TFG FAU USP Gabriella Pimenta

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Casas em Encostas Ensaio Projetual de Habitação em Mauá Gabriella Pimenta - TFG FAU USP 2016



Gabriella de Mattos Pimenta

CASAS EM ENCOSTAS ENSAIO PROJETUAL DE HABITAÇÃO EM MAUÁ

Trabalho Final de Graduação Orientadora: Profª. Karina Oliveira Leitão Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Julho de 2016


AGRADECIMENTOS


AGRADECIMENTOS Aos meus pais, sem os quais não teria chegado onde cheguei. Ao meu amado Guilherme, que me animou nas horas difíceis. Aos meus amigos da faculdade, em especial Camila Camara e Marina Bueno, que me ajudaram a dar um passo de cada vez para chegar no fim dessa jornada. À minha muito querida amiga Clara, sem a qual este caderno não teria acontecido. Aos professores que acreditaram na minha ideia e que me orientaram para que o trabalho se concretizasse.


APRESENTAÇÃO

Figura 1 - Foto do deslizamento em Mairiporã (Fonte: Eduardo Anizelli/Folhapress)

Figura 2 - Foto do deslizamento em Paraisópolis (Fonte: Mario Ângelo/SigmaPress)


CINCO CORPOS SÃO ACHADOS E TOTAL DE MORTOS EM CHUVAS DE SP CHEGA A 25 Folha de São Paulo, 14/03/2016

DESABAMENTO DE 20 CASAS EM PARAISÓPOLIS DEIXA DOIS FERIDOS Estado de São Paulo, 05/06/2016

As manchetes ao lado representam um cenário que infelizmente está se tornando comum para o cidadão brasileiro: intensas chuvas provocando desastres naturais que afetam a vida de muitas de pessoas praticamente todos os anos. Desastre é o resultado do impacto de um fenômeno natural extremo ou intenso sobre um sistema social, e que causa sérios danos e prejuízos que excedam a capacidade dos afetados em conviver com o impacto (Saito, 2008). No Brasil ocorrem desastres naturais porque há condições para que os mesmos ocorram, como expõe Maricato (2016): Sem subsídios, sem regulação da terra urbana e da especulação fundiária, resta à população pobre no Brasil, maior parte da população, continuar a ocupar irregularmente terras por meio das favelas ou da compra de lotes ilegais. A dimensão quantitativa das ocupações ilegais é absolutamente desconhecida pelo Estado, suas autoridades e mídia. A cada ocupação de terra situada em área que interessa ao mercado ou contraria interesses específicos, há uma verdadeira comoção em nome do direito à propriedade. O Judiciário apressa-se em dar a reintegração de posse sem observar o direito à moradia previsto na Constituição como absoluto. [...] à população pobre sem acesso ao mercado residencial privado ou aos recursos públicos não resta outra opção senão ocupar onde consegue e aí construir suas casas com as próprias mãos.

O presente trabalho aborda uma questão que há muito tempo é tratada no Brasil, a da ocupação irregular de encostas. Tendo com o esse típico cenário desafiador no Brasil, o trabalho aqui apresentado explora e ensaia uma solução projetual para uma situação específica que busca reduzir os riscos de desastres naturais acontecerem no futuro. Não existe uma solução ideal e definitiva para esse problema, cada caso deve ser avaliado individualmente para haver uma solução formalmente proposta. No entanto, é importante se explorar abordagens de projeto que rumem para uma exploração do problema da habitação em encostas, e que possibilitem no futuro, uma solução mais abrangente da questão. A avaliação, desenvolvimento e proposta de soluções viáveis para essas questões delicadas deveria ser fruto do trabalho conjunto de equipes multidisciplinares, capazes de abordar as diversas variáveis envolvidas nesse tipo de projeto. O trabalho aqui apresentado lida apenas com as questões técnicas construtivas e arquitetônicas de um modo geral, dadas as limitações do levantamento que temos para a área em estudo, e aos limitados conhecimentos de uma arquiteta em formação.



SUMÁRIO

SUMÁRIO PARTE 1 Objeto: habitação para populações vulneráveis Metodologia: processo de trabalho Desastres naturais no Brasil

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PARTE 2 Estudo de caso: o município de Mauá Área de intervenção: Jardim Zaíra e Chafick Projeto de referência: Escritório Tereza Arquitetura Referências conceituais IPT (Flavio Farah)

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Pernambués (João Filgueiras Lima)

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PARTE 3 Breve nota sobre a proposta anterior Conceito Sistemas Construtivos Fundações Sistema Estrutural Fechamentos e Esquadrias Cobertura Drenagem Circulação vertical

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PROJETO

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BIBLIOGRAFIA

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PARTE 1

OBJETO: HABITAÇÃO PARA POPULAÇÕES VULNERÁVEIS O objetivo deste trabalho é apresentar um ensaio de projeto para habitações populares em encostas para populações vulneráveis do município de Mauá, com as edificações apoiadas no terreno em colunas para evitar ao máximo o movimento de terra. Propor uma alternativa para viabilização de terrenos que não são interessantes para o mercado imobiliário permite a permanência de comunidades em áreas que já estão ocupadas e que apresentam um grau de risco moderado a alto de desabamento e escorregamento.

1 O Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais, lançado em 2012 pelo Governo Federal, tinha como meta garantir a segurança das populações que vivem em áreas suscetíveis a desastres. O plano previa investimentos de R$18,8 bilhões, distribuídos em ações articuladas de prevenção e redução do tempo de resposta a ocorrências.

O projeto se insere em um conjunto de intervenções já em estudo da reurbanização de áreas precárias do município de Mauá, na área do Chafick dentro do Jardim Zaíra, que visam eliminar os riscos de desastre, parte importante do Programa Municipal de Redução de Riscos iniciado pelo governo federal em conjunto com os governos estaduais e municipais1. A recuperação dessas áreas traria uma melhoria na qualidade de vida destas pessoas, devido à instalação de serviços de saneamento básico, asfaltamento de ruas e criação de sistemas de espaços livres, sem contar com a consolidação dos vínculos com a localidade e a comunidade formada na área.


