Fernando Madeira Obra sobre papel
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Texts Ana Vicentini de Azevedo Angélica Madeira
Bruno Gini Madeira Angélica Madeira
Fernando Madeira
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Production Assistant
Fotografia
Judivan Leite
Photography Lucas Las Casas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M181o
Madeira, Fernando, 1938-
Obra sobre papel / Fernando Madeira. – , Brasília, Edição do autor, 2016.
220 p. : il.
ISBN 978-85-921447-0-8
1. Artes Visuais. 2. Colagem. M. Título.
CDD 709.81
CDU 73
Fernando Madeira Obra sobre papel
Edição do autor Brasília 2017
Sumário
7 Fernando Madeira: Obra sobre papel Fernando Madeira: Work on paper 41 Aguadas 41 Ink wash painting 47 Árvores 47 Trees 53 Azulejos 53 Tiles 55 Bichos 55 Animals 61 Cães e festas 61 Dogs and parties 67 Colagem e acrílica sobre papelão 67 Collage and acrylic on cardboard 73 Colagens sobre papel Canson 73 Collage on Canson paper 81 Desenho, pintura e colagem 81 Drawning, painting and collage 95 Desenhos e colagens 95 Drawings and collages
105 Faixas 105 Srips 109 Gravuras não gravuras 109 Prints no prints 131 Interiores 131 Interiors 133 Máscaras 133 Masks 149 Mitologias 149 Mythologies 157 Peles 157 Skins 169 Príncipe em quadrinhos 169 Prince´s comics 177 Sem título 177 Untitled 183 Serras gerais 183 General mountains 193 Vazados 193 Hollowed 215 Fernando Madeira
Fernando Madeira: Work on paper Pedro de Andrade Alvim
Fernando Madeira’ work raises, in its own way,
the previous direction. The works seem to get
the philosophical question that attempts to cor-
their form from the extraction, starting with
relate terms such as chance and necessity, or
the initial choices and their determinations, of
freedom and contingency. From artists’ point
a method that establishes an internal relational
of view that means, today, to open up to the
principle of the developing works and series. This
externality of the world and the unpredictable
is a model in which the steps are added together:
determinations that operate on the ways of seeing
the basic operation is addition, aggregation,
and the doing. Madeira belongs to the family of
starting from what was possible to “extract” from
those who are driven by a cognitive impulse. His
the base material. The concatenation of unpre-
starting point is the curiosity about materials,
dictable factors is governed by spatial juxtapo-
but he also manifests a rationalistic willingness
sition and temporal overlap. Unpredictability
to organize and classify them according to their
is a key component of this work, an openness
properties. The main interest, however, is for
to an externality to which he never renounces.
what can be done with them, the possibilities
After each completed action, a question
of manipulation and combination, less to aim
arises on what to do from that point onwards.
at specific goals than to know where these pos-
For the appreciation of the works, the emphasis is
sibilities lead to and to make sure that the road
on the process, how it is resignified at every new
traveled is preserved in the artworks.
step. Each work is like a ship in transit, driven by
From afar, the works of Madeira are not seem
a permanent resignification of their constituent
as much as the result of aesthetic experiences but
operations and moving towards a destination that
as part of the gradual building of a method. The
is unpredictably connected to its starting point.
experiences are not self-sufficient and matter less than the operative possibilities involved. At every
Between series
new step novel questions arise, which, conse-
Madeira’s works show determination and clarity.
quently, lead to further developments regarding
They seem to be linked to a precision of purposes,
Fernando Madeira: Obra sobre papel Pedro de Andrade Alvim
O trabalho de Fernando Madeira recoloca, de
questões, que, por sua vez, conduzem a desen-
uma forma própria, a questão filosófica que busca
volvimentos em relação à orientação anterior.
por em relação termos como acaso e necessida-
O que dá aos trabalhos sua “forma” parece ser
de, ou liberdade e contingência. Do ponto de
a extração, a partir das escolhas iniciais e suas
vista dos artistas, isso significa, hoje, abrir-se
determinações, de um método que estabeleça um
à exterioridade do mundo e às imprevisíveis
princípio relacional interno das obras e das séries
determinações que atuam sobre o ver e o fazer.
que vão se constituindo. Trata-se de um modelo
Madeira pertence à família daqueles que são
em que as etapas se somam umas às outras: a ope-
movidos por um impulso cognitivo. Seu ponto de
ração básica é de acréscimo, agregação, a partir
partida é a curiosidade pelos materiais e também
do que foi possível “tirar” do material de base.
uma disposição racionalista para organizá-los e
Justaposição espacial e sobreposição temporal
classificá-los, segundo suas propriedades. O prin-
regem o encadeamento de fatores imprevistos. A
cipal interesse, porém, é pelo que se pode fazer
imprevisibilidade é o componente fundamental
com eles, suas possibilidades de manipulação
do trabalho, abertura para uma exterioridade à
e combinação, menos por ter em mira objetivos
qual ele nunca renuncia.
determinados, do que para saber onde levam tais
Depois de cada ação realizada, uma inter-
possibilidades e para fazer com que o percurso
rogação se coloca sobre o que fazer a partir da-
realizado se conserve nas obras.
quele ponto. Do ponto de vista da apreciação
Consideradas a partir de certa distância, as
dos trabalhos, a ênfase recai no processo, na
obras de Madeira não se mostram tanto como
forma como ele é ressignificado a cada etapa.
resultado de experiências estéticas, mas como
Cada obra é como uma nave em trânsito, mo-
parte da construção paulatina de um método.
vida por uma permanente ressignificação das
As experiências não se bastam a si mesmas, im-
operações que a constituem, em direção a um
portam menos que as possibilidades operató-
ponto de chegada imprevisivelmente atrelado
rias envolvidas. A cada etapa se colocam novas
ao seu ponto de partida. 7
Figura 1. Paramento 2. Colagem s/papel Canson, 34,5 × 55 cm, 2008.
guided by a peculiar sense of completion, a kind
turn into an interest in collapsing or floating
of confidence related to the moment they will be
forms (Paramento 2, 2008; Fig. 1). Or, therefore,
done. They assert a methodical character without
fragments of loose forms may show the way
producing a hint of obsessiveness.
for combinations or modular developments
As in a puzzle where one need to organize
(Cenário, Pipas, 2008; Figs. 2 and 3). The ex-
some matchsticks for making a shovel, and after
pressionist pole, whenever it emerges on the
reorganize them in another position, the struc-
horizon, evokes a diaphanous balance; the
tural basis of the works collapses at some point,
queuing of compact figures may lead to light-
giving rise to a universe of indeterminations.
ness (Imaginário, Voar, 2009; Figs. 4 and 5). The
One, therefore, expects a reconfiguration of the
emphasis of a series moves from color permuta-
questions that had been laid out at the outset.
tions to typological samples, from questioning
The assertion of a tectonic sense, to which the works could be originally attracted, can thus 8
the structure to investigating combinations of procedures...
Entre uma série e outra
indeterminações. Fica-se, então, na expectativa
Os trabalhos de Madeira possuem determinação
de uma reconfiguração das questões que haviam
e clareza. Parecem estar ligados a uma precisão
sido postas inicialmente.
de propósitos, guiados por um sentido próprio
A afirmação de um sentido tectônico, para o
do acabamento, uma espécie de segurança em
qual os trabalhos originalmente poderiam tender,
relação ao momento em que estarão terminados.
pode, assim, se converter em um interesse por
Afirmam um caráter metódico sem produzir
formas de desabamento ou flutuação (Paramento
lastro de obsessividade.
2, 2008), Fig. 1. Ou então, fragmentos de formas
Como no jogo em que se constrói uma pá
soltas podem apontar caminhos para desen-
com palitos de fósforos e se deve reconstituí-la
volvimentos do tipo combinatório ou modular
em outra posição, a base estrutural sobre a qual
(Cenário, Pipas, 2008), Fig. 2, 3. O polo expressio-
se assentam os trabalhos em determinado ponto
nista, quando surge no horizonte, invoca um con-
se desmancha, dando lugar a um universo de
trapeso diáfano; de um enfileiramento de figuras 9
Figura 2. Cenário. Colagem s/papel Canson, 34,5 × 55 cm, 2008.
From watercolors to “engravings”
forceful and the colors are at times monochro-
A strong compositional impulse can be seen in
matic, deaf and insistent, at other, they high-
some dog themed watercolors from the late 1980s
light strident tones. These drawings in pastel
and early 1990s (Figs. 6 and 7). Behind the fluidity
and mixed technique open up more space for
lies the attention and the mastery of drawing,
technical experimentations, as if a historical
the depuration of colors: in the act of creation,
experience – notably that of twentieth-century
inventiveness is not dissociated from skill and
engraving – was being incorporated into the
technique. The playful game with materials and
individual journey.
with the interpretation of the motif was not de-
An interest for abstract rhythms that tra-
void, at that time, of a “pygmalionic” disposition
verse and requalify the surfaces emerges in the
to capture animal life through the ancestral way
mixture of tropicalist watercolor and collage from
of mimesis and expression.
the late 1980s that comprises the series Máscaras
In other works with animal figures (Boi Ápis,
(Fig. 9). The expressionist affiliation remains
Fig. 8), the expressive aspect becomes more
explicit, but the empathetic impulse toward the
10
Figura 3. Pipas. Colagem s/papel Canson, 34,5 × 55 cm, 2008.
compactas, pode resultar leveza (Imaginário,
interpretar o motivo não prescindia, naquele
Voar, 2009), Fig. 4, 5. A ênfase de uma série
momento, de uma disposição “pigmaliônica”
passa de permutações de cor para amostragens
para captar a vida animal pelas vias ancestrais
tipológicas, da interrogação sobre a estrutura à
da mimese e da expressão.
investigação de combinações de procedimentos...
Em outras obras que mostram figuras de animais (Boi Ápis, Fig. 8), o aspecto expressivo
Das aquarelas às “gravuras”
se torna mais contundente e as cores ora tendem
Em algumas aquarelas que têm cachorros como
ao monocromatismo, surdas e insistentes, ora
tema (fim dos anos 1980, Fig. 6, 7), se vê um im-
ao destaque de tons estridentes. Esses desenhos
pulso compositivo forte. Por trás da fluidez, se
em pastel e técnica mista abrem mais espaço
percebe o cuidado e o domínio do desenho, a
para experimentações técnicas, como se uma
depuração das cores: no ato de criação, a inventi-
experiência histórica - notadamente a da gravura
vidade não se dissocia da habilidade e da técnica.
do século xx – estivesse sendo incorporada ao
O jogo lúdico com os materiais e com a forma de
percurso individual. 11
Figura 4. Imaginário. Colagem s/papel Canson, 34,5 × 55 cm, 2009.
motif begins to be put aside from the making pro-
factor of objectivity and detachment, revisiting
cess – which may seem paradoxical, considering
the line that goes from cubism to pop art.
that the head theme tends to be spontaneously
The expressionist roughness and the natu-
linked to the principle of expression of the self.
ralist impulse give way to a material thickness
In these works, the expressive pathos is traversed
that have been gradually built, incorporating re-
by strips of colors and textures that, although
sources from painting and collage. The increased
vibrant, imprint a pop flatness and an objectivity
materic character announces a rationalistic turn
that set them apart from the consensus between
towards an interrogation on the form, color, and
subjective expression and formal depuration that
way of producing and thinking the image, which
is present in the dog compositions. A game of
will help to compose the conceptual and decon-
deconstruction of the subject is all that remains
structive visage adopted by the artist in his works
from the empathy principle, which is replaced
from the 2000s.
by an invitation to follow the making process of
The shift of emphasis towards the work-
the works. It is the collage that introduces the
ing process is one of the landmarks of the path,
12
Figura 5. Voar. Colagem s/papel Canson, 34,5 × 55 cm, 2009.
