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nยบ quatro
agosto de 2014
Realização NITRO Editores Leo Drumond, João Marcos Rosa, Natália Martino, Ricardo Lima, Alex Ribeiro, Gabriel Reis www.nitroimagens.com.br +55 31 3297 7848
Revisão Natália Martino, Luciano Almeida, m.e.Sousa Projeto gráfico e diagramação Diogo Droschi e Leo Drumond Equipe Adri Riquena, Amanda Areias, Antonella Tonidandel, Arthur Medrado, Bruna Brandão, Bruno Corrêa, Carolina França, Cid Costa Neto, Clarissa Carvalho, Domingos Gonzaga, Edi Góes, Eliseu Damasceno Matos, Gustavo Miranda, Isadora Bruzzi, Isadora Faria, Juliana Padula, Kássia N. Vibhuti, Karol Flor, Luciana Pontilla, Luciano Almeida, Lidiane Andrade, Macgarem Hubner, Márcio Luiz, Maxiléia Romão, Max Perdigão, m.e.Sousa, Patrick de Araújo, Tânia Coura, Tetê Silva, Thiago Morandi, Thiago R. Caetano Foto desta capa Arthur Medrado, Carolina França, Cid Costa Neto, Lidiane Andrade, Márcio Masselli Foto da outra capa Thiago R. Caetano Impressão Rona editora Tiragem 500 motivos para acreditar na dúvida Agradecimentos Maria Bernardete Pinto Cunha e equipe do Centro Cultural e Turístico do Sistema FIEMG/SESI, equipe do Fotógrafos em Ouro Preto, Amantino Guimarães, Milton do Mocotó, Padre Danival, Gracinda Toffolo, Pastor Gilmar, Zequinha, Deolinda, Dona Helena, Imaculada, Maria Lúcia França, Márcio Masselli, Fredd Amorim, Maria Aparecida, Irmã Teresa, Reginaldo, Luzia de São Severino, Miranda, Wilian Adeodato, Thaís Dias, Antônio César, Eva, Flávio, Dona Geralda, Janaína, Seu José, Lutigard, Marcos, Maria do Carmo, Richard, Romanigue, Dona Terezinha, Marco Antônio de Almeida Costa, Marilza de Freitas Vasconcelos, Alexandre Mascarenhas, Iasmin Moreira, Maria Madalena dos Anjos, Edite Gonçalves Lana, Karol Wojtyla Vasconcelos, Neideane, José Batista, Mariele, Regina Célia Rodrigues, José Brito, Alana Siqueira Alves, Ida Elizabeth, Cheirinho, Claudia Itaborahy, João Motorista, Efigênia Rosa Costa, Maria das Graças Rosa, José Roberto de Paula, Seu Valdivino Aleixo Oliveira, Milton, Pedro Paulo e Caetana.
Parceria institucional
Patrocínio
–A rua que pego
é muito limpa, nem guimba de cigarro tem. Turista gosta né?
A rua é minha, a praça é sua
–Essa rua é minha. Sou eu que limpo. –É mesmo? Aposto que cê fica feliz com isso. Lá no restaurante é assim também. Só docê vê as pessoas comendo, falando que tá gostoso…
Amanda Areias | Domingos Gonzaga | Lu Pautilla
–Eu também tenho um papel fundamental aqui, sou eu que cuido da segurança. –Nó, é muito bom, né? Bendizê, fui nascido aqui e isso me ajuda a vivê. Tô sempre aprendendo. Sou quase analfabeto, mas tô sempre aprendendo
Entre os sussuros na rua e prosas na praça:
–Também nasci aqui, criei minha família toda com pedra sabão. Não sei explicá, pra mim é arte. –Não tem que explicá não, menino, não tem que pensá muito. Vô mais é na oração, vô rezando.
Antônio César (ourives) D. Aparecida (camareira) Eva (gari) Flávio (ourives) D. Geralda (gari) Janaína (cozinheira) Seu José (artesão) Lutigard (vendedor) Marcos (segurança) Maria do Carmo (cozinheira) Richard (garçom) Romanigue (zelador de igreja) D. Terezinha (gari)
Acorda e vai fazer história
Isadora Faria
Mal amanheceu e a viola do Seu Manoel
já anima a rua. O chapéu ali ao lado, esperando a generosidade da platéia. Dona Maria do Carmo não falha nunca. A música dele alegra o dia dela, as moedas dela movimentam o chapéu dele. Das crianças, ele nem espera nada. Sempre correndo, sempre perseguindo o ônibus que insiste em passar antes da hora. Ou são eles que passam sempre depois da hora? De Joaquim também não dá pra esperar nada, só uma invejinha quando as moedas caem no chapéu e não no caixa. Vender camisa de futebol já foi mais lucrativo… Na praça tem gente que fica ali só pra ouvir Seu Manoel. Esquece até de trabalhar. Esquece que a cidade não vive só de música. Nem só de história. A cidade vive disso tudo em movimento - história, música, gente.
Do cinza à purpurina Adri Riquena | Bruna Brandão | Isadora Faria | Tânia Coura
Pára tudo!
Chegou o carnaval e eu só quero saber de Ouro Preto! Tô que não me aguento, só de pensar nas baladas, nos bofes E, claro, no Toffolo, né gente! Vocês não imaginam a diva que nos recebe lá! Beyonce não dá nem pro café perto dela. Cabelo todo trabalhado no permanente E com um tom de cinza... E o Toffolo, todos os cinquenta tons de cinza, né? Sem contar o espetáculo da Gracinda na sacada! É tudo! Seus súditos embaixo gritando por ela E a deusa só mandando beijos. É um espetáculo essa diva Cozinhar? Tricotar? Que nada, ela gosta é da magia, da purpurina. Esse ano, tenho certeza que tem um bofe escândalo Me esperando no bar da Gracinda.
O trem não vem. Bruno Corrêa | Edi Góes | Luciano Almeida | Max Perdigão | Thiago Morandi
Vem? Há três horas espero o trem e ele não vem. Ele nunca falha. Não sei se perdi ou se hoje não tem. o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem Tem boi na linha? Porque o trem não vem? o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem Talvez alguém saiba me dizer. Mas não tem ninguém na rua. Nem em casa. Viajante na pousada, será que tem? Não, não tem. o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem Da pousada de outrem, só ruína tem. Das casas, só ruína também. Até São Julião perdeu a sua e foi parar num altar mais além. o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem Estrada vazia, silêncio... Mas que diabo é essa guarita?! Pode passar? É de quem? o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem E as montanhas? Elas não são mais as mesmas. Vou pelos trilhos, já que o trem não vem. o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem, o trem não vem O túnel! Uma luz! Será que o trem vem? Por Miguel Burnier Quando Burnier chegou, a ferrovia veio atrás. Primeiro o engenheiro, depois o trem. Se foi o homem, restou a linha. Restou também o nome: Miguel Burnier, distrito de Ouro Preto. Burnier, o engenheiro, não reconhece mais Burnier, o distrito.
Nem homem, nem mulher. Gente.
Arthur Medrado | Carolina França | Cid Costa Neto | Lidiane Andrade | Márcio Masselli
Das muitas formas de ser mulher,
prefiro a minha. Essa, em que a purpurina dos fios grossos de minha barba faz brilhar o vermelho encarnado da minha boca. Me encontro nos enchimentos de algodão que formatam meus seios. Gosto de me sentir gente. Gosto do que me faz ebulir, do que me incendeia a pele, dos olhos marcados, esfumaçados. Dos exageros. Dos scarpins 39 que vestem pés 42, dos vestidos rendados, dos diferentes cabelos. Gosto de ser outros Dúbios, infinitos, incomparáveis. Gosto de ser Eus.