tinha feito contato e que se dizia “irresistível”. Descrevia-se como moreno, alto, bonito, inteligente. Chegou lá toda animada. Quando o “príncipe encantado” (seu apelido) apareceu, ela teve a maior decepção. Não tinha absolutamente nada a ver com a descrição em seu perfil! — Peraí, mas você não se parece em nada com a descrição do seu perfil. O que aconteceu com o príncipe encantado, virou sapo? — Como assim, está maluca? Pelo visto, você também mentiu, pois é muito grossa e mal-educada. 42
— Você é que não é a mesma pessoa que descreveu. É propaganda enganosa. Eu vou embora — disse ela pegando a bolsa e deixando o rapaz falando sozinho.
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#saudades
T
rrrrriiiiimmmm Trrrrriiiiimmmmm Toca o telefone, mas ninguém atende. “Escuta aqui, você está sumida! Daniel raptou você, foi? Não queremos saber! Estamos esperando você aqui no esconderijo. Beijos, Kátia e Fê”, dizia a mensagem na gravação. Ao ouvi-la, Andrea correu para encontrar as amigas. — Oi, amigas! Sei que estou em falta com vocês, mas estou aqui. Que saudades! Como vocês estão? Quais são as novidades da semana? — Está tudo bem. Só estávamos preocupadas com você que “sumiu do mapa” completamente. Inclusive deixei um monte de mensagens em seu celular, twitter, facebook, e nada! — Está muito ocupada… ou será apaixonada? — brincou Fernanda. — Pois é… verdade. É que eu e Dani estávamos pesquisando um monte de coisas para o trabalho que ele vai apresentar na faculdade de Letras. É tão bacana, meninas! Tivemos que fazer uma lista de livros para diferentes tipos de público e explicar por que cada grupo se identificaria com aquele livro específico. Fomos a várias livrarias, sebos, bibliotecas. Foi um programa cultural que me encheu de ânimo. Engraçado… Eu sei que vocês vão falar que é por causa do Dani, mas estou pensando em fazer algo parecido com o que ele faz. Já pensaram? Eu, uma grande escritora? — Nossa, está apaixonada mesmo, hein? E logo você que queria tanto ser jornalista… Mudando de assunto, tem festinha amanhã. Ah, detalhe, a festa vai ser à fantasia! Chame o Daniel!
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#fantasias
E
mpolgada, Andrea pergunta: — Ah, legal! Vocês vão fantasiadas de quê? — Pois é, temos que pensar nisso ainda. Vamos às boas fantasias. Listinha: Cisne Negro, Penélope Charmosa, Hermione… — Vamos, meninas! Precisamos ser criativas! — agitou Andrea. — São muitas opções, mas quero estar bem linda! — disse Kátia — Estou pensando em convidar o Sérgio, o que vocês acham? As amigas se entreolharam. Acreditavam que talvez aquela paixão já estivesse um pouco fora dos limites e estavam até começando a se preocupar com Kátia. — Pode ser, mas o Renatinho também seria uma ótima companhia, sugeriu Fernanda. — Ele vai também. É lógico!, assegurou Kátia. Resolveram ir uma à casa da outra para fazer uma busca nos armários à procura de roupas que pudessem servir de fantasias para a festa do dia seguinte. Depois, todas se reuniram na casa de Kátia para fazer a produção do visual. Kátia achou um vestidinho branco, um par de luvas longas e uma tiara com grandes orelhas e resolveu se fantasiar de coelhinha. Ficou linda! Andrea foi de Mulher Gato, colocou uma máscara preta no rosto, botas e um batom preto. — Acho que não vou — disse Fernanda, desanimada. Não estou achando nada de especial para me fantasiar e também não estou nem um pouco inspirada. — Calma aí, que eu ajudo você! — exclamou Kátia. — Olha este vestido, que lindo! É meio de camurça. E este chapéu, então. Você vai ficar maravilhosa! 51
— Coloque estas botas. Pronto: você está uma verdadeira cowgirl. Fernanda olhou-se mais uma vez no espelho. — É… até que ficou bom mesmo. Uuuh… adorei amiga, obrigada! Quando deu onze horas da noite, foram para a festa. Ao chegarem, a festa já estava bombando, com vários personagens interessantes e fantasias surpreendentes. Capricharam na produção. A mesa de comidas também estava bem servida. O combinado era que as garotas levassem um prato de salgados ou doces e os garotos, as bebidas. A certa altura, todos estavam divertindo-se com as músicas que o DJ intercalava vários estilos: do rock romântico à música eletrônica, passando por samba, jazz entre outros. Tinha também uns coquetéis deliciosos, preparados pelos meninos. No meio da festa, quando Kátia olhou para a porta e pensou estar vendo uma miragem: era seu professor, entrando na festa! — Meninas, me belisquem para saber se não estou sonhando. Olhem quem acaba de chegar. Parece que ele não era muito criativo: usava um jaleco e aqueles instrumentos que os médicos utilizam para auscultar o coração dos pacientes, sapato branco e goma no cabelo. — Você está fantasiado de médico?, disse Kátia, aproximando-se. — Sim, e você está uma coelhinha muito bonita!, respondeu Sérgio, simpático. — Obrigada! Você também está um médico muito charmoso. Ficaram horas conversando. Ele contou que havia terminado o noivado com sua companheira e que agora 52
