Revista Cultura do Automóvel - edição 35 - maio/2022

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No 35 – maio 2022

cultura do

automóvel

automóveis e motocicletas

lançamentos - impressões - história

Encontro de Águas de Lindóia Gurgel, a história

og pozzoli

cugnot

lingotto


E DI TOR I

A

AL

Máquina do tempo

lguns amigos, às vezes, me perguntam qual é o motivo para que eu edite, todos os meses, esta revista Cultura do Automóvel. Além da satisfação de ver uma publicação da forma que eu sempre vi, desde pequeno, e sempre trabalhei, há 46 anos, contar histórias antigas é, como eu já disse muitas vezes, uma máquina do tempo. Interrompi por uns instantes a edição da reportagem sobre os carros da Gurgel – ou “do” Gurgel, como eu prefiro me referir –, para escrever este editorial, enquanto a máquina do tempo ainda me mantém nos anos 60. É que não faço apenas uma pesquisa para relembrar detalhes que se perderam na minha memória, utilizo exatamente a máquina do tempo para voltar ao passado e reviver tudo aquilo que vi ao vivo e está guardado na minha mente. E não é que

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a máquina funciona mesmo? nnn

O mesmo acontece sempre que eu revejo o filme Roberto Carlos a 300 km Por Hora. Ver como era o autódromo de Interlagos mais de 50 anos atrás, justamente quando eu comecei a frequentá-lo, me transporta para lá. Pena que ele não é mais assim. Virou um shopping center. nnn

E mesmo com os pés bem fincados na realidade atual, qualquer um pode sentir-se no passado, bastando visitar um encontro de veículos e outros objetos antigos, como o grande Encontro Brasileiro de Automóveis Antigos, que voltou a acontecer em Águas de Lindóia, depois de uma pausa de dois anos. Aproveite.


NESTA EDIÇÃO

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No 35 - Maio 2022

sumário

04 7o Encontro Brasileiro de Automóveis Antigos O tradicional encontro de Águas de Lindóia voltou

06 A história da Gurgel

Conheça o início da saga do criador, João Amaral Gurgel

26 A coleção mais tradicional do Brasil

Og Pozzoli colecionava automóveis e histórias

30 O primeiro automóvel do mundo

Nicolas Cugnot criou também o primeiro acidente

32 Uma fábrica vertical

Prédio da Fiat em Turim tinha cinco andares e uma pista

36 O museu do Centro Cultural Movimento

Acervo que conta histórias de motos em Socorro, SP

40 Chevrolet Monza faz aniversário

Está fazendo 40 anos que ele chegou para nós

44 Carros no cinema

Conheça o filme Roberto Carlos a 300 km Por Hora

Cultura do Automóvel Maio 2022

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encontro

Águas de Lindóia

O maior encontro de veículos antigos do Brasil

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Maio Maio 2022 2022 Cultura Cultura do do Automóvel Automóvel


encontro

Cultura Cultura do do Automóvel Automóvel Maio Maio 2022 2022

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águas de lindóia

O

s colecionadores estavam eufóricos. Sem poder participar do maior encontro de veículos antigos do Brasil, o EBAA – Encontro Brasileiro de Automóveis Antigos – desde 2019, devido à pandemia, eles tiveram muito tempo e paciência para preparar seus melhores veículos. É a sétima edição do evento com o time atual de organizadores, mas a cidade de Águas de Lindóia já tinha uma tradição de décadas nessa especialidade. Neste ano, cerca de 100 mil pessoas visitaram o evento, em cada um dos quatro dias de duração, para

ver os cerca de 800 veículos capacitados para receberem os prêmios destinados para o evento e que estavam espalhados em torno do lago da praça Adhemar de Barros. No total, chegaram à cidade cerca de 1.700 veículos antigos, que se posicionaram em uma área de 70 mil metros quadrados, no coração da cidade. Só a praça de alimentação tinha mais de 1.500 m2 e ainda havia 450 estandes para venda de peças, memorabilia, miniaturas, camisetas e antiguidades em geral. Conhecido como mercado de pulgas, para algumas pessoas esse é um dos maiores atrativos do evento.

Reuniram-se em torno do lago cerca de 800 carros, aptos para receberem premiações 6

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Cada vez mais, o universo dos veículos antigos, que encanta a todos, mesmo quem não participa ativamente, aumenta, pois não são mais apenas os colecionadores que levam suas relíquias para serem expostas ao público, mas também os profissionais do setor, como os comerciantes especializados, os donos de oficinas de customização e

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os fabricantes de equipamentos e produtos para a criação e restauração dos veículos. Isso ficou bem claro neste ano, com a participação desses profissionais em torneios como “Em Busca do Brilho Perfeito”, no qual os competidores disputam para ver qual é o carro com a melhor e mais brilhante pintura, assim como os cromados, a tapeçaria e detalhes.

Pontiac GTO 1967, um dos carros contemporâneos mais fantásticos de toda a mostra. Está na minha lista Cultura do Automóvel Maio 2022

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Outro torneio é a “Batalha dos Construtores”, no qual os participantes mostram seus projetos de customização. Participam dessa modalidade os veículos Hot Rod, Street, Customs e Modificados. O mercado de veículos clássicos esta vivendo uma fase de exageros, em especial o dos chamados novos clássicos, modelos nacionais dos anos 70 e 80, que agora já têm mais de 30 anos de fabricação. O grande interesse por eles faz com que os valores de comercialização desses modelos sejam muito altos, maiores, até, do que o de alguns clássicos atemporais. Motivo, também, de terem surgido dezenas de empresas especializadas na comercialização de veículos espalhadas pelo país, algumas delas indo além, pesquisando, procurando e comprando veículos mais antigos perdidos por aí. E os entregam na casa do cliente.

