UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UFBA TRABALHO DE FINAL DE GRADUAÇÃO
NOVA PROPOSTA PARA O
MERCADO DO OGUNJÁ
GABRIELA DE MIRANDA LAURIA
SALVADOR, BAHIA, 2016.01
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA TRABALHO DE FINAL DE GRADUAÇÃO ALUNA: GABRIELA DE MIRANDA LAURIA MATRÍCULA: 209105480 / 2009.1-37 ORIENTADORA: NAIA ALBAN SUAREZ CO-ORIENTADORA: NAYARA AMORIM SEMESTRE 2016.01
AGRADECIMENTOS
Agradecer é uma missão difícil, ainda mais quando se tem tantos para quem dizer o quanto sou grata. Começo com a minha orientadora, Prof. Naia Alban, e co-orientadora, Prof. Nayara Amorim, obrigada pelos ensinamentos, pela sua dedicação e por terem me motivado sempre a ir mais além. Minha sincera gratidão ao Prof. Nivaldo Andrade e Prof. Marta Raquel, que acompanharam o desenvolvimento deste trabalho e que, generosamente, cederam um pouco do seu tempo e atenção com observações que contribuíram imensamente para o resultado final. Aos que me ajudaram durante essa jornada, a quem recorri para que esse trabalho pudesse ser o melhor possível dentro das minhas limitações: Edson Fernandez, Rodrigo Motta, Yoanny Rodriguez, Natália Duarte, Guza Rezê, Janaina Lisiak e Matheus Tanajura. À minha amada família, agradeço, principalmente, pelo apoio e pela paciência: ao meu pai Rui, à minha irmã Luisa e especialmente a minha mãe Lourdes pela sua dedicação em tudo que faz, te tenho como minha referência. À Alexandre Vasconcelos, sou grata pela sua compreensão e apoio. Obrigada por tornarem tudo possível. Meus queridos amigos, que crescemos juntos e isso se tornou, com certeza, muito especial para mim. Obrigada por estarem sempre ao meu lado: Bárbara, Rayssa, Paula, Isis, Verena, Duda. A Deus, todos os agradecimentos. Enfim, quero que se sintam agradecidos todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para o meu crescimento enquanto pessoa e profissional.
SUMÁRIO 01. Apresentação
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02. Introdução
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03. Contextualização
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04. Hortas no Brasil
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05. Mas, onde?
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06. Diagnóstico
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07. PDDU
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08. Referências projetuais
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09. O projeto
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10. Referências
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APRESENTAÇÃO 01. APRESENTAÇÃO “A relação do homem com o alimento precisa ser revista. Precisamos aproximar o saber do comer, o comer do cozinhar, o cozinhar do produzir, o produzir da natureza; Agir em toda a cadeia de valor, com o propósito de fortalecer os territórios a partir de sua biodiversidade, agrodiversidade e sociodiversidade, para garantir alimento bom para todos e para o ambiente.” Alex Atala, manifesto do instituto ATÁ.
Em janeiro de 2014, em Melbourne, Austrália, surgiu o projeto Jardem, fruto de um curso de férias de verão que tinha como objetivo capacitar e desenvolver as habilidades de comunicação dos participantes para divulgação de pesquisas científicas (entendase aqui ciência na forma ampla da palavra), e o seu poder de persuasão. Um dos desdobramentos do projeto Jardem é o engajamento da população no que diz respeito aos seus hábitos alimentares, assunto atual e que tem ganhado cada vez mais espaço para discussões e pesquisas. O projeto propunha a implementação de hortas em escolas da cidade a fim de que os alunos tivessem contato com o alimento desde o plantio até a colheita. A ideia é que a geração que passasse por essa experiência cresceria mais consciente a respeito do assunto e das consequências ao meio ambiente, podendo até influenciar seus pais. O trabalho aqui apresentado é uma extensão do projeto Jardem, fruto de algumas reflexões que ele me trouxe e de possíveis formas de aplicação da ideia nele proposta. O objetivo central é promover um espaço público onde as pessoas, de fato, façam uso dele, com diversidade social e que retome a relação do homem com o alimento, além de celebrá-lo, mantendo-o como ponto central das relações interpessoais.
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“Os projetos nunca terminam, mas entram em fases sucessivas, seja por nĂŁo termos controle total sobre eles, seja por reencarnarem em outros projetos.â€? Enric Miralles.
Fonte: Gui alimentar para a população brasileira.
APRESENTAÇÃO 02. INTRODUÇÃO
De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, diante das transformações sociais experimentadas pela população brasileira, no decorrer da nossa história, é possível notar o impacto sobre suas condições de saúde e de nutrição. Aliada a esta questão, à complexidade e aos desafios que envolvem os programas alimentares nacionais atuais, evidencia-se a urgência de um olhar mais sensível sobre o tema. De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira “a alimentação adequada e saudável é um direito humano básico que envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo e que deve estar em acordo com as necessidades alimentares especiais; ser referenciada pela cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível do ponto de vista físico e financeiro; harmônica em quantidade e qualidade, atendendo aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer; e baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis”.
Entretanto, quais são as ações e políticas nacionais que promovem e garantem a segurança alimentar e nutricional da população, mas que também estimulem, além de uma alimentação saudável baseada nas particularidades de cada população, outras formas de se relacionar com o alimento? Quais são as propostas que, de fato, aproximam as pessoas dos alimentos, provocando uma mudança de consciência? É a partir desses questionamentos que se desenvolve o trabalho que aqui segue.
Importância histórica As transformações trazidas pela Revolução Industrial influenciaram todos os aspectos da vida cotidiana, entre eles, a alimentação. Com a industrialização, o surgimento dos carros, dos edifícios, shoppings centers, supermercados, dentre outros, o homem citadino passou a transitar mais por entre esses lugares e/ou não-lugares[1] em vez de celebrar e vivenciar as ruas e espaços públicos. Michael Pollan, autor do livro Cooked, disserta na série intitulada com mesmo nome sobre os acontecimentos ao fim da Segunda Guerra Mundial onde ele afirma que a indústria alimentícia, que havia se desenvolvido para atender demandas específicas de guerra, passou por um embate: como se manter ativa? Como inserir os produtos processados e enlatados desenvolvidos para a guerra nas cozinhas americanas? A solução veio com uma avalanche de propaganda e marketing que colocavam esses produtos industrializados como a solução para, como eles mesmos consideravam, o pânico da cozinha caseira. Esses produtos
1 - Termo criado pelo filósofo Marc Augé, que se refere a lugares transitórios, que não possuem significado suficiente para serem considerados lugares.
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eram vendidos como modernos enquanto a cozinha caseira foi colocada no patamar do “consumidor de tempo”. Essa indústria acabou tirando da maioria das pessoas o hábito de cozinhar no dia-a-dia e o tornou algo opcional. Como desdobramento, da década de 80 para cá, o preço dos produtos industrializados baixou enquanto o do hortifruti subiu. Paralelo a isso as grandes redes de supermercados - que poderíamos chamar de depósitos de comida, tendo em vista a forma como funciona - tomaram a cena, retirando assim, muitos dos pequenos vendedores e comerciantes de bairro, do mercado de vendas.
