No 30 – Dezembro 2021
cultura do
automóvel
automóveis e motocicletas
Elétricos
lançamentos - impressões - história
Uma história de 150 anos
Os carros da moda de hoje já rodavam pelo mundo no século 19
Os carros dos personagens de seriados da T.V.
dauphine elétrico
bmw 503 e 507
placas antigas
eletrificados
E DI TOR I
AL
A volta dos carros elétricos
O
assunto está em todos os grupos. Não há quem goste de automóveis que não esteja discutindo o futuro de seu objeto de desejo. Gasolina ou eletricidade? Será que, mais de cem anos atrás, os poucos motoristas que já dirigiam seus carros estavam preocupados com qual tipo de energia os movimentaria? Pode ser que eles quisessem apenas curtir a sua liberdade de locomoção. O enfoque agora é outro, mas saber que os elétricos já foram grande parte da
indústria automotiva pode ajudar no futuro caminho pela sustentabilidade. Aqui, é mais curiosidade. nnn
Em uma época bem mais recente, certamente sem tantas preocupações com com o ambiente como agora, os carros começaram a fazer parte dos filmes e seriados da TV, algumas vezes tornando-se até mais famosos do que os seus protagonistas. Conheça, ou melhor, relembre, de alguns deles.
30 NESTA EDIÇÃO No 30 - Dezembro 2021
sumário
04 Pelo Mundo
O que acontece no mundo dos carros clássicos
06 Na Telinha
Os carros que os personagens dirigem nas séries
20 As criações de George Barris
Conheça quem customiza os carros dos seriados
26 Os icônicos BMW dos anos 50
Em 1955, a BMW surpreendeu com dois modelos
30 Placas antigas
Elas vendiam produtos, agora são colecionáveis
38 Henney Kilowatt, um Dauphine elétrico
Não é de hoje que se buscam saídas energéticas
42 Carros elétricos centenários
Os elétricos já estavam por aqui antes da gasolina
pelo mundo
clássicos na tomada
Automóveis antigos que não têm nenhuma história com a eletrificação também são convertidos para a eletricidade
Se até agora a maior atração que os automóveis clássicos exerciam em seus donos era a sua história, e também em como mantê-la, preservando os carros da forma como foram fabricados, isso pode estar começando a mudar. Mesmo sem qualquer vínculo com a história dos automóveis elétricos, como veremos
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Novembro 2021 Cultura do Automóvel
ainda nesta edição, os nossos queridos clássicos tambem estão sendo convertidos para a eletricidade. Fazer o quê? Cada um cuida de seus clássicos da forma que mais lhe convier. Nesse caso, no entanto, só restará ao seu dono o prazer de exibí-los e de rodar com sua nova forma de energia.
pelo mundo
o automóvel mais estranho do mundo
O ranking dos automóveis mais estranhos do mundo é concorrido. Alguns deles ficam estranhos sem querer, outros de propósito e, alguns deles, devido a um motivo especial. O motivo de o projeto do Sr. Walter Jerome, de Massachussetts, ficar tão estranho foi a sua busca incansável pelo automóvel seguro. Ele achou que, dividindo o carro em duas seções, a frontal para absorver impactos e a outra para proteger os ocupantes, ele conquistaria nota alta
na galeria de excentricidades. Utilizando um Hudson 1956 como base, ele idealizou uma torre elevada para o motorista, que teria 360o de visibilidade, e parachoques inflados com ar comprimido por toda a volta do veículo, para absorver pequenos impactos. Jerome abusou do que ele acreditava ser segurança passiva, aquela que protege os ocupantes em um acidente, mas negligenciou a segurança ativa, aquela que evita que
ocorra um acidente. Em outras palavras, o carro era inguiável. Os quinze minutos de fama do criador e sua criatura passaram e hoje a ideia não passa de uma enorme curiosidade.
Cultura do Automóvel Novembro 2021
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seriados
Na telinha
Personagens de seriados e seus automóveis
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Dezembro Dezembro 2021 2021 Cultura Cultura do do Automóvel Automóvel
seriados
E
u sempre fui fã do Batman. Puxando pela memória, os episódios passavam no domingo ao fim da tarde e eu ficava muito contrariado, caso houvesse uma festa de aniversário ou coisa assim, para me tirar de casa. Assistia os episódios em uma velha TV de marca Emerson, preto e branco (claro!), que meu avô
havia deixado no meu quarto. Com seis ou sete anos de idade, em 1966, mal percebia eu que aquelas cenas eram pura sátira, que o herói era um comediante. Mas o Batmóvel era real. Um moleque da minha idade, vizinho, era fã do Speed Racer, fanático pelo Mach 5, e eu não conseguia convencê-lo de que o Batmóvel era melhor, só porque era real.