precisava “repensar a vida”. Ela percebeu que além de inteligente, ele era muito divertido. Quando olharam no relógio já eram quase três horas da manhã. Mesmo assim, ele convidou-a para dançar. — O que você vai fazer amanhã? Podíamos ir ao cinema. Vamos? Ela não estava acreditando! Tudo o que sempre sonhara estava se realizando. — Vamos sim. Onde nos encontramos? — Pode ser na lanchonete. — Às duas está bom? — Combinado, então. Depois do cinema, Sérgio convidou Kátia para ir a sua casa conhecer a coleção de DVDs de música clássica que acabara de ganhar de um de seus alunos, porém, ela achou que seria precipitado demais ir à casa dele e preferiu deixar para uma outra ocasião. — Que tal no próximo fim de semana? — Ok. Então, eu ligo para a gente combinar. — Adorei o programa e a companhia — disse o professor. Kátia ainda não estava acreditando que aquilo tudo estivesse mesmo acontecendo! Assim que se despediu de Sérgio, ligou para a Fê, louca para contar a novidade. A amiga, no entanto, não atendeu ao telefone. Devia estar ocupada demais…
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#susto
A
pesar de algumas crises, Fernanda e Tony já estavam completando um ano de namoro. Ele tinha economizado cada centavo de seu salário de estagiário em uma empresa de telecomunicações para fazer daquela data algo perfeito e inesquecível. Apaixonado, reservou uma mesa no restaurante de um dos hotéis mais caros da cidade e comprou um par de alianças de prata. Ah, sim, prevendo o que poderia rolar naquela noite, reservou um quarto. Não dos mais luxuosos, afinal, ele era apenas um estagiário, não é mesmo? Mas aquela garota merecia do bom e do melhor. Arrumou-se no estilo esporte fino, logo ele, dado a roupas nada convencionais… De estilo mais despojado, camisa e calça sociais só mesmo no trabalho. Mas, afinal, ele podia abrir uma exceção. Passou seu melhor perfume e foi buscar a namorada. Fernanda também não deixava nada a desejar. Vestido preto, salto alto, um coque na cabeça e brincos de pérola que completavam a produção. Ele amarrou uma faixa nos olhos da menina quando estavam no carro. — Para que essa frescura? — perguntou Fernanda meio que rindo. — Você confia em mim? — Confio. — Então, fique tranquila que não vou decepcioná-la. Chegaram ao hotel e a mesa estava ricamente decorada. Flores, velas e garçons solícitos. Jantaram camarões a provençal guarnecido de arroz a grega, salada e um purê de maçã que ao tocar a garganta de Fernanda lhe provocava “cócegas”. O vinho gelado os deixou mais despertos a troca de confidências e juras de amor. Perfeito… 57
A garota, que havia completado 18 anos há dois meses, nunca tivera uma comemoração de alguma data com tanta pompa. No final do jantar, ela declarou: — Tony, juro que não sei o que dizer depois de tudo isso. — E precisa? — o rapaz perguntou. Nisso, Tony beijou-a de modo tão profundo que deixou Fernanda sem fôlego, fazendo pequenos suspiros… Bem, o restante vocês já imaginam o que pode ter acontecido. Enquanto o casal comemorava, Kátia estava louca para contar à amiga sobre o “encontro” com o professor, mas ficou frustrada porque Fernanda não a atendia, nem respondia suas mensagens. E nem Andrea, já que, nessa mesma hora, estava no cinema com Daniel, dando vários pulos por conta do filme de suspense.
* * * No dia seguinte, o Bip Bip Bip:
Kátia, afobada, saiu correndo para a casa da amiga para contar e saber das novidades. Entre uma 58
confidência e outra, revela detalhes da noite picante que teve com o namorado. Um pouco insegura, pergunta: — Será que fiz besteira? — Por quê? Você o ama? — Amo muito! Poxa, você me conhece, não sou garota que sonha em casar de véu e grinalda, mas com Tony a minha opinião poderia mudar… — Hum… gostei amiga! As duas riram e, mais tarde, quando Fernanda se preparava para deitar, chegou uma mensagem carinhosa de Tony: “Tenho certeza de que você é a mulher da minha vida! Te amo”. A garota sorri e adormece suspirando… Aquela fora uma noite e tanto. Porém, não parece que poderemos dizer o mesmo do dia seguinte.