E você com isso? Uma crítica ao sistema atual O avanço tecnológico trouxe novas técnicas de conservação de alimentos, assim como a possibilidade de transportá-los por longas distâncias, permitiram que cidades fossem desenvolvidas em lugares antes improváveis, como no meio do deserto de Dubai (Steel, 2009). Também contribuíram para o avanço da alimentação industrializada e a perda do controle sobre a procedência dos alimentos vendidos. Hoje são poucos os que sabem alguma coisa sobre o que consomem ou se interessam em investir algum tempo e esforço na alimentação, seja no campo nutricional, na compra ou na preparação de seu alimento. Não se sabe mais a origem dos alimentos expostos nas prateleiras dos supermercados, nem por onde e por quais mãos passaram os produtos até chegarem ali. Para Steel, os supermercados tornaram-se estações impessoais: pit stops projetados para servirem ao fluxo da vida contemporânea. Funcionam como apoio ao estilo de vida individual, não à socialização (Steel, 2009). Nesse tipo de comércio não resta mais nenhum contato humano, apenas corredores
Figura 01: Nos anos 30, a praticidade de cozimento dos alimentos na cozinha, já ajudavam no argumento de campanhas publicitárias. Fonte: (http://www.propagandashistoricas.com.br)
Figura 03: Imagem de anúncio publicado em revistas do Brasil, na década de 70. Fonte: Anúncios anos 70 – Oswaldo Hernandez (http:// memoriasoswaldohernandez.blogspot.com.br)
Figura 02: Anúncio publicitário do ano 1945: Durante a Segunda Guerra Mundial, a falta de carne no mercado fez surgir produtos como o extrato de carne Armour. Fonte: (http://www.propagandashistoricas.com.br)
Figura 04: Imagem de anúncio publicado em revistas do Brasil, na década de 70. Fonte: Anúncios anos 70 – Oswaldo Hernandez (http:// memoriasoswaldohernandez. blogspot.com.br)
Figura 05: Propaganda das sopas enlatadas da marca Campbells, em meados dos anos 50, destaca a praticidade do produto com dizeres como: na primeira imagem “Tão rica e substanciosa, é muito melhor que a minha” e na segunda imagem “Não seria bobo eu mesma fazer?”. Fonte: The Package Unseen (https://richardshear.files.wordpress.com/2012/02/campbell-1943-ad-and-go2.jpg)
de prateleiras com mercadorias, por fim, um encontro apressado com o caixa, que recebe seu dinheiro (Alexander et al, 2013). Como Alexander et al (2013) disserta e se vivencia, ao que tudo indica, os supermercados se tornarão cada vez maiores, irão se associar à indústrias e farão o possível para desumanizar ainda mais a experiência de se fazer compras em um mercado público. O curioso é que, apesar de todas essas transformações, a comida continua a ser ritualística, cultural e um meio de reunir pessoas. O comportamento ritualístico está associado a extensas trocas de bens e serviços, frequentemente consumidos nas mais diversas ocasiões: cotidianas ou de cerimônias, informal ou solene - como é o casamento, a formatura, batizado, Natal, etc. No recorte que nos interessa aqui, as atividades cotidianas, esse comportamento ritualístico poderia ser expresso nas compras de rotina, no café da manhã, nos momentos de arrumação pessoal e da casa, de forma geral, nas rotinas diárias (Caixeta, 2011 apud Rook, 1985; McCracken, 1986). “Quando ocorre uma sequência de comportamentos, atividades expressivas e simbólicas que tendem a se repetir com o tempo, tem-se um ritual.” (Caixeta, 2011 apud Rook, 1985)
Ou seja, o alimento não é apenas um ato cultural, ele faz parte de rituais cotidianos. Já as lojas pequenas, muitas vezes fecham suas portas devido à potência dos supermercados pois, quando isoladas, não conseguem oferecer aos consumidores a mesma variedade que um ponto de vendas grande, como o supermercado oferece. Contudo, se muitas dessas pequenas lojas fossem agrupadas e implantadas em um local central e oferecessem juntas uma variedade comparável à do supermercado, conseguiriam competir em igualdade com os supermercados de rede. Uma das maneiras de resgatar o contato humano e a variedade de alimentos, além de todo o carinho, atenção e sabedoria oferecidos pelos pequenos comerciantes que sabem o
que seus produtos podem oferecer, é recriar aqueles mercados públicos nos quais os lojistas individuais vendem diferentes produtos em bancas minúsculas, todos reunidos sob a mesma cobertura (Alexander et al, 2013). Por sua vez, as feiras de rua são pontos de encontro social que nos conectam a um antigo tipo de vida urbana. Um pequeno vendedor – pequeno quando comparado a uma rede de supermercados - detém a sabedoria de seu produto, é atencioso, muitos conhecem seus clientes até pelo nome, além de conhecer também o gosto de seus fregueses, desta forma torna o atendimento personalizado e humanizado. Em suma, feiras, mercados públicos, vendedores ambulantes e pequenos comerciantes oferecem múltiplos benefícios econômicos, sociabilidade e um conjunto de práticas culturais ligadas aos hábitos e à proximidade (Amorim, 2011). Esse conjunto de benefícios é essencial para criação de locais vibrantes para pessoas viverem, interagirem, trabalharem e se divertirem. “ [...] a sociedade contemporânea, encontrase inevitavelmente inserida nas próprias características da modernidade. É impossível fugir das consequências da globalização, com suas vertiginosas ondas de informação e de novas ideias. Tudo ocorre com intensa velocidade, o que também se reflete nas relações entre as pessoas.” (Bauman, Z., 2012, em entrevista ao programa Milênio da Globo News)
É nesse contexto onde esta breve pesquisa busca analisar a relação do homem com o alimento e com o espaço público, com o intuito de propor uma intervenção na área escolhida para realização deste trabalho: o Mercado do Ogunjá. A nova proposta para esse Mercado, não é apenas sobre comprar comida mas, celebrá-la também. Trazer a comida genuína e artesanal para o coração da cidade e a vida urbana que um mercado traz – o vínculo com as pessoas e entre elas, o compromisso e o caráter local.
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Figura 06: Retratos de uma família norte americana com a sua comida para uma semana. Nessa sequência de fotos, o fotógrafo expõe desde o momento de compras à casa. Fonte: Peter Menzel. Hungry Planet: What the World Eats (2005). (http://menzelphoto.photoshelter.com/gallery-collection/ Hungry-Planet-North-South-America/C00005yhI.83NTuU)
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Figura 07: Ao lado o personagem “Sujismundo” fez sucesso nos anos 1971 e 1972 como estrela da campanha de higiene promovida pelo governo militar, veiculada em diversas mídias. Fonte: Anúncios anos 70 – Oswaldo Hernandez (http:// memoriasoswaldohernandez.blogspot.com.br) Figura 08: Abaixo O cartaz faz alusão à vacina obrigatória contra a varíola e se insere no movimento higienista, levado a cabo no Brasil no início do século XX.. Fonte: (http://olhonahistoria.blogspot.com.br/2011/10/ questoes-de-vestibular-historia-brasil.html).
03. CONTEXTUALIZAÇÃO
A entidade mercado já surgiu, desde os seus primórdios, como o Fórum romano e a Ágora grega, como um espaço central e sociocultural, de trocas e encontros. A complexização da sociedade, no decorrer da história, tornou necessário que seus espaços sociais fossem zonificados. Seguindo essa realidade, no Brasil, no período da Ditadura Militar, surgem políticas de higienização, dentre as quais, nasce o personagem do Sujismundo. Esse protagonista de uma campanha de marketing educativo patrocinada pelo governo federal, a qual recebia o nome de “Povo desenvolvido é povo limpo”, estava atrelado ao civilismo e à cooperação da sociedade para que a cidade fosse limpa e consequentemente desenvolvida.
Breve histórico das CEASAS no Brasil A CEASA surge como resposta ao estrangulamento do sistema de abastecimento de hortifrutigranjeiros que as cidades brasileiras enfrentaram nos anos 60. A comercialização se dava na rua e ali mesmo se estacionavam os caminhões, gerando engarrafamentos no trânsito. Em meio a isso, não havia informação alguma sobre o mercado e os produtores ficavam desestimulados a produzir. Esse estrangulamento gerou problemas urbanos, os quais levaram a apressar uma solução para organizar a comercialização. Como pioneiros nessa empreitada, tem-se Recife e São Paulo. Na década de 70 foi criado o SINAC (Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento), com o objetivo de reduzir custos de comercialização das organizações; melhorar os produtos e serviços de classificação e padronização; propiciar condições ao SIMA (Serviço de Informação ao Mercado Agrícola); reduzir os custos para o varejo e estimular os supermercados; reduzir a flutuação da oferta; aperfeiçoar o mecanismo de formação de preços; elevar o nível de renda das empresas agrícolas e eliminar os problemas urbanos.
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Com isso, foram criadas 21 Ceasas no país, sendo a de Salvador em 1973. Ao final da década de 70, já eram 31 Ceasas no país inteiro. De acordo com o Manual I: Breve História do Sistema de Ceasas no Brasil, a década de 80 era o momento de aperfeiçoar o sistema e lapidar o SINAC, mas, infelizmente, iniciouse o declínio do Sistema devido a perda de investimentos por parte da União. O governo não investia e nem criava meios para permitir que cada Ceasa buscasse o seu equilíbrio financeiro. Foi nesse momento que se deu o início do processo de transferência do controle das Ceasas para os estados e municípios, já que, na maioria dos casos, a tentativa de privatização não teve sucesso. Logo após esse processo, foi criado o PROHORT (Programa de Modernização do Mercado Hortigranjeiro) com dois enfoques: Incentivar a produção/comercialização ao produtor da agricultura familiar e garantir ao consumidor acesso a um produto saudável e de qualidade.
O caso baiano A Central de Abastecimento da Bahia (CEASA/BA), foi fundada em 1973, e assim como no restante do país, tinha como finalidade racionalizar e otimizar os processos de comercialização, o abastecimento e a regularidade da oferta de produtos alimentícios. Na década de 80 foi inaugurada a Central de Abastecimento da Cesta do Povo, localizada no bairro do Ogunjá e neste mesmo ano foi criada a Empresa Baiana de Alimentos (EBAL), com o objetivo de gerir as lojas da Cesta do Povo as quais, além de beneficiar a população com menor poder aquisitivo, atuava como importante instrumento de regulação do mercado. Em 1991 a Central de Abastecimento foi incorporada à Ebal que administrou todos os bens imóveis da Ceasa até 2015, as chamadas Ceasinhas: • • • • • •
CEASA - CIA - Rodovia CIA / Aeroporto, BA 526, Km 5. Mercado do Ogunjá - Av. Graça Lessa, nº 888, Vale do Ogunjá, Salvador/BA Mercado de Paripe - Rua Afrânio Peixoto, s/n, Paripe, Salvador/BA Mercado do Rio Vermelho - Av. Juracy Magalhães Júnior, nº 1624, Rio Vermelho, Salvador/BA. Mercado da Sete Portas - Rua Cônego Pereira, s/n, Sete Portas, Salvador/BA. Mercado do Produtor de Jaguaquara - Av. Barão do Rio Branco, s/n, Centro, Jaguaquara/BA.
Firura 09: Símbolo nacional da CEASA onde as setas centrais representam a entrada de mercadorias vindas de todas as regiões do Brasil (Norte, Sul, Leste, Oeste) e as externas representam a distribuição desses alimentos.