PARTE 1

O primeiro ponto é propor uma moradia digna para populações vulneráveis sem necessariamente as deslocar ou interferir com as comunidades formadas nas regiões ocupadas irregularmente. De um modo geral, há um interesse por parte da população de tornar a sua situação fundiária regular para poder usufruir de benefícios providos pelo Estado. Para isso, pretende-se aplicar tecnologias existentes de custo menor e curto tempo de execução para populações que estão na iminência de perder suas moradias, assim reduzindo a dependência de programas assistenciais do governo. A maneira encontrada de chegar a uma solução que une estes dois conceitos é usufruir de terrenos com topografia acidentada e difícil acesso, muitas vezes ocupados irregularmente. Estas questões surgiram ao longo do trabalho ao conversar com pessoas envolvidas com estudos de monitoramento de áreas de risco e com projetos de reurbanização de áreas irregulares. O desafio de ajudar essas pessoas pressupõe que várias áreas do conhecimento sejam unificadas para chegar em uma solução viável. Como aluna do programa de dupla formação oferecido em conjunto pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e da Escola de Engenharia Politécnica (Grande Área Civil) da Universidade de São Paulo, um trabalho que seja multidisciplinar me interessava pessoalmente explorar um projeto desta natureza.

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METODOLOGIA: PROCESSO DE TRABALHO O trabalho apresentado neste caderno sofreu muitas mudanças ao longo do seu desenvolvimento, mas a ideia inicial de estudar uma solução tecnológica para auxiliar famílias afetadas por desastres naturais se manteve constante. Primeiro foi a definição de um objeto de intervenção que resultasse em um projeto. Inicialmente a ideia era desenvolver uma habitação em um kit, que pudesse ser transportada dentro de um contêiner para os locais onde houvesse necessidade de habitações emergenciais de fácil montagem e duração curta. Essa proposta foi logo descartada pela dificuldade de se realizar obras temporárias no Brasil que não se tornem permanentes. A proposta então se tornou o estudo da reconstrução pósdesastre, com o objetivo de reduzir o período de transição entre uma habitação temporária e a definitiva, o que atualmente demora no Brasil principalmente por causa da burocracia envolvida na aprovação do projeto e subsequente execução. Seria realizada uma análise comparativa entre três modalidades de projeto (casa embrião, casa unifamiliar e edifício multifamiliar) para comparação e escolha da melhor alternativa, em questões de custo e prazo de execução, para realizar o projeto de reconstrução. Como seria feito um estudo de custos, havia a necessidade de realizar um projeto piloto para conseguir consolidar a análise. Dadas as dificuldades de propor uma solução única que atenda às necessidades climáticas e culturais das diferentes regiões do Brasil, deveria ser feita uma escolha de um município que atendesse alguns critérios. O primeiro foi a proximidade, e o segundo critério usado foi a análise dos dados coletados pelo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres – CEPED – da Universidade Federal de Santa Catarina, no Atlas de Desastres Naturais do Estado de São Paulo O município de Mauá foi escolhido porque chama a atenção na leitura dos dados Atlas de Desastres Naturais do Estado de São Paulo, o número alto de pessoas registradas como desalojadas em um único ano, 2011. Foi neste mesmo ano que houve vítimas fatais na cidade, o que colocou o município, junto com outros 820 do país, em uma rede de monitoramento do CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e alertas de Desastres Naturais, órgão ligado às Defesas Civis municipais, que atuam diretamente com a população em caso de emergências.


Uma vez que o município para o estudo já tinha sido escolhido, houve uma visita a campo para reconhecimento da situação atual do município e escolha uma área de intervenção. Durante a visita foi possível constatar a situação precária em que vivem milhares de pessoas que por motivos diversos, não têm acesso à moradia digna e aos serviços providos pelo Estado. Muitas delas recorrem ao bolsa aluguel, um programa de assistência social do governo, para conseguir sair dessa situação, mas a demora para ter uma moradia definitiva muitas vezes obriga as famílias à voltarem para as mesmas casas precárias, algumas até interditadas pela Defesa Civil. Posteriormente, participei de uma assembleia com a população residente de áreas de risco que estão dentro do perímetro da área de intervenção que tinha previsão para começar no segundo semestre de 2015. Foi após esta assembleia que houve uma conversa com os arquitetos responsáveis pelo projeto de reurbanização, do escritório Tereza Arquitetura, na qual se levantou a questão da escassez de terrenos e da necessidade da busca por alternativas para esse problema. Foram eles próprios que reforçaram a possibilidade, e necessidade, de se trabalhar com habitações em encostas. Normalmente são feitas estruturas de contenção em áreas de risco junto com projetos de reurbanização. Porém, muitas vezes é necessário isolar a estrutura de contenção com cercas para evitar a invasão do terreno. Esta ocupação irregular pode se tornar um risco se a estrutura de contenção for comprometida com o peso adicional de edificações sendo construídas perto da contenção. Daí que surgiu a ideia de aproveitar a própria contenção como base, desde que as sobrecargas adicionais sejam levadas em conta no cálculo da contenção. Iniciou-se uma outra etapa, onde foi desenvolvida uma proposta de projeto de um conjunto de casas unifamiliares escalonadas em patamares na encosta vazia acima de uma estrutura de contenção prevista para ser feita no conjunto de obras de reurbanização do Jardim Zaíra. O projeto foi inspirado no trabalho do Prof. Dr. Flávio Farah, que tratou do tema de ocupações de encostas na década de 90, e publicou um livro através do IPT com diversas propostas de intervenção, muitas com as edificações servindo como estrutura de contenção para a encosta. Porém, em uma análise das etapas construtivas do projeto, notou-se que o movimento de terra envolvido para a construção da proposta era de tal escala que seria um custo muito alto em comparação com o das próprias edificações. Então houve uma mudança no partido de projeto, e recomeçou-se o processo de desenvolvimento. Em uma pesquisa posterior sobre projetos em condições similares encontrei o projeto do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, para o programa Minha Casa Minha Vida. Esta proposta em particular se desenvolve com edificações apoiadas sobre o terreno em pilotis, decisão tomada pelo arquiteto para minimizar interferências no terreno natural. Com este conceito em mente, a nova proposta tem como partido edificações apoiadas em colunas sobre o terreno, para minimizar movimentos de terra e manter a integridade do terreno. Outras diretrizes importantes, que tem origem no projeto de referência do escritório Tereza Arquitetura para a prefeitura de Mauá, são a racionalização do projeto e o uso de alvenaria estrutural. O projeto será discutido com mais detalhes na parte final deste trabalho.