* * * Os sonhos de Fernanda foram super confusos. O mais assustador foi quando entrou em um quarto com vários e vários bebês. Descabelada, não conseguia tomar conta de todos eles. À certa altura, Tony aparece no sonho: barbudo (logo ele que tem horror a barba), gordo de tal maneira que a camisa ficava meio aberta, deixando a barriga à mostra. “Oh, mulher! Cadê meu chinelo? Minha cerveja? Dá para fazer algo para essas crianças pararem de gritar?” E os gritos dos bebês ficaram mais e mais altos! Fernanda não acordou com os gritos dos nenês, mas com o próprio grito! A menina se recostou na beira da cama e colocou automaticamente a mão na barriga. — Caramba, e se eu estiver grávida? É um aviso, não 59
é? Ai, minha cabeça onde estava? Mas peraí… nós fomos cuidadosos, mas… Ai, maldita Madame Juju. Será que ela viu alguma coisa desse tipo? Enquanto a cabeça de Fernanda dava voltas e voltas, a garota não hesitou e mandou mensagem para as amigas. “Amanhã no esconderijo principal às dez horas, SEM FALTA!” E agora? Conseguiria Fernanda voltar a dormir? Que nada! Ela não pregou os olhos mais nenhum minuto. As amigas também ficaram preocupadas… Andrea logo percebeu o tom da mensagem; “Ai, ai… a Fê está em apuros…” No dia seguinte, no lugar secreto, Fernanda chegou com a bomba: — Estou grávida! — Como assim, grávida? — Kátia deu um pulo. — Ué… sexo, bebê! — resume Fernanda. — Vocês? Ah, bem… Vocês? Você sabe… — perguntou Andrea. — Mas vocês se preveniram? — Claro que sim! Foi o sonho! — Que sonho? — as duas amigas perguntam juntas! — O sonho! — Falou Fernanda e, retrucando baixinho, continuou — Tenho certeza de que a Madame Juju está por trás dessa história sórdida! — Coitada da cartomante! Afinal, não foi ela quem… bem. Deixa para lá — comentou Andrea. — Amiga, só há um jeito de tirarmos essa dúvida. Vamos comprar um teste de gravidez na farmácia!, sugeriu Kátia. — Nãããããããããooooooo!, replicou Fernanda. — Como não? Está maluca? — perguntou Andrea — Primeiro, você está atrasada? 60
— Não… não sei… mas tenho certeza de que estou grávida — falou Fernanda com firmeza. — Deixa de ser boba e vamos comprar esse teste logo. Iremos para casa, e aí sim, com o resultado, pensar no que fazer. E lá se foram, as intrépidas garotas para a farmácia. Com muito custo, Andrea e Kátia conseguiram deixar Fernanda no banheiro para realizar o teste. Alguns minutinhos… — E aí? Azul ou rosa? — perguntou Andrea. – Você é sem noção, né, Andrea? Caramba! Isso não é para saber o sexo do bebê! Até que Andrea tinha razão: azul estava para negativo e rosa para positivo. — Shhhhhh!, interrompeu Kátia. Deixa achar a parte da bula que fala sobre a cor. Achei! Fê abre o lacre, pediu Kátia. A garota respirou fundo e… — Azul! — Azul? — É, azul! Fernanda não se conteve e pulou feito louca! Kátia riu aliviada. — Precisamos comemorar!, disse Andrea. Que tal umas comprinhas?
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#comprinhas
A
s amigas se encontraram na rua mais movimentada da cidade, onde parece que as lojas não fecham nunca. Ficaram felizes da vida, pois todo o comércio da região estava com mais de 50% de desconto. Kátia estava animada para comprar uma roupa e arrasar no seu próximo encontro com Sérgio. As meninas também aproveitaram a ocasião para reabastecer seus estoques de batons e bijuterias. Como era perto do Natal, as avenidas estavam todas enfeitadas, cheias de luzinhas. Também havia o Papai Noel pegando a listinha das crianças. Às vezes, ele circulava pelas ruas gritando o seu famoso HOHOHOHO! — Olhem meninas, que lindo este lenço. Vou levar um e este conjunto de bijouterias, mais esta linha inteira de maquiagem somente por R$ 35,00. — Vamos comprar todas juntas! — disse Andrea. — Vou aproveitar também para levar um presente de Natal para minha mãe. O que você acha que compro? — perguntou Fê. — Tem uma lojinha linda, logo ali na esquina. — Ah, então, vamos lá dar uma olhada. Fernanda também se animou e comprou uma blusa para a mãe e um CD do Bob Marley para o irmão mais novo. Estavam empolgadas com a diversidade de cores, modelos e tamanho das roupas. Só pararam quando sentiram uma fome daquelas. — Nossa, fazer compras aumenta o apetite!, comentou Fernanda. — É verdade. Vamos parar e comer alguma coisa? Voltaram das compras ao anoitecer, com as mãos carregadas de sacolas. Ficaram felizes, pois compraram muito, mas gastaram pouco. 65
#vacil達o
A
ndrea estava atônita em frente ao computador. Nossa doce garota descobrira algo que deixaria qualquer mulher, mesmo a mais calma do mundo, de cabelos em pé… Daniel estava traindo-a e descaradamente! Ela tinha tantos problemas com que se preocupar: escolha da profissão, a chegada do vestibular, a formatura, estudar para terminar finalmente o colégio, e agora mais essa? Daniel, há tempos, andava meio estranho. Era um poço de ternura no início do namoro: educado, voz de “cobertor de ouvido”, e com cara de cachorro abandonado. Não tinha como resistir. Escutava atentamente todos os problemas de Andrea para depois dar os conselhos mais sábios. E, agora isso? Ele foi se distanciando aos poucos. Chegava aos encontros bastante atrasado, quando não faltava e dava um monte de desculpas esfarrapadas que até a pessoa mais ingênua ficaria desconfiada. Andrea, que não era nem um pouco boba, foi investigar. Primeiro com os amigos. Mas quem disse que o universo masculino é fácil? Como uma vez a própria Fê disse “é um clã que se auto protege nas dificuldades e até nas baixarias”. Enfim, a pesquisa se estendeu à vizinhança, parentes (tudo de modo mais delicado possível), e nada… O que Andrea fez? Recorreu ao mesmo meio em que se conheceram: a internet. Pesquisas pelo Google e Facebook não apontaram nada. Olhar os registros do Whastapp do rapaz era difícil, já que ele também dificilmente descuidava do celular. O que restou? O Twitter. A garota de sentido aguçado, foi fuçando, fuçando… 69
Lá estava Daniel: sorridente e abraçado com uma mulher muito mais velha que ele. Não tinha como negar: a única coisa que poderia ter atrapalhado reconhecê-lo era o brilho do flash que ofuscou um pouco as lentes do óculos do rapaz. Andrea ficou enfurecida. Chorou, berrou e gritou. Ainda bem que estava sozinha em casa. Já pensou se sua mãe, dona Eunice, a escutasse? A garota não hesitou. Ligou para Daniel, como ele não atendeu, ela deixou um recado: — Eu sei de tudo, seu “xarope” ! Eu sei de tudo! Monstro! Quero que você morra! Andrea passou o dia macambúzia, nervosa e chorosa. Conseguiu disfarçar muito bem na hora do jantar. E quando a mãe perguntou se estava bem, a garota respondeu: — Estou de TPM, mãe. Fico pálida quando estou assim, você já não me conhece?