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Porém, em outubro de 2015 o governo do estado assinou o Decreto nº 16.382, publicado em 26 de outubro de 2015 no Diário Oficial do Estado, definindo que: “Art. 1° - Os bens imóveis destinados às operações das Centrais de Abastecimento - CEASAs, atualmente sob governança da Empresa Baiana de Alimentos S/A EBAL, ficam afetados ao patrimônio da Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial - SUDIC, a esta competindo geri-los, inclusive mediante parcerias com o setor privado, quanto às suas atividades finalísticas, aos serviços que lhes sejam conexos e às infraestruturas de apoio técnico, administrativo e operacional, visando à oferta de bens agroalimentares em quantidade, qualidade e condições higiênico-sanitárias adequadas.”
A rede de lojas Cesta do Povo, todavia, não foi incluída nessas transações e o abastecimento dessas lojas hoje é precário e faltam muitos produtos, o que torna a clientela cada vez menor. Com o encerramento da Ebal, a Ceasa passa novamente por um processo de transferência de gestão, sendo a Sudic a responsável pelo trâmite de todos os bens imóveis da Ceasa.
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Abastecimento de hortifruti em Salvador A CEASA-Bahia, conhecida atualmente como a CEASA-CIA devido à sua localização, se encontra na rodovia BA-526 no km 5,5, há 13km do aeroporto e 30km do porto de Aratu. Além de ter rápido acesso a importantes vetores de articulação da região: a oeste se liga à BA-324 que permeia a península soteropolitana e se conecta à Via Expressa Baía de Todos os Santos, à Av. ACM Norte e à Av. Mário Leal Ferreira; e a sul conecta-se com a Av. Luís Viana (Paralela), com o aeroporto e com a BA-099 que segue em direção ao município de Lauro de Freitas. É um ponto estratégico para o escoar e receber produtos para o abastecimento da região metropolitana de Salvador, com produtos vindos do Recôncavo Baiano e de outras partes do país. De outro lado, temos a conceituada Feira de São Joaquim, a maior feira livre da cidade de Salvador com 34.000 m², localizada historicamente de forma estratégica numa enseada da Baía de Todos os Santos, no bairro da Calçada. A Feira é um marco de referência na perspectiva cultural e alimentar, faz parte do imaginário baiano e é o maior fornecedor paras os 1200 terreiros de candomblé da cidade de Salvador (OLIVEIRA, 2010) .O seu abastecimento acontece de maneira informal e a sua distribuição
abarca, sobretudo, a “cidade informal”. A Feira concentra mercadorias, em sua maioria relacionados às pequenas produções agrícolas, remanescente do Recôncavo Baiano. De acordo com Oliveira (2010) na publicação Projeto de Requalificação da Feira de São Joaquim, “no início, a rampa do mercado na Praça Cairú abrigou o primeiro porto de embarque e desembarque dos produtos do Recôncavo e a primeira feira local para alimentação da cidade. O crescimento urbano e o processo de modernização a partir da década de cinquenta deslocaram a feira local para o armazém de número 07 da CODEBA, em caráter provisório. Em seguida se transfere para Água de Meninos e, após isso, em 1964, para a enseada de São Joaquim.” Vale ressaltar que a relação da Feira com o Recôncavo diminuiu no decorrer dos anos, entretanto, a região continua responsável pelo abastecimento da Feira. A CEASA-CIA, junto com os demais mercados da rede, e a Feira de São Joaquim são os principais pontos de abastecimento da região.
Figura 10: Mapa dos principais pontos de abastecimento de hortifruti em Salvador. Fonte: Imagens Google, editada. Data: out/2016
04. HORTAS NO BRASIL
Aqui seguem alguns exemplos de hortas urbanas de uso comunitário no Brasil, com base nas quais, as propostas para o projeto do novo Mercado do Ogunjá se fundamentam.
Canteiros Coletivos / Salvador, ba Os Canteiros Coletivos é um coletivo baiano que propõe a dinamização do tecido urbano através de ações coletivas verdes. Estas ações, geralmente, envolvem a sensibilização e mobilização de comunidades para desenvolver atividades de plantio e arte urbana. A ideia é de fortalecer as apropriações dos espaços públicos criando relações, afetos e discutindo sobre a necessidade de uma cidade sustentável.
Figura 11: Ao lado canteiro no Vale do Canela sob cuidados do coletivo Canteiros Coletivos. Fonte: Canteiros Coletivos (http:// canteiroscoletivos.com.br/vale-do-canela/)
Parque Sitiê / Rio de Janeiro, RJ O Sitiê é um Parque Urbano de 8,500m2 que fica localizado na favela do Vidigal, no Rio de Janeiro. A área do Sitiê era um misto de Mata Atlântica e sítio porém, em 1986, a área foi invadida por algumas famílias que começaram a sua degradação, agravada em 2003 quando a prefeitura demoliu as casas mas não removeu os entulhos. Em 2006, dois moradores do Vidigal, incomodados com aquela grande área de lixão, tomam frente e iniciam um processo de limpeza do terreno. A partir dessa iniciativa, outros moradores passaram a dar apoio ao movimento e, durante um período de seis anos, retiraram todo o lixo do local, descobrindo no processo que a maneira mais efetiva de recuperar a terra e prevenir novas invasões era plantar. Foi feito um processo de reflorestamento e áreas foram criadas para agricultura urbana, levando o Sitiê a ser reconhecido como a primeira agrofloresta do Rio de Janeiro em 2012. O seu potencial fez que com ganhasse colaboradores importantes, como de Harvard e MIT, entre outros parceiros institucionais como o Arq.Futuro, o Instituto PDR, a FGVDireito Rio. Hoje o Parque possui atividades e oficinas na área de reflorestamento, reciclagem, paisagismo, educação e design. O grande sucesso do Parque e Instituto Sitiê se atribui ao fato que este foi criado e continua sendo liderado pela comunidade enquanto incorpora profissionais altamente treinados na sua equipe.
Figura 12: Foto do Parque Sitiê. Fonte: (http://www. parquesitie.org/visitas/)
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Projeto Cidades Sem Fome / Brasil De acordo com o website do projeto, o Cidades Sem Fome “é uma organização não governamental (ONG) que desenvolve projetos de agricultura sustentável em áreas urbanas e rurais, baseados nos princípios da produção orgânica. Seu objetivo é levar a autosuficiência financeira e de gestão para os beneficiários dos projetos. Desenvolve projetos de Hortas Comunitárias, Hortas Escolares e Estufas Agrícolas utilizando espaços, áreas públicas e particulares precárias que não possuem uma destinação específica, para criar oportunidades de trabalho para pessoas em vulnerabilidade social e melhorar a situação alimentar e nutricional de crianças e adultos.” A ONG tem desenvolvido mais projetos no estado de São Paulo e no Rio Grande do Sul, onde auxilia Pequenos Agricultores Familiares.
Cidades Comestíveis/
Praça da horta das corujas/
São Paulo, SP
São Paulo, SP
Como divulgado pelos organizadores no site do projeto, “Cidades Comestíveis é uma iniciativa do Movimento Urbano de Agroecologia (MUDA_SP) para promover a agricultura urbana na cidade de São Paulo. A proposta do projeto é ampliar o número de hortas urbanas em São Paulo por meio de uma plataforma interativa e aberta (opensource) e um aplicativo para celular, conectando áreas ociosas da cidade (públicas ou privadas) com possíveis interessados em cultivar hortaliças, temperos ou ervas medicinais. A plataforma será um espaço amplo de compartilhamento de recursos para a agricultura urbana e possibilitará a troca colaborativa de sementes, mudas, composto, ferramentas e outros insumos essenciais para a produção de alimentos na cidade.”
A Horta das Corujas é uma horta comunitária experimental localizada numa praça pública no meio da cidade de São Paulo. A proposta é criar um espaço de convívio social e de educação ambiental onde os voluntários cultivam, aprendem a cultivar e ensinam a cultivar assim como aprendem a usar o espaço público, respeitando as regras locais e os outros usuários. A horta está sempre aberta para voluntários e visitantes e é cercada apenas para impedir a entrada de cachorros porém, o portão não tem tranca. A organização do trabalho no dia-a-dia acontece por meio do grupo de discussão no Facebook e regras de convivência são divulgadas para evitar conflitos, como: •
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Figura 13: Foto da Praça da horta das Corujas. Fonte: (https://hortadascorujas.wordpress.com/page/2/)
“As ferramentas que lá estão foram emprestadas por voluntários para o uso em mutirões. Favor não mexer. Como estamos cultivando alimentos, é importante que os cães fiquem do lado de fora da cerca. Não temos autorização da prefeitura para plantar árvores no local. Cultivaremos por enquanto apenas hortaliças. Agradecemos o oferecimento de mudas, mas pedimos que sejam encaminhadas a outros locais.”
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05. MAS, onde?
No meio de um vale, no coração da cidade, no bairro mais populoso dela. O mercado escolhido foi o deteriorado Ogunjá, no bairro de Brotas, já que ele contempla diversas características e questões relativas ao tema proposto, reunindo problemas e possíveis soluções que depois poderão até ser implementadas em outras localidades. Tudo que vem sendo discutido neste trabalho foi considerado para a escolha dessa área para o projeto. Assim, o ideal seria trabalhar em uma área predominantemente residencial, com acesso de diversidade populacional e que carecesse de espaços públicos qualificados para uso da população. Nesse cenário, o Mercado do Ogunjá, que atualmente se encontra em precário estado de conservação, enquadra-se muito bem nas considerações levantadas para o projeto, quais sejam: alta densidade populacional, carência de espaços públicos qualificados e diversidade populacional. Importante também, porque o Ogunjá já faz parte da logística de abastecimento da cidade. Outro fator relevante nessa tomada de decisão foi a busca por regiões em Salvador que historicamente foram utilizadas para a agricultura. As áreas de vale de Salvador eram usadas para esse fim. Ainda hoje existem hortas urbanas em Salvador, a exemplo da Horta de Saramandaia, ao lado do centro financeiro da Tancredo Neves e Narandiba, localizada na avenida Edgar Santos.