Nas misturas de aquarela e colagem tropi-
do consenso entre expressão subjetiva e depu-
calistas feitas no fim da década de 1980 e que
ração formal presentes nas composições com
compõem a série Máscaras (Fig. 9), vem à tona
cachorros. Um jogo de desconstrução do sujeito
um interesse por ritmos abstratos, que atraves-
é tudo o que persiste do princípio de empatia, ao
sam as superfícies, requalificando-as. A filiação
qual vai se substituindo o convite a um acompa-
expressionista continua explícita, mas o impulso
nhamento do processo de feitura das obras. É a
de empatia com o motivo começa a ser posto à
colagem que introduz o fator de objetividade e
margem do processo de realização, o que pode
distanciamento, revisitando a vertente que vai
parecer paradoxal, já que o tema das cabeças
do cubismo à arte pop.
tende a se ligar espontaneamente ao princípio
A aspereza expressionista e o impulso na-
da expressão do eu. O pathos expressivo é, nessas
turalista vão cedendo lugar a uma espessura
obras, atravessado por faixas de cores e texturas,
material que já vinha sendo construída de forma
que, embora vibrantes, lhes imprimem uma pla-
paulatina, somando recursos de pintura e de co-
nura pop e uma objetividade que as diferencia
lagem. O aumento do caráter matérico anuncia 13
Figura 6. S/título. Aquarela s/papel Canson, 0,25 × 0,36m, 1989.
meaning an alignment with contemporary sen-
made in these works to be attuned with a global
sitivity and style of art production. This shift
apprehension of the current state of art is thus
introduces, in Madeira’s work, a plurality of pro-
offset, in its visual part, by a more incisive for-
cedures and opens up possibilities to formulate
malization from an extremely poor material base
questions, but also imposes a ban on returning
that provides almost instantaneous access to a
to the personification of the point of view: the
reservoir of formal and expressive resources.
artist’s self is desubstantialized, turning into a kind of variable in a coordinate map – which
Composition?
naturally corresponds to another model of art
Some collages produced in more than a decade
reception. It is not about illustrating postulates,
long interval (1999-2013) have a shared structure
but building a discipline in which the ends are
of superposition of different types of paper –
pursued materially and the works reveal their
darkened white and beige, creating transparency
own results.
grids that result in a veiling effect (Peles, Fig. 11).
In the series commissioned for publica-
The finished work exposes both the under-
tion in Correio Braziliense in the early 2000s
lying webbing and the overlaying material (e.g.,
(Gravuras não gravuras, Fig. 10), the quotes make
the so-called “universal base” over transparent
up a kind of desiderata, in the sense of a break
rice paper). The ancient use of lime as a sealant
with a crystallized system, forcing an interac-
exposes something of the actual process of decay,
tion with certain ‘limit-ideas’. The expansion
and the marks and early states of the surface
of the artist’s field of perception and action is
reveal themselves like a palimpsest.
countered by the demand for a certain type of
A technical and historical knowledge accu-
renunciation, pointing to a form of frugality in
mulated in tables and prescriptions is mobilized
the production and reception of art. The effort
in pursuit of a color glimpsed in Byzantine icons,
14
Figura 7. Cão sem plumas. Aquarela s/papel Canson, 24 × 31 cm, 1991.
uma virada racionalista no sentido de uma inter-
no início dos anos 2000, Fig. 10), as citações com-
rogação sobre a forma, a cor e o modo de produzir
põem uma espécie de desiderata, no sentido de
e pensar a imagem, o que irá ajudar a compor a
um rompimento com um sistema cristalizado, o
virada conceitual e desconstrutiva adotada pelo
que obriga ao convívio com determinadas ideias-
artista em trabalhos dos anos 2000.
-limite. A ampliação do campo de percepção e
O deslocamento da ênfase para o processo
atuação do artista tem como contrapartida a exi-
de realização dos trabalhos é um dos marcos da
gência de certo tipo de renúncia, apontando para
orientação, no sentido de um alinhamento com a
uma forma de frugalidade na produção e recepção
sensibilidade e o modo de produção contemporâ-
de arte. O esforço feito nesses trabalhos para se
neos. Isso introduz, no trabalho de Madeira, um
colocar em diapasão com uma apreensão global
pluralismo de procedimentos e possibilidades de
do estado atual da arte é assim compensado, na
formular questões, mas estabelece também uma
sua parte visual, pela formalização mais incisiva,
interdição de retorno à personalização do ponto
a partir de uma base material extremamente
de vista: o eu do artista se des-substancializa,
pobre que gera acesso quase instantâneo a um
convertendo-se numa espécie de variável num
reservatório de recursos formais e expressivos.
mapa de coordenadas - o que corresponde, naturalmente, a um outro modelo de recepção da
Composição?
obra. Não se trata de ilustrar postulados, mas
Algumas colagens realizadas com mais de uma
sim de construir uma disciplina em que os fins
década de intervalo (1999-2013) possuem uma
são perseguidos materialmente e os trabalhos
estrutura comum de superposição de diferentes
revelam seus próprios resultados.
tipos de papéis, brancos, enegrecidos e beges,
Na série intitulada Gravuras não gravuras (executada para publicação no Correio Braziliense
gerando grades de transparência que tendem a um efeito de veladura (Peles, Fig. 11). 15
Figura 8. Boi Ápis 2 (tríptico). Pintura s/papel, 35,5 × 43 cm, 1991.
Figura 9. S/título. Colagem e acrílica s/papel 19 × 15 cm, 1990.
whose unique light penetrates the paper mate-
implemented. In the latter, still remain visible
rial. The eye gets used to following the paths
the different possibilities of organization that
of erosion; the way with which the perception
have opened the paths which determine the
of the work evolves is subject to interruptions,
evolution of a series.
obstructions and gaps. The pulsation of color
When the materials are arranged on the
emerges in some points, through the superpo-
same surface, their power of permanence and
sition and corrosion of materials, between tears
an element of transformation and rupture are
and cracks. Its effect of expansion continues to be
revealed. Certain ways of being, specific of the
reproduced, with mimetic logic, in the stages in
matter, entail different possibilities for the com-
which the manipulation and technique intervene
bination, fixation, and disaggregation of shapes.
more forcefully.
The presence of opposing dispositions in the
The work process is split into an initial
works, and the intermediate stages of adaptation
period of preparation – a kind of kitchen or
and transformation, acquire a presence that is
laboratory, when a medium of certain plastic
assimilated by the eye.
properties and visual characteristics is produced
Conceptual and formal choices may be made
– and a subsequent stage when the choices are
simultaneously to the prospection stages, at a
16
Figura 10. Gravuras não gravuras 21. Colagem, impressão e pintura s/papel, 30 × 52 cm, 2001-2002.
O trabalho pronto opera a dupla exposição
às lacunas. A pulsação da cor emerge em alguns
da trama de baixo e da matéria que a recobre
pontos, através da sobreposição e corrosão dos
(por exemplo, a da chamada “base universal”
materiais, entre rasgos e fissuras. Seu efeito de
sobre papel de arroz transparente). O antigo
expansão continua a se reproduzir, com lógica
uso da cal como selamento expõe alguma coisa
mimética, nas etapas em que a manipulação e
do processo mesmo da deterioração; as marcas
a técnica intervêm de forma mais contundente.
e estados anteriores da superfície dão-se a ver
O processo de trabalho se divide em um
como um palimpsesto.
momento inicial de preparação – uma espécie
Um conhecimento técnico e histórico acu-
de cozinha ou laboratório, quando se fabrica um
mulado em tabelas e receituários é mobilizado
medium dotado de certas propriedades plásti-
na perseguição de uma cor entrevista em íco-
cas e características visuais – e um momento
nes bizantinos, cuja luz específica penetra na
subsequente em que as escolhas se efetivam.
matéria do papel. O olhar vai-se habituando a
Nesse último, permanece o quadro ainda visível
acompanhar os caminhos da erosão, a forma
das diversas possibilidades de organização, por
com que a percepção do trabalho se constitui
onde se abriram caminhos que determinam a
fica sujeita às interrupções, aos entravamentos e
evolução das séries. 17
Figura 11. Peles 8. Colagem s/bandagem cirúrgica, 29,5 × 40,5 cm, 1999. 18
Quando os materiais são dispostos sobre
Em outros trabalhos, se recorre a reper-
uma mesma superfície, são vistos tanto seu poder
tórios de formas e elementos mais ou menos
de permanência, quanto o elemento de transfor-
padronizados. Um deles, datado de dezembro
mação e de ruptura. Certos modos de ser especí-
de 2009, apresenta uma estrutura modular
ficos da matéria já implicam diferentes possibi-
que estabelece padrões geométricos (Fig. 13).
lidades de combinação, fixação e desagregação
As faces dos polígonos delineados sobre a fo-
de formas. A presença de disposições opostas
lha de base são preenchidas com colagens de
nos trabalhos, assim como as fases intermédias
cores previamente preparadas, separadas por
de adaptação e transformação, adquirem uma
espaços em branco. O amálgama de recortes de
presença assimilável pelo olhar.
jornais e papéis coloridos desbotados produz a
Escolhas formais e conceituais podem ocor-
impressão de uma superfície marmórea, como
rer de forma simultânea às etapas de prospecção,
nas colagens cubistas. O branco sobressai como
quando ainda está aberto o jogo com as possibi-
cor e como componente estrutural, podendo
lidades técnicas: encaixes, misturas, impressões
ocupar o interior ou exterior dos espaços, en-
de uma coisa sobre outra, superfícies a que se
quanto áreas mais uniformes, aquareladas,
agrega o que chegou por cima. Desencontros
intermedeiam a ausência de cor. Sem chamar
entre formas e medidas, que estabelecem seus
inicialmente a atenção, a inconstância no pre-
próprios territórios em áreas compósitas. Ação
enchimento dos retângulos vazados pela ma-
dos contornos rasgados, erodidos.
téria colorida introduz um plano de apreensão do trabalho que escapa à racionalidade formal
Medium, espaço, superfície
da composição. A colagem vem se sobrepor
Cada trabalho conjuga aspectos premeditados e
à racionalização do espaço, mais do que se
espontâneos, que tanto podem resultar de ação,
ajustar a ela.
quanto de abstenção. Numa colagem de formato
As colagens que lançam mão de estruturas
quadrado datada de maio de 2003, ainda está
modulares sugerem uma constante mudança de
bem à mostra a etapa preliminar de criação de
natureza e escala, ora tendendo à demarcação
um material de base agregando cores e texturas
de territórios e diferenciação de organismos, ora
(Fig. 12). Assim se fabrica um medium com ca-
rendendo-se à ação de partículas que ocupam
racterísticas próprias que favorecem a expansão
o espaço de modo pervasivo. Em vários desses
e a contenção de diferentes tipos de formas,
trabalhos se associa uma estrutura geométrica
definindo um modo de ocupação do espaço. No
a uma base matérica, sobre a qual podem ser
caso da referida colagem, o movimento inicial
sobrepostos esquemas figurativos específicos,
agregador é contrariado por rasgos de forma-
como os de contornos animais. Junto com a
to bem determinado que produzem entradas
“nova identidade hibridizada”, vem à memó-
e caminhos. Estabelecem, ainda que por uma
ria a obra de um Paul Klee. O espectador vai se
via negativa, relações entre planos coloridos e
acostumando a um território em que é possível
texturizados.
passar da materialidade concreta dos signos à 19
time when the game with the technical possibil-
the unevenness in the filling of the rectangles
ities is still open: fittings, mixtures, imprintings
hollowed by the colored matter introduces a
of one thing over another, surfaces that assim-
new dimension to apprehend the artwork that
ilate what came on top. Mismatches between
escapes the formal rationality of the composi-
shapes and measures, which establish their own
tion. The collage comes to superimpose itself
territories in composite areas. Action of eroded,
over the rationalization of space rather than
torn contours.
adjust itself to it. The collages that resort to modular struc-
Medium, space, surface
tures suggest a constant change of nature and
Each work combines premeditated and spon-
scale – at times towards the delimitation of ter-
taneous aspects, which may result either from
ritories and differentiation of organisms and at
action or from abstention. In a square-shaped
times surrendering to the action of particles that
collage from May 2003, the initial stage of cre-
occupy the space in a pervasive way. In many of
ating a base material by aggregating colors and
such works, a geometric structure is combined
textures is rather evident (Fig. 12). The result is
to a materic base, over which specific figurative
a medium with unique properties that favor the
schemes, such as the contours of animals, can
expansion and suppression of different shapes,
be overlaid. Along with the “new hybridized
outlining a way of an occupation of space. In
identity�, it brings to mind the works of Paul
that collage, the initial aggregating movement is
Klee. The spectator gets used to a territory where
countered by precisely shaped tears that create
it is possible to go from the concrete materiality
entrances and paths and establish, albeit by a
of signs to the generic iconicity that permeates
negative route, associations between colored
contemporary art.
and textured planes.
