cultura do N 0 25 – julho 2021 – R$ 10,00
automóvel
automóveis e motocicletas
www. marazzi.com.br
lançamentos - impressões - história
Carros de brinquedo: sonho de crianças, realização de adultos
O Gurgel Junior II e, embaixo, as réplicas em escala do Bugatti Type 35 de 1926
mini carros
autorama
matchbox
pedal car
E DI TOR I
AL
Dizem que é o preço de seus brinquedos que separa os adultos das crianças. Nem sempre.
E
odo mundo tem histórias para contar. E cá estou eu, mais uma vez, contando as minhas. Se o assunto é brinquedos, as histórias voltam lá atrás, no tempo, porque acho que essas histórias marcam muito mais forte nas crianças. E se os brinquedos são automóveis, não importa o tamanho, todos nós, independen-
temente da idade, sempre seremos crianças. Aproveito para convidar você, leitor da revista Cultura do Automóvel, a contar a sua história. Se ela for boa mesmo, daquelas que fazem reunir todos os amigos à sua volta, publicaremos aqui (com fotos, é claro). Envie para mim, e-mail gabriel@culturadoautomovel.com.br.
25 NESTA EDIÇÃO
sumário
No 25 - Julho 2021
04 Pelo Mundo
O que acontece no mundo das miniaturas
08 Pedal Car
Antes de acelerar, o homem deve aprender a pedalar, desde criança
12 Autorama
Brinquedo de criança, mas dominado pelos adultos
16 Mini Carros
Depois de pedalar, as crianças aprendem a acelerar seus carrinhos
20 Modelos em meia escala
De longe, parecem os de verdade. Mas têm metade do tamanho deles
22 Miniaturas
Uma boa coleção pode começar na infância, mas vai longe...
26 Lego
Esse incrível brinquedo é ainda mais incrível se virar um automóvel
30 Modelos
Miniaturas que revivem a grande história do automobilismo brasileiro
pelo mundo
miniatura
de papel
Com folhas de papel e um desenho, é possível criar uma miniatura exclusiva Um carrinho de papel pode não ter os detalhes de uma miniatura, mas é fácil de fazer e torna-se um exemplar exclusivo
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Julho 2021 Cultura do Automóvel
pelo mundo
lego speed champions Dodge e LEGO lançam kit Speed Champions com dragster Mopar Dodge SRT e Dodge Challenger 1970
A Dodge e o Grupo Lego anunciaram uma segunda colaboração unindo as duas marcas. O novo kit de montagem da Mopar Dodge SRT Top Fuel Dragster e Dodge Challenger T/A 1970 tem o primeiro veículo roxo e o primeiro dragster Top Fuel da série Speed Champions e terá as vendas abertas a partir de junho de 2021, no site norte-americano da Lego. “Ter, ou sonhar em ter, um muscle car da Dodge tem tanto a ver com o estilo de vida de ingressar na Irmandade dos Músculos quanto com a compra do veículo”, disse Tim Kuniskis, CEO da Dodge. “Como resultado, os entusiastas da nossa marca são apaixonados por tudo da Dodge, incluindo itens colecionáveis. Assim, após o sucesso do kit Lego Speed Champion da Dodge, os fãs
poderão montar e exibir o primeiro Dodge Challenger T/A 1970 na cor Plum Crazy junto com um dragster Top Fuel de 35 cm de comprimento incrivelmente detalhado.” Com 627 peças, o conjunto Dodge apresentando o 1970 Dodge Challenger T/A e o dragster Top Fuel Mopar Dodge SRT inclui, na arte da caixa, imagens dos carros na vida real para comparar com as criações da Lego. Repleto de detalhes realistas, os modelos de réplica oferecem uma experiência de montagem gratificante para fãs de todas as idades, excelente para exibição e incrível para competir. Os veículos são de chassi largo, que permite mais detalhes com adesivos decorativos, incluindo os dois bonequinhos com roupas da Dodge e capacetes de corrida.