Figura 14: Ao lado no alto, foto aérea da horta de Saramandaia. Fonte: Imagens Google, 2016. Figura 15: Ao lado, abaixo, foto da horta de Narandiba. Fonte: (https://medium.com/@ cursoatardejornalismo/hortasurbanas-geram-emprego-e-renda-embairros-de-salvador-af19c1c7a9c2#. kzrinxnjs)
No livro Geografia de Salvador, 2009, os autores afirmam que a região de Brotas, assim como a Federação, eram ocupadas por fazendas e engenhos, o que me levou a busca por uma área de trabalho nesses bairros.
Brotas ou Grotas? Brotas é um bairro que tem infraestrutura e população suficiente para ser uma cidade e é considerado um dos bairros mais antigos da cidade, com 285 anos. Situado no centro da península de Salvador, é o bairro mais habitado da capital baiana com 70 158 moradores do total de 2 921 087 que habitam a região metropolitana (Dados do IBGE 2010). O bairro é limitado pelas avenidas Vasco da Gama a oeste; a sul, pela Av. Juracy Magalhães Júnior; a leste, pela Av. Antônio Carlos Magalhães (ACM) e, a norte, pela Via Expressa Bahia de Todos os Santos e Av. Heitor Dias, sendo o Vale do Ogunjá um vale interno que separa o bairro Engenho Velho de Brotas do bairro Acupe de Brotas. Enquanto no passado a região era subdividida em diversas fazendas, hoje é um aglomerado urbano que engloba 12 áreas ou subdistritos: Vila Laura, Luís Anselmo, Matatu, Cosme de Farias, Engenho Velho, Acupe, Daniel Lisboa, Campinas de Brotas, Candeal, Horto, Parque Bela Vista e Brotas2.
2 - Áreas consideradas a partir da Sinopse por Setor Censitário do IBGE, 2010.
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De acordo com Dórea (2006), o nome do bairro, como ocorre em incontáveis outros batismos populares de logradouros na Bahia, vem da corruptela popular de uma palavra no caso Brotas por Grotas. O autor traz ainda algumas outras corruptelas do nome oficial pelo nome em uso, como: Av. Reitor Miguel Calmon, conhecida como Vale do Canela, Av. Luiz Viana Filho, conhecida como Av. Paralela, Av. Mário Leal Ferreira, conhecida como Bonocô, Av. General Graça Lessa, conhecida como Ogunjá. Com base nisso, adotou-se para este trabalho o nome oficial da avenida onde se localiza o Mercado do Ogunjá, Avenida General Graça Lessa.
Figura 16: Mapa destacando as vias delimitadoras da regiĂŁo de Brotas. Fonte: Imagens Google, editada. Data: out/2016
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Ilê Ogun Ja Nos limites do Vale do Bonocô, “[...] surgiram vários terreiros, como o Ilê Ogun Ja, fundado e dirigido pelo famoso Babalorixá, Procópio Xavier de Souza, nascido filho de Oxalá, que depois entregou a cabeça de seu filho a Ogun Ja. Com o desenvolvimento urbano da cidade, esse Ilê Ogun Ja emprestou a sua denominação a toda a área em frente, atualmente chamada Vale do Ogun Já.” “[...]Posteriormente a grafia popular do nome uniu os dois termos em Ogunjá.” Waldeloir Rego, citado por Luiz Eduardo Dórea, Histórias de Salvador nos nomes das suas ruas, 2006. O objeto de trabalho, Mercado do Ogunjá, encontra-se na avenida da qual leva o nome Av. Vale do Ogunjá, ou Coronel Graça Lessa e está inserido num vale que separa os subdistritos Acupe e Engenho Velho de Brotas. Observando-se bem, esse sítio tem grande potencial como articulador entre os bairros que delimita, já que a topografia que os separa pode ser vencida através da geração de conexões para pedestres nesse espaço, que será também um atrativo local.
O mercado está situado numa zona predominantemente residencial (ZPR-3, de acordo com a LOUOS de 2016), com duas ZEIS próximas a sua área e uma Zona de Centralidade Linear Municipal3 que passa em sua frente e a Av. General Graça Lessa que conecta a Av. Vasco da Gama à Av. Mário Leal Ferreira (Bonocô). De acordo com o PDDU de 2016, o Mercado do Ogunjá é um dos centros de abastecimento da cidade junto com o Mercado do Rio Vermelho, Mercado das Sete Portas, Feira de São Joaquim, Hortomercado e Ceasa CIA Ipitanga. A área hoje está em estado de degradação em razão do descaso por parte das autoridades, com isso a função de mercado, espaço público vibrante, tem-se degradado devido à precariedade das instalações e da falta de segurança no local.
3 - As Zonas Centralidade Linear Municipal (ZCLMu) são porções do território lindeiras às vias estruturais que fazem a conexão entre bairros e também aquelas estruturadas nas imediações dos corredores de transporte coletivo de passageiros de média capacidade, de atendimento municipal e dos bairros por onde a via passa, compreendendo atividades comerciais, de prestação de serviços diversificados, equipamentos de saúde, educação, dentre outros, admitindo o uso residencial.
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ZEIS - Zona Especial de Interesse Social ZCLMu - Zona Centralidade Linear Municipal ZPR 01 - Zona Predominantemente Residencial 01 ZPR 02 - Zona Predominantemente Residencial 02
Figura 17: Zonas de uso. Fonte: Imagens PDDU 2016, editada. Data: out/2016
Figura 18: Mapa da regiรฃo do Mercado Ogunjรก. Fonte: Imagens Google, editada. Data: out/2016
Figura 19 e 20: Fotos do Mercado do Ogunjรก com boxes e corredores vazios. Fonte: Acervo pessoal. Data: Jun/2016
06. DIAGNÓSTICO DO MERCADO DO OGUNJÁ Problemáticas Dentre os itens que levam um lugar a ser vibrante e bem sucedido, poderíamos citar objetivamente alguns, como: • • •
Ser confortável (espaço e orientação); Ser seguro (realidade e sensação); Ser interessante, atrativo (ter sinais de humanidade já que somos seres que precisam de outros humanos por perto).
Atualmente, o mercado em questão carece de todos esses itens e, consequentemente, vem perdendo sua característica como mercado. Ao longo dos últimos anos, esse fato, atrelado ao descaso do governo com os mercados e feiras da cidade, implicou na redução de visitantes, assim como, na evasão de comerciantes.
Após visitar o local acompanhada de funcionários da Sudic, responsáveis pela avaliação do atual estado do imóvel, e conversar com funcionários da Ebal, que trabalham no Mercado do Ogunjá há mais de 10 anos, pude levantar as principais questões a serem tratadas no local : •
Falta de infraestrutura para o público: a falta de atrativos aliada às deficiências do mercado acarretam a redução de clientes. Entre essas deficiências podese destacar: a limitação de serviços e variedade de artigos para venda e seus preços; sanitários sujos e em mau estado de conservação; circulação escura e desagradável, ladeada pelas paredes cegas dos boxes de vendas; área de bares e restaurantes sem conforto e sem segurança e constantemente com presença de animais, como gatos e cachorros;
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Precariedade no abastecimento da loja Cesta do Povo: Apesar dessa loja funcionar independente do mercado, ela atraía uma clientela que acabava indo fazer compras no mercado e, com a falta de produtos nessa loja (precariedade do seu abastecimento), os clientes diminuíram e consequentemente o mercado também sentiu a redução da clientela, que permanece até hoje reduzida;
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Precariedade nas instalações: Não existe área destinada a carga e descarga, o que gera transtorno ao cliente, vez que os caminhões descarregam as mercadorias no estacionamento comum a todos; falta de estrutura na área de lixo que fica exposto e sem proteção, causando sérios problemas de odor; Instalações elétricas oferecem perigo com tos fios expostos, totalmente sem proteção - tanto no piso como na treliça estrutural da cobertura que fica sujeita ao contato com água proveniente de chuvas; os medidores de energia elétrica também estão degradados e sem nenhuma proteção; inexistência de drenagem de águas pluviais, o que desencadea alagamentos sempre que chove; graves corrosões nos pilares metálicos estruturais da cobertura; todo o piso encontra-se estufado, rachado e em alguns pontos quebrado; falta de infraestrutura básica para adaptação dos projetos de incêndio ou melhoria na salubridade, exigidos pelos órgãos competentes;
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Apropriação do espaço pelos moradores das comunidades do entorno: vários lavadores de carro se apropriaram de toda a área de estacionamento, gerando um clima de hostilidade no espaço e principalmente com a administração do mercado. Essa situação revela a necessidade de se regularizar um espaço para esse fim, dotado de infraestrutura básica, como por exemplo, água individualizada para o trabalho dessas pessoas a fim de evitar que eles recorram às fontes do mercado ou da vizinhança; invasão à noite por usuários de drogas. A insegurança no mercado levou seus gestores a instalar grades em todo o perímetro da área de vendas, implantando uma barreira que não resolve o problema, pelo contrário, incita a distinção entre pessoas e espaços.