Ford F1 1951, o vencedor na Batalha dos Construtores

É claro que as principais empresas que trabalham dessa forma estavam bem representadas no 7o EBAA, com muitas barracas oferecendo veículos antigos para a venda. De acordo com a organização do evento, havia cerca de 400 veículos à venda. Aconteceu também durante o 7o EBAA o segundo leilão de veículos antigos de Águas de Lindóia.

Durante o evento também aconteceu o segundo leilão de veículos antigos de Águas de Lindóia 8

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O colecionador Norman Santos de Vitória, ES, rodou 1.150 km com seu Ford 1932 para chegar ao EBAA

Os participantes do encontro de Águas de Lindóia chegam de todas as partes do país, como o grupo que veio de Salvador, na Bahia, com 16 carros, um caminhão e uma cegonha. Essa turma do Veteran Car Clube da Bahia viajou 1.900 km para participar do evento. O prêmio de maior distância percorrida, no entanto, coube ao colecionador Norman Santos, que veio de Vitória, no Espírito Santo, percorrendo

1.150 km com um Ford de 1932. E a maior distância mesmo ficou com Fábio Luiz, que veio de Fortaleza, no Ceará, percorrendo 3.400 km com um Dodge Polara 1980.

Caravana do Veteran Car Clube de Salvador Cultura do Automóvel Maio 2022

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Hudson Hornet 1951, réplica do carro da Nascar

Muitos outros prêmios foram outorgados para os expositores. Na Batalha dos Construtores, o prêmio ficou com a equipe Ogros Garage, com o projeto do Ford F1 1951. Destacaram-se também, nessa categoria, o caminhão GMC COE 1954 de Eli Luiz, da Gabys Custom Cave, e o Ford Maverick do Roberto da SBS Performance. Na categoria Tributo, levaram o prêmio Odil Porto, com uma réplica do Fusca 1975 da Telesp, antiga viatura da Companhia Telefônica do Estado de São Paulo, e Eduardo Mina, com a réplica do Hudson Hornet 1951, da Nascar americana.

A réplica do Fusca 1975 da Telesp, antiga Companhia Telefônica do Estado de São Paulo, ganhou o prêmio Tributo 10

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O Cord 810 de 1936 do Fernando Leibel levou o prêmio Best In Show pré-guerra

O clube destaque foi Alfa Romeo Clube e havia três grandes prêmios “Best in Show 2022”, o nacional foi para o Alfa Romeo Fúria da coleção Automóveis no Brasil, de Leo Steinbruch, o pré-guerra foi para o belíssimo Cord 810 de 1936 de Fernando Leibel e o pósguerra foi para o

Plymouth Superbird 1970 de Juliano Gonçalves. Um dos homenageados da noite foi o colecionador Dante Forestieri, que tem mais de 40 anos dedicados aos carros antigos. Ele chegou em um Dodge Brother de 1929 e recebeu a homenagem das mãos de Mingo Abonante, organizador do EBAA.

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O Plymouth Superbird 1970 de Juliano Gonçaves também levou o prêmio Best In Show, na categoria pós-guerra

O Plymouth Superbird estava exposto junto com outros muscle-cars dos anos 60 e 70 12

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águas de lindóia O Encontro Brasileiro de Automóveis Antigos, que chamamos simplesmente de encontro de Lindóia, é, dos grandes, o mais democrático. Isso tanto para os participantes, como colecionadores e profissionais do ramo, quanto para o público, que tem na cidade de Águas de Lindóia um local muito aprazível em qualquer época do ano. No fim de semana do encontro, os carros antigos são uma atração a mais no passeio. E que atração! As barracas da feira de pulgas oferecem muitos objetos interessantes, antigos ou não,

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relacionados a automóveis ou não. Dificilmente alguém sai de lá sem levar alguma recordação. E para quem está procurando peças para sua restauração, é lá o local mais indicado para começar a procurar. Além dos veículos espalhados ao redor do lago, que são os clássicos premiáveis, muitos outros carros vão estacionando pela cidade, formando verdadeiras exposições paralelas. E muitos deles também estão à venda. Circular entre as ofertas, mesmo que não se pretenda comprar nenhum veículo, também é um ótimo divertimento.

Nas barracas da feira de pulgas é sempre possível achar objetos muito interessantes, antigos ou não Cultura do Automóvel Maio 2022

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Alfa Romeo foi o destaque deste ano

A coleção Automóveis no Brasil, iniciada pelo entusiasta Fabio Steinbruch e preservada por seu irmão Leo Steinbruch, após sua morte repentina, teve grande destaque no 7o EBAA. Leo montou até um lounge para happy hour, com direito a shows musicais. Os carros de sua coleção ficaram expostos nesse local e o Alfa Romeo Furia levou o prêmio máximo do evento, o Best In Show nacional. O Alfa Romeo Clube, fundado por Fabio, foi o clube destaque deste ano.

