Revista Pré-conceito

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Edição 001 - Ano I - Julho a dezembro de 2015

PRÉ-CONCEITO


Edição 001 - Ano I - Julho a dezembro de 2015

PRÉ-CONCEITO


“Tire o seu racismo do caminho que eu quero passar com a minha cor�


PRÉ-CONCEITO 2º semestre de 2015

vamos dar uma espiadinha?

P

ré-conceito é uma revista semestral e impressa sempre em preto e branco. A publicação que você tem em mãos visa abrir os seus olhos a respeito de préconceitos que talvez você tenha. Convidamos-lhes a olhar pelo buraco da fechadura para saber o que a cultura negra está produzindo. Projetos que, muitas vezes, passa despercebido pela grande mídia. Diferentemente de países como a África do Sul e os Estados Unidos, o racismo no Brasil é disfarçado, subentendido, e, normalmente, mais perverso. Será que você já parou para pensar nisso? Então, fiquemos com Pedro Bial e a Pré-conceito deste semestre: “vamos espiar os nossos heróis?” 4

alencar braga

Gabriel Pontes


PRÉ-CONCEITO 2º semestre de 2015

06 branco sai, preto fica 08 criola 10 Duro não é o cabelo

Dizem os versos de Akins Kintê, ovacionado no 1º Festival de Poesia de São Paulo

O premiado filme de Adirley Queirós

Raízes na cabeça, spray na mão e skate no pé

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Ah, Branco, dá um tempo! Estudantes da UnB criam tumblr para combater o preconceito racial

você é racista? Veja qual será o próximo tema da Pré-conceito

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DURO não é o Cabelo, Com esses versos, o poeta Akins Kintê foi ovacionado e venceu o 1º Festival de Poesia de São Paulo. A iniciativa do festival surgiu do coletivo ‘Correspondência Poética’, que atua desde 2009 na pesquisa e difusão da literatura periférica. O grupo promove diferentes atividades, como a entrega de poemas nos terminais de ônibus. “Tinha festival de curta metragem, teatro, música, de tudo, menos de poesia. São Paulo está se tornando referência no Brasil inteiro, então tinha que ter uma premiação para essa poesia que está fazendo tanto pela periferia”, justifica Alisson da Paz, 29, membro do Correspondência Poética. Com financiamento do Programa VAI, da Secretaria Municipal de Cultura, Alisson e mais dois membros do coletivo organizaram o festival. Entre agosto e setembro, eles receberam 150 inscrições de poesias, enviadas pela internet por meio de vídeos. Uma primeira seleção, realizada pelos escritores Binho, Marcelino Freire e Sérgio Vaz, escolheu 30 poetas para participar do evento de encerramento do concurso, que aconteceu no dia 22 de outubro de 2014. No dia do festival, todos se apresentaram e a mesa julgadora, formada por Raquel Trindade e Rosa Maria Falzoni, definiu os 13 premiados. Akins Kinte, o primeiro colocado, ganhou o prêmio principal de 3 mil reais; aos demais foram e n t re g u e s valores menores. As poesias dos 30 participantes s e r ã o distribuídas nos terminais de ônibus da cid a de.

TEXTO FOLHA DE S. PAULO


Duro não é o cabelo Por tê-lo e por ser belo O cabelo Querem zero, ou prendê-lo Eu não quero E o barbeiro amarela Na dele Naquelas Sem atitude sem negritude O branquela Não entende Crespitude Racismo É engodo e sequela Engorda os de lá E os de cá esfarela Zelo o crespo com fulgor Negro zela com amor Para entendê-lo Berro, quirela, enterro Aquela falsa abolição Exijo mais pente afro Menos ferro, menos favela. Mais terra e condição O duro não é o cabelo São as escolas e suas deixas O sistema e suas bre O crespo é toda uma vida Quando livre as madeixas Duro é o Genocídio O cabelo por ser belo Ela fere ele ferra A gente trata Tipo Fera Zera desmata Descarta e destrata O crespo na sincera Os policiais querem guerra Prende e mata Sempre voraz Por ser belo o bêlo vai pondo Em minha cachola Os tiros e atola