Figura 21 e 22: Gráfico de usos no mercado hoje. O primeiro mostra a área, em m2, ocupada por cada uso e o segundo o número de boxes. Fonte: Acervo pessoal. Data: out/2016
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Figura 23 à 28: Fotos das atuais instalações do Mercado do Ogunjá. Fonte: Acervo pessoal. Data: Jun/2016
Potencialidades O Mercado do Ogunjá não é, hoje, em todo seu potencial vivido e experimentado pelas pessoas e esse fato implica a relação desse lugar com a região onde se encontra, Brotas. A potencial sociabilidade que existe naquele território tem o poder de influenciar e ser influenciada ao longo do processo de significação desse espaço ocioso e tem, ainda, como rebatimento, o desenvolvimento da população no que diz respeito à educação, cultura e democracia.
As duas avenidas que limitam o vale, a norte, a Av. Mário Leal Ferreira (Bonocô) e, a Sul, a Av. Vasco da Gama, também funcionam como vetores de articulação da região com a cidade. A primeira se conecta a nordeste ao Acesso Norte (Via Expressa Baía de Todos os Santos e BR - 324), enquanto a segunda se liga a importantes vias arteriais centrais da cidade por meio das quais se chega ao centro, à orla e demais ruas e avenidas que desembocam na Av. Paralela.
Além disso, o mercado localiza-se num ponto estratégico na participação do sistema de distribuição de alimentos na cidade de Salvador, como previsto no PDDU 2016. Não obstante, aquela é, ainda, uma região que pede por conexões que atravessam a fronteira natural da topografia intensificada pela Av. General Graça Lessa. Por ser uma região de alta densidade populacional e estar localizada no centro da península, encontra-se cercada pela cidade e suas fronteiras, que aqui se apresentam como as avenidas delimitadoras do local de trabalho: Av. General Graça Lessa, a oeste; Av. Mário Leal Ferreira, a norte, e Av. Vasco da Gama, a sul. Carece também, de espaços públicos livres.
A região é provida de transporte público e há um ponto de ônibus em frente ao mercado dentre outros nas proximidades e há também estação de metrô, estando a mais próxima há 1,6km de distância. Além desses, existem diretrizes para implementação de ciclovias em toda a região (De acordo com o PDDU 2016).
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Figura 29: Foto do Mercado do Ogunjรก visto da Av. General Graรงa Lessa Fonte: Acervo pessoal. Data: Jun/2016
Figura 30: Foto da รกrea de bares e restaurantes do Mercado do Ogunjรก Fonte: Acervo pessoal. Data: Jun/2016
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Figura 31: Mapa da regiรฃo do Mercado Ogunjรก. Fonte: Imagens Google, editada. Data: out/2016
07. PDDU
De acordo com o PDDU de 2016, essa área se localiza na Macroárea de Urbanização Consolidada, na qual aplicam-se instrumentos de política urbana como a Operação Urbana Consorciada (OUC). Dentre as diretrizes para essa macroárea, pode-se destacar para esse projeto as seguinte: •
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Valorização dos espaços urbanizados por meio de ações capazes de possibilitar a renovação urbanística e evitar a desvalorização imobiliária, a degradação física e social dos bairros comerciais e residenciais e a subutilização dos investimentos públicos e privados já realizados em habitação, infraestrutura e equipamentos urbanos; Ampliação e requalificação dos equipamentos públicos existentes, por meio de intervenções urbanísticas que promovam a sua articulação espacial aos padrões adequados de mobilidade e acessibilidade, amplificando a integração com os espaços abertos públicos;
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Requalificação dos espaços degradados, ou em processo de degradação, mediante transformações urbanísticas estruturais, de forma conciliada com a legislação ambiental e de proteção do patrimônio histórico e cultural, e por meio de projetos estruturadores, como o Centro Administrativo Municipal na Cidade Alta, com a realização de retrofit em imóveis ociosos ou subutilizados;
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Promover a reestruturação da área do entorno do Dique de Tororó e da Arena Fonte Nova, incorporando Engenho Velho de Brotas, Boa Vista de Brotas, Galés, Fazenda Garcia, Barris, Tororó, Nazaré e Saúde, fazendo uso de instrumentos da política urbana previstos nesta Lei.
08. REFERÊNCIAS APRESENTAÇÃO PROJETUAIS
Mercado de Santa Caterina Barcelona,ES / Autor: Enrinc Miralles O antigo mercado de Santa Caterina, situado no distrito de Ciutat Vella em Barcelona, passou por uma obra de intervenção, concluída em 2005 sob o projeto de Miralles. A proposta visa incorporar a complexidade do ambiente através da criação do mercado, complementado por uma zona residencial e espaços públicos que integram todas as atividades do bairro. O projeto tem como cerne o desenho da sua nova cobertura, irregular e colorida, ela é uma metáfora a um imenso mar matizado pelas cores de frutas e verduras. As estruturas de madeira, de concreto e metálica, formam o conjunto estrutural no qual as abóbadas irregulares, feitas em madeira, dão forma à cobertura e se destacam como um dos elementos mais marcantes do projeto. Essas abóbadas são sustentadas no centro por arcos metálicos que atravessam essa cobertura e vencem o vão central de 42m.
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A irregularidade e o movimento da cobertura criada por Miralles, foram observadas e estudadas para o desenvolvimento da cobertura do Mercado do Ogunjá, assim como o layout interno do Mercado de Santa Caterina, com espacialidade original e irregular, mesmo assim não prejudica o funcionamento do mercado nem a circulação de pessoas. A obra cumpre um importante papel na recuperação urbanística do bairro e transforma o mercado num ponto de referência para os moradores locais e também para os visitantes.
Figura 32: Planta baixa do mercado Santa Caterina. Fonte: (http://www.grcstudio.es/portfolio/p-l-o-t-_-06-mercatde-santa-caterina/)
Figura 33: Vista aérea do mercado Santa Caterina. Fonte: (http://barcelona-home.com/blog/santa-caterina-market/)
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Arena do Morro Natal,BR / Autor: Herzog & de Meuron Esse projeto se localizada na comunidade carente de Mãe Luiza, na capital potiguar e é destacado aqui devido a sua plasticidade atrelada à simplicidade e permeabilidade visual de seus elementos construtivos que o integram ao seu entorno. Penso que a grande qualidade dessa obra está nos seus detalhes construtivos que, muito bem solucionados, rebatem na delicadeza estrutural e da cobertura. Um gesto simples, mas fundamental para definir o volume marcado pelas duas águas da cobertura é a disposição das telhas na transversal do caimento, contrário ao habitual. Vários pequenos planos compõem o plano vertical da cobertura, gerando aberturas espaçadas regularmente, o que otimiza a ventilação cruzada. O pórtico estruturante e o molde da cobertura são repetidos seguindo todo o limite do terreno de forma irregular.
Como se fosse a peça que faltava no quebracabeça, ocupando um grande terreno vazio às margens do bairro, ele completa-o e define um novo e generoso espaço cívico visível a distância. As duas extremidades da longa cobertura de duas águas, abrem-se para o bairro, convidando as pessoas a entrarem.[...] A estrutura é simples e aberta, refletindo e respondendo aos materiais e métodos de construção locais. O ginásio é um edifício permeável, naturalmente ventilado, que transforma e traduz o impacto do seu ambiente natural e urbano num destino público e foco para atividades desportivas, culturais e de lazer. O projeto proporcionará equipamentos desportivos para estudantes e se tornará um espaço de encontro para o bairro.”
Segundo o autor do projeto “A geometria dessa estrutura é estendida ao longo de toda área construída, criando uma imensa cobertura, cuja forma é definida e limitada pelos limites do terreno. A enormidade e a uniformidade da cor branca da cobertura, ancoram e destacam o edifício dentro da colorida e irregular malha urbana da Mãe Luiza.
Figura 34: Testes com o modelo 1:1 da cobertura. Fonte: (https://arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/ herzog-meuron-arena-morro-natal)
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Figura 34: Arena do Morro - destaque para a cobertura e estrutura. Fonte: (https://arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/herzog-meuron-arena-morro-natal)
Figura 35: Mercado de Gramalote - vista da horta com mercado ao fundo. Fonte: (http://www.archdaily.com.br/br/624086/estrutura-leve-de-concreto-vence-competicao-para-a-nova-praca-domercado-de-gramalote-colombia)
Praça do Mercado de Gramalote Gramalote, CO/ Autor: Rodrigo Chain + Jheny Nieto Resultado de um concurso realizado para a cidade de Gramalote, na Colômbia, devastada por um trágico deslizamento de terra causado por fortes chuvas e uma série de terremotos de baixa intensidade, o mercado será localizado no coração de Nova Gramalote e será um nó estratégico para conectar os equipamentos propostos na reconstrução do município (esportes, escola, casa cultural e Hall), tornando-se um marco, um espaço de troca de culturas e agricultura. O programa e fluxos desse projeto foram estudados por possuir similaridades com o projeto aqui proposto. O Mercado de Gramalote inclui área para plantio, possui um caráter mercado-praça, cobertura pensada para a captação de águas pluviais e uso na irrigação do plantio.