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No fim do último dia, apesar do cansaço de quem trabalhou por quatro dias (sem falar na preparação), ou mesmo de quem apenas circulou pelas atrações, a certeza é que todos já estarão se preparando para o próximo ano. l Cultura do Automóvel Maio 2022

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história

orgulho brasileiro A marca Gurgel se tornou sinônimo de automóvel nacional Ao lado, João Amaral Gurgel no protótipo que tinha suas iniciais como nome. Abaixo, com os mini carros Karmann Ghia e Gurgel Jr. II

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título não é exagero. Tenho certeza de que os novos colecionadores de automóveis antigos, especialmente aqueles que se dedicam aos nacionais, conhecem, e muito bem, o Gurgel. Mas podem não conhecer a história da Gurgel, ou mesmo a história “do” Gurgel, João Conrado do Amaral Gurgel, o criador da saga que leva o seu nome. Lembro vagamente do João ainda muito pequeno, fui com meu pai ver os mini carros que ele produzia em uma fábrica na zona sul de São Paulo. Era o Gurgel Jr. II, uma belezinha de mini carro, que fazia qualquer criança, como eu, sonhar de desejo. Era uma grande evolução do Gurgel Jr., versão com carroceria do Mo-Kart de competição, criado em 1960 por Silvano Pozzi e exposto no Salão do Automóvel de São Paulo, nesse mesmo ano. Antes do Gurgel Jr. II, o Gurgel II foi construído, em 1961, mas não passou de protótipo, assim como o JAG, que tinha esse nome devido às iniciais do criador. Gurgel tinha, desde 1964, uma revenda Volkswagen, a Macan, e também com esse nome continuou a fabricar mini carros, como o mini Karmann Ghia, outra belezinha que fazia as crianças suspirarem. Mas seu futuro estava mesmo com a VW: mediante acordo com o grande fabricante, lançou, no Salão do Automóvel de 1966, o Gurgel 1200, a partir de uma ideia brilhantemente simples: carroceria leve de fibra de vidro sobre o chassi Volkswagen. O Gurgel 1200 tinha quatro versões, Augusta, Ipanema, Enseada e Xavante, sendo que três delas fizeram enorme sucesso no salão. Cultura do Automóvel Maio 2022

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história

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No Salão do Automóvel de 1966, o estande da Macan exibia o Gurgel Ipanema, à esquerda, e o Xavante, à direita

O Gurgel Ipanema e o Xavante foram expostos no estande próprio do fabricante, ainda a Macan, e o Gurgel Enseada ganhou lugar de destaque, no estande oficial da VW. O Gurgel Enseada era o mais estiloso, com bancos de vime estilo Saint Tropez, o Xavante o mais rústico, idealizado para trabalho de jipe, o Augusta era a versão de luxo, com rodas cromadas mais largas e calotas, e o Ipanema foi o que se consolidou, passando por muitas melhorias em 1969, quando Gurgel trocou a Macan pela Gurgel Veículos Ltda. Foi quando chegou o Gurgel Ipanema QT, que podia ter motores de 1.300 ou 1.500 cm3. 18

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No estande da Volkswagen, o Gurgel 1200 Enseada


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história

O Gurgel Bugato, vendido em kits para montar em casa, era realmente muito estranho. Hoje, muito raro

Mais uma vez a minha máquina do tempo entra em ação e eu me lembro de quando o primeiro jipinho Gurgel chegou em casa, para teste na revista Quatro Rodas. Era um Ipanema, já com muitas alterações em relação ao Gurgel 1200 de três anos antes. Expedito Marazzi descreve essa novidades em sua avaliação: “o recorte dos para-lamas é diferente, assim como a parte inferior das laterais, há tomadas de ar nos paralamas traseiros e a tampa do motor ficou maior. O parabrisa está preso a articulações mais à frente e o painel de instrumentos é novo e mais bonito do que o anterior”. Foi nessa ocasião que o jovem Expedito aprontou uma das suas, em nome da reportagem: desceu as íngremes escadas da praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, o que rendeu uma fotografia muito instigante de autoria de Lew Parrella, aquele mesmo que comprou o Puma DKW do Expedito. Chegando ao pé da escada, policiais que estavam por perto o aguardavam, com caras de poucos amigos. Quase foi preso...

Nem preciso dizer que tanto ele quanto eu, seu carona mais assíduo, curtimos muito o jipinho e, desde então, fiquei fã da marca. Jamais esqueci daquelas portas de plástico de abriam e fechavam na vertical, comandadas por alavancas. Algum tempo depois chegou outro jipinho na nossa garagem, o Gurgel Bugato. Estranhíssimo, tinha uma grade frontal que lembrava a Rural Willys e o motor era exposto, na traseira. Mas o motor tinha uma cobertura parecida com um baú, que não abria, apenas era retirada, e era presa com cinturões de couro. O Gurgel Bugato era vendido em kits para montar, por isso cada um era diferente do outro, nos detalhes. O que ficou na minha garagem era da frota da fábrica e era o mesmo que participou do filme Roberto Carlos a 300 Km Por Hora, pilotado por Erasmo Carlos (veja reportagem sobre o filme nesta edição). Na hora não gostei do jipinho, mas, devido à sua extrema raridade – foram vendidos cerca de 20 kits, apenas –, gostaria muito de rever um desses, ao vivo. E, quem sabe, pilotálo. Quem será que tem um? Cultura do Automóvel Maio 2022

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história

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João Gurgel demonstrando a capacidade de seu jipinho X-10, na pista da fábrica, em Rio Claro, SP

Daí em diante, João Gurgel entrou em um crescendo de popularidade e sucesso, com seus jipinhos baseados na mecânica VW a ar. A fábrica mudou para o interior paulista, na

cidade de Rio Claro, e cresceu. Seguindo pelo caminho dos jipes utilitários, foi o Xavante que deu nome à linha, passando a chamar Xavante XT, depois X-10.