Os crimes hediondos Supondo desbravar Guerrilhas e quilombos Orgulho negro é calombo Insulta o país, Nós contamos os tombos A estatística diz Conta pela cota Rotulo pela rota Um a menos na facu Mais uma vítima morta Duro é genocídio na birosca Tombamos feito mosca Não o crespo de mulher negra Que ao natural sem regra Meu coração se enrosca Por ser dread cabelo Vem ao vê-lo O playboy não se continha Quer farinha Quer maconha Quer balinha A patricinha Confundiu-me com tráfico Com furto Pela pele pelo cabelo Compreendê-los como! Eu puto Nem tento Nem curto Nesse atento não surto Se apresento proposta A cata de crime mesmo puto Elas sorta porque gosta De uma droga e gosta muito De dia eu sou o feio O sujo, o infeliz Suportando A cadeia de olhares hostis Pela pele é mole! Duro não é o cabelo Eles são pavios tão acesos Quando não violentados Quando não presos

Que enriquecem nossos olhares Vazios Por ser crespo E por ser bela Ela meu alicerce Eu dependente dela Não alisa, Roube a brisa E firme o elo Mulher negra E o cabelo sem duelo Eu sei da treta Sei, Não resenho É que o desenho, Que nos desenham Sempre feio Sempre empenham Que as pretas Sempre tenham Queixas pelas madeixas Mais se encrespá-lo Caso Ou endredalo Acasalo Caso contrario Entristeço adoeço Vaso Quero ela Pra mantê-lo e passá-lo O cabelo enraizá-lo E tê-lo Em outra geração Sempre macios os fios Tranças-labirintos Fuga dos retintos Da opressão Duro não é o cabelo

éE não o sistema alisa

Quebra na emenda Entenda a persistência De mantê-lo Crespo na essência É orgulho Político E resistência


BRANCO SAI, O futuro chegou, e – pelo menos no Brasil - ele é mais próximo do lixão tecnológico que se tornou a Terra quando os humanos a deixaram para construir um planeta ‘ideal’ em Wall-E, na visão do cineasta Adirley Queirós. Em seu filme Branco sai, preto fica há uma mistura de documentário e ficção científica, potente e complexa mesmo para um adulto ilustrado, que denuncia com criatividade e irreverência a atitude criminosa do Estado brasileiro contra os negros e marginalizados partindo de um crime específico em Brasília. Aconteceu em 26 de março de 1986 em Ceilândia, na periferia da capital. Dois jovens negros e alegres frequentam um baile black, o Quarentão, onde exibem seus passinhos inventivos junto a uma rapaziada cativa. Certo dia, a polícia chega com cavalos e até helicópteros e avança contra tudo e todos, investindo contra os dois meninos sem dar explicações. Eles são Marquim, que ficou aleijado e vive preso a uma cadeira de rodas, e Sartrana, que teve uma perna amputada e caminha com

uma prótese. Ambos viveram para contar, ou melhor, para atuar em sua própria história. Seu título, explicado logo no início do filme, diz respeito à ordem dos policiais quando invadem o Quarentão: “Puta prum lado e veado pro outro! (...) Tô falando que branco pra fora e preto aqui dentro! Branco sai e preto fica, porra!”. Eram os anos 80, mas podia perfeitamente ser o presente. O relato, verídico, é resgatado em cenas ficcionais com depoimentos reais dos ex-dançarinos atores e, além disso, temperado com a inclusão de um terceiro personagem na história: Dimas Cravalanças, que chegou do ano de 2073 para recolher provas contra o Estado criminoso. É aí que toma forma a ficção científica, acrescentando um humor fino e crítico ao filme – que só por resgatar um episódio absurdo como o do Quarentão já valeria o ingresso, mas, ao recusar a possível dureza de um documentário e o tom piegas em que ele facilmente poderia mergulhar, se faz muito mais relevante.


O longa-metragem venceu onze prêmios no Festival de Brasília de 2014, entre eles o de melhor filme, e foi selecionado por vários festivais internacionais. Não é por menos: da paisagem de feiura ímpar de Ceilândia – escura, suja, enferrujada e incompleta, como um mal esboço de si mesma – às gírias nas falas dos personagens, tudo contribui para criar um pacto firme entre o filme e o espectador. E, em águas mais profundas, proporciona um fácil paralelo com temas tão em pauta no Brasil de hoje, como a violência policial, o racismo e a nossa frágil democracia, tão contaminada pela corrupção. Pergunta: O que você opina sobre Brasília e sobre o debate político que acontece hoje no Brasil? Adirley Queirós: O Brasil é um país extremamente racista e superimperialista. E Brasília ressalta nessa questão de como as pessoas são segregadas. Sobre o presente, acho que o nosso ilme é essencialmente político, então esquenta o debate, sim, só que falando da forma que a gente fala. A intenção básica era trazer a política, a violência policial, o racismo. Mas em Brasília tudo é um slogan, então o que tentamos fazer foi achar o lugar da discussão em vez da representação. P: Uma das marcas de Branco sai é o humor, ainda que seja extremamente crítico. Por que evitaram fazer crítica da maneira mais tradicional? AQ: A gente questiona muito como esses ilmes militantes são feitos. A nossa militância poderia soar moralista. Preferimos falar de questões tradicionais do nosso cotidiano, de uma maneira mais leve. TEXTO EL PAÍS