destaques •Uma piloto feminina do dragster Top Fuel com macacão de competição da Dodge •Um motorista do Challenger com roupas casuais da Dodge •O Mopar Dodge//SRT mede 10 cm de altura, 35 cm de comprimento e 7 cm de largura •O Dodge Challenger T/A mede 5 cm de altura, 16 cm de comprimento e 7 cm de largura Cultura do Automóvel Julho 2021
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pelo mundo
em um mundo menor Há quem se empenhe em recriar a vida em menor escala. Veículos e tudo que os rodeiam podem até parecer reais, dependendo do ponto de vista
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pelo mundo
Esta página é uma homenagem a todos os artistas que criam os modelos mais surpreendentes que podemos ver, sejam eles perfeitos como os reais, realistas como os abandonados no tempo ou apenas feitos com latas de cerveja Cultura do Automóvel Julho 2021
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pedal car
força nessas pernas!
Os carrinhos de pedal já foram muito importantes em nossa infância, mas tínhamos que ser bem pequenos, para cabermos nos minúsculos cockpits
Um desses garotos é um super piloto, e o da esquerda é o Ayrton Senna. Brincadeiras à parte, fiquei muito orgulhoso ao saber que nosso maior campeão também pedalou um Sport-Kart da Estrela, igual ao meu. E na mesma época, comecinho dos anos 60 8
Julho 2021 Cultura do Automóvel
V
pedal car
amos brincar de carrinho? Quantas vezes não falamos – ou ouvimos – essa frase, geralmente para – ou de – aquele amiguinho que morava na mesma rua? Brincar de carrinho era coisa de meninos, assim como brincar de boneca era com as meninas. Existia, no entanto, muitas formas de brincar de carrinho, podia ser empurrando no chão, sempre rasgando as calças na região dos joelhos, jogando do alto do despenhadeiro, para ver se o “motorista” sobrevivia, ou então, pedalando por aí. Os carrinhos de pedal, hoje chamados internacionalmente de “pedal car”, já foram parte importante da nossa infância, especialmente quando ainda éramos muito pequenos, pois precisávamos “caber” nos minúsculos habitáculos que esses brinquedos tinham. Às vezes passávamos horas pedalando, sonhando um dia poder simplesmente “acelerar” para o carrinho se mover, assim como faziam nossos pais. É claro que eu também já pilotei um jipinho. Para crianças muito pequenas, era esse o mais bacana dos carrinhos a pedal, porque geralmente tinha buzina e faróis, que funcionavam a pilha. Já mais crescido, lembro que esses jipinhos se transformaram em cadeiras de barbeiro, para poder convencer os pirralhos a sentar nele e sair de lá sem suas madeixas. Eu não peguei essa fase, mas cortava o cabelo sentado em uma tábua apoiada nos braços das cadeiras Ferrante, ouvindo o carrasco, digo, o barbeiro, amolar sua navalha ali ao lado, antes da sua “execução”. Cultura do Automóvel Julho 2021
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pedal car Pouco me lembro do meu jipinho. Só sei que ele foi abandonado depois que eu ganhei um novo carrinho de pedal, dessa vez a sensação de todos os moleques dessa idade: o Sport-Kart da Estrela. Dá pra vê-lo jogado em cima do tanque na foto ao lado, onde eu pedalo (leia-se “acelero”) meu novo veículo no quintal de casa, apostando corrida com as minhas irmãs. Esse Sport-Kart era o máximo. Tinha o motor pintado na parte traseira e freio de mão, que nada mais era que uma alavanca pressionando uma das rodas. É claro que, em pouco tempo, o respectivo pneu de borracha maciça estava completamente avariado e eu rodava pela calçada aos trancos. Há pouco tempo descobri uma fotografia do nosso campeão Ayrton Senna posando em um Sport-Kart idêntico ao meu. Como teríamos praticamente a mesma idade, concluo que nós pedalávamos nossos bólidos na mesma época, porém em bairros diferentes da capital paulista. Mas eu acabaria cruzando com ele no kartódromo de Interlagos, já que por um curto período eu pilotei karts de verdade lá, quando ele estava começando a sua carreira. Ainda tenho um Sport-Kart no meu acervo. Mas não é o mesmo. Achei o atual, sem restauro, em uma venda de garagem e comprei, para repor aquele cujo fim não tive notícia. O Sport-Kart da Estrela era vendido no Mappin por 49.900 dinheiros.