Raio-X do Gurgel X-10 20

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gurgel O Gurgel X-10 tinha a proposta da extrema aventura, inclusive vinha com pás incrustradas nas laterais, acima das porta deslizantes, e com o estepe sobre o capô dianteiro. O sucesso total veio com o X-12, mais robusto e com linhas de carroceria mais agradáveis. As portas agora abriam da forma convencional e

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ainda havia algumas versões com as pás presas nelas. O Gurgel X-12 ficou muito tempo em produção, sempre evoluindo e com várias versões adaptadas para cada tipo de utilização. O Gurgel X-12 TR tinha capota rígida e, na minha opinião, era o mais bem resolvido deles.

Gurgel X-12 em ação

Gurgel X-12 com as pás nas portas

Gurgel Xavante XTC de 1974 Cultura do Automóvel Maio 2022

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história

gurgel

Este Gurgel quase ninguém viu

João Conrado do Amaral Gurgel tinha uma mente à frente de seu tempo. O Gurgel II, exibido no segundo Salão do Automóvel, em 1961, provavelmente não se tornou comercial porque era muito avançado, para a época. O volante podia ser deslocado para os dois lados e o câmbio tinha polias variáveis, com o mesmo princípio dos câmbios CVT atuais. O carrinho, realmente, tinha um visual meio espacial.

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gurgel

história

Gurgel Itaipu, na versão inicial, de 1974, e na versão utilitário, que foi utilizada por algumas empresas públicas

O Gurgel Carajás, em 1984, era uma prévia dos utilitários esportivos populares que viriam muito tempo depois

Para João Gurgel, o sucesso com os jipinhos não era suficiente, queria mais. Ainda nos anos 70, criou alguns modelos elétricos, como o Itaipu, em 1974, e o utilitário E-400, em 1980, que chegou a ser vendido para empresas públicas. Se os carros elétricos ainda têm muito a evoluir nos dias de hoje, quarenta e poucos anos atrás seria adequado dizer, até, que eles não tinham chance. Por isso, Gurgel

continuou firme nos modelos com motores a gasolina, mesmo com o álcool praticamente dominando o mercado dos automóveis regulares. Em 1981, ele apresentou o Xef, sedã de duas portas e três lugares, bonitinho, mas que não teve sucesso comercial. Em 1984 foi a vez do Carajás, uma peruona com motor VW dianteiro refrigerado a água e câmbio junto ao diferencial traseiro. Esse foi bem recebido pelo mercado. Cultura do Automóvel Maio 2022

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história

gurgel história antiga

Esta historinha eu demorei uns 20 anos para contar para alguém. Fernando, filho do João Gurgel, era meu colega na Escola Politécnica da USP e, um dia, chamou a turma para visitar a fábrica de seu pai, em Rio Claro. Lá chegando, o encontramos se divertindo prá valer com um chassi sem carroceria, só banco e volante, na pista de terra da fábrica. Foi quando o João nos alertou que aquilo era muito perigoso, pois o veículo pelado não oferecia nenhuma proteção. E foi embora. Foi quando pegamos um X-12 militar, que tinha o para-brisa basculante, e fomos para a pista. Éramos cinco e, uma vez cada um, assumia o volante para fazer algumas peripécias. Na vez do, bem, vamos chamálo de “Gaivota”, eu fiquei atrás, bem no

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meio e com as pernas para a frente. Aquelas duas alavancas do Seletraction, que freava, cada uma, uma roda traseira, era, então, uma tentação, pois ficavam ao alcance dos meus pés. Para “ajudar” o piloto, eu apertava uma vez uma, outra vez outra. E o jipinho dançava na terra. Até que apertei, sem querer, a alavanca errada, e lá fomos os cinco rolando na terra. Disfarça aqui, uma lavadinha acolá, fomos embora com o nosso piloto capotador se achando o pior dos motoristas. Vinte anos depois, em uma aula de pilotagem em Interlagos, resolvi contar a ele, agora um dos instrutores do curso, que eu estava “pilotando” o Seletraction na hora da sua “barbeiragem”. Uma semana sem falar comigo. Até a aula seguinte.


gurgel

história

Gurgel BR-800, Supermini e MotoMachine, os três últimos modelos de carros compactos feitos pela Gurgel

Mas foi em 1988 que João Gurgel deu a cartada da sua vida, lançando o BR-800, pequeno carro urbano com motor dianteiro de dois cilindros contrapostos refrigerado a água. Abriu a empresa e o carro era vendido apenas aos novos acionistas, juntamente com o pacote de ações. Em 1991, ele foi substituído pelo Supermini e, antes dele, vendeu

alguns MotoMachine, ainda menor, mas que dependia da nova fábrica no Ceará para sua produção. Foi essa fábrica que sugou todos os seus recursos, depois que o governo cearense não honrou um acordo de cooperação que viabilizaria sua construção e posterior produção dos veículos. Assim, a Gurgel foi à falência em 1994. l Cultura do Automóvel Maio 2022