Cultura Cultura do do Automóvel Automóvel Dezembro Dezembro 2021 2021
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seriados
carros de personagens
O Batmóvel foi uma criação de George Barris, a partir de um Lincoln Futura de 1955
Esse foi o primeiro carro de personagem de que me lembro de ter conhecido, muitos outros vieram depois. Meu pai assistia Rota 66, um seriado de 1960, acho que mais por causa do Chevrolet Corvette do mesmo ano do que pelas fracas histórias. Mais antigo ainda era o seriado nacional Vigilante
Rodoviário, de 1959, no qual o vigilante Carlos, da Polícia Rodoviária, perseguia os vilões em seu Simca Chambord do mesmo ano e os capturava só à base dos socos. Eu não gostava muito desse, apesar de nosso Simca brasileiro fazer parte da trama. Só assisti a reprise no início dos anos 70.
Tanto o seriado Vigilante Rodoviário quanto o Simca Chambord eram produtos nacionais 8
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carros de personagens
seriados
O Sunbeam Tiger Mark I de 1965 apareceu nas duas primeiras temporadas de Get Smart
Ainda dos anos 60, tinha Maxwell Smart, o Agente 86, que desfilava uma galeria de pequenos esportivos no início dos episódios, o Besouro Verde, com seu carrão preto dirigido por ninguém menos do que Bruce Lee, e a família Munster, com um carro de dar medo. Esse até merece uma história contada à parte.
Os Monkees eram um grupo de rock fictício criado especialmente para o seriado de 1966 de mesmo nome, mas como eles se tornaram um sucesso na música, acabaram virando um conjunto real, com direito a hits e um carro especial, o Monkeemobile, feito a partir de um um Pontiac GTO modificado.
Pontiac GTO modificado do seriado The Monkees, um grupo de rock fictício que virou real Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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A maior parte dos carros de seriado que me lembro eram dos anos 60 e nenhum deles era, ainda, a estrela do show, como iria acontecer anos depois. Até então, eles eram apenas dirigidos pelos protagonistas, como no seriado O Santo (The Saint, de 1962). Nele, um Roger Moore ainda novinho, anos antes de se tornar o agente 007, corria atrás dos vilões em um belo Volvo P1800S. Nos seriados familiares como A Feiticeira, de 1964, o marido da bruxinha dirigia um Chevrolet Camaro, enquanto que seu chefe, Larry Tate, dirigia um carro mais caro, um Chevrolet Corvette. Também familiar, mas nem tanto – a protagonista exibia a sensualidade em trajes sumários –, o seriado Jeannie É Um Gênio, de 1965,
optou pelos Pontiac, como o Bonneville e o GTO. Em Hawai 5-0 (Hawaii Five-O, de 1968), o detetive McGarret dirigia um Mercury Park Lane do mesmo ano. Ele usou o carro por seis anos. Em 1970, surgia “a família mais musical da TV”, a Partridge Family, conhecida por “Família Do-Ré-Mi”. Era mais ou menos legal e eu ficava imaginando ter um ônibus daqueles, com a típica pintura psicodélica, como tudo o que estava na moda, na época. Ainda não desisti da ideia. Em 1971 surgiram muitos novos detetives na telinha, como o Canon e seu Lincoln Continental Mark IV, que tinha a tampa do porta-malas no formato do estepe, mais ou menos estilizando os kits continental muito usados nos anos 50.
Roger Moore, o “Santo”, e seu belo Volvo P1800S. Isso antes de se tornar o agente 007 10
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O ônibus da Família Do-Ré-Mi, que tinha pintura psicodélica, era um Chevrolet de 1957
O GTO do Major Nelson, o Camaro do Stephens, o LTD do McGarret e o Lincoln do Canon Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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Um detetive bem famoso nos anos 70 foi Columbo, aquele que fazia até os inocentes confessarem um crime, de tão chato que ele era (mas isso não acontecia no seriado, era só uma das piadas da revista Mad, na edição em que satirizou o seriado). Vestindo um sobretudo velho e amarrotado, ele chegava nas cenas de crime dirigindo o seu também velho e acabado Peugeot 403 cabriolet 1960. Outros detetives de ocasião, ainda em 1971, eram os amigos e rivais de Persuaders, dois playboys, cada um à sua maneira, que viviam tirando racha com seus carros. O lord inglês Brett Sinclair tinha um também inglês Aston Martin DBS e seu amigo americano tinha um Ferrari Dino 246 GT. O Aston Martin de Brett Sinclair fingia ser um V8, por estar equipado com as rodas desse modelo, mas, na verdade, era uma versão com motor de seis cilindros. A placa também não era BS1, de Brett Sinclair 1, como aparecia nas cenas, mas sim PPP6H. A placa real foi mostrada, sem querer, em um dos episódios, devido a um erro da produção. Pulando para 1975, temos um verdadeiro ícone automotivo da TV, o Ford Gran Torino vermelho dos detetives Starsky & Hutch. Os
produtores queriam um Chevrolet Camaro verde e branco para a série, mas como a General Motors não os atendeu, optaram pelo Ford. Um outro ícone dos automóveis clássicos americanos, mas que não teve muita repercussão na telinha, foi o Ford Thunderbird 1957 do detetive Dan Tanna, do seriado Vega$ (assim mesmo, com o cifrão no lugar do S). Mais do que o carro, que eu gostava muito (preferia o 1955), eu achava o máximo o protagonista ter um telefone no carro, com o qual ele conversava enquanto dirigia. Hoje, sabemos que essa atitude é extremamente perigosa, além de ser ilegal. Um seriado muito popular no final da década foi Os Gatões (The Dukes Of Hazzard, 1979), cujo maior feito foi mostrar as proezas dos irmãos Bo e Luke com o Dodge Charger 1969 de nome General Lee. Com esse carro, que tinha as portas soldadas (eles entravam pelas janelas) eles fugiam da polícia, no interior da Geórgia, faziam muitas acrobacias e até voavam, razão de terem sido destruídos cerca de 300 deles nas filmagens, que se estenderam até 1984. Esse é um daqueles seriados em que se pode dizer que o astro principal era mesmo um automóvel.
Detetive Columbo de Peugeot 403 1960, os Persuaders de Ferrari Dino e Aston Martin DBS 12
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General Lee, o Dodge Charger 1969 dos Gatões, se tornou uma celebridade
O carro dos detetives Starsky & Hutch era para ser um Camaro verde e branco, não o Torino Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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O detetive Dan Tanna, de Vega$, tinha um telefone em seu Ford Thunderbird de 1957
Anos 80. Talvez a década dos seriados. Enlatados gringos, como diziam os defensores dos programas genuinamente brasileiros, pouco em voga na TV naquele época. Foi também quando surgiram as séries cujo protagonista não era uma pessoa, mas sim o carro. Muitos deles, como a Supermáquina, de 1982 (Knight Rider). O Pontiac Firebird Trans Am do mesmo ano tinha o nome de K.I.T.T. – Knight Industries Two Thousand –, e era o ator principal, falava, se movia por conta própria e tomava decisões. Após a série, todos queriam ter um Pontiac Trans Am igual, inclusive com a luz vermelha frontal. 14
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K.I.T.T., a Supermáquina, um Pontiac Firebird
carros de personagens O Ferrari 308 GTSi de 1984 não era o principal no seriado Magnum, mas era quase isso. Acho que todos suportavam as histórias mirabolantes mais para ver o carro. O primeiro ano da série foi 1980, quando foi utilizado um Ferrari 308 GTS 1978, caracterizado por não ter o espelho retrovisor direito e nem o spolier sobre o vigia traseiro.
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As temporadas seguintes tiveram um Ferrari 308 GTSi 1980, já com o espelho direito. Foi só em 1984 que veio o GTSi desse ano, já com o novo motor Quattrovalvole, spoiler traseiro e mais alguns detalhes, como as grades pintadas de preto. A ideia inicial dos produtores era usar um Porsche 928, mas o pedido foi negado pelo fabricante.
O primeiro carro de Magnum era um Ferrari GTS de 1978, sem o espelho retrovisor direito
Em 1981 foi a vez de Duro na Queda (The Fall Guy), série que fez explodir a venda de pneus enormes para as picapes, que já eram a paixão dos norte-americanos. O dublê de proezas cinematográficas praticamente comprava um jogo desses pneus em cada episódio, que eram destruidos por seus inimigos.
A picape GMC 2500 do dublê Colt Seavers Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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Alguém lembra de Tempo Quente (Riptide, 1984)? Lembro vagamente, nunca assisti. Mas tinha um Chevy Corvette 1960 igual ao de Rota 66, só que levemente customizado, com rodas especiais e chamas pintadas nas laterais. Já era um uso vintage do modelo. A história de veteranos do Vietnam que viraram investigadores era rivalizada, na mesma época, pela série Esquadrão Classe A. Essa série (A-Team, 1983), apesar de inverossímil, era muito divertida e cheia de ação, com jipes capotando e explodindo sem que os ocupantes se ferissem. O carro mais importante era um furgão GMC Vandura 1983, que pertencia a um dos personagens, o grandalhão BA Baracus.
O Chevrolet Corvette 1960 de Tempo Quente
O furgão GMC Vandura 1983 de A-Team
O Lincoln Continental do Besouro Verde, com o motorista Kato, interpretado por Bruce Lee 16
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Sonny Crockett e Ricardo Tubbs e o Ferrari Testarrossa 1986, no seriado Miami Vice
Talvez o último seriado dos anos 80 a ter carros relevantes, Miami Vice, de 1984, contava a história de dois detetives da narcóticos sempre perseguindo criminosos. O carro mais usado para isso era o Ferrari Testarrosa 1986 branco de Sonny Crockett, já que o carro de Ricardo Tubbs era um transatlântico Cadillac Coupé DeVille conversível de 1964. Mas a história por trás das câmeras era mais interessante: nas primeiras temporadas da série, Crockett tinha
um Ferrari Daytona preto, com o qual fazia miséria nas ruas de Miami. Isso porque o carro era uma réplica, feita sobre um Corvette C3, novinho na época. A Ferrari não gostou disso e cedeu o testarrossa branco para as temporadas seguintes. Para justificar a troca dos carros, em um dos episódios, quando Crockett fingia ser um comprador de armas, o vendedor, para mostrar a eficiência de seu canhão, explodiu e réplica. No final, todos felizes.