The metamorphosis principle becomes
In other works, the artist resorts to a some-
more evident when one goes from the friezes
what standard repertoire of shapes and elements.
with spaced out elements to a compact facade
A work from December 2009 has a modular struc-
traversed by horizontal scrapes (Art deco, 2008;
ture that creates geometric patterns (Fig. 13).
Fig. 14). In Medieval (2009; Fig. 15), which shares
The polygon sides outlined on the base sheet
with other collages a frieze structure of several
are filled with previously prepared color collages
layers, the artist creates a compositional pat-
separated by white spaces. The amalgamation
tern based on irregular, juxtaposed buildings.
of newspaper snippets and faded colored paper
Between rows of houses, hollow spaces introduce
gives the impression of a marbled surface, as in
the broad, irregular rhythms of the natural and
cubist collages. The white is highlighted as a color
artificial blurred shapes.
and structural component and may occupy the
One can fell a connection between the ar-
inside and outside of spaces, whereas more uni-
chitectural motif of the latter collage and the
form, watercolor-like areas mediate the absence
works featuring old streets made in 1976, during
of color. Without initially drawing attention,
a trip to the French countryside (Fig. 16). These
20
Figura 12. S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2002. 21
Figura 13. S/título. Colagem, pintura e desenho s/papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2009.
22
Figura 14. Art Deco. Colagem s/papel Canson, 34,5 × 55 cm, 2008.
23
drawings, made at a much earlier time than the
against the white background that reminds of an
aforementioned collages, provide an interesting
architectural structure or a set of signs.
reference point for the appraisal of later proce-
Narrative allusions are no longer rejected
dures. They were drawn from direct observation
by principle, however without falling back into a
and develop a meticulous calligraphy that, in
traditional mirroring between verbal and visual
some points, creates geometric modules. The
expression, in which a univocal correspondence
intricate compositions progress to infinity, start-
between word, image, and world is assumed.
ing from simple forms and creating complex
The form of these works is developed from the
and unpredicted developments. It is difficult
involvement in a maze of possibilities, which
to relate the repetitive regularity of the houses
gives the artworks an aspect of fictional con-
internal patterns with the randomness of their
struction or essayistic discourse – in which the
shapes and the unity of the whole – the view of
development of premises does not seek a sense
the streets itself produces an arbitrary shape that
of ultimate cohesion, extrapolating the limits of
is formed by the opposition to the surrounding
defined programs.
space. Perhaps the medieval theme indicates a
Similarly to the aforementioned “engrav-
common aspect of the two series, a work, at the
ings,” the works signed “FM” (Fig. 19) suggest
same time mechanical and cerebral, which is
the idea of a quasi-engraving made with scraps,
translated in the exploration of belongingness
revealing a code that has been established on the
and spatial continence issues and of ways of
margin of mechanical reproduction. Before serv-
dealing with time.
ing to complex methods of engraving and reproduction, the marks left by some things on others
The contemporary rebus
were already, themselves, things. If it is true that
An illustration project for a newspaper (Caderno
a fascination with the autonomous progression
Pensar, 2001) incorporating quote fragments, in
implicated in the printmaking language still per-
which the typographic composition is manually
sists, the advances made by the artist are directed
reproduced, can be seen as a standalone series
towards the basic forms of expression, drawing
(Fig. 17). The painstaking reproduction of the
and collage, preventing from falling uncondi-
written text embedded in the image reminds
tionally under the grip of the engraver’s craft.
of the camouflage effect of a series of collages
The artist makes an appropriation by indirect
and drawings from 2005-6, in which colorful
ways, a game of distraction, experimentation, and
compounds are lined up and interspersed with
combination with the engraving leftovers – the
full scale drawings of pods and fruits (Fig. 18).
black ink of particular consistency, the newspaper
The goal is to achieve a visual form of equiva-
used in the cleaning of the engraving plate. As in
lence between the “concrete presence” of the
engraving, the projective dimension of image cre-
abstract snippets and the nearly full-scale realist
ated for reproduction coexists with the singular
representations. From there on, these elements
mark engraved on the surface of the paper, but in
of different ink are combined to create a unity
this case, helping to dismantle the mise-en-scène
24
iconicidade genérica que atravessa a arte con-
O rébus contemporâneo
temporânea.
Um projeto de ilustração para jornal (Caderno
O princípio de metamorfose torna-se mais
Pensar, 2001), incorporando fragmentos de
visível quando se passa dos frisos com elementos
citações em que se reproduz manualmente a
espaçados a uma fachada compacta atravessada
composição tipográfica, transforma-se em série
por riscos horizontais (Art Deco, 2008; Fig. 14). Em
(Fig. 17). A reprodução laboriosa do texto escrito
Medieval (2009; Fig. 15) - que possui, como algumas
incorporada à imagem remete ao efeito de ca-
outras colagens, uma estrutura em friso de vários
muflagem de uma série de colagens/desenhos
andares - se estabelece um padrão composicional
realizada em 2005-6, em que compostos coloridos
a partir de perfis de construções irregulares, justa-
são enfileirados, intercalados com desenhos em
postos. Entre as fileiras de casas, espaços vazados
escala real de vagens e frutos (Fig. 18). Busca-se
introduzem os ritmos amplos, irregulares, das
alcançar uma forma visual de equivalência entre
formas naturais e artificiais confundidas.
a “presença concreta” dos recortes abstratos e
Pode-se perceber uma ligação entre o motivo
das representações realistas, feitas em escala
arquitetural dessa última colagem e trabalhos pro-
próxima do real. A partir daí esses elementos de
duzidos em 1976, durante uma viagem ao interior
natureza diversa associam-se, compondo contra
da França (Fig. 16), mostrando ruas antigas. Esses
o fundo branco uma unidade que lembra uma es-
desenhos, feitos em uma época bem anterior à
trutura arquitetônica, ou um conjunto de sinais.
das colagens mencionadas, proporcionam um
Não se rejeita mais, por princípio, as alusões
referencial interessante para a apreciação dos pro-
narrativas, sem que por isso se recaia num modo
cedimentos mais recentes. São traçados a partir de
tradicional de espelhamento entre expressão
observação direta, desenvolvendo uma caligrafia
verbal e visual, em que se pressupõe uma cor-
meticulosa que, em alguns pontos, dá origem a
respondência unívoca entre palavra, imagem e
módulos geométricos. As composições intrin-
mundo. Sua forma se desenvolve a partir do en-
cadas progridem ao infinito, partindo de formas
volvimento num emaranhado de possibilidades,
simples e gerando desenvolvimentos complexos
o que dá aos trabalhos um aspecto de construção
e imprevistos. É difícil relacionar a regularidade
ficcional, ou de discurso ensaístico - em que
repetitiva dos padrões internos das casas com a
não se busca o desenvolvimento de premissas,
aleatoriedade de suas formas e com a unidade
um sentido de coesão final, extrapolando-se os
de conjunto - a visão das ruas acaba, ela também
limites de programas definidos.
produzindo uma forma arbitrária, a partir da
Como as gravuras já mencionadas, os tra-
contraposição com o espaço circundante. Talvez
balhos assinados “FM” (Fig. 19) sugerem a ideia
a temática medieval indique um aspecto comum
de uma quase-gravura, feita a partir de refugos,
das duas séries, um trabalho ao mesmo tempo
dando a ver um código firmado à margem da re-
mecânico e cerebral, que se traduz na exploração
produção mecânica. Antes de servirem a métodos
de formas de relação com o tempo e de questões
complexos de gravação e reprodução, as marcas
de pertencimento e continência espacial.
deixadas por algumas coisas sobre outras já eram, 25
of illusionistic representation. Shadows and pro-
In analyzing the differences in the produc-
jections become material textures, develop a cor-
tion of contemporary and modern art, Lorenzo
poral consistency, and abandon the condition of
Mammì writes:
simulacrum in the Platonic cave. If the works of this series still retain some-
Artistic production began to place itself in a limit-po-
thing of the openness and projective dimension
sition in which it was no longer possible to proceed by
of modern art, it takes the form of a kind of rebus that assimilates theoretical propositions as cues
parts, to divide the object into its constituent elements, to talk of planes, volumes, and colors as interrelated elements. In other words: it was no longer possible to
or suggestions, which are related to records of
conduct a formal analysis of the work (...) Many artists
experimentation and comparison of procedures
that emerged soon after this upheaval took on the task
and materials. In the series of collages represented by relatively large-sized works combining geometric
of restoring the possibility of a formal construction, not despite but because of the critique of traditional articulations that had been made by the immediately preceding art.1
patterns and polychrome textures, one can catch a glimpse of the problematization of the constructive principle that stems from the need to be open to a mutable, hybrid medium. 26
1 MAMMI, Lorenzo. O que resta: arte e crítica de arte. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 245-246.
Figura 15. Medieval. Colagem s/papel Canson, 34,5 × 56 cm, 2009. Figura 16. Dinan, França. Bico de pena, 32,3 × 22,7 cm, 1976.
elas mesmas, coisas. Se é verdade que persiste
consistência corporal, deixam a condição de
um fascínio pela progressão autônoma em que se
simulacros na caverna platônica.
acha implicada a linguagem da gravura, as inves-
Se nos trabalhos desta série ainda se conser-
tidas feitas pelo artista são remetidas às formas
va alguma coisa da abertura e dimensão projetiva
de expressão básica, desenho e colagem, evitando
da arte moderna, ela toma a forma de uma es-
que se caia incondicionalmente no domínio da
pécie de rébus que assimila proposições teóricas
disciplina do gravador. Realiza-se uma apro-
como deixas ou sugestões, a que se reportam
priação por vias indiretas, um jogo de distração,
registros de experimentação e comparação de
experimentação e combinação com as sobras da
procedimentos e materiais.
gravura - a tinta preta de consistência particular,
Na série de colagens caracterizada por tra-
os jornais empregados na limpeza da prensa.
balhos de formato relativamente grande, com-
Como na gravura, a dimensão projetiva de ima-
binando padrões geométricos e texturas policro-
gem fabricada para a reprodução convive com a
madas, se entrevê a problematização do princípio
marca singular gravada na superfície do papel,
construtivo a partir da necessidade de se abrir a
mas, ajudando aqui a desmontar a mise-en-scène
um meio híbrido, mutável.
da representação ilusionista. Sombras e proje-
Ao analisar a maneira como a produção de
ções tornam-se texturas materiais, adquirem
arte contemporânea se demarca da arte moderna, 27
Figura 17. Gravuras não gravuras 8. Colagem, impressão e pintura s/papel 30 × 52 cm, 2001-2002.
One does not sense that Madeira’s work has
Other collages
been triggered questioning the possibility of
In the series of large-sized collages, standard
formalization. It seems more likely to have been
shapes are distributed regularly, generating a
driven by a playful impulse that simultaneously
kind of alphabet. Some results bring to mind the
deals with construction and deconstruction.
painting of Pavel Filonov (1883–1941), who, on
Set in motion, the process of experimenting
the margin of the Russian vanguards, produced
with and combining shapes modifies the overall
a symbolist work whose experiments with form
meaning of the work.
and materials acquired a visionary expression.