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coleções

Og Pozzoli

E a sua grande coleção Og Pozzoli em sua casa em Cotia, nos arredores de São Paulo. Lá, ele construiu várias garagens, para abrigar os seus quase 200 automóveis

E

u sempre quis fazer uma reportagem com a coleção de automóveis do Og Pozzoli, cheguei a propor a ele escrevermos um livro com as suas histórias, que eram muitas, e muito interessantes. Sei disso porque sempre que alguém o visitava, não saia de lá sem café com biscoitos e algumas boas histórias. Teve um jornalista, no entanto, que chegou primeiro: Expedito Marazzi escreveu a primeira reportagem com o colecionador em 1974, para a revista semanal Fatos & Fotos. Também sei disso porque ele me dizia sempre que o encontrava: “teu pai foi a primeira pessoa a fazer uma reportagem comigo!” Og, além de um gentleman, era também um bom anfitrião, sempre recebendo grupos de amigos, e amigos dos amigos, que, invariavelmente, ficavam fascinados com o seu acervo. Visitando a sua coleção, fica clara a sua preferência pelos automóveis norte-americanos, 26

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muitos deles adquiridos de grandes personalidades públicas, mas ele tinha também muito apreço pelos bons carros europeus. A maior parte de seu acervo de quase duas centenas de automóveis ficava em sua casa, nos arredores de São Paulo, cujo enorme terreno lhe permitiu construir várias garagens, cada uma com modelos de épocas e estilos parecidos. No fundo de uma delas, as famosas jardineiras, espécie de ônibus aberto nas laterais, todas de madeira. Uma delas chegou a interessar Gianni Agnelli, presidente da Fiat italiana. Na recusa, Og explicou que não faria nada a mais com aquele milhão de dólares oferecido que não faria com o seu. E ainda ficaria sem a jardineira. Og faleceu em 2017 e a sua coleção foi transferida para a Fundação Lia Maria Aguiar, que a exibirá em um museu a ser construído na cidade de Campos do Jordão. l


coleções

Os carros de Og ficavam todos sobre cavaletes e dispostos em ordem cronológica de fabricação

Um dos meus preferidos era este Buick Sedanette 1941, com motor de oito cilindros em linha e dois carburadores Cultura do Automóvel Maio 2022

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coleções

og pozzoli

Quem assistiu o filme Sabrina, com Humphrey Bogart, reconhecerá o estilo de uma das garages de Og

Em cada garagem, além dos carros, a memorabilia exposta nas paredes era outro item de grande interesse 28

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og pozzoli

coleções

Cada uma das várias garagens na casa de Og abrigava uma época e um estilo de automóveis

A ala das jardineiras era a mais interessante da coleção, com muitas histórias. Uma delas atiçou a cobiça da Fiat

A primeira reportagem com a coleção do Og foi feita por Expedito Marazzi, em 1974, para a revista Fatos & Fotos Cultura do Automóvel Maio 2022

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história

O primeiro automóvel do mundo Também causou o primeiro acidente do mundo, em 1770

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utomóvel = auto, por si só, + móvel = que se move. Ou seja, o automóvel ganhou essa denominação por se mover sem ajuda externa, que era feita, anteriormente, por tração animal. O automóvel mais lembrado como sendo o pioneiro é o Benz Patent Motorwagen, de 1886, mas esse foi o primeiro a ter um motor a combustão interna. Mais de um século antes, o inventor francês Nicolas-Joseph Cugnot circulou com seu veículo automotor, que era movido por um motor a vapor. Ou seja, um motor a combustão externa. O automóvel, na verdade, era uma enorme carroça de três rodas de 2,5 toneladas, capaz de rodar a 3,6 km/h e transportar a artilharia do exército. 30

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A enorme caldeira à frente da roda dianteira tornava muito difícil dirigir o carro, de forma que, conta-se, ele foi o protagonista do primeiro acidente automobilístico da história, quando o seu condutor perdeu o controle e derrubou um muro. Se não tem uma fotografia da época, há gravuras desenhadas a respeito. O modelo original foi considerado uma grande invenção, na época, apesar de pouco utilizado na prática, e por causa disso, em 1800 ele foi incorporado ao Musée dês Arts et Nétiers, onde se encontra até hoje. Em 2010, uma réplica do carro de Cugnot foi construída e exibida no Paris Motor Show, funcionando convenientemente, e reexibida neste ano, no Salão Retromobile. l


história

Reprodução desenhada da cena onde o carro de Cugnot perde o controle e derruba um muro

Este é o primeiro automóvel do mundo, o original de 1770, ainda exibido no Musée dês Arts ei Nétiers, em Paris Cultura do Automóvel Maio 2022

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Uma fábrica vertical O prédio da fábrica da Fiat em Turim tinha cinco pavimentos e uma pista de testes na cobertura

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a infância, quando ainda brincava com carrinhos da Matchbox, eu costumava construir maquetes de prédios de cartolina ou papel-cartão, que geralmente eram garagens ou oficinas, na mesma escala das miniaturas. E todas as maquetes tinham uma característica comum, que era um estacionamento na cobertura. Notei, anos depois, com a popularização dos shopping centeres, que, para aproveitar melhor os espaços, a cobertura passou a ser utilizada para estacionamento. Mal sabia eu, naquela época, que já existia um prédio na Itália, cuja construção começou em 1916, em

que os automóveis subiam até a cobertura. E mais: lá eles faziam os testes finais com os carros que eram produzidos. Esse é o Edifício Lingotto, inaugurado em 1923 para abrigar a nova fábrica da Fiat, em Turim. Por uma imposição de espaço, uma vez que o terreno é cercado de linhas férreas, a fábrica foi projetada para ter cinco pavimentos, mais a pista na cobertura, sendo que os automóveis lá produzidos iam subindo os andares à medida em que recebiam componentes, até chegar no topo. Em seu tempo, o Edifício Lingotto foi a maior fábrica de automóveis do mundo e lá foi produzido o Fiat Topolino, de 1936. l