O atual Sport-Kart de Estrela (o outro) 10
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O velho jipinho ficou abandonado em cima do tanque
Vendido no Mappin, tinha Sport-Kart também a corrente
pedal car pedal car retrô Os carrinhos de pedal remontam de muito tempo, desde que os primeiros automóveis de verdade surgiram. Nos Estados Unidos, o mercado de pedal cars antigos é fortíssimo, com exemplares que chegam a ser vendidos em leilões por dezenas de milhares de dólares. O pedal car mais famoso é o Austin A40, mas muitas outras marcas criaram as suas próprias réplicas movidas a pedal. O ator e jornalista paulista Rogério Ferraresi é um dos criadores de pedal cars, fazendo réplicas em escala reduzida dos modelos brasileiros mais desejados entre os antigos, como Puma, Opala, e Maverick.
Rogério Ferraresi e as suas criações: Opala, Maverick e Puma
o mais famoso dos pedal cars
Austin Jr., a pedal, na coleção Og Pozzoli
Crianças pedalando o Austin Jr.
Os modelos de pedal car disponíveis no exterior, em especial na Inglaterra e nos Estados Unidos, eram muitos. E ainda são, uma vez que essa prática de fazer miniaturas para crianças parecidas com o carro dos pais ainda existe. Os construtores privados, no entanto, fazem carrinhos de pedal inspirados em qualquer automóvel existente. O pedal car mais famoso é o Austin Jr. réplica a pedal do inglês Austin A40, modelo bem popular nos anos 50. Um carrinho desses custa, em média, três mil dólares. O da foto eu fotografei na coleção do saudoso Og Pozzoli. Antes disso, em 1924, André Citroën criou uma réplica a pedal do seu Citroën 5HP, o Citroënette.
Austin Jr. restaurado
O Citroënette de André Citroën, em 1924 Cultura do Automóvel Julho 2021
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modelismo
autorama:
o brinquedo dos pais
O presente, com segundas intenções, era o preferido dos adultos
O
que de mais bacana um garoto de quatro anos de idade poderia lembrar por décadas? Natal, é claro! Aqueles natais do início dos anos 60 pareciam diferentes do que são hoje, mas eram mesmo. Éramos crianças! Melhor, até, do que brincar com os brinquedos que ganhávamos na noite de 24 de dezembro, era esperar por eles. E realmente não sabíamos o que iríamos ganhar, era sempre uma incógnita. Nos fazia sonhar. Foi, então, naquele Natal de 1963, que tive a maior surpresa. Uma grande caixa, pesada, nem dei conta de abrir sozinho. Autorama! O que é isso? Tem a ver com carros, pois eles estão pintados na tampa da caixa, enormes. É, esse era um daqueles brinquedos que as crianças ganham, mas quem brinca é o pai. Naquela noite mesmo eu estava acelerando um dos quatro carrinhos que vieram naquela caixa, em uma pista montada peça a peça. Claro, foi um adulto que montou, e sempre tinha muitos deles nas noites de Natal. Era o primeiro Autorama que a Estrela, então a maior fabricante de brinquedos do Brasil, havia lançado. Em uma pista eletrificada, na qual os carrinhos faziam contato e eram movimentados por pequenos motores elétricos, era possível, então, brincar e fazer corridas. 12
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modelismo
O velho Auto-Rama de 1963 foi montado só para fazer esta foto
Mas eu não preciso explicar como funciona um autorama, pois minha geração cresceu acompanhando o automobilismo e suas respectivas versões em miniatura, que também seguia o que de melhor havia na vida real. Naquele anos de 1963, o carro da vez era o Chevrolet Corvette, por isso o meu autorama veio com quatro deles. E quatro aceleradores, também, bem mais “reais” do que os que viriam depois, pois imitavam o pedal do acelerador dos automóveis. Tinha até velocímetro. A constatação de que um autorama era o brinquedo dos pais aconteceu quando o meu e mais dois, amigos seus, juntaram os três autoramas que combinaram dar para seus filhos no mesmo Natal e montaram uma imensa pista no porão de casa. Para mim aquilo foi ótimo, porque passei um bom tempo fugido para lá depois das aulas, para acelerar os carrinhos. O tempo passou e a novidade esfriou. O autorama voltou para a caixa e ficou lá até hoje, quando resolvi montá-lo apenas para fotos. Mas passei por uma segunda fase de autorama, no início dos anos 70, participando de um campeonato nacional, criado pela Estrela e com a participação direta do campeão Emerson Fittipaldi. Eu corria com um Brabham BT42, que era um dos carrinhos oficiais da marca de brinquedos, e havia também o Lotus 72D e o Tyrrel. Depois vieram McLaren, Ferrari e Copersucar. Várias versões de Autorama – que antes se grafava “Auto-Rama” – foram lançadas, sempre acompanhando o que de melhor acontecia no automobilismo mundial. Muitas crianças brincaram com esses carrinhos, que são internacionalmente chamados de slot-cars, mas são os adultos que até hoje dominam esse tipo de diversão. Cultura do Automóvel Julho 2021
