INFRAESTRUTURA NO BRASIL PROFUNDO: P O S S I B I L I DA D E S PA R A O VA L E D O R I B E I R A GABRIEL LISBOA 2020
FA U U S P
Dedico esse trabalho a todas as vítimas da pandemia de COVID-19 no Vale do Ribeira e às suas famílias; às comunidades tradicionais brasileiras, que tanto nos ensinam sobre existência e resistência; e aos meus familiares, amigos e professores, pelo apoio incondicional. São Paulo, 2020.
M A PA D E L U Z E S DA N A S A : U M O L H A R PA R A O P OV OA M E N TO DA AMÉRICA DO SUL
“Na maior parte dos países latino-americanos não sobra gente: falta. O Brasil tem 38 vezes menos habitantes por quilômetro quadrado do que a Bélgica. O Paraguai, 49 vezes menos do que a Inglaterra; o Peru, 32 vezes menos do que o Japão. Haiti e El Salvador, formigueiros humanos da América Latina, têm uma densidade populacional menor do que da Itália. [...] Afinal, não menos da metade dos territórios da Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Paraguai e Venezuela não está habitada por ninguém.” (Eduardo Galerano em As Veias Abertas da América Latina. 1977).
Fonte: visibleearth.nasa.gov (04/2020)
SOBREVOO PELO BA I X O VA L E D O R I B E I R A CAPÍTULO 1 / LUGAR
O VA L E D O R I B E I R A NO TERRITÓRIO NACIONAL
6
Onça-pintada em Apiaí, São Paulo. 2017.
[Petar]
Esquecido, misterioso e intocado o Vale do Ribeira é um diamante bruto. É chamada de Vale do Ribeira a região que abrange o litoral norte do Paraná, o litoral sul de São Paulo e a área localizada na bacia do Rio Ribeira de Iguape, totalizando 31 municípios. Embora seja possível acessar a região com algumas poucas horas de estrada a partir do centro de São Paulo, podemos afirmar que as várias situações e paisagens lá existentes, carregam traços paradigmáticos das áreas profundas do Brasil. O primeiro desses traços é alto índice de matas nativas. A região é destacada pela preservação de seus ecossistemas totalizando 21 milhões de hectares de mata atlântica, abrigando o maior maciço continuo de vegetação preservada desse bioma. Com florestas, manguezais e restingas, a fauna e a flora da região carregam um alto índice de endemia e a alta concentração de animais ameaçados. Para ilustrar esse dado, estima-se que existam não mais de 250 indivíduos de onça-pintada vivendo na mata atlântica, desse total, por volta de 60 vivem no Vale do Ribeira. O segundo ponto importante para entendermos o Vale do Ribeira é que ele se trata de um vazio demográfico. Com o mais baixo índice de densidade demográfica do estado de São Paulo, os números são comparáveis às regiões remotas do interior do país. Por exemplo, a densidade demográfica do município de Cananéia é de 9,84 habitantes por km², do estado do Piauí é de 12,39 habitantes por km² e do semiárido nordestino fica em torno de 10 habitantes por km².
O terceiro e último traço paradigmático para entender o Vale do Ribeira como uma região “profunda” é a importante presença de indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Para se ter ideia, existem 50 comunidades remanescentes de quilombos na região, sendo que o estado de São Paulo inteiro conta com mais ou menos 60 comunidades. É importante lembrar que as comunidades quilombolas se concentram principalmente nas regiões de serra do Vale do Ribeira, nos municípios de Eldorado e Sete Barras. Outra característica importante é a presença de numerosas comunidades indígenas na região. Há tribos espalhadas por todo o litoral paulista, entretanto a maior concentração está no litoral sul, com destaque para os municípios de Iguape e Cananéia. No município de Cananéia, há por volta de 8% da população vivendo em aldeias indígenas. Analisando os dados colocados, é fácil de supor que tal nível de preservação ambiental e antropológica só são possíveis através de mobilização e conscientização, porém a realidade é diferente. Os municípios do Vale do Ribeira possuem o menor IDH e os piores índices de saúde e educação do estado de São Paulo. Só para exemplificar o IDH de Sete Barras é 0,673 equivalente ao do estado do Alagoas e ao do Iraque. A média brasileira em 2020 está em 0,699. Por tanto, será explicado que os níveis de preservação apontados são decorrentes, não de uma sequência de projetos inclusivos e sustentáveis, mas principalmente de um longo processo de esquecimento e exclusão.
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VA L E D O R I B E I R A LOCALIZADO N A M ATA AT L Â N T I C A BRASILEIRA
O IC T ÂN
Legenda Remanescente Florestal da Mata Atlântica no Brasil* Bioma Mata Atlântica no território Brasileiro* Perímetro Vale do Ribeira URGHI 11
* fonte: SOS Mata Atlântica
P E R C E N TA L D E C O B E R T U R A V E G E TA L N AT I V A P O R M U N I C Í P I O N O E S TA D O S Ã O P A U L O . [ 0 ]
MG
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RJ
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Legenda Perímetro Vale do Ribeira URGHI 11 _
OC EA
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TICO N LÂ T A
1 0 0 km
+
Percentual de Cobertura Vegetal por Município do Estado de São Paulo
R O D O V I A S F E D E R A I S E E S TA D U A I S N O E S TA D O S Ã O P A U L O . [ 0 ]
MG
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RJ
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TICO N LÂ T A
Legenda Perímetro Vale do Ribeira URGHI 11 Rodovias Federais
1 0 0 km
Rodovias Estaduais
LONGEVIDADE POR MUNICÍPIO NO E S TA D O S Ã O P A U L O . [ 0 ]
MG
MS
RJ
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Legenda Perímetro Vale do Ribeira URGHI 11 _
OC EA
1
O
TICO N LÂ T A
1 0 0 km
+
Taxa de Longevidade por Município de São Paulo - IPRS
VA L E D O R I B E I R A : A PA , Á R E A S QUILOMBOLAS, ÁREAS INDÍGENAS, CORPOS HÍDRICOS, MUNICÍPIOS E O EIXO RODOVIÁRIO E FERROVIÁRIO.[1]
OC EA N
O
O C I T N Â L T A Legenda Perímetro Vale do Ribeira
Eixo Ferroviário Rodovia BR-116 Áreas de Preservação -
PR
Áreas Quilombolas
1 8 km
Áreas Indégenas
COMPLEXO LAGUGAR DE CANANÉIA: R E C O RT E PA R A A R E G I Ã O E S T U DA DA
14
A nível de estudo, foram escolhidos três munícipios: Iguape, Ilha Comprida e Cananéia. Esse recorte foi pensado por conta da formação geológica conjunta e, em decorrência disso, das importantes semelhanças no que diz respeito à ocupação humana na região ao longo da história. Denominado por Besnard, W. (1950), o Complexo Lagunar de Cananéia é, basicamente, uma grande bacia sedimentar. Diferente do litoral norte paulista, há na região um grande número de rios que nascem na Serra do Mar e correm em direção à costa. Esses rios carregam uma enorme quantidade de sedimentos que, quando depositados próximos ao mar, formaram uma grande planície costeira arenosa que compreende os três municípios estudados. Muito por conta da configuração topográfica e hidrográfica, Cananéia foi a primeira vila fundada do Brasil, em 1531 e Iguape a sétima, em 1538. Com isso ambas as cidades carregam enorme patrimônio arquitetônico e cultural. Já a Ilha Comprida tem uma história diferente, era um extenso banco de areia pertencente à Iguape e Cananéia, uma terra praticamente vazia, que em 1992 se emancipou e se tornou um município autônomo. Desde de então a ilha experimenta um vertiginoso crescimento econômico e demográfico. O corpo hídrico que interliga a região estudada é um extenso canal de água salobra denominado de Mar Pequeno. As margens desse canal abrigam quase a totalidade dos habitantes dos três municípios estudados. A partir dele é possível acessar importantes áreas de preservação, os centros históricos de Iguape e Cananéia e também dezenas de comunidades ribeiri-
nhas, indígenas e uma comunidade quilombola. Dos três municípios mencionados, será feito um recorte ainda mais preciso para três povoados específicos. São eles: • O centro Histórico de Iguape, a maior aglomeração urbana da região, possuindo por volta de 25 mil habitantes e importantes exemplares de patrimônio arquitetônico colonial; • A vila de Pedrinhas, localizada no sul Ilha Comprida, a comunidade caiçara abriga por volta de 350 habitantes e possui alto potencial para o ecoturismo; • A comunidade quilombola do Mandira, que é situada em Cananéia, possuí por volta de 120 habitantes e é conhecida pela tradicional criação de ostras. O complexo lagunar de Cananéia possui números de unidades médicas e UTIs per capta satisfatórios. Entretanto, por conta da sua ocupação espraiada muitos dos habitantes que vivem fora das principais aglomerações urbanas não conseguem acessar facilmente alguns serviços básicos de saúde. Nesse caso o problema não é a falta de infraestrutura, mas sim a concentração geográfica da mesma. O trabalho em questão se debruçará em criar hipóteses de como seria possível repensar o uso do Canal do Mar Pequeno para otimizar a conexão entre os diferentes povoados da região facilitando o transporte, fomentando ecoturismo participativo e pensando em uma rede móvel de saúde focada na prevenção. Tendo em mente a pandemia de COVID-19 e
os instrumentos do sistema único de saúde (S.U.S), a prioridade é a prevenir. Sistemas de monitoramento e prevenção são muito menos custosos e mais eficientes do que os cuidados médicos mais especializados. Levando isso em consideração, o S.U.S. desenvolveu um sistema de hierarquização dos cuidados médicos em que a ponta mais capilar seria a “Equipe de Saúde da Família” e a ponta mais especializada são os grandes centros médicos situados nas principais capitais. A Equipe de saúde da família conta milhares de grupos com três profissionais: um médico, um auxiliar de enfermagem e um enfermeiro, espalhados pelos mais remotos povoados do país, levando cuidados básicos, informação e saúde preventiva. No caso do COVID-19 essa equipe seria responsável pela vacinação, testagem e possível deslocamento dos doentes. Seria possível, portanto, otimizar o sistema de saúde já existente, melhorando bastante a sua distribuição e acesso sem depender de uma grande quantidade de recursos.
S Ã O PA U L O C A P I TA L
VA L E D O R I B E I R A : L I M I T E S M U N I C I PA I S N A R E G I Ã O D O C O M P L E X O LAGUNAR CANANÉIA-IGUAPE.[1]
População: 12,18 milhões Área: 1521 km²
MUNICÍPIO DE IGUAPE População: 30390 Área: 1978 km²
O C I T N Â L T A O
MUNICÍPIO DE ILHA COMPRIDA
Reserva Ecológica Juréia-Itatins
OC EA N
População: 10291 Área: 192 km²
MUNICÍPIO DE CANANÉIA
PR
População: 12377 Área: 1242 km²
Legenda Perímetro Vale do Ribeira
Parque Estadual da Ilha do Cardoso
2
3
15 km
Limites Municipais Rodovia BR-116 Áreas de Preservação - APA
HIPÓTESE SOBRE A FORMAÇÃO GEOLÓGICA DO COMPLEXO LAGUNAR CANANÉIA-IGUAPE.[2]
CONTINENTE
O
OC EA
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O TIC N LÂ AT
I
II
III
IV
Porção continental marcada por acidentes geológicos montanhosos.
Em seguida dutos decorrentes da erosão são conduzidos pelos movimentos das águas impulsionadas pelos ventos e, em seguida, depositados na zona protegida pela carcaça geológica da ilha.
Ocorre então o processo de consolidação de resíduos pelos manguesais e da invasão de lama, areia e detritos orgânicos diversos vindos do interior, trazidos pelos cursos dágua e enxurradas.
O trabalho de obstrução prossegue. As grandes extensões de mangue se estabelecem tendo finalizado o seu trabalho de consolidação e fixação. Os manguezais se concentram nas partes baixas ainda sujeitas ao balanceamento das marés.
Besnard, W.. (1950). Considerações gerais em tôrno da região lagunar de Cananéia-Iguape: I. Boletim do Instituto Paulista de Oceanografia, 1(1), 09-26.
POVOADOS NO COMPLEXO LAGUNAR DE CANANÉIA. [3] IGUAPE
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DA
CANANÉIA
ILHA DE CANANÉIA
OC EA N
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O C I T N Â L T A
Legenda Estradas Limites Municipais
ILHA DO CARDOSO
Comunidades Ribeirinhas Áreas Indígenas Comunidade Quilombola Centro Histórico - Iphan
1 0 km
Embarque de Balsas
P R I N C I PA I S PA I S A G E N S A O L O N G O DO CANAL DO MAR PEQUENO.[A]
[A1]
Vista aérea de Iguape e da confluência do Mar Pequeno com o Valo Grande
[A2]
Ponte que cruza o Canal do Mar Pequeno, ligando Iguape a Ilha Comprida.
[A3]
Orla do Centro histórico de Cananéia no Canal do Mar Pequeno
[Naturam]
[O Turista]
[Prefeitura de Cananéia]
LOCALIZAÇÃO DAS UNIDADES DE SAÚDE NO COMPLEXO LAGUNAR DE CANANÉIA. [3]
49 MINUTOS Hospital Regional doVale do Ribeira [40 leitos de UTI]
IGUAPE
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42 MINUTOS
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ID
65
Pedrinhas
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ILHA DE CANANÉIA
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1
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43
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Núcleo Perequê
ILHA DO CARDOSO
Legenda Estradas Limites Municipais Unidades de Saúde [sem UTI]
1 0 km
Hospital Regional do Vale do ribeira
PRINCÍPIOS DO SUS UNIVERSALIDADE EQUIDADE INTEGRALIDADE E S T R AT É G I A S
PA RT I C I PA Ç Ã O POPULAR
APLICAÇÃO
REGIONALIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO
DESCENTRALIZAÇÃO E COMANDO ÚNICO
AT E N Ç Ã O TERCEÁRIA
AT E N Ç Ã O SECUNDÁRIA
AT E N Ç Ã O PRIMÁRIA
Atendimento à situações de alta complexidade
Atendimento ambulatorial e hospitalar nas necessidades básicas
Promoção de prevenção, vacinação e cuidados básicos
POVOADOS NO COMPLEXO LAGUNAR DE CANANÉIA. [3] IGUAPE
4 pe né
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R MP
ID
CANANÉIA
O C I T N Â L AT5
OC EA N
O
A
ILHA DE CANANÉIA
Legenda Estradas Limites Municipais
ILHA DO CARDOSO
Comunidades Ribeirinhas
6
Áreas Indígenas Comunidade Quilombola Centro Histórico - Iphan
1 0 km
Embarque de Balsas
POVOADOS NO NORTE DO CANAL DO MAR PEQUENO. [4]
R E S E R VA E C O L Ó G I C A J U R É I A - I TAT I N S
o
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Rio Ribeira
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Praia da Juréia
Rio Ribei
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Vila de Icapara
IGUAPE Toca do Bugio
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Mar Pequeno
Ponte
Intermunicipal
Bairro do Rocio no
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O C I T N Â L AT
Legenda Equip. de Saúde Perímetro tombado de Iguape
OC EA N
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Barra do Ribeira
Estradas Comunidades Ribeirinhas Áreas Indígenas Comunidade Quilombola Centro Histórico - Iphan
3 km
Embarque de Balsas
POVOADOS NO MEIO DO CANAL DO MAR PEQUENO. [5]
a
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IGUAPE
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Terra Indígena Pindoty/Araçá-Mirim
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Terra Indígena Guaviraty
CANANÉIA
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O
O C I T N Â L T A Legenda Estradas Comunidades Ribeirinhas Áreas Indígenas
ILHA DE CANANÉIA
Comunidade Quilombola Centro Histórico - Iphan
3 km
Embarque de Balsas
POVOADOS NO SUL DO CANAL DO MAR PEQUENO. [6]
Cubatão
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Parque Estadual Lengamar Cananéia
RID
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Quilombo de Mandira
Centro Histórico Cananéia
Reserva Extrativista Mandira
10
C
ILHA DE CANANÉIA Terra Indígena Pakurity
Barra de Cananéia
Baía do Trepande
Núcleo Pereque-Itacuruça
OCEANO AT LÂ NT I
CANANÉIA
Ilha do Bom Abrigo
Terra Indígena Pakurity
ILHA DO CARDOSO
Legenda Estradas Comunidades Ribeirinhas
Terra Indígena Jacutinga
Áreas Indígenas Comunidade Quilombola Centro Histórico - Iphan Marujá
3 km
Embarque de Balsas
O
CENTRO HISTÓRICO DE IGUAPE E O C A N A L D O VA L O G R A N D E . [ 7 ]
Bairro do Rocio
Industrias Reunidas Francisco Matarazzo Canal do Valo Grande
Escola Municipal Benedito Rosa
Serra do Mar
Basílica do Bom Jesus de Iguape Área de Proteção Ambiental
Praça da Basílica
0m
100
300
1:5000
VILA DE PEDRINHAS E O CANAL DO MAR PEQUENO. [8]
Área de Proteção Ambiental
Vila de Pedrinhas
Icapara Mar Pequeno
10
00 mm
100 100
200 300
1:5000
R E S E R V A E X T R AT I V I S TA M A N D I R A E O CANAL DO MAR PEQUENO. [9]
Estrada do Mandira Povoado Quilombola
Reserva Extrativista do Mandira
Canal de Batuva
Povoado Quilombola
0m
100
300
1:5000
N AV E G A N D O P E L O MAR PEQUENO CAPÍTULO 2 / INTENÇÕES
O S I S T E M A D E A N T E N A S - FA R O L : A TERCEIRA MARGEM DO RIO
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constituído por duas margens, a do lado de cá e a do a ar ap Ic
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Será possível existir contato entre diferentes povoados, cada antena será provida com uma fonte de luz no seu topo, que varia de cor entre o verde, vermelho, branco e azul, conforme as necessidades de cada grupo. Por exemplo, se há uma emergência na comunidade quilombola do Mandira a luz emitida será vermelha e todos aqueles que estão em volta poderão saber, ao olhar no horizonte, que há um problema com o povoado vizinho. É uma analogia aos sinais de fumaça, que permitiam o coletivo saber, através da paisagem, a situação em determinado ponto no território. Com a estrutura de faróis e portos propostos, não seriam apenas criadas edificações nas margens, mais o próprio canal e as suas águas se tornariam um espaço de convívio e encontro. Seria criada, seguindo o conto de Guimarães Rosa, uma “terceira margem do rio”, um novo lugar que é, metaforicamente, uma praça central conectando todos os povoados do Baixo Vale do Ribeira.
[...] a terceira margem do rio é a que não é. Um rio é
y ur it Pa k
lado de lá, que reciprocamente se remetem. Entretanto, entre elas corre o rio, imagem da continuidade; e no
rio navega uma canoa, imagem da descontinuidade. A
passagem do tempo é insignificante para o rio, fundaP Ita ereq cu ue ru ça
uj á ar M
As localidades escolhidas variam desde os centros históricos de Iguape e Cananéia, até as terras indígena do Pakurity, na Ilha do Cardoso. As torres são pensadas ao mesmo tempo como um farol luminoso, mas também uma torre de controle e observação de fauna, flora, meteorologia e telecomunicações. Foi pensado um abrigo para pesquisadores pendurado em cada uma das torres, criando um lugar que seja infraestrutura, lar e observatório. No pé de cada uma dessas estruturas haverão cinemas, bares, restaurantes, escolas e hospitais voltados para o coletivo de todos aqueles que vivem próximos ao Mar Pequeno. A maior distância entre duas das torres propostas seria de 16 km, entre Iguape e Subaúma. Em topografias planas é possível enxergar construções altas a mais de 20 km de distância. Com isso as torres seriam posicionadas de maneira a criar uma rede de comunicação visual, indicando a posição de cada localidade, seja para aqueles que estão viajando como para aqueles que habitam as margens do canal.
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Diferente do litoral norte paulista o relevo do “Baixo Vale do Ribeira”, no litoral sul, é extremamente plano. A ausência de morros, vales ou colinas dilui as fronteiras entre os lugares e desencontra espaços e paisagens. É tudo um imenso contínuo, que se dilui com o percorrer. A nível de navegação, não é intuitivo para um forasteiro se aventurar de um povoado a outro pelo Mar Pequeno. Não há pontos de referência na paisagem que guiem o olhar daqueles que se deslocam ou apenas observam o horizonte. Não há nomes e tampouco identidade. Tendo em vista a imagem do farol como objeto capaz de nomear, informar, inserir no mapa e na paisagem as localidades costeiras mais distintas, foram projetadas torres-faróis para os mais diversos povoados que beiram o canal do Mar Pequeno e os seus arredores. Seriam um total de onze torres, posicionadas nas margens e indicando a existência de um pequeno porto para a parada de barcos de transporte ou unidades móveis de saúde.
mental para a canoa e seu ocupante. Esquma da posição das torres e a ligação entre elas
(GALVÃO, 1978, p. 37).
28
MODELO DA TORRE DE CONTROLE E O B S E R VA Ç Ã O . [ 1 0 ]
3,00 m
11
11
MAR PEQUENO
0m
3
9
TORRE DE CONTROLE E O B S E R VA Ç Ã O . [ 1 1 ] MAR P E Q U ENO
Térreo
0,00 m
Postos de Trabalho - 2 Pesquisadores - 1 Controlador de Bordo
Estação / 48m²
MAR P E Q U ENO
+15,00 m
0m
2
4
ESTRUTURAS ANÁLOGAS E HOMÓLOGAS ÀS TORRES DE C O N S T R O L E E O B E R VA Ç Ã O .
Farol Boto Cinza (Mamífero)
Tubarão-Cabeça-Chata (Peixe)
Antena / Torre de Rádio Braço Humano
Nadadeira de um Boto
Estruturas Análogas
Estruturas Homólogas
Desempenham a mesma função, mas não possuem a mesma origem.
Desempenham funções diferentes, mas possuem a mesma origem.
FUTURAS BASES DE SAÚDE, HOSPEDAGEM E TURISMO NO COMPLEXO LAGUNAR IGUAPECANANÉIA. [3]
Iguape
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Pedrinhas
16
CANANÉIA Cubatão
17
Centro Histórico Cananéia
ILHA DE CANANÉIA
O C I T N Â L T A
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Quilombo de Mandira
Ilha Comprida
Subaúma
Ig u
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15
Icapara
Núcleo Pereque-Itacuruça
Legenda
ILHA DO CARDOSO
Estradas Limites Municipais
Terra Indígena Pakurity
Paradas de barco, unidades de saúde e base turística Marujá
1 0 km
LUZES DAS TORRES DE CONTROLE E O B S E R VA Ç Ã O .
Luz Verde
Luz Azul
Luz Vermelha
Luz Branca
A unidade de saúde itinerante está atracada e disponível
Embarcação de transporte atracada e dosponível
Emergência médica. Necessidade de tratamento médico ou transporte
Situação de Normalidade
REDE DE CONEXÃO VISUAL E E S PA C I A L E N T R E A S TO R R E S D E O B S E R V A Ç Ã O P R O P O S TA S . [ 3 ]
IGUAPE
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CANANÉIA
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ID
16
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A
O C I T N Â L T A
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15
Legenda Estradas
ILHA DO CARDOSO
Limites Municipais Conexões Visuais
Marujá
Paradas de barco, unidades de saúde e base turística
1 0 km
LINHA DE CONEXÃO COM C ATA M A R Ã E N T R E O S P O V O A D O S DO COMPLEXO LAGUNAR DE CANANÉIA. [3]
IGUAPE
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CANANÉIA
A LH
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R MP
ID
16
17
A
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O ILHA DE CANANÉIA
15
Legenda Estradas
ILHA DO CARDOSO
Limites Municipais Rotas da Linha de Transporte Coletivo Paradas de barco, unidades de saúde e base turística
1 0 km
O S I S T E M A D E C ATA M A R Ã S C O M O S O L U Ç Ã O PA R A A N AV E G A Ç Ã O No século XIX, a então próspera cidade de Iguape foi o cenário de um desastre ambiental sem precedentes: a abertura do Canal do Valo Grande (ilustrado na página seguinte). Como resultado da catástrofe o porto da cidade foi assoreado, a navegação comercial no Mar Pequeno, próximo à cidade, se tornou inviável, houve inundação de áreas agricultáveis, fome e então o ciclo de prosperidade econômica do baixo Vale do Ribeira, que já iniciava inclusive um processo de industrialização, foi sepultado e a cidade caiu no esquecimento. Por diversas vezes no século XX o poder público tentou fechar o canal do Valo Grande para conter o processo de assoreamento, mas a tarefa não é tão simples. Primeiramente, construir uma barragem, ainda sem o viés da geração de energia, exige uma quantidade enorme de recursos e bastante vontade política. Em segundo lugar, fechar o canal cem anos depois que ele foi aberto também causa alterações profundas na dinâmica das população que depende daquela configuração hídrica, por isso houve muita resistência por parte dos pescadores de manjuba e dos produtores de banana. Ambos dependem das cheias nas várzeas do canal do Vale Grande. Finalmente, no início dos anos 80 uma barragem para a contenção do assoreamento das margens do Valo Grande é construída e a crise, que se iniciou durante o Império, é aprofundada:
Iguape começa a viver um drama social cujas consequ-
ências são ainda imprevisíveis. Há muitos pedintes nas ruas do
centro, milhares de pessoas desabrigadas e pouca perspectiva de
emprego para toda essa gente. O êxodo rural, depois da nova cheia, é iminente. Os prejuízos ainda não foram calculados, mas acredita-se que eles cheguem perto de Cr$ 1 bilhão. [...]
O prefeito Carlos Fausto diz que não há condições de o
Poder Público absorver a mão de obra que agora está disponível. O
comércio da cidade que aguarda uma crise, também não tem essa condição. Várias famílias estão pensando na possibilidade de ingressar no ramo da pesca, mas como a captura da manjuba na safra atual é pequena [...] as perspectivas se tornaram mais reduzidas.
Trecho de matéria jornalística publicada em A Tribuna do Ribeira (edição de 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 1981) sob o título “Enchentes: o drama dos desabrigados”. Um século e meio depois, a cidade de Iguape continua tentando encontrar soluções para superar tal desequilíbrio ecológico. E o trabalho em questão busca discutir soluções para esse problema. Propor a volta da navegação de médio porte no canal do Mar Pequeno, depois do histórico de desastres, é uma ideia que pode soar utópica e ingênua. Entretanto foram investigadas possíveis modelos de embarcações pensadas para a navegação em águas rasas. Pesquisando minuciosamente, é possível encontrar modelos de barcos catamarãs fabricados por estaleiros na baixada santista, que conseguem ter pouco volume submerso e uma “área de deck” bastante proveitosa. Os catamarãs, são embarcações versáteis, que por possuírem dois ou mais cascos, conseguem nave-
gar em águas rasas e em grandes velocidades apresentando menor atrito com a superfície da água. O sistema de portos e antenas, contará com um conjunto de catamarãs que se completarão, funcionando como meio de transporte para moradores e turistas, fomentando o ecoturismo e também como ambulatórios médicos móveis, que poderiam ficar atracados nas mais remotas comunidades, abrigando uma equipe de saúde da família, fornecendo o cuidado básico e a prevenção para todos. Para o transporte de passageiros os barcos seriam geridos pela “Companhia de Navegação do Mar Pequeno” que se responsabilizaria pela venda de bilhetes para os turistas, pelo controle das embarcações, e cadastro dos moradores que teriam gratuidade. Foi pensado um aplicativo que consiga aproximar a dinâmica das embarcações no canal com todos os moradores e novos visitantes através da internet. Com as embarcações em funcionamento, haveria uma relação de complementaridade entre o sistema de transporte e saúde. Quando houver maior demanda por parte do sistema de saúde os barcos de transporte podem ser adaptados para servirem como ambulatório e o inverso também é válido. Agora, a terceira margem do Mar Pequeno seria o espaço de desenvolvimento econômico através do ecoturismo e também de acesso à saúde pelas comunidades mais remotas do Baixo Vale do Ribeira.
36
A M A I O R C ATÁ S T R O F E A M B I E N TA L D O S É C U L O X I X N O B R A S I L : VA L O GRANDE NO RIO RIBEIRA.[12]
Rio Ribeira
Porto do Ribeira
Rio Ribeira
e
Porto Grande
Centro Histórico
Porto Grande
Centro Histórico
Pe r a
M
no
ILHA COMPRIDA
M
Ponte
- 3,00 m
no
e qu
Pe r a
Centro Histórico Bairro do Rocio
- 15,00 m
e qu
IGUAPE
rand
e
rand
G Valo
IGUAPE
G Valo
IGUAPE
4 km
Rio Ribeira
ILHA COMPRIDA
ILHA COMPRIDA
1800
1855
2020
Durante os séculos XVIII e XIX Iguape era um importante porto dentro da lógica de cabotagem adotada na costa paulista. Havia um porto situado no canal do mar pequeno, localização estratégica para a desefa e proteção. Nesse momento o Rio Ribeira de Iguape desaguava á oeste de Icapara e corria a cerca de 4 Km ao norte do centro de Iguape.
Na metade do século XIX foi construído o “Canal do Valo Grande” ligando o Rio Ribeira de Iguape ao Canal do Mar Pequeno. O intuito do projeto era reduzir o tempo de deslocamento das mercadorias entre o Rio Ribeira e o mar que antes eram transportadas por tração animal e agora seriam embarcadas. Na época o canal possuia 4,4 m de largura.
165 anos depois da abertura do canal é possível notar radical transformação na paisagem local. Formou-se um delta no Canal do Mar Pequeno decorrente do intenso processo de assoreamento, pois 60% do volume de água do Rio Ribeira é desviado para o canal. Houve drástica diminuição da salinidade da água, devastando os manguezais da região e, por fim, houve a diminuição da profundidade do Mar Pequeno na região de Iguape, impossibilitando a navegação comercial e levando a cidade à decadência econômica. Hoje o Valo Grande possui 300 metros de largura.
A M A I O R C ATÁ S T R O F E A M B I E N TA L D O S É C U L O X I X N O B R A S I L : VA L O GRANDE NO RIO RIBEIRA.[B]
[B1]
Antiga área portuária de Iguape com a Basílica ao fundo. [1930]
[Blog Fotos de Iguape]
[B2]
Cidade de Iguape vista a partir de Icapara com destaque para as ilhas formadas a partir do assoreamento do valo grande
[blog Fotos de Iguape]
C ATA M A R Ã : E M B A R C A Ç Ã O D E D O I S C A S C O S A D A P TA D A P A R A N AV E G A Ç Ã O E M Á G UA S R A S A S .
Catamarã Catamarãs são os barcos que possuem dois ou mais cascos. Foram criados pelos nativos da Polinésia Francesa para navegar em águas rasas, sobre os corais dos atóis do Pacífico Sul. Embarcaçoes “bicasco” são conhecidas por possuírem grande superfície utilizável (área de deck) em comparação com profundide submersa (calado). Por isso apresentam bom desempenho em águas rasas.
C ATA M A R Ã : E M B A R C A Ç Ã O D E D O I S C A S C O S A D A P TA D A P A R A N AV E G A Ç Ã O E M Á G UA S R A S A S .
13
14
3,00 m
VISTA
LA TE RAL
VISTA
FR ON TAL 3m
C ATA M A R Ã D E T R A N S P O R T E D E PA S S A G E I R O S P E L O S P OV OA D O S DO MAR PEQUENO. [13]
Lotação: 64 passageiros - 1 Banheiro - Bicicletário
C ATA M A R Ã D E T R A N S P O R T E D E PA S S A G E I R O S P E L O S P OV OA D O S DO MAR PEQUENO. [14]
Lotação: 64 passageiros - 1 Banheiro - Bicicletário
MAR PE QU ENO 3m
C ATA M A R Ã A M B U L AT Ó R I O M É D I C O : UNIDADE DE SAÚDE ITINERANTE PA R A N O M A R P E Q U E N O . [ 1 3 ]
Lotação: 4 habitantes - 1 Banheiro - 1 Cozinha - 2 Dormitórios - 1 Enfermaria - 1 Consultório - Terraço Multiuso
C ATA M A R Ã A M B U L AT Ó R I O M É D I C O : UNIDADE DE SAÚDE ITINERANTE NO CANAL DO MAR PEQUENO. [14]
Tripulação
Equipe “Estratégia Saúde da Família” - S.U.S.: - 1 Médico - 1 Enfermeiro - 1 Aux de Enfermagem
- 1 Marinheiro
Lotação: 4 habitantes - 1 Banheiro - 1 Cozinha - 2 Dormitórios - 1 Enfermaria - 1 Consultório - Terraço Multiuso
MAR PE QU ENO 3m
C O M P L E M E N TA R I E DA D E D O S S I S T E M A S : I N T E N S I DA D E D O U S O D O S C ATA M A R Ã S PA R A S A Ú D E E T U R I S M O A O L O N G O D O A N O
vo o oN
An
Intenso
al
av
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Moderado
SAÚDE
TURISMO
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J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
M O B I L I Á R I O U R BA N O E M P E D R A B R U TA , F E I TO C O M G R A N I TO D E C A N A N E I A .
I M P L A N TA Ç Ã O D E U M S I S T E M A D E A G E N DA M E N TO , C A DA S T R O E A C O M PA N H A M E N TO .
COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO DO MAR PEQUENO
MORADOR J O S É D A S I LVA A L M E I D A
COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO DO MAR PEQUENO
Nº 93812237-09
23/05/1992 Tipo Sanguíneo: O+
Validade: 03/2022
Bilhete de Embarque Boarding Pass
COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO DO MAR PEQUENO
COMPANHIA DE NAVEGAÇÃO DO MAR PEQUENO
17-06-2021 MAPA EM TEMPO REAL
MAPA EM TEMPO REAL
SERVIÇOS DE SAÚDE
SERVIÇOS DE SAÚDE
SERVIÇOS DE TRANSPORTE
Bilhetes Roteiros
Novas Viagens
C U LT U R A E L A Z E R H O S P E DA G E M E R E S TA U R A N T E S
Menu Principal / Serviços de Transporte
Iguape ------------ 09:15 Pedrinhas --------- 10:30
Base móvel mais próxima: SUBAÚMA - 21,7km
Agendar Consulta Atendimento On-line Reportar Urgência SERVIÇOS DE TRANSPORTE Preço / Price R$ 12,00
C U LT U R A E L A Z E R
Menu Principal / Serviços de Saúde
Mapa onde é possível acompanhar ao vivo a localização de cada um dos catamarãs em atividade
Modelo de um bilhete de embarque
R E L A Ç Ã O E N T R E O S P R I N C I PA I S P O N TO S D O P R O J E TO E O S ATO R E S E N V O LV I D O S N O S E U F I N A N C I A M E N TO E M A N U T E N Ç Ã O .
EMPRESAS DE TELECOMUNICAÇÕES
TORRES DE CONTROLE E O B S E R VA Ç Ã O
SECRETRARIA E S TA D U A L D O MEIO AMBIENTE
ASSOCIAÇÕES DE MORADORES
C ATA M A R Ã S
BILHETERIAS
PREFEITURAS
PEQUENAS EMPRESAS
PORTOS AT R A C A D O U R O S E CAIS
HOTÉIS R E S TA U R A N T E S COMÉRCIO
S E C R E TA R I A D A SAÚDE + MINISTÉRIO DA SAÚDE
S E C R E TA R I A D O S TRANSPORTES + MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA
V I S TA D E U M A T O R R E A P A R T I R D O C ATA M A R Ã
CONFIGURAÇÃO DAS TORRES N A PA I S A G E M D O M A R P E Q U E N O
CAMINHANDO PELAS MARGENS CAPÍTULO 3 / INTERVENÇÕES
PORTO DE IGUAPE: O CORAÇÃO DO SISTEMA Com mais de 25 mil habitantes, Iguape é o principal centro urbano banhado pelo Mar Pequeno e a sua história está intrinsicamente ligada às águas. Iguape é a sétima cidade mais antiga do Brasil, foi fundada em 1538. Por possuir o maior conjunto de casarios coloniais do estado de São Paulo, em 2009 o seu centro histórico foi tombado pelo Iphan. O processo implementado apresentou algumas novidades nas políticas de tombamento, tais como o protagonismo da educação patrimonial e a inclusão, não apenas de edifícios e construções, mas também do patrimônio natural que compõe a paisagem, tais como a floresta que recobre o morro da espia e o canal do Valo Grande. Dentre todos os edifícios tombados um deles se destaca tendo em vista o projeto do sistema de navegação proposto para o Mar Pequeno: as ruínas das indústrias reunidas Matarazzo. Durante o ciclo do arroz, Iguape despertava grande interesse econômico do setor produtivo da época, com a abertura do Valo Grande em 1855 o escoamento da produção que vinha pelo rio Ribeira de Iguape até o porto foi otimizado, atraindo grandes investimentos do empresariado da capital paulista. O símbolo desses investimentos era um pujante armazém das Indústrias Matarazzo, não por coincidência, construído às margens do canal recém aberto. Lá se vendia de tudo: sal, querosene, gasolina, farinha de trigo, sabão, velas, fósforos, sacaria, etc. Também comprava, em grande escala, tanto arroz em casca quanto beneficiado. Possuía também serviço próprio de navegação fluvial e marítima. A ironia se dá em 1935, quando a navegação no Mar Pequeno estava em declínio por conta do processo de assoreamento e
então o armazém é fechado e cai em abandono. Hoje o edifício, com a sua chaminé, figura na paisagem da cidade como o símbolo do apogeu e do declínio de Iguape, margeando o Valo Grande, aquele que foi a causa de seu sucesso e da sua decadência. Tendo em vista a localização das ruínas das Indústrias Matarazzo na lógica da navegação no Mar Pequeno e o caráter simbólico que o edifício tem na cidade, será proposta uma intervenção radical possibilitando o seu reuso na lógica da navegação para turismo, transporte e saúde no Mar Pequeno. Foi pensado, para o galpão principal, o uso como sala de embarque para aqueles que seguirão em viagem. Foram projetados um grande saguão, bilheterias, restaurante, lojas e uma quadra poliesportiva que servirá de cobertura para aqueles que estão esperando a próxima embarcação no cais. Será proposto no segundo edifício das ruínas, um pequeno hospital de urgências, equipado com alguns leitos, enfermaria, consultórios, pequenas salas de cirurgia e um heliporto. Esse hospital será a base que conecta os ambulatórios médicos itinerantes e os sistemas de saúde mais complexos. O heliporto, simboliza a hierarquia de sistemas no S.U.S.: caso seja necessário um tratamento especializado o paciente poderá ser transportando de algum povoado para Iguape e então para São Paulo. O terceiro e último edifício do complexo se trata de um novo prédio anexo, que abrigará uma escola de remo e um cinema, serviços que, na terceira margem do canal, servirão todos das comunidades que vivem ao redor do Mar Pequeno e não apenas a população Iguapense.
Portanto, esse porto representa o grande entroncamento rodo e hidroviário. Ele ligará Iguape, que é o principal acesso à rodovia BR116, aos demais povoados da região. Ele será um lugar potente, o coração de todo o sistema e a porta de entrada para o Mar Pequeno.
IGUAPE
ILHA COMPRIDA
Localização do Porto de Iguape na foto aérea. Destaque para o Mar Pequeno ao sul, o Rio Ribeira de Iguape ao norte e o Valo Grande conectando ligando um ao outro.
51
LOCALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE IGUAPE.[15]
Basílica do Bom Jesus (Existente)
IGUAPE Escola Estadual (Existente)
População de Iguape: 30390
VAL0 GRANDE
RIO RIBEIRA
Associação dos Artesãos e Produtores Caseiros de Iguape (Existente)
Unidade de Saúde (Existente)
M
Rua Tiradentes: Eixo Viário entre Praça da Basílica e o Cais Ruína das Indústrias Matarazzo (Existente) + Porto Fluvial Cais (Proposto)
Parque da Orla (Existente)
Cimitério de Iguape
Bancos de Sedimentos (Existente)
Bairro do Rocio (Existente)
Torre
MAR PEQUENO
100m
NO EQUE P AR
Basílica do Bom Jesus (Existente)
LOCALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE IGUAPE COM ARBORIZAÇÃO. [15]
IGUAPE Escola Estadual (Existente)
RIO RIBEIRA
VAL0 GRANDE
População de Iguape: 30390 Associação dos Artesãos e Produtores Caseiros de Iguape (Existente)
Unidade de Saúde (Existente)
M
Rua Tiradentes: Eixo Viário entre Praça da Basílica e o Cais Ruína das Indústrias Matarazzo (Existente) + Porto Fluvial Cais (Proposto)
Parque da Orla (Existente)
Cimitério de Iguape
Torre
Bancos de Sedimentos (Existente)
Bairro do Rocio (Existente)
Torre
MAR PEQUENO
100m
NO EQUE P AR
CENTRO HISTÓRICO DE IGUAPE F O T O G R A FA D O À PA R T I R D A T O R R E DA BASÍLICA DO BOM JESUS. [C]
[C1]
Praça da Basílica
[blog Fotos de Iguape]
[C2]
Praça da Basílica começo do século XX
[IBGE Cidades]
RUÍNAS DAS INDÚSTRIAS REUNIDAS F R A N C I S C O M ATA R A Z Z O À S M A G E N S D O C A N A L D O VA L O G R A N D E E M IGUAPE. [C]
[C3]
Interior das Ruínas das Indústrias Matarazzo
[C4]
Valo Grande e Ruínas das Indústrias Matarazzo
[C5]
Porto e galpões Industriais no começo do século XX
[Patrimonio Vale do Ribeira]
[blog Fotos de Iguape]
[blog Fotos de Iguape]
P R O P O S TA D E R E U S O D A S R U Í N A S DAS INDÚSTRIAS UNIFICADAS M ATA R A Z Z O E M I G U A P E .
Mapa do Canal do Mar Pequeno Escala 1:1300
RIA T S Ú IND LMENTE A D UA AS R U Í N A Z Z O AT R M ATA
Programa Saúde / Pronto-socorro (486 m²) Comercio / Cultura (672 m²) Esporte (825 m²) Bilheteria / Atendimento ao Turista (80 m²)
L0 GRANDE A V
V I S TA A É R E A D O N O V O P O R T O D E I G UA P E A PA RT I R D O H E L I C Ó P T E R O D E R E S G AT E .
P R I M E I R O PAV I M E N TO D O P O RTO E PRONTO-SOCORRO DE IGUAPE.
4
3
VAL0 GRANDE
5
6 2 1
1. Embarque e desembarque de passageiros 2. Terminal hidroviário de Iguape 3. Escola de remo e canoagem 4. Pronto-Socorro 5. Cais para embarque no pronto-socorro 6. Piscina pública
15m
S E G U N D O PAV I M E N TO D O P O RTO E PRONTO-SOCORRO DE IGUAPE.
4
3
VAL0 GRANDE
5
6 2 1
1. Quadra poliesportiva pública 2. Terminal hidroviário de Iguape 3. Cinema 4. Pronto-Socorro 5. Cais para embarque e desembarque para o pronto-socorro 6. Piscina pública
15m
CANAL ARTIFICIAL SIMULANDO A MORFOLOGIA DO MAR PEQUENO.
Para criar uma separação entre o hospital e o edifício de embarque foi pensado um canal artificial de água que simula o formato do canal do Mar Pequeno. Com isso será possível para aqueles que transitam pelo porto entender a geografia da região. Além disso haverá uma fonte luminosa pontual representando cada uma das antenas-farol que, simultaneamente emitirão os mesmos padrões verde, vermelho, azul e branco que está sendo emitido em cada um dos portos.
Torres propostas / Previsão de ponto de iluminação de piso
10m
IGUAPE
CANANÉIA
ILHA COMPRIDA
P R I M E I R O PAV I M E N TO D O P O RTO E PRONTO-SOCORRO DE IGUAPE.
8
8 9
10
10
10
11
12
7
1
2
3
1. Bilheteria 2. Atendimento ao Turista 3. Armazém de Caiaques 4. Livraria 5. Super-mercado 6. Instalações Restaurante 7. Salão 8. Recepção 9. Enfermaria 10. Consultórios 11. Drogaria 12. Atendimento e Administração
4
5
6
10m
S E G U N D O PAV I M E N TO D O P O RTO E PRONTO-SOCORRO DE IGUAPE.
6 5
7
6
8 7
3 1
1. Redário 2. Lanchonete 3. Bilheteria 4. Salão superior do restaurante 5. Sala de cirurgia 6. Consultórios 7. Quarto para internação 8. Sala de Cinema e Auditório
4 2
10m
CORTE DO COMPLEXO COM PORTO E PRONTO-SOCORRO DE IGUAPE.
IGUAPE
10m
FA C H A D A S D O E D I F Í C I O A N E X O COM O CINEMA E A ESCOLA DE REMO E CANOAGEM.
V I S TA
V I S TA
F R O N TA L
L AT E R A L
0m
2
4
CORTE DA QUADRA DE FUTEBOL SUSPENSA DO PORTO DE IGUAPE.
2m
D E TA L H A M E N T O D A C O B E R T U R A D E MUXARABIS.
1m
V I S TA D O S A L Ã O D E E M B A R Q U E DO PORTO DE IGUAPE
V I S TA D A P R A Ç A C E N T R A L A PA RT I R DA PA S S A R E L A D O C I N E M A
LETREIRO LUMINOSO NA CHAMINÉ DA ANTIGA INDÚSTRIA
PÍER E HOSPEDARIA DA VILA DE PEDRINHAS
CANANÉIA
70
ILHA COMPRIDA
Localização da hospedaria de pedrinhas no Mar Pequeno.
Pedrinhas é uma simpática vila caiçara localizada na Ilha Comprida, possui por volta de 350 habitantes e beira o canal do Mar Pequeno. A vila começou a ser formada no início do século XX e durante os últimos cem anos permaneceu esquecida, hoje em dia começa a ser descoberta pelos turistas mais curiosos. O acesso se da através de uma pequena estrada que foi aberta nos últimos anos. Os ônibus municipais que servem a região ainda percorrem o caminho pela areia da praia da Ilha Comprida. Para Pedrinhas, além da infraestrutura de saúde itinerante, seria proposto um conjunto de medidas de qualificação do local para o turismo. A vila de Paranapiacaba, em Santo André no ABC paulista, serve de modelo de como políticas públicas podem fomenter o turismo socialmente sustentável. No caso de Paranapiacaba foi de extrema importância para a manutenção da paisagem e da cultura locais que os moradores da vila estivessem instruídos e pudessem participar ativamente de todas as etapas do desenvolvimento do turismo, seja na alimentação, hospedagem, artesanato, ou transporte. Eles protagonizaram o desenvolvimento do turismo e o processo de tombamento de sua vila. Paranapiacaba é uma vila tombada no final dos anos 1990 por conta do conjunto de seu patrimônio arquitetônico que remonta a memória das ferrovias no estado de São Paulo e também por estar localizada numa imporante área de mananciais. Em 2001 a prefeitura de Santo André iniciou uma série de políticas públicas visando o fomento ao turismo envolvendo os moradores locais, preservando os aspectos culturais e ambientais e gerando emprego e desenvolvimento econômico. Primeiramente a prefeitura aprimorou os ser-
viços básicos de saúde e educação para o povoado de 700 moradores, estimulando que aqueles que já viviam lá consiguisem permanecer na região. Em seguida foram implementados diversos programas de treinamento e estímulo ao empreendedorismo no setor do turismo e além disso os jovens recebiam uma quantia em dinheiro da prefeitura para trabalharem como guias. O resultado pode ser observado pelo fato de que em 2002 Paranapiacaba que contava com apenas 9 empreendimentos e em 2008 totalizou-se o número de 90 empreendimentos, principalmente nas áreas de hotelaria, alimentação e prestação de serviços turísticos, gerando uma queda significativa dos indicadores de desemprego e o aumento da renda média da população. Para Pedrinhas, seria possível implementar um projeto semelhante. Para isso foi projetado um grande píer como lugar de estar e infraestrutura hídrica e também uma hospedaria para o acolhimento de turistas. O píer, localizado próximo à torre-farol, contaria com uma cobertura para embarque e desembarque de barcos, um bar sobre a água e um pequeno edifício para bilheteria, acolhimento de funcionários e sorveteria. O hotel propõe um conceito de hospedagem em “tocas”. Se trata de um conjunto de 16 pequenos edifícios construídos em terra, espalhados por um terreno que beira o Mar Pequeno e possui exuberante vegetação. Seriam três modelos de tocas que podem acolher duas, três ou quatro pessoas. O partido do projeto seria a inserção máxima do conjunto na natureza, e a fusão dos espaços na paisagem. Para isso a disposição das tocas configura uma pequena vila, com piscinas, jardins, espaços de estar e uma generosa cobertura vazada em biriba de madeira. A hospedaria de Pedrinhas seria, assim como a vila que lhe da vida, aconchegante, natural e discreta.
LOCALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO NA VILA DE PEDRINHAS. [16]
Píer de Pedrinhas
IGUAPE
População da Vila de Pedrinhas: 346 Município: Ilha Comprida
MAR PE QU ENO
Posto de Saúde (Existente) Mercado e Restaurante
Unidade Básica de Saúde (Proposto)
Escola Municipal (Existente)
Torre
Paradas para barcos de ciculação e “barcos hospitais”
CANANÉIA
Hospedagem (Proposto)
100m
LOCALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO NA VILA DE PEDRINHAS COM ARBORIZAÇÃO. [16]
Píer de Pedrinhas
IGUAPE
População da Vila de Pedrinhas: 346 Município: Ilha Comprida
MAR PE QU ENO
Posto de Saúde (Existente) Mercado e Restaurante
Unidade Básica de Saúde (Proposto)
Escola Municipal (Existente)
Torre
Paradas para barcos de ciculação e “barcos hospitais”
CANANÉIA
Hospedagem (Proposto)
100m
FOTOGRAFIAS DO PIER DE PEDRINHAS.[D]
[D1]
Vila de Pedrinhas vista à partir do Mar Pequeno
[Portal Ilha Comprida]
[D2]
Pier de Pedrinhas.
I M P L A N TA Ç Ã O D O E M B A R Q U E E DESEMBARQUE EM PEDRINHAS.
HOT PED EL DE RIN HAS
15m
P L A N TA D O B A R NO PIER DE PEDRINHAS.
3m
P L A N TA D O A C E S S O , B I L H E T E R I A E SORVETERIA NO PORTO DE PEDRINHAS.
1
2
3
1. Apoio aos Funcionรกrios 2. Sorveteria 3. Bilheteria e Apoio ao Turista
3m
E L E VA Ç Ã O DA B I L H E T E R I A , S O R V E T E R I A E I N S TA L A Ç Õ E S N O PORTO DE PEDRINHAS.
3m
CORTE DO PIER DE PEDRINHAS C O M A T O R R E E M V I S TA .
3m
CORTE DO BAR NO PIER DE PEDRINHAS.
2m
D I A G R A M A D A I M P L A N TA Ç Ã O D A S T O C A S DA HOSPEDARIA DE PEDRINHAS.
40m
115m
V I S TA Á E R E A D A H O S P E D A R I A DE PEDRINHAS.
CORTE LONGITUDINAL DA HOSPEDARIA DE PEDRINHAS.
TOCAS “P” E “M” DA HOSPEDARIA DE PEDRINHAS.
3m
Toca P Térreo
Toca P Terraço
Toca P ou M Fachada frontal
Toca M Térreo
Toca M Terraço
Toca P ou M Fachada lateral
TOCA “G” DA HOSPEDARIA DE PEDRINHAS
Toca M Fachada frontal
3m
Toca G Térreo
Toca G Primeiro pavimento
Toca G Fachada traseira
Toca G Terraço
RECEPÇÃO E SAGUÃO DA HOSPEDARIA DE PEDRINHAS
3m
P L A N TA D O C O N J U N T O D E T O C A S DA HOSPEDARIA DE PEDRINHAS.
3
G
M
M
G
P
P
1
G
P
G
G
2
4
M
3
P
1. Recepção 2. Restaurante 3. Piscinas de massagem 4. Piscina P. Toca P M.Toca M G. Toca G
M
P
P
M
10m
I M P L A N TA Ç Ã O D O C O N J U N T O DE TOCAS DA HOSPEDARIA DE PEDRINHAS.
10m
V I S TA I N T E R N A D A HOSPEDARIA DE PEDRINHAS
OSTRARIA FLUTUANTE N A R E S E R VA D O M A N D I R A
CANANÉIA
90
Localização da hospedaria de pedrinhas no Mar Pequeno.
A comunidade quilombola do Mandira é a única do tipo localizada às margens do Mar Pequeno. Situada em Cananéia, foi fundada em 1868 quando Francisco Mandira, filho de um poderoso fazendeiro e de uma de suas escravas, recebeu a terra como doação. Hoje vivem 105 pessoas no quilombo e chegam até a sétima geração de Francisco Mandira. Por conta das leis de proteção ambiental e das limitações topográficas o cultivo de alimentos é bastante limitado e por isso a subsistência da comunidade se da através da criação e venda de ostras. Durante boa parte do tempo a comunidade era responsável apenas pela extração, enquanto terceiros eram responsáveis pelo transporte e distribuição. Em 1997 a comunidade se organiza e funda o “Cooperostra”, cooperativa de produtores de ostra, sedeada em Cananéia, que tem domínio total de todas etapas da produção e distribuição das ostras, gerando maior renda para os produtores quilombolas. A produção de ostras está muito ligada ao movimento das marés. Na natureza as ostras costumam nascer em pedras que ficam ora expostas ao sol e ao ar e ora submersas na água salgada. Para a criação de ostras em cativeiro é necessário um ambiente análogo: são montadas estruturas semelhantes a mesas de jantar, com suporte para redes metálicas. As ostras são criadas dentro dessas redes e, com o movimento das marés, ficam submersas parte do tempo. O projeto da Ostraria do Mandira busca, primeiramente, apropriar-se do movimento das marés como uma característica fundamental na composição, não só da paisagem da reserva extrativista do
Mandira, como também da própria prática da criação de ostras em Cananéia. Para isso foi pensado uma grande estrutura flutuante circular, posicionada próxima às áreas de mangue. A estrutura contará com um sistema de boias e pistões fixados ao chão: dessa maneira quando a maré estiver alta, o restaurante estará flutuando, e quando a maré estiver baixa o restaurante pousará no solo. Além da característica simbólica, uma estrutura flutuante permite ser instalada com menor impacto ambiental e maior flexibilidade caso precise ser removida ou realocada. Próximos à torre-farol a intervenção prevê, ainda, um píer e um bolsão para abrigar os catamarãs de transporte e de assistência médica. O bolsão funciona como um reservatório de água para que seja possível manter embarcações atracadas mesmo durante a maré baixa. Portanto, assim como em Paranapiacaba, os próprios habitantes do quilombo e aqueles que fazem parte da Cooperostra serão os responsáveis pela gestão e serviços no restaurante que é, de uma forma ou de outra, uma maneira de aproximar os turistas da realidade da cooperativa, conectando a comunidade de Mandira com todos os outros povoados do Mar Pequeno.
LOCALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO N A R E S E R V A E X T R AT I V I S TA D E MANDIRA. [16]
Comunidade Quilombola
Hospedagem (Proposto)
ra
Estrada do Mandi
Produção de Ostras
ra Estrada do Mandi
Cais (Proposto)
R E S E R VA E X T R AT I V I S TA DE MANDIRA
População do Quilombo de Mandira: 108 Município: Cananéia 100m
Maré Alta
Maré Baixa
Restaurante Flutuante (Proposto)
LOCALIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO N A R E S E R V A E X T R AT I V I S TA D E MANDIRA COM ARBORIZAÇÃO. [16]
Comunidade Quilombola
Hospedagem (Proposto)
ra
Estrada do Mandi
Produção de Ostras
ra Estrada do Mandi
Cais (Proposto)
R E S E R VA E X T R AT I V I S TA DE MANDIRA
População do Quilombo de Mandira: 108 Município: Cananéia 100m
Maré Alta
Maré Baixa
Restaurante Flutuante (Proposto)
F OTO G R A F I A S DA R E S E R VA E X T R AT I V I S TA D O M A N D I R A . [ E ]
[E1]
Vista aérea da reserva extrativista de Mandira
[Cidade e Cultura]
[E2]
Produção de Ostras em Mandira
Marcio Masulino
F OTO G R A F I A S DA R E S E R VA E X T R AT I V I S TA D O M A N D I R A . [ E ]
[E3]
Criação de Ostras de Cananéia durante a maré alta.
Marcio Masulino
[E4]
Criação de Ostras de Canenéia durante a maré baixa
Marcio Masulino
CORTE SITUAÇÃO DA OSTRARIA DA R E S E R V A E X T R AT I V I S TA D O M A N D I R A .
10m
V I S TA A É R E A D A S I N T E R V E N Ç Õ E S N A R E S E R V A E X T R AT I V I S TA D O M A N D I R A .
P L A N TA D A O S T R A R I A D A R E S E R V A E X T R AT I V I S TA DO MANDIRA.
8m
E L E VA Ç Ã O DA O S T R A R I A DA R E S E R VA E X T R AT I V I S TA D O M A N D I R A .
4m
DIAGRAMA DO SISTEMA DE ROLDANAS E CABOS DAS PERSIANAS DE BAMBU.
pe
rsi
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rsi
an
a
an
a
contrapeso
contrapeso contrapeso
contrapeso
PERSIANA FECHADA
P E R S I A N A A B E R TA
C O RT E DA O S T R A R I A DA R E S E R VA E X T R AT I V I S TA D O M A N D I R A .
4m
C O R T E A P M P L I A D O D A O S T R AT I A D A R E S E R V A E X T R AT I V I S TA D O M A N D I R A .
2m
V I S TA I N T E R N A D A OSTRARIA DO MANDIRA
CONCLUSÃO
104
O violento processo de urbanização posto em voga no Brasil durante a ditadura militar fez com que hoje mais de 84% da população brasileira viva em centros urbanos. O número é absolutamente desproporcional quando comparado a outros países, principalmente levando em consideração as dimensões continentais do Brasil. Como consequência, contamos com algumas poucas metrópoles superlotadas e desestruturadas, retroalimentando um imenso interior campesino aonde prevalece a desigualdade, o latifundio e o abandono. Esse trabalho tem como objetivo não apenas pensar em um projeto de arquitetura para um conjunto de cidades, mas principalmente evidenciar que as soluções para o Brasil Profundo existem em todas as áreas de conhecimento e passam por uma intensa reflexão sobre formação do território nacional, sobre a questão do meio ambiente e, especialmente, sobre respeito e atenção às comunidades tradicionais. Embora produzido no mais sombrio dos momentos, Infraestrutura no Brasil Profundo: Possibilidades para o Vale do Ribeira é uma tentativa de lançar luz às infinitas possibilidades que existem para repensarmos as nossas cidades, reafirmando o importante papel da universadade pública, ao lado da tradicional sabedoria dos povos das florestas nesse processo. Portanto, após um ano de pesquisas e uma série de viagens, é possível concluir que há múltiplas opções de projetos de infraestrutura pensados para as regiões remotas do país, que podem trazer importantes melhorias na qualidade de vida da população local, através de um baixo impacto ambiental e pouca aplicação de recursos quando comparado aos enormes projetos executados pelo poder público nas últimas decadas, que visam sobretudo um desenvolvimento econômico míope e pouco inclusivo.
DIÁRIOS DE VIAGENS REGISTROS NO TEMPO
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1. Casa dos meus avós restaurada em Iguape, Anos 90. 2. Meus avós e a minha mãe em Iguape, Final dos anos 50. 3. Ruínas das indústrias Matarazzo, 2020. 4. A torre da Igreja a partir do Solar Colonial, 2020.
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[2] [3] 1. Ônibus na praia na Ilha Comprida, 2015. 2. Minha avó e as amigas em Iguape, 1947. 3. Eu e amigos em Pedrinhas, 2018.
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1. Posse do meu avô como prefeito de Iguape, 1965. 2. Meus avós recém casados, Início dos anos 50. 3. Eu e a minha família na antiga rota de balsa, 2001. 4. Ostras de cananéia em Pedrinhas, 2020.
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1. Anúncio da loja do Mario Rollo, meu bisavô, 1904. 2. Meu avô no colo da sua irmã em frente à loja, 1917.
BIBLIOGRAFIA NASCIMENTO, Flávia Brito do; SCIFONI, Simone. O tombamento de Iguape como patrimônio nacional: novas práticas e políticas de patrimônio nacional. PARC Pesquisa em Arquitetura e Construção, Campinas, v. 6, n. 1, p. x-y, jan./mar. 2015. SOUZA, E. P. Canal do Valo Grande: Governança das águas estuarinas na perspectivada aprendizagem social. 2012. 161f. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) Universidade de São Paulo. SANTOS, K. M. S.; TATTO, N. Agenda socioambiental de comunidades quilombolas do Vale do Ribeira. Instituto Socioambiental: São Paulo, 2008. BERSNARD, Wladimir. Considerações gerais em torno da região lagunar Cananéia-Iguape. 1960. Dissertação v. 1 n. 1 (1950). SANTOS, Valesca Camargo dos. O princípio da subsidiariedade e sua relação com a APA do município da Ilha Comprida, SP. GEOgraphia - Ano. 18 - Nº37 – 2016. FIGUEIREDO, V. G. B. Paranapiacaba: um caso de preservação sustentável da paisagem cultural. Labor & Engenho,Campinas [Brasil], v.5, n.3, p. 61-84. 2011. Disponível em: <www.conpadre.org> e <www.labore.fec.unicamp.br>. MARTIRNS, R. Conservação de onça-parda (puma concolor) e de onça-pintada (panthera onca) no mosaico da Juéria Itatins, São Paulo. Universiade Santa Cecília, Mestrado em ecologia: Santos, 2016.