O Edifício Lingotto tinha uma área total de um milhão e meio de metros quadrados, com produção e escritórios Cultura do Automóvel Maio 2022

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No local de experimentação dos veículos produzidos, atualmente são feitos eventos, como essa corrida de scooter 34

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Atualmente o Edifício Lingotto abriga um hotel, um centro comercial, um teatro e um shopping center Cultura do Automóvel Maio 2022

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Passeio histórico Museu de antigas, bom pretexto para ir para a estrada

O museu de motocicletas do Centro Cultural Movimento foi instalado no prédio tombado da antiga rodoviária

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que faz um motociclista nos fins de semana? Vai para a estrada, logicamente. Não todos, mas muitos. E os que não vão, gostariam de ter ido. É senso comum entre motociclistas que a estrada é o melhor lugar para curtir seus brinquedos, sejam novos, clássicos, grandes ou pequenos. E, para um bom pretexto, que não seja o clássico café na estrada, é o museu do Centro Cultural Movimento, em Socorro, interior paulista. Iniciativa do motociclista Carlos Coachman, o Carlãozinho, que traz em seu sangue as motocicletas, a sua história e a enorme vontade de contá-la, o museu foi instalado no prédio tombado da antiga rodoviária da cidade, que tem caráter histórico. Carlãozinho, que é o curador do 36

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acervo, conta várias histórias por meio da exposição de motocicletas, roupas de pilotos, documentos e troféus, o que, entre os motociclistas mais antigos, causa uma verdadeira viagem ao passado. Entre as maiores curiosidades, está uma BMW R35 de 1938, utilizada pelo exército alemão na Segunda Guerra, uma Triumph Type H de 1915, esta usada na Primeira Guerra, e uma réplica da Mobylette com a qual o piloto Alexandre Barros iniciou sua carreira nas pistas. Conhecer o Centro Cultural Movimento, então, será uma atração a mais para os grupos que costumam se aventurar pelas estradas nos fins de semana, até poque ele fica exatamente na região preferida pela maioria dos viajantes. l


museu

O acervo do museu

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Duas Rodas

e uma Nação Os planos do livro são tão antigos quanto os do museu

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museu do Carlãozinho, no Centro Cultural Movimento, em Socorro, SP, foi o local escolhido para que ele lançasse o livro que ele planejou décadas atrás, Duas Rodas e uma Nação. Nada mais apropriado, o clima de história misturada com as motocicletas do local forneceram o ambiente ideal. Em seu livro, o curador do museu conta a história da motocicleta em nosso país, incluindo os personagens e as marcas que ajudaram a construir esse legado. De acordo com Carlos Coachman, autor e coordenador editorial da obra, “esta é a realização de um sonho, uma missão que teve início lá atrás, em parceria com meu pai, Carlão, que infelizmente não poderá ver sua conclusão, mas que esteve presente em parte dos desafios e me inspirou a fazer acontecer, assim como tantos amigos e parceiros que montaram na garupa nesta jornada.” Sem pretensão de ser o manual definitivo do assunto, o livro é enriquecedor para a cultura nacional como um todo, pois conta com registros que retratam desde o surgimento da motocicleta e das competições em duas rodas no país até a atualidade, em mais de 120 38

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Carlãozinho no lançamento do livro em Socorro

anos de história, um pouco de nostalgia, claro e muita evolução. Um segundo evento em São Paulo, na Coleção Remaza, reforçou a chegada da obra, com uma recepção que reuniu personalidades da história da motocicleta em um local também perfeitamente conectado com o início da popularização da motocicleta no Brasil. A Coleção Remaza reúne motocicletas da sua fase áurea no país, os anos 70, quando as marcas japonesas invadiram o mercado e conquistaram os novos (e velhos) motociclistas. l

Carlãozinho no lançamento do livro em São Paulo


livro

O acervo da Coleção Remaza

A Coleção Remaza mostra as primeiras motocicletas japonesas que chegaram ao país e que nos conquistaram

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história

Chevrolet Monza comemora 40 anos

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empre existiram os motoristas fiéis a marcas, daquele tipo que trocavam seus carros quase novos por outro igual, a ponto de os vizinhos às vezes nem perceberem a troca. Eu tinha um tio que trocava de Volkswagen Parati todos os anos, religiosamente. Seu filho herdou uma dessas peruas e se tornou o segundo paratimaníaco da família. A marca VW deve ter sido a que mais conquistou seguidores, desde o tempo dos fusquinhas. A Chevrolet, no entanto, nunca ficou muito atrás, desde 1969, com o lançamento do primeiro Opala. 40

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Foi esse modelo, inclusive que mais colecionou fiéis, em toda a sua longa vida. Ou seria o Monza? Este ano o Chevrolet Monza completa 40 anos desde o seu lançamento e os colecionadores estão comemorando. O carro tem, sim, uma boa posição na história. Sua chegada, em 1982, foi muito celebrada, por várias razões. Foi o primeiro modelo mundial a ser produzido no Brasil, igual ao similar que já existia na Europa e que havia sido reestilizado, para sua terceira geração, apenas seis meses antes de ser lançado aqui.