The collage process involves a heterogeneity
In the investigation of the relationship between
to which these works give a particular inflection,
visual construction, conceptual definition, and
bringing to surface elements from other codes
symbolic transmission, different formulas of
such as painting, watercolor, drawing, and en-
infinite progression can be achieved.
graving. The experiments with form, color and
The selection of elements from which
materials become, in a way, indirect, whereas
Madeira’s collages start leads to particular de-
a reflection on the method is brought to the
velopments, creating a specific attraction field
foreground. Where modern art was seen as a
for sensitive experience. In an untitled work
vehicle transporting mankind to unexplored
from February 2011, this can be seen in the gen-
places, now one seeks passages between differ-
tly contrasted variations between wedge and
ent modes of perception, which tend to revert,
column shapes, resembling sometimes chips
from within, the paradigm of the autonomy and
that stand out of a solid surface (Fig. 20). In
irreducibility of art.
another collage, snippets of different shapes and sizes are pulled in a whirlwind, triggering
28
Figura 18. Desenhos e colagens 14. Colagem e aquarela s/papel arroz, 32 × 67 cm, 2005.
Lorenzo Mammì escreve:
O processo de colagem implica uma heterogeneidade à qual esses trabalhos dão uma
A produção artística começou a se colocar numa posição-limite em que não era mais possível proceder por partes, dividir o objeto em seus elementos constitutivos,
inflexão particular, fazendo emergir em suas superfícies elementos de outros códigos: pin-
falar em planos, volumes e cores como elementos rela-
tura, aquarela, desenho, gravura... As experi-
cionados entre si. Em outras palavras: já não era possível
ências com a forma cor e matéria se tornam de
conduzir uma análise formal da obra. (...) Muitos artistas
certa maneira indiretas, enquanto se coloca em
surgidos logo após esse terremoto assumiram a tarefa de restaurar a possibilidade de uma construção formal, não
primeiro plano uma reflexão sobre o método.
apesar mas a partir da crítica que a arte imediatamente
Onde a arte moderna se via como um veículo
anterior fizera das articulações tradicionais.1
que transportava a humanidade para regiões não exploradas, agora se buscam passagens en-
Não se sente que o trabalho de Madeira te-
tre diferentes modos de percepção, tendendo
nha partido de uma dúvida sobre possibilidade
a reverter, a partir de dentro, o paradigma da
de formalização. Parece mais ter sido movido
autonomia e irredutibilidade da arte.
por um impulso lúdico que lida simultaneamente com construção e desconstrução. Posto em
Outras colagens
marcha, o processo de exploração e combinação
Na série de colagens maiores, formas padroni-
das formas encontra pontos a partir dos quais o
zadas se distribuem com regularidade, gerando
sentido do conjunto da obra se modifica.
uma espécie de alfabeto. Alguns resultados podem fazer pensar na pintura de Pavel Filonov
1 MAMMI, Lorenzo. O que resta: arte e crítica de arte. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, pp. 245-246.
(1882-1941) que, à margem das vanguardas russas, realizou uma obra de caráter simbolista, em 29
Figura 19. Madeiras 2. Xilogravura s/papel de jornal macerado a cal, 42,2 × 59,4 cm, s/data.
a kind of perpetual motion, reminiscent of a
In another large-sized collage in the same
process occurring on a cosmic scale (Fig. 21).
series, colorful snippets comprise tiny flow-
Amid somewhat random-shaped geometric
er-shaped clusters or crystalline formations (Fig.
snippets filled with fragments of color and
22). The multiplication of this base unit results,
matter, the attention is sometimes fixed upon
yet again, in the contrast between hollow and
certain deliberately hollow, marked rectangular
filled forms. The interstices are, in some parts,
contours, which could be the thread for a dif-
filled with an orange watercolor hue, contrast-
ferentiated apprehension of the contents put
ing with areas that retain the color of the paper,
into circulation. The presence of other regular
creating reproductions in negative of the floral
shapes and homogeneous surfaces contributes
and crystalline mosaics. The modular shapes
to a gradual perception of how elements that
may evoke the paintings and graphic works of
apparently belong to different categories affect
Athos Bulcão and Aloísio Magalhães. The former,
each other. By being considered apart from
in the paintings with a proliferation of colorful,
their overall movement, they establish almost
overlapping circles and the latter, in his series of
no link between them, evoking the enigma of
postcard collages entitled Cartemas. But while
the relationships attributed to them arbitrarily
in the works of Bulcão and Magalhães the main
and spontaneously by the spectator.
focus of interest is the composition (Bulcão) and
30
Figura 20. S/título. Colagem, pintura e desenho s/papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2011.
que as experiências com a forma e a matéria ga-
contínuo que sugere um processo em escala
nham uma expressão visionária. Na investigação
cósmica (Fig. 21). Entre recortes geométricos de
das relações entre construção visual, definição
formatos mais ou menos aleatórios, preenchi-
conceitual e transmissão simbólica se chega a
dos com recortes de cor e matéria, a atenção às
diferentes fórmulas de progressão infinita.
vezes se fixa em certas formas deliberadamen-
A seleção de elementos de que partem as
te vazadas, de contornos retangulares marca-
colagens de Madeira dá origem a desenvolvi-
dos, que poderiam ser o fio da meada para uma
mentos particulares, gerando um campo de
apreensão diferenciada dos conteúdos postos
atração específico para a experiência sensível.
em circulação. A presença de outras formas
Em um trabalho sem título datado de fevereiro
regulares e superfícies homogêneas contribui
de 2011, isso se dá a partir de variações pouco
para uma gradual percepção do modo como
contrastadas entre o formato de cunha e de
elementos que parecem pertencer a categorias
coluna, tomando às vezes o aspecto de lascas
diferentes interferem uns sobre os outros. Ao
que se destacam de uma superfície sólida (Fig.
serem considerados à parte de seu movimento
20). Em outra colagem, recortes de diferentes
conjunto, quase não estabelecem elos entre si,
formas e grandezas são arrastados num torve-
remetendo ao enigma das relações que lhes são
linho, desencadeando uma espécie de moto
atribuídas de forma arbitrária e espontânea. 31
32
33
◀ Figura 21. S/título. Colagem, pintura e desenho s/papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2011.
Figura 22. S/título. Colagem, pintura e desenho s/papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2012.
the former (Magalhães), in Madeira’s collages the
These are panoramic, horizontal images, whose
repetition and accumulation create concurrent
extension in length is countered by a doubling
principles of differentiation of shapes and occu-
in height. The artist does not engage the viewer
pation of space, highlighting the different stages
in a confrontation with matter, but insists, on
of the work and making them come together, in
the contrary, in a distant viewpoint.
a sort of synchronicity.
Maybe it is not as much about distancing
The emphasis in the making process of the
as it is about a disposition for the apprehension
works does not result in the visual solutions being
of the shape of a chain of “General mountains”
of minor importance. In a part of the series Serras
silhouetted against the sky offsetting the shape-
Gerais dated October 2015 (Figs. 27 and 28), a
less character of their contents, created from the
same duplicate composition contrasts an area of
amalgamation of multiple materials of varying
material texture created by the superimposition
densities. In that sense, it is interesting to relate
of snippets, with an area of larger rarefaction.
this topographical series to that second one fea-
In the lower part, the textures are achieved by
turing figures of animals (Mitologias), where one
pasting crumpled snippets on the base paper; in
can find, yet again, the materic brutalism and
the upper part, by a kind of erosion or scraping
the successive layers of scraps, this time giving
of the paper, which is covered with transparent
shape to swollen carcasses that stand out from
colors. Half the collage is prepared per via di
a murky background (Figs. 29 and 30).
porre and the second half almost entirely per via di levare. The overall effect, twice repeated, is
Collection
one of contrasting what is underneath with what
The collages composed of collected papers are,
is above, ground and sky, bringing to mind geo-
to some extent, conceptual proposals that appeal
logical layers exposed to a thermal environment.
to the condition of natural sample or cultural
34
Figura 23. Serras Gerais 2. Colagem e pintura s/papel Canson, 60 × 80 cm, 2015.
Figura 24. Serras Gerais 1. Colagem e pintura s/papel Canson, 60 × 80 cm, 2015.
Em outra das grandes colagens desta série,
Da ênfase no processo de elaboração das
recortes coloridos compõem diminutos aglome-
obras não decorre que as soluções visuais sejam
rados em forma de flor ou formações cristalinas
de menor importância. Em trabalhos datados
(Fig. 22). A multiplicação dessa unidade de base
de outubro de 2015, que fazem parte da série
resulta, ainda uma vez, no contraste entre formas
Serras Gerais (Figs. 23, 24), uma mesma compo-
preenchidas e vazadas. Os interstícios são, em
sição duplicada contrasta uma área de espessura
certas partes, preenchidos com aquarela, em
material, formada a partir da superposição de
um tom laranja, contrastando com áreas que
recortes, com uma área de maior rarefação. Na
conservam a cor do papel, gerando reproduções
parte de baixo, as texturas são obtidas com re-
em negativo dos mosaicos florais ou cristalinos.
cortes amarfanhados colados sobre o papel de
As formas modulares podem remeter a pinturas
base; na de cima, por uma espécie de erosão ou
e trabalhos gráficos de Athos Bulcão e Aloísio
raspagem do papel, recoberto de cores transpa-
Magalhães. O primeiro, nas pinturas com pro-
rentes. Metade da colagem é preparada per via
liferações de círculos coloridos, superpostos.
di porre e a outra metade, quase inteiramente,
O segundo, em sua série de colagens de postais
per via di levare. O efeito geral, duas vezes re-
intitulada Cartemas. Mas, enquanto nas obras
petido, é da contraposição do que está por baixo
de Bulcão e Magalhães os principais focos de
com o que está por cima, chão e céu, fazendo
interesse são a composição (Athos) e a forma
pensar em camadas geológicas expostas a um
(Aloísio), nas colagens de Madeira a repetição e
meio térmico. Trata-se de imagens panorâmicas,
acumulação criam princípios concorrentes de
horizontais, cuja extensão marcada no sentido
diferenciação das formas e ocupação do espaço,
do comprimento é rebatida por sua duplicação
evidenciando as diferentes fases do trabalho e fa-
no sentido vertical. Não se busca envolver o
zendo-as entrar numa espécie de sincronicidade.
espectador num corpo a corpo com a matéria, 35
Figura 25. Boi Ápis 3 (tríptico). Colagem e pintura s/papel, 35,5 × 43 cm, 1991.
document, while at the same time advance the
to produce recognition of the qualities and re-
statute of the work of art. By adopting certain
lations.
technical procedures of manipulation of ma-
This would be a form of art that gives special
terials, they stand in a territory of autonomy
attention to the moment when the eye extracts
relative to the natural and social fate of things,
meaning from the world, grasping different
while becoming, in the sense proposed by Argan,
states, qualities. Children and animals form “col-
an ethical model of work. While that search can
lections” of stumps, stones, rags, metal objects
go through hybrid territories, the collages and
– different kinds of things that are manipulated,
watercolors have little in common with the apoc-
collected, and stored in specific places, dedicating
alyptic feeling that exercises variations on the
their time to the appropriation and conservation
idea of the exhaustion of nature and the human
of certain objects. Perhaps the collages, drawings,
being. The emphasis is on the renewal of the
and paintings are analogous to the place where
original resources, because the works continue
a child stashes his loot, or a dog buries a bone.