De acordo com os arquitetos, a praça é delimitada por uma segunda estrutura, criando uma barreira permeável que permite que as atividades do mercado ocupem os generosos espaços públicos ao redor do edifício. Há entradas para o mercado em ambos os níveis superior e inferior. Na entrada mais baixa há uma grande área aberta destinada a feiras temporárias de produtos agrícolas, eventos gastronômicos e outras atividades culturais. A zona de carga e descarga e de lixo ficam uma ao lado da outra, no nível mais baixo, próxima ao estacionamento de carros e são separadas fisicamente por uma parede.
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09. O PROJETO
Diretrizes gerais As diretrizes para o projeto do Mercado do Ogunjá apresentam as indicações para o seu desenvolvimento a partir do tema que tem sido discutido nesse trabalho, assim como nas suas potencialidades e problemáticas, tudo em sintonia com as atividades de mercado, com espaço público e com a integração da população local. Assim, tais diretrizes se mostram fundamentais para a tomada de decisões e são de extrema importância para nortear os agentes públicos e privados que ali atuam.
Figura 36: Nova proposta para o Mercado do Ogunjá - vista da entrada pela Av. General Graça Lessa
Esses aspectos são garantidos a partir do momento em que o espaço público é dotado de infraestrutura que dispõe de condições de trabalho favoráveis ao comerciante com a consequente permanência e intensificação do comércio e de sua variedade de produtos, desde gêneros alimentícios a utensílios, lazer e bem-estar social. Assim, pretende-se: • •
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Proporcionar a integração do mercado com a população local; Trazer características de um mercado tradicional, como a sociabilidade e o burburinho, as funções econômicas e de abastecimento; Diálogo entre políticas da alimentação e nutrição, da saúde e das políticas urbanas e sociais na gestão do equipamento, garantindo seu caráter inclusivo; Renovação dos espaços públicos proporcionando áreas verdes e espaços comuns de qualidade para a comunidade local; Valorização do percurso do pedestre e do espaço público; Estímulo às ações ambientalmente sustentáveis: aproximar a população a hábitos de vida saudáveis, despertar um outro olhar sobre a agricultura urbana, fomentar oficinas e atividades de interação da comunidade com o espaço.
Objetivos O objetivo central do projeto é fortalecer o uso de mercado e proporcionar um espaço público de qualidade, com segurança e conforto, potencializando as suas principais características - comercial, social, e, até mesmo, turística, fazendo dele um ponto de encontro e articulação da região (Acupe e Engenho Velho de Brotas), ao oferecer um lugar aprazível que estimule a criação de novos trajetos, permanências e apropriações dos moradores, passantes e trabalhadores da área. Os objetivos específicos do projeto são: • •
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Reorganização dos fluxos e concentrações de pessoas, de carga e descarga e de lixo; Estruturação dos boxes de vendas e serviços do mercado no que diz respeito ao seu tamanho, organização e funcionamento, a fim de torná-los um espaço mais eficaz e salubre para o comerciante e o comprador; Incentivo à manutenção e instalação de comércio e serviços; Nova proposta para a espacialidade e cobertura do mercado; Transformar o espaço em um lugar articulador entre os bairros Acupe e Engenho Velho de Brotas;
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Trabalho paisagístico que contribua para o conforto ambiental e, atrelado ao mobiliário, forneça espaços acolhedores e de permanência para as pessoas; Inclusão social dos deficientes físicos através de ambientes acessíveis que lhes permitam exercitar o direito de acesso aos diferentes espaços sociais; Prover espaço adequado aos lavadores de carro, que já ocupam o espaço, com estrutura e água própria através de vagas pré-determinadas para seu uso; Prever relação da parada de ônibus existente em frente à fachada voltada para a Av. General Graça Lessa; Criar espaço para horta comunitária; Captação e aproveitamento de águas pluviais para irrigação da horta; Reduzir a produção de resíduos orgânicos no mercado através da compostagem; Incentivo à apropriação da população aos espaços do mercado e horta; Criar possibilidades de permanências do transeunte e do turista no local, favorecendo as trocas e relações; Criar um espaço de prestação de serviços, com possibilidade de funcionamento durante todo o ano, no período do dia e da noite; Oferecer segurança, prioritariamente, à circulação do pedestre, deficientes físicos e idosos.
Concepção e partido A partir do estudo de fluxos, o projeto potencializa os percursos existentes no complexo do Mercado do Ogunjá - que compreende o mercado, os edifícios da Ebal e a antiga Cesta do Povo - e propõe uma nova dinâmica através da criação de novos trajetos e fortalecimento dos já existentes, resultando em um espaço mais permeável e fluído. As diferentes possibilidades de trajetos - em decorrência da disposição dos boxes - trazem um caráter lúdico ao espaço e se articulam também com as rotas de distribuição de carga e descarga, as normas de acessibilidade e de higiene, revelando a funcionalidade do projeto do mercado. Outro ponto norteador do desenho foi o estímulo à socialização dos moradores, usuários, comerciantes e passantes. Sabe-se que o uso do mercado, por si só, fomenta a convivência e o fortalecimento das relações interpessoais, sua união ao espaço público, então, tende a aumentar estes vínculos ao favorecer os encontros, o entretenimento, as expressões artísticas, manifestações cívicas ou, simplesmente, o estar. Estas relações são as interações que geram a diversidade, fortalecem as tradições e costumes, os símbolos, preservam a história do lugar e das pessoas que ali vivem/frequentam. Assim, a proposta visa a oferecer formas de permanências (como bancos, redes, pergolados, horta, arborização, iluminação pública, jardins, parque infantil, bicicletário), que estimulem a apropriação e o estar.
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Figura 37: Mapa do entorno do Mercado do Ogunjรก e anรกlise dos fluxos que acontecem hoje nele. Fonte: Imagens Google, editada. Data: out/2016
Figura 38: Diagramas esquemáticos mostrando a concepção projetual. Fonte: acervo pessoal.
Volumetria do edifício O novo Mercado do Ogunjá se desenvolve horizontalmente em formato de ‘L’ entre o estacionamento e a praça. A volumetria tem como base os percursos já existentes e os aqui propostos, pensados a partir do estudo de fluxos. O edifício é marcado por pórticos que imprimem um ritmo que varia de acordo com a distribuição de pórticos com diferentes dimensões de vãos. Essas variações causam distintas inclinações na cobertura e cria um movimento sutil. Os pórticos foram estudados e trabalhados de forma a atingir um conjunto harmonioso entre o aspecto volumétrico disforme do edifício e a simplicidade estrutural que o marca. Com a intenção de evitar que a área do mercado permaneça continuamente coberta - o que atrapalha a iluminação e ventilação natural dos ambientes, e também tornar a área de vendas um espaço climaticamente agradável para passeio e permanência, a cobertura e estrutura são interrompidas, abrindo espaço para uma alameda de árvores de médio porte. Essa quebra na continuidade da cobertura fortalece a ideia da relação de permeabilidade entre a praça e o mercado. A praça adentra o mercado numa alameda com lojas,
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A praça adentra o mercado numa alameda com lojas, sombreamento das árvores e tráfego de pessoas: o burburinho é criado. Na área dos restaurantes o mesmo acontece, porém, ali a estrutura permanece e apenas as telhas da cobertura se ausentam, permitindo que as palmeiras dessa área transpassem a estrutura e toda essa circulação/alameda dos restaurantes seja banhada por iluminação natural e se torne um espaço livre. Os volumes são abertos nas extremidades, possibilitando a livre circulação de pessoas e integrando o ambiente de mercado à praça. Essas aberturas podem ser fechadas quando o mercado não estiver em horário de funcionamento, por meio de portões.
Zoneamento Primeiramente, o zoneamento considerou os pontos de carga e descarga em relação aos produtos que são mais perecíveis e/ou possuem elevada frequência de abastecimento. É por isso que boxes de carnes e vísceras, aves e peixes, são propostos no ponto mais próximo à saída das docas do mercado. Para a área de pedras e os restaurantes, um pequeno ponto de carga e descarga dá apoio e se localiza junto aos mesmos. Já as vendas de hortifruti são propostas nos boxes que seguem imediatamente após os de carnes pois estes também possuem alta frequência de abastecimento. Os demais boxes de lojas, cerais e serviços ficam mais afastados da área de docas por não necessitarem de abastecimento diário e terem majoritariamente produtos de baixa perecibilidade e/ou não perecíveis.
Figura 39 e 40: Gráfico de usos propostos para o mercado. O primeiro mostra a área, em m2, ocupada por cada uso e o segundo o número de boxes. Fonte: Acervo pessoal. Data: out/2016
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Figura 41: Zoneamento sugerida para o mercado. Fonte: acervo pessoal.
Figura 42: Vista aĂŠrea da nova proposta do mercado. Fonte: acervo pessoal.
O mercado
“Área de pedras”
O projeto propõe áreas abertas, com circulações confortáveis, pé direito alto e elementos de fachada vazados que permitem a permeabilidade visual do espaço, bem como a captação de iluminação e ventilação natural.
Chama-se de área de pedras um espaço aberto da feira ou mercado, destinado ao pequeno produtor, aquele que vende todos os seus produtos num mesmo dia. Geralmente ela fica em galpões e não dispõe de apoio para as mercadorias, em muitos casos os produtos são expostos no piso e em outros em uma pequena base de concreto.