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DESASTRES NATURAIS NO BRASIL Na dinâmica climática do planeta Terra, fenômenos extremos ocorrem com certa frequência. Porém, de acordo com o relatório emitido em 2014 pelo International Panel for Climate Change (IPCC – Painel Internacional de Mudanças Climáticas), houve um aumento da ocorrência dos eventos considerados extremos, prova da influência do homem sobre o clima do planeta Terra, ocasionando impactos elevados na sociedade, principalmente nos países em desenvolvimento. Considerando a localização e o clima de modo geral, o Brasil e os outros países da América Latina não fazem parte do grupo de regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas que vêm acontecendo nos últimos anos. Isso não quer dizer que o Brasil não será afetado, afinal, a economia brasileira depende de recursos naturais renováveis e mais de 50% do PIB estão associados a esse tipo de recursos, como a agricultura, hidroeletricidade, energia eólica, energia solar, entre outros. É possível dizer que o país pode se tornar vulnerável caso as mudanças climáticas venham a diminuir a utilização de recursos naturais renováveis, tanto aqueles utilizados no presente momento, como principalmente o uso futuro destes e de novas fontes. Outro ponto importante a se destacar é que as mudanças climáticas, assim como a variação entre os extremos que ocorre atualmente, acentuam a vulnerabilidade social dos mais pobres, pelo fato de que estes têm dificuldades estruturais de se proteger contra elas ou aumentar sua capacidade adaptativa a eventos climáticos. O Brasil apresenta grande desigualdade social e mais de 50% da população pode ser considerada pobre2, tornando-se particularmente vulnerável às mudanças climáticas que podem acontecer.

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Em 2014 o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou o coeficiente Gini do Brasil com os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) realizado naquele ano. O coeficiente Gini foi de 0,518 em 2014.

Há várias maneiras de entender a teoria e a prática da reconstrução após os desastres. Primeiramente, há de se entender que os desastres não são realmente naturais no sentido que não são exclusivamente resultado de um fenômeno natural extremo. São resultado da relação frágil entre o ambiente natural e as intervenções humanas no mesmo (sejam elas construções, vias ou simplesmente alterações no relevo e vegetação).


Em segundo lugar, a reconstrução é um processo que na maioria dos casos tem três etapas: abrigo de emergência, alojamento temporário e casas permanentes. Para ser mais efetiva na reconstituição das comunidades atingidas, a reconstrução pós-desastre deve ser um processo de melhoria das condições pré-desastre, visando atingir um desenvolvimento a longo prazo e redução de riscos de desastres com a associação de recursos locais e externos.

Figura 3 – Gráfico de número de desastres reportados por década por tipo na América Latina. Fonte: ONU, 2014

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Na América Latina como um todo, os desastres naturais de maior impacto são as inundações e os deslizamentos, afetando principalmente os ambientes urbanos. Uma das características do processo da urbanização brasileira foi ter deixado à margem da ‘cidade formal’ (‘cidade legal’) grande parcela da população (Maricato, 2016). A lógica especulativa resultou em vazios urbanos e concentração de áreas nobres em meio à pobreza e na ocupação de sítios urbanos indevidos, que se tornaram áreas de risco ambiental. São nessas áreas de risco que se acomodam os mais pobres, que vivem em condições subumanas, conforme designa a ONU, morando em favelas à beira de córregos ou localizadas em encostas íngremes, resultando em populações urbanas de extrema vulnerabilidade a deslizamentos de encostas, inundações e enxurradas. Segundo Bertone (2013, p. 7): ““Em termos conceituais, a condição de risco une dois elementos: a suscetibilidade e a vulnerabilidade, potencializados pela probabilidade dos eventos climáticos. Determinada população está em condição de risco quando ocupa um terreno suscetível a desastres, dada a condição geológica-geotécnica propícia, e de modo frágil, conforme o padrão construtivo das edificações, tornando-se, assim, vulnerável.”

O aumento das chuvas intensas pode agravar problemas como alagamentos e escorregamentos de encostas. A simples retirada da população de áreas suscetíveis é insuficiente, pois é preciso ocupar a área com serviços e equipamentos públicos, ou mesmo mantê-las como áreas de preservação, recuperando sua função ambiental. Porém, tem que haver muita fiscalização para evitar que novas famílias ocupem as áreas liberadas, criando novas situações de risco. Ou ainda, a resolução da questão habitacional, ainda que esta pareça no momento intangível, sugeriria que a população pobre no país não fosse forçada a morar em áreas de preservação ambiental. Em relação à ocupação de encostas, a situação é mais grave. Metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, por exemplo, apresentam elevada concentração populacional em encostas com mais de 70 graus de declividade. A


autoconstrução agrava esse cenário difícil, pois as edificações não obedecem a critérios técnicos e a obra avança de acordo com a disponibilidade financeira da família, que acaba vivendo permanentemente no improviso. A desocupação das encostas será um processo longo, já que muitas vezes as famílias tendem a voltar para os locais que viviam, pois não há alternativas viáveis. Medidas paliativas, como oficinas junto à população para treinar a evacuação da área em caso de chuva forte, são mais fáceis de implementar e podem evitar a perda de vidas. Idealmente a população seria encaminhada para habitações dignas, que mantenham os vínculos sociais, culturais e de trabalho que os moradores desenvolveram onde vivem. Com o aumento da incidência de desastres verificado nos últimos anos pelo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (CEPED), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e principalmente depois da tragédia ocorrida em 2011 no Estado do Rio de Janeiro, o Governo Federal criou mecanismos para responder a crises e propor medidas para mitigar riscos. O Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres, nascido da necessidade de integrar as ações das diferentes esferas governamentais e órgãos de Defesa Civil, atua em quatro eixos principais: •

Mapeamento, focado na produção de mapas de suscetibilidade, mapas de setorização de riscos, mapas de risco e cartas geotécnicas de aptidão à urbanização

Monitoramento e Alerta, que visa estruturar a rede nacional

Prevenção, voltados a execução de obras, que foram incorporadas ao Programa de Aceleração do Crescimento e configuram a carteira PAC-Prevenção. Assim como as outras carteiras PAC, as obras de prevenção são monitoradas por meio das salas de situação promovidas pela Secretaria do PAC (Sepac).