36
Figura 26. O bode cego. Colagem e pintura s/papel, 35,5 × 43 cm, 1990.
mas se insiste, ao contrário, num distanciamento
colocam num território de autonomia em relação
do ponto de vista.
ao destino natural e social das coisas, tornando-
Talvez não se trate tanto de um distancia-
-se também, no sentido proposto por Argan, um
mento quanto de uma disposição para a apreensão
modelo ético de trabalho. Se essa busca pode
da forma de um conjunto de Serras Gerais recorta-
percorrer territórios híbridos, as colagens e aqua-
das contra o céu, compensando o caráter informe
relas têm pouco em comum com o sentimento
de seus conteúdos, gerados a partir do amálgama
apocalíptico que exercita variações sobre a ideia
de múltiplas matérias de densidades variadas.
do esgotamento da natureza e do ser humano. A
Nesse sentido é interessante aproximar essa série
ênfase está na renovação dos recursos originá-
topográfica daquela segunda série com figuras de
rios, pois os trabalhos continuam a produzir o
animais (Mitologias), em que se reencontram o
reconhecimento de qualidades e relações.
brutalismo matérico e as sucessivas camadas de
Esta forma de arte dá especial destaque ao
refugos, dando forma a carcaças inchadas que se
momento em que o olhar extrai significado do
destacam de um fundo turvo (Figs. 25, 26).
mundo, apreendendo diferentes estados, qualidades. Crianças e animais formam “coleções” de
Coleta
tocos, pedras, panos, objetos de metal, diferentes
As colagens compostas com papéis coletados são,
espécies de coisas que são manipuladas, reunidas
em certa medida, propostas conceituais, que, ao
e guardadas em lugares certos, dedicando seu
mesmo tempo em que fazem apelo à condição
tempo à apropriação e conservação de deter-
de amostra natural ou documento cultural, le-
minados objetos. Talvez as colagens, desenhos
vam adiante a reflexão sobre o estatuto da obra
e pinturas possam ser equivalentes ao lugar em
de arte. Ao adotarem procedimentos técnicos
que uma criança reúne os componentes de seu
determinados de manipulação dos materiais, se
butim, ou em que um cachorro enterra um osso. 37
Working with the primary impulse for
What would we learn if it were possible to
appropriation, which highlights something of
look at all things as if they had witnessed an
the surroundings, the artist creates perception
aspect of the formation of the universe? Imagine
markers. How far can one go by questioning
a sensitivity that granted an intuitive knowledge
the mysterious feeling of discovery, the iden-
of the genesis of an object, from the creation
tification of a color, the enigma of a shape? Or
and combination of its elements up to its cur-
the taste for a certain doing, manipulation, or
rent state.
repetition?
From the artist’s point of view, the meaning
Madeira’s professional experience with the
of the materials may reside in the properties
restoration of historical buildings provided him
that give them an own voice at a precise mo-
with the opportunity to closely observe the wear
ment. What is discarded for utilitarian reasons
caused by the passage of time on different types
is reused, by art, in the name of a distinct prin-
of objects. This consideration of the actual state
ciple of functionality. Nevertheless, remains the
of things relates to their perishability, the grad-
question of knowing whether it would occupy a
ual disappearance of part of what surrounds us.
complementary position or one of deviation from
The relationship with decay perhaps always in-
the path of the rationally administered needs,
volves a certain degree of fetishization of objects.
the utilitarian role of selection and sorting that
One way of dealing with the grip the past has
since immemorial times have guided much of
on us – a threatening grip, because it involves
human life.
a certain degree of blame – may be through
The works on paper by Fernando Madeira
the disciplines of conservation and restoration
deal with the reaction of matter to time, starting
of the objects that survived the dismantling
from the discrimination of certain properties,
of their setting. That is, truly and positively
and exposing a little of how things resist to the
believing in the possibility of prolonging and
passage of time. Perhaps this involves reviving,
recovering – albeit only partially – their beauty
to some extent, the way they are constituted in
and original meaning. Even though ultimately
the mind. In this process of constituting objects
such an undertaking is always doomed to failure,
– with which artistic work is associated – lies
because everything ends up being destroyed
their mysterious aptitude for a particular form
by time, it can reveal something of the actual
of temporal permanence.
constitution of objects, as well as of the nature of our affections.
38
Brasilia, May 2016.
Trabalhando com o impulso primário para
O que aprenderíamos se fosse possível
a apropriação, que destaca alguma coisa do en-
olhar para todas as coisas como se elas testemu-
torno, o artista cria marcadores de percepções.
nhassem um aspecto da formação do universo?
Até onde se pode chegar interrogando a miste-
Imagine-se uma sensibilidade que permitisse um
riosa sensação de descoberta, a identificação de
conhecimento intuitivo da gênese de um objeto,
uma cor, o enigma de uma forma? Ou o gosto por
do surgimento de seus elementos e a reunião
um determinado fazer, manipulação, repetição?
desses até seu estado atual...
A experiência profissional com a restauração
Do ponto de vista do artista, o significado
de edifícios históricos deu a Fernando Madeira
dos materiais pode residir nas propriedades que
a oportunidade de observar de perto o desgaste
conferem a eles uma fala própria em um momen-
produzido ao longo do tempo em diferentes tipos
to preciso. Aquilo que é descartado pela razão
de objetos. Essa ponderação do estado concreto
utilitária é reaproveitado pela arte, em nome de
das coisas se liga à sua condição de perecibilida-
um princípio de funcionalidade diverso. Fica em
de, ao gradual desaparecimento de parte do que
aberto a questão de saber se isso ocuparia uma
nos rodeia. A relação com a ruína talvez sempre
posição complementar ou de desvio do caminho
envolva um determinado grau de fetichização
das necessidades racionalmente administradas,
dos objetos. Uma das maneiras de lidar com
da função utilitária de seleção e triagem que
esse domínio que o passado exerce sobre nós
desde tempos imemoriais tem orientado grande
- domínio ameaçador, pois envolve certo grau
parte da vida humana.
de culpabilização - seria através das discipli-
As obras em papel de Fernando Madeira li-
nas de preservação e restauração dos objetos
dam com a reação da matéria ao tempo, partindo
que sobreviveram ao desmantelamento de seu
da discriminação de determinadas propriedades,
contexto. Ou seja, acreditar de forma concreta
expondo um pouco da maneira como as coisas
e positiva na possibilidade de prolongamento e
resistem ao tempo. Talvez isso envolva reviver
recuperação - ainda que parcial - de sua beleza
em certo grau o modo como se constituem na
e sentido original. Embora em última instância
consciência. Nesse processo de constituição dos
tal empreendimento seja sempre fadado ao fra-
objetos - a que o trabalho artístico se associa -
casso, pois tudo acaba mesmo sendo destruído
reside sua misteriosa aptidão para uma forma
pelo tempo, ele pode revelar alguma coisa da
determinada de permanência temporal.
constituição concreta dos objetos, assim como da natureza dos nossos afetos.
Brasília, maio de 2016.
39
40
Aguadas Ink wash painting
◀ S/título 1. Aguada, 0,22 × 0,31 m, 1989. 42
S/título 1. Aguada, 0,22 × 0,31 m, 1989.
S/título 1. Aguada, 0,22 × 0,31 m, 1989.
S/título 1. Aguada, 0,22 × 0,31 m, 1989.
43
S/título 7. Aguada, 0,22 × 0,31 m. 1989. 44
S/título 9. Aguada, 0,22 × 0,31 m. 1989. 45
46
Ă rvores Trees
Árvores. Colagem s/papel 30 × 700 cm, 1991.
Árvores. Colagem s/papel, 30 × 70 cm, 1991.
◀ Árvore. Colagem s/papel, 30 × 40 cm, 1991-1992. 48
Árvore. Colagem s/papel, 30 × 30 cm, 1991. 49
Árvore. Colagem s/papel, 30 × 40 cm, 1991.
Árvore. Colagem s/papel, 30 × 40 cm, 1991.
50
Árvore. Colagem s/papel, 40 × 30 cm, 1991. 51
Árvore. Acrílica s/papel, 30,4 × 31,4 cm, 1990. 52
Azulejos Tiles
◀ Azulejos com lacunas 1. Pintura e colagem s/papel Canson, 59 × 80 cm, 2011. 54
Azulejos com lacunas 2. Pintura e colagem s/papel Canson, 59×80 cm, 2011.
Bichos Animals
◀ Gato de botas 1. Pintura s/papel, 60 × 53 cm, 1990.
Gato de botas 2. Pintura s/papel, 60 × 53 cm, 1990. 56
Gato de botas 3. Pintura s/papel, 60 × 53 cm, 1990.
Gato de botas 4. Pintura s/papel, 60 × 53 cm, 1990. 57
Le Renard 1. Pintura s/papel, 53 × 60 cm, 1990. 58
Le Renard 2. Pintura s/papel, 53 × 60 cm, 1990.
Le Renard 4. Pintura s/papel, 53 × 60 cm, 1990.
O bode cego. Pintura s/papel, 35,5 × 43 cm, 1990. 59
Le Renard 3. Colagem e pintura s/papel, 53 × 60 cm, 1990. 60
CĂŁes e festas Dogs and parties
◀ Cães e festas 5. Colagem e pintura s/bandagem cirúrgica, 54 × 72,5 cm, 2015. 62
Cães e festas 3. Colagem e pintura s/bandagem cirúrgica, 53 × 73,5 cm, 2014.
Cães e festas 9. Colagem e pintura s/bandagem cirúrgica, 54,5 × 73 cm, 2015. 63
Cães e festas 2. Colagem e pintura s/bandagem cirúrgica ≅51 × 75 cm, 2015. 64
Cães e festas 10. Colagem e pintura s/bandagem cirúrgica, 53,5 × 72,5 cm, 2014.
Cães e festas dá continuidade a pesquisas an-
Dogs and Parties is related to previous re-
teriores relacionadas à colagem e à iconografia
searches on the Baroque iconography. The
barroca. O suporte é todo trabalhado em rica
support in collage is entirely covered with a
textura obtida pela justaposição de pequenos
rich texture, as a result of the juxtaposition
retângulos de papel que, colados uns aos outros
of little rectangles in paper glued on surgi-
sobre gaze cirúrgica, formam uma superfície
cal gauze. They form an irregular surface as a
rugosa, irregular, como uma parede emboçada a
roughcast wall, in yellow ochre or whitewash
colher, em tons de ocre ou em branco caiado de
from where the figures emerge. Religious and
onde emergem as figuras. Ícones religiosos e pa-
pagan icons – angels, devils, hybrid beings,
gãos - anjos, demônios, seres híbridos, centauros
centaurs and dogs – are mixed in the clouds,
e cães - misturam-se nas nuvens, flutuando em
floating in a curved space without gravity, as
um espaço curvo e sem gravidade, como em uma
in a vault. They float pushed by a strange light,
abóboda de berço escavada. Flutuam, tocados por
together in the same party.
estranha luz, partícipes de um mesmo festim.
Angélica Madeira, 2017 Angélica Madeira, 2017
65
Cães e festas 1. Colagem e pintura s/bandagem cirúrgica, 53 × 73 cm, 2015. 66
Colagem e acrílica sobre papelão Collage and acrylic on cardboard
◀ S/título 2. Colagem s/papelão, 0,50 × 0,70 m, 1989. S/título 3. Colagem s/papelão, 0,50 × 0,70 m, 1989. 68
69
S/título 4. Colagem s/papelão, 0,31 × 1,32 m, 1989. 70
71
S/título 5. Colagem s/papelão, 0,50 × 0,70 m, 1989. 72
Colagens sobre papel Canson Collage on Canson paper
(...) Os papéis, suportes de minha escrita, são como pergaminhos. São peles de celulose, pergaminhos vegetais. Encontrados ao léu, ao largo, nos descampados, nas pistas, nas ruas, polidos pelo tempo, pelo vento, pelos pés e rodas da civilização, os papéis são também entintados/ tingidos naturalmente pelos ocres da terra, pela poeira e, em seguida, macerados a cal por mim mesmo, deixando aparecer as marcas do passado, como um palimpsesto.
Fernando Madeira, 1998.
74
◀ Com Ivan. Pintura e colagem s/papel Canson, 44 × 74,3 cm, 2013.
Ao Ivan. Pintura e colagem s/ papel Canson, 44 × 75 cm, 2014. 75
(...)  The pieces of paper, supports of my writing, are like parchments. They are cellulose skins, vegetable parchments. Found adrift, wandering, in open fields, on the highways, on the streets, polished by time, wind, feet, and wheels of civilization, the pieces of paper are also inked/dyed naturally by the ochres of the earth, the dust, and then macerated with lime by myself, letting the marks of the past appear, like a palimpsest.
Fernando Madeira, 1998.