* * * Trrrrriiiiimmmmm Trrrrriiiiiiimmm — Alô? — Amiga, preciso desabafar — responde a voz chorosa do outro lado do telefone. — Andrea, o que aconteceu? Não era para você sair com Daniel para vocês baterem um papo franco sobre o relacionamento?, quis saber Kátia. — Era… só que descobri que o desgraçado está me traindo! Que ódio! — Como é? — Você está perto do computador? — Estou. 70
— Abre o Facebook… e procura o perfil Lost For You. — Achei! É esse o perfil? — Pois é… olha as fotos em que ele foi marcado. Ao fundo, Kátia podia escutar a música que tocava alto no quarto de Andrea: Back to Black, da Amy Winehouse. — Nossa, que música fúnebre! Pior que essa, só aquele clipe em que ela enterra o próprio coração. — Ah, não enche! Como você acha que me sentiria depois de descobrir isso? Feliz? — Amiga, você tem que reagir… Por que não escreve em seu blog sobre as decepções do amor? — Boa ideia! Kátia ficou insegura quanto ao conselho que havia dado. Teria sido mesmo uma boa ideia? Tarde demais, Kátia… Andrea está prestes a entrar numa fria.
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#revelações
K
átia, Fê e Andrea estavam na cantina do colégio finalizando um lanche para a última aula: laboratório de química. Lembraram-se de que, em uma das aulas de biologia, a professora pediu que dissecassem uma barata! Argh! Trrrrrriiiiiiimmmm Trrrrrriiiiimmmmm — Andrea! — Mãe? — Você pode me explicar o que um Oficial de Justiça faz aqui na porta, querendo falar com você?, pergunta a mãe em tom áspero. — Ai, não! Do outro lado da linha, ouvia-se a dona Eunice tentando conversar ao mesmo tempo com o oficial e com a filha. — Maluca! Você está sendo processada!, disse a mãe, enfurecida e passando o telefone para o oficial. — O quê? — Boa tarde, a senhorita é Andrea Lazarotto? — falou o oficial com voz firme, do outro lado da linha. — S-sim, sou eu mesma!, gaguejou Andrea. Enquanto isso, as amigas ficaram aguardavam, e a tensão no ar aumentava a cada minuto. — A senhorita está sendo processada por Daniel Costa, por danos morais, continuava o oficial. Nesse momento, Andrea sentiu as pernas tremerem. Ao mesmo tempo, uma onda de raiva, mágoa e ódio tomou-lhe conta. Como ela poderia pensar que aquela postagem sobre “cafajestes vestidos de bons moços” iria lhe render um processo? Andrea, sem pensar nas consequências, seguira os conselhos de Kátia, mas de um modo totalmente errado. Escreveu sobre cafajestes e como eles existiam aos 75
milhares: uns em “pele de lobo”, outros em “pele de cordeiro”. Para ela, Daniel era o da segunda “espécie”. O erro fatal foi ter dedicado a postagem ao rapaz usando o nome completo dele… Ele, que também não era bobo, até tentou negociar com a moça para que tirasse o nome dele do site. Mas quem disse que era fácil convencer Andrea de alguma coisa, principalmente quando ela está cheia de certezas? Teimosa, como toda boa taurina, ela não se intimida, ainda mais se estiver brava. — A senhorita está me escutando? — perguntou o agente do Judiciário. A pergunta fez com que Andrea voltasse ao presente. — Sim, perfeitamente. Vou tirar os dizeres do site e comparecerei à audiência, disse Andrea, desligando o telefone logo em seguida. As amigas ficaram assustadíssimas! Como aquele rapaz educado, estudioso e dedicado poderia ter sido tão… — Bem, paciência! Agora, o que preciso é de alguém que me defenda: um advogado. — Ah, eu tenho uma boa advogada para ajudá-la! A ex-chefe da minha mãe é ótima nesses casos — disse Fê. — Não acredito que uma mulher poderia dar conta dessa situação. Acho que um homem seria melhor — retrucou Kátia. — Enfim, machismos à parte, vamos primeiro falar com a… como ela se chama?, perguntou Andrea, reprovando sutilmente o comentário preconceituoso da amiga. — Beatriz! Doutora Beatriz! Ela é ótima! — afirmou Fernanda. Ligaram para advogada, mas a resposta não foi nada 76
animadora. Depois de anos liderando um escritório de advocacia, Beatriz conseguira realizar um grande sonho: ser juíza. Por essa razão, ela não poderia pegar o caso de Andrea. Mas prometeu indicar alguém. Enquanto isso, o dia foi dos mais pesados na casa da garota. A mãe ficou sem falar com ela até a hora do jantar. O pai a repreendeu firmemente e, quando foi dormir, não foi diferente: pela enésima vez, Andrea escutou Amy Winehouse e adormeceu depois de ter chorado por muito tempo.