Resposta, voltado ao socorro, assistência e reconstrução

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A última etapa da resposta à desastres naturais, a reconstrução, é um esforço do Governo Federal para devolver às populações gravemente afetadas condições dignas de moradia, e neste contexto o Programa Minha Casa Minha Vida consistiu na principal aposta do governo federal no campo da provisão habitacional, pois tem como um dos objetivos centrais, o atendimento às populações afetadas por desastres3. Porém, devido à escassez de terrenos favoráveis à construção de conjuntos habitacionais nas regiões onde se concentra o déficit habitacional, as metrópoles, e a imprevisibilidade dos desastres faz com que seja difícil prover habitação nos locais onde não haja suscetibilidade ambiental, sem estimular o espraiamento urbano. A ocupação de terrenos íngremes próximos às infraestruturas centrais instaladas pode evitar a urbanização de áreas cada vez mais distantes, o que reduziria os limites da mancha urbana e criaria dirimindo problemas de transporte e mobilidade. Não se defende que todas as encostas sejam ocupadas, ou que todos assentamentos precários que ocupam encostas sejam consolidados. A condição de uma encosta que, ocupada por uma favela antiga, já perdeu suas características naturais, e se situa em uma área urbana consolidada pode ser muito mais favorável à urbanização do que uma outra em processo de ocupação, nas bordas da mancha urbana, e em área de preservação ambiental. 3

BRASIL. Portaria Interministerial Nº1 de 24 de Julho de 2013. Dispõe sobre as diretrizes e procedimentos visando atender a demanda habitacional proveniente da situação de emergência ou de calamidade pública reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional, por meio do Programa Nacional de Habitação Urbana, integrante do Programa Minha Casa, Minha Vida PMCMV. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, v. 28, n. 142, 25 Jul. 2013.

Porém, transformar favelas consolidadas em assentamentos melhores significa trabalhar em condições longe das ideais, do ponto de vista técnico. O adensamento de construções e as interferências no terrenos feitas modo improvisado dificultam o acesso de equipamentos de obra. Sem mencionar na dificuldade logística de relocar, ainda que temporariamente, os moradores, o que gera uma demanda por alojamentos provisórios ou habitações definitivas em outras áreas capazes de absorver a população removida. Os terrenos remodelados de improviso requerem obras de contenção, cujos custos superam facilmente o de um


simples projeto, somado aos custos de implantação, em encosta ainda livre de ocupação irregular mais significativa. Então, tendo essas questões como base, pretende-se investigar a possibilidade de propor uma moradia digna para populações vulneráveis sem necessariamente as deslocar ou interferir com as comunidades formadas nas regiões ocupadas irregularmente. De um modo geral, há um interesse por parte da população de tornar a sua situação fundiária regular para poder usufruir de benefícios providos pelo Estado. Outro ponto é que uma vez que um assentamento irregular é urbanizado, há uma melhora significativa na qualidade de vida dos habitantes, devido à instalação de serviços de saneamento básico, asfaltamento de ruas e criação de sistemas de espaços livres para usufruto da população.

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PARTE 2

ESTUDO DE CASO: O MUNICÍPIO DE MAUÁ Como descrito anteriormente, dadas as dificuldades de propor uma solução genérica que atenda às necessidades climáticas e culturais das diferentes regiões do Brasil, este trabalho apresenta um projeto localizado que facilita o estudo da aplicação de tecnologias existentes. O primeiro critério de seleção foi a proximidade, tanto geográfica como cultural, permitindo assim visitas a campo para identificar possíveis locais de intervenção e o contexto onde o projeto será inserido. O segundo critério usado foi a análise dos dados coletados pelo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres – CEPED – da Universidade Federal de Santa Catarina, no Atlas de Desastres Naturais.

Figura 4 - Mapa de distribuição de desastres por região brasileira. (Fonte: CEPED)


PARTE 2

Observando o mapa abaixo, do volume Brasil do Atlas de Desastres Naturais (2013), fica claro que os eventos mais prevalentes na região Sudeste são as inundações e as enxurradas. Isso está ligado ao relevo da região e ao regime de chuvas que se intensifica nos meses do verão, quando se reporta mais desastres dessa natureza. O município de Mauá chama a atenção quanto aos dados referentes aos eventos de enxurradas do Atlas de Desastres Naturais do Estado de São Paulo (2013) pelo alto número de pessoas registradas como desalojadas em um mesmo ano, 2011. Foi neste mesmo ano que houve vítimas fatais na cidade, o que colocou o município, junto com outros 820 do país, em uma rede de monitoramento do CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e alertas de Desastres Naturais, órgão ligado às Defesas Civis municipais, que atuam diretamente com a população em caso de emergências, enviando notificações através de mensagem de celular e auxiliando as pessoas que precisam ser evacuadas.

Figura 5 - Tabela dos principais municípios em relação aos danos humanos causados por enxurradas (1991-2012) (Fonte: CEPED)

Localizada na região metropolitana de São Paulo, Mauá surge em meados do século XVII quando houve uma ocupação da região do entorno de Santo André e Ribeirão Pires. Com a fundação da Ferrovia Santos-Jundiaí em 1867 é que se estabelece um núcleo habitacional que só se emanciparia de Santo André em 1955. Desde 1990 participa do consórcio que administra a região como um todo. A população estimada em 2014 era de 448.776 de habitantes, com uma densidade populacional média de 7.204,28 hab./km².

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Desde a sua emancipação o município cresceu muito num período bastante curto de tempo, o que resultou em problemas urbanos característicos de uma expansão desordenada. Como o município conta com uma forte presença industrial, muitas pessoas foram atraídas pela possibilidade de emprego. Porém, a maioria dessas pessoas tem uma baixa renda, e sem ter acesso ao mercado formal, ou com programas do governo, acabam vivendo em situação precária.

Figura 6 – Mapa de localização de Mauá na RMSP (Fonte: CEM)

Um fator agravante para a situação é o fato de cerca de 80% do território ser constituído por encostas de morros e vales, que são áreas muitas vezes desprezadas pelas incorporadoras pelo alto custo de regularização da topografia. As ocupações irregulares nestas áreas não só geram riscos aos moradores, mas também ao meio ambiente, uma vez que os escorregamentos de terra afetam também a vegetação e as camadas superficiais do solo.