76
Viva o Ivan. Pintura e colagem s/papel Canson, 42 × 75 cm, 2013. 77
78
79
◀ Salve Ivan M.5. Pintura e colagem s/papel Canson, 46 × 75 cm, 2013. 80
S/título. Pintura e colagem s/papel Canson, 44,4 × 75 cm, 2014.
Desenho, pintura e colagem Drawning, painting and collage
◀ S/título. Colagem, papel, bandagem cirúrgica, 69 × 116,7 cm, 2009.
82
S/título. Colagem, pintura e desenho s/ papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2010.
83
S/título. Colagem, pintura e desenho s/ papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2011. 84
Nesta série de desenhos, colagens e pinturas sobre papel, produzida no final do século passado, procurei, sobretudo, valorizar a beleza do material recolhido, os papéis, e compô-los, ora construtivamente, segundo uma geometria euclidiana em certos trabalhos e, em outros, geometrias não euclidianas, fractais. (...) A experiência foi a de um trabalho reflexivo, meditativo, envolvendo os três campos de minha ação profissional: o artístico, o arquitetônico e o da conservação e restauração do patrimônio histórico. Nas colagens, os papéis, as resinas; nos desenhos, as linhas que delimitam e demarcam a superfície, ou ainda o realce ou o contorno de alguma forma.
Fernando Madeira, 2000.
85
In this series of drawings, collages and paintings on paper produced in the past century 2000s, I sought, above all, to highlight the beauty of the collected material – the papers – and compose them, at times constructively, according to an Euclidian geometry in some works, and at times according to fractal, non-Euclidian geometries. (...)  The experience was one of a reflexive, meditative work, involving the three fields of my professional activity: arts, architecture, and restoration of historical heritage. In the collages, the papers, the resins; in the drawings, the lines that delimit the surface, the highlight or the outline the contour in some way.
Fernando Madeira, 2000
86
S/título. Colagem, pintura e desenho s/ papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2011. 87
S/título. Colagem, pintura e desenho s/ papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2013. 88
89
S/título. Colagem, pintura e desenho s/papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2013. 90
S/título. Colagem, pintura e desenho s/ papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2010. 91
92
93
◀ S/título. Colagem, pintura e desenho s/papel Canson, 74,6 × 119,7 cm, 2010. 94
Desenhos e colagens Drawings and collages
◀ Desenhos e colagens 1. Colagem e aquarela s/papel arroz, 36 × 72,5 cm, 2006. 96
Desenhos e colagens 2. Restaurar. Colagem e aquarela s/papel arroz, 33,3 × 66 cm, 2009.
Desenhos e colagens 3. Colagem e aquarela s/papel arroz, 33 × 64 cm, 2005.
Desenhos e colagens 4. Tempo. Colagem e aquarela s/papel arroz, 37 × 68 cm, 2005.
Desenhos e colagens 5. Inventário. Colagem e aquarela s/papel arroz, 35 × 67 cm, 2006.
97
Desenhos e colagens 6. Ruínas. Colagem e aquarela s/papel arroz, 34,5 × 64 cm, 2005.
Desenhos e colagens 7. Colagem e aquarela s/papel arroz, 37 × 66 cm, 2005.
Desenhos e colagens 9. Colagem e aquarela s/papel arroz, 33 × 66 cm, 2006. 98
99
Desenhos e colagens 12. Olhar. Colagem e aquarela s/papel arroz, 37 × 66 cm, 2005. 100
Desenhos e colagens 13. Colagem e aquarela s/papel arroz, 36 × 69 cm, 2006.
Desenhos e colagens 16. Colagem e aquarela s/papel arroz, 32 × 68 cm, 2005. 101
Desenhos e colagens 10. Colagem e aquarela s/papel arroz, 34 × 69 cm, 2005. 102
Desenhos e colagens 15. Colagem e aquarela s/papel arroz, 36 × 60 cm, 2006. 103
104
Faixas Strips
◀ S/título 4. Colagem s/papel Canson, 26 × 47 cm, 2013. 106
S/título 5. Colagem s/papel Canson, 26 × 47 cm, 2013.
107
S/título 6. Colagem s/papel Canson, 25,6 × 58,8 cm, 2013. 108
Gravuras nĂŁo gravuras Prints no prints
◀ Gravuras não gravuras 22. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 110
Gravuras não gravuras 19. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002.
Gravuras não gravuras 17. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 111
Esta série é o resultado de um processo inusual
The series is the result of an unusual process
no qual se utiliza a colagem, a pintura e impres-
including collage, painting and print over used
são sobre jornal macerado a cal, produzindo ma-
and whitewashed newspapers. The resulting
trizes em papel, reprodutíveis ao infinito através
image works as a matrix to be reproduced ad
de meios eletrônicos. A relação texto-imagem
infinitum through electronic medium. The re-
dá-se de modo distinto em cada gravura, forman-
lationship text-image is different in each print-
do um poema visual ou uma imagem poética.
ing, as a visual poem or a poetic image. Text
Texto e imagem tentam se encaixar, buscando
and image complete each other, searching for a
sempre um sentido dialógico.
dialogic meaning.
Angélica Madeira, 2017
Angélica Madeira, 2017
112
Gravuras não gravuras 18. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 113
Gravuras não gravuras 30. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 114
Gravuras não gravuras 32. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 115
Gravuras não gravuras 2. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 116
117
Gravuras não gravuras 4. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 118
Gravuras não gravuras 5. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002.
Gravuras não gravuras 7. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 119
Gravuras não gravuras 11. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 120
Gravuras não gravuras 12. Colagem, impressão e pintura s/ papel 30 × 52 cm, 2001-2002. 121
Gravuras não gravuras 13. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 122
Gravuras não gravuras 14. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 123
Gravuras não gravuras 15. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 124
Gravuras não gravuras 29. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 125
Gravuras não gravuras 26. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 126
Gravuras não gravuras 24. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 127
128
129
◀ Gravuras não gravuras 1. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002. 130
Gravuras não gravuras 23. Colagem, impressão e pintura s/ papel, 30 × 52 cm, 2001-2002.
Interiores Interiors
◀ Interior com sofá. Pastel seco s/papel, 21 × 29,7 cm, s/data. 132
Casal no sofá. Acrílica s/papel, 22,4 × 31,2 cm, 1990.
Mรกscaras Masks
(...) A obra de Fernando Madeira explodiu de
respiram a lubricidade e a malícia, todos estão
vez, já nasceu madura. Sua gestação foi lenta e
emocionalmente nus diante do espectador. Essa
silenciosa, mas sua aparição foi súbita, assus-
pintura está entre a narrativa e o drama; há um
tada. Os fantasmas acordaram todos ao mesmo
texto subliminar, diálogo ou monólogo, que se
tempo, tocando-se, contagiando-se de medo e
atualiza em um quadro teatral, uma cena em
de angústia. Olhos mortiços, bocas abertas, a
que não faltam cortinas e aparatos de bastidores.
fala engasgada. Uma atmosfera pesada e densa
Em enquadramentos inusuais, semicobertos
domina aquelas superfícies planas: personagens
por veladuras, as figuras – apesar do traço firme
abafados, exibindo um erotismo difícil, incomo-
do desenho - parecem ser uma continuação do
dando com o seu despudor, em uma composição
fundo, na ausência de espessura da camada leve
conflitiva que remete à idiotia, à loucura e à mor-
de acrílico.
te. O artista não tem complacência. Suas imagens
(...) As colagens de Máscaras são desfigu-
parecem extraídas de alguma parte selvagem
rações, protuberâncias, nonsense brotado dos
explodida dentro do corpo. São cenas cotidianas,
olhos, da testa, da cabeça. Logo os seres huma-
mas cheias de estranheza. O acrílico diluído
nos se transformam em máquinas de guerra,
contribui para a sensação de incômodo provo-
carapaças, celadas de malhas de ferro, morri-
cada pelas paisagens planas, claras, sem fundo,
ões, armaduras devolvidas ao mundo hostil.
sem raízes, onde se recortam os personagens.
Decididamente não é harmonioso o mundo que
Retratos - às vezes neutros, outras aos gritos, em
aqui se configura e que o artista nos convida a
esgares de sofrimento - retratos desidealizados
olhar. Enfatiza o conflito, contempla impávido
de anti-heróis, homens, mulheres, sempre os
a dor. (...)
mesmos, desproporcionais, destorcidos, idiotizados. Embora vestidos de terno e gravata, todos
◀ Autorretrato. Acrílica s/papel, 0,32 × 0,45 m, 1989. 134
Angélica Madeira, 1990
S/título. Colagem e acrílica s/papel, 0,31 × 0,44 m, 1988. 135
S/título. Colagem e acrílica s/papel, 0,31 × 0,44 m, 1988. 136
S/título. Colagem e acrílica s/papel, 0,31 × 0,44 m, 1988. 137
S/título. Colagem e acrílica s/papel, 0,31 × 0,44 m, 1989. 138
(…) The work of Fernando Madeira bursts at
and tie, they all breathe lubricity and malice; all
once, being born mature. Its gestation was slow
are emotionally naked towards the spectator. The
and silent, but its appearance was sudden and
paintings lie between narrative and drama; there
surprising. The ghosts woke up all at once, touch-
is a subliminal text – dialogue or monologue –
ing themselves, infecting themselves with fear
which is updated in a theatrical setting, a scene
and anguish. Dull eyes, open mouths, choked
where curtains and backstage props abound.
speech. A heavy dense atmosphere dominates
In unusual framings, half-covered by veils, the
those flat surfaces: muffled characters, displaying
figures – despite the firm stroke of his drawing –
a hard eroticism, hassling with their shameless-
appear to be a continuation of the background,
ness, in a conflictive composition evocative of
due to the light acrylic layer.
idiocy, madness, and death. The artist has no
(…) The collages in Masks are disfigure-
complacency. The images seem to have be taken
ments, protuberances, nonsense sprouted from
from some wild part exploded inside the body.
the eyes, forehead, and head. Soon, humans
These are everyday scenes, but full of weirdness.
become machines of war, carapaces, iron mesh
The diluted acrylic contributes to the feeling of
sallets, morions, armors returned to the hostile
discomfort caused by the flat, clear, background-
world. Decidedly, the world featured here and
less, rootless landscapes, where the characters
which the artist invites us to look at is not harmo-
are carved. Portraits – at times neutral, at times
nious. It emphasizes conflict and it contemplates,
screaming, grimacing with pain – of antiheroes,
impavid, the pain. (…)
men, women, always the same, disproportional, distorted, idiotized. Even though dressed in suit
Angélica Madeira, 1990.
139
Autorretrato. Colagem e acrílica s/papel, 32 × 22,5 cm, 1989. 140
S/título. Colagem e acrílica s/papel, 50 × 36 cm, 1990. 141
Bombay. Colagem e acrílica s/papel, 56 × 40 cm, 1990. 142
Turbante. Colagem e pintura s/papel, 54 × 31 cm, 1989. 143
Oriente. Colagem e pintura s/papel, 54 × 40 cm, 1990. 144
Autorretrato. Acrílica s/papel, 31 × 22,5 cm, 1989. 145
Autorretrato. Colagem e pintura s/papel, 54 × 32 cm, 1989. 146
Cabeça. Acrílica s/papel, 31,2 × 22,4 cm, s/data. 147
S/título. Mista s/papel, 1,30 × 1,30 m, 1989. 148
Mitologias Mythologies
◀ S/título. Acrílica e lápis s/papel, 22 × 31 cm, 1986. 150
S/título. Acrílica e lápis s/papel, 22 × 31 cm, 1988.