CRIOLA

RAÍZES NA CABEÇA, SPRAY NA MÃO E SKATE NO PÉ 10


v Fonte: Portal nobrasil.co

D

urante toda sua vida como aluna de colégio particular, e sendo a única negra da sala, enfrentou muito preconceito por conta de seu cabelo e sua cor em seu percurso escolar. Percebeu no graffiti uma linguagem imagética que exerce com excelência o

papel de conscientização na sociedade contemporânea. Assim, procurou em suas obras, e em seu trabalho os cabelos como símbolo, essência e resistência cultural – livre de influências estéticas europeizadas da mídia e do cotidiano. Criola observa que o

brasileiro em sua maioria não valoriza o que é feito aqui mas apenas aquilo que é “legitimado” e aceito como bom no exterior. Assim, com base numa educação de qualidade e ensinando as crianças o real valor cultural brasileiro essa conexão com a arte seria mais orgânica e intuitiva. 11


Ah, Branco, dá um tempo! “Sou negro! Sei que minha presença te encomoda” 12

Estudantes da UnB criam tumblr para combater o preconceito racial v Texto: Agência Brasil

O

preconceito racial e a vivência dos estudantes negros dentro da universidade inspiraram a criação do projeto "Ah Branco, dá um tempo!" na Universidade de Brasília. A iniciativa reúne fotos de alunos negros que seguram placas com frases racistas que eles já ouviram em diferentes situações. Idealizado pela aluna de ciências sociais Lorena Monique, 21 anos, a ideia surgiu a partir de um trabalho de antropologia visual, quando ela descobriu a existência do projeto "I, Too, Am Harvard" ("Eu também sou Harvard"), desenvolvido por alunos neros da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. "Achei que era uma experiência simples, genial e empoderadora. Pensei que pudesse reproduzir isso aqui no campus da universidade", conta Lorena, que escolheu o tumblr como forma de divulgação por acreditar no grande alcance que a plataforma web pode ter. "É um veículo comum, e a maioria das


frases

“Por que você não penteia o cabelo?” “Não sou racista, tenho até amigos negros...” “Eu não sabia que gente como você tinha sensibilidade para arquitetura” pessoas consegue acessar", diz. O principal objetivo do projeto, além de trazer para debate o preconceito racial, é falar sobre a importância da Lei de Cotas na unviersidade. Para ela, ainda há muito racismo dentro do campus. "Acredito que há um preconceito velado; as pessoas na universidade não te julgam abertamente, como nos EUA. Acontece de forma mais disfarçada, as pessoas guardam para elas ou reproduzem de forma que elas não percebem", relata. Em abril, um site publicou imagens do projeto alterando as frases para conteúdo de cunho racista. Os autores das montagens ainda não foram identificados, mas Lorena

Monique afirma que já foram tomadas as providências legais sobre as montagens: "esse site é incitação ao ódio e eu já estou tomando medidas necessárias. Muitas pessoas se odereceram para ajudar, também. Esse racista que fez as montagens não está impune. Ele não é obrigado a aceitar, mas deve no mínimo ter respeito à causa", diz. A ação, no entanto, não intimidou os realizadores do projeto, que estão produzindo um mini-documentário para tratar do tema. "As pessoas não estudam, não procuram entender a vivência do negro, como foi implementada a lei de cotas, a história por trás", afirma Lorena, que acredita poder atingir as pessoas de forma mais efetiva com projeto em forma de vídeo. 13


Você

é racista O racismo impõe barreiras difíceis de ultrapassar. Ele fecha das portas para a escola, para o emprego, para oportunidades a que todo cidadão tem direito. Produz miséria, violência, destrói vidas, pois condena as pessoas pela sua cor. Não seja cúmplice deste crime. Somos todos diferentes, mas temos direitos iguais.

v Fonte: Prefeitura de Fortaleza

Tema da próxima edição:

14

Cultura muçulmana

Ninguém deve ser discriminado por sua cor, raça ou etnia.



Faculdade de Comunicação - UnB Disciplina: Planejamento Gráfico Prof. Dra. Célia Matsunaga Alunos: Alencar Braga e Gabriel Pontes


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