Figura 7 - Mapa Altimétrico de Mauá com indicação do assentamento precário Chafick-Macuco (Fonte: Mauá)

Neste contexto, o município enfrenta hoje o grande desafio de regularizar tais moradias e implantar infraestrutura adequada em grande parcela do seu território. Do total de 133.237 domicílios no município (IBGE, 2010), 56.835 domicílios, ou seja, 42%, estão em assentamentos precários (MAUÁ, 2011). Destes, aproximadamente 7.000 domicílios estão dentro do maior assentamento do município, o Chafick-Macuco, dentro do bairro do Jardim Zaíra.

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ÁREA DE INTERVENÇÃO: Jardim Zaíra e Chafick Fundado em 1952 por um descendentes de libaneses, o bairro do Jardim Zaíra começou como três loteamentos que foram aprovados em três épocas: a gleba A, de 1956, a gleba B, de 1960 e a gleba C, em meados dos anos 1970, sendo que a gleba C não foi loteada em sua totalidade, e começou a ser ocupada de maneira irregular ainda na década de 70, já que não atendia a legislação municipal. Atualmente o Jardim Zaíra é o bairro mais populoso de Mauá, abrigando cerca de 100 mil habitantes, sendo que 25.761 moram no assentamento precário chamado Chafick (IBGE, 2010). O governo municipal realizou diversas ações para tentar regularizar o Chafick-Macuco, como delimitar o perímetro do assentamento como Área Especial de Interesse Social e tomada de providências jurídicas para exigir a regularização da área por parte dos loteadores. Sem obter sucesso nestas ações, em 2010 o governo municipal apresentou o perímetro do assentamento para possível seleção de recurso para elaboração de projeto de urbanização do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Ministério das Cidades do Governo Federal, sendo contemplado em 2011. Em 2012, foi assinado um acordo com o Governo Federal para repasse de verbas para a realização de estudo para a urbanização da área Chafick /Macuco. O objetivo era desenvolver um projeto com o qual a Prefeitura iria buscar recursos para obras de infraestrutura e habitação para a área – que ainda é particular. Paralelo a este acordo, em 2011 foi firmada uma parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para o mapeamento das áreas de risco do munícipio, medida que faz parte do Programa de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários, do Ministério das Cidades, em apoio à Prevenção e Erradicação de Riscos e outros programas correlatos do Ministério da Integração Nacional e Ministério do Meio Ambiente. Segundo o Ministério das Cidades (2015), o objetivo do programa é:


Figuras 8. 9 e 10 - Fotos do Chafick-Macuco (Fonte: arquivo pessoal)

Figura 11 - Foto do Chafick-Macuco (Fonte: arquivo pessoal)

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“Melhorar as condições de habitabilidade de assentamentos humanos precários, reduzir riscos mediante sua urbanização e regularização fundiária, integrando-os ao tecido urbano da cidade. [...] O governo federal instituiu uma ação de assessoramento aos municípios para planejamento da redução de casos de escorregamentos em encostas, erosão e enxurradas. O que se busca é definir prioridades e estratégias necessárias para evitar a ocorrência de mortes durante os períodos chuvosos mais intensos.”

A seguir é apresentado um mapa das áreas de risco identificadas no assentamento precário Chafick-Macuco pelo estudo do IPT. Os critérios para determinação do grau de probabilidade de eventos de uma área, segundo o próprio IPT (2012), são: R1– Risco Baixo

Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno, etc.) e o nível de intervenção no setor são de BAIXA POTENCIALIDADE para o desenvolvimento de processos de escorregamentos e solapamentos. NÃO HÁ INDÍCIOS de desenvolvimento de processos de instabilização de encostas e de margens de drenagens.

R2– Risco Médio Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno, etc.) e o nível de intervenção no setor são de MÉDIA POTENCIALIDADE para o desenvolvimento de processos de escorregamentos e solapamentos. Observa-se a presença de ALGUMA(S) EVIDÊNCIA(S) de instabilidade (encostas e margens de drenagens), porém incipiente(s). R3- Risco Alto

Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno, etc.) e o nível de intervenção no setor são de ALTA POTENCIALIDADE para o desenvolvimento de processos de escorregamentos e solapamentos. Observa-se a presença de SIGNIFICATIVA(S) EVIDÊNCIA(S) de instabilidade (trincas no solo, degraus de abatimento em taludes, etc.).

R4- Risco Muito Alto

Os condicionantes geológico-geotécnicos predisponentes (declividade, tipo de terreno, etc.) e o nível de intervenção no setor são de MUITO ALTA POTENCIALIDADE para o desenvolvimento de processos de escorregamentos e solapamentos. As evidências de instabilidade (trincas no solo, degraus de abatimento em taludes, trincas em moradias ou em muros de contenção, árvores ou postes inclinados, cicatrizes de escorregamento, feições erosivas, proximidade da moradia em relação à margem de córregos, etc.) SÃO EXPRESSIVAS E ESTÃO PRESENTES EM GRANDE NÚMERO E/OU MAGNITUDE.


Figuras 12 - Mapa das áreas de risco do Chfick-Macuco (Fonte: IPT)

Figuras 13 - Diagrama dos setores do projeto de reurbnização (Fonte: Prefeitura)

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Figura 13 - Plano geral da reurbanização do setor 1 (Fonte: Tereza Arquitetura)


Devido à extensão do assentamento, cerca de 1.321.539 m² (MAUÁ, 2011), a equipe técnica da prefeitura responsável pelo projeto decidiu setorizar a área, organizadas por critérios de delimitação de sub-bacia, e priorizou-se o quadrante sudeste (setores 1 a 4) principalmente pela diretriz de conter a expansão informal, já que esses setores se encontram na borda do município, em meio a áreas relativamente vazias e ambientalmente frágeis, com grande declividade e severas restrições à ocupação. Para a realização da obra de reurbanização do Chafick foi realizado um levantamento por uma empresa especializada, que mapeou as ruas e edificações existentes em 2013, e a partir destes dados que foi elaborado o projeto de reurbanização. Este projeto, datado de 2014, é do escritório Tereza Arquitetura e Urbanismo, que foi contratado pela Prefeitura de Mauá. O projeto tem como premissa a estruturação do bairro através de um desenho urbano que possa garantir as funções sócias da cidade aos seus moradores. Neste projeto, o sistema viário principal proposto, as matas e os cursos d’água que determinam a composição espacial do assentamento são considerados elementos urbanos estruturadores. Em relação ao sistema viário, o projeto procura conciliar um novo traçado viário com as vias existentes, com dimensionamento irregular, mantendo-as apenas para conservar os acessos das moradias a serem consolidadas. As matas remanescentes e os cursos d’água são outros elementos que definem a estrutura urbana do assentamento, e a solução adotada no projeto deverá conferir uma identidade para o lugar, tolerando-se as ocupações com construções de boa qualidade das Áreas de Preservação Permanente (APP) e removendo as que estão expostas aos riscos de inundação e as erguidas sobre o leito dos córregos.