(...) Mitologias são aquarelas, um ponto alto do
mulher fantasma. Poder, sexo, visão dramática
trabalho de Madeira, tanto do ponto de vista
da existência exalam dessa arte. Beleza que vem
técnico quanto poético e dramático. Ali o artista
da lucidez de apresentar um mundo sem ilusões,
retoma – como que por uma irmandade secreta
sem ingenuidade, sem refúgio possível. Arte
ou acordo de sangue – a animalia de um surre-
difícil, mas que possui a força surpreendente de
alismo primordial de um Bosch, por exemplo,
um impulso longamente contido, e de repente
e cria suas próprias tentações. Ratos e outros
explodido nessas imagens assustadoras, cenas
roedores, vermes e animais pré-históricos, má-
de puro pesadelo. (...)
quinas apocalípticas. Por meio de uma transparência rosada desta série de aquarelas, o drama
Angélica Madeira, 1990.
de existir sem ter escolhido, a morte precoce, a
151
S/título. Acrílica e lápis s/papel, 22 × 31 cm, 1988. 152
S/título. Acrílica e lápis s/papel, 22 × 31 cm, 1988. 153
(...) Mythologies are watercolors, a highlight of
death, the ghost woman. Power, sex, a dramatic
Madeira’s work both from a technical and a poetic
view of existence exudes from this art. Beauty
and dramatic point of view. There the artist re-
that comes from the lucidity of presenting a
sumes – as if through a secret fraternity or blood
world with no illusions, no innocence, no pos-
pact – the animality of the primeval surrealism
sible refuge. Difficult art, but with the astonish-
from Bosch paintings, for instance, and creates
ing strength of a long-contained impulse that
his own temptations. Rats and other rodents,
suddenly explodes in these frightening images,
worms and prehistoric animals, apocalyptical
scenes of sheer nightmare. (...)
machines. Through the rosy transparency of this series of watercolors, blows the drama of existence, without having asked for it, the early
154
Angelica Madeira, 1990.
S/título. Acrílica e lápis s/papel, 22 × 31 cm, 1988.
S/título. Acrílica e lápis s/papel, 22 × 31 cm, 1988. 155
S/título. Acrílica e lápis s/papel, 22 × 31 cm, 1989. 156
S/título. Acrílica e lápis s/papel, 22 × 31 cm, 1989.
Peles Skins
◀ Peles 1. Colagem s/bandagem cirúrgica, 28,5 × 40 cm, 1999.
Peles 2. Colagem s/bandagem cirúrgica, 24 × 36 cm, 1999.
(...) Peles são membranas que separam o que é
(...) Skins are membranes that separate what
interior do que é exterior. É, portanto, a fronteira,
is inside from what is outside. They are, thus,
o tecido, a casca, a embalagem, o envelope do
boundary, the tissue, the shell, the packaging,
corpo. Nessa série, persigo o conceito de limite
the envelope of the body. In this series, I pursue
e mostro essa membrana desligada do seu con-
the concept of limit and show this membrane
texto, como um elemento autônomo, não mais
detached from its context, as a standalone ele-
integrada ao corpo, mas solta, independente,
ment, no longer integrated to the body, but loose,
nua. As peles são tiradas dos corpos da terra,
bare, independent. These skins are taken from
da árvore, que dá a celulose, o papel, que é a
the bodies of the earth, the tree, which produces
matéria-prima do meu trabalho.
cellulose, the paper, which is the raw material of my work.
Fernando Madeira, 2000. Fernando Madeira, 2000.
160
Peles 10. Colagem s/bandagem cirúrgica, 27 × 41 cm, 1999. 161
Peles 5. Colagem s/bandagem cirúrgica, 33,5 × 42,5 cm, 1999. 162
163
Peles 4. Colagem s/bandagem cirúrgica, 29,5 × 43 cm, 1999. 164
Peles 11. Colagem s/bandagem cirúrgica, 29 × 41 cm, 1999.
(...) Há, na proposta Peles, muitas e instigantes portas de entrada e níveis diferenciados de
que se desdobram e multiplicam à medida que vão transitando de um a outro código.
apreensão de seu conceito. Não se pode deixar
(...) Peles são também sítios sobre os quais
de fazer referência ao teor poético das colagens
se abate o tempo, submetidos à constante ero-
e aos procedimentos e materiais que o provocam
são e onde se torna mais legível o aprendizado
e que geraram o conceito Peles.
da mortalidade. Espaço carregado de afeto, a
(...) Peles tem como ponto de partida um
pele aparece sem disfarce, despojada, com os
conjunto de colagens que, em si mesmas, já
defeitos, de onde o conceito de experiência se
concentram uma forte carga de significações.
expande e se agrega.
Papéis de diversas gramaturas e tramas, pisados,
A sensibilidade contemporânea está mais
amarrotados, queimados, rasgados, tingidos
afinada com a falha e com o desastre. Mais do
pelo tempo e pelo uso, são colados sobre fina
que a matéria em si, interessam ao artista as
gaze. As Peles resultam em estruturas flexíveis
qualidades da matéria, mais do que o corpóreo,
e transparentes, como membranas frágeis, pro-
os efeitos incorporais, mais do que a substância,
pondo trajetos para os sentidos, mobilizando
a força das coisas, o devir ilimitado das coisas
os suplementos da percepção, criando valores
ali aprisionadas em um estado de ser, feridas e
rítmicos e poéticos.
cicatrizes, asas e cartilagens coladas sobre gazes.
Lisas ou enrugadas, as Peles são “sólidos ma-
(...) Voltamos às Peles-papéis, ao ponto de
leáveis” que emergem do encontro dos fragmen-
partida do conceito. Os papéis achados trazem
tos (papéis rasgados, macerados), dos materiais
os acasos de escritas, contas, desenhos infantis,
híbridos (papéis, pano, fios, gesso, desenhos,
papéis pisados, passados e amarrotados, ras-
camadas de pintura) que realçam os valores as-
gados e colados, gestos que acabam por gerar
sociados à luz, responsáveis pela paleta ouro e
superfícies táteis, recobertas por estrias, rugas,
fogo, predominante nas colagens. Mais do que
por fungos e manchas de velhice, assim como
medidas, pontos fixos e propriedades, os espaços
luzes e transparência que as peles apreendem
superficiais das Peles extrapolam o quadro para
no curtume da vida.
ganhar a ambiência, criando volumes de afetos, assinalando forças e espaços de pura intensidade
Angélica Madeira, 2000.
165
(...) There are, in the Peles (Skins) proposal, many
spaces of sheer intensity that unfold and multiply
and stimulating entryways and different levels
as they move from one to another.
of appreciation of its concept. One cannot fail to
(...) Skins are also sites over which time
mention the poetic content of the collages, the
falls, subjected to constant erosion, and where
procedures and materials that provoke it and
the learning of mortality becomes more legible.
that generated the Peles concept.
Space loaded with affection, the Skin appears un-
(...) The starting point of Peles is a set of
disguised, naked, with its defects, from where the
collages that, in themselves, already bear a heavy
concept of experience expands and aggregates.
load of meanings. Papers of varying grammages
Contemporary sensibility is more in tune
and weaves, trampled, crumpled, burnt, torn,
with failure and disaster. Rather than the matter
stained, by time and use, are pasted over thin
itself, the artist is more interested in the quali-
gauze. The Skins result in flexible and transpar-
ties of the matter, rather than the corporeal, the
ent structures, like fragile membranes, proposing
incorporeal effects, rather than the substance,
paths for the senses, engaging the supplements of
the power of things, the unlimited becoming of
perception, creating rhythmic and poetic values.
things trapped there in a state of being, wounds
Smooth or wrinkled, the Skins are “mallea-
and scars, wings and cartilages glued over gauze.
ble solids” that emerge from the combination
(...) We return to the paper-Skins, the start-
of the fragments (macerated, torn papers), the
ing point of the concept. The papers found bring
hybrid materials (paper, cloth, thread, plaster,
the coincidences of writings, bills, children’s
drawings, layers of painting) that enhance the
drawings, trampled, worn, crumpled, torn, and
values associated with light, which is responsi-
glued papers, gestures that ultimately generate
ble for the gold and fire palette predominant in
tactile surfaces, covered with stretch marks, wrin-
the collages. Rather than measures, fixed points
kles, mold, age spots, as well as light and translu-
and properties, the surface spaces of the skins
cence that the skins learn in the tannery of life.
transcend the picture to gain the ambiance, creating volumes of affections, signaling powers and
166
Angélica Madeira, 2000.
167
Peles 7. Colagem s/bandagem cirúrgica, 29,5 × 36 cm, 1999.
PrĂncipe em quadrinhos Prince´s comics
Cada olhar revela uma variação sobre um cão,
roxos, pretos, cinzas-chumbo, marcando com
no singular. Difícil dizer onde começam juntos o
um corte vermelho a língua, o focinho, o pesco-
cão e o olhar. O resultado são estas composições
ço. Príncipe, no fim, dissolvido, sem contornos,
complexas, anamórficas, cortes, fenômenos de
em paz, pura luz, impura mancha, quase branca
duplicação, espelhos distorcentes, autonomia
entre azuis e dourados.
da imagem. A textura do papel, a transparência
A série fecha com o mesmo símbolo do iní-
aquosa das cores parecem orientar as composi-
cio: agora não somente desprendida do pescoço,
ções, os jogos leves dos volumes.
mas de toda a base: com enormes orelhas fanta-
(...) Algumas das aquarelas trazem as cores mais definidas (rosas, azuis e amarelas) e um
siosas, a cabeça do cão totêmico voa, em busca do próprio sonho.
desenho figurativo, mais detalhado. Outras são experimentos: o artista trabalha sobre fundos
◀ S/título. Aquarela s/papel 16 × 23 cm, 1989. 170
Angélica Madeira, 1991.
Príncipe em quadrinhos. Comida. Aquarela s/papel, 30 × 45 cm, 1990. 171
Príncipe em quadrinhos. Açougue 1. Aquarela s/papel, 30 × 39 cm, 1991. 172
Príncipe em quadrinhos. Agnus Dei. Aquarela s/papel, 16 × 23,5 cm, 1990. 173
Every look reveals a variation on a dog, in the
lead-gray backgrounds, marking the tongue, the
singular. It is hard to tell where the dog and the
muzzle, the neck with a red slash. Prince, in the
look begin together. The result is these complex,
end, dissolved, contourless, in peace, pure light,
anamorphic compositions, cuts, doubling phe-
impure, near-white stain, amid blues and golds.
nomena, distorting mirrors, autonomy of the
The series closes with the same symbol from
image. The texture of the paper, the aqueous
the beginning: now not only detached from the
transparency of the colors appear to guide the
neck, but from the entire base: with huge fanciful
compositions, the light effects of volume.
ears, the head of the totemic dog flies, in search
(...)  Some watercolors have distinct colors
of its own dream.
(the pinks and the blues and the yellows) and a more detailed, figurative drawing. Others are experiments: the artist works over purple, black,
174
AngĂŠlica Madeira, 1991.
Príncipe em quadrinhos. Aquarela s/papel Canson, 24 × 31 cm, 1991. 175
Príncipes. Aquarela e pastel s/papel, 31 × 50 cm, 1991. 176
Sem tĂtulo Untitled
◀ S/título. Colagem e aquarela s/papel, 23,8 × 58 cm, 2013. 178
S/título. Colagem e aquarela s/papel, 23,5 × 58,4 cm, 2013.
179
S/título. Colagem e aquarela s/papel, 26 × 58 cm, 2013. 180
Serras gerais General mountains
◀ Serras Gerais 3. Colagem e pintura s/papel Canson, 60 × 80 cm, 2016. 184
Serras Gerais 3. Colagem e pintura s/papel Canson, 60 × 80 cm, 2016.
185
Serras Gerais 5. Colagem e pintura s/papel Canson, 60 × 80 cm, 2016. 186
187
(...) Toda a obra do artista está permeada por esses acasos, pelos achados por um olho treinado que não deixa passar um papel com forma, cor, ou rabisco interessante. Sua última série, Serras Gerais, de 2015/16, leva a arte da colagem a um ponto muito elevado, tanto em termos de excelência técnica quanto de uma poética que aposta no sublime das paisagens grandiosas, como ocorre na tradição romântica. Parece que, findadas expectativas e perplexidades, iniciou-se um fazer artístico mais lírico, mais leve, embora não menos sério. O que se ressalta nesses trabalhos recentes de Fernando Madeira é a afirmação da dimensão lúdica do ato de fazer colagem. Prazer insuperável, forma pessoal de entender e praticar sua arte.