Os boxes do mercado, dispostos de maneira “labiríntica”, aguçam os sentidos e as experiências espontâneas dos usuários. Dessa forma, o espaço convida a se perder em meio às sensações provocadas pelo caminhar e estimula um outro ritmo, que se contrapõe à rapidez hostil das prateleiras de supermercado. Em relação aos percursos, ressalta-se a relevância dos “eixos de distribuição” circulações centrais que se comunicam com os boxes e facilitam a logística dos processos de carga e descarga. Além destes eixos, a alameda tem o intuito de quebrar o bloco da volumetria e conectar o mercado à praça, através de um espaço contínuo. Ainda sobre os percursos, o projeto prevê variadas entradas e saídas, expondo as variadas possibilidades de caminhos e a facilidade de evacuação em casos de incêndio e pânico. A fachada frontal, voltada para a Av. General Graça Lessa, é a fachada poente. Sendo assim foi feito tratamento com árvores em toda sua frente para filtrar o calor e intensidade do sol, junto a isso, o sistema de fachada também auxilia nesse filtro.
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Com base nas pesquisas realizadas em campo, notei a potência em dinamizar ainda mais o uso de mercado através dessa área. Observa-se que o comerciante desse espaço não necessita de muita estrutura para sua comercialização, o que barateia o valor do seu aluguel. Aqui são propostas bases de concreto para os produtos serem expostos, de 50cm de altura, o que facilita para os vendedores o levantamento dos pesados sacos/caixotes de produtos a serem comercializados. As vagas para pequenos caminhões estão localizadas exatamente em frente a essa área, justamente para otimizar o abastecimento desses comerciantes. Conta ainda, com um tipo de tanque para lavagem dos alimentos que fica embutido no piso para que não seja necessário levantar todos os produtos para um tanque de altura convencional, facilitando a lavagem em grande quantidade de produtos.
Boxes Os boxes seguem as normas previstas pela Vigilância Sanitária, são equipados com ponto de água e energia elétrica e possuem estrutura metálica para apoio dos fechamentos, letreiros e cobertura, independente da estrutura de cobertura do mercado. Normalmente, o horário de funcionamento dos boxes é de acordo com o horário de funcionamento estipulado pela gestão do equipamento. Entretanto, recomenda-se que os boxes exerçam suas atividades todos os dias da semana em horário que vá um pouco além do horário comercial. A intenção é de que as pessoas que trabalham durante o horário comercial estipulado (geralmente das 9h00 às 18h00), tenham a possibilidade de fazer compras após seu expediente.
BOXES DE CARNES, AVES E PESCADOS De acordo com o Regulamento Técnico sobre as condições higiênico-sanitárias da ANVISA, os pontos de comércio de carnes, aves e peixes foram projetados com cobertura em laje de concreto armado e são equipados com expositor refrigerado, refrigerador individual, pia, bancadas de corte em inox para manuseio dos alimentos, piso e revestimento de parede laváveis e fechamento com porta de rolo manual. É possível observar, no zoneamento do mercado, que estes boxes se localizam próximo à área de docas e frigorífico para facilitar o seu abastecimento. RESTAURANTES Os boxes destinados aos restaurantes são equipados com ponto de gás, água, energia elétrica, exaustão mecânica, piso e revestimento de parede laváveis e fechamento com porta de rolo. Os restaurantes possuem horário de funcionamento independente ao horário do mercado e por isso estão situados numa posição que, além de facilitar seus horários de funcionamento independente, também está numa situação privilegiada em relação à praça, garantindo aos usuários um visual e área agradáveis.
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Figura 43: Vista da praรงa em frente a escola olhando para a รกrea de pedras e restaurantes, mais ao fundo. Fonte: acervo pessoal.
Área administrativa e área técnica A carga e descarga está posicionada numa área destinada a automóveis, em frente ao posto de gasolina e ponto de táxi. Tem acesso através da mesma via de acesso ao estacionamento. O acesso ao estacionamento foi feito seguindo as exigências da LOUOS (Lei de Ordenamento e Uso do Solo), considerando que esse acesso não poderia ser feito pela Av. General Graça Lessa por ser uma via do tipo Arterial, o acesso foi criado na via local existente no atual Mercado do Ogunjá, que tem ligação com a Av. General Graça Lessa. Implantação da Central de GLP, foi feita o mais próximo possível à área de restaurantes atendendo às normas da GLP. Frigorífico localiza-se próximo à área de docas do mercado, facilitando o fluxo do alimento. Uma sala de controle foi colocada para monitoramento dos acessos e a área de desossa foi, estrategicamente, posicionada com acesso logo ao lado. As instalações elétricas foram implantadas de forma a ter acesso mesmo quando o mercado estiver fechado, pensando em algumas situações em que a COELBA
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(Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia), precise ter acesso fácil e imediato às instalações. Os quadros medidores dos boxes ficam posicionados na parede externa dos boxes voltados para o estacionamento, de forma que todos os quadros dos boxes daquele galpão fiquem posicionados ali a fim de conseguir eficiência na distribuição da eletricidade e facilidade de visitas técnicas. Esses quadros ficam protegidos pela pele da fachada que está afastada 1m das paredes da edificação, permitindo a circulação entre a fachada e a parede dos boxes com os medidores. Os reservatórios de água do mercado ficam situados na parte de trás do terreno, próximo do acesso ao Colégio Nossa Senhora da Conceição. É do tipo torre, por ser uma opção de alta capacidade de retenção de água, sua forma segue todo o desenho de projeto e marca a área do mercado, se destacando como único elemento vertical do projeto. A torre é formada por um reservatório elevado de água potável e a casa de bombas no nível térreo. Sanitários e vestiários: as paredes dos sanitários, depósitos de lixo e área de higienização, onde serão feitas as seleções e evisceração de produtos recebidos, terão revestimento cerâmico. É proposto um vestiário para os funcionários do mercado e um para os comerciantes e funcionários dos boxes. Um sanitário fica destinado aos restaurantes para uso destes no momento em que o mercado não esteja funcionando.
Revestimentos e vedações O sistema de vedações escolhido foi o Flexbrick ©, devido às numerosas possibilidades de design, podendo ser personalizado para atender às demandas desse projeto. Esse sistema se configura como um tecido cerâmico formado por uma malha de aço flexível onde estão inseridas as peças cerâmicas. O tecido é fixado na estrutura da edificação por um sistema de âncoras de peso e travado verticalmente por perfis metálicos, num sistema de âncora para ventos. Esse sistema permite customizar a densidade de peças, o padrão geométrico, formatos e acabamentos, ideais para solucionar as fachadas do mercado. O material cerâmico proporciona sensação térmica agradável, já que o arranjo das peças deixando espaços vazados permite a circulação da ventilação, barra parte do insolejamento e trás permeabilidade visual para o edifício.
O piso do mercado será do tipo industrial, de alta resistência, lavável em concreto polido com juntas de dilatação a cada 2m. Nos horários de não funcionamento, portões em chapa de aço perfurada galvanizada impedem o acesso das pessoas ao mercado. Tais esquadrias possuem sistema automático, facilitando o manuseio dos mesmos, que possuem grandes dimensões. Fechamento do mercado em horários de não funcionamento é feito a partir de portões de chapa de aço perfurada galvanizada automáticos, para facilitar o manuseio deles devido suas grandes dimensões. Em alguns pontos do projeto o portão de acesso ao mercado abre para cima, em outros, corre para o lado e ainda, na fachada frontal, é pivotante em seu eixo central. A escolha do tipo de abertura do portão foi feita de acordo com cada caso, para que cada situação tivesse a forma mais adequada de abertura.
Todas as paredes serão executadas em bloco de concreto, de acordo com as espessuras indicadas em projeto e, para o fechamento superior dos boxes, teremos elementos planos em tela metálica galvanizada, malha de 2,5cm, estruturada por perfis metálicos e fechamento em portas de enrolar, em aço galvanizado, vazadas.
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Figura 44: Detalhe do sistema escolhido para tratamento das fachadas. Fonte: (http://www.flexbrick.net/en/ rethink/#facades_op)
Fachadas As fachadas voltadas para a Av. Vale do Ogunjá, foi dada cor. Cores que derivam das pimentas - condimento clássico da culinária baiana, e quando vistas de longe, no alto do bairro Engenho Velho de Brotas, por exemplo, pode-se notar a imagem de várias pimentas na fachada. Cores quentes como laranja, vermelho e amarelo são vibrantes e estimulantes, podendo provocar estímulos no apetite e propensão para diálogos além de serem cores relacionadas a avisos, o que ajuda a atrair a atenção de quem passa rápido em automóvel. Enquanto a fachada da entrada principal do mercado recebe o tratamento de cores a partir da pixelização de uma imagem de pimentas aplicada aos elementos cerâmicos do sistema Flexbrick ©, a parede ao fundo do estacionamento, que o separa da área de docas do mercado, fica voltada para a mesma avenida e recebe pintura texturizada com listras de uma mesma paleta de cores que a utilizada na fachada principal com a imagem das pimentas. O restante do edifício se mantém em tons neutros e claros, trazendo equilíbrio para o conjunto e permitindo que a feira por si só, traga mais cor e vida a esse espaço.
Figura 45: Cores e imagens utilizadas na fachada
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Estrutura e cobertura
Relação com o entorno
A estrutura metálica garante leveza e possibilita vencer grandes vãos. Os pórticos estão espaçados a 6m um do outro e seus vãos variam, chegando a até 19m. Sendo assim, não se fez necessário o uso de treliças, e se estima que todos os pórticos tenham vigas de 95cm com perfil soldado tipo I.