história

A versão de três volumes e quatro portas fez o Monza ser líder por três anos seguidos

Outra razão foi a sua modernidade, com linhas, detalhes e soluções técnicas inovadoras, como o motor dianteiro transversal, antes visto apenas no Fiat 147, que era um carro compacto e popular. O Monza mostrou que essa configuração era viável também em carros maiores. O primeiro Chevrolet Monza veio com carroceria hatch de duas portas, um formato já não muito

desejado no mundo, mas ainda usual no Brasil. Apesar disso, e também do fraco motor 1.6 e do câmbio de apenas quatro marchas, imediatamente o Monza se tornou o ícone do status, naquela época fortemente representado pelo automóvel que cada um possuía. Mesmo assim, ele precisava melhorar, e isso aconteceu em muito pouco tempo após o lançamento.

O Monza Classic foi lançado em 1987 Cultura do Automóvel Maio 2022 41


história

chevrolet Monza

Chevrolet Monza 500 EF, uma homenagem à vitória de Emerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis

O último Monza foi produzido em 1996 42

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chevrolet monza

história

A reestilização de 1991 deu uma sobrevida ao Chevrolet Monza

No ano seguinte, o Chevrolet Monza ganhou motor 1.8 e a bela carroceria de três volumes (como a chamávamos, naquela época), inicialmente de quatro portas e depois com duas portas. O hatch sobreviveu até 1986. A fórmula do sucesso estava feita: carro bonito, confortável, espaçoso e com bom desempenho, que se tornou líder de vendas por três anos consecutivos. A versão esportiva S/R do Monza veio em 1985, apenas na carroceria hatch, com grande apelo visual e detalhes exclusivos, como as rodas e os bancos Recaro, e uma pitada de mais desempenho, com carburador de corpo duplo e câmbio de cinco

marchas de relações mais curtas. Antes de passar por uma profunda reestilização, o Monza ganhou em 1987 motor 2.0 e, em 1988, foi apresentado o 500 EF, o primeiro Monza com injeção de combustível. Era uma homenagem ao piloto Emerson Fittipaldi, que tinha acabado de vencer as 500 Milhas de Indianápolis. O Chevrolet Monza totalmente reestilizado chegou em 1991 e foi apelidado de Tubarão (um apelido comum a vários modelos, como o Chevette e o Puma). O novo Monza não era só diferente, mas também mais aerodinâmico, o que lhe rendeu uma pequena sobrevida. O último Monza foi produzido em 1996. l Cultura do Automóvel Maio 2022 43


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Carros na telona Roberto Carlos a 300 km Por Hora

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ificilmente veremos o filme Roberto Carlos a 300 km Por Hora nas telonas novamente, mas ele já foi um dos campeões de bilheteria entre os títulos nacionais no início dos anos 70. Pudera, o rei Roberto Carlos estava em um momento de grande popularidade, na época, e seu gosto pelos automóveis, que era conhecido por seu público mais fiel, ajudaram o filme ser o mais assistido do ano de 1971. Mesmo aqueles que já não curtiam o cantor nessa fase, em que ele estava trocando o gênero Jovem Guarda para o romântico, o filme agradou vários públicos, em especial àquele que curtia corridas de automóveis. Isso mesmo sendo uma inocente ficção, já que, para os entendidos da competição, nem naquele tempo as situações apresentadas seriam factíveis. Atualmente o filme do Roberto se tornou cult, tanto pelas músicas como pelos carros, e pode ser assistido nos canais fechados de televisão. O rei Roberto Carlos incorpora o mecãnico Lalo, que sonha ser piloto de corridas e conquistar a namorada do patrão 44

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Gurgel Ipanema QT, dirigido pela personagem da atriz Libânia Almeida, um dos destaques automobilísticos do filme

A chamada para os jornais destacava os atores que contracenaram com Roberto Carlos Cultura do Automóvel Maio 2022

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roberto carlos

Da trilogia de Roberto Carlos, A 300 km Por Hora foi o último, de 1971, e é, sem qualquer dúvida, o melhor deles. Os dois primeiros, Em Ritmo de Aventura, de 1969, e O Diamante Cor-De-Rosa, de 1970, eram mais veículos de promoção do cantor do que filmes sérios. Mas são boas diversões, principalmente para os seus fãs. Roberto Carlos a 300 km Por Hora tem um bom enredo e uma certa magia, principalmente visto

mais de 50 anos depois, pois resgata os ambientes e as atitudes características daquela época. Para nós, amantes de carros, o ambiente a ser lembrado é mesmo o Autódromo de Interlagos, cru e maravilhoso, acabado de sair de uma reforma que durou dois anos. O filme mostra os boxes em novo local (antes eles ficavam na subida do Café, bem ao lado da pista) e as primeiras arquibancadas, ainda inacabadas.