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PROJETO DE REFERÊNCIA: Escritório Tereza Arquitetura Em geral, um projeto de reurbanização em taludes consiste em obras geotécnicas de consolidação de taludes, drenagem urbana e regularização das vias e vielas existentes, aproveitando a topografia onde possível. O diferencial deste projeto de referência, aqui estudado, é a ocupação racional da encosta. O projeto é uma proposta do escritório Tereza Arquitetura para o problema da ocupação de encostas em Mauá, sendo esta parte integrante do projeto de reurbanização do Chafick que está em andamento.

Figura 14 – Plantas de três diferentes cotas (Fonte: Tereza Arquitetura)


Como já discutido, favelas se estendem por áreas remanescentes da cidade formalmente construída, e muitas vezes essas áreas apresentam alta declividade, associadas a áreas de proteção ambiental. No caso de Mauá, e mais especificamente do Chafick, o projeto de reurbanização foi começado pelo setor sudeste justamente por ser uma combinação destes casos, para tentar deter a expansão da ocupação irregular. A unidade padrão para esta situação de encosta é uma cassa assobradada geminada e sobreposta, o que permite que se construa sobre os taludes de alta declividade sem a necessidade de grandes obras de contenção. Para isso, os acessos são planejados com até mais cuidado do que o dedicado â uma edificação comum. As casas superiores são acessadas por escadas, enquanto que as inferiores dispõem de um quintal.

Figura 15 - Elevação e corte do projeto de referência (Fonte: Tereza Arquitetura)

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Figura 16 - Corte geral do projeto de referência (Fonte? Tereza Arquitetura)

Para permitir a construção junto ao talude sem as contenções, a estrutura é feita em lajes e muros que se apoiam no talude, assim formando vazios na face do talude, o que elimina os custos com impermeabilização e controle de umidade em muros de arrimo. A disposição permite a medição individualizada sem criar uma situação de condomínio. A progressão fluida entre público e privado típica das vielas de uma favela é preservada, e os novos edifícios se inserem em um contexto existente, podendo funcionar como apoio para novos acessos à área. A estrutura das edificações é em alvenaria estrutural, uma solução simples e racional, que não precisa de rasgos para passagem de sistemas elétricos e hidráulicos ou de acertos nas aberturas dos vãos de portas e janelas. Sobre as fundações há duas possibilidades: estacas ou sapatas corridas, de acordo com as condições do terreno. Fundações diretas são uma opção pois o talude normalmente é mais estável do que a baixada, o que explica a sua formação.

Figura 16 - Perspectiva do projeto de referência (Fonte: Tereza Arquitetura)


Este projeto se tornou referência pois faz um questionamento sobre as intervenções urbanísticas que normalmente são feitas em áreas de encostas dos assentamentos precários, que geralmente se limitam a obras de contenção de solo e regularização de vielas e escadarias sobre a topografia existente. Ao promover o uso habitacional nas áreas em que a ocupação pela população moradora é justamente a de menor densidade e a mais precária o projeto permite abrir novos acessos e expandir redes de infraestrutura com menor impacto social para estas obras de urbanização, pois tende a substituir habitação precária nas áreas menos consolidadas dos assentamentos informais. Este tipo de implantação em encosta, no entanto, demanda um cuidado com os acessos de pedestres, inclusive podendo sugerir meios alternativos de vencer os desníveis que são parte integral do projeto, uma vez que o acesso à unidade habitacional que ocupa os pavimentos superiores da casa sobreposta só é possível por uma diferença de altura realizada através de patamares e escadas públicas, no caso particular deste projeto.

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REFERÊNCIAS CONCEITUAIS As referências apresentadas a seguir servem como embasamento para os estudos pretendidos neste trabalho. Elas apresentam conceitos que são parte integral da proposta, e que levantam questões sobre como realizar este tipo particular de projeto. Estão aqui dispostas de maneira esquemática, registrando o percurso de leitura realizado, e a sua contribuição conceitual para o ensaio projetual pretendido.

IPT (FLAVIO FARAH) O trabalho do professor Flavio Farah (2013) tem origem em sua tese de doutorado de 1998, que continuou como pesquisa no IPT. O resultado é um conjunto de tipologias principalmente adequadas à ocupação de vazios urbanos que apresentem declividades acentuadas. São propostas restritas, onde a solução urbanística se apresenta como um modelo geral, já que as soluções em si não são propostas para terrenos reais. O objetivo é promover a discussão de profissionais sobre o que constitui uma proposta para encostas. Os projetos possuem características construtivas convencionais, possibilitando que sua eventual execução se dê através de sistemas construtivos baseados, por exemplo, em alvenarias estruturais de blocos de concreto, hoje largamente empregadas em programas habitacionais do Estado, pelo menos na construção de edifícios de até cinco pavimentos. A proposta original deste trabalho era muito baseada no Projeto 2 descrito como um sistema de casas geminadas e sobrepostas. As unidades se organizam linearmente com o maior eixo paralelo às curvas de nível, sendo que as unidades subsequentes de apoiam nas que estão em cotas mais baixas. Essa distribuição cria vielas com trechos cobertos. Outro ponto a destacar é que as habitações não têm paredes em contato com a terra, assim eliminando a necessidade de controle de umidade.

Figura 17 - Corte do projeto 2 (Fonte: IPT)


Figura 18 - Implantação do projeto 2 (Fonte: IPT)

O que mais chamou a atenção nesta solução foram as vielas de circulação entre as unidades, que remetem às vielas das favelas, com a vantagem de serem espaços de convivência passíveis de serem apropriados pela população, uma vez que é difícil criar praças para atender essa necessidade dentro de um projeto em uma encosta.

Figura 19 - Perspectivas do projeto 2 (Fonte: IPT)

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Pernambués (João Filgueiras Lima) O arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, criticava a má qualidade dos projetos desenvolvidos para o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), e acabou propondo duas soluções para a cidade de Salvador: o conjunto Cajazeiras, de casa geminadas, e o conjunto Pernambués, de edifícios em encostas. Ambos contam com as marcas registradas dos projetos do Lelé: invenção tecnológica, racionalização, funcionalidade, baixo custo e o uso dos elementos pré-moldados de concreto feitos em uma mini fábrica nas redondezas do projeto. Em especial o projeto de Pernambués é muito interessante pois Lelé lança mão de uma estrutura em pilotis de metal para evitar extensos movimentos de terra e a desestabilização do terreno com a cravação. A estrutura é em metal pela rapidez de execução, e os elementos de fechamento são em concreto pré-moldado. É interessante lembrar que embora tenha as propostas estejam detalhadas para duas regiões de favelas de Salvador, as soluções podem ser adaptadas a qualquer parte do País.

Figuras 20 e 21 - Plantas e Corte esquemático de Pernambués (Fonte: Revista AU)


Figura 22 - Implantação do projeto de Pernambués (Fonte:Revista AU)

Figura 23 - Perspectiva do projeto de Pernambués (Fonte:Revista AU)

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Figura 24 - Perspectiva do projeto de Pernambués (Fonte:Revista AU)

Outro fator, que para Lelé é essencial quando se projeta habitação de interesse social, é, sempre que possível, respeitar a localização das moradias irregulares e o “endereço” atual dos futuros habitantes do conjunto habitacional, ou seja, os edifícios a serem construídos, devem ser implantados nos mesmos terrenos ocupados pela população beneficiária do programa, mesmo que eles sejam acidentados, como é o caso em Pernambués. A intenção de resolver o projeto nas próprias encostas ocupadas pela população se deve ao fato de que, para o arquiteto, a proposta não é retirar a população do local onde vive, mas refazer suas habitações com apoio de uma fábrica local e proporcionar dignidade e qualidade de vida aos moradores. No entanto, para uma boa realização de um projeto em encostas, é necessário preservar o terreno original e evitar ao máximo a movimentação de terra. Pensando nisso, Lelé propôs em Pernambués um conjunto implantado sem a criação de aterros, mantendo a integridade estrutural do terreno, evitando, assim, o deslizamento de terra. Para que isso seja possível, o projeto contém fundações em palafita que distribuirão as habitações por patamares sucessivos.


Além das unidades habitacionais, esse projeto contém escola, creche, área de lazer, um bondinho que transporta os moradores da parte alta para a parte baixa e escadarias drenantes, elementos que para o arquiteto são de suma importância, visto que um dos principais fatores causadores de instabilidade é a saturação com água do solo na encosta. Este projeto tem três qualidades muito interessantes que são usadas na proposta apresentada: o bondinho, baseado no modelo usado na Rede Sarah; escadas e galerias drenantes para as águas pluviais, e a fundação em palafitas, que diminui a necessidade de fazer movimentações de terra, preservando a integridade da encosta e reduzindo custos

Figura 25 - Perspectiva do projeto de Pernambués (Fonte:Revista AU)

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PARTE 3

BREVE NOTA SOBRE A PROPOSTA ANTERIOR O projeto originalmente era bastante semelhante à solução número 2 proposta pelo professor Flavio Farah na sua pesquisa junto ao IPT. No início do processo de desenho e experimentação, aquela alternativa parecia ser a mais adequada, pois era a junção do muro de contenção com a edificação em uma única estrutura. O objetivo era promover a ocupação ordenada da encosta remanescente do projeto de urbanização, evitando novas edificações irregulares que pudessem comprometer o muro de contenção proposto. Essa primeira investigação consistia em casas geminadas sobrepostas, organizadas de tal maneira que as casa das cotas superiores se apoiam nas casa das cotas inferiores. A estrutura alvenaria estrutural, com um projeto modular e racionalizado para otimização da construção, assim reduzindo o tempo de obra. Os cômodos são distribuídos de forma a atender as recomendações de projeto para portadores de necessidades especiais, o que era inicialmente uma premissa do projeto. A planta tem um recorte para otimizar o aproveitamento da fachada, uma vez que a encosta é voltada para o sul, o que faz com que a circulação aconteça na face norte das construções.

Figura 26 - Layout da proposta anterior (Fonte: a autora)


PARTE 3

Porém, após o desenho do corte geral e análise do terreno modificado resultante da intervenção constatou-se que o movimento de terra necessário para a execução do projeto seria muito grande, com uma quantidade muito maior de corte do que de aterro. Esse fator, somado ao problema do layout da unidade habitacional, contribuiu para que fosse decidido parar o desenvolvimento desta proposta e seguir um outro rumo, descrito a seguir.

Figura 27 - Corte geral da proposta anterior (Fonte: a autora)

Figuras 28 e 29 - Perspectivas da proposta anterior (Fonte: a autora)

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CONCEITO A proposta aqui apresentada é um diálogo com o projeto de referência, no sentido que não se propõe que esta seja melhor do que aquela, mas sim que cada projeto tem seus pontos positivos que se adequam a determinadas situações. Como já mencionado, não se defende que todas as encostas que já estão ocupadas irregularmente sejam reurbanizadas, mas que cada caso seja estudado para se chegar na melhor alternativa. O conceito final é um conjunto de casas geminadas dispostas ao longo de um eixo paralelo às curvas de nível do terreno, com passarelas com ligando as habitações à estruturas de circulação vertical, que no caso é um funicular de pequeno porte, considerando o grande desnível a ser vencido. Algumas diretrizes que nortearam a realização desse ensaio são: •

Unidades habitacionais com conforto ambiental e layout adequado para moradia digna de famílias que atualmente vivem em situação precária

Áreas de circulação largas e acessíveis, que propiciem uma convivência entre os moradores que permaneceram no seu “endereço” original

Estrutura de fundação que auxilie na estabilização do talude

Medidas de profunda

drenagem

superficial

e


SISTEMAS CONSTRUTIVOS FUNDAÇÕES A primeira providência a ser tomada quando se decide construir em encostas é investigar as condições geológicas para garantir a estabilidade do talude. O meio mais comum é através de sondagens tipo SPT (Standard Penetration Test), que são econômicas e de fácil realização. Foi possível estudar as sondagens feitas nas cercanias da encosta escolhida como área de intervenção, e constatou-se que a resistência do solo é ruim nas camadas superficiais e melhora nas camadas mais profundas, o que sugere o uso de fundações profundas para evitar problemas futuros com deslocamentos (Velloso, 2011, p. 181). Esse tipo de fundação também ajuda a estabilizar o maciço de terra ao ajudar a reter as camadas superficiais, mais suscetíveis à deslizamentos por questões relacionadas a água. Entende-se aqui que a solução técnica mais apropriada neste caso é o tubulão escavado manualmente, pois é uma fundação profunda que pode alcançar o solo compacto abaixo das camadas superficiais e ser executado sem comprometer o terreno. Estacas cravadas geram vibrações que podem provocar deslizamentos ao desestabilizar o solo. Outro ponto importante é que estacas