* * * Dois dias se passaram, e aos poucos, as coisas começaram a melhorar na casa dela. No entanto, ainda continuava à procura de quem poderia ajudá-la em sua defesa. Foi então que, naquela tarde de primavera, a doutora Beatriz ligou. A juíza, tinha ficado preocupada com a moça, e no fundo, achou bem infantil o modo com que o rapaz agiu. Também se sentiu ofendida como profissional e como mulher. Por isso, apesar de não poder assumir a defesa de Andrea, Beatriz indicou um advogado por quem tinha grande confiança. — Anote aí, querida: Domênico Jabs. Ele é ótimo! O ramo dele é mais Civil. Acredito que será excelente profissional nesse caso. Enquanto a garota anotava o telefone do advogado, Fernanda falava com Kátia o quanto estava preocupada com a situação. — Que absurdo! Dani era um cara tão gente fina, inteligente… ah, ele deve ter algum problema… — Fê, não começa! Já chega a Deia estar cheia de 77
problemas… — retrucou Kátia. À tarde, assim que a garota chegou do colégio, a mãe falou: — Querida! Pensei bastante, e não que tenha achado bonito o que você fez! Nem um pouco! Mas quer que eu te diga? Esse rapaz é um pilantra e só quer nosso dinheiro. Vai lá falar com o advogado que nós pagamos. Aliás, quer que eu vá com você? — Não, mãe. Fique tranquila que irei amanhã depois da aula. As meninas me acompanharão.
* * * E assim foi. Às três horas da tarde, as meninas estavam no centro da cidade com o cartão do advogado nas mãos à procura do endereço correto. Chegando ao escritório, a secretária pediu que elas esperassem alguns minutos. A copeira ofereceu copos com água gelada, que Fernanda bebeu de forma sôfrega. Kátia reparou de “rabo de olho”, mas Andrea estava tão ansiosa que nem notou. — Por favor, por aqui — disse a secretária, apontando a direção a saída. As meninas acompanharam e Kátia perguntou bem baixinho: — Por que as secretárias de escritórios de advocacia têm mania de usar meias com riscas atrás? — Doutor Domênico, suas clientes chegaram — avisou a funcionária, parecendo não ter ouvido o comentário de Andrea. — Sua cliente — corrigiu Andrea com cara feia para a secretária, não dando nem atenção à mão estendida 78
oferecida pelo advogado. Quando Andrea o encarou, se surpreendeu. O advogado usava um terno risca de giz, gravata vermelha que destacava mais ainda os olhos bem negros. Os cabelos penteados para frente e um pequeno topete que ele, insistentemente, tentava ajeitar, mas sem sucesso. Domênico era um desses caras que realmente impressionavam. “Não, Deia, não! Para de pensar asneira e se concentre! Você está aqui para discutir seu caso. Ah, não! Não! Por que ele é tão… e cheira tão gostoso!”, delirava. — Andrea!? — Ah? — Quer se sentar? — Ah, sim! Sentou-se de forma vagarosa observada pelas amigas que davam pequenas risadinhas. Andrea não deu lá muita importância para a estratégia que ele iria estudar para seu caso. Só o admirava como se fosse uma pintura no museu. Mas, de repente… “Andrea, presta atenção! Você não vai querer mais confusão, vai?”, pensava… — Entendeu, Andrea?, perguntou o advogado, com a voz entonada. A garota apenas fez que sim com a cabeça. Como todo bom cavalheiro, Domênico as acompanhou até o elevador. Quando se despediram, sem pensar muito, Andrea deu-lhe um beijo no rosto. O rapaz meio cambaleou e não conseguiu apertar o botão do elevador. — Bem, então… é isso… qualquer coisa me liga… pode ser sábado à tarde. “Ele tá me paquerando? Aliás… por que eu o beijei no 79
rosto? Estou louca?”, pensou a menina, confusa. Estava apaixonada de novo.
* * * Após alguns dias, lá estava Andrea no Fórum, esperando o momento de ser chamada. Ainda bem que ela estava acompanhada por suas amigas, Kátia e Fernanda. Ao seu lado, o doutor Domênico aparentava mais nervosismo que a garota. Mesmo assim, quem não o conhecia teria a impressão de que ele era extremamente feroz e mal-humorado. O seu tique, quando estava nervoso, era fazer um pequeno bico com a boca que o deixava com o semblante mais velho do que na verdade era. Do outro lado da sala, Daniel, com uma mochila nas costas, andava e falava ao celular. — Nossa, como ele tá acabado, hein? Você reparou que os cabelos de trás estão mais ralos? — disse Kátia. — Duvido que ele tenha um advogado — afirmou Fernanda — Desculpe, Andrea, mas ele nunca teve mesmo onde cair morto… — Fernanda!, repreendeu Andrea. — E não é verdade, Deia? Enquanto isso, o advogado de Andrea estava atento à chamada para a audiência. O funcionário do Fórum anunciou: Audiência 0452 – Daniel Costa e Andrea Lazarotto – Danos Morais. — Estou com medo!, cochichou Andrea ao advogado. — Não vai demorar mais do que cinco minutos — acalmou o advogado. Daniel entrou primeiro, Domênico na frente e Andrea depois. O conciliador já os esperava na sala. 80