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modelismo Para um aficionado por autorama, a quantidade de produtos existentes relativos a esse brinquedo é imensa. Atendo-se apenas aos produtos da Estrela, é possível montar uma linha do tempo considerável, com uma história bem recheada de correspondências reais. Depois do Corvette, vieram os Ferrari 156 de 1964, e o Jaguar, do mesmo ano. Em 1965, foi a vez do Willys Interlagos e do início da série circuitos, com os conjuntos Gávea, Indianápolis (que tinha um Fórmula-Vê impresso na caixa) e Monza. A série Fittipaldi, que veio em seguida, introduziu o Fórmula 1 da era moderna e o Campeonato Nacional. Os adeptos do autorama atualmente, em sua maioria, são adultos bem sucedidos que investem uma considerável quantia nesse hobby. Geralmente frequentam uma pista profissional e sempre levam consigo uma mala de carrinhos, peças e ferramentas de impressionar. Parecem chefes de equipe de verdade, sendo que também são os pilotos. É o caso do Julio Cezar, que, além de trabalhar na organização de corridas de carros de verdade, compete com carrinhos preparados por ele mesmo. Sua mala tem praticamente tudo o que uma equipe precisaria em uma corrida, em escala. Um dos componentes mais impressionantes do hobby atual é o acelerador, cheio de recursos como controle de frenagem e da forma como a potência é transferida para o motor.
Os Corvette e o Auto-Rama de quatro pistas de 1963, ainda na caixa
Em 1964 foram lançados os Auto-Rama com Ferrari 156 e Jaguar
Vários modelos vinham com o Auto-Rama, inclusive o Interlagos
Já na era moderna, os Copersucar Fittipaldi prateado e amarelo
Julio Cezar e sua mala repleta de carrinhos, ferramentas e peças
Os aceleradores cheios de recursos 14
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Há um tipo de motor para cada tipo de corrida de autorama
modelismo
Esta é a “mala-equipe” do Wilson
Os pilotos, devidamente equipados, se preparam para a largada
Muita tentação na lojinha da pista
Uma etapa do Campeonato Nacional Estrela, no início dos anos 70
A pista foi montada no Parque do Ibirapuera, em São Paulo
Wilson, que também trabalha com frota de automóveis, é outro adepto do modelismo de fenda. Uma vez por semana ele encontra seus amigos de hobby e participa de uma corrida em uma pista profissional. Da mesma forma que Julio, ele leva seu equipamento para preparar o carrinho para as corridas. Nessas pistas quase não se vê crianças, e são os marmanjos que brincam, montando carrinhos e campeonatos. Mas é mesmo difícil não se apaixonar pelo hobby, que, inclusive, pode vir a ser bem oneroso. Só a lojinha de peças já é uma grande tentação, até mesmo para quem só está lá para conhecer. Desde aquele Natal de 1963, então, assim como no automobilismo real, muita tecnologia foi incorporada ao autorama. Só que com a diferença de que uma equipe completa cabe em uma mala e a tecnologia cabe na palma da mão. l Cultura do Automóvel Julho 2021
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mini carros
Mini Carros O sonho das crianças dos anos 60
Um garoto de sorte ganhou este Gurgel Junior II na tampinha do refrigerante Cerejinha
N
a conversa dos garotos dos anos 60, entre assuntos corriqueiros como álbuns de figurinhas ou futebol de botão, um deles era sempre polêmico e com grandes possibilidades de discussões acaloradas: o carro do pai. Adultos dessa geração devem lembrar da primeira pergunta, de um moleque 16
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para outro, logo ao se conhecerem: “que carro tem pai tem?” Na impossibilidade de um garoto de dez anos de idade poder ter – ou pelo menos escolher – o carro que mais gostasse, entre aqueles que via nas ruas ou nas páginas das revistas, era no carro que seu pai dirigia que estavam todos os desejos dos peque-
nos. No mínimo, era a velocidade máxima desse veículo, que podia ser um pacato sedã ou um apimentado esportivo, o parâmetro mais importante em uma conversa sobre automóveis. Mas havia um desejo maior, comum a todos, que poderia transferir o objeto das conversas para algo mais pessoal: um mini carro.
mini carros
Gurgel Junior II e o Gurgel Junior
Gurgel Junior no Salão do Automóvel
Expedito e o Gurgel Jr. II na pista da fábrica
Comigo não foi diferente. Passava minhas férias em cima de uma bicicleta, empinando pipa ou montando modelos em escala, mas queria mesmo um mini carro. Nas vizinhanças da casa da minha avó, onde havia um enorme terreno e uma pistinha própria para bicicletas, um garoto da minha idade ficou famoso no bairro, só porque ganhou um mini carro na tampinha do refrigertante Cerejinha. Virou o herói da meninada, ganhou o apelido de Cerejinha e eu nunca soube o seu nome.
Marco GTO, o mais desejado dos mini carros da A.V.L.
Toda linha de mini carros da A.V.L, a alegria da garotada
Mas conhecia bem o carrinho: era um Gurgel Junior II, evolução do primeiro mini carro do João Amaral Gurgel, o Gurgel Jr. O Gurgel Junior foi uma das atrações do Salão do Automóvel, mas era muito feio, não atraiu a criançada. Já o segundo era uma bela criação no formato de um clássico dos anos 50, sucesso imediato. Me apaixonei por ele quando meu pai foi experimentá-lo na pista de testes da fábrica. Ele parecia um urso de circo enfiado no carrinho, mas eu gostei.
Logo veio a concorrência: o empresário Nerces Gaspar Alexandre me fez perder o sono por meses, criando os mini carros mais bonitos que já se tinha visto. O Marco GTO, o Mini Mustang, o Mini Puma, o Mini Corcel e muitos mais, incluindo um maravilhoso mini fórmula. A cartada final para minha obssessão foi a abertura de uma loja A.V.L. – Alexandre Veículos Ltda. – na esquina de casa. Eu não saía mais de lá, até que um dia, a consagração: saí de lá dirigindo um mini carro. Cultura do Automóvel Julho 2021
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mini carros
O Mini Karmann-Ghia era uma belezinha
O primeiro Fapinha, de 1970
Apesar de sonhar com o Marco GTO, o mais bonito dos mini carros da marca até aquele momento, ganhei um buguinho A.V.L., que era o mais barato de toda a linha. Depois vieram outros ainda mais bacanas, como o Mini Mustang, o Mini KarmannGhia, o Mini Puma e o Mini Corcel. Bacana mesmo era o Fórmula A.V.L., mas este teria a desvantagem de não poder levar um amigo ao lado, nas brincadeiras. Um colega do primário ganhou um Fórmula A.V.L. e se aventurou nas pistas. Nos encontrávamos na escola (Liceu Coração de Jesus) e no kartódromo de Interlagos, ele pilotando um mini carro e eu um kart. Se nessa época 18
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O buguinho A.V.L. era equipado com um motor Pasco 2T, da Lambretta 175
eu achava que o kart era de uma categoria “superior”, o bom piloto acabou fazendo bela carreira em competições, ganhou campeonatos de mini carros, passou para as motocicletas – correu no mundial (hoje MotoGP) – e chegou à Fórmula Indy. Trata-se do Marco Antônio Greco, o Lagartixa. O buguinho era meu bom companheiro. Eu chegava da escola e ia direto pra garagem, às vezes engolindo o almoço, e ia pra rua. Isso apesar de eu ter assinado um documento dizendo que não iria sair sem um adulto (guardo esse papelzinho amassado até hoje). E levava um galão de gasolina, porque o tanque era pequeno e não dava para
rodar por horas. Às vezes voltava só ao anoitecer. Com o motor original até que poderia dar, mas eu troquei o lerdo motor estacionário Briggs&Stratton por um potente motor Pasco, dois tempos, com 175 cm3 de cilindrada, o mesmo que equipava a Lambretta mais potente. Só não consegui instalar o câmbio de três marchas da motoneta, fiquei com a precária transmissão original A.V.L. Outros fabricantes dividiram o mercado com a A.V.L., sendo que o mais conhecido foi a Fapinha, dos irmãos Tognocchi, que continuou com a produção e a comercialização de mini carros até os dias de hoje. l
mini carros
A Fapinha produz hoje o jipe Power Sport, o Mini Sport e o buggy Cross Dream
o primeiro mini carro
O Mini Fórmula 1, da Fapinha
O primeiro mini carro deveria mesmo ser algo especial, pois foi uma criação de Ettore Bugatti para seu filho Roland, de quatro anos. Era o Bugatti Baby, de 1926, réplica em meia escala do Bugatti Type 35, que acabou ficando tão conhecida que foram produzidas 500 unidades para seus clientes.
Atualmente há uma nova réplica sendo produzida, desta vez em uma escala de 75% do tamanho real, para que adultos também possam “brincar”. Também com uma produção de apenas 500 unidades, o Bugatti Baby II tem motor elétrico e custa a partir de 30 mil euros, chegando a custar até 60 mil euros.
Marco Antônio Greco, o Lagartixa, em seu mini Fórmula A.V.L. Cultura do Automóvel Julho 2021
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mini carros
A onda agora é meia escala
Quase não vemos crianças pilotando estas réplicas em meia escala dos carros mais desejados do planeta. É, vai ter briga com os adultos...
O Porsche 356 parece mesmo o original
Interior do Jaguar E-Type, com o volante ao centro
Os crescidinhos não quiseram mesmo ficar vendo seus filhos se divertindo sozinhos, eles tinham que entrar na brincadeira. Assim inventaram um mini carro em meia 20
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Painel de instrumentos do Jaguar XK
escala, ou seja, na metade do tamanho de um modelo de verdade. E mais: para mostrar quem manda aqui, só automóveis de sonho, os melhores esportivos da his-
tória. Todos conversíveis, logicamente, afinal, ninguém quer ficar apertado dentro de seu brinquedo. Os veículos são fabricados pela empresa vietnamita Harrington.
mini carros
O Mercedes-Benz 300SL tem uma versão elétrica, com motor de 48 volts de 1,2 kW. O Ferrari Daytona tem motor a gasolina
A miniatura do Cobra 289 mostra o requinte dos detalhes dos carrinhos, que têm motor dianteiro de 110 cm3 e tração traseira Cultura do Automóvel Julho 2021
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miniaturas
Coleção em uma caixinha O
nome é bastante sugestivo: caixa de fósforos. Matchbox era a marca de “carrinhos de ferro” – era assim que nos referíamos às miniaturas na escala de cerca de 75:1, nos anos 60 – mais popular naquela época, e também a mais desejada. Havia outras, como Husky ou Corgi, e atualmente sabemos que existem centenas delas, mas naquele momento era apenas Matchbox que interessava aos garotos. Entre os amigos, existia uma certa competição para ver quem tinha mais carrinhos, que alguns exibiam orgulhosos na hora de ajoelhar no chão e brincar com eles, empurrando-os como se rodassem sozinhos. O som do motor com a boca e o ruido de derrapagem nas curvas eram obigatórios. Eu era eclético quanto à marca dos carrinhos, uma vez que o catálogo Matchbox era bem limitado. Escolhia mais pela marca do carro, sobre os quais, de tamanho natural, ouvia histórias contadas por meu pai. Mas entre meus amigos da rua ou da escola havia um que só queria saber de quantidade – inclusive ia para as brincadeiras com eles se ralando dentro de um saco – e outro que colecionava nas 22
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caixinhas, tinha todos os catálogos e só comprava – ou ganhava – da marca Matchbox, que era a mais cara entre as populares. Ele tinha também as pistas e os acessórios mais interessantes que podíamos saber da existência, olhando no catálogo. Foi esse último amigo que me fez colecionar de forma bastante cuidadosa, apesar de nunca ter chegado a números expressivos. Todos os anos, a Matchbox lançava um novo catálogo. O de 1969 é um dos mais interessantes, pois já mostrava os carrinhos que teriam a “tecnologia” Superfast, que estaria disponível apenas no fim daquele ano. Superfast nada mais era que rodinhas bem elaboradas presas a eixos muito finos e cromados. Só isso já fazia com que os carrinhos deslizassem suavemente, atingindo grandes velocidades. Até então, rodinhas rústicas em eixos grossos não deixavam os carrinhos soltos. Além disso, as rodinhas Superfast eram mais bonitas, pareciam as rodas de magnésio dos carros de verdade, em comparação com as feiosas rodas de ferro originais. O que sempre me intrigou era a falta de compatibilidade nas escalas. Cada carrinho
Status mesmo no bairro era ter uma coleção de Matchbox
tinha uma diferente e, para caber nas caixinhas, os caminhões e veículos maiores tinha escalas muito mais reduzidas. Era difícil brincar com um pouco de realismo dessa forma. Alguns carrinhos tinham escala de 50:1, outros de 70:1 e os caminhões chegavam a 120:1. Para ser realista, os veículos de grande porte deveriam ser de outra série da própria Matchbox, chamada King Size. Mas não era para nosso bico, em termos de valor. Cheguei a comprar um, apenas, o belo Racing Transporter (54:1), que carregava dois carrinhos cujas caixinhas haviam se perdido. A miniatura que mais gosto na colecão é uma Honda de corrida, com carreta e tudo. Mas a escala de 41:1 inviabilizava qualquer simulação de vida real nas brincadeiras. Aqueles catálogos eram nossa alegria e nossa tristeza. O item que eu mais cobiçava era a maleta para 48 carrinhos, mais do que qualquer outro, e olha tinha pistas de gravidade, com looping, e até uma espécie de autorama, usando os carrinhos do catálogo. O catálogo do ano seguinte, 1970, já incluiu praticamente todos os 75 carrinhos com as rodinhas Superfast.
miniaturas
Ainda em suas caixinhas, o Jaguar “Draguar” e o Morris Mini Cooper
Porsche 910 e o Jeep Hurricane
Da Chrysler, PT Cruiser e Jeep Rescue. O Mustang pré-Superfast puxa a carreta da moto e tem “direção”
Uma galeria só de Ferrari vermelhos
Miniaturas francesas Solido: Aston Martin, Cooper e Vanwall. E no transportador cabem dois veículos Cultura do Automóvel Julho 2021
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miniaturas
O catálogo era o guia supremo
Catálogos dos anos 1969 e 1970. Os desejos eram criados neles, como esta maleta para 75 carrinhos
As miniaturas podiam se transformar em um autorama, com este kit de pista e eletrificação
Os carrinhos na escala de cerca de 75:1 não combinavam com as outras miniaturas, de escalas bem diferentes 24
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miniaturas
Lembrança dos lançamentos do Fiat Linea, no Brasil, e do elétrico da Ford de 20 anos atrás, em Detroit
Miniaturas em pequena escala de cinco gerações do cupê da Mercedes-Benz, para o lançamento do CL
Modelos representando a Nascar, categoria de carros “stock” norte-americana
Alguns modelos Audi, representados por pequenas miniaturas, contam sua história
Algumas miniaturas representam a empresa que produz o carro de verdade, geralmente oferecidas em ocasiões especiais, como o lançamento de um novo
automóvel. Esse é o caso do lançamento mundial do Mercedes-Benz CL, cujo kit de imprensa – o famoso “press kit”, que atualmente foi substituído por um link
de internet – , veio acompanhado por miniaturas em escala muito pequena, representando o cupê de luxo em outras quatro épocas. Ouro, para colecionadores. l Cultura do Automóvel Julho 2021
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lego Teste prático
Lego, diversão par O
que atrai tanto as pessoas no Lego? Mesmo depois de passar por aquela fase da infância de montar bloquinhos, construir casinhas de tijolos (lembram?) ou empilhar peças de dominó, o brinquedo criado pelo carpinteiro dinamarquês Ole Kirk Kristiansen, em 1932, continua exercendo um fascínio muito grande. Não há quem não veja uma ou mais pecinhas jogadas em um canto que resista a tentação de uní-las. As simples peças de madeira, no início, já tinham um jeito mágico de se unirem, o que ficou fantástico com a evolução do brinquedo e a adoção do plástico como matéria prima. Não se pode dizer que, atualmente, Lego seja um brinquedo simples. Sim, há os kits para crianças pequenas, blocos maiores, mas os menores são os mais interessantes. Depois de muito tempo entretendo com blocos padronizados, os kits técnicos introduziram peças especiais para montagem de máquinas. E, entre elas, o que mais gostamos: os automóveis. Mas tem também as motocicletas e as máquinas pesadas. Existem vários tipos de conjuntos Lego com automóveis e motocicletas. Desde os básicos, que apenas têm o formato dos veículos, até os extremamente elaborados, com componentes e sistemas mecânicos que funcionam de verdade. Nos mais complexos, funcionam a suspensão, o motor e o câmbio, que, inclusive, pode mudar as marchas. 26
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O Morris Mini Cooper de Lego está pronto para o pic-nic
lego teste prático
ra todas as idades
Os bólidos: Corvette ZR-1, McLaren Senna GTR, Ferrari 488 GTE e Ford GT Cultura do Automóvel Julho 2021
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lego
O Lego LeMans é considerado o melhor conjunto Technic já feito. Com o mesmo kit é possível montar este outro veículo
No modelo de competição, motor com pistões que fundionam 28
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O fato é que ninguém consegue parar de montar e desmontar os conjuntos Lego, seja ele Technic ou uma cidade, por exemplo. Talvez por isso as coleções estão crescendo tanto, para não ter que montar o mesmo carro duas vezes. Assim como a oferta de kits, que aumentou muito nos últimos anos. Nenhum fabricante de blocos de montar atingiu tal grau de perfeição e popularidade. l
lego lego em tamanho real
O Ford EcoSport também virou um kit da Lego
A Ford montou, em parceria com o parque temático Legoland, um Explorer especial, feito com mais de 380.000 peças de Lego. Depois de montado na histórica fábrica da Ford em Chicago, que produz o Explorer, a versão Lego foi transportada em um trailer com laterais transparentes para que todos pudessem vê-lo no trajeto até o parque temático, nos arredores de Orlando. O parque Legoland Florida, com mais de 50 atrações, shows, passeios e um jardim botânico histórico, é dividido em dez áreas temáticas e usa mais de 50 milhões de peças de Lego.
Kits temáticos, como os do filme Cars, e motocicletas Cultura do Automóvel Julho 2021
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modelos
Carrinhos feitos à mão Modelos exclusivos que contam uma história
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uando a paixão por miniaturas atinge um determinado grau, tudo pode acontecer. Até o colecionador se tornar fabricante. É por esse motivo que vemos cada vez mais peque-
nos artesãos criarem modelos exclusivos, que contam uma história. Alguns deles passam de pequenos para grandes e suas criações geralmente são, além de exclusivas, mais fiéis e detalhadas do que os mode-
los das grandes marcas. Conheça aqui alguns exemplares de carros que fizeram a história do automobilismo brasileiro, em especial as criações do Antônio Apuzzo, da Automodelli.
Simca Abarth
BMW “Esquife”, de Jan Balder
Lola T-70 Mk III
Renault 1.093 de Emerson Fittipaldi e Lian Duarte
Lola T-70 Mk III
Alguns Karmann-Ghia preparados para competição
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modelos
Copersucar-Fittipaldi FD-01, como correu no GP da Argentina de 1975
O Simca 62 de José “Tôco” Martins. Nas fotos menores, o Simca 26 de Jayme Silva e o Simca 44 de Ciro Cayres Cultura do Automóvel Julho 2021
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modelos
Caminhão FNM
Um modelo ainda em fase inicial
Opala com o qual Bird Clemente bateu o recorde de velocidade, em 1970
O inspetor Carlos, o Vigilante Rodoviário, seu cachorro Lobo e o Simca
Mantenha o seu automóvel em dia
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Julho 2021 Cultura do Automóvel
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Cultura do Automóvel Julho 2021
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