A mocinha do filme, Libânia Almeida, com sua Honda CB 350 customizada, e no sonho de Roberto Carlos

Roberto Carlos não era ator e isso pode ser comprovado nos dois filmes anteriores, mas podemos considerar a sua atuação como muito boa, em A 300 km Por Hora, vivendo um mecânico pobre e tímido que sonha ser um piloto de corridas. Além da pista, relembramos alguns locais da época, como a revendedora de motocicletas Motonasa e a concessionária Chrysler Ibirapuera Veículos. De uma saiu a motocicleta da mocinha do filme, uma Honda CB 350 com equipamentos que se usavam na época, como um guidão bem alto e um enorme e cromado “santo antônio”, e da outra todos os carros da Chrysler, que acabava de 46

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assumir a produção da Simca e usou o filme como plataforma de divulgação dos seus Dodge Dart e Charger. Até os caminhões que aparecem no filme são Dodge. A motocicleta era pilotada pela atriz Libânia Almeida, talvez a pior atuação de todo o filme, no papel de Luciana, a namorada do piloto. É por ela que Lalo, o personagem de Roberto Carlos, se apaixona. Erasmo Carlos também está muito bem no papel de Pedro Navalha, bem mais à vontade do que Roberto. Até mesmo a bonequinha Cristina Martinez, no papel da Neusa, namorada do Erasmo, estava muito bem em frente às câmeras.


a 300 km por hora

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Esse tipo de chamada geralmente ficava nos saguões dos cinemas, para anúncio a espectadores de outros filmes

Um grande trunfo do filme é a presença de atores consagrados como Otelo Zeloni, em seu último filme, Flávio Miglaccio e o engraçado Mario Benvenutti, em muitas cenas importantes. E também Raul Cortez, como o patrão/piloto, canastrão como sempre foi (mas com boa atuação), Reginaldo Faria e Walter Foster. Joberte dos Santos, locutor oficial de Interlagos, na época, também está no filme, interpretando a si mesmo. Quem tem menos de 40 anos provavelmente nunca tinha ouvido falar nesses nomes, mas os mais “antigos” certamente lembrarão deles com carinho.

Raul Cortez em seu Dodge Dart e durante as filmagens Cultura do Automóvel Maio 2022

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Alguns carros do filme: Gurget QT, da Luciana, e o Dodge Charge R/T “roubado” do personagem de Reginaldo Faria

Estou bancando aqui o crítico de cinema, comentando o trabalho dos atores, mas o assunto principal nesta nova seção da revista é mesmo falar sobre os automóveis do filme. Dois Dodges são usados, o Charger R/T que Roberto Carlos “rouba” de Reginaldo Faria para treinar em Interlagos (que, estranhamente, está sempre vazio e disponível), e o Dodge Dart de Raul Cortez. O carro de corridas de seu personagem, o piloto Rodolfo Lara, é um protótipo Lola/Avallone, também com motor Chrysler.

Dois jipes da Gurgel são usados no filme, um Ipanema QT, que tempos depois evoluiria para o Xavante e o X-12, o veículo de maior sucesso da marca brasileira, e o estranho e quase desconhecido Bugato. Uma curiosidade interessante, de cunho pessoal, é que os dois jipes Gurgel passaram um bom tempo na garagem da minha casa e eu acabei rodando bastante com eles. Por isso, o Bugato não é desconhecido para mim, mas sempre foi estranho. O motor traseiro ficava à mostra, em algumas unidades, parcialmente

Algumas cenas do filme nas quais podemos ver o Autódromo de Interlagos em 1971 48

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a 300 km por hora

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Duas cenas de contos de fadas, no final do filme: Roberto com o Gurgel Ipanema QT e Erasmo com o Gurgel Bugato

coberto, em outras e com uma tampa removível, no caso daquele que ficou na minha casa (o mesmo que Erasmo Carlos passeia no bosque, no final do filme). Já o Gurgel QT era mais comum, chegando a disputar a preferência entre os buggies, em alta naquela época. Desse jipinho, jamais poderia me esquecer da porta, que abria para baixo por meio de uma alavanca interna. A versão militar tinha as famosas pás encaixadas nas duas laterais do veículo. As cenas da corrida foram filmadas no ano anterior, na Copa Brasil, e

intercaladas com cenas que simulam a disputa de Roberto Carlos, com o Avallone A11, e o Tite Catapani, interpretando um piloto inglês, no Lola T-210 amarela. O próprio Antônio Carlos Avallone interpreta o piloto italiano Antonioni, pilotando um Lola T-70, em cenas até engraçadas. O mesmo carro, só que pintado de outra cor, também aparece nas cenas da corrida, pilotado por Wilson Fittipaldi, mas isso acontece porque ele participou da corrida verdadeira no ano anterior e foi repintado para as cenas do filme. Cultura do Automóvel Maio 2022

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Cena final da corrida: Roberto Carlos disputa com Tite Catapani, que interpreta um piloto inglês

Roberto Carlos com o diretor do filme, Roberto Farias, e Antônio Carlos Avallone, interpretando o piloto italiano

Muitos pilotos que correram na Copa Brasil de 1970 estão no filme, como Emerson Fittipaldi, que venceu a prova com um Lola T-210, Norman Casari, com um Lola T-70 e Jayme Silva, com um Fúria/FNM. A prova tinha ainda Toninho da Mata com um Alfa Romeo P33, Camillo Christófaro e sua carretera, 50

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Eduardo Celidônio e seu Snob’s Corvair, Salvatore Amato com seu protótipo Amato-Ford e Anísio Campos com um AC-Porsche. Para quem ainda não viu, vale a pena assistir ao filme Roberto Carlos a 300 km Por Hora, seja pela diversão ou simplesmente para rever todas essas memórias. l


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