Vendo que ambos eram muito jovens, começou com uma explicação: — Primeiro, quero dizer por que existe uma Audiência de Conciliação — disse o conciliador — Ela existe para que esse tipo de processo termine o mais rápido possível, sem que a disputa vá para instâncias superiores, mais burocráticas, prolongando-se por anos. Acredito que conversando a gente se entende. Mas parecia que Daniel não queria muito papo, e sim a quantia de R$ 10 mil de Andrea. Algo que ofendia profundamente a garota, já que se dedicou ao relacionamento como a nenhum outro. — Qual a sua proposta? — pergunta o conciliador a Daniel. — Quero 20% da quantia estipulada, e ela que fique longe de mim e da minha família. — 20%? — perguntou Domênico. — É… — Bem, então isso quer dizer que você baixou a proposta? — E que ela pare de me perseguir — completou Daniel — como se não tivesse escutado o advogado. Domênico só sorriu com canto da boca e falou: — Aqui não estamos discutindo se ela o persegue ou não, e sim, se de fato você foi lesado ou teve a imagem manchada. O que propomos é que a minha cliente coloque em seu blog, por 6 meses, uma postagem de desculpas pública a você. — Não aceito! — Ok, mas se você já baixou o preço, isso significa que está mais condizente a negociar, certo? Andrea ficou encantada com o jeito que Domênico 81
negociava. “Uau!! O cara é bom mesmo no que faz, e esse terno… concentre-se Andrea! Concentre-se!”, pensava ela. — 20% é o suficiente!, disse Daniel, cada vez mais inseguro de sua posição. — Que tal um salário mínimo e não falamos mais nisso? — propôs Domênico. O conciliador, que até aquele momento parecia estar do lado de Daniel, para surpresa de Andrea, encarou-o de tal maneira como se dissesse: “aceita!” Daniel olhou fixamente para Andrea. E ela não deixou por menos, retribuiu o olhar com raiva. — O que me diz? — perguntou novamente Domênico. — É… Andrea acompanhava, atenta, cada passo da audiência. Era como se estivesse em um jogo de xadrez, onde cada jogador dava um lance à espera de quem seria o primeiro a dar xeque-mate! — É ou não é? — o advogado da moça retornou a pergunta — Lembre-se de que estamos negociando aqui o fato de ter influenciado negativamente a sua imagem. Tanto que se ela o perseguisse, você teria entrado com outro tipo de processo, não é mesmo? Agora quem se sentiu profundamente acuado foi Daniel. Parecia que o rapaz não tinha muita alternativa e, mesmo a contragosto, terminou aceitando.
* * * Mais tarde, na saída do Fórum… — Uau! Ele mereceu mesmo passar vergonha. E foi pouco o que você escreveu para ele, Deia! Enquanto as meninas comentavam o acontecido, e 82
Andrea ia contando os detalhes da audiência, Domênico colocou a mão no ombro da garota e disse: — Preciso voltar ao escritório. Automaticamente, Kátia pediu para Fernanda acompanhá-la ao banheiro, a fim de deixar a amiga sozinha com o bonitão. — Muito obrigada por tudo. E espero que… bem… — dizia, sem jeito, Andrea. — Quer uma carona? Andrea ficou paralisada olhando para ele. “Não é possível! Ele tá me oferecendo uma carona? Só posso estar sonhando!”, pensou. — Não precisa! Bem, eu e as meninas iríamos tomar um sorvete para desestressar, mas… pensando bem… Mais tarde, Andrea passou uma mensagem para as garotas. Já que tinha terminado o caso, por que não transformar aquela relação profissional em amizade? O que Andrea não lembrava, e que Madame Juju já tinha “dado um toque”, é que Domênico seria seu namorado. E não é que um dia, de forma totalmente inesperada, aconteceu o primeiro beijo entre os dois? Na hora, o que passou na cabeça de Andrea foi: “Bendito processo… se não tivesse descoberto o lado “traíra” do Daniel, jamais teria conhecido Jabs”. Mas o que Andrea não se lembrava era que Madame Juju já tinha “dado esse toque”: Domênico seria seu novo namorado.
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#partiurolĂŞ
K
átia estava super empolgada com seu novo encontro com o professor. Passou a semana contando os minutos à espera daquele momento. Ainda se arrumava, quando a campainha de sua casa tocou: — Visita para você — disse sua mãe. — Diga a ele que já estou indo. Kátia colocou um vestidinho preto, que comprou com as amigas no dia anterior, e pegou emprestado da mãe um colar de pérolas que combinava com os brincos que usava. Estava ansiosa e um pouco nervosa. Pensava no que conversariam e como deveria se comportar para parecer uma pessoa interessante. Kátia levou uma garrafa com suco natural de frutas para tomarem com a tábua de frios que Sérgio iria preparar. Chegando na casa dele, observou que a mesa já estava colocada e, para dar um ar mais romântico, ele acendeu algumas velas que davam um tom aconchegante ao ambiente e à iluminação, tornando-a mais amarelada. — Preparei tudo isso para você! — exclamou Sérgio. — Humm… a mesa está maravilhosa e, inclusive, já estou com água na boca… — Vamos “atacar”, então! — disse o rapaz bem-humorado, e depois podemos assistir a um filme. O que acha? — Perfeito! — respondeu Kátia, um pouco tímida. À tarde, Sérgio tinha alugado um desses filmes “água com açúcar”. “As garotas costumam gostar desse filme”, pensou ele. Chamava-se “E se fosse verdade”, com Reese Whiterspoon e Mark Ruffalo. Foi tudo lindo e, durante o filme, deram muitas risadas. Sérgio acariciou seus cabelos e lhe fez muitos elogios. Mas, estranhamente, Kátia não parava de pensar em seu amigo Renato. Achava que ele a entendia melhor. 87
