No final da década de 1950, o atual prefeito da cidade de São Paulo, Toledo Piza, contrata o Estudo Urbano da Aglomeração Paulistana, desenvolvido pelas SAGMACS, que buscava obter uma leitura da cidade de modo mais humanizado, verificando questões pertinentes à população, e mapear os focos dos principais problemas urbanos que São Paulo vinha apresentando naquele período, em decorrência de seu passado histórico, visando ampliar o território a ser analisado, estendendo-se o raio do estudo para além do município de São Paulo. Tal estudo foi pioneiro no campo do planejamento urbano da capital paulista, uma vez que possuía uma abrangência territorial que extrapolava a região do centro econômico e financeiro da cidade. a visão integrada de uma cidade, como a proposta de Lebret de se pesquisar a mesma, é tida como uma crítica à metodologia empregada em trabalhos urbanísticos anteriores aos anos 1950, arraigados do discurso modernista e funcionalista defendidos por Le Corbusier, Robert Moses, Prestes Maia, entre outros, que visavam apenas a organização funcional do espaço, discutindo o tecido urbano a partir de intervenções para sua melhoria, sem levar em consideração as necessidades e principais problemas da população. 1 ESCALÕES DE ANÁLISE A metodologia do Estudo Urbano da Aglomeração Paulistana constituía em analisar não somente a capital paulista, mas, por se tratar de uma capital de estado, procurar destacar as relações desta com as outras cidades do interior e do litoral paulista, propondo uma visão de leitura e planejamento urbano em
1
CESTARO, 2009, p. 186.
uma escala muito maior, para além de um município, de um território a nível estadual. Através desta metodologia, as SAGMACS adotou uma maneira de hierarquizar as cidades do Estado de São Paulo, classificando-as conforme proximidades, hierarquias e escalões de análise, implantando, assim, uma lógica de planejamento regional, expandindo a noção de planejamento para além do município de São Paulo, apresentando, portanto, a seguinte divisão regional: 2 • Greatest São Paulo – Divisão que compreendia ao território do estado inteiro • Greater São Paulo – incorporação de cidades industriais (os municípios do Vale do Paraíba, São José dos campos e Taubaté), tanto do interior (Jundiaí, Campinas, Limeira, Americana, Piracicaba, Rio Claro, São Carlos, Araraquara, Jaú, Bauru, Botucatu, Sorocaba e São Roque), quanto do litoral (Cubatão, Santos, Guarujá, São Vicente e Itanhaém) do estado. • Great São Paulo – divisão que envolvia os municípios próximos à capital e com certa dependência direta com São Paulo; • Aglomeração Paulistana – incorporação além do município de São Paulo, as cidades de Santo André, São Bernardo do campo, Guarulhos e São Caetano ; • E o município de São Paulo.
2
Idem, p.172.
Uma vez dada a relação da capital com o restante do estado, bem como uma proposta de planejamento urbano a nível territorial de estado, a pesquisa se atém na questão da aglomeração paulistana. Visando compreender as necessidades urbanas da população e a situação em que se encontrava o desenvolvimento urbano da cidade, foram definidos três níveis de investigação: elementar, complexo e completo. •
Unidades ELEMENTARES
As unidades elementares constituem os locais ou áreas da cidade inseridas em um bairro, que contavam com o mínimo para suprir as necessidades de consumo e oferta de serviço à população local, considerando-se como equipamentos mínimos a existência de comércio de gêneros alimentícios, Escola Primária, farmácia, bares e pontos de parada de ônibus. A Aglomeração Paulistana foi então dividida em 364 unidades elementares, sendo 307 no município de São Paulo, 23 em Santo André, 17 em São Bernardo do Campo, 12 em São Caetano e 5 em Guarulhos.
•
Unidades COMPLEXAS ou TERCIÁRIAS
Constituem-se unidades complexas aqueles territórios formados por unidades elementares que possuam, em um diâmetro aproximado de 3 Km, um núcleo de comércio e serviços, com uma população mínima de 1000 habitantes, homogeneidade da área, devido ao desenvolvimento de um loteamento, ou à idade do desenvolvimento, limites naturais ou
artificiais (como grandes espaços não habitados, rios, estradas de ferro, descontinuidade de loteamentos, avenidas expressas, cemitérios, parques, grandes depósitos e oficinas) e a identificação da unidade por parte de seus habitantes. No município de São Paulo, tais critérios ocasionaram a divisão do território em 17 unidades, sendo… e ainda as cidades da Aglomeração Paulistana (Santo André, Guarulhos, São Bernardo do Campo e São Caetano). • Unidades COMPLETAS ou SECUNDÁRIAS Estas unidades são formadas por unidades complexas e que teriam, por sua vez, um caráter de auto-suficiência em relação ao centro de São Paulo, com grande diversidade comercial, equipamentos escolares, de saúde, administrativos e demais necessários à vida coletiva. A partir dessa classificação em três unidades, apoiando-se no critério de divisão em zonas fisiográficas, utilizadas pelo IBGE, as SAGMACS definiram três regiões para a cidade de São Paulo: • CENTRAL – área que abrange a máxima concentração de atividades e equipamentos comerciais e de serviços do município e da aglomeração paulistana. • TRANSIÇÃO – em torno da região central, possuindo certa autonomia; • EXTERNA – onde a atração dos subcentros é maior que a do centro principal, formando-se uma área periférica polarizada que compunha a aglomeração paulistana.
CONCLUSÕES CHEGADAS A PARTIR DAS ANÁLISES DO ESTUDO URBANO DA AGLOMERAÇÃO PAULISTANA O estudo levanta a questão do centro não resolver bem seus problemas em duas perspectivas: na zona de transição ocorre uma falta de homogeneidade do tipo de implantação e da correspondência dos níveis de densidade de população e eficiência dos equipamentos urbanos; enquanto na zona central as condições de implantação de serviços são inadequadas do ponto de vista funcional e orgânico. A AGLOMERAÇÃO PAULISTANA O estudo revela que a aglomeração possui manchas de alta densidade populacional que se apresentam de maneira exótica e ilógica, formadas ao sabor da especulação imobiliária, sendo necessárias algumas modificações úteis para que estas se tornem projetos de unidades secundárias e terciárias – elementos referentes ao espaço per capita de uso comercial e de serviços. Foram verificadas, também através do estudo, implantações de loteamentos desprovidos equipamentos básicos (entendendo-se como equipamentos urbanos básicos as vias de circulação de veículos e de pedestres, bem como sua pavimentação, os sistemas de coleta ou abastecimento e canalização de águas pluviais, potáveis e servidas, e a distribuição de energia elétrica e iluminação pública), devido à expansão demasiada periférica, enquanto zonas residenciais mais centrais mantiveram índices de ocupação muito baixos. Tais índices revelam que tais situações de
rarefação residencial não permitem o barateamento dos custos dos serviços e equipamentos públicos, além dos equipamentos básicos. A densidade média de população por unidade de área urbanizada, da ordem de 70 habitantes por hectare, torna-se impraticável se o município decidir promover a implantação e manutenção de um equipamento básico satisfatório. Acrescenta ainda que, se a cidade estivesse implantada com características de concentração média de população da ordem de grandeza do índice preconizado de 200 habitantes por hectare, a população atual ocuparia apenas 150 km² e as extensões existentes de equipamentos atenderiam às seguintes proporções da área urbanizada:
• Drenagem e pavimentação: 47% ao invés dos 16% atuais; • Água e esgotos: 73% ao invés dos 25% atuais; • Iluminação pública: 100% ao invés dos 42% atuais;
Foi verificada ainda a ocorrência de processos de subparcelamentos clandestinos dos loteamentos residenciais nas zonas habitadas por população de baixo poder aquisitivo, decorrente de problemas urbanos gerais como pauperismo, valorização excessiva de terrenos urbanos, ausência de meios legais para controle dos fenômenos correlatos da expansão urbana pelo poder público.