Figuras 30 e 31 - Diagramas de construção de um tubulão (Fonte: Escola Engenharia)

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cravadas exigem um maquinário que não tem condições físicas de acesso ao terreno por sua configuração topográfica e localização logo atrás de um conjunto de edificações autoconstruídas que serão preservadas. Como a camada superficial é principalmente argila mole, propõese que seja feito um planejamento da execução dos tubulões, para que a escavação de um tubulão não afete a dos demais. Imaginase que mesmo com uma execução escalonada haverá necessidade de contenções temporárias, que podem ser pranchões metálicos cravados com martelo vibratório. Esse equipamento é de menor porte, e os pranchões são recomendados para contenções temporárias pela rapidez de execução e reaproveitamento do material.

SISTEMA ESTRUTURAL A fundação foi planejada em um sistema de grelha para facilitar a execução do sistema estrutural que sustenta as edificações. As vigas de transição se organizam em módulos de 5,70 metros por 3 metros entre eixos, com dimensões de 60 centímetros de altura e 30 centímetros de largura. As vigas de transição são sustentadas por pilares de 30 centímetros de diâmetro, que chegam até os blocos de fundação dos tubulões. Cada unidade habitacional ocupa três módulos estruturais, sendo que há pares de tubulões a cada dois módulos, para formar a grelha.

Figura 32 - Módulo Estrtural (Fonte: a autora)

Figura 33 - Perspectiva explodida da estrutura(Fonte: a autora)


A opção de material é por concreto armado moldado in loco executado em formas de alumínio. A dificuldade de acesso de um guindaste para erguer as peças torna inviável o uso de vigas de transição de aço, que são pesadas e exigem mão-de-obra especializada. Vigas pré-moldadas de concreto também apresentam o problema do peso, já que os vãos a serem vencidos são grandes. É por esses motivos que se escolheu o concreto moldado in loco. A vantagem da forma de alumínio sobre a de madeira é a leveza, precisão dimensional e a capacidade de reutilização de 1000 usos aproximadamente. Entre dois a quatro jogos de formas seriam o suficiente para este projeto, para obter maior agilidade no canteiro, dada a disposição das edificações em conjuntos lineares.

FECHAMENTOS E ESQUADRIAS O fechamento escolhido para este projeto é a alvenaria estrutural. Como sistema construtivo, ela apresenta vários pontos positivos, dentre os quais a facilidade de execução e a rapidez se destacam. O grande diferencial de um sistema construtivo que é familiar para uma boa parte da população é que permite o engajamento da população local na realização do projeto. A alvenaria estrutural é naturalmente modular, e isso permite o uso de componentes pré-fabricado padronizados, como esquadrias de PVC ou alumínio. Como os blocos são vazados, é possível planejar os sistemas hidráulicos e elétricos, evitando os rasgos e reparos tão comuns nas obras convencionais. Outras vantagens que valem ser mencionadas são: custo reduzido, bom desempenho estrutural e térmico, detalhamento simples, redução do uso de concreto e ferragem, economia no uso de formas. O maior ponto negativo é justamente a impossibilidade de fazer modificações no layout da habitação, o que poderia comprometer a estrutura como um todo. No entanto, esse não seria um problema muito sério neste caso em particular, considerando que são casas térreas sem sobreposição.

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COBERTURA A cobertura escolhida é o telhado cerâmico com estrutura de madeira em duas águas, com uma parte elevada para melhorar a circulação de ar na área da cozinha. As telhas de cerâmica são os modelos mais tradicionais utilizados na construção civil. A telha de cerâmica tem boa relação custo-benefício e adequa-se muito bem a diferentes climas. Essa telha quando aplicado em coberturas tem bom isolamento termo- acústico e uma boa durabilidade, mas pode quebrar facilmente com impactos. No entanto, a manutenção é facilitada pela grande oferta de peças cerâmicas no mercado.

DRENAGEM

Figura 34 - Diagrama do sistema de drenagem (Fonte: a autora)


O principal fator para ocorrer um incidente de deslizamento de terra é a saturação do solo com água. Em uma região onde predominam as habitações irregulares não há uma rede de saneamento básico, e os moradores são obrigados a descartar o esgoto e águas pluviais sobre o solo. É esse solo saturado que na época das chuvas intensas é carregado pelas águas pluviais e inicia os deslizamentos. Foram feitas duas abordagens referentes à drenagem do projeto: a primeira é uma canaleta de drenagem superficial junto às contenções que suportam as passarelas de acesso às unidades habitacionais, sendo que a canaleta descarrega na galeria de água pluviais que passa por baixo da passarela. A outra são drenos sub-horizontais profundos (DHP) que tem por objetivo manter o nível de água do talude baixo, para não comprometer as fundações e diminuir a saturação do solo. A galeria que corre por baixo da passarela tem duas outras funções: galeria de esgoto para as unidades, sendo encaminhada para um coletor na rua projetada; e galeria de serviços, para cabos de eletricidade, telefonia e afins. As três galerias têm tampas de acesso colocadas na passarela.

CIRCULAÇÃO VERTICAL A inclinação do talude e o grande desnível a ser vencido para acessar as unidades torna bastante difícil o uso de escadas públicas neste projeto. Uma alternativa seria o uso de um funicular, semelhante aos utilizados atualmente em favelas do Rio de Janeiro. Isso também permitiria o acesso de pessoas com necessidades especiais aos apartamentos, que podem ser adaptados ao seu uso. A questão principal é a manutenção e gerenciamento de um equipamento público deste porte. Não se pretende discutir políticas de gestão pública neste trabalho, porém, vale ressaltar que equipamentos geridos pelo Estado muitas vezes sofrem com falta de manutenção ocasionada pela má gestão dos recursos destinados para isso.

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ANEXOS



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