Será que foram somente pensamentos “sem sentido”, ou ela estava um pouco na dúvida de seus sentimentos pelo professor? Despediram-se com um suave beijo perto da boca e ficaram de se ligar para combinarem um próximo encontro. — Quando nos ver de novo? — perguntou Sérgio. — Ainda não sei! Mas de qualquer forma as aulas ainda não acabaram — retrucou ela com um sentimento um pouco esquisito. No dia seguinte, Kátia ficou com vontade de convidar Renato para um passeio e preferiu não falar nada a respeito do encontro com o professor. — Você está bonita! Aconteceu alguma coisa? — perguntou Renato. — Obrigada, acho que estou mais tranquila. Estava discutindo muito com meus irmãos em casa. O tempo todo eles querem ficar dando ordens, falar o que tenho e o que não tenho que fazer, sabe? Vou perdendo um pouco a paciência, mas, às vezes, acho que “é melhor escutar do que ser surda”, como diz o ditado. Mas e você o que tem feito? — Nada de especial. Estou aproveitando meu tempo livre para estudar para o vestibular de medicina. É um dos mais concorridos e, se não estiver preparado, as chances de passar são muito pequenas. Tenho saído bastante também com o Cezinha e o Luciano. São caras muito legais lá do nosso grupo de estudo. Renato era do tipo “a todo vapor” e nunca fazia corpo mole. Além de estudar, participava de cursos complementares e ainda ajudava seu pai, Sr. Eduardo, na loja de eletroeletrônicos no centro da cidade. Atendia os clientes, fazia orçamentos e, quando podia, ajudava na 88
manutenção dos equipamentos que chegavam para ser consertados. — Ah, lembra daquele nosso plano de juntar todo mundo para fazer uma viagem? Tive uma ideia: pensei que podíamos passar o ano novo lá em casa, fazer uma ceia, e nos divertir sem sair da cidade, o que acha?, disse Kátia. — Acho uma boa ideia, vamos falar com o pessoal. Ficaram até tarde conversando. Naquele dia, Kátia também sentiu muita vontade de se arrumar. Além de usar uma maquiagem, bastante básica, mas que destacava seus olhos e sua boca, estava com um vestido florido, que a deixava com um astral superleve, relaxado e descontraído. Pela primeira vez, reparou como Renato era sedutor. Também tinha caprichado no visual. Estava com uma calça cáqui e uma camisa azul listrada e sapatos sociais. Ela ficou durante horas ouvindo seus planos para o futuro, e o incentivava bastante com opiniões sempre positivas. Acreditava em seu potencial. Renato, além de ser divertido e companheiro, era decidido e persistente. Kátia estava realmente percebendo as qualidades do amigo, e ele percebia que ela o olhava de forma diferente. Era uma quinta-feira e, no dia seguinte, teriam aula. Sérgio já tinha começado a dar sua aula quando Kátia entrou na sala. Cumprimentaram-se a distância. Na hora do intervalinho, a garota escutou de outras colegas da turma que o professor estava de casamento marcado. No dia em que saíram, Sérgio tinha lhe dito que ele e a noiva haviam terminado o relacionamento. Kátia não acreditava no que ouvia e decidiu ir conversar com ele. — Por que você não me contou que estava bem com sua noiva no dia em que saímos e que tinha planos de se casar? 89
— Achei que fosse ficar chateada. — Pois saiba que eu sempre prefiro a verdade. Não me ligue e não me procure mais! Estou muito decepcionada com você. — Mas, Kátia… — disse Sérgio na tentativa de se defender. — Já falei, por favor, não me procure mais e pode esquecer que eu existo, disse Kátia, tremendo de nervosismo. Ainda bem que no ano posterior o curso que estava fazendo seria ministrado por outro professor. Kátia, no dia seguinte, falou para as amigas que não tinha mais os mesmos sentimentos pelo seu professor, tampouco sentiu vontade de explicar o que tinha acontecido no tão esperado encontro dos dois. Além da parte amorosa, parece que as coisas não iam bem para ela também em outros setores de sua vida. Além de toda esta confusão com o professor, muitos boatos surgiram na escola em que estudava. Algumas garotas a acusavam injustamente de ter pegado o gabarito de uma das provas bimestrais de matemática, pois ele simplesmente sumiu de uma hora para outra. Quando foi chamada à diretoria, ficou indignada: — Do que é que vocês estão me acusando? Some um gabarito e vocês acham que a culpa é minha? Eu juro que não tenho nada a ver com essa história! — declarou muito nervosa. — É, mas algumas garotas dizem que têm provas de que viram você na sala dos professores, sozinha, justamente na hora em que o gabarito sumiu. — Isso é uma grande armação dessas garotas! — gritou ela, enfurecida — Olha, eu até entrei sim na sala dos 90
professores, mas para tirar dúvidas com o professor Darcy em relação à nova programação de suas aulas. A senhora pode até perguntar a ele… Mas me acusar de ter pegado o gabarito… Francamente! Vocês realmente não me conhecem mesmo! — Bom, disse a diretora bem cética, vamos ter que esperar um pouco, pois, o fato é que o gabarito sumiu e você, minha querida, infelizmente é uma das suspeitas. — Isso é uma grande injustiça! Garanto que isso não vai ficar assim! — disse ela, batendo a porta da sala. Seus amigos ficaram chocados quando souberam o que estava acontecendo. Por sorte, Renato ouviu conversas suspeitas das tais garotas sobre o acontecido e descobriu que elas mesmas tinham pegado as respostas da prova. Combinou com os amigos de, no intervalo, vasculharem as mochilas das meninas. Renato não acreditou em seus próprios olhos: lá estava o gabarito. Com a prova em mãos, o moço contou tudo o que tinha acontecido à diretora da escola e, mais uma vez, salvou a pele da amiga. Por fim, as meninas mentirosas foram suspensas e impedidas de fazerem as provas do último bimestre do ano.
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#presentes
T
odos aceitaram organizar uma comemoração entre amigos para celebrar o fim do ano na casa de Kátia. Marcaram entre os dias 22 e 23 de dezembro, já que o dia 24 seria festejado com os familiares. Kátia, Andrea e Fernanda enfeitaram toda a casa com lindas decorações de Natal que elas aproveitaram para comprar no dia da “Terapia das Compras”… Foram elas também que prepararam a ceia e ainda capricharam no visual. Kátia, para homenagear a ocasião, colocou um vestido vermelho e, na cabeça, um gorrinho da mesma cor, com um pompom branco na ponta que fazia lembrar Papai Noel. As meninas também se produziram com vestidos, tops, bijuterias e maquiagem leve. As meninas pediram a receita para as “mamães” e “titias” com suas especialidades e colocaram tudo em prática no Natal dos amigos. Impressionaram de fato. A ceia estava farta e tinha de tudo: peru, salpicão, tender, farofa decorada, panetone, uma deliciosa salada de maionese. Realmente, tudo estava de dar água na boca. Exceto com alguns contratempos: — O que aconteceu com a receita da sobremesa? — perguntou Andrea. A sobremesa tinha ficado a cargo de Kátia, e ela logo se desesperou. A ideia era fazer uma sopa de chocolate, mas quando deu o tempo da sopa ferver, foram conferir viram que ela estava com uma cor completamente diferente: um tom “roxo beterraba” misturado a “rosa chiclete”. — Nossa, não sei o que pode ter acontecido! — comentou Kátia tentando esconder o seu desespero. No final, descobriram que ao preparar a sopa, a moça ferveu, também, um pedaço da embalagem e todas caíram na gargalhada! 95
— Receita especial da vovó: sopa de chocolate a la embalagem, completou ela, brincando. Logo tiveram que improvisar uma outra receita para a sobremesa e criaram uma deliciosa gelatina de duas cores: vermelha e verde. Mesmo assim, Renatinho ainda teve coragem de experimentar a sopa. — Ei, gente! É só a cor que está esquisita, pois o sabor ficou delicioso. Não está muito doce e a consistência exatamente no ponto, experimentem! — disse o rapaz ao mexer a sopa com uma colher de pau. — Muito obrigada, mas desta vez passamos — disseram Andrea e Fê achando graça da situação. Fernanda, Tony e Andrea cochicharam para de Kátia: — Ele é mesmo apaixonado por você! — e caíram novamente numa gostosa gargalhada. Kátia ficou sem graça e sorriu delicadamente. Cada uma preparou um prato diferente para dar àquela noite um sabor especial. A mesa também tinha um colorido muito bonito. Preocuparam-se com tudo. Para combinar com o tema fizeram toda a decoração nas cores vermelho e verde: tinha até aquelas guirlandas na porta da casa, sem contar as luzinhas que Kátia tinha colocado para iluminar o quintal. Os meninos não podiam deixar de elogiar e reconheceram o talento das garotas: “já podem casar!”. Kátia chegou a corar, por um instante. Mas ainda tinham tanto a fazer que logo voltaram aos preparativos daquela especial noite antecipada de Natal. Os garotos também tinham tarefas a serem cumpridas: ficaram com a responsabilidade do som, das bebidas e de coordenar o Amigo Secreto. Todos compareceram e chegava a hora de abrir os presentes. 96
Andrea tirou Fernanda que tirou Domênico que “caiu” com Andrea, e Kátia e Renato “caíram” um com outro. O combinado era que, ao dar os presentes, um teria que descrever o outro. Quando chegou a vez de Renato descrever Kátia, todos ficaram abismados. — Na minha opinião, uma garota muito mais do que especial. Não há como ficar indiferente à sua presença. Acho que ela já sabe de quem é que estou falando. Também acredito que ela conheça minhas intenções — disse, timidamente, ao corar um pouco. Kátia levantou-se, foi em sua direção e falou: — Nestes últimos meses percebi que você é muito mais importante do que imaginava. Foi nesse momento que os dois se beijaram calorosamente e todos começaram a aplaudir! — Você é o melhor presente de Natal que eu poderia ganhar — disse Kátia ao abrir a caixinha de veludo que continha uma correntinha dourada muito delicada. O pingente tinha a forma de um coração. Ele a olhou carinhosamente e disse: — Você é que é o meu amor… Enfim, os dois se entenderam e resolveram “engatar um namoro” a sério. Certa nostalgia tomou conta da casa quando Tony colocou para tocar um CD natalino que gravou de um LP antigo de seu pai. A música era “Jingle Bells” gravada por Frank Sinatra. Por alguns minutos, as amigas se emocionaram. “Jingle Bells, Jingle Bells, jingle all the way…” Todos cantavam juntos. Porém, muitas outras novidades ainda estavam para acontecer. Certamente, surpreenderão a todos quando os amigos começarem a trilhar destinos diferentes e conhecer outras pessoas… 97
Evoluir Cultural, 2015 Este livro atende às normas do novo Acordo Ortográficos da Língua Portuguesa, em vigor desde janeiro de 2009. Título original Autor Ilustração Coord. Editorial Design gráfico Revisão
Me Liga: romances, encrencas e confissões Flavia Bastos e Juliana Rizzuto Caroline Pereira Lilian Rochael Gabriela Ferreira Chico Maciel e Fabiana Chiotolli
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Bastos, Flavia Me liga : romances, encrencas e confissões / Flavia Bastos & Juliana Rizzuto ; [ilustrações Caroline Pereira]. -- 2. ed. -- São Paulo : Evoluir, 2015. 1. Ficção - Literatura infantojuvenil I. Rizzuto, Juliana. II. Pereira, Caroline. III. Título. 15-00528
CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura infantojuvenil 2. Ficção : Literatura juvenil
028.5 028.5
ISBN 978-85-8142-069-1
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