Burgo
Vila
da
Casa Móoca
Paulista Área
Penha
Saúde
Santo
Verde
residente
786.794 na
unidade População trabalhando
na
553.790
306.000
385.220
Lapa
Vila
Nova
Santana
Vila
Itaim
1.572.330
711.079
Maria 184.400
Conceição 430.640
396.080
Mariana 457.557
385.720
16043
8587
2046
3328
4622
4779
2903
(73,5%)
(57,5%)
(72,5%)
(77%)
(72%)
(82,5%)
(77,6%)
3944
5452
1233
1246
2563
1728
1853
(26,5%)
(42,5%)
(27,5%)
(23%)
(28%)
(17,5%)
(22,4%)
19,2 102
3,5 121
9,4 111
13,8 77
3,6 60
2,0 104
3,0 75
242
256
230
160
117
199
156
1,5
1,18
1,42
1,46
1,53
1,73
1,33
43
61
50
39
60
40
48
26,5
28,2
30,4
35,3
36,1
34,5
41
Amaro
levantada
(m²) População
Pinheiros
Osasco
427.854
460.942
420.650
2316
7663
5760
5698
5255
2811
4055
(88,1%)
(92,4%)
(60,5%)
(68,5%)
(86%)
(60,1%)
(66,7%)
40
294
3755
5589
5994
1968
1281
unidade
(11,9%)
(7,6%)
(39,5%)
(31,5%)
(14%)
(39,9%)
(33,3%)
Lotes vagos (%) Densidade
55,8
12,5
0,4
4,3
10,9
16,6
8,6
territorial (hab/ha) Densidade
29
138
188
148
123
61
96
residencial (hab/ha) Nº médio
de
126
pavimentos Índice
de
01
233 1,22
ocupação Quota de conforto (m²/hab)
397 1,3 65
7,9
14,1
18,9
334 1,39 51 21,30
197 1,3 47 23,8
168,5 1,1 38 24,9
212 1,2 44 25
A partir desse levantamento das unidades elementares, o estudo aponta que Lapa, Penha, e Brás-Móoca – devido à concentração de indústrias, altos índices de congestionamentos de tráfegos urbanos (rodo-ferroviários) a partir de mensurações do tempo de viagem dos transportes públicos da cidade – necessitam de aperfeiçoamento com relação ao trânsito. Tanto a Vila Jaguará quanto Vila dos Remédios são unidades que superam a densidade over-all de 200 hab/ha, superando uma população de 40 mil habitantes nas áreas analisadas. Centros de unidade mais estabilizados como Osasco, Lapa e Pinheiros possuem cerca de 140m² por estabelecimento comercial, subentendendo por tais espaços comerciais e de serviços, uma aglomeração de equipamentos e serviços que abrangem uma área significativa daquela unidade, dotando-se de um caráter de centralidade, enquanto unidades como Burgo Paulista e Vila da Saúde possuem apenas cerca de 48m². Também são apresentados estudos de tendências de desenvolvimento das unidades complexas e completas (ver pranchas B). PROPOSTAS PARA A AGLOMERAÇÃO, ZONAS PERIFÉRICAS E DE TRANSIÇÃO Segundo dados do Estudo Urbano da Aglomeração Paulistana, a aglomeração não deve possuir mais do que 10 milhões de habitantes, pois o custo por habitante se tornaria impraticável. Para os demais escalões da hierarquia, propõe-se que cada região em análise também tenha um limite máximo de população – na Great São Paulo, entre 10 e 12 milhões de habitantes; na Greater São Paulo, até 16 milhões; e na Greatest São Paulo, de
25 a 30 milhões, de modo que a questão do custo por habitante seja controlada em todo o território estadual. O estudo destaca que é de extrema importância estipular limites, de modo que se evitasse o crescimento espacial do município de São Paulo, a fim de atingir a densidade over-all de 200 hab/ha em todos os loteamentos abertos, traçando indicações de linhas gerais de um máster plan para a aglomeração. Uma fez realizada a divisão da área urbana para efeito de estudo, propõese que seja efetivado o caráter das unidades secundárias de planejamento e subdivisão destas em unidades terciárias e elementares, conforme analisado em pesquisa, localizando os centros secundários e terciários, aglomerações como estações aero, rodo e ferroviárias, grandes mercados receptores de gêneros, centros administrativos estaduais e municipais, indicando, quando houver, as possibilidades de expansão, como zonas verdes e áreas destinadas à indústria. Propõe-se que sejam estabelecidos centros secundários em centralidades atuais, percebidas ao longo das análises da pesquisa: • Ao longo e ao sul do rio Tietê – Brás, Móoca, Penha, São Miguel; • Rumo a Santos – Ipiranga, Vila Prudente, São Caetano do Sul, santo André, São Bernardo do Campo; • Em direção sul – Saúde, Ibirapuera (Indianápolis), Santo Amaro; • Em direção oeste – Pinheiros, Osasco e Lapa; • Ao norte do Tietê – Santana, Tucuruvi, Vila Maria e Guarulhos (município); • Freguesia do Ó e Casa Verde estão pouco equipadas e não exercem um papel de centro secundário.
A partir de uma organização das indústrias em zonas, utilizando-se do zoneamento como instrumento para tal proposição, permite-se realizar um
importante programa de crescimento industrial na aglomeração, distribuindo tais zonas consideradas importantes para implantações industriais nas seguintes regiões: • Regiões de várzea que parte de Guarulhos, ao norte do rio Tietê, e de São Miguel Paulista, ao sul, estendendo-se até alcançar e ultrapassar Santo Amaro; • Região ao longo da via Anchieta, em território de São Bernardo do Campo; • Espaços ainda livres em Guarulhos, ao longo da via Dutra;
Serão necessárias, como o estudo prevê, comunicações rápidas entre os centros secundários e o centro principal, às zonas industriais e às autoestradas, para diminuir o trânsito e o deslocamento de pessoas para seus locais de trabalho. CONCLUSÕES SOBRE O CENTRO DA CIDADE Subentendendo centro como a região que exerce grande influência no território, devido a grande aglomeração de atividades comerciais, econômicas, financeiras e administrativas (no caso de São Paulo, administrações inclusive de caráter estadual), além de serviços e equipamentos públicos, o centro principal da capital paulista, essencialmente comercial, abriga cerca de 645 mil habitantes, podendo chegar a 1 milhão com ordenação correta, possuindo
eixos comerciais que convergem para o mesmo, como a av. São João, a rua da Consolação, a rua Augusta, a rua Domingos de Moraes, rua Vergueiro e rua da Liberdade. A localização das indústrias é predominantemente ao longo das vias férreas, no Bom retiro e na Barra Funda, dispersas na Vila Mariana e liberdade. O centro da cidade já atingiu o máximo econômico e físico de saturação, segundo dados estatísticos do centro de São Paulo, que indicam grande população de habitantes e de trabalhadores no setor terciário e índices de aproveitamento do terreno bastante elevados. População estimada de São Paulo em 1956 de 3.100.000 habitantes. São Paulo é centro de imigração ao menos nacional.
São Paulo é monopolar. Demais centros de serviços de áreas da aglomeração são insuficientes às necessidades da população, sendo necessário o deslocamento desta para o grande centro (a prancha G16 mostra os deslocamentos efetuados em sua grande maioria de populações de outras áreas da aglomeração para o centro principal). Mesmo se verticalizando para atender às devidas funções, o centro principal não poderá atender às necessidades crescentes da população da aglomeração. A implantação do metropolitano ajuda a agravar a questão na monopolarização do centro. São recorrentes problemas de acesso á zona central, sendo necessário a criação de novos centros. Caso contrário, haverá o problema de uma circulação impossível se ser realizada. PROPOSTA PARA AS UNIDADES LOCALIZADAS NA REGIÃO DE TRANSIÇÃO E EXTERNA (PERIFERIA)
O cálculo para população que poderá ser ocupada nas unidades terciárias considera a densidade over-all já avaliada de 200hab/há, baseado em outros estudos e verificações realizadas em outras cidades do mundo, que permite um adensamento de áreas sem gerar problemas de congestionamentos, salubridade e conforto de tais espaços urbanos, como também otimizar e baratear o investimento em equipamentos básicos para a cidade. Os atuais pólos secundários espontâneos, segundo análises, não estão em
condições
físicas
e
administrativas,
estando
mal-equipados,
não
contribuindo para a multipolarização da aglomeração. Para tanto, são propostas algumas reestruturações, de modo a alcançar o objetivo da proposta. Para a unidade de São Miguel Paulista, propõe-se a construção de um centro que se compreenda o centro atual e mais 800 metros para uma população futura de 310 mil habitantes. A unidade da Penha poderá ser ocupada com 530 mil habitantes. O centro se localiza na extremidade oeste da zona e a proposta sugere um centro secundário a uma distância média deste centro e do de São Miguel Paulista. Na área que abrange Vila Maria, Jaçanã e parte sudoeste de Guarulhos, o parque Mú Chaves é indicado para compor um centro secundário, sendo que o conjunto poderá conter cerca de 300 mil habitantes. Tucuruvi, Santana e Casa Verde formam um conjunto de 273 mil habitantes, mas que poderia abrigar 840 mil, e cujo centro poderia se instituir no Campo de Marte e nas vizinhanças. Para Lapa e freguesia do Ó, cuja população soma 110 mil, mas que poderia chegar até 640 mil habitantes, propõe-se a constituição de um centro entre o rio Tietê e as linhas férreas.
Osasco é um atual centro com importância de centro terciário. Com uma população de 93 mil, podendo atingir 450 mil, propõe-se a construção de um novo centro compreendido entre o rio Tietê, Presidente Altino, Jaguaré e o frigorífico Wilson. A unidade de Pinheiros, cuja população em 57 era de 122 mil e poderia atingir 390 mil, é um centro congestionado. Há a proposta de criação de um centro secundário na parte baixa do alto de Pinheiros, em frente à cidade universitária e englobar parte do norte do Butantã. Já a unidade do Ibirapuera, cuja população atual de 105 mil, podendo atingir os 710 mil habitantes, não possui um centro definido nitidamente. Há uma pequena centralidade no Brooklyn, mas a concentração comercial se localiza em dois eixos que margeiam Vila Nova Conceição e atravessa Itaim. Propõe-se um centro novo ao longo do rio Pinheiros e zonas de indústrias médias ao longo do canal. A unidade de Santo Amaro, cuja população de 93 mil pode atingir até 720 mil habitantes, possui vastos terrenos de tendência industrial ao longo do canal e da via férrea a Santos. Propõe-se uma extensão do centro da cidade a sudoeste, estendendo-se até Socorro. Dotada de uma população de 134 mil habitantes, com capacidade para até 520 mil, a unidade de Saúde possui uma concentração comercial na av. Jabaquara e centros terciários esboçados em partes não ocupadas do Jabaquara e entre Jardim da Saúde e Vila Água Funda. O município de São Bernardo do Campo, com uma população de 52 mil, com capacidade de abrigar 500 mil, encontra-se em pleno desenvolvimento. É proposta a construção de dois centros terciários: um no Caminho do Mar e
outro a oeste da Via Anchieta, nos arredores de Jardim Paulicéia. Neste último, uma composição de um grande conjunto misto (industrial, residencial e comercial). Com a presença da linha férrea, o município de Santo André, de população em torno dos 175 mil habitantes, com capacidade para 400 mil, tem seu território cortado, além de áreas de implantação industriais já fixadas, inclusive bastante extensas. Propõe-se uma unidade norte polarizada por dois centros nos terrenos ainda disponíveis. Faz-se necessário a imposição de um plano de ordenação para auxiliar as duas unidades separadas pela via férrea: a unidade norte, com aproximadamente 150 mil habitantes; e a unidade sul, que se desdobra a partir do centro atual em uma disposição linear na direção de Vila Paraíso. Para a Vila Prudente, cuja área abrange uma população de 115 mil e que poderia suportar até 305 mil habitantes, quase que exclusivamente residencial, propõe-se reservar alguns terrenos industriais à noroeste da Vila Prosperidade e instituir um centro entre Vila Zelina e Jardim Independência. Já para Itaquera, cuja população de 25 mil pode atingir sem problemas 140 mil habitantes, propõe-se a constituição de um centro contornando o grande espaço verde localizado na área, além de espaços industriais próximos à via férrea e a preservação do caráter rural de Guaianazes, além do acréscimo de médias indústrias na região. PROPOSTAS PARA AS UNIDADES CENTRAIS Para a unidade do Ipiranga, cuja área abriga uma população de 155 mil, podendo suportar até 370 mil habitantes, localizada à saída da via Anchieta,
propõe-se um centro secundário em Vila Heliópolis, em junção imediata com a Via Anchieta e o atual centro comercial, estendendo-se pela rua comercial que atravessa todo o bairro do Ipiranga. Além disso, zonas industriais entre Vila Heliópolis e São Caetano, ao longo da via Anchieta, visto que na parte norte há indústrias concentradas ao longo da ferrovia Santos-Jundiaí. Nas unidades Brás e Móoca, propõe-se uma dupla polarização, em virtude das numerosas indústrias nas duas unidades, que somam 570 mil habitantes, podendo abranger até 650 mil. Na unidade da Móoca, para além do atual centro, sugere-se a construção de um centro secundário entre Água Rasa e Vila Formosa; enquanto na unidade do Brás, propõe-se um anexo à unidade de Belenzinho, por esta ser uma unidade comercial bastante avançada.
Em Tatuapé, se faz importante a implantação de um centro secundário, apoiando-se nas unidades Tatuapé, Parque São Jorge, Vila Moreira e, transposta a linha férrea, Sílvio Romero e Vila Brasil. Na faixa de Vila Carrão, criação de uma outra unidade terciária, próximo a terrenos de vocação industrial. PROPOSTAS PARA O CENTRO E CRIAÇÃO DE UM NOVO CENTRO COM FUNÇÕES REGIONAIS E SUPRA-REGIONAIS O estudo propõe a implantação de um centro com função de capital política, administrativa e econômica, possivelmente no território atual de São Mateus e seus prolongamentos, ficando distante do primeiro centro principal apenas 15 km, com capacidade de 200 a 300 mil habitantes. Sustenta que o centro atual deveria atender apenas à função urbana de centro de serviços
para a aglomeração, admitindo que áreas de serviços e comércios do escalão primário estarão concentradas no mesmo, sendo proposta a transferência da cidade administrativa para o Parque do Ibirapuera, com serviços coadjuvantes e linhas de transporte rápido para servi-lo. Para a aglomeração, é previsto um zoneamento funcional em seis escalões: • Loteamento; • Conjunto de loteamentos (a unidade terciária ou complexa); • Conjunto de unidades elementares que constituem uma terciária ou complexa; • Conjunto de unidades terciárias que constituem uma unidade secundária ou completa; • A unidade municipal; • A aglomeração multimunicipal;
Construção de rodovias que interligam São Paulo às demais localidades da aglomeração. O plano completo supõe reunir, por uma semi-circular intermediária, os atual centro, o centro proposto no Ibirapuera, Saúde, Ipiranga, Vila Prudente e o centro novo de Vila Maria. Faz-se necessária também uma revisão de viário, visando comunicação rápida entre os principais centros. MULTIPOLARIZAÇÃO DA AGLOMERAÇÃO PAULISTANA Com toda essa organização e hierarquização do centro principal, dos centros secundários e terciários de comércio e serviços, e implantando zonas
industriais próximas a equipamentos públicos para facilidade do escoamento da produção, o estudo propõe que o perfil da cidade de São Paulo seja alterado, passando de uma cidade monopolarizada para uma multipolarizada. O diagnóstico afirma que o urbanismo que não considera fatores relacionados à sociologia e geografia acaba cometendo erros gravíssimos no varietur. Além disso, o crescimento residencial segue o interesse de loteadores e especulação imobiliária. A descentralização multipolar fornece um caminho de solução para a aglomeração em crescimento rápido, relacionando o conceito de aglomeração orgânica e a concepção de zonning, utilizando-se do instrumento de zoneamento funcional, procurando dialogar com as quatro funções urbanas lecorbusianas – habitar, trabalhar, lazer e circulação. Além da multipolarização orgânica em grandes centros, propõe-se também um desdobramento do Mercado Municipal em vários outros menores. Tornar uma cidade multipolarizada pressupõe que os vários centros permitem um melhor rendimento dos equipamentos públicos e distribuição e organização de equipamentos comerciais e de serviços, de modo a atender uma área mais abrangente da capital, reduzindo os deslocamentos populacionais de áreas mais afastadas, propiciando fácil acesso aos equipamentos essenciais à vida urbana, evitando a saturação de um único território para uma aglomeração urbana da dimensão da paulistana. O estudo afirma, dentre outros aspectos, que uma Legislação urbanística se faz necessária, assim como o planejamento racional, propondo a criação de uma lei federal que regulamente o condicionamento do uso da propriedade privada do solo urbano ao bem-estar social, de modo que o planejamento não
acabe se limitando por interesses pessoais ou de grupos restritos, em face a uma legislação obsoleta. Por fim, o estudo sugere a criação de um Ministério de Planejamento e Urbanismo para o ano de 1957, visando, sobretudo, uma reorganização em uma estrutura descentralizada político-administrativa, de modo a manter o caráter multipolar da estrutura urbana, visto na proposta de eleição de unidades secundárias a distritos ou subprefeituras, e unidades terciárias serem eleitas conselhos subdistritais. Faz-se necessária a ordenação em todas as escalas de São Paulo, pois as alterações realizadas na aglomeração influenciarão nas demais regiões relacionadas com a capital – principalmente alterações com a magnitude das propostas – bem como a diminuição de polarização caso haja forte desenvolvimento de outros pólos econômicos (comerciais e industriais) capazes disso.