Angélica Madeira, 2016.
188
Serras Gerais 8. Colagem e pintura s/papel, Canson, 60 × 80 cm, 2016. 189
Serras Gerais 6. Colagem e pintura s/papel Canson, 60 × 80 cm, 2016. 190
(...)  The entire artist’s work is pervaded by these accidents, the findings by a trained eye that does not miss a paper with an interesting shape, color, or scribble. His latest series, Serras Gerais, from 2015/16, takes the art of collage to an elevated point both in terms of technical excellence and in terms of a poetry that banks on the sublime of the grandiose landscapes, as in the romantic tradition. It seems that after the expectations and perplexities had come to an end, the artist embarked on a more delicate, lyrical, albeit no less serious art-making. In these latest works by Fernando Madeira the affirmation of the playful dimension of the act of making collage is highlighted. Insurmountable pleasure, a personal way of understanding and exercising his art.
AngĂŠlica Madeira, 2016.
191
Serras Gerais 8. Colagem e pintura s/papel Canson, 60 × 80 cm, 2016. 192
Vazados Hollowed
◀ S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2003. 194
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2005. 195
(...) Fernando Madeira é um restaurador por
por elas, desloca nossa visão para outros sítios,
formação e seu trabalho torna visível a tensão
nos faz empreender uma outra arqueologia até
temporal que preside o ato de avivar o passado,
os limites do inexistente, do qual nos dão notí-
de revisitá-lo, para de lá retirar o que o tem-
cia as perturbadoras fendas presentes em cada
po desgastou. Na série “vazados”, esse embate
construção dessa série.
com a temporalidade se torna particularmente
(...) A colagem que, de maneira meticulosa e
agudo. Somos olhados por um tempo ancestral,
obsedante, permeia o trabalho desse artista, rom-
que re-colhe os traços, os vestígios, as ruínas do
pe os limites da composição ou da construção,
que foi; porém, não para dar-lhes os contornos
para empreender uma vertiginosa desconstrução
das formas do que um dia foram. O artista res-
em vários planos. Do ponto de vista formal, uma
taurador sabe que tal mimetismo originário é
desconstrução dos materiais e técnicas emprega-
impossível, o que produz uma instigante releitura
dos, performaticamente, expõe sua natureza do
do passado: os pedaços de papel enterrados pelo
artifício, sua transgressão ao que “naturalmente”
cotidiano, esses restos que um consumo voraz
acreditamos ver – e ser.
não tragou são recolhidos, tratados, manipulados
(...) Talvez seja por esse duplo movimento
com outros materiais em uma construção que, ao
que se presentifica no trabalho de Madeira a
mesmo tempo em que é presente, traz o passado
saturna melancolia, essa afetação da alma que
do que foi e, sobretudo, do que não foi.
nos persegue desde a antiguidade. Nessas for-
Essa dobradura do passado inscreve-se em
mas grandiosas, monumentais, podemos ouvir
cada dobra dos papéis-fragmentos. É como se
o som melancólico de perdas transformadas
fôssemos assombrados não apenas por um, mas
em enigma, de uma ausência que insiste em
por dois tempos passados: um mais próximo, do
ser presente, dando a ver ao mesmo tempo sua
qual vieram os palpáveis pedacinhos de papel,
sólida precariedade.
e um outro, mais primordial, fantasmático, inquietante, estranho. Olhar essas obras, ser olhado
196
Ana Vicentini de Azevedo, 2003.
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2003. 197
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2005. 198
(...) Fernando Madeira is a restorer by training,
sites, embarks us on another archeology up to
and his work brings to light the temporal tension
the limits of the non-existent, of which the dis-
that presides over the act of reviving the past,
turbing cracks present in each composition of
of revisiting it to take from there what time has
this series give us notice.
worn. In the series Hollowed/Vazados, this clash
(...) The collage that, meticulously and ob-
with temporality becomes particularly acute. We
sessively, pervades the work of this artist breaks
are looked by an ancient time, which re-collects
the boundaries of composition and construction
the traces, the vestiges, the ruins of what once
to undertake a vertiginous deconstruction in
was, but not to give them the contours of the
various levels. From the formal point of view, a
forms what they once were. The restorer-artist
deconstruction of the materials and techniques
knows that such primary imitation is an exciting
employed, performatively exposing the nature
reinterpretation of the past: the pieces of paper
of the artifice, the transgression of what we “nat-
buried by daily life, the remains that a voracious
urally” believe to see – and be.
consumption has not swallowed are collected,
(...) Perhaps it is because of this double
processed, manipulated with other materials in
movement that the saturnal melancholy be-
a construction which, at the same time that it is
comes present in the work of Madeira, this af-
present, brings the past of what was and, above
fectation of the soul that haunts us since ancient
all, of what was not.
times. In these grandiose, monumental forms,
This folding of the past is inscribed in each
we can hear the melancholic sound of losses
fold of the fragment-papers. It is as if we were
transformed into enigma, of an absence that
haunted not only by one, but two bygone times:
insists on being present, revealing at the same
one nearer, from which the palpable pieces of
time their solid precariousness.
paper came, and another, more primal, phantasmic, disturbing, weird. To look at these works,
Ana Vicentini de Azevedo, 2003.
to be looked by them, shifts our vision to other
199
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2002. 200
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2002. 201
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2003. 202
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2003. 203
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2005. 204
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2004. 205
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2003. 206
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2005. 207
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2003. 208
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2002. 209
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2003. 210
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2005.
S/título. Colagem s/tecido 33 × 33 cm, 2005. 211
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2004. 212
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2003.
S/título. Colagem s/tecido, 33 × 33 cm, 2005. 213
Fernando Madeira
Nasceu em Angra dos Reis, RJ, em 1938. É artista plástico e arquiteto formado pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, RJ, hoje UFRJ. Possui especialização em restauração de monumentos históricos arquitetônicos pelo Centre d’Études Supérieures d’Histoire et de Conservation des Monuments Anciens, em Paris. Frequentou diversos ateliês e cursos, tais como de aquarela com Douglas Marques Sá, pintura com Ralph Gehre; oficinas de arte com Elder Rocha Filho, Sônia Paiva e José Roberto Furquim, no Museu de Arte de Brasília; gravura com Marília Rodrigues e workshops com Katie Van Shepenberg, Luís Paulo Baravelli e Luis Áquila, no Instituto de Artes da Universidade de Brasília, DF.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS 1991
1992
Os Idiotas. Espaço da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.
1997 Cartografia Íntima da Terra. Espaço Cultural
P ríncipe em Quadrinhos. Itaú Galeria, Brasília e Goiânia.
1998 Literatura de Bolso. Café Daniel Briand, Brasília.
Oeuvres sur Papier. Espaço Cultural da Embaixada do Brasil em Paris, França. 1993 Impressões Digitais da Fazenda do
Assombrado. Encontro Terra 93. Silves, Portugal. 1994 Construções. Instituto dos Arquitetos do Brasil,
IAB Brasília. Argamassa. Itaú Galeria, Brasília. 1995 Impressões Digitais da Fazenda do
Assombrado. Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Rio de Janeiro. Fernando Madeira. Galeria JK do Banco de Brasília, em Brasília. 1996 Texturas da Memória – Trabalhos Recentes.
Café Daniel Briand, Brasília. Cartas Postais. Museu das Bandeiras, Goiás Velho.
Infraero, aeroporto de Brasília.
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Brasília. 2003 Vazados. Referência Galeria de Arte. Casa Park,
Brasília. 2005 Vazados. Centro Cultural, Biblioteca Municipal.
Itajubá, MG. 2006 Arte pra criança. Gabinete 55 -‐ Escritório de
Arte. Brasília. Desenhos. Casa da Cultura da América Latina. Brasília. 215
2007 Desenhos/Colagens. Galeria Acervo – Casa da
Cultura da América Latina. Brasília. 2008 Desenhos e Relevos do Mar. Café Daniel
Briand. Brasília. 2017 Cães e festas, o Barroco na mira. Reitoria da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A Grande Viagem – Passaporte para o ano 2000. Espaço Cultural Cristiano Stockler das Neves, São Paulo. Não é Cinema. Galeria Rubem Valentim, 508 Sul, Brasília. 1994-95 IV Salão Nacional de Arte Religiosa. Museu
Universitário da PUC de Curitiba. EXPOSIÇÕES COLETIVAS
1995 Três Gerações na Arte de Brasília. Museu de
1990 A cidade que existe em nós. Sala Miguel
A Grande Viagem – Passaporte para o ano 2000. Galeria Rubem Valentim, 508 Sul, Brasília; Aeroporto de Guarulhos, SP e Brazilian American Cultural Institute, Washington DC.
Bakum, Curitiba. Anotações e Desenhos. Galeria da Caixa Cultural Brasília. Natu Gomes, Márcia Papadopoulos e Fernando Madeira. Galeria da Caixa Cultural, Rio de Janeiro. Salão de Artes Plásticas do Distrito Federal. Galeria Athos Bulcão, Brasília.
Arte de Brasília – MAB.
Gente que ama Brasília. UCLA, Lisboa e Guimarães, Portugal. Emendando as Águas. Movimento dos Artistas pela Natureza. Espaço Cultural 508 Sul. Retrato de Frida Kahlo. 508 Sul, Brasília.
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Um Brasiliense e Quatro Cariocas – 5 propostas. ECT Galeria de Arte, Brasília.
1993 Panorama Brasília Arte. Galeria Rubem
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Valentim, 508 Sul, Brasília. Candelária Urgente. Galeria Rubem Valentim, 508 Sul, Brasília. Arte Vida Arte. Galeria Rubem Valentim, 508 Sul, Brasília. 1º Salão BRB – Arte de Pintura. Galeria JK, Brasília Trade Center, Brasília.
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2012 MAB – Diálogo da Resistência. Museu
1999 Bienal Internacional de Arquitetura de São
2014 SeumuSeu – Expoexperimentos. Museu
Paulo. Pavilhão Ibirapuera, São Paulo. 2000 Arte Pra Pular. Conjunto Nacional de Brasília.
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Nacional do Conjunto Cultural da República. Brasília. Nacional do Conjunto Cultural da República. Brasília. 2016/17 Onde anda a onda II. Museu Nacional do
Conjunto Cultural da República. Brasília. PRÊMIOS 1964 1º Prêmio, Selo comemorativo dos 25 anos da
Companhia Siderúrgica Nacional. 2º e 4º Prêmios, Logotipo dos 25 anos da Companhia Siderúrgica Nacional. 1994 2º Prêmio, I Salão BRB Arte de Pintura, Brasília.
Salão do Iate Clube de Brasília. Galeria do Iate Clube de Brasília.
1996 Referência Especial do Júri, IV Salão Victor
2007 O Círculo. Conjunto Cultural do Museu da
2000 2º Prêmio, Salão do Iate Clube de Brasília.
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Cultural do Museu da República. Brasília. Obra Nome. Conjunto Cultural do Museu da República. Brasília. 2009 Obra Nome. Escola de Artes Visuais do Parque
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GO. Semi Círculo. Conjunto Cultural do Museu da República. Brasília. Aos ventos que virão... – ECCO – Espaço Cultural Contemporâneo, Brasília.
Meirelles. Florianópolis, SC.
2001 Menção Honrosa, Salão do Iate Clube de
Brasília. 2002 Prêmio Lúcio Costa, III Bienal de Arquitetura de
Brasília, IAB-DF. Catedral de Vila Boa de Goiás. OUTROS TRABALHOS Restauração de Monumentos Históricos no Centro-‐ Oeste Brasileiro, no Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Realização do filme I love NY, 16mm, preto e branco, 12 minutos, sobre os signos, sons e a arquitetura de New York, 1978. Cenografia para o Ballet Carmen, coreografia de Giselle Santoro, baseadas na obra de Bizet, Teatro Nacional Cláudio Santoro, Brasília, 1995.
Brasília Outros 50. Complexo Cultural Funarte. Brasília.
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