A réplica do Ferrari Daytona, explodida em um episódio, e o Cadillac Coupé DeVille 1964 Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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Anos 90, agora. O interesse pelas séries diminuiu, pelo menos para mim, mas parece ter aumentado a quantidade. Dessas, destaco a série inglesa Mr. Bean, cujo protagonista, Rowan Atkinson, certamente se inspirou no diretor francês Jacques Tati. Mr. Bean, muito engraçado,
dirige um icônico Mini inglês, às vezes também fazendo parte da história. Jacques Tati também usou e abusou dos automóveis em seus filmes, dos anos 40 até início dos anos 70, mas os carros dos filmes de longa metragem serão comentados em outra ocasião.
Mr. Bean em seu Mini, em uma das cenas da série inglesa
Para finalizar, um seriado recente, de 2008: Breaking Bad. Os carros têm pouca importância nas histórias, mas um, em especial, me diz alguma coisa, justamente o que o principal personagem dirige. É um Pontiac Aztek, considerado um dos mais feios automóveis já produzidos, 18
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inclusive por mim. O interessante é que eu estive no seu lançamento, em 2001, em Detroit, e na hora não entendi como alguém poderia gostar dele. Feio ou não, o carro ficou famoso ao aparecer no seriado, este, por sua vez, altamente considerado pela crítica especializada. l
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O protagonista de Breaking Bad e seu Pontiac Aztek. Depois disso o carro ficou famoso
Os carros esporte de Maxwell Smart
Na abertura dos episódios do seriado Agente 86 (Get Smart), o agente chegava em quatro carros esporte diferentes. O Sunbeam Tiger vermelho foi usado nas duas primeiras temporadas, em 1965 e 1966, o Karmann Ghia azul nas duas seguintes, em 1967 e 1968, e o Opel GT na quinta e última temporada, em 1969. No episódio piloto de 1965, em preto e branco, o carro era um Ferrari 250 Cabrio, de produção limitada Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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A obra de George Barris
A oficina de George Barris, na Imperial Highway, e os dois carros para a série Escola do Vício
Não há como falar de automóveis para séries de TV sem mencionar George Barris. A quantidade de criações para seriados, feita pelo “Rei dos Customizadores”, como ele ficou conhecido, principalmente nos anos 60, é enorme. George iniciou seu trabalho em 1942, quando fundou a Barris Kustom Shop, em Los Angeles, para fazer carros especiais e alguns para
corridas, para ele mesmo. Em 1951, ele customizou um Mercury cupê para ele mesmo e um cliente encomendou outro igual. Esse carro foi exposto no Motorama de 1952 e Barris ficou famoso. Foi quando a indústria cinematográfica o chamou para criar um carro especial para o seriado Escola do Vício (High School Confidential, 1958). Eram dois Chevrolet 1948 cupê iguais.
George Barris e a sua maior criação, o Batmóvel do seriado de 1966 20
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carros de personagens A partir daí, já fazendo parte dos bastidores do cinema, era um pedido atrás do outro, como o carro da Família Buscapé (Beverly Hillbillies, 1962), transformado em um caminhão a partir de um Oldsmobile roadster Model 46 de 1921, o Plymouth Barracuda 1966 do filme Fireball 500 e o Porter 1928 do seriado Mamãe Calhambeque (My Mother, The Car), entre muitos outros. Esse seriado de 1965 eu cheguei a ver na TV, em reprise nos anos 70, e era meio bobinho, a história de um carro que incorporou o espírito da
seriados
mãe do seu dono, interpretado por Jerry Van Dyke. Na verdade, não era um carro original, mas sim um Ford Modelo T 1927, adaptado por Barris para parecer um Porter 1928. Ainda no início dos anos 60, Barris havia comprado um concept car para sua própria coleção, um Lincoln Futura dos anos 50, desenhado pelos estúdios Ghia, quando lhe pediram para criar um carro para o seriado Batman. Foi quando surgiu o Batmóvel, que elevou Barris ao nível de gênio da customização. O Batmóvel foi vendido, em 2013, por US$ 4.620.000.
Jerry Van Dyke, de Mamãe Calhambeque, e o Ford T de 1927 imitando um Porter 1928 Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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O caminhão da Família Buscapé era um Oldmobile roadster Model 46 de 1921
Annette Funicello e o Plymouth Barracuda 1966 criado para o filme Fireball 500, de 1966 22
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seriados
O Munster Koach foi presente de aniversário da Lily para o Herman. É a união de dois carros
O carro de Herman Munster também foi criado por George Barris, mas a forma como ele surge no seriado é ainda mais interessante. No quarto episódio da primeira temporada, Herman já tem um Cadillac Twelve 1937, mas é seu aniversário e sua esposa, Lily Munster, vai comprar um carro novo para ele. Na loja, o vendedor lhe ofereceu dois modelos, um Ford Hot Rod Modelo T e um rabecão. Ela comprou os dois e pediu ao vendedor que lhe fizesse um favor. A cena seguinte é a do carro chegando na porta da mansão mal-assombrada da família: a união dos dois carros. Na realidade, o Munster Koach nasceu da união de três Ford T, sem nenhuma ligação com os carros mostrados no episódio. Para poder
dirigí-lo, o ator Fred Gwynne, que fazia o papel de Herman, tinha que retirar o banco e sentar no assoalho. No episódio 36 da primeira temporada, Herman vai para as corridas com seu carro, perdendo-o em uma aposta. Assim, vovô constrói um carro para correr contra o novo dono do carro de Herman, a fim de retomá-lo. O novo carro, feito de um caixão, chama-se Drag-u-la.
Vovô corre para reaver o Munster Koach Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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seriados
Com o Drag-u-la, feito em forma de caixão, Vovô vai recuperar o carro da família
Na história de Os Monstros, os dois carros acima deram origem ao Munster Koach
No episódio 28 da segunda temporada, Herman vai comprar um carro para sua sobrinha Marilyn, e o vendedor charlatão é ninguém menos que Frank Gorshin, o Charada do seriado Batman. Ele lhe oferece um Fusca, dizendo que se trata de um carro bem leve. Herman vai conferir se é verdade. George Barris construiu muitos 24
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carros especiais, a maioria para o cinema ou para a TV. Os mais conhecidos são o Chevrolet 1948 radicalmente modificado do filme Grease, de 1978, o Lincoln 1971 assassino do filme O Carro, a Máquina do Diabo, de 1977, e a perua dos Griswolds, no hilário filme Férias Frustradas (National Lampoon’s Vacation, 1983). l
carros de personagens
seriados
Herman vai comprar um Fusca para sua sobrinha e o vendedor é Frank Gorshin, o Charada
O Wagon Queen Family Truckster, do filme Férias Frustradas, e o Lincoln de O Carro
No filme Grease, de 1978, John Travolta e seus amigos customizam um Chevrolet 1948 Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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clássicos
BMW lendários Na maioria das vezes, chamar um automóvel de lendário pode ser puro exagero. Neste caso, não
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ma exposição de automóveis é sempre a grande tentação dos entusiastas, mas o Salão Internacional do Automóvel de Frankfurt de 1955 parece ter sido muito especial. Aquele ano foi marcado por muitos automóveis que hoje consideramos de sonho, mas o público especializado correu para a mostra para conhecer um só automóvel. Ou melhor, dois: os BMW 503 e 507. Em frente ao estande da marca, todos queriam conferir o BMW 503 e BMW 507 e alguns poucos sortudos ainda conseguiram entrar 26
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neles. Eram carros maravilhosos, criações de um projetista até então desconhecido, chamado Albrecht Graf Goertz. O BMW 503 era a materialização de um grande GT e o 507 um atlético esportivo. O chassi, os eixos e o motor eram praticamente idênticos ao igualmente lendário BMW 502 3.2, que ficou conhecido como Anjo Barroco. O BMW 503 e o BMW 507 eram movidos por um motor V8 de última geração, com 3,2 litros de cilindrada, que não se parecia com nenhum outro motor conhecido até então.
clássicos
O BMW 503 (foto na página ao lado) era confortável e veloz. O BMW 507 era o esportivo
No BMW 503, esse motor desenvolvia 140 cv de potência, com um pouco mais no esportivo 507, 150 cv. Era potência suficiente para uma velocidade máxima de pelo menos 190 km/h – ou de até 220 km/h, se usada uma relação final especialmente criada para o 507. Nos anos 50, esses números representavam um novo patamar de desempenho. O BMW 503 era um Grand Turismo nos moldes clássicos, extremamente confortável, com um apetite insaciável por longas distâncias e disponível em versões
cupê e conversível. Para uma melhor distribuição do peso, a caixa de câmbio foi recuada, montada entre os bancos dianteiros. Havia também a opção de uma capota de lona operada eletricamente. Já o BMW 507 era diferente. Baixo e esguio, era desprovido de adornos – e ainda assim considerado um dos carros mais bonitos de todos os tempos. Era um banquete para os sentidos, com o magnetismo visual do 507 criando o show definitivo. Multidões de admiradores se reuniam sempre nos lugares nos quais que ele estava presente. Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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clássicos bmw 503 e 507 Os dois carros eram assinados pelo projetista alemão, que trabalhava em um estúdio de Nova York. Albrecht Graf von Goertz era de uma família aristocrata, abandonou o ensino médio e um estágio em um banco para se dedicar aos automóveis, mudando para os EUA em 1936. Ali, no cenário Hot Rod da Costa Oeste, desenvolveu sua paixão pelo desenho de automóveis. Depois da guerra, ele trabalhou, entre outros, para Raymond Loewy – indiscutivelmente o designer industrial mais renomado de
sua época –, antes de se lançar sozinho, em 1953. Ele já tinha bons relacionamentos na BMW e os levou para o próximo nível. Seus projetos para o BMW 503 e, acima de tudo, para o 507, o transformaram em um nome familiar da noite para o dia. No entanto, o sucesso em grande escala permaneceu indescritível para os carros dos sonhos de Albrecht Graf von Goertz. Nem mesmo Elvis Presley, que causou grande agitação ao comprar um BMW 507 durante o serviço militar na Alemanha, poderia fazer muita coisa para mudar isso.
O BMW 503 era um Grand Turismo veloz e confortável para distantes destinos por estrada
O BMW 507 era esportivo e espartano, mesmo assim considerado extremamente bonito 28
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bmw 503 e 507 O problema era que as pessoas que tinham dinheiro para comprar um ainda eram poucas, e os clientes nos Estados Unidos, o principal mercado de exportação da BMW, já estavam mal-acostumados em termos de potência e cilindrada. Até os velhos e sóbrios carros de família tinham um motor de oito cilindros sob o capô.
clássicos
E assim, a cortina desceu um tanto prematuramente para esses belos carros. Entre 1959 e 1960, apenas 251 exemplares foram vendidos do BMW 507 e 412 do BMW 503 (desses, 273 cupês e 139 conversíveis). Naquela época, eles pareciam bons demais para serem verdade, o que vale até hoje. l
Texto e fotos bmw group
o bmw de elvis
Um dos 254 BMW 507 produzidos entre 1955 e 1959 ficou mais famoso que os outros, porque pertencia a um grande astro da música: o Rei do Rock, Elvis Presley. O roadster, que era um dos modelos mais exclusivos e procurados na história da marca, depois de ser dirigido pelo músico durante um ano, enquanto cumpria o serviço militar, na Alemanha. foi considerado perdido por décadas, até
que foi redescoberto em um celeiro na Califórnia. De volta a Munique, o BMW 507 foi cuidadosamente restaurado pelo BMW Group Classic, ficando exatamente como era quando Elvis Presley o recebeu em 1958: com a cor original branco Feather White, motor V8 de alumínio de 150 cv, rodas presas por porca rápida central e interior preto e branco. Era equipado com um rádio Becker Mexico. Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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placas
Placas à venda placas pelo mundo Elas já cumpriram seu papel de anunciar produtos e serviços, agora fazem parte da memorabilia
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á pelos anos 30, elas eram espalhadas por todos os cantos. E eram muitas. As placas que anunciavam serviços chamavam a atenção dos motoristas para troca de óleo, abastecimento, substituição de pneus, venda de peças e componentes e até automóveis e motocicletas. Agora elas são itens altamente colecionáveis e atingem valores impensados. Conheça algumas placas antigas. 30
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placas
Um dos itens mais procurados por colecionadores de antiguidades são as placas comerciais, que chegam a ter valores muito altos. Elas também contam uma história
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placas
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elétricos
Ligado na tomada A popularidade dos carros elétricos atuais nos leva a conhecer alguns modelos de anos atrás
O Henney Kilowatt podia ser carregado em casa, em uma tomada comum
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nadvertidamente, qualquer pessoa que vê a foto acima diria que a moça está ligando um aspirador de pó, para higienizar o seu Renault Dauphine. Ou algo elétrico similar. Mas não. Mesmo tratando-se de uma imagem dos anos 50, ela está mesmo é dando uma carga nas baterias de seu carro elétrico. Duas constatações: sim, é um automóvel elétrico. E sim, é um Renault Dauphine elétrico. Em 1959. Utilizando o carrinho francês dos anos 50, a empresa norte-americana 38
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Henney, que já atuava na fabricação de carrocerias especiais, colocou no mercado um modelo aparentemente bem adequado para receber um motor elétrico. Leve e compacto, o novo Henney Kilowatt – esse era o nome do carro – tinha tudo para se dar bem com a eletrificação. A ideia de um carro elétrico em plena era da gasolina partiu de um empresário que, além das carrocerias para ambulâncias e rabecões, fazia também baterias, auto-rádios e – coincidência? – aspiradores de pó.
elétricos É claro que ele não escolheu uma de suas enormes carrocerias para o projeto, já que a potência limitada do conjunto elétrico a ser adotado era de apenas 5,2 kw, cerca de 7 cv. E o Dauphine chegou na hora certa, exatamente quando a Renault estava desistindo de conquistar o mercado dos carrões com seu modelinho europeu de apenas 27 cv. Além de pequeno e de pesar menos de 500 kg (sem motor), o Dauphine
tinha espaço suficiente, na frente e atrás, para acomodar 18 baterias de 2 volts cada. A velocidade máxima de 64 km/h, com autonomia de 64 km, foi melhorada no ano seguinte com a adoção de 12 baterias de 6 volts cada, que podam ser carregadas em uma tomada comum. Em 1960, com o novo conjunto elétrico de 72 volts, o Henney Kilowatt teve a autonomia estendida a quase 100 km e chegava agora à velocidade de 97 km/h.
No painel de instrumentos, um voltímetro e um amperímetro adicionais
Além de leve e compacto, o Dauphine tinha espaço suficiente para acomodar as baterias Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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elétricos
henney kilowatt
Dos 47 produzidos, 15 foram para uso particular, o restante para companhias de eletricidade
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henney kilowatt
elétricos
Seis baterias na frente e seis baterias atrás, com uma tensão total de 72 volts
Os norte-americanos não aceitaram o elétrico, que custava o mesmo que um carro de luxo
A atual popularização dos elétricos fez a Renault mostrar o Henney Kilowatt em exposições
A Henney comprou uma centena de Dauphines da desistente Renault, sendo que apenas 47 deles foram transformados em elétricos, a grande maioria na versão antiga, de 32 volts. Desses, apenas 15 foram adquiridos
por particulares. O Henney Kilowatt não teve sucesso comercial, talvez pelo fato de custar o mesmo que um grande carro americano de luxo, mas serviu para manter viva a ideia dos carros elétricos. l Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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movidos a eletricidade Os elétricos já foram relevantes no cenário automobilístico Ao lado, o Porsche P1. Abaixo, o La Jamais Contente, o elétrico que rompeu a simbólica barreira dos 100 km/h
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vamos falar sobre carros elétricos. Assunto recente, tecnologia... velha! Velha, porém mais atual do que nunca. Não existem mais conversas sobre automóveis em que os elétricos não estejam incluídos. Se antes os elétricos representavam só a parte da conversa que dizia respeito à conservação de energia ou a sustentabilidade, hoje em dia até os papos mais empolgados sobre desepenho e potência bruta reverenciam a sua dominação sobre os motores a combustão interna. Mas vamos voltar no tempo, para mostrar como, mais de cem anos atrás, os carros elétricos já foram relevantes. Os primeiros automóveis que surgiram no fim do século 19 e início do século passado contavam com uma tecnologia ainda rudimentar, principalmente em relação aos motores a combustão. Por esse e outros motivos, os carros elétricos existiam aos montes, em especial nos Estados Unidos. Isso porque a técnica empregada nos motores elétricos era muito mais simples e de manutenção mais fácil, o que explica a entrada das mulheres no tão masculino mundo dos automóveis. Para conduzir um automóvel elétrico, bastava usar os comandos dos pés e controlar a direção, nada de virar manivela, acertar o ponto de ignição ou engatar marchas. Uma outra limitação do carro a combustão era o abastecimento, pois, antes de existirem os postos de combustível espalhados pelas rodovias, o motorista precisava comprar a gasolina em vasilhames, para encher seu tanque. Já o elétrico era só ligar a um ponto de energia e aguardar. É claro que existia a contrapartida. A autonomia das baterias era limitada e não havia como recarregá-las de modo fácil. Exatamente como acontece hoje, logicamente, só que com uma diferença de mais de um século de evolução, descontando-se, no entanto, o longo período em que os elétricos sumiram e deixaram os motores a combustão à vontade para receberem todas as atenções e inovações. Cultura do Automóvel Novembro 2021
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elétricos O primeiro veículo de propulsão elétrica remonta de 1835, quando Thomas Davenport instalou o motor em um veículo que se movia sobre trilhos, dessa forma o patenteando como uma locomotiva elétrica. O carro elétrico mesmo não tem um inventor específico, pois esse tipo de veículo estava sendo pesquisado e experimentado por muitas pessoas ao mesmo tempo, e em vários locais do mundo. A primeira bateria recarregável só surgiu em 1865 e tornou os veículos elétricos ainda mais práticos. Na última década do século, o norteamericano William Morrison montou um carro movido a eletricidade para participar de corridas, enquanto o nosso conhecido Ferdinando Porsche criava o P1, elétrico, o primeiro veículo com o seu nome. Foi o Porsche P1, também chamado de Egger-Lohner, que, dois anos depois, na virada do século, originou o primeiro automóvel híbrido. O Porsche Semper Vivus tinha um motor a combustão interna para recarregar as baterias e assim estender a autonomia do veículo. 44
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Como se estivesse antecipando o luxo que a marca Porsche teria muitas décadas depois, a evolução do Semper Vivus era um automóvel híbrido para quatro pessoas que tinha nada menos que quatro motores elétricos e dois motores a combustão. Entre 1902 e 1903 foram construídos 300 unidades desse carro, que ficou conhecido por Lohner Porsche. Paralelamente a essas criações austríacas, na França o jornal Le France Automobile lançou um desafio, para quem obtivesse a máxima velocidade com um automóvel. O belga Camille Jenatzy, então, foi o primeiro a ultrapassar a simbólica barreira dos 100 km/h, em 1899, atingindo, com seu carro elétrico La Jamais Contente, a velocidade de 105,882 km/h. Ele justificou o estranho nome como uma homenagem ao temperamento de sua esposa.
O Porsche Semper Vivus foi o primeiro automóvel híbrido
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O Lohner Porsche híbrido tinha quatro motores elétricos e dois motores a combustão interna
O panorama automotivo no início do século 20 já era um pouco diferente. Nos primeiros 20 anos, os elétricos ainda eram uma boa opção, com muitas marcas brigando por sua fatia de mercado. Eles chegaram a ter 30% de participação. Algumas marcas ficaram bem famosas, como a Detroit Electric e a
Baker, mas muitas outras vendiam seus elétricos, como as marcas Ohio, Fritchile, Woods e Studebaker. A maioria dos modelos eram extremamente compactos, alguns muito parecidos entre si. Até aquele carrinho do Vovó Donalda, que nós, mais velhos, aprendemos a gostar nos quadrinhos do Disney, era elétrico. Sendo um desenho, é difícil precisar qual seria a marca, mas é parecido com os modelos menores da Baker e da Detroit. A Detroit Electric produziu alguns elétricos de maior tamanho, mais ao final da época de ouro desse tipo de propulsão, e a maior diferença em relação aos modelos da concorrência era a utilização do eixo traseiro com diferencial, ligado pelo eixo-cardã ao motor elétrico. Os outros ainda usavam transmissão por corrente.
Oliver Fritchile vendia mais de 200 unidades por ano do seu “100-Mille-Fritchile”, que prometia rodar 100 milhas com uma carga das baterias. Acima, a sua garagem em Denver, no Colorado Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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elétricos Ao final da fase áurea dos automóveis elétricos, antes que a indústria do petróleo facilitasse a vida dos carros movidos a gasolina, alguns modelos de maior tamanho chegaram a rivalizar com o Ford Modelo T e outros concorrentes de sua época. O Detroit Electric era um deles, superior à maioria dos modelos elétricos devido ao eixo traseiro com diferencial.
Estive em vários museus nos Estados Unidos e sempre vi a grande importância que eles dão para seu passado elétrico. O Museu Henry Ford, em Detroit, não expões apenas Ford, e também não apenas veículos, é um verdadeiro celeiro da história dos objetos. Um exemplar de 1922 do Detroit Electric Modelo 90, para quatro passageiros, era o maior destaque entre os elétricos.
Até 1915, o Detroit Electric e seu eixo traseiro moderno foi um sério rival do Ford Modelo T 46
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Detroit Electric 1922 no Henry Ford Museum, em Detroit
Um Detroit Electric de 1920 participando de um raid pelo gelado estado de Washington Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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O simpático Nissan Tama, um automóvel elétrico de 1947
Os utilitários Gurgel E-500 e E-400. Acima, os vários protótipos do Gurgel Itaipu 48
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elétricos O Boyertown Museum Historic of Vehicles, na Pensilvânia, exibe um Detroit Electric Modelo 71 de 1919 e, ao lado, uma placa informa que Clara Ford, a esposa de Henry Ford, se recusava a dirigir um dos carros de seu marido e só dirigia esse. Menos conhecido, o Boyer mostra também um raro Milburn Light Electric Opera Coupé de 1921,
modelo de luxo entre os elétricos e mais focado nas motoristas femininas, incluindo, entre outros acessórios, vasos de flores e espelhos para retocar a maquiagem. O Milburn era a marca preferida do presidente Woodrow Wilson, que era uma espécie de embaixador da marca, e todos os seus agentes do serviço secreto tinham um.
No museu Boyer, um Milburn Opera Coupé 1921 e um Detroit Electric Modelo 71 de 1919
Mesmo com o quase fim dos carros elétricos, a partir de 1920, muitas marcas continuaram a produzir alguns modelos, que, infelizmente, não tinham mais condições de concorrer com os carros a gasolina. Durante muitos anos, viu-se poucas tentativas de retomar a ideia, a exemplo da Nissan, que, com o nome de Tokyo Electro Automobile, criou o simpático Tama, em 1947. Apenas nos anos 70 é que, com a crise do petróleo e com o início das medidas anti-poluição do planeta, que as principais marcas voltaram às pesquisas no setor. Até mesmo o Brasil deu a sua
contribuição, com o Gurgel Itaipu, em 1974, um pequeno protótipo movido a baterias comuns. Alguns anos depois, a ideia foi aplicada nos utilitários Gurgel E-400, que foram vendidos a empresas públicas. Daí para cá, é a história que estamos vivenciando, com projetos pontuais aqui e ali e, nos últimos 30 anos, colocados em prática de maneira irreversível. Isso nos fez conhecer novas marcas de automóveis, como ainovadora Tesla, e muitos novos modelos de propulsão elétrica, produzidos pelas mais conceituadas e tradicionais marcas de automóveis. l Cultura do Automóvel Dezembro 2021
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Mesmo dilema atual: como carregar?
Há mais de um século, os usuários de automóveis elétricos já tinha essa preocupação: como recarregar? Mas podemos ver, pelas fotos de época, que eles já tinham bons equipamentos para isso, fosse portátil, para levar a qualquer lugar, ou em estações específicas.
Os carros elétricos de Thomas Edison
Thomas Edison, além de ter idealizado muitas invenções que usamos até hoje, queria mesmo ter criado um automóvel elétrico viável, no início do século passado. Incentivou Henry Ford a manter seu sonho de ser um grande fabricante e, com ele, construiu vários modelos de carros elétricos que não passaram de protótipos. Os primeiros modelos, nas fotos de cima, são ainda do século 19 e o mais recente, ao lado, é de 1913. 50
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