A proposta tem como intuito conectar os equipamentos relativos à mobilidade urbana (bicicletário, pontos de ônibus e a passarela que se articula com o Eng. Velho de Brotas) aos principais eixos viários da localidade (Vila do Ogunjá e Rua Doutor Alberto Lima Braga). Além disso, foram identificados alguns equipamentos estruturantes da localidade: Solar Boa Vista, Dique do Tororó, Estação de Metrô da Bonocô.
A viga de travamento desses pórticos, também de perfil I, fica apoiada nos pilares dos pórticos com seu topo alinhado ao fundo da viga metálica do pórtico. Dessa forma, é criado um espaço para a calha, fixada e alinhada a estas vigas, que se disfarça como um elemento estrutural. As calhas direcionam as águas da chuva para um reservatório (reaproveitamento da água da chuva). As telhas termoisolantes ficam posicionadas 20cm acima do fundo da viga do pórtico, para acomodar as terças metálicas de 20x10cm, acompanhando a mesma inclinação do pórtico, e expondo/marcando/evidenciando toda a estrutura de pórticos.
A intenção é de articular estas localidades, potencializando a perspectiva do pedestre, propondo novas apropriações de trajetos e, consequentemente, dinamizando a vida urbana nesta região através de uma rede de espaços públicos livres. Tal interligação facilita o deslocamento dos pedestres e dos modais simples na área, além de estreitar a relação do pedestre com esta parte da cidade.
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Figura 46: Estrutura do edifĂcio com destaque para o maior e menor vĂŁo.
MAIOR VÃO = 19,00 m
MENOR VÃO = 4,00 m
Figura 47: Fachada frontal
Figura 48: Fachada norte
Praça
A praça localiza-se no espaço onde, hoje, há uma rua, de caráter local, que é utilizada como via de circulação de pessoas e carros do complexo do Ogunjá. A intenção foi manter esse eixo de fluxos e fortalecê-lo. Esta área é fundamental na articulação do local, pois conecta as Ruas Vila do Ogunjá e a Urbino de Aguiar (que desemboca na D. João VI) ao ponto de ônibus, situado na Av. General Graça Lessa. Potencializando esta conexão, é proposta uma passarela facilitando a ligação ao Engenho Velho de Brotas. O desenho da praça se integra com o mercado de forma fluida e se adapta à topografia do terreno, vencendo, do ponto mais baixo ao mais alto, uma altura de 5m. Caminhos se mesclam com espaços de convivência, jardins e hortas em diferentes níveis, sendo acessados por rampas e escadas. A grande área da praça proporciona espaço para feiras e eventos.
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Além dos redários e bancos - que, aliados às zonas arborizadas proporcionam um microclima agradável e, consequentemente, permanência dos usuários, há também três parques infantis com mobiliários lúdicos. Os parques foram instalados em pontos relevantes como o centro da praça, a área próxima à escola e a área próxima as ruas residenciais Vila do Ogunjá e Rua Dr. Alberto Lima Braga. Todos possuem mobiliários próximos com o intuito de possibilitar o estar dos responsáveis pelas crianças. O piso utilizado é intertravado (aplicado também à alameda e estacionamento), assentado em areia para permitir permeabilidade.
Figura 49: Parque infantil lúdico. Fonte: Erê Lab (http://www.erelab.com.br/produtos/ilha.html)
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Horta A horta é formada por 26 canteiros de cultivo com tamanhos variados, somando um total de 3.185,74 m2. Os menores canteiros possuem área entre 8,39 a 134,08 m2 e os maiores entre 134,08 a 401,42 m2. O mix de plantação nessa área, como indicado no projeto, é proposto a fim de trazer maior diversidade e melhor aproveitamento do espaço. Os canteiros maiores podem acomodar culturas de médio porte a exemplo de aipim, milho, etc, enquanto os menores recebem cultivos de pequeno porte como hortaliças, temperos e ervas medicinais. Além disso, árvores de médio a grande porte devem estar espalhadas por toda a área de cultivo para filtrar a insolação, manter parte da umidade e melhorar o microclima. É proposto também que se interponha pomares na área de horta, com a intenção de trazer sombreamento e causar um efeito visual interessante a partir desse jogo entre “cheios e vazios”. Nos espaços de convivência foi dada prioridade à plantação de chás e ervas pois além de terem canteiros pequenos e distribuídos pelo espaço, traz algumas características para o ambiente inspirado nos jardins sensoriais4, enquanto que nas áreas de pergolado é incentivado o uso de trepadeiras de plantas comestíveis, como o chuchu, maracujá e outras.
Em um dos maiores canteiros de cultivo, está delimitada uma área como sugestão de área experimental de compostagem, afastado das áreas de convivência já que essa não é uma área onde não é desejável o acesso frequente de pessoas. O compostando pode ser montado no solo, em camadas e ficar coberto por uma lona. No processo de compostagem também é produzido um líquido escuro (chorume), um excelente biofertilizante. A vantagem desse compostando ser montado no solo é que o chorume já se infiltra na terra. A irrigação será feita utilizando o sistema de gotejamento com água captada da cobertura do mercado. Já a iluminação, acontece através de postes com até 2m de altura, de modo que as copas das árvores não atrapalhem enquanto os canteiros maiores possuem pontos de iluminação distribuídos neles, pontos de piso, luminárias baixas de 1m - para iluminar essas grandes áreas e evitar a criação de espaços perigosos. Para iluminação geral da praça são previstos postes de 7m com luz forte e abrangente. Nas áreas de convivência - como aquelas com bancos e árvores, redários e parque infantil, serão colocados postes de 2m com luz amarela para maior conforto e aconchego. A horta possui traçado e relevo artificial/ aterro para que seja possível conectar este espaço à Rua Urbino de Aguiar, tornando esse acesso possível para o pedestre - visto que, hoje, existe um grande desnível (quase uma encosta) feito para implantação do edifício da Ebal, que está perdendo sua função, já que essa empresa foi fechada e as pessoas já estão desocupando esse prédio, portanto, ficará em desuso. O desenho da praça e da horta se mesclam, para que os espaços se integrem e que a horta, assim como a praça, tenham espaços de permanência.
4 - O jardim sensorial possui grande influência oriental, manifestando-se através de quatro sentidos do corpo humano: • O tato, através das texturas das plantas, • A audição, com os repuxos d’água, • A visão, através das cores exuberantes e, finalmente • O olfato com os aromas das espécies.
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Propõe-se, para o funcionamento efetivo das hortas, que a gestão do mercado tenha uma equipe social que estimule a apropriação das hortas, por meio de iniciativas educativas que envolvam a participação das comunidades locais no processo - associação de moradores, escolas e creches locais, de modo que as decisões aconteçam de forma justa e democrática e que assim, estimule a apropriação / pertencimento / identificação das pessoas para como o espaço. Uma possibilidade de sensibilização e mobilização das comunidades do entorno seria através de oficinas que envolvam o lúdico, mas também estimule a mão na massa (mão na terra). Parcerias com coletivos e ONGs que já atuam no espaço urbano da cidade de Salvador e possuem expertise em relação aos temas do plantio e agricultura urbana podem ser firmadas com intuito de articular a comunidade ao novo mercado.
Estacionamento • • •
A distribuição das vagas acompanha o desenho do projeto e estética adotada. O estacionamento possui piso intertravado que permite a permeabilidade. Algumas vagas do estacionamento serão disponibilizadas aos lavadores de carro que já ocupam a área de maneira informal. Entretanto, nada impedirá que mais vagas sejam utilizadas por esses trabalhadores. Propõe-se uma melhoria na estrutura com ponto de luz, água e guarda-volumes para abrigar equipamentos e pertences desses prestadores de serviços.
Gestão de resíduos sólidos Dada a grande dimensão do mercado e a distância entre os boxes e a área de depósito de lixo (local onde os caminhões estacionam para recolher o lixo), foram colocados pontos de coleta secundários, espalhados, estrategicamente, pelo mercado, de forma a atender a todos os comerciantes e não atrapalhar a circulação. Assim, a logística da coleta de lixo fica otimizada e garante as condições higiênico-sanitárias exigidas pela ANVISA. Em um equipamento do porte de um mercado, a geração de lixo é muito grande, tanto orgânico quanto recicláveis. Levando isso em consideração e, a fim de reduzir a quantidade de resíduo destinado aos aterros sanitários ou lixões, o projeto prevê a separação do lixo com aproveitamento dos resíduos orgânicos para a produção de adubo através de processo de compostagem, a ser aproveitado nas hortas e jardins do mercado. Com base no cálculo para o dimensionamento do reservatório de água pluvial, feito através do método prático inglês, presente na NBR 10844 que diz respeito às instalações prediais de águas pluviais, estimou-se a necessidade de um reservatório com capacidade para 737,1 m3 considerando 1904,9mm de precipitação anual (média nos últimos 20 anos). Entretanto, por se tratar de uma capacidade elevada e por não necessitar desta quantidade no projeto, decidiu-se adotar um reservatório menor, com 168m3 (com um “ladrão” para água excedente a esse volume). O reservatório está situado no subsolo abaixo do galpão da horta, e o acesso se dá através da casa de bombas, onde será instalado um sistema de filtros e de pressurização que distribuirá a água por torneiras posicionadas na horta, possibilitando a irrigação.
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Figura 50: Vista da alemeda central do mercado
Figura 51: Vista da horta em direção à praça e ao mercado.
Figura 52: Vista da praça olhando em direção à horta.
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