Nº4 - 30 de Julho de 2018 - 2º Edição
GAYACHESS A Terra do Xadrez
••••••••• ARTIGOS A importância da Prática do Xadrez em Sala de Aula O Musas: atualidade, história e projeto Pensar o Xadrez Nacional O Xadrez no Divertir com o Saber Projeto Felgueiras - Xadrez
••••••••••••••••••••• NOTÍCIAS NACIONAIS Seminário FIDE Trainer 2018 em Lisboa
••••••••••••••••••••••••••• NOTÍCIAS INTERNACIONAIS Campeonato Europeu de Jovens - Roménia Torneio de Candidatos 2018
••••••••••••••••••• ARTIGOS TÉCNICOS A intuição de mão dada com a experiência - Simão Pintor As simultâneas e as suas vantagens - Fernando Alves Portugal Open 2018: análise de partidas - MI André Sousa O verdadeiro segredo de uma boa jogada no xadrez – GM Lubomir Ftacnik Táctica 2018 - António Fróis
•••••••••••••• ENTREVISTAS MI André Sousa Simão Pintor
♞
G A X
aia
♞
G A X
aia
Academia de Xadrez de Gaia Rua Diogo de Silves, 231 - 4400-268 Vila Nova de Gaia Nº de telefone: 223 747 160 - Email: geral@gaiachess.com Facebook: www.facebook.com/axgaia
Ficha Técnica Editor: Academia de Xadrez de Gaia Diretor: Direção da Escola Profissional de Gaia: Aires Lousã, José Vieira e Jorge Antão Sub-Diretor: António Fróis Redação: Ana Isabel Lopes, Bruno Figueiredo, Sónia Reis Arranjo Gráfico e Design: Ricardo Teixeira Capa: José Rocha (aluno de Design Gráfico)
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Sumário 005
016 - Torneio de Candidatos 2018
Editorial
041 - Campeonato Europeu de Jovens: Reflexões de um
017
Encarregado de Educação
Entrevistas
006
044 - O Clube Profigaia / Escola
Mensagem do Presidente da AXP
17 - MI André Sousa
007
023
007 - Semiário FIDE Trainer 2018 em
023 - A Importância da prática do
Lisboa
Xadrez em sala de aula
009 - Jogos Juvenis de Gaia 2018
028 - “Para criar uma criança é
011 - O Xadrez - Uma aposta do AE
preciso toda uma aldeia”
Felgueiras
029 - O Xadrez, um Jogo Milenar!
013 - Xadrez reunido em Gaia
032 - Coleção Xadrez Português
014 - Dia aberto na Escola
033 - O Musas, atualidade, história e
Secundária Augusto Gomes
projeto
014 - Comemoração do
035 - Pensar o Xadrez Nacional
associativismo jovem em Gaia
037 - Projeto Felgueiras Xadrez
015 - Campeonato Europeu de
040 - Campeonato Europeu de
Jovens - Roménia
Jovens: Reflexões de um treinador
Notícias 2017-2018
Profissional de Gaia
19 - Simão Pintor
035 - A promoção do Xadrez nas Escolas - Desafios 046 - Projeto Divertir com o Saber
Artigos
053
Artigos Técnicos 053 - A Intuição de mão dada com a experiência 054 - As simultâneas e as suas vantagens 055 - Portugal Open 2018 061 - A Partida da minha Vida 063 - O verdadeiro segredo de uma boa jogada no Xadrez 070 - Tática 2018
07
09
16
17
19
23
37
42
46
3
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Editorial Atualmente já se reconhece que o xadrez enriquece não só o nível cultural do indivíduo, mas também várias outras capacidades como a memória, a agilidade no pensamento, a segurança na tomada das decisões, a consciencialização da vitória e da derrota, a capacidade de concentração, entre outros domínios. Qualquer praticante de xadrez, constantemente exposto a situações em que precisa efetivamente de olhar, entender e avaliar a realidade, pode mais facilmente aprender a planear de modo adequado e equilibrado, aceitar pontos de vista diversos, discutir questões e compreender limites e valores estabelecidos e vivenciar a riqueza de experiências e de pensamentos. O Xadrez contribui indiscutivelmente para a formação integral dos indivíduos, já que desenvolve capacidades cognitivas que ajudam a
compreender os conhecimentos do mundo atual. Muitos estudos comprovam isso mesmo, revelando que as crianças e jovens que praticam xadrez melhoraram notavelmente a sua capacidade de raciocínio, o que se reflete muitas vezes num melhor rendimento escolar. No entanto, por maior que seja a boa vontade e didática aprimorada de um treinador ou de um professor, seria utópico acreditar que, em escolas onde o xadrez é visto cerca de uma ou duas vezes por semana, poderão surgir centenas de campeões e mestres. No xadrez, assim como em qualquer outro desporto, existem aqueles que o praticam profissionalmente e outros por prazer. É justamente essa realidade que muitos pais, escolas e clubes precisam de compreender. Não pressionar a criança é essencial para que ela se sinta à vontade e motivada a praticar este
desporto. Haverá sempre aqueles com maior afinidade, e outros menos interessados, mas isso não deve soar como uma sentença de sucesso ou fracasso. Muito mais do que se procurar prestígio e conquistas no competitivo mundo do xadrez, as crianças devem ser incentivados a praticar o desporto por si só, pela sua essência intelectual, porém divertida e sadia. Como nos ensina a sabedoria popular, “corpo são mente sã”. Que as nossas crianças leiam livros, joguem mais futebol e pratiquem muito xadrez... A escola, os pais e os clubes que adotarem esta ideia estarão, com certeza, acrescentando nas suas crianças um diferencial sem precedentes, exercendo amplamente o seu papel na sociedade e fazendo jus à sua função básica: formar cidadãos. Uma verdadeira demonstração de responsabilidade social!
5
Mensagem do Presidente da Associação de Xadrez do Porto
O Presidente da AXP Pedro Areal Contemplar o armário de troféus da Escola Profissional de Gaia dá uma ideia do impacto que esta equipa tem
6
tido nos mais altos escalões do xadrez em Portugal. Porém, apenas conta uma parte da história. A divulgação do xadrez no distrito, inclusivé entre as camadas mais desfavorecidas, é um papel tão ou mais importante. O lançamento de jovens jogadores no xadrez federado através da equipa irmã da Academia de Xadrez de Gaia outro também de grande relevo. Na presente época a Associação de Xadrez do Porto recebeu em numerosas ocasiões apoio logistico da Escola Profissional de Gaia, que possibilitou a realização
de estágios de jogadores e treinadores, bem como de alguns dos campeonatos distritais, e aproveito esta ocasião para o agradecer publicamente. Por fim, a organização anual de um torneio internacional, que decorre há 18 anos consecutivos, dando aos jogadores do distrito a oportunidade de defrontar jogadores do mais alto nível sem a necessidade de dispendiosas deslocações é também um contributo cujo alcance não é fácil medir. Obrigado Escola Profissional de Gaia e longa vida a estas equipas e a este torneio!
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Notícias - Época 2017-2018 Seminário FIDE Trainer 2018 em Lisboa Decorreu de 9 a 11 de Fevereiro de 2018 em Lisboa , o 1º Seminário para Treinador da FIDE organizado em Portugal . O evento foi organizado pela FPX com o apoio do Instituto de Desporto de Portugal e teve lugar no Complexo Desportivo do Casal Vistoso em Lisboa. Foi a Primeira vez que a Federação Portuguesa de Xadrez conseguiu trazer para Portugal o mais importante Curso de Xadrez do Mundo . Este seminário atribui 4 categorias de títulos: Treinador da FIDE, Instrutor da FIDE, Instrutor Nacional e Instrutor de Desenvolvimento. O Seminário teve a participação de 32 treinadores de vários distritos de Portugal, e ainda vários Grandes Mestres e Mestres Estrangeiros da Polónia e da Hungria que aproveitaram a estadia em Portugal para jogarem o Open de Portugal para fazerem
o Curso de Treinador da FIDE. Estes cursos Têm cada vez mais importância, uma vez que a FIDE exige que os Capitães de Seleções Nacionais a Olimpíadas e Campeonatos da Europa de Xadrez sejam Treinadores da FIDE, da mesma forma que os Chefes de Delegação Nacional a provas de jovens da FIDE também têm de ter este Título. A ideia é credibilizar cada vez mais esta modalidade que tem o terceiro maior número Mundial de países filiados depois do Futebol e do Atletismo. O seminário foi dado pelo Grande Mestre e Treinador Senior da FIDE Thomas Luther, assistido por mim. O seminário foi extraordinariamente interessante: teve a duração de 15 horas e foi distribuído material muito completo das diversas áreas relacionadas com o treino : Fatores Físicos e Psicológicos e
NOTÍCIAS - ÉPOCA 2017-2018
Práticas Nutricionais dos Grande Mestres Hoje em dia já está interiorizado que para se ter rendimento desportivo muito elevado em Xadrez, como em qualquer outra modalidade desportiva, um treinador tem de ser bastante completo na sua abordagem. Para se estar bem e render bem na hora da competição, é preciso ter um descanso e uma alimentação adequadas. No primeiro dia foram discutidos os fatores físicos e psicológicos de um jogador de xadrez, bem como as questões nutricionais e foi dada imensa relevância à necessidade imperiosa da hidratação durante a competição como fator essencial para uma boa atividade cerebral. Foram dados alguns exemplos práticas menos de grandes jogadores nesta matéria e as consequências que esses erros na condução destes aspetos da
7
gestão desportiva tiveram numa dada prova.
Diferenças entre rapazes e raparigas No segundo dia foram estudadas as diferenças entre rapazes e raparigas e como um treinador deve procurar motivações para eles e também para elas aparecerem mais na competição, e depois continuarem na modalidade tendo existido uma reflexão sobre as razões do número de raparigas a jogar competição ser muito inferior ao dos rapazes, e quais as formas de combater e diminuir essa diferença. Os grandes mestres polacos salientaram que essa diferença de quantidade de jogadores para jogadoras existe em quase todos os países.
Autoconhecimento e construção de um repertório de Aberturas Foi focado a importância de um jogador de ir conhecendo a si próprio com o avançar da carreira, como pode e deve um treinador ajudar o seu aluno a melhorar esse conhecimento, e como esse conhecimento vai ajudar a formar o repertório de
8
aberturas desse jogador na sua carreira presente e futura. Tudo passa evidentemente por uma análise profunda das nossas partidas e dos nossos erros.
Literatura de Xadrez - Erros Comuns dos Treinadores O curso abordou a importância de uma literatura de xadrez de qualidade para trabalhar todos as matérias do treino, bem como os exemplos de “ Erros comuns de Treinadores“! Foi salientada a necessidade de trabalhar os Grande Jogadores de Todas as épocas e os porquês da importância desse conhecimento profundo do passado para uma boa atuação no presente e no futuro de qualquer jogador.
A Intuição em Xadrez Jogador do Século XXI Um Ser Intuitivo - Como podem ajudar os Computadores Outra questão essencial é a noção de que um Grande Mestre humano tem uma qualidade essencial que é a “ intuição humana “ que os computadores nunca terão . Os computadores podem ajudar na recolha rápida de informação, mas um jogador tem obrigatoriamente de rever
NOTÍCIAS - ÉPOCA 2017-2018
as sugestões das máquinas para não cair na tentação que elas continuam a ter de dar demasiada relevância à questão da vantagem material numa dada posição, tendo muita dificuldade em abordar os fatores subjetivos como a compensação dinâmica pelo material. O seminário pretendeu deixar material e lançar questões sobre as mais variadas matérias de devem fazer parte do trabalho de um Treinador Profissional para ajudar um aluno a chegar ao mais alto rendimento desportivo . Parabéns à Federação Portuguesa de Xadrez e que venha o Próximo ! Por António Fróis
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Jogos Juvenis de Gaia 2018
Os Jogos Juvenis de Gaia fazem parte do projeto de promoção e desenvolvimento desportivo do concelho de Vila Nova de Gaia e são da competência e responsabilidade da Câmara Municipal de Gaia e das Juntas de Freguesia/União das Freguesias, que promovem a sua realização. A 34ª edição dos Jogos Juvenis de Gaia decorreu na sua fase de freguesia de janeiro a abril de 2018 e a fase concelhia nos meses de maio e junho. Os atletas, todos não federados, puderam competir em onze modalidades: Desporto Adaptado, Andebol, Atletismo, Badminton, Basquetebol, Futebol, Ginástica, Natação, Ténis de Mesa, Voleibol e Xadrez. Na modalidade de xadrez fizeramse representar 14 freguesias de Vila Nova de Gaia num total de 108 atletas dos escalões Sub-10 e Sub-12.
As jornadas de xadrez decorreram no Pavilhão Municipal Nélson Cardoso (Pedras), nos dias 12 de Maio, 26 de Maio e 2 de Junho, tendo ocorrido a cerimónia de entrega de prémios no dia 9 de Junho no Pavilhão Municipal da Lavandeira. As classificações na modalidade de xadrez foram as seguintes:
Vendedor Individual NOME
FREGUESIA
CLASSIFICAÇÃO
TOMÁS MONTEIRO OLIVEIRA
CANIDELO
CAMPEÃO ABSOLUTO
Classificação Individual - Escalão Sub-10 NOME
FREGUESIA
CLASSIFICAÇÃO
TOMÁS MONTEIRO OLIVEIRA
CANIDELO
1º LUGAR ESCALÃO SUB-10
JOÃO SIMÕES
MAFAMUDE E VILAR DO PARAÍSO
2º LUGAR ESCALÃO SUB-10
FRANCISCA COSTA
PEDROSO E SEIXEZELO
3º LUGAR ESCALÃO SUB-10
NOTÍCIAS - ÉPOCA 2017-2018
9
Classificação Individual - Escalão Sub-12 NOME
FREGUESIA
CLASSIFICAÇÃO
JOÃO ANTÃO
MAFAMUDE E VILAR DO PARAÍSO
1º LUGAR ESCALÃO SUB-12
JORGE PIMENTEL
PEDROSO E SEIXEZELO
2º LUGAR ESCALÃO SUB-12
CÉSAR TAVARES
MAFAMUDE E VILAR DO PARAÍSO
3º LUGAR ESCALÃO SUB-12
Classificação Colectiva Class.
10
Freguesia/ União de Freguesias
Pontuação
1º
MAFAMUDE E VILAR PARAÍSO
52
2º
PEDROSO E SEIXEZELO
48
3º
CANIDELO
4º
OLIVEIRA DO DOURO
43
5º
S. FÉLIX DA MARINHA
39.5
6º
SANTA MARINHA E AFURADA
38.5
7º
SANDIM_OLIVAL_LEVER_CRESTUMA
35.5
8º
CANELAS
33.5
9º
SERZEDO E PEROSINHO
31.5
10º
ARCOZELO
17.5
11º
GULPILHARES E VALADARES
12º
VILAR DE ANDORINHO
14.5
13º
AVINTES
9.5
14º
GRIJÓ E SERMONDE
45.5
17
7
NOTÍCIAS - ÉPOCA 2017-2018
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
A par da competição, têm-se realizado diversas atividades paralelas como debates e workshops creditados, abertos a toda a comunidade: Debates: O poder da liderança nas equipas desportivas”, moderado pelo apresentador Jorge Gabriel (RTP1) e com os convidados – Jorge Braz (Seleccionador Nacional A de Futsal), Nelson Ribeiro (Seleccionador Nacional de
Golfe), Hugo Silva (Seleccionador Nacional A de Voleibol), Pedro Teques (Psicólogo do Desporto) e Domingos Paciência (Treinador e Ex-jogador internacional)“Nos Bastidores do Rendimento Desportivo: o Treino (In) Visível” (a realizar em data a definir) Workshops: “Voleibol - Treino do Bloco: da formação ao alto rendimento”, com o formador Hugo Silva (Seleccionador Nacional de
Voleibol) “Futebol de Formação – A Importância da simplicidade no processo do treino de jovens atletas”, com o formador Sérgio Ribeiro (Assoc. Futebol do Porto) “Adaptação ao meio aquático em bebés”, com o formador António Sampaio (IPMAIA) Por Sónia Reis
O Xadrez – Uma aposta do AE Felgueiras
O Agrupamento de Escolas de Felgueiras tem em curso, desde o início do presente ano letivo de 2017/2018, o fomento da prática do Xadrez junto dos seus alunos, da sua comunidade docente e de toda a comunidade educativa em geral, por reconhecê-lo como uma estratégia promotora da melhoria dos resultados escolares e do sucesso escolar dos alunos, além de contribuir para o desenvolvimento de uma melhor cidadania por parte dos seus praticantes. Esta opção estratégica encontrase em linha com a Declaração 50/2011, na qual o Parlamento Europeu recomenda a inclusão
do Xadrez no sistema educativo dos seus estados-membros, por aquela modalidade ter sido considerada essencial no desenvolvimento de jovens e crianças, já que “... o Xadrez estimula o desenvolvimento de todas as capacidades individuais essenciais para a formação do jovem como a atenção, a memória, a criatividade, o autocontrolo e a autoestima”. Correspondendo a essa declaração do Parlamento Europeu, o Xadrez foi já implementado em inúmeros países, como por exemplo na vizinha Espanha, onde o Congresso dos Deputados aprovou, em NOTÍCIAS - ÉPOCA 2017-2018
2015, uma recomendação para a sua introdução nas escolas públicas, e são várias as regiões autonómicas onde o Xadrez tem uma grande implantação nas escolas. A título de exemplo, só na região autonómica de Aragão existiam, em 2015, mais de 140 escolas e colégios onde a prática xadrezística era fomentada. Integrando-se no Projeto “Felgueiras+Xadrez”, um projeto de promoção do Xadrez promovido pelo Município de Felgueiras, e maximizando as sinergias a ele associadas, o Agrupamento de Escolas de Felgueiras assumiu o Xadrez como uma das suas linhas de atuação estratégica no âmbito do seu plano de melhoria, visando proporcionar aos seus alunos, um cada vez maior e diversificado conjunto de estratégias propiciadoras de um maior sucesso escolar. Desta forma, ao nível do 1.º ciclo do ensino básico, o Xadrez surge como uma das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) oferecida aos alunos de cada uma das 28 turmas das Escolas Básicas ou Centros Escolares. Através desta AEC, mais de meio milhar de alunos têm a possibilidade de desenvolver as 11
suas competências xadrezísticas, e de beneficiarem das mais-valias do Xadrez no contexto educativo. No final do 1.º período foi dinamizado, em cada turma, um Torneio de Natal, numa primeira experiência de aproximação à prática competitiva, de forma a estimular a continuação da aprendizagem e a preparação de um torneio de final de ano. Quanto aos restantes níveis de ensino, no presente ano letivo há uma clara aposta na divulgação, fomento e consolidação da prática xadrezística junto dos alunos do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário. Com esse intuito foram criados dois clubes de Xadrez (um na Escola Básica e Secundária de Felgueiras, Pombeiro de Ribavizela e outro na Escola Básica de Lagares, Felgueiras), permitindo aos alunos aprenderem, de uma forma gradual e sustentada, os princípios basilares desta arte e serem eles mesmos polos disseminadores do interesse e prática do Xadrez. De forma a assegurar um enquadramento competitivo, foram criados dois gruposequipa de Xadrez, no âmbito do Desporto Escolar, possibilitando, assim, aos alunos do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário integrarem o quadro competitivo da Coordenação Local do Desporto Escolar (CLDE) do Tâmega. Ainda no âmbito do Desporto Escolar, em colaboração e 12
coordenação com a CLDE Tâmega, o nosso Agrupamento chamou a si a responsabilidade de assegurar a realização dos encontros da fase local, pretendendo, também, com este acolhimento do quadro competitivo, aumentar o interesse pelo Xadrez junto da comunidade educativa, atraindo cada vez mais alunos, pais e encarregados de educação e familiares para a prática desta modalidade. Ao assumir a aposta no Xadrez, por parte do Agrupamento, (como estratégia pedagógica e como modalidade desportiva), foi delineado um plano de implementação com diferentes horizontes (a curto, a médio e longo prazo) proporcionando aos jovens (e a todos os demais interessados) uma progressiva integração na prática competitiva desta modalidade desportiva. As primeiras ações desse plano foram a criação de dois grupos-equipas e o assumir da organização do quadro competitivo da fase local do Desporto Escolar. A criação do Clube de Xadrez do Agrupamento de Escolas de Felgueiras – “Torres de Pombeiro”, procedendo-se à sua filiação junto da FPX, foi o passo seguinte, permitindo, assim, num futuro próximo, a participação em eventos competitivos de cariz oficial, integrados no calendário competitivo da Associação de Xadrez do Porto e da Federação NOTÍCIAS - ÉPOCA 2017-2018
Portuguesa de Xadrez. Como facilmente se compreenderá, a eficácia de uma estratégia depende muito da aceitação, envolvimento e comprometimento de todos com os objetivos e propósitos a ela inerentes. Ao apresentar esta estratégia aos docentes foi possível identificar, por um lado, um reconhecimento imediato das suas mais-valias para os alunos, mas, por outro, o reconhecimento por parte dos docentes da necessidade de formação específica na área do Xadrez, de forma a ser possível a sua transposição e integração nos contextos de aprendizagem. Com o intuito de responder aos receios manifestados pelos docentes, o Agrupamento de Escolas de Felgueiras, em coordenação com o Centro de Formação de Associação de Escolas Sousa Nascente, acolherá, ainda no decurso do 2.º período do presente ano letivo, um curso de formação, com a duração de 25 horas, subordinado ao tema “O Xadrez como Atividade Pedagógica Potenciadora do Rendimento Escolar”. Assumidamente numa aposta do presente e de futuro, o Agrupamento de Escolas de Felgueiras continuará a assumirse como um polo dinamizador da prática do Xadrez no contexto do concelho de Felgueiras e das Terras do Vale do Sousa.
António José Bragança Diretor do Agrupamento de Escolas de Felgueiras
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Xadrez Reunido em Gaia Reuniram-se no fim-de-semana de 20 e 21 de Janeiro na Escola Profissional de Gaia e cidade de Gaia um total de cerca de 600 jogadores de xadrez, que participaram em diversas provas, entre escolares e federadas. Reconhecendo a importância educativa que o xadrez tem para a formação integral dos seus alunos, a Escola Profissional de Gaia e o seu clube federado de xadrez, Academia de Xadrez de Gaia, têm nos últimos dezasseis anos elevado a cidade de Vila Nova de Gaia ao palco dos mais importantes acontecimentos xadrezísticos que se realizam no país. O que aconteceu nesse fim de semana foi mais um exemplo disso. Desta feita, reuniram-se no dia 20 de manhã nas instalações dessa escola, sede da Academia de Xadrez, 211 crianças e jovens de todo o distrito do Porto, que disputaram o primeiro encontro do Quadro Competitivo Local de Xadrez do Desporto Escolar, da DGEstE Porto. Ao mesmo tempo e prolongando-se por todo o dia eram ministradas aulas de xadrez nos empreendimentos sociais da GaiaUrb, EM às crianças aí residentes (prática contínua durante todos os fins-de-semana
do calendário escolar). Nestes empreendimentos sociais, os monitores da Academia de Xadrez de Gaia ensinam, todas as semanas, 216 crianças. No dia 21, durante todo o dia, participaram no Campeonato Distrital de Semi-rápidas da Associação de Xadrez do Porto 92 jogadores federados provenientes de 23 equipas, concentrados mais uma vez em Vila Nova de Gaia, na Escola Profissional. Desde o ano 2000 que existe em Vila Nova de Gaia uma intensa atividade no âmbito do desporto, arte e ciência que é a modalidade de Xadrez. Nessa viragem de milénio, realizava-se na Escola
Profissional de Gaia (EPG) o I Profigaia Open de Xadrez, que, pelo êxito alcançado, lançava a motivação para criar um clube federado com amplas vertentes, que permitissem, ao mesmo tempo, apostar na competição, organizar eventos e desenvolver a formação entre os mais novos. É esse o impulso que leva, em 2001, à criação de dois clubes de xadrez na Escola Profissional de Gaia, o Profigaia Chess Club, inicialmente circunscrito à EPG, e a Academia de Xadrez de Gaia, com uma envolvência que se estende ao âmbito nacional da sua atuação. A atividade de xadrez na Escola Profissional de Gaia é aberta a toda a comunidade, sendo que este estabelecimento de ensino abre semanalmente suas portas a todos os interessados em aprender de forma gratuita a jogar xadrez. Os horários de que o público dispõe são sextas-feiras depois das 18h00 e sábados de manhã a partir das 10H00. Por: Ana Isabel Lopes
NOTÍCIAS - ÉPOCA 2017-2018
13
Dia aberto na Escola Secundária Augusto Gomes No âmbito do Dia Aberto na ESAG, o professor responsável pelo xadrez - desporto escolar dinamizou torneios de xadrez na sala P 29 durante a parte da manhã. Em 6 tabuleiros de mesa mais um de chão participaram mais de 100 alunos. Ao fim da manhã o professor Jorge Coelho agraciou-nos com a sua presença e disputando simultaneamente 6 partidas contra outros tantos alunos. O resultado dessas partidas fica na memória dos presentes. Dado o sucesso da iniciativa ela repetir-se-á no próximo ano! Até lá... bons xeques! Por Manuel Sousa
Comemoração do Associativismo Jovem em Gaia No dia 28 de abril de 2018, no jardim do Morro em Vila Nova de Gaia, decorreu uma comemoração alusiva ao Dia do Associativismo Jovem, que promoveu a sensibilização dos jovens de Gaia para o associativismo juvenil. Esta comemoração foi uma iniciativa da FNAJ – Federação Nacional das Associações Juvenis e da Câmara Municipal de Gaia. Esta sensibilização pretendia que os jovens tomassem consciência da importância do seu envolvimento e participação nas suas comunidades, no que diz respeito às atividades que vão sendo desenvolvidas por associações locais. O trabalho voluntário que é foto: cmgaia.pt
14
NOTÍCIAS - ÉPOCA 2017-2018
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
desenvolvido pelo movimento associativo jovem é um fator de desenvolvimento crucial, não só a nível individual, mas também ao nível do impulso que dá ao progresso social do país. Este evento também ambicionava dotar os jovens de capacidades de afirmação e tomada de decisões que dessem voz ao associativismo jovem, fomentando o seu empreendedorismo e criatividade. Foram dinamizadas diversas actividades como: animações várias, painéis, vídeos pedagógicos e jogos. O xadrez esteve presente como uma dessas atividades, através
foto: cmgaia.pt
de Bruno Figueiredo e Rúben Marriós, em representação da Academia de Xadrez de Gaia, do Colégio de Gaia e da Escola
Profissional de Gaia. Por Bruno Figueiredo
Campeonato Europeu de Jovens Roménia Participação do Daniel Silva no Campeonato Europeu de Jovens de Xadrez
Setembro 2017, na Mamaia, Roménia. O Campeonato Europeu de Jovens de Xadrez decorreu na Mamaia, Roménia entre os dias 5 e 14 de Setembro 2017.
Foram disputadas nove jornadas nas 12 categorias (Sub-08, Sub-10, Sub-12, Sub-14, Sub-16 e Sub-18 absolutos e femininos). O atleta Daniel Frederico Vasconcelos Silva da Academia de Xadrez de Gaia representou o escalão de sub-10 absoluto. Neste escalão participaram 143 atletas de diversas nacionalidades, sendo o Daniel nº 75, no ranking inicial. Realizou 4,5 em 9 pontos possíveis, sendo a sua classificação final a nº 74. Tendo em conta que foi o seu primeiro Europeu e o primeiro ano no escalão sub-10, teve uma classificação final muito positiva. Os resultados podem ser verificados no seguinte link: http:// chess-results.com/tnr296073.
pelos seus clubes e federação. Este jovem talento nacional, como outros, representa a nossa esperança, não apenas na conquista de mais feitos desportivos para Portugal, mas enquanto embaixador da divulgação da modalidade. Por Marisa Silva
Estes atletas são o futuro da modalidade e demonstram o enorme mérito do trabalho realizado pelas suas famílias, NOTÍCIAS - ÉPOCA 2017-2018
15
Torneio de Candidatos 2018 Fabiano Caruana será, em novembro próximo, o novo candidato ao título mundial de xadrez, num encontro que se antecipa de grande intensidade entre o norte-americano e o atual Campeão Mundial de Xadrez , o norueguês Magnus Carlsen, depois de vencer categoricamente o torneio de candidatos , que decorreu em Berlim.
com uma enorme confiança em si próprio. Caruana foi um grande Campeão na forma como ganhou este torneio de Candidatos.
GM Fabio Caruana; businessinsider.com
GM Sergey Karjakin - GM Fabio Caruana no Torneio de Candidatos 2018; novamakedonija.com. mk
As duas vitórias com que finalizou a prova são uma demonstração de uma enorme resiliência de Caruana, pois recuperar psicologicamente da enorme desilusão provocada pela derrota na 12.ª ronda, sofrida perante o russo Sergei Karjakin, e pela perda da liderança, surgindo de novo ao seu mais alto nível para disputar as duas partidas finais, só está ao alcance de alguém
Talvez esperando a quebra de Caruana, Karjakin, na penúltima jornada, empatou rapidamente com outro norte-americano, Wesley So, mas a aposta não lhe correu bem, pois Caruana impôsse ao arménio Levon Aronian e voltou a isolar-se no comando. E, para piorar as coisas para o russo, também Mamediarov venceu e voltou a alimentar esperanças de alcançar o primeiro posto. Na derradeira ronda poder-seia esperar um jogo de equipa dos russos, pois quer Grischuk quer Kramnik, jogando ambos de brancas, podiam dar uma ajuda a Karjakin se derrotassem, respectivamente, Caruana e Mamediarov, enquanto Karjakin
tinha pela frente o chinês Ding Liren. Mas Karjakin nunca esteve perto da vitória e, pelo contrário, seria o norte-americano a aproveitar os esforços de Grischuk para criar desequilíbrios e cimentar a sua liderança com novo triunfo. Para os Estados Unidos é o primeiro americano que aparece a lutar pelo Título Mundial, 43 anos depois, na luta direta pelo trono da modalidade, desde que Bobby Fisher, em 1975, se recusou a defender o título perante
GM Fabio Caruana; vitomarcantonioforum.com
Anatoly Karpov. 1º Caruana (EUA): 9 pontos 2.º Karjakin (Rus) e Mamediarov (Aze): 8 4.º Liren (Chi): 7,5 5.º Kramnik (Rus) e Grischuk (Rus): 6,5 7.º So (EUA): 6 8.º Aronian (Arm): 4,5
2018 FIDE World Chess Championship Match, Londres; Foto: https://fide_world_chess.ontouraccess.com/ 16
Por António Fróis
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Entrevistas MI André Sousa, “Gosto de Xadrez como um todo” António Fróis esteve à conversa com duas jovens promessas do xadrez nacional: André Sousa e Simão Pintor e deixou-nos aqui os seus testemunhos. André Sousa é o Campeão Nacional Absoluto 2017 e no mesmo ano chegou a Mestre Internacional.
André após a atribuição do tituto de Campeão Nacional individual absoluto em 2017, fonte da foto FPX
- Campeão Nacional Absoluto de 2017 - Título de Mestre Internacional obtido em 2017 - Representante da Seleccção Nacional em Baku 2016 Como Começaste a jogar Xadrez? O meu pai ensinou inicialmente ao meu irmão e minha irmã. A minha irmã rapidamente perdeu o interesse, mas o meu irmão queria alguém para jogar e então ensinou-me a mim. Tinha cerca de 4 anos. Conta-nos as fases onde consideras que existiram evoluções significativas . Quais foram as pessoas que mais importância tiveram no tua evolução até aos dias de hoje?
Penso que até agora o meu percurso foi caracterizado por subidas e períodos de estabilização, assim como alguns períodos de “ turbulências” (muito ajudados pelo aparecimento do K40). Penso que as principais subidas que tive, foram no fechado de Budapeste que subi de cerca de 2030 para 2150, e há dois anos num fechado em Espanha onde subi dos 2250 para os 2400. Neste momento penso encontrar-me num desses períodos de “ consolidação”. Apesar de manter praticamente o mesmo elo há dois anos, penso estar a jogar muito consideravelmente melhor do que quando cheguei aos 2400 pontos de rating. Quanto às pessoas de importância na minha evolução, ENTREVISTAS
há que obviamente começar pela minha família que é a base de tudo. Apesar de todos terem sido incansáveis a acompanharme e a apoiar-me até agora, o meu pai é o principal apoio. A nível mais “xadrezístico” posso referir o meu primeiro treinador, António Silva, que me ajudou muito a perceber um pouco mais o que era o xadrez. Depois claro, o Jorge Ferreira, com quem trabalhei durante dois anos e que me permitiu chegar a este nível, e agora o Lubomir Ftacnik, para conquistas futuras. O que mais te atrai no xadrez? Não sei muito bem o que responder a esta pergunta. Eu gosto do xadrez como um todo, mas penso que me fascina a coordenação das 17
peças e alguma “simplicidade complicada” com que os melhores jogadores jogam. Tens algum jogador referência? Gosto bastante dos jogos do Richard Rapport, e também do Levon Aronian.
A partida da vitoria - camp nac ind absoluto 2 , fonte da foto FPX
Como estudas xadrez? Pode ser a ver vídeos sobre os diversos assuntos, ou simplesmente na database a ver o que os melhores jogam e os diferentes resultados. Também analiso as minhas partidas, é bastante importante fazê-lo. Praticas desporto Físico? Raramente. O que fazes nos teus tempos livres? Jogo xadrez, computador, e estudo algumas coisas mais relacionadas com a minha área como arduino. Quando tenho um livro, leio, apesar de normalmente o acabar muito rápido.
Actualmente trabalhas com o Grande Mestre Lubomir Ftacnik. Em que consiste esse trabalho ? Principalmente analisar partidas, e discutir alguns pontos mais fracos das minhas. Quais os resultados que fizeste até hoje que mais prazer te deram ( vitórias em prova ou vitórias contra jogadores que consideras importantes , etc )? Recentemente empatei com o GM Samuel Sevian, da minha idade, mas muito mais cotado, que obviamente me deu muito prazer. Também o empate com o GM Kovalev agora com 2650, foi um resultado muito importante para mim, e de certa forma regojizo me a ver como ele está a evoluir ( na altura tinha 2598). Quanto a nível de torneios, a vitória do campeonato Nacional e também do Torneio de Mestres foram resultados que me trouxeram bastante alegria. Até onde achas que podes ir nesta modalidade? Penso que se tudo corresse bem, eu poderia chegar aos 2550. É difícil mas penso que poderia alcançá-lo. Que conselhos darias a um jovem que queira ir longe no xadrez? Diria-lhe para analisar as suas partidas, e para não se preocupar demasiado com decorar lances ou grandes linhas teóricas, mas
antes com a compreensão do meio jogo. Além disso, não ligar ao elo. Penso que hoje em dia as pessoas dão demasiada atenção aos pontos. Por fim, aceitar sempre bem uma derrota!
André Sousa no pódio Profigaia Open 2014
Como vês os jogadores de elite atuais? A que distância te sentes deles? Penso que com a tecnologia de hoje em dia o jogo dos jogadores de elite é um pouco memorização. Claro que têm uma capacidade de compreensão do jogo muitíssimo superior dos restantes jogadores, mas acho que para torneios fechados em que sabem o adversário com meses de antedecência, o jogo é quase relembrar a preparação antes que o relógio acabe. No entanto, tenho plena noção que se de alguma forma eles não vissem xadrez novo por uns dois anos e depois fossem jogar comigo, ganhavam-me na mesma.
Como vês o teu futuro dentro e fora do xadrez? Penso que o meu futuro será assegurado, já que a minha área tem muita empregabilidade. No xadrez espero continuar como tenho feito até agora com os torneios e a evolução se possível. Porque vieste para a Academia de Xadrez de Gaia? Principalmente devido ao apoio que a Academia me dá para ter as aulas com o meu atual treinador. André Sousa no Open de Portugal 2018 - fonte da foto FPX 18
ENTREVISTAS
Por António Fróis
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Simão Pintor, “as apostas na formação e na divulgação têm de continuar” Simão é um rosto bem conhecido entre os praticante de xadrez, pois acompanha a modalidade desde tenra idade. Neste interessante depoimento, além de nos falar sobre o seu percurso, apresenta-nos a sua perspetiva sobre o futuro do xadrez em Portugal.
Simão Pintor no Profigaia Open 2016
Há quantos anos jogas xadrez ? Conta-nos um pouco da tua história xadrezística e os momentos mais marcantes da mesma . Jogo xadrez desde os meus 7 anos de idade. Comecei por aprender com o meu pai, e de seguida comecei a ter aulas n’os Gambozinos, onde já frequentava várias outras atividades culturais (música, guitarra, etc.). O facto de a minha irmã também já disputar, a essa data, várias provas, também me ajudou a dar os meus primeiros passos na modalidade. Passei muitos e bons anos naquela casa, que teve uma importância fulcral na minha formação enquanto xadrezista mas, sobretudo, enquanto pessoa e desportista. A nível de competição, talvez o momento mais marcante terá sido o 2º lugar no nacional de jovens sub-14, em Ofir, em que pude disputar o
match com o MI Ruben Pereira e o Miguel Silva. Posteriormente, em 2005, e numa altura em que procurava jogar provas mais regularmente e num contexto de maior competição, optei para ir para o GD Dias Ferreira, a convite do Sr. Vitorino, a quem devo agradecer por ter apostado muito em mim e nos jovens da minha geração em geral (muitas noites mal dormidas para nos ir levar e buscar a torneios, seguramente!). Seguiu-se uma altura em que passei por uma fase de menor interesse na modalidade, por vários motivos (um dos quais o ingresso no ensino superior), tendo estado praticamente 2 anos sem jogar. O meu regresso deu-se no Profigaia Open, pois claro, de 2012, e devo-o sobretudo a duas pessoas que nunca desistiram de me ir puxando para a modalide – ao Sr. Vitorino, que não se deixava ficar com os meus constantes ENTREVISTAS
“não”, semana após semana, para ir jogar distritais de rápidas, semi-rápidas, ou jogos para a Taça AXP; e o Zé Margarido, que nos nossos encontros semanais, quando eu queria jogar sempre mais uma partida de matrecos, puxava-me sempre para ir jogar rápidas, e nunca deixou o bichinho do xadrez desvanecerse em mim por completo. No Profigaia Open de 2012, que mencionei acima, deu-se o clique que faltava para o meu regresso: disputei uma partida verdadeiramente imprópria para cardíacos contra o agora MF Luís Silva, que fez despertar em mim novamente as emoções, a paixão, o amor pela modalidade. Não foi um jogo muito bem jogado da minha parte, digase, mas foi um jogo cheio de reviravoltas e nuances táticas, sendo que tive a vitória na mão e acabei por perder fruto do mérito da resistência do Luís – mas 19
foi uma partida que despertou o xadrez em mim novamente. Lembro-me que na altura passei a madrugada a analisar a partida, reinstalei o Chessbase no computador e tudo o resto seguiu-se em cadeia. Recuperado esse gosto, naturalmente que comecei a jogar com muita regularidade, e proporcionou-se uma mudança para um clube recém-fundado, o GX 113. Por todos os motivos e mais alguns, senti que foi o lugar certo para mim naquela altura (corria o ano de 2013). O meu gosto estendeu-se para lá da competição e quis passar para a parte diretiva e organizativa, e encontrei um grupo de pessoas fantásticas com quem tive a oportunidade de, durante 4 anos, atingir coisas impensáveis (subir o clube da 3ª divisão nacional à 1ª divisão, e disputá-la – algo que é um grande objetivo, para mim, repetir com o Profigaia!), ou o 3º lugar no Campeonato Nacional de Semi-Rápidas. Mas, muito para além disso, conseguimos transformar um clube formado inicialmente por 6 pessoas em mais de 20, em formação em jovens, em sinergias com as cidades de S. Mamede de Infesta e Senhora da Hora, num torneio internacional de Semi-Rápidas que, apesar de jovem, marca já o panorama anual nacional do circuito… memórias fantásticas! E por fim, the last but not the least, a chegada a este grande clube chamado Profigaia.
2º lugar no Distrital por Equipas em Semi-Rápidas 2018
Porque vieste para a Profigaia? No fundo, acho que tudo na vida tem um ciclo, e quando 20
eu me juntei ao GX 113, estava numa altura da minha vida em que tinha tempo e energia de sobra para me dedicar muito à modalidade, não só como jogador mas sobretudo como dirigente e organizador. Estava motivadíssimo para isso, e foi uma experiência fantástica. Mas passados todos estes anos e com a entrada no mundo do trabalho, o tempo e a energia para a parte organizativa foi ficando para trás. Então, surgiu a possibilidade de mudar, e tinha que ser para um clube em que gostasse das pessoas, do ambiente e do projeto. Gaia é a capital do xadrez nacional há muitos e muitos anos e é um orgulho para mim poder fazer parte desse projeto. E sobretudo, um clube é feito pelas pessoas. E o balanço destes últimos meses não poderia ser melhor. Organizámos convívios, torneios de rápidas, mobilizamonos e motivamo-nos muito uns aos outros. E, para além de tudo isto, tenho um desejo muito grande de ajudar o Profigaia a alcançar o lugar que merece na 1ª Divisão Nacional.
Simão na entrega de prémios do Profigaia Open 2017
Jogaste na Geração do Mestre Internacional Ruben Pereira . Consegues comparar evoluções na vossa vida e no vosso xadrez. Sim, tive o prazer de crescer a jogar na mesma geração do MI Ruben Pereira. Desde novo que se destacou e se mostrava claramente superior a todos os demais da mesma idade. Não consigo estabelecer grandes comparações, não só porque a diferença de nível é muito grande, mas também pelo facto ENTREVISTAS
de o Ruben não estar muito ativo no panorama atual do xadrez, o que é pena. Sei que a partir do nível que atingiu é muito difícil ir mais além em Portugal, sobretudo quando queremos e/ou temos de seguir outra via profissional, mas é um jogador dos melhores do país, pelo que temos muito a ganhar com a presença regular dele nos tabuleiros.
Torneio de Famalicão 2016
Trabalhaste com o Mestre Rui Almeida . Que influência teve na tua evolução? Tiveste outros professores? Comecei por ter aulas n’os Gambozinos com o Rui Pereira, que foi uma pessoa absolutamente preponderante para a minha educação, xadrezística, mas também pessoal. Não me marcou por aquilo que me ensinou de xadrez propriamente dito, mas sim pela forma como em ensinou a estar no desporto. Não comemorar as vitórias de forma efusiva à frente dos adversários, não fazer grandes dramas na sala de jogo perante uma derrota, por muito difícil de digerir que seja, arrumar sempre as peças e mostrar-me disponível para analisar, independentemente do resultado. Costumávamos dizer que pela cara de um Gambozino, após um jogo, nunca conseguíamos saber o resultado. E isso era sinal de respeito. Pelo nosso adversário, e por nós mesmos também. Gosto
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
muito de ter levado isso comigo para a vida. Seguiu-se o Mestre Rui Almeida, para quem todas as palavras são escassas. Foi fundamental na minha evolução – dentro do possível para a rebeldia da minha idade na altura – e eu sabia muitas vezes por um olhar dele que me estava a chamar a atenção mesmo sem precisar de o fazer. Grande parte do percurso que tive enquanto jovem xadrezista, devo a ele. Por fim, no meu regresso ao xadrez, houve uma pessoa que teve um impacto incrível na minha evolução, e que me fez subir mais de 300 pontos de ELO (18002100), que foi o MI Jorge Ferreira. É incrível não só a o xadrez que respira, mas a capacidade que teve de pegar no meu xadrez enferrujado, cheio de maus vícios e por vezes, barreteiro, conseguir fazer um “reset”, redefinir padrões e transformálo em algo minimamente digno. É verdade que, quando regressei, encarei o xadrez com outra maturidade, com outra mentalidade e disponibilidade, e isso é fundamental também, mas o mérito do Jorge no meu trajeto dos últimos anos é inquestionável.
livre, vejo alguns DVDs temáticos. Os convívios de equipa são fundamentais e é das formas que mais gosto de estudar xadrez, e claro, sempre que se proporciona também o faço com a Mariana, sobretudo quando estamos em torneios analisamos sempre as partidas um do outro e aconselhamo-nos mutuamente sobre o que jogar e a forma de abordar as nossas partidas.
Fase Final da 3a Divisão em 2014
O que achas dos melhores do Mundo? Acompanhas os seus jogos? Não acompanho tanto quanto poderia, e deveria. Atenção, não estou a dizer que não é importante, porque sei que é. Mas como tenho uma pequena porção do meu tempo para dedicar ao xadrez, confesso que dentro dessa porção há muitas coisas que me dão mais gozo fazer do que ver os jogos de topo.
Atualmente estudas Xadrez? Como, sozinho ou com alguém? Pontualmente. Não tanto quanto em anos anteriores, muito fruto do escasso tempo disponível. Analiso sempre as minhas partidas, tento prepará-las sempre que possível, faço bastantes exercícios táticos, e jogo algumas rápidas na internet. Aqui ou ali, quando consigo encaixar algum tempo
Simão Pintor no Open de Portugal 2018, foto FPX
Que ambições tens para o teu xadrez de competição? Gostaria de atingir, pelo menos, o nível de MN (2200), mas sei que para tal terei que, a dada altura, me dedicar bastante, de forma a evoluir o meu nível para alguns patamares acima. Jogar a 1ª Divisão pelo Profigaia, conforme já referi, e juntar o título distrital do Porto de rápidas e de semirápidas ao já alcançado em lentas. Adorava também poder um dia disputar uma fase final de um Nacional Absoluto, embora reconheça que é bastante difícil de alcançar tal feito.
ENTREVISTAS
Talvez porque acho que para ver por ver, vai ser tempo perdido e não vou ganhar nada com isso. Vale a pena ver se for para fazê-lo com tempo e analisar, de preferência partidas comentadas por alguém de nível intermédio (GM/IM, etc) que consiga explicar a um jogador de nível médio-baixo como eu nuances só ao alcance dos jogadores de topo. Muitas das vezes sinto que há gente que passa pelos jogos de topo e vê-os a todos, mas acaba por não colher ou reter nada. Por isso na minha ótica só vale a pena ver, se for de forma orientada. Caso contrário é perda de tempo, mais vale estudar um bom final, fazer exercícios táticos, posicionais, etc… Vês-te a fazer outras atividades na modalidade para além do Jogo? Sim, tive a felicidade de ter exercido já o dirigismo, de organizar vários torneios, e de ter sido já também treinador. Restame talvez ser árbitro… quem sabe um dia! Como vês o panorama do Xadrez em Portugal e no Porto? Tenho visto vontade de apostar na evolução do xadrez por parte das entidades competentes, e sobretudo devo destacar algo que começou já com a anterior direção da FPX, que tem continuado e que é fundamental nos dias que correm – o marketing. O xadrez tem que ser divulgado enquanto produto acessível e o mais atraente possível para todos, para a comunidade. Para que possamos crescer, em quantidade e qualidade. Que sugestões deixarias para melhorar o Xadrez nacional? Sem dúvida que as apostas na formação e na divulgação da modalidade/marketing têm de continuar, são fundamentais. Mas parece-me importante 21
também deixar aqui uma nota relativamente à organização de torneios, porque parece-me que há que perceber muito bem quem é o público-alvo da grande maioria dos torneios em Portugal. Temos em geral 3 faixas etárias: os jovens, que se mostram disponíveis geralmente fora dos picos de testes/exames; jogadores aposentados, que têm maior flexibilidade de dia e hora, mas para quem fazer maratonas de jornadas duplas não parece logicamente nada convidativo; e por fim os jogadores situados numa faixa etária algures entre os 22/23 e os 60/65, que trabalham, estão no xadrez por gosto, mas que obviamente têm bastantes restrições a nível de horário devido aos seus compromissos profissionais. Há ainda um grupo restrito de jogadores que se dedicam apenas ao xadrez, mas infelizmente estamos a falar de um número muito escasso em Portugal, pelo que se exceptuarmos 2 ou 3 torneios (fase final do Absoluto, torneio de Mestres), em que o horário é irrelevante pois temos que acreditar que quem disputa essas provas, o vai fazer com o foco a 100%, há que encontrar um equilíbrio dentro do possível,
22
Simão Pinto no Profigaia Open 2017
entre os 3 grupos que mencionei anteriormente - de forma a tornar os torneios o mais atraentes possível para o maior leque possível de jogadores. Vejo, por exemplo, os sacrifícios estupendos que o Wilson Soares e o José Margarido fizeram, por exemplo, para jogar o Open de Coimbra, articulando trabalho com xadrez, com deslocações e noites mal dormidas, mostrando muito amor à causa e ao xadrez, e custa-me olhar para 2 grandes Opens da Zona Norte do país este ano, e ver rondas a meio da tarde durante a semana. Como vão fazer as pessoas que trabalham? Têm que colocar “bye” e prejudicar o seu torneio?
ENTREVISTAS
Vêem-se obrigadas a alterar os seus compromissos profissionais, ou a pedir férias? Nem toda a gente tem essa opção disponível… E para os jovens, que estão dependentes das boleias e disponibilidade dos respetivos pais, que também trabalham, como vai ser? Acho que este tipo de detalhes são absolutamente decisivos para o sucesso organizativo, e continuam a ser – erradamente, na minha opinião – menosprezados e deixados de lado, pelo que considero este um dos pontos que necessita de rápida melhoria e correção. Por António Fróis
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Artigos A importância da Prática do Xadrez em Sala de Aula O Xadrez e o brincar na evolução da criança O Jogo e as brincadeiras infantis são fundamentais ao desenvolvimento das aptidões físicas e mentais da criança, sendo um agente facilitador para que esta estabeleça vínculos sociais com os seus semelhantes, descubra a sua personalidade, aprenda a viver em sociedade e a preparar-se para as funções que assumirá na idade adulta. Segundo Dallabona e Mendes (2004), é através do lúdico que a criança se prepara para a vida, apropriando-se da cultura do meio que a rodeia, integrandose, adaptando-se e aprendendo a competir e cooperar com os seus pares e a conviver como um ser social. “Se o jogo desenvolve assim as funções latentes, compreende-se que o ser mais bem dotado é também aquele que mais joga” (Chateau, 1987, p. 14). Assim pretende-se demonstrar que os “jogos e brincadeiras infantis” não são apenas simples entretenimento, mas sim atividades que possibilitam a aprendizagem de várias habilidades. O jogo é reconhecido como meio que proporciona à criança um ambiente agradável, motivador e enriquecedor possibilitando assim a aprendizagem de várias habilidades. “É só do prazer que surge a disciplina e a vontade de aprender”. (Dallabona e Mendes, 2004, p. 111) Educar através da brincadeira e/ou do jogo faz com que a criança aprenda com mais
prazer e alegria logo com mais sucesso, (Dallabona e Mendes, 2004). “O trabalho com jogos, no que se refere ao aspecto cognitivo, visa a contribuir para que as crianças possam adquirir conhecimento e desenvolver suas habilidades e competências.” (Macedo, Petty e Passos, 2005, p. 24). Jogar pode ser sinónimo de adquirir novas competências. O trabalho desenvolvido com base na brincadeira, na descontração irá trazer muitos benefícios aos alunos nas suas aquisições. “ O brincar é potencialmente um excelente meio de aprendizagem” (Moyles, J., 1989, p. 29). Vygotsky (1984) refere a relevância de brinquedos, jogos e brincadeiras como indispensáveis para a criação da situação imaginária. Revela que o imaginário só se desenvolve quando se dispõe de experiências que se reorganizam. «A brincadeira cria para as crianças uma “zona de desenvolvimento próximal” que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível actual de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema sobre a orientação de um adulto ou com a colaboração de um companheiro mais capaz.» (Vygotsky, 1984, p. 97). Considerando a criança dos três aos catorze anos, desde o ensino pré-escolar ao secundário, um ser em crescimento e ARTIGOS
desenvolvimento, então este período é o momento ideal em tempo e espaço, para o favorecimento das aquisições importantes que o homem acumula durante toda a vida. O educador deverá atribuir ao jogo um papel prioritário tendo em mente o desenvolvimento da criança, criando alternativas metodológicas que possibilitarão o alcance das aprendizagens necessárias a todos em cada etapa de desenvolvimento. Por ser o jogo uma maneira lúdica de aprendizagem, a criança será mais receptiva e as aquisições serão feitas de forma mais eficiente. “Enquanto a aprendizagem é vista como apropriação e internalização de signos e instrumentos num contexto sociointeracionista, o brincar é a apropriação ativa da realidade por meio da representação. Desta forma, brincar é análogo de aprender.” (Dallabona e Mendes, 2004, p. 111).
23
Podemos afirmar que os jogos infantis são um elemento de aprendizagem e desenvolvimento, de adaptação social, de libertação pessoal e conservação da própria cultura uma vez que contêm um conjunto de valores pedagógicos, culturais, sociais e humanos. O jogo é um instrumento importantíssimo para o desenvolvimento das crianças. “Seja ele qual for, o jogo é sempre um processo formativo para as crianças. Apela-lhes à imaginação, concretiza os ensinamentos nele contidos, desenvolve os que já tinham sido aprendidos, desperta possibilidades intelectuais ou físicas, aumenta os conhecimentos.” (Gourlat, 2001, p. 13). Segundo Goulart (2001), a criança brinca ao jogo do “fazde-conta”, imagina-se no papel de princesa, de médico, de professor e a cada brincadeira vai vivendo novas experiências e retirando uma nova lição de vida. Quando são várias a jogar, as crianças sabem inventar as suas próprias combinações e regras de jogo, mas se ficarem entregues a si próprias, só tirarão partido do aspeto excitante do jogo: a competição. O facto de que o essencial seja participar, representa para as crianças uma noção bastante abstrata, e é absolutamente normal que elas joguem para ganhar. Assim compete ao orientador dos jogos canalizar esse entusiasmo pela vitória de forma a verificar que as regras do jogo sejam claramente aplicadas, selecionar jogos físicos e intelectuais que permitam a todos os participantes uma possibilidade de ganhar. Por esse motivo existem os jogos em que a participação do adulto permite aos jogos terem uma direcção bem definida sendo a natureza do jogo definida pela: liberdade, ficção, alegria, acordos e regras, passatempo, incerteza e prazer. 24
Nos jogos com crianças muito jovens o adulto deverá intervir pelo exemplo e pela repetição ou seja, deve realizar a tarefa e desmanchar de seguida para que a criança o possa imitar. Deve brincar com ela tendo o cuidado de fazer as perguntas sempre de maneira idêntica e na mesma ordem, para depois alterar progressivamente a ordem e a maneira de perguntar. Na fase seguinte o adulto brinca com a criança de forma a relacionar as capacidades físicas do seu corpo: “o que é que faz a tua boca? Come, fala, ri, canta, bebe...E o que faz a tua mão? Agarra, fecha, abre, bate palmas...”Todos estes jogos tendem a fazer com que a criança tome consciência do seu pequenino “eu” e são geralmente jogos intuitivos entre pais e filhos. Aos quatro anos as crianças já adquiriram um bom conhecimento de si próprias, do seu “eu” e resta-lhes fazê-lo evoluir no imenso mundo que as rodeia. Até este momento as suas investigações levaram-na a descobrir o seu corpo ou a descobrir-se a ela mesmo, a partir de agora ela terá que se mover no espaço e no tempo. Todas essas experiências serão pessoais e é em função de si própria que a criança irá ARTIGOS
assimilá-las, será uma fase da aprendizagem das percepções, das coisas e dos outros. Nesta idade a criança não recusa as atividades de grupo, desde que mantenha, no seio desse grupo, a sua própria identidade muito embora seja difícil fazê-la brincar em equipa. Os jogos nesta fase têm como papel predominante a socialização, bem como a descoberta e o apreciar do mundo que a rodeia. É também nesta fase que a criança desenvolve noções como: em cima, em baixo, ao lado, à frente, atrás, à esquerda, à direita, antes, depois, hoje, amanhã... Aos seis, sete anos, a criança tem os olhos plenamente abertos sobre o mundo e está pronta a adquirir as bases essenciais como a leitura, a escrita ou os conhecimentos básicos de matemática. Graças a essas novas aquisições, pode exprimirse e trocar mais completamente as suas ideias e as suas impressões com os outros. O seu comportamento social encontrase por isso completamente modificado. Os companheiros assumem um lugar muito importante e encontram-se em pequenos grupos no recreio, inventamse sinais de reconhecimento, palavras de passe, mensagens
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
em código para partilharem em conjunto pequenos segredos. Trata-se de um aspeto especial que os jogos terão em conta em larga medida, especialmente os jogos em equipa que serão excecionalmente benéficos para as crianças. Quando no jogo intervêm várias crianças, o pequeno jogador actua, entre outras motivações para ganhar. O mesmo jogo que faça actuar isoladamente as crianças no seio de um grupo, faria realçar o seu individualismo, ao passo que praticado em grupo irá desenvolver o seu sentido de entreajuda. Paralelamente a essa aprendizagem da vida em sociedade, as fases escolares da criança vão levá-la a penetrar no mundo do conhecimento intelectual e já não apenas percetivo. Onde fica então a aquisição das suas perceções: a vista, o ouvido, o olfato e o gosto? É isso que os jogos tentam apurar. Estas perceções não são, a bem dizer, determinantes para uma boa integração escolar, mas, associadas a dados concretos desenvolvem a memória, a observação, a dedução, a classificação, a opinião, a identificação e a atenção. Os jogos devem ter um caráter educativo e pretenderem ser, sob um aspeto atraente, auxiliares de trabalho escolar. Devem testar os conhecimentos das crianças e devem permitir aos educadores descobrir as lacunas. Estes jogos educativos devem manter um caráter atraente e de distração, para se tornarem aliciantes e desejados. Para criar pequenos fatores de excitação, devem tirarse as provas à sorte, cronometrar os tempos de reflexão, eliminar jogadores e dar prémios. Estas formas de procedimento são as que mais desenvolvem a vivacidade das crianças e o seu espírito de competitividade e lhes conservam a atenção. Ao longo dos tempos várias
teorias sobre os jogos foram surgindo e “a brincadeira exerceu um papel e funções específicas de acordo com cada momento histórico.” (Dallabona e Mendes, 2004, p. 110) Assim, vários autores teorizaram sobre este tema, dos quais salientamos Piaget (1975), Huizinga (1938), Chateau (1987), entre muitos outros. Piaget (1975) estudou os aspetos pedagógicos do jogo, detevese nos jogos infantis e atribuiulhes classificações segundo o desenvolvimento da criança por estádios. Do autor Johan Huizinga destacase a obra Homo Ludens (2003), onde defende a ideia de que a cultura advém do jogo. Neste trabalho Huizinga faz referência a diversas áreas, como a sociologia, a psicologia e a pedagogia, salientando que o jogo é simultaneamente liberdade e invenção, fantasia e disciplina, e todas as manifestações culturais têm origem no jogo. “O jogo é mais velho do que a cultura, pois a cultura, ainda que inadequadamente, pressupõe a existência de uma sociedade humana e os animais não esperaram que o homem os iniciasse a jogar.” (Huizinga, 2003, p. 17). Para Chateau (1987), o jogo existe para ser utilizado como um espaço de treino para a vida adulta. Assim, o jogo tem uma função utilitária, a de exercitar a criança, desde tenra idade, nas tarefas dos adultos. “A infância é, portanto, a aprendizagem necessária à vida adulta.” (Chateau, 1987, p. 14). O lúdico tem vindo a desempenhar um importante papel no contexto escolar, como uma prática prazerosa de auxílio à aquisição de competências escolares. Atualmente o aspeto lúdico, com recurso aos jogos tem vindo a ocupar espaço nas planificações ARTIGOS
de aula de alguns professores, que veem nessa metodologia uma forma de melhorar as suas aulas tornando-as mais atrativas e proporcionando aos educandos uma educação mais rica e diversificada. No quotidiano da sala de aula o brincar pode ser encarado como algo sério e de cunho pedagógico, proporcionando aos alunos um ensino que valorize os seus interesses e preferências. Quando se aprende nessas condições, aprendese a controlar um universo simbólico e particular vivido por cada um. O homem brinca independentemente das suas condições físicas, financeiras, da sua origem ou idade. O brincar, o jogo e o lúdico estão presentes no dia-a-dia de todos os seres humanos, servindo para que as aprendizagens de cada um se façam de forma mais interessante e informal. Segundo Lopes (2000) existem catorze objetivos pedagógicos para a utilização de jogos em contexto de sala de aula. Segundo a autora, utlizando jogos de forma regular e em contexto escolar estamos a trabalhar os seguintes objetivos: • Trabalhar a ansiedade; • Reavaliar os limites; • Reduzir a descrença na auto capacidade de realização; • Diminuir a dependência, aumentando a autonomia; • Aprimorar a coordenação motora; • Desenvolver a coordenação espacial; • Melhorar o controlo de diferentes segmentos do corpo para a realização de tarefas; • Aumentar a atenção e concentração; • Desenvolver a capacidade de concentração e o senso de estratégia; • Trabalhar a discriminação 25
auditiva; • Ampliar o raciocínio lógico; • Trabalhar as emoções com o jogo, aprendendo a perder e a ganhar. Também Piaget (1978), nos seus estudos se mostrou favorável à ideia de construir uma escola mais activa, por meio de utilização do jogo. Concluiu que só é possível cativar o interesse e a atenção dos alunos dando-lhes oportunidade de fazerem o que gostam de uma forma agradável e salutar. “O xadrez, como jogo, é esporte, competição, expectativa, desafio criador, divertimento, higiene mental, repouso. Como ciência é estratégia, estudo, pesquisa, imaginação, descobrimento, ideal de perfeição. Como arte o xadrez é harmonia, mensagem de beleza, encanto espiritual, emoção, prazer cultural, felicidade.” Idel Becker A escola dos nossos dias acolhe um público muito heterogéneo, onde o uso de estratégias diversificadas é imperioso. A utilização de jogos para conseguir atingir as competências programadas para dada etapa escolar surge como um instrumento muito eficaz. Segundo Moyles (2006, p. 131) “A escola tem uma responsabilidade cada vez maior” perante o seu público. A escola deverá garantir que “tenham o direito de aprender de maneira que seja apropriada para elas – por meio do seu brincar.” Ao tentar definir jogo Huzinga (2003) descreve-o como sendo uma actividade que ocorre de forma voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas e absolutamente obrigatórias. Segundo o autor, esta actividade 26
é dotada de um fim em si mesma. Fim esse que se traduz em conhecimento e aprendizagem quando este jogo é utilizado em contexto escolar. No que se refere em específico ao jogo de xadrez, algumas investigações mostram que a sua difusão e prática no ambiente escolar contribuem de forma muito favorável para a aquisição de competências escolares. Sundberg (2006) refere diversos exemplos de estudos que o provam dos quais salientamos: Frank (1974), na sua tese de doutoramento baseada em trabalhos no Zaire com dois grupos de estudantes (controlo e experimental), com e sem instrução de xadrez, o grupo experimental apresentava um nível de conhecimento xadrezístico correspondente ao elementar e o outro grupo, o de controlo, nenhum. O grupo com instrução em xadrez apresentou um significativo aumento nas aptidões numéricas e verbais. Cristiansen (1981) após dois anos de experiências na Bélgica (Faculdade de Ciências Pedagógicas da Universidade de Ghent), obteve resultados satisfatórios ao trabalhar com grupos de 20 jovens, tanto no grupo experimental como no de controlo, com idades compreendidas entre os 10 e os 12 anos. Os seus resultados apontam para um nível de favorecimento dos níveis de qualificação e rendimento geral no contexto escolar. Fergusson (1983), no seu estudo sobre os efeitos do xadrez em níveis de rendimento escolar trabalhou com estudantes de vários níveis escolares nos Estados Unidos durante cinco anos entre 1979 e 1983. Forneceu aos seus estudantes actividades especificamente desenhadas para um “Pensamento crítico”, incluindo no seu desenvolvimento programas tais como a ARTIGOS
resolução de problemas futuros, problemas resolvidos com o uso de computadores, estudos independentes, escritura criativa, xadrez, etc. Usando a Avaliação do Pensamento Critico de Watson e Glaser, conseguiu mostrar a influência decisiva do xadrez sobre o pensamento crítico ainda melhor que outros métodos de enriquecimento. Os resultados indicaram um maior aproveitamento (4.56%), de outros métodos e (17.3%) para o xadrez. “Os testes demonstraram aumento expressivo tanto na memória como em habilidades de raciocínio verbais, especialmente entre os jogadores de xadrez mais competitivos.” (Dauvergne, 2007, p. 14) Segundo Santos, Martins e Teixeira (2007), o Xadrez desenvolve de forma efectiva muitos conteúdos nas diversas áreas de ensino do 1o Ciclo de Ensino Básico e “trabalhandoos de forma lúdica e leve, de maneira que a “brincadeira” permita o aprendizado mais amplo, consistente e seguro... o uso do xadrez não é tema da exclusividade dos matemáticos, já que com ele pode-se, por exemplo, explorar tópicos de geografia...” (Santos, Martins e Teixeira 2007, p. 320). Bouwman, 2004 citado por Júnior e Roman (2008) refere que “A prática do xadrez como suporte pedagógico valoriza a imaginação e a criatividade dos alunos, enriquece o quotidiano escolar e passa a ser uma opção a mais para a integração na escola.” Também Calixto (2004), citado pelos mesmos autores afirma ser benéfico para os alunos a utilização do “xadrez como objecto comum entre as diversas disciplinas: Matemática, Historia, Geografia, Línguas Estrangeiras, Educação Artística, Artes, Informática e a Educação Física.” São vários os autores (Dauvergne,
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
2000; Dyck, 2004 e 2005; Celone, 2005; Milat, 2005; Myers, 2005 e Salerno, 2005) que defendem que o xadrez é uma das ferramentas mais poderosas disponíveis para fortalecer a mente de uma criança e, simultaneamente, também o corpo. Segundo Susan Polgar citada por Aleu (2008) “O Xadrez fomenta a elaboração de decisões, o pensamento crítico e lógico, proporciona estratégias para resolver os problemas assim como fortalece a capacidade de resistência. O Xadrez fomenta a memória e incrementa a poder de concentração e de autocontrolo.” À semelhança do que ocorre noutras atividades desportivas, uma iniciação precoce ao xadrez pode ajudar a que a criança desenvolva competências nesse jogo que se estendem a outros tipos de atividade. Qualquer que seja a idade de uma criança, diversos estudos mostram que, “o xadrez pode melhorar a concentração, a paciência e a perseverança, bem como desenvolver a criatividade, intuição, memória e, o mais importante, a capacidade de analisar e deduzir a partir de um
conjunto de princípios gerais e aprender a tomar decisões e resolver problemas com flexibilidade”. (Vignoli, 2009, p. 15) Assim, passamos a citar os dez princípios gerais do Xadrez, segundo Blanco (1998): • “Desenvolver no indivíduo uma atitude favorável em relação ao xadrez que lhe permita apreciálo como elemento gerador de cultura. • Desenvolver no indivíduo o seu potencial inteletual a partir do estímulo da esfera cognitiva. • Garantir ao indivíduo a aquisição de conhecimentos, habilidades e destrezas básicas necessárias à incorporação na vida ativa. • Permitir ao indivíduo estabelecer vínculos (transferências) entre os conhecimentos e experiências xadrezísticas e a vida quotidiana, individual e social. • Favorecer a assimilação das caraterísticas do xadrez que contribuam para um harmonioso desenvolvimento inteletual, moral e ético da personalidade e que propiciem a sua autonomia cognitiva e capacidade de raciocínio. • Dar prioridade à resolução de problemas. Uma aprendizagem ARTIGOS
orientada à resolução de problemas brinda a oportunidade de analisar, avaliar e propor alternativas de solução a soluções da vida diária • Contribuir para a elevação da auto-estima. • Favorecer o desenvolvimento da linguagem xadrezistica e da sua habilidade para a argumentação. • Resgatar para uso próprio e pedagógico o aspeto lúdico do xadrez. • Tomar em conta e de maneira equilibrada, as diferenças individuais. As distintas teorias sociológicas e as realidades concretas duma aula sugerem a impossibilidade de catalogar os indivíduos de maneira uniforme.” Tendo em mente estes princípios, percebemos que a prática da modalidade de Xadrez é essencial em contexto escolar, pois promove um grande conjunto de competências necessárias à promoção do sucesso das aprendizagens. Por Sérgio Rocha
27
“Para criar uma criança é preciso toda uma aldeia” Contributo do espírito de equipa. Reflexões de um Pai. Decorreu no passado dia 28 de janeiro, na Marinha Grande, o CAMPEONATO NACIONAL DE PARTIDAS SEMI-RÁPIDAS POR EQUIPAS 2017/2018. Neste evento marcaram presença 64 equipas, num total de 282 xadrezistas. Duas equipas da AX Gaia bem como outras tantas da Profigaia estiveram presentes na competição. A equipa Profigaia/Escola Profissional A, 25ª do ranking inicial, ficou em 11º lugar. A equipa AX Gaia A, 43ª do ranking inicial, ficou em 30º lugar. A equipa Profigaia/Escola profissional B, 45ª do ranking inicial ficou em 51º. A equipa AX Gaia B, 63ª do ranking inicial, ficou em 60º.
Feitas que estão estas breves referências desportiva e estatística sobre o evento, sinto a necessidade de referenciar outros aspetos que, enquanto pai de um jovem jogador da AX Gaia, me parecem tão (ou até mais) importantes como aqueles que atrás referi. Pela primeira vez tive a oportunidade de acompanhar os atletas numa viagem relativamente longa, bem como observá-los e conviver com eles de uma forma que até então eu nunca tinha vivido. Enquanto pai, quero aqui deixar expresso o meu contentamento e gratidão por um dia tão bem passado. 28
Aparte os momentos de grande concentração vividos no tabuleiro, existiram os momentos de convívio, conversas, risos e, claro está, os momentos de consolo quando algum colega tinha um jogo menos conseguido, ou de felicitação quando o resultado tinha sido positivo. Enquanto pai, sinto-me muito feliz por o meu filho pertencer a esta enorme e bela Família que é a “AX Gaia/Profigaia”, e por ele ser sempre tão bem acolhido por colegas, monitores, pais de colegas e demais elementos que, por vezes mais distantes, são essenciais para o excelente bem-estar e vivência geral na nobre instituição que é a Escola Profissional de Gaia. “Para educar uma criança é preciso toda uma aldeia”
ARTIGOS
e eu conto com esta Família para colaborar na educação, formação e desenvolvimento do meu filho. De referir, por último, o facto do Diretor do Agrupamento de Escolas da Madalena ter desafiado o meu filho Pedro Fonseca a desenvolver um clube de xadrez na Escola EB2,3 da Madalena, desafio que ele imediatamente aceitou. Tendo sido informada a Escola Profissional de Gaia desta situação, a mesma incentivou e apoiou com material de xadrez esta iniciativa. A todos entrego o meu reconhecimento, agradecimento e consideração. Muito obrigado. Por Carlos Miguel Fonseca
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
O Xadrez, um Jogo Milenar! Reza a lenda, ou estória, ou ainda história (?), que habitava numa Índia remota um Rei de seu nome Sriharsha. O Rei era bom de caráter, todavia, corrompido por seus aduladores, tornou-se mau e arrogante. Em vão tentavam seus sacerdotes e outros notáveis, chamá-lo à razão sobre a importância do bem-tratar seus súbditos, onde residia afinal, a verdadeira grandeza do reino e do Rei. Então, um sábio, de nome Sassa, decidiu inventar um jogo sobre um tabuleiro de 64 casas – escaques –, simbolizando o reino. O Rei era a figura central do jogo, porém com poderes limitados, dependendo dos súbditos para atacar e se defender. O Rei Sriharsha, radiante com o invento de Sassa, decidiu recompensá-lo a gosto deste. – Grãos de milho Majestade, pediu-lhe o sábio. Dois no primeiro escaque, quatro no segundo, oito no terceiro, dezasseis no quarto, trinta e dois no quinto… e sucessivamente a dobrar o número do escaque anterior até ao último. Ao Rei pouco agrado teve o pedido do sábio, ajuizando-o mesquinho demais para um inventor de tamanha grandeza. Porém ordenou a satisfação do mesmo. Não tardou que dessem conta à Sua Majestade, seus súbditos atónitos, da impossibilidade do cumprimento da promessa, ainda que este, Sua Majestade, vivesse mais mil anos! O total de grãos necessários até ao último escaque do tabuleiro, era um monstro numérico: 18 446 744 073 709 551 616 (cerca de 19 trilhões de grãos!). Todos os celeiros do reino – e provavelmente do planeta, na altura – seriam insuficientes para atingir a cifra! E, segundo a lenda, Sua
Majestade o Rei Sriharsha, depois desta e doutras lições aprendidas com o jogo de Sassa, terá mudado seu comportamento diante de seus súbditos. Em versões semelhantes da acima narrada, o Rei é um homem enfermo e obsessivo por sua enfermidade, a quem recomendam distração e divertimento. E surge então a figura de Sassa (ou Sisse, Sussa, Suse, Sahsaha; conforme a época ou autores), o jogo, e os trilhões de grãos de milho (ou dirhem). Várias teses têm sido apresentadas sobre o berço do jogo ciência, sendo a Índia a de maior divulgação livresca e oral. E (provavelmente) de melhor aceitação. Outras hipóteses apontam para a Babilónia, e seu inventor um filósofo de nome Xerxes. Outras a Grécia, e outras ainda uma China antiquíssima… A realidade-verdade, é que o jogo inventado por Sassa, viajou pelos séculos do tempo, conheceu os confins do globo, traduziu-se nos idiomas das gentes, adaptou-se, modificouse, incorporou outros jogos, partes de si fragmentaram-se em dissidências, vestiu vários nomes – Chaturanga, Chatrang, Satrany, Xadrez –, venceu crises, aceitou novas regras, enfim sobreviveu e evoluiu, num admirável processo de mutação; conservando sua essência enigmática e mágica de encantar, maravilhar e desafiar a mente humana, chegando aos nossos dias na forma que o conhecemos. Os homens organizaram-se em torno do jogo, surgiram os aficionados, as competições, os Mestres, o Campeão do Mundo e os ARTIGOS
Grandes Mestres. Todos rendidos à magia dum jogo milenar que, segundo ainda a lenda, tem uma musa de nome Caíssa, uma linda jovem, transformada do desaparecimento repentino das barbas brancas de Sassa. No século XX, por volta de 1918, nova turbulência lançou-se sobre o jogo iniciado por Sassa. Acesos debates sobre a vitalidade, robustez e longevidade do jogo emergiram. O Campeão do Mundo de Xadrez de então, o alemão Dr. Emanuel Lasker, iniciou a problemática. Reclamou a injeção de demasiado cálculo matemático ao xadrez, e que, cedo perderia a sua atração natural – curiosamente, o Dr. Lasker era professor universitário de matemática, entre outras disciplinas. O xadrezista alemão, afirmou que o xadrez estava ameaçado pelo que chamou “the death of the draw’ (o morto do empate). Que o jogo vivia em função dos segredos que envolviam seus problemas. E que a luz da verdade mataria o fervor do jogador que ama a ventura e aventura da descoberta da verdade desconhecida. E rematou: o xadrez, diferente da ciência e da arte, é finito. Esta temática ganharia novo fôlego e fervor – e alguma ferocidade – na voz do menino prodígio do xadrez, o génio cubano José Raúl Capablanca (Capa). Tãologo se tornou Campeão do Mundo, destronando Emanuel Lasker em 1921, em Havana, Capablanca começou a inquietar-se com o jogo-ciência e seu futuro. Referindo-se ao xadrez 29
magistral, de topo; queixavase de excessivas investigações metodológicas e científicas ao jogo, que aliadas à memorização, possibilitava jogadores de segunda categoria e pouco talento, ombrearem com mestres de topo. Que o xadrez estava demasiado “booky”; prevendo que num horizonte de cinquenta anos – a partir de 1921 – o jogo estaria completamente, se não, virtualmente jogado. E que num espaço de dez anos, qualquer xadrezista de topo, empataria quando desejasse. Assegurava ainda que, entre jogadores de elite, em encontros de 10 partidas, uma vitória seria mais acidental do que outra coisa. Reclamava também, que a memorização e as pesquisas favoreciam um rápido desenvolvimento da técnica, e que esta, privava o xadrez do seu encanto combinatório e de sacrifícios. Por isso defendia urgência em se evitar um desastre. Uma revolução no xadrez, alterações que o desviassem de estereótipos e mecanizações, devolvendo-lhe a essência artística, imaginativa, génio e criatividade, longe das teorias dos milhares de livros publicados. Propôs, então, alterações ao jogo – dirigidas os mestres de primeiro plano. Os outros tinham liberdade de continuar com o xadrez tradicional –. A introdução de duas peças novas: o Chanceler, com movimentos combinados do Bispo e Cavalo; e o Marechal, com movimentos combinados da Torre e Cavalo. Uma das peças novas, situada entre o Rei e o Bispo. A outra entre a Dama e o Bispo. Consequência, o alargamento do tabuleiro para 100 casas – 10x10 –, e introdução de dois peões à frente do Chanceler e do Marechal, respectivamente. Outra (pequena) alteração: os dez peões teriam opção inicial de movimento de, uma, duas ou três casas.
(Diagrama 1: o xadrez de Capablanca).
Reacções à proposta de Capablanca, fluíram aos rios. Todavia desfavoráveis no geral. Emanuel Lasker, ríspido, considerou-a de “arbitrária e desajeitada”. Sugerindo – talvez –, a abolição do roque, num retorno à versão antiga do jogo; lamentando a introdução do mesmo pelos xadrezistas italianos. Fez também lembrar ao cubano, que jovens mestres como
Alexander Alekhine – para quem Capablanca perdeu o título em 1927 – e Efim Bolgoljobow, que encabeçavam esse espírito de pesquisa e invenção, garantiam ao jogo vitalidade para outras gerações. Finalizou dizendo que, a decisão caberia ao mundo do xadrez, mas que não tinha dúvidas de que a proposta do “Señor Capablanca era barata e inartística”. Dentro da discussão em curso, diversas ramificações do xadrez floresceram. Numa, a proposta de Capablanca jogava-se num tabuleiro 10x8. Destaque para o Xadrez Duplo, jogado num tabuleiro de 192 escaques, 16x12 – invenção de J. Grant Hayward. Capablanca disputou um match nesta versão com o húngaro Géza Maróczy. Venceu por 3-1. E concluiu: é muito interessante e
(Diagrama 2, Xadrez Duplo: Capablanca v Maróczy).
30
ARTIGOS
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
muito difícil. No declinar do século XX, em 1996 na cidade argentina de Buenos Aires, outra voz lendária rebelar-se-ia com o estado e rumo do xadrez. Menino prodígio do xadrez, o
(Diagrama 3: Chess690, exemplo duma posição inicial)
génio norte-americano Robert James Fischer (Bobby Fischer), Campeão do Mundo em 1972. Com um discurso semelhante ao José Raul Capablanca, Bobby Fischer centrou a sua crítica à teoria das aberturas. Que o seu desenvolvimento e a memorização, que considerou de poderosa, eram mortais para o xadrez. Que o jogo se tornara anti-criativo. Fischer propôs a sua variante do xadrez: Fischerandom Chess, conhecido actualmente como Chess690. No Chess690, a posição inicial das peças é aleatória; num
convite ao exercício do talento e criatividade, em desfavor da teorização e memorização. No resto Chess690 joga-se à semelhança do xadrez actual. Alguns requisitos são observados na posição inicial das peças, em relação ao Rei, Torres, Bispos, e o roque. Chess690 foi reconhecido pela FIDE em 2008. Importantes competições, torneios e campeonatos – não homologadas pela FIDE – têm tido lugar. O GM húngaro Péter Lékó tornou-se o primeiro Campeão Mundial de Chess690, em 2001, batendo o GM inglês Michael Adams. Outros GMs de proa têm competido. O ex-Campeão do Mundo Viswanathan Anand, Levon Aronian, Hikaru Nakamur, Alexander Grischuk, o veterano Vlastimir Hort… Fischerandon Chess, ainda em idade infantil, tem tido pernas para andar e funcionar em paralelo com o xadrez standard. Haverá razões e fundamentos para as vozes recentes encabeçadas por Emanuel Lasker, José Raul Capablanca e Robert James Fischer, quanto ao estado e encaminhamento do xadrez, seu futuro, memorização, teorias e computadores? Estará o xadrez à beira do esgotamento? A verdade é que a despeito do feroz equilíbrio entre jogadores do topo –, em que as vitórias (quase)
ARTIGOS
escasseiam –, continua a haver motivação para jogar, chegar a esse nível e manter-se nele – privilégio de raríssimos. Quiçá, atingir ou espreitar os níveis mais altos dos segredos do jogociência, seja desafio motivador bastante para a mente humana, e para a sobrevivência do xadrez, por longos, robustos e felizes anos de vida. Ou será que num dia distante o homem vasculhará os arquivos do tempo à procura do xadrez de Capablanca, com o Chanceler e o Marechal? Ou assumirá definitivamente o Chess690, ou outro ainda desconhecido? Respostas escondidas no sorriso da bela Caíssa, a musa do xadrez, transformada do desaparecimento repentino das barbas brancas do sábio Sassa. Ou Sessa?… Por Décio Bettencourt Mateus. Referências: Ajedrez Elemental, Jose E. Olavide Xadrez Iniciação, Carlos Tribeño Mamby Capablanca, Eduard Winter Psicologia Del Jugador de Ajedrez, Reuben Fine. A Psychobiography of Bobby Fischer, Joseph G. Pontteroto, PH.D Wikipedia
31
Coleção Xadrez Português A colecção “Xadrez Português” pretende constituirse como um lugar para a partilha e preservação do património escaquístico nacional. Não um património físico composto por troféus, medalhas, galhardetes e outras quinquilharias, mas um património imaterial erguido na base da palavra.
(1927-2017).
Neste lugar há espaço para todos os que gostam de Xadrez, independentemente da sua idade, nível de domínio do jogo, ou vertente praticada. Todos aqui podem conviver sem rivalidades, porque este é um lugar onde todos os xadrezistas portugueses podem ganhar.
01. A Arte da Composição em Xadrez - Breve Antologia de Autores Portugueses (A.A.V.V.) Fev. 2017. Tiragem: 100 exemplares. Pt, 80pp, p&b, 17.5x17.5cm. €12.00 encomenda: danielgoncalvesquinta@gmail.com
02. Subsídios para a História do Xadrez em Portugal (Alves Morgado) Dez. 2017. Tiragem: 50 exemplares. Pt, 48pp, p&b, 17.5x17.5cm. €15.00 encomenda: danielgoncalvesquinta@gmail.com
Esta antologia efectua um périplo pela história do problemismo português através de uma selecção de composições publicadas quer na imprensa nacional, quer em órgãos internacionais da especialidade como The British Chess Magazine, Die Schwalbe, The Problemist, entre outros. Obra dedicada à memória de Rui C. Nascimento (1914-2012) – Mestre Honorário da FIDE para a Composição em Xadrez e Mestre Nacional da FPX.
Estes Subsídios para a História do Xadrez em Portugal foram inicialmente publicados no jornal A Voz, de Setúbal, ao longo do mês de Junho de 1936. Dada a relevância do seu conteúdo para a compreensão do trajecto seguido até então pela «caravana» do Xadrez nacional, este conjunto de crónicas da autoria do xadrezista Alves Morgado foi sendo posteriormente reproduzido em órgãos da especialidade como o Jornal de Xadrez (Porto, 1946/1947), a Revista Portuguesa de Xadrez (Lisboa, série I, 1937/1944), entre outros de menor dimensão. Esta edição celebrou o 90º aniversário da data de fundação da Federação Portuguesa de Xadrez 32
ARTIGOS
Por Daniel Gonçalves Quintã
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
O Musas, atualidade, história e projeto De nome oficial Sport Musas e Benfica – popularmente conhecido como Musas – esta associação é uma das resistentes coletividades do Porto que se dedica à prática do xadrez. Velha e modesta associação popular septuagenária (criada em 15 de abril de 1944), tal como muitas outras coletividades de bairro desta cidade, atravessou vários períodos de sérias dificuldades.
associados e à comunidade, estando o seu acervo disponível para consulta na internet, e podendo os seus livros ser requisitados pelos sócios ou lidos na sede pelos não sócios. A Biblioteca compreende várias áreas temáticas, com uma parte mais técnica, virada sobretudo para o Xadrez, e outra para a Agricultura e Ambiente, e uma parte mais geral, onde se destacam as obras para um público infantojuvenil, e todas as áreas do Ensaio, Romance, Conto, Poesia, Teatro, Policial, Ficção Científica, etc.. O Musas tem também uma Ludoteca ao serviço dos mais jovens.
Lixo recolhido pelos associados e amigos do Musas nos terrenos que dariam origem à Quinta Musas da Fontinha. FOTO URSULA ZANGGER
Sendo inicialmente a sua prática mais voltada para o futebol amador, o Musas tem agora uma prática de cerca de mais de 10 anos como clube federado de xadrez, disputando regularmente, embora com resultados modestos, os campeonatos distritais da Associação de Xadrez do Porto e tentando, à medida da sua pequena dimensão, ajudar na formação de jovens xadrezistas. Mais até do que a prática desportiva por si, o Musas preza a sua ação formativa dirigida para públicos mais jovens, tendo criado uma Escolinha de Xadrez aberta a todas as crianças e organizado vários torneios, antes em colaboração com a antiga Junta de Freguesia de Santo Ildefonso e, nos três últimos anos, em iniciativa conjunta com a Junta de Freguesia de Campanhã, através da sua Escola de Xadrez de Campanhã. O Musas tem em funcionamento uma Biblioteca aberta aos
Estado prévio dos terrenos onde iriam ser implantadas as hortas comunitárias. FOTO URSULA ZANGGER
História recente Depois de um período em que correu sério risco de desaparecimento, ao dobrar o ano 2000, o Musas emergiu das quase cinzas para um novo florescimento, mais evidente nos seus últimos dez anos de vida, a partir do lançamento da iniciativa das suas hortas comunitárias. Os associados do Musas pagam uma quota voluntária no valor por si definido, mas isentando aqueles que estando em situação precária, podem prestar a sua colaboração em trabalhos práticos em favor da comunidade, não havendo, por exemplo, lugar a qualquer pagamento pelo cultivo das parcelas de terreno agrícola ARTIGOS
pelas quais os sócios aceitem responsabilizar-se. Também todos os computadores existentes no Musas foram reciclados e equipados com software livre.
Faixa central da Quinta Musas da Fontinha. Ao fundo, a Igreja da Lapa. FOTO ROSA BRANCA
Os terrenos em que o Musas implantou a sua horta comunitária distribuem-se por terrenos de propriedade camarária (mediante protocolo de ocupação precária a renovar anualmente com a Divisão do Património da autarquia), por terrenos de vizinhos que estavam a monte e que aceitaram autorizar aí o cultivo agrícola - ficando, nos dois casos a associação com os encargos de limpeza, manutenção, abastecimento de água e tudo o necessário -, e a terrenos incluídos no prédio em que a associação é inquilina. O estado em que tais terrenos foram encontrados, alvo de despejo indevido de lixos, e da proliferação natural de plantas infestantes, exigiu um enorme, continuado e penoso trabalho de remoção.
Faixa central, vista do lado da Horta Figo. FOTO URSULA ZANGGER
Mas o trabalho feito por esta associação não se tem limitado 33
apenas à limpeza dos terrenos, separação e remoção dos lixos, e finalmente infraestruturação das hortas e seu cultivo, mas igualmente à criação de um clima de cooperação entre os associados e os vizinhos, tendo muitos deles entretanto passado da segunda qualidade à primeira, e começado, de uma forma ou de outra, a colaborar também nas hortas comunitárias ou a participar em várias das atividades do Musas.
Exposição de fotografia de Ursula Zangger. FOTO URSULA ZANGGER
Foi para coordenar melhor o trabalho de cultivo das hortas que o Musas criou a estrutura informal Quinta Musas da Fontinha (QMF), que se encarrega de zelar pelas tarefas comuns das hortas comunitárias, gerir a distribuição de tarefas pelos sócios e proceder à melhor gestão do calendário agrícola. No âmbito da QMF está sempre presente não só o fazer a horta, mas também o aprender a fazê-la, e aprender a fazê-lo melhor, dentro de um princípio de sustentabilidade, com base nas práticas da agricultura biológica e da permacultura. Aprende-se com os mais velhos, aprendese uns com os outros e tenta-se também criar uma sensibilidade ambiental no âmbito das hortas e das oficinas pedagógicas, dirigida para os mais jovens. Para dar mais amplitude e solidez a este esforço, criouse ainda a estrutura informal Universidade Livre Quinta Musas da Fontinha, que realizou já e continuará a realizar diversas ações de formação. Todas estas ações e oficinas de 34
formação são totalmente gratuitas e abertas, embora dirigidas fundamentalmente aos associados do Musas. Por exemplo realizaram-se já, entre outras, oficinas de compostagem, análise de solos, recolha e guarda de sementes, técnicas de agrofloresta, insetos úteis na agricultura, alimentação vegetariana, recolha e conservação de sementes, criação de cogumelos, podas e enxertias. Têm-se também realizado visitas de sensibilização ambiental por parte de outras associações e escolas, tendo o Musas vindo a colaborar, como presentemente, com a Escola Básica da Fontinha, quer nas atividades de formação agrícola e ambiental, quer no ensino e prática do xadrez enquanto ferramenta pedagógica de eleição.
grande interesse cívico, agrícola, formativo e ambiental. A QMF teve a a colaboração de investigadores do CIBIO da Universidade do Porto (Projeto Charcos com Vida), que ajudaram a criar uma pequena zona húmida destinada a criar e atrair biodiversidade e o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (na oficina de análise de solos). A QMF criou também um banco de sementes, que está disponível para os seus associados, e para troca com outras associações. O Musas fez-se sócio coletivo da associação Colher para Semear, empenhada na defesa e preservação das sementes tradicionais.
Torneio de Rápidas na Terra das Crianças da Quinta Musas da Fontinha. FOTO LUÍS CHAMBEL
Exposição de pintura de Zornitsa Halacheva. FOTO URSULA ZANGGER
Na sua história, e além das autarquias já referidas, o Musas colaborou sempre com várias entidades e associações, como por exemplo, nas férias de Verão da PortoLazer nos anos de 2013 e 2014 na formação em xadrez dirigida a crianças, celebrou antecedentemente protocolos de intercâmbio com o grupo ambiental GAIA e, no plano cultural, com a Associação José Afonso, e contou ou conta ainda com a colaboração de membros de várias outras associações como Terra Solta, Quercus, Campo Aberto, Casa da Horta, Gato Vadio, Terra Viva, que na Quinta Musas da Fontinha (QMF) viram um laboratório de ARTIGOS
Quanto à sua organização das hortas comunitárias, a QMF organiza o espaço agrícola distinguindo e assinalando cada uma das pequenas parcelas (cerca de 25 m2) com o nome de um fruto (tendo sido já atribuídos os seguintes: Abacate, Açaí, Ameixa, Amora, Ananás, Avelã, Banana, Bolota, Caju, Carambola, Castanha, Cereja, Diospiro, Figo, Fisális, Framboesa, Goiaba, Laranja, Limão, Maçã, Manga, Melancia, Melão, Meloa, Mirtilo, Morango, Pêssego, Romã, Tamarindo, Tangerina e Uva). Com o andamento do trabalho de infraestruturação que continua a ser feito ainda poderão ficar disponíveis mais um ou dois talhões cultiváveis ou, eventualmente, poderão alguns também ser perdidos pela sua venda a novos proprietários.
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Foi também criada a zona dos miradouros das aromáticas (de onde se pode divisar o mar), estando estas aromáticas minimamente identificadas e também ao dispor dos associados. Os canteiros de aromáticas têm nomes de musas (Erato, Calíope, Euterpe...).
Jogo do Campeonato Distrital de Equipas. FOTO URSULA ZANGGER
Em terreno camarário encontramse projetos de culturas hortícolas e agrofloresta (e uma parcela cada vez mais pequena por desbravar). Fora do terreno camarário a QMF alberga ainda, ou albergou, além de culturas hortícolas, outros projetos já concretizados (Estufa Hidropónica, Galinheiro, Horta Pedagógica Infantil) ou (se possível) a concretizar no futuro: Forno do Pão e Horta das Tintureiras. Tem também sido prática do Musas a realização de exposições de pintura, fotografia, banda desenhada, cartaz e cartoon, além de se ter criado um clube de leitura e se ter organizado um grande número de debates, colóquios e outras atividades de promoção do nível cultural e artístico, muito importantes no tecido social e humano em que o Musas está inserido.
Por: Luís Chambel
Pensar o Xadrez Nacional Ao cuidado dos nossos decisores INTRODUÇÃO O desafio que a Gaia Chess me lançou para contribuir com um artigo para a presente edição, teve a feliz vantagem de me fazer refletir mais profundamente sobre um tema relacionado com o xadrez, que há longo tempo venho perseguindo, nomeadamente desde que, novamente, assumi funções na Direção da FPX. Muito embora as áreas de intervenção que me estão diretamente destinadas sejam a Administrativa e da Tesouraria, não pude deixar de acompanhar o esforço realizado por esta Direção no sentido da divulgação e desenvolvimento do ensino do xadrez. No segundo semestre de 2016 em todo o ano de 2017, a FPX lançou quase duas dezenas de ações de formação para técnicos de grau 1 e 2 com apoio do IPDJ a cujos programas oportunamente nos candidatámos. Já em 2018 organizámos o primeiro Seminário FIDE Trainer realizado em Portugal, com o claro intuito de certificação junto da FIDE dos técnicos já por nós credenciados, mas também de outros intervenientes que pela sua larga experiência no ensino e prática do xadrez têm, ao longo dos anos, desenvolvido meritório trabalho na área do ensino. Também foi possível desenvolver protocolos de cooperação com diversas Juntas de Freguesia, para a introdução do ensino do xadrez em escolas do primeiro ciclo, que resultaram em mais de 2.000 crianças abrangidas, protocolos que pretendemos incrementar ano após ano. Acresce a tudo isto os programas de ensino e escolas ARTIGOS
exclusivamente destinadas ao ensino do xadrez, que um pouco por todo o país têm surgido, em muitos casos com enorme êxito, fruto de iniciativas individuais que também demonstram que desde que haja vontade é possível lançar com sucesso estes projetos. Pessoalmente estou satisfeito com os resultados alcançados e por todas as iniciativas que vêm sendo desenvolvidas, mas sabe a pouco perante o que na realidade é possível fazer. Temos de dar o passo seguinte. COMO AVANÇAR? O passo seguinte é, em minha opinião, a introdução do ensino do xadrez de forma global em todo o ensino básico, com o claro objetivo de certamente fazer crescer a nossa modalidade, mas acima de tudo introduzir o xadrez como ferramenta educativa de inigualável valor. Para isto precisamos de evidenciar às nossas autoridades, com o Ministério da Educação na primeira linha, as evidentes e múltiplas vantagens do ensino do xadrez como matéria curricular no ensino básico. Não precisamos inventar nada nem sequer produzir grande quantidade de material de 35
suporte, dado que a FIDE através da sua Chess in Schools Commission, produziu um excelente documento, já disponível em inglês e recentemente em espanhol, onde elencam de forma exaustiva todas as componentes e áreas em que a aprendizagem do xadrez tem aplicação, a saber por exemplo: • Competência de pensamento. • Pensamento Crítico e Criativo – O Xadrez no processo educativo. • O Xadrez como ferramenta educativa. • As vantagens educativas do xadrez. • Competências psicomotoras. • Competências STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics). • Competências cognitivas. • Sentido ético. • TDAH (Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperactividade) e autismo. Para apenas referir estes, possivelmente os mais interessantes e apelativos a quem tiver de tomar a decisão política. Algumas referências na introdução deste documento são elucidativas; • “O valor do xadrez como ferramenta para a educação e os seus benefícios sociais foram pela primeira vez reconhecidos por Benjamin Franklin em 1786”. Já lá vai algum tempo convenhamos. FUNDAMENTAÇÃO Estas são as razões e benefícios da introdução do xadrez no ensino 36
escolar, mas que colhem suporte político na recomendação do Parlamento Europeu abaixo indicada. Declaration of the European Parliament of 15 March 2012 on the introduction of the programme ‘Chess in School’ in the educational systems of the European Union. Esta mesma declaração num dos seus considerandos refere; “considerando que as crianças em qualquer idade, podem no xadrez melhorar a sua concentração, paciência e persistência, e desenvolver os sentidos de criatividade, intuição, memória, e competências analíticas e de construção de decisão; bem como o xadrez também cultiva a determinação, motivação e desportivismo”. Em consequência recomenda; “Recomenda a Comissão e os Estados Membros a encorajar a introdução do programa ‘Chess in School’ no sistema educacional dos Estados Membros”. Que mais precisamos para convencer os nossos políticos? Talvez apenas mais esta achega. Em todo o mundo cerca de 30 milhões de crianças participam em programas de ensino do xadrez em ambiente escolar, destes cerca de 6 a 7 milhões estão na Europa. Há um abecedário quase completo com cerca de 138 países, grandes ou pequenos, em todo o mundo com programas de Chess in School. Em 138 países Portugal não consta? - “shame ARTIGOS
on us”. A Arménia foi a primeira nação (2011) a introduzir o xadrez como parte obrigatória do plano de estudos na escola. A Universidade Estatal Pedagógica é uma das principais instituições de investigação no mundo a estudar as vantagens do xadrez educativo. As escolas Arménias ensinam xadrez como uma matéria puramente académica, pelo que o xadrez é utilizado como uma ferramenta educativa, não competitiva. A lista transcrita do documento da FIDE, em castelhano, dá bem a dimensão dos países já com programas em pleno funcionamento. “Australia, Austria, Azerbaiyán, Bahamas, Bahrein, Barbados, Bélgica, Belice, Bielorrusia, Bolivia, Bosnia y Hercegovina, Brasil, Bulgaria, Burkina Faso, Burundi, Camerún, Canadá, China, Chipre, Colombia, Comoras, Corea del Sur, Costa de Marfim, Costa Rica, Croacia, Cuba, Dinamarca, Egipto, EE. UU.,El Salvador, Escocia, Eslovaquia, Eslovenia,España, Estonia, Etiopía, Finlandia, Francia, Gales, Georgia, Ghana, Grecia, Guam, Guatemala, Guernsey, Haití, Honduras, Hungría, India tiene alrededor de 17 millones de niños involucrados en todo el país, especialmente en los estados de Gujarat y Tamil Nadu, donde el ajedrez forma parte del plan de estudios. Inglaterra, Irán, Irlanda, Islandia, Islas Feroe, Islas Vírgenes
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Británicas, Islas Vírgenes de EE. UU., Israel, Italia, Jamaica, Japón, Jersey, Jordania, Kenia, Kirguistán, Kuwait, Laos, Lesotho, Letonia, Líbano, Liechtenstein, Lituania, Luxemburgo, Macao, Macedonia, Madagascar, Malawi, Mali, Malta, Marruecos, Mauricio, Mauritania, México, Moldavia, Mongolia, Nepal, Nicaragua, Nigeria, Noruega, Omán, Países Bajos, Pakistán, Palau, Palestina, Panamá, Paraguay, Perú, Polonia, Puerto Rico, Qatar, República Checa, República Dominicana, Ruanda, Rumania, Rusia, San Marino, Senegal, Serbia, Singapur, Somalia, Sri Lanka, Sudáfrica, Sudán, Suiza, Swazilandia, Suecia tiene un programa excelente llamado Schack4an, que proporciona un modelo espléndido para proyectos que tratan de potenciar al máximo la integración social. Tailandia, Tanzania, Togo, Trinidad y Tobago, Túnez, Turquía, Ucrania, Uruguay, Venezuela, Vietnam, Yemen, Zambia, Zimbabue”.
Será que Portugal vai brevemente engrossar esta lista? Espero bem que sim para o bem da nossa modalidade. Este texto é escrito a título individual e as opiniões aqui expressas não vinculam a Direção da FPX, da qual faço parte, muito embora sinta que, no essencial, o que aqui expus é consensual. Termino com uma frase que considero lapidar no que a este tema diz respeito. We face in our modern, splintered world not only a crisis in education, but more pointedly a crisis of understanding - of thought and of willingness to engage in thought. Thinking tools like chess, help our minds expand, grow comfortable with abstraction and learn to navigate complex systems. From the book The Immortal Game by David Shenk. Por Pedro Vinagre
Projeto Felgueiras Xadrez O Projeto “Felgueiras Xadrez”, implementado pelo Município de Felgueiras desde janeiro de 2017, resulta do reconhecimento da necessidade de implementar uma estratégia municipal especificamente direcionada para a área da Educação, com o claro propósito de potenciar uma melhoria dos resultados escolares dos alunos das escolas do concelho de Felgueiras. A opção pelo Xadrez fundamentou-se na extensa
bibliografia e estudos académicos comprovadores dos efeitos do Xadrez na melhoria dos resultados escolares dos alunos, contribuindo para o seu sucesso escolar, bem como no contributo deste para a redução dos incidentes críticos em contexto escolar e na promoção dos valores de Cidadania entre os seus praticantes. Não havendo uma tradição xadrezística no concelho, houve a necessidade de um trabalho
ARTIGOS
prévio de análise das condições pré-existentes, possibilitando delinear um plano estratégico abrangendo o curto, o médio e o longo prazo, cujos propósitos basilares são a implementação do Xadrez nas escolas, a divulgação e promoção do Xadrez junto da comunidade e a vinculação
37
esforços de todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem na promoção da aprendizagem e prática do Xadrez em contexto educativo e escolar; • Por último, a promoção e acolhimento de eventos de cariz oficial de âmbito intermunicipal, distrital e nacional, vinculando o Xadrez ao Município de Felgueiras.
do Xadrez ao concelho de Felgueiras, assumindo o papel de polo agregador das dinâmicas xadrezísticas da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa. Nesse sentido, foram definidas as linhas orientadoras das ações a desenvolver: • Uma primeira focada em estabelecer uma colaboração e parceria com as duas entidades institucionais responsáveis pelo Xadrez quer a nível distrital (Associação de Xadrez do Porto - AXP), quer a nível nacional (Federação Portuguesa de Xadrez - FPX), com o propósito de o Projeto “Felgueiras Xadrez”
38
contar com a colaboração e parceria desta duas entidades e se integrar nos seus planos de promoção do Xadrez; • Uma segunda destinada à preparação dos profissionais responsáveis pela implementação do ensino do Xadrez nas escolas, dotando-os das competências necessárias para introduzirem e ensinarem Xadrez nas suas aulas; • Uma outra destinada à divulgação do Xadrez junto das escolas e dos alunos, bem como de toda a comunidade, sensibilizando-os para esta modalidade desportiva e procurando congregar os
ARTIGOS
A concretização da primeira linha orientadora iniciou-se com o realizar de reuniões com os responsáveis máximos pelas duas entidades (FPX e AXP), seguindose o estabelecer de protocolos de parceria e de colaboração, dos quais resulta um apoio mútuo na promoção e divulgação das atividades dinamizadas, quer pelo Município, quer pela AXP e pela FPX. Quanto à formação de um conjunto de profissionais dotados das competências necessárias para o ensino do Xadrez em contexto escolar, houve um delinear de um plano de formação, no qual se integraram formações internas e duas ações formativas, resultantes do concretizar da primeira linha orientadora, envolvendo
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
a Federação Portuguesa de Xadrez (curso de Treinador de Grau I – Xadrez) e a Associação de Xadrez do Porto (ação de formação “Organização de um torneio de Xadrez: Da sala de aula ao contexto competitivo”). No respeitante à terceira linha
orientadora, inicialmente houve uma apresentação do projeto aos órgãos de gestão dos Agrupamentos de Escolas do concelho de forma a avaliar a sua recetividade e interesse em integrar o Projeto “Felgueiras Xadrez”. O passo seguinte foi a divulgação do Xadrez junto dos alunos e docentes do 1.º ciclo do ensino básico e a introdução, de forma experimental, do Xadrez em algumas das turmas do 1.º ciclo de Ensino Básico através das Atividades de Enriquecimento Curricular, ainda durante o decurso do ano letivo 2016/2017, de forma a avaliar a recetividade e adesão dos alunos a esta nova oferta. Em virtude da adesão verificada por parte dos alunos e a vontade manifestada por parte dos Agrupamentos de Escolas de integrarem, a partir do ano letivo 2017/2018, o Xadrez constituise como uma das Atividades de Enriquecimento Curricular oferecidas aos alunos. Fruto do interesse manifestado por alunos, por professores, por pais e encarregados de educação e também pelos órgãos de gestão das escolas, no ano letivo 2017/18, são mais de 450 alunos, distribuídos por 34 turmas do 1.º ciclo do Ensino Básico, a contactarem, a
aprenderem e a aperfeiçoarem as suas competências no âmbito do Xadrez. Um dos efeitos do trabalho já desenvolvido foi a abertura de dois grupos-equipa de Xadrez, no âmbito do Desporto Escolar, contribuindo assim para a abertura, no presente ano letivo, do Quadro Competitivo de Xadrez no âmbito da Coordenação Local do Desporto Escolar do Tâmega, assumindo o Agrupamento de Escolas de Felgueiras a responsabilidade de acolher e organizar a fase competitiva de âmbito local. Cientes da importância do envolvimento e adesão de toda a comunidade para o sucesso deste projeto, tal como definido na segunda linha
ARTIGOS
orientadora, foram delineados momentos de divulgação e sensibilização da importância do Xadrez direcionados para o público em geral, destacandose a realização de workshops de aprendizagem, abertos a todos os interessados, na Biblioteca e Arquivo Municipal de Felgueiras. A concretização da quarta linha orientadora avançou no ano de 2017 com a realização de duas provas competitivas integradas no plano de competições da Associação de Xadrez do Porto: o Campeonato Distrital de Rápidas Jovem 2017 e o Open Jovem de Felgueiras 2017. Ainda integrado nesta linha orientadora, o Município de Felgueiras acolheu Estágio de
39
Preparação da Seleção Nacional Jovem (Norte), em julho de 2017, inserido na preparação dos jovens xadrezistas nacionais para o Campeonato Europeu disputado na Roménia e para o Mundial de Juniores, que teve lugar em Itália. Dando continuidade a esse esforço de divulgação, sensibilização e envolvimento de toda comunidade para o sucesso deste projeto, o Município de Felgueiras promoverá, no dia 20 de abril de 2018, o I Congresso “Felgueiras Xadrez”, dedicado ao tema “Xadrez – um passo para o sucesso escolar”. Entre os oradores encontram-se os Mestres Internacionais António Fróis e Sérgio Rocha, duas figuras de reconhecido mérito no contexto xadrezístico nacional e com uma vasta experiência no ensino do Xadrez, pretendendose, com a sua presença e as suas intervenções, enriquecer os conhecimentos de todos
os presentes e possibilitar uma ainda maior implantação do Xadrez, quer em Felgueiras, quer no território da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa. Este evento conta com o apoio institucional da Federação Portuguesa de Xadrez, da Associação de Xadrez do Porto e do Centro de Formação dos Agrupamentos de Escolas Sousa Nascente, no claro reconhecimento das mais-valias do Xadrez quer para os alunos, quer para a comunidade, bem como do potencial do Projeto “Felgueiras Xadrez” enquanto promotor do sucesso escolar. A realização deste congresso insere-se numa estratégia de consolidação do projeto “Felgueiras Xadrez” e no afirmar de Felgueiras como o polo agregador e catalisador da prática do Xadrez no contexto da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa. Reconhecida pelos professores,
agrupamentos de escolas e pela comunidade em geral como uma estratégia potenciadora do sucesso dos seus praticantes, quer enquanto alunos, quer enquanto cidadãos, o Município de Felgueiras pretende alargar, no médio prazo, esta oferta a todos os níveis de ensino e continuando a promover o Xadrez junto da comunidade.
por Presidente da Câmara Municipal de Felgueiras, Dr. Nuno Fonseca
Campeonato Europeu de Jovens: Reflexões de um treinador Em Setembro de 2017 voltei a fazer parte de uma equipa de Treinadores da FPX integrado na comitiva da representação nacional ao Campeonato da Europa de Categorias jovens , em Mamaia na Roménia. A Equipa Técnica Fomos 4 treinadores, o Mestre Vítor Guerra que foi o Chefe da Delegação, a Mestre Margarida Coimbra, o Mestre Paulo Costa , e eu próprio . Quero desde salientar o extraordinário trabalho do Vítor, e a excelência da colaboração da Margarida e do Paulo. 40
Foi com grande prazer que integrei esta equipa de Treinadores Portugueses de Xadrez . A Viagem e a Comitiva Portuguesa Fomos mais de 30 Portugueses entre jovens, pais e treinadores que viajamos até Mamaia para esta grande aventura. O ambiente foi muito bom entre toda a comitiva, havendo imensos momentos de convívio, idas à praia e á piscina, visitas ao teleférico, um almoço muito divertido no dia descanso, e penso que toda a gente conseguiu colaborar para criar um bom clima humano neste ARTIGOS
quase 15 dias de intenso convívio. A Viagem Chegamos 2 dias antes, o que nos permitiu preparar com alguma eficácia o modo de funcionamento da delegação durante a prova. A Competição Esta prova teve 9 jornadas , com um dia de descanso pelo meio. Para a quase totalidade dos jovens portugueses, esta duração é inédita, uma vez que em Portugal o Campeonatos Nacionais de jovens têm apenas 7 jornadas em 5 dias.
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
A comitiva portuguesa foi composta por 19 jovens, divididos em 3 partes: a maior parte deles campeões nacionais da sua categoria absoluta ou feminina, outro grupo foram os jovens que tendo ficado nos 5 primeiros dos seus campeonatos nacionais, as famílias resolveram suportar as despesas da sua participação , e o Mestre André Sousa que foi proposto pela Comissão Técnica da FPX . Salientou-se o Mestre André Sousa, que subiu o seu Ranking e jogou todo o torneio nas mesas da Frente . André deixou escapar na última jornada a hipótese de pódio, contra um jovem espanhol com Elo superior a 2500! Será que casos de exceção como o André justificarão no futuro um Treinador pessoal para o acompanhar durante a prova ? A grande maioria dos outros jovens portugueses fez menos de 50 % dos pontos . Como contribuir para melhorar significativamente este resultado num futuro a curto / médio prazo?
trabalho durante todo o ano com algum jovem , como eu entendo que deveria ser . Assim sendo faz-se o melhor possível com as condições que nos dão ,que estão muito longe de serem as ideais. Apesar destas dificuldades, tivemos Ruben Pereira Vice Campeão Mundial de Sub 16, Ana Filipa Batista Campeã da União Europeia em Sub 14 Femininos, Ana Meireles Vice Campeã da União Europeia em Sub 12 Femininos , Pedro Neves Bronze na União Europeia em Sub 12 Absolutos, Ana Rato 2 vezes medalha de prata em Sub 10 Feminino na União Europeia, etc, etc . No momento em que escrevo este artigo temos o jovem Viterbo a chegar brilhantemente a Grande Mestre.
O Futuro Escrevo oficialmente sobre estes temas desde 2001, quando integrei pela primeira vez a comitiva portuguesa a uma prova de jovens da FIDE. Em 1981/1982 joguei em Goningen o Campeonato da Europa de Juniores , como representante nacional a essa prova . Em 1983 acompanhei o meu amigo Mestre Nacional Fernando Luís Melão Pereira ao Mundial de Juniores Belfort. Foi a minha primeira experiência como Treinador, nas condições da Época . Em 2005, apresentei um trabalho à FIDE sobre as Representações de uma Delegação Internacional de jovens , onde tento apresentar sugestões para o futuro . No nosso país não existe uma cultura que permita fazer um
A Necessidade de Torneios Todos Contra Todos Parece-me evidente que são necessários torneios todos contra todos entre os jovens para haver mais justiça no apuramento dos vencedores, e por outro lado, a competição ser mais difícil para todos, o que dará aos jovens melhor preparação para as competições .
Conclusões Os Portugueses têm tantas qualidades como todos os outros. Talento existe agora e sempre existiu. Mas em cada caso, é imprescindível os 95% de suor.
Porquê os Matches Se necessário devem os agentes do xadrez, sejam eles treinadores, ou dirigentes de clubes organizar matches entre os jovens, porque o encontro um para um é o mais difícil do xadrez, mas também o que mais ajuda um xadrezista a conhecer-se e a crescer interiormente .
Escrito No Seminário da FIDE organizado em Fevereiro de 2018 em Lisboa, ficou claro que um jovem deve comentar as suas partidas por escrito, e esse comentários devem depois ser discutidos com os treinadores e os colegas de clube ou de seleção . É um trabalho duro, mas que dá resultados . Aspetos Físicos e Emocionais da Competição Desportiva O Xadrez é um desporto com as características semelhantes a outros desportos individuais. Por isso, quem quer um desportista eficaz tem de pensar, na sua preparação física , na sua preparação psicológica, e na sua alimentação e sono . Tudo isto já é matéria a nível mundial contemplada no Curso de Treinador da FIDE. Para terminar , agradeço à FPX o convite para estar na Roménia ,e voltei ainda mais motivado para tentar contribuir para a evolução deste Xadrez Jovem Português. Gens Una Sumus
Por António Fróis
Análise das Próprias Partidas por ARTIGOS
41
Campeonato Europeu de Jovens:
Reflexões de um Encarregado de Educação Preparação e participação do Daniel no Campeonato Europeu de Jovens 2017 (4 a 15 Setembro na Mamaia, Roménia) A participação do Daniel no Europeu de Jovens na Mamaia foi uma agradável surpresa, pois geralmente só o Campeão Absoluto e Campeã Feminina, de cada escalão, são selecionados. Felicito por isso a Federação Portuguesa de Xadrez por ter alargado na época 2016/2017 a participação a mais atletas com base em critérios específicos. Na minha opinião, este alargamento é positivo e ajuda os jovens a aumentar os níveis de competitividade e tomar consciência do nível mundial de xadrez. Como o Daniel reunia os critérios para a sua integração pergunteilhe se gostaria de participar. Respondeu logo afirmativamente com muito entusiasmo! Antes de tomar uma decisão, perguntei a opinião do MI António Fróis. O Mestre foi sincero e elucidativo, não me aconselhou a leválo dado ser um investimento elevado e poder utilizar a mesma verba em cerca de 5 torneios. No entanto, a persistência do Daniel convenceu-me a mim e ao meu marido e aceitamos o desafio do Europeu. Eu estava ciente do grau de dificuldade dada a conversa com o MI António Fróis, portanto, proporcionei-lhe mais “arcaboiço”. Para isso, o Daniel participou em estágios com diferentes formadores: Mestre FIDE José Padeiro (organização pelo Pedro Areal), Paulo Costa 42
(organizado pelo Jorge Barrento), GM Michael Oratovsky (MondarizBalneário). Também participou em torneios: Profigaia Open, Torneio Internacional Cidade de Famalicão e Abierto Internacional de Ajedrez Hotel CEMAR. A motivação estava presente, mas há todo um conjunto de fatores externos que influenciam o desempenho dos jogadores. Fui mentalizando o Daniel sobre várias dificuldades que poderíamos enfrentar: alimentação e clima diferente, saudades da família, cansaço, jogos longos e de elevado nível. De malas feitas rumo à Roménia Durante a viagem de avião para a Roménia, o Daniel confessoume que tinha por objetivo fazer 4,5 pontos em 9. Assustei-me um pouco, mas eu mesmo lhe ensino a acreditar e ter fé em Deus, pois “Tudo é possível ao que crê!”. A comitiva portuguesa chegou com dois dias de antecedência, o que foi muito positivo, pois permitiu o repouso e adaptação dos jogadores.
ARTIGOS
A nossa primeira dificuldade surgiu com o quarto de hotel: pequeno e quente, casa de banho antiquada. Não foi possível resolver a situação, pois não havia quartos disponíveis, portanto, tínhamos de nos adaptar às condições. A segunda dificuldade foi a alimentação: muito repetitiva e com pouca variedade. Felizmente, como estávamos numa zona turística não faltavam supermercados, quiosques e restaurantes para colmatar este ponto. A maior dificuldade veio à noite: conseguir adormecer num quarto quente mesmo com ar condicionado. Tínhamos de recolher às 22 horas e era difícil adormecer. Tivemos de pôr a nossa resiliência em ação e superar as adversidades. Como ponto muito positivo saliento a proximidade do hotel do local de jogo, a deslocação era feita a pé, não dependendo de transporte.
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
O dia-a-dia do Europeu Cada jogador ficou inserido num grupo de trabalho. O Daniel Silva ficou no grupo orientado pelo chefe de comitiva Vítor Guerra com os seguintes jogadores: Camila Avelino, Filipa Pipiras, Filipe Bártolo e Beatriz Areal. Como os jogos eram à tarde, os treinos de preparação eram de manhã. Aqui o Daniel teve um pouco de dificuldade porque já adormecia tardiamente, devido ao quarto estar abafado. Os treinos passaram a ter um horário rotativo para permitir maior descanso. Pareceu-me de facto a melhor resolução. Antes da saída para os jogos o Daniel gostava de fazer uma massagem nas cadeiras do hotel para relaxar e aguentar as longas horas de jogo.
Próximo da hora de jogo o grupo reunia e lá íamos a pé. Cada jogo era uma grande prova de esforço, uma vez que um jogo durava cerca de 4/5 horas. Eu podia acompanhar o Daniel até à mesa, tirar umas fotos e depois ele ficava entregue a si próprio. Ninguém podia permanecer lá dentro. A hora de saída não era previsível. Inicialmente aguardava, junto ao pavilhão, a saída inesperada do Daniel. Depois comecei a dar umas caminhadas com a mãe do Filipe Bártolo - a prof.ª
Lurdes e aproveitávamos para reabastecer o stock alimentar para os nossos filhotes. Quando terminavam de jogar, ligavamnos e íamos de imediato. À medida que os jogadores saíam, tentávamos ler os rostos e dar apoio moral. Não é agradável ver desânimo. Quanto ao Daniel, vinha cansado mas feliz por dar o seu melhor. O trabalho era sempre contínuo, após a saída do jogo seguiam-se as análises das partidas com o treinador disponível.
Aproveitavam também para recarregar baterias, não faltavam rulotes com hambúrgueres, kebabs, waffles, etc. Depois era o regresso ao hotel e jantarmos. Após o jantar, por vezes, ainda tínhamos reuniões. O descanso e o convívio Nos dias que lá estivemos, os jogadores só tiveram um dia de folga, quando era possível relaxavam na piscina, na praia, ARTIGOS
no Mar Negro, em caminhadas ou a saborear uns crepes com Nutella ou outras iguarias! Ficam aqui o registo de algumas fotos de convívio!
Conclusão Tendo em conta que foi a primeira participação do Daniel neste tipo de provas, o balanço foi positivo pelo bom desempenho do Daniel. Alcançou a pontuação que tinha mentalizado de 4,5 em 9. Ficou muito feliz pela confiança que depositamos nele e também pelas novas amizades que fez. A participação num Europeu tem de ser ponderada por pais e treinadores. Como já referi, a motivação não é suficiente. A resiliência tornase determinante para superar as diversas dificuldades que possam aparecer. É fundamental mentalizar os jovens para essas 43
dificuldades e ficarem bem cientes do trabalho duro e diário que os espera. Representar um país, uma nação, é motivo de orgulho mas também de muita responsabilidade. Agradecemos todo o apoio que nos é dado pela Academia de Xadrez de Gaia, pela família, amigos, treinadores e colegas. Para nós, o Gaia é mais do que um clube, é uma família! 5/03/2018 Por Marisa Silva
O clube Profigaia / Escola Profissional de Gaia Gostaria de vos escrever sobre o clube que represento, o Profigaia. Durante a presente época, 2017/2018, algo mudou no clube. Se no início da época as coisas pareciam que se podiam agravar, com a incerteza da permanência da equipa B na terceira divisão e com o eventual risco de a equipa desaparecer, a verdade é que tudo isso foi ultrapassado com persistência e esperança por parte dos membros de que tudo era possível resolver-se da melhor maneira. Na verdade, não só a manutenção da equipa B foi possível, como também a equipa não se extinguiu. Esta época também fica marcada pela chegada ao clube de novos jogadores, que funcionaram como uma lufada de ar fresco para o clube, dada a sua dinâmica e vontade em dinamizar atividades que fortalecem o espírito de grupo e em melhorar as relações sociais existentes entre todos. Posto isto, já se realizaram encontros convívio entre os jogadores, algo que não acontecia anteriormente no clube, bem como já foi efetuado um torneio interno entre o Profigaia e a AX Gaia num formato que agradou a todos, e que permitiu passar um período agradável na companhia de todos. Resta-me agradecer a todos os meus colegas de clube, sem exceção, por proporcionarem que este 44
ambiente tenha sido possível de criar e que permite uma maior aproximação entre todos. Desejo que esta simbiose que se tem verificado no seio de todo o clube e que tem sido notável, continue por várias épocas.
Encontro convívio entre os jogadores do Profigaia- Da esq. Para a direita: Tiago Pinto, João Castro, Emídio Leite, Mário Sousa, Miguel Ferreira, Bruno figueiredo, José Margarido, Francisco Mateus, Hugo Sousa, Edgar Taveira, Simão Pintor, Pedro Marinho e Wilson Soares.
ARTIGOS
Por Pedro Marinho
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
A promoção do Xadrez nas Escolas – desafios A introdução do Xadrez nas escolas do sistema de ensino público nacional tem assistido a avanços e recuos, dependendo muitas vezes de fatores circunstanciais e não de projetos sustentados, capazes de se consolidarem e serem assumidos como reais apostas de continuidade. Existem claras exceções, quais faróis em noite de nevoeiro, comprovando a tese de assim havendo vontade há a possibilidade de a presença do Xadrez em contexto escolar se tornar uma realidade tão comum quanto se verifica em outras latitudes. A Declaração 50/2011 do Parlamento Europeu, certeiramente denominada de “Xadrez na Escola”, exorta os estados-membros da União Europeia a introduzirem o Xadrez nos seus sistemas de ensino. Na vizinha Espanha, em 2015, a Comissão de Educação do Congresso dos Deputados instou o Governo a dar seguimento à já mencionada declaração do Parlamento Europeu, e introduzir o Xadrez como uma das disciplinas integrantes do sistema de ensino espanhol. Nas diferentes regiões autonómicas espanholas o Xadrez encontrava-se, já em 2015, implementado como uma disciplina integrante do currículo em mais de 300 escolas e como uma disciplina opcional em mais de 1000. A realidade portuguesa em 2018 está ainda longe da realidade espanhola de 2015, sendo ainda longo o caminho a percorrer pelo Xadrez e pelos seus entusiastas para a presença desta arte e desporto se implementar de forma consistente e duradoura
em contexto escolar. Entre os vários desafios a ultrapassar há a questão, muitas vezes levantada, sobre o Xadrez ser uma modalidade desportiva ou apenas uma atividade lúdica. A perceção de o Xadrez ser “apenas um jogo” reduz a sua capacidade de afirmação, tanto mais não existir nos planos de estudos do ensino superior público uma unidade curricular especificamente destinada ao Xadrez e às formas de introdução deste em contexto escolar. Daqui resulta a necessidade de uma consciencialização por parte das instituições de ensino superior em se debruçarem sobre o Xadrez e as suas especificidades, de forma a existir uma formação de professores com competências no domínio do ensino do Xadrez em contexto escolar. Uma outra ideia muito cristalizada é a de o “Xadrez é uma coisa para os inteligentes”. Não sendo propósito desta reflexão definir inteligência, as correntes atuais defendem cada vez mais a existência de inteligências diversificadas, grosso modo, um conjunto alargado de conhecimentos, saberes e competências em determinada área. Desconstruir esta ideia é um outro desafio como forma a de levar o Xadrez a todas as realidades sociais, a todos os contextos socioeconómicos, e estabelecendo de forma o Xadrez como um desporto para todos, independente dos resultados escolares ou do estrato social ao qual possam pertencer. No contexto escolar a persistência do Xadrez debate-se com o desafio da instabilidade ARTIGOS
do corpo docente. Não raras vezes a existência de um clube de xadrez e/ou um grupo equipa de Xadrez no âmbito do Desporto Escolar deve-se à presença de um ou uma qualquer entusiasta pela arte da 64 casas entre o corpo docente do Agrupamento ou Escola não-Agrupada. Quando se verifica a saída desse ou dessa entusiasta o Xadrez perde a sua força motriz e esvanece-se entre as inúmeras (igualmente importantes) atividades existentes. Para uma consistente e continuada presença do Xadrez na Escola assume-se como crucial uma aposta na oferta de formação específica a quem trabalha diariamente com os alunos em contexto educativo. Importa ressalvar a premência desta formação incidir sobre duas vertentes, cada uma delas vital para o alcançar do objetivo final: uma vertente deverá centrar-se nas especificidades do Xadrez enquanto modalidade desportiva, e uma outra centrada nas estratégias pedagógicas e lúdico-didáticas, as quais capacitarão os professores para delas fazerem uso no seu esforço de divulgação e implementação do Xadrez em contexto escola e, numa fase posterior, em contexto de aula. E esta presença (efetiva) em contexto de sala de aula apenas se concretizará quando as escolas tiverem, entre os seus recursos, tabuleiros e peças de Xadrez em número suficiente para todos os alunos puderem ter um contacto inicial com este o mundo do tabuleiro de Xadrez e de forma gradual irem alargando as suas competências xadrezísticas. No momento presente com a 45
aprovação do Regime de Autonomia e Flexibilidade Curricular abre-se uma janela para o Xadrez se afirmar no contexto educativo, quer enquanto modalidade desportiva mas também (e essencialmente?) como uma estratégia educativa potenciadora dos resultados escolares. Para tal exige-se uma sensibilização do Ministério da Educação, dos Agrupamentos de Escolas, das Escolas não Agrupadas, e por último, mas
não menos essenciais, dos professores para as, já academicamente comprovadas, potencialidades da presença do Xadrez em contexto escolar. O ultrapassar destes desafios de certeza conduzirá o Xadrez a lugar de destaque quer no contexto educativo, quer no contexto desportivo.
PROJETO DIVERTIR COM O SABER
46
ARTIGOS
Por Vítor Cardoso
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
O Xadrez com o divertir com o Saber Divertir com o Saber é uma iniciativa do Munícipio de Gaia, promovida pela Unidade de Ação Social da Gaiurb e tem como público-alvo as crianças residentes nos empreendimentos sociais. O seu principal objetivo é proporcionar espaços alternativos de aprendizagem, permitindo uma (re) descoberta de saberes, de âmbito interdisciplinar, com especial enfoque na matemática. O projeto encontrase em funcionamento em 18 salas abrangendo um total de cerca de 200 crianças. A matemática, disciplina ora amada ora odiada, está inevitavelmente presente em quase tudo o que fazemos no nosso quotidiano e, não fosse o xadrez uma questão de matemática, levamos este Jogo até às nossas crianças, onde, de uma forma divertida, se trabalham diversas competências essenciais ao equilibrado desenvolvimento de uma criança. É neste momento que o xadrez é para o Divertir com o Saber uma
matéria formativa de excelência, já que permite o desenvolvimento de capacidades cognitivas que ajudam as crianças a compreender melhor o mundo que as rodeia. Contudo, neste projeto o trabalho dos professores, na maioria das vezes vai além do ensinar os números ou ensinar a mexer a peça no tabuleiro de xadrez…exercita-se o chamado trabalho de educar as emoções e os afetos, porque os professores precisam de saber quem são os seus alunos através dos sonhos que levam e dos tormentos que vivem quer em casa quer na escola… O xadrez tem a nobre missão de ensinar a pensar e a agir de forma autónoma, não fosse este jogo, uma contínua sucessão de problemas a resolver, tal como, no fundo é a Vida de todos nós. Por Catarina Ciríaco
As crianças dos empreendimentos sociais de Vila Nova de Gaia ganharam novas ferramentas educativas, após a conclusão do primeiro ano letivo do projeto Divertir com Saber - Xadrez O ensino do Xadrez no âmbito do projeto Divertir com o Saber foi
Aula de matemática no empreendimento D. Manuel Martins
concebido e desenvolvido como um instrumento que imprime à educação das crianças envolvidas válidos contributos para o seu desenvolvimento cognitivo, para a educação social e desportiva, para atingir objetivos culturais, ampliar conhecimentos e para o desenvolvimento pessoal e formação do caráter. Neste contexto, o xadrez, tratando-se de um desporto do intelecto, é igualmente uma privilegiada ferramenta para o desenvolvimento de toda e qualquer criança e adolescente e, nesta perspetiva, pode funcionar como um verdadeiro instrumento de inclusão social, e como tal deve ser entendido no Projeto. Assim, foi feita individualmente a cada criança de todos os empreendimentos uma avaliação final alicerçada em quatro grupos de objetivos/competências a serem trabalhados/alcançados, designadamente: • Competências cognitivas; • Educação social e desportiva; • Cultura xadrezística e de ampliação de conhecimentos; • Desenvolvimento pessoal, social e de formação do caráter. No que toca ao primeiro destes grupos (domínio cognitivo) verificamos que foram desenvolvidas com grande sucesso pela maioria das crianças as competências de atenção e
Aula de Xadrez no Empreendimento Eusébio da Silva Ferreira
ARTIGOS
47
Aulas no Empreendimento de Perosinho
concentração, a capacidade de raciocínio lógico-matemático, a criatividade e imaginação e a capacidade de memória. É de considerar que qualquer destas competências é essencial ao sucesso escolar dos estudantes, pelo que o contributo do xadrez para esse fim é em si precioso. Neste grupo de competências ficaram com resultados menos unânimes o pensamento crítico e a capacidade de resolução de problemas. Este dado poderá encontrar explicação no facto de se tratarem de competências que exigem um grau de maturidade e autonomia que estas crianças, ou pela idade ou pelas vivências pessoais, ainda não têm.
Xadrez de calculo mental
O segundo grupo de competências (educação social e desportiva) foi aquele em que se registaram menos parâmetros realizados, salientando-se apenas como alcançado plenamente o desenvolvimento de relações interpessoais equilibradas e construtivas. As competências 48
que se apresentaram menos concordantes na avaliação final foram o cumprimento de regras, leis de competição e normas de comportamento, a valorização e respeito do silêncio como fonte de concentração e a aceitação com desportivismo do resultado da partida. Também aqui a imaturidade poderá ter influenciado o resultado. Além desta, a própria falta de cultura social de aceitação dos resultados desportivos, instituída de um modo geral na sociedade, poderá ser outra causa. É no entanto muito louvável e útil para a convivência e coesão social a competência que foi alcançada, sendo ela o desenvolvimento de relações interpessoais equilibradas e construtivas. No que toca ao terceiro grupo de competências (cultura xadrezística e de ampliação de conhecimentos) manifestase interessante verificar que aquela que se manifestou mais concordante foi o interesse em aprofundar o conhecimento do Xadrez, dos seus elementos e normas básicas, o que denota o grau de motivação que o ensino deste desporto está a despertar nas crianças do Projeto. Dada a complexidade deste grupo de competências, que exige até dos alunos algum hábito com a modalidade, ainda não conseguido com o escasso ARTIGOS
número de aulas que os mesmos tiveram, não surpreende que os parâmetros que terão de ser mais trabalhados no futuro sejam a utilização correta dos códigos associados à linguagem xadrezística e o conhecimento de aspetos culturais relativos ao Xadrez. O último grupo de competências avaliadas (desenvolvimento pessoal, social e de formação do caráter), além de ser um dos que apresenta dados mais satisfatórios é também dos mais importantes para os objetivos do Projeto. Foram alcançados com muito êxito a capacidade de antecipação das vantagens e inconvenientes de uma decisão e de planificar antecipadamente as respostas a possíveis situações, a capacidade de se responsabilizar pelos próprios atos, reconhecendo os lances certos e os erros cometidos, o desenvolvimento da autoestima e capacidade de superação, valorizando o seu próprio progresso e adquirindo um nível adequado de autoconfiança, a capacidade de decisão, mediante a eleição de várias alternativas, num tempo limitado, a perseverança na abordagem de tarefas e na resolução de problemas e as iniciativas dentro de grupos com intenções de crítica construtiva. Dadas as difíceis vivências pessoais de muitas das crianças envolvidas neste Projeto, regozija-nos a perceção de que as aulas de xadrez e a aquisição das mais-valias desta modalidade estarão a contribuir para melhorar aspetos como a autoestima e a perseverança das mesmas. As competências menos conseguidas dentro deste grupo são também aquelas que exigem maior amadurecimento e autoconfiança, ainda em construção, tais como a capacidade de análise sistemática dos problemas, utilizando procedimentos
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
adequados para obter a informação, selecionála, organizá-la e utilizá-la, a expressão racional de conclusões e soluções de problemas e a análise das questões de pontos de vista diferentes, situando-se na perspetiva do adversário. Elencadas nos quatro domínios aqui expostos, as competências que se pretendiam alcançar com o Projeto, fica-nos a perceção geral de que aquelas que ainda não foram realizadas plenamente estão dependentes do aprofundamento da aprendizagem que poderá ser conseguido com a continuidade das aulas de xadrez no próximo ano letivo. Outro aspeto que se pretende aperfeiçoar futuramente é a vinculação das crianças à competição, dado que esta é uma importante fonte de motivação para a aprendizagem. No ano letivo de 2016/17 foi notório o envolvimento das crianças na competição local que são os Jogos Juvenis. Esta participação é de importância fundamental não só para fomentar a competição mas também para realizar a nossa conceção de projeto em modelo sistémico, dado que fez interrelacionar diferentes agentes, tais como o poder local (juntas de freguesia e câmara municipal), a empresa municipal de habitação social (Gaiurb),
Aulas no Empreendimento Coronel Pinto Simões
a escola (Escola Profissional de Gaia) e o associativismo desportivo (Academia de Xadrez de Gaia). Por Ana Isabel Lopes
O enquadramento do Xadrez como uma aprendizagem eficaz e divertida O Projeto Divertir com o Saber iniciou no ano letivo 2016/2017 o ensino de Xadrez, através de um protocolo celebrado entre a Gaiurb, EM, a Escola Profissional de Gaia e a Academia de Xadrez de Gaia. As sessões de aprendizagem tiveram regularidade semanal, com a duração de 1 hora, tendo
início no mês de outubro de 2016 e final em junho de 2017. O conteúdo destas sessões semanais foi preparado pelos monitores de acordo com uma planificação anual, contendo componente teórica e prática. Foi aplicada uma avaliação inicial de diagnóstico aos alunos e, concluída a formação, uma avaliação final. Pretendia-se com a inclusão do ensino do xadrez no Projeto Divertir com o Saber proporcionar às crianças e adolescentes dos empreendimentos sociais o contacto e desfrute de um desporto/arte/ciência que se apresenta como uma matéria formativa de primeira ordem, uma vez que permite o desenvolvimento de capacidades cognitivas
Ana Isabel Lopes, Sónia Reis e Catarina Ciríaco
ARTIGOS
49
que ajudam a compreender os conhecimentos do mundo atual, desenvolve o pensamento crítico e contribui para a formação integral dos jovens, fornecendo-lhes uma série de valores e formas de conduta que lhes proporcionam a capacidade de pensar e agir de forma autónoma. Traçaram-se como objetivos gerais deste projeto proporcionar às crianças que frequentam o Projeto Divertir com o Saber resultados aos seguintes níveis: desenvolvimento cognitivo; educação social e desportiva; cultura e de ampliação de conhecimentos; desenvolvimento pessoal, social e de formação do caráter. Estes objetivos gerais continham vários objetivos específicos, que foram aferidos inicialmente em avaliação de diagnóstico pelos monitores e testados e validados no momento de conclusão das aulas, através de uma avaliação final individual.
Além da componente formativa, o Projeto de Xadrez envolveu também a componente competitiva deste desporto, uma vez que um número considerável de alunos (selecionado de acordo com a idade e disponibilidade pessoal) participou na edição do ano 2017 dos Jogos Juvenis da Câmara Municipal de Gaia.
Por Sónia Reis
As minhas aulas de Xadrez Este ano, é o segundo ano em que participo no projeto “Divertir com saber”, à novidade acrescentou-se a continuidade, novidade porque possuo um empreendimento novo, Ruy de Carvalho em Vilar do Paraíso e continuidade, porque continuo com os dois empreendimentos em que estava no ano passado, Francisco Pinto Balsemão em Sermonde e Quinta de Monte Grande em Vilar de Andorinho. Todos os empreendimentos possuem as suas caraterísticas, o que permite enriquecer ainda mais toda a experiência. Em Sermonde, tal como nos outros empreendimentos, houve entradas e saídas, os irmãos Filipe e Maribel, continuam com a mesma perseverança que demonstravam o ano passado, estando presentes fim de semana, após fim de semana. O Cláudio e a Cláudia são dois
meninos novos, também irmãos, têm cinco anos e demonstram vontade em estar presente, intercalando a aprendizagem das peças existentes e respetivas posições com a pintura e desenho nas folhas de papel das peças de Xadrez. O Francisco e o Delfim, outra dupla de irmãos, apresentamse também ao sábado com vontade de desenvolver os seus
Empreendimento Francisco Pinto Balsemão
50
ARTIGOS
conhecimentos relativos ao Xadrez, praticando, até porque estes dois meninos quando iniciaram as aulas já possuíam alguns conhecimentos relativos ao Xadrez. Por fim, a Ana, já conhecida do ano anterior e a Jéssica que é nova este ano no Xadrez, também se apresentam ao sábado e sendo as mais velhas, são também um exemplo para os
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
outros meninos. Em Monte Grande, a turma é bastante heterogénea, com mais meninos do que as outras duas turmas que possuo. À semelhança de Sermonde, também em Monte Grande temos vários irmãos, começando pelos mais novos, temos o Adelino e o Adriano que possuem uma energia que parece inesgotável. Outros irmãos, estes já conhecidos do ano anterior, são o André e a Andreia que este ano trouxeram a irmã mais nova a Lara, que com os seus cinco anos possui uma simpatia contagiante. Em relação ao André, o seu conhecimento, no que ao Xadrez diz respeito, já vem do ano anterior, sendo que continua com vontade de praticar e aprender. Por sua vez, a Andreia acompanha os irmãos na aprendizagem do Xadrez. Temos ainda o Duarte e o Rafael que também já são conhecidos do ano passado e que por isso mesmo, possuem uma autonomia superior em relação ao Xadrez, jogando muitas vezes entre eles, até porque não é pelo facto de se conhecerem que aceitam uma derrota sem dar luta.
Empreendimento Quinta do Monte Grande
Os dois últimos meninos são o Cristiano e a Diana. A Diana já frequentava o projeto no ano passado e por isso, já tem alguns conhecimentos. O Cristiano entrou este ano no projeto, contudo, demonstra vontade em aprender, tendo feito já alguns progressos. O último empreendimento é o empreendimento Ruy de Carvalho, cujos meninos só tive o prazer de conhecer este ano,
mas que posso desde já dizer que são impecáveis, todos eles sem exceção, são diligentes, bemdispostos, educados e têm gosto em praticar Xadrez. O João é provavelmente uma das crianças mais bem dispostas que eu já conheci, está sempre pronto para brincar mas também sabe se comportar quando assim é necessário. Os irmãos Ana e Nelson são também muito bem dispostos e estão sempre prontos para alinhar nas brincadeiras, mas claro está, sem descurar o Xadrez e a sua prática semanal. A Iara e a Naiara são mais tímidas, mais sossegadas, sempre prontas para realizar as tarefas que lhes são propostas. Por último, o Pedro é um menino que já possui conhecimentos de Xadrez, tal como todos os outros meninos deste empreendimento e que gosta de praticar todos os sábados que lhe é possível. Estas crianças são crianças que tal como as outras gostam de brincar e conviver, gostam de estar com outras crianças e quando estão nas aulas de Xadrez, não é só o Xadrez que é aprendido, a socialização com as outras crianças, também lhes permitem um desenvolvimento social e afetivo muito importante como aprendizagem para as suas futuras relações interpessoais ao longo das suas vidas. Eu sou também privilegiado por poder ensinar e também aprender com todos estes meninos, porque todos eles com as suas especificidades possuem algo para dar, não se pense que eles só lá estão para aprender. Todos estes meninos quando estão nas aulas de Xadrez estão também a dar o seu tempo, a sua visão das coisas, influenciada como sabemos pelas suas vivências. É por isso que todas aquelas salas são mais do que um lugar de transmissão de conhecimentos, ARTIGOS
são um lugar de partilha de vivências, de partilha de alegrias, por vezes de tristezas, de partilha de conquistas, uma nota num teste, um objetivo alcançado, mas também de fracassos, algo que não correu como queríamos, ou até mesmo, algo que aconteceu e que não dependia de nós, mas que ainda assim nos deixa tristes, afinal são estas imperfeições que nos tornam humanos.
Empreendimento Ruy de Carvalho
Este projeto tem estas caraterísticas, não se trata simplesmente de aulas de Xadrez, trata-se de muito mais que isso, trata-se de partilha, de convívio, de relações humanas entre todos nós. Por isso, se no ano passado, tudo isto era uma novidade para mim e como tal, ia assimilando como podia as novidades, este ano, não sendo uma novidade, não deixa de ter todos os sábados situações novas que me ensinam enquanto professor, mas também que me enriquecem e me tornam mais completo enquanto pessoa. É sem dúvida um projeto maior do que todos nós e só por isso está de parabéns!
Por Bruno Marques
51
Apontamentos de um monitor de Xadrez É importante refletir, testemunhar as vivências, metodologias e resultados obtidos com as aulas de xadrez no empreendimento D. Manuel Martins em de Oliveira do Douro. Como nós sabemos esta modalidade é lecionada em paralelo com a disciplina de Matemática. Como o Projeto propõe “DIVERTIR COM O SABER”, é um espaço (sala de aula) que deveria estar identificado na entrada como: “ESTE É UM LUGAR QUE AJUDA A PENSAR”. É sem dúvida um dos objetivos implícitos neste Projeto, implementado pela Unidade de Ação Social da Gaiurb com o apoio do Munícipio de Gaia e muito bem apoiado e dinamizado pelos respetivos responsáveis de cada Empreendimento Social, com especial destaque para a Dra. Catarina Ciríaco.
52
Não é de mais louvar esta iniciativa e seus promotores. Sobre a metodologia utilizada, destaco por um lado, o rigor da informação técnica, neste caso sobre xadrez e por outro, a pedagogia específica sobre a relação professor – aluno. O monitor, disfarçado de professor, deve, como é do conhecimento geral, reger-se por situações que suscitem uma forte empatia na sua relação individual e coletiva, com a turma ou grupo de trabalho. Talvez mais importante que promover campeões de xadrez, seja reforçar os laços de amizade e respeito, dentro de um quadro de camaradagem que valorizem este tempo e espaço. A par dos afetos, atingidos com seriedade e se possível com a maturidade própria de cada faixa etária, logo
ARTIGOS
decerto surgirão os potenciais amantes do xadrez. Faltando de um modo geral, uma clara regulação ética da sociedade, onde prima a corrupção de valores, é nesta modalidade que em espírito de competição se procura moldar o respeito pelo outro. A par deste fenómeno social, o xadrez pode contribuir e dilatar o nosso conhecimento, alargando o horizonte aos praticantes mais novos. Se o primeiro aspeto considerado anteriormente foi valorizar os afetos, teríamos em 2º lugar, a par da informação e técnica de xadrez, a criatividade. Na metodologia do ensino utilizada, realço mais uma vez a criatividade. Para tal é fundamental a utilização de ferramentas que potenciem a informação e atenção.
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
e Beatriz que perante a dúvida: Gostas de xadrez? A resposta é quase consensual: não gosto, adoro. Resultado pedagógico atingido, não a 100% nas turmas, senão vejamos, a par destas atitudes promissoras teremos a outra faceta dos frequentadores desta sala, como por ex. Ana Rita: “não gosto do xadrez. - Porquê? - Sei lá porque só se aprende xadrez e mais nada”. É oportuno destacar que o nada também é importante na vida.
Dou o exemplo da importância da utilização do tabuleiro mural, a par de um computador pessoal como ferramentas fundamentais na passagem da mensagem. Infelizmente não temos acesso à internet que iria sem dúvida enriquecer a dinâmica da aula. Perante as dificuldades, devemos procurar a melhor solução. Condicionados pela realidade sócio – económica do meio, busquemos soluções criativas, favoráveis ao enriquecimento da aula.
metodologias empregues e, porque não, o premiar dos alunos mais aplicados e responsáveis. Como reflexo destes princípios, diria o meu aluno João Rafael: “Estou a começar a gostar mais do xadrez e comecei a aprender mais”. Quanto ao aluno Renato diria: “É para divertir-me e gostar de jogar!” Já o Afonso Matos, um dos benjamins da equipa, diria a sorrir: “Adorei jogar aquelas peças gigantes”.
Centralizando a nossa análise sobre os alunos, frequentadores deste espaço, devemos almejar um reforço do sucesso educativo como consequência da frequência neste projeto Municipal intitulado “Divertir com o Saber”.
Suscitados estes testemunhos, os alunos numa breve reflexão, sentiram depois das competições, a importância das aprendizagens, destacando “Novas Técnicas e novos Xeques-Mates”, diria ABERTURAS e FINAIS de JOGO.
Se o xadrez, como nós sabemos é uma ótima ferramenta educativa, é, no entanto, FUNDAMENTAL a participação nas competições, seja nos Jogos Juvenis de Gaia, no Desporto Escolar e, porque não, a nível federado nas competições dinamizadas pela Federação Portuguesa de Xadrez. Como já disse, em texto anteriormente redigido, as competições são o reforçar da motivação e o reflexo das
O imperativo das vitórias, empurra – nos para novos esforços e redobradas aprendizagens A aluna Letícia destacaria nesta breve reflexão: -“Aprender “. Só que a aluna não sabe que o aprender tem muitas dimensões. Falemos da Bárbara que salientou: -“É o meu desporto mental favorito!”. O testemunho dos seguintes alunos: Luana; Hélio; Bruno; Tomás ARTIGOS
A título de nota de rodapé. Os resultados pedagógicos, não desportivos, são promissores e podemos salientar o aluno Nuno Santos que participou como federado nas Semi – Rápidas, realizadas na Academia de Xadrez de Gaia, e dinamizadas pela Associação de Xadrez do Porto, tendo uma participação muito positiva. Dar o salto!
A Luana; Afonso; Tomás e Nuno são alunos desta sala que passaram a frequentar também as aulas na Academia de Xadrez de Gaia, orientados pelo professor Rúben Freitas, são o reflexo do esforço de um monitor de xadrez que sabe que o SALTO é necessário e fundamental! Por Emídio Leite
53
O Xadrez a saber divertir O projeto “Divertir com o Saber” é uma iniciativa do município de Vila Nova de Gaia que conta com doze anos de experiência no que diz respeito a levar a Matemática e a aprendizagem vivida aos empreendimentos sociais do município. No ano passado, na décima primeira edição do projeto, foi introduzida uma nova modalidade, o Xadrez. Representado pela Academia de Xadrez de Gaia, este desporto da mente abraçou um desafio sem igual cujo o objetivo vai muito além do conteúdo xadrezístico. Com um arranque acima das quinze salas a terem aulas de xadrez, este ano a modalidade conta com dezoito e um maior número de alunos.
Empreendimento Dr Mário Cal Brandão - Treinar para as condições climatéricas dos Jogos Juvenis.
O xadrez leva às crianças dos bairros sociais do município um novo desafio. A estratégia passa por motivar os alunos a quererem fazer e ser mais a cada dia, a cada semana… a quem achar que é fácil motivar as crianças a jogarem e a interessarem-se por um jogo novo nunca antes jogado por eles ou por conhecidos, que se engane. “(…) o objetivo vai muito além do conteúdo xadrezístico (…)” Levar o xadrez à sala de aula destas crianças é secundário quando percebemos a essência do projeto. Esta iniciativa é uma missão de afetos. Cabe aos professores de matemática e de xadrez, juntos, chegarem ao 54
Empreendimento Dr Mário Cal Brandão - Preparação para os Jogos Juvenis.
coração dos alunos. Este sentido de missão cujo o objetivo é, acima de tudo, motivar os alunos a serem melhores e superarem-se a cada semana, dá ao projeto uma força muito além de formar jogadores de xadrez ou de qualquer outro conteúdo técnico abordado nesta revista. Pessoalmente, neste segundo ano a desenvolver esta parceria entre o município e a Academia de Xadrez de Gaia, sinto-me muito sortudo por poder lidar com mais de 40 jovens todas as semanas e conseguir, de certa maneira, orientá-los para melhores escolhas e decisões fora do tabuleiro de xadrez. Considero que aprendo mais com eles do que eles comigo. É muito interessante como conseguimos mudar para um mundo que nos é paralelo no dia-a-dia e fazer parte dele pela raiz, ou seja, através dos “jovens dos bairros sociais”. Este rótulo tantas vezes usado por quem não conhece a realidade destas crianças é tão mau como dizer que o xadrez é só para os “inteligentes”. “(…) Esta iniciativa é uma missão de afetos. (…)” O jogo de xadrez é para todos! ARTIGOS
Não tem idade, não tem sexo, não tem etnia, não tem raça, não tem preconceito. No início do jogo começam com as mesmas peças, num tabuleiro equitativamente distribuído, com regras definidas e iguais. A diferença em relação à vida é o tabuleiro não ser igual, as peças não serem as mesmas e as regras não estarem definidas. O que estes jovens me mostram
Empreendimento de Balteiro - Não queriam, mas jogaram e gostaram.
todas as semanas e o que eu aprendo com eles todos os dias é, não interessa como começas ou o tabuleiro onde jogas, mas sim a vontade de vencer. Vontade, eles têm. O resto, o projeto está cá para ajudar. “(…) não interessa como começas ou o tabuleiro onde jogas, (…) Por Edgar Taveira
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Artigos Técnicos A intuição de mão dada com a experiência No passado mês de fevereiro, tive o prazer de defrontar o MN Júlio Santos na última ronda do Portugal Open. O torneio não me tinha corrido bem, e após um jogo com algumas falhas de parte a parte, tudo apontava para que a partida terminasse com um empate. Até que algo verdadeiramente mágico aconteceu no tabuleiro, e Júlio demonstrou que, com toda a saúde e vivacidade que os seus oitenta e oito (!) anos permitem, ainda muito tinha para ensinar a jovens como eu.
Na posição acima apresentada, apenas considerei que as brancas jogassem 47.Ra3, ao que se seguia 47…Dc5+ com xeque perpétuo. Contudo, qual o meu choque quando caiu sobre o tabuleiro o lance 47.Ra5!?, abandonando a torre em a2 (e ainda por cima com xeque!). Seguiram-se os lógicos 47… Dxa2+ 48.Rb6 Db3+ 49.Rc6 Da4+ 50.Rd6 Db4+ 51.Rd7 Db5+ 52.Re7 Dc5+ 53.Rd7 Db5+ 54. Rb8 Db6 55.Dxg5+ Rf7
Nesta posição, o final após um eventual 56.Dxg4, tomando o bispo, não me tirava o sono devido a 56…Dd6+ 57.Rc8 Da6+ e assim sucessivamente. No entanto, não foi essa a continuação. A partida seguiu com 56. De7+, e foi nesta altura que desperdicei a minha derradeira chance de empatar – 56…Rg8 forçava empate, mas inocentemente achei que após 56… Rg6, jogado na partida, as brancas nada melhor teriam que dar novamente xeque em g5 e empatar por repetição. Até que o jogo prosseguiu com 57.Dg5+ Re7 58.De7+ Rg6 59.Re8!! absolutamente fantástico. Com uma peça limpa a menos no tabuleiro, as brancas jogam para uma rede de mate, simultaneamente namorando os temas de promoção do peão de c. Não há forma de evitar a derrota para as pretas (por exemplo, 59…e5 60.Dg5#). A partida prosseguiu 59…Dc6+ 60.Rf8, e novamente as ameaças são intransponíveis (se 60…h6 61.Dg7#) 60…Rf5 61.Dd8 com promoção imparável – a única casa de fuga do rei interrompe a diagonal do bispo branco de ARTIGOS TÉCNICOS
g4, evitando os temas de e5 e respetivo controlo da casa de c8. Apesar de ter saído da partida triste, logicamente, pela derrota, senti-me privilegiado por ter assistido a um momento fantástico, protagonizado por um senhor com tanta história no xadrez nacional, e que mesmo com uma idade já avançada, mostra que continua a ter muito xadrez a correr-lhe nas veias. Acredito que quando jogou, ao lance 47, Ra5 não tenha calculado tudo isto, como é evidente. No entanto, o seu instinto levou-o para essa variante, sentindo que levando o seu rei para aquele lado do tabuleiro poderia intercalar os temas de promoção com os temas de mate. Esse sentimento, ao qual muitas vezes chamamos de intuição, é gerado com muita experiência, muitos padrões semelhantes que já seguramente havia encontrado nos milhares de encontros escaquísticos que já leva consigo ao longo da vida. Obrigado, Sr. Júlio Santos!
Por Simão Pintor
55
As Simultâneas e as suas vantagens Em Portugal tem sido muito discutido, embora com uma certa falta de conhecimento de causa, o valor desportivo, prático e artístico das sessões de partidas simultâneas. O menosprezo com que é encarada entre nós esta modalidade tem como lamentável consequência a quase nula actividade dos mestres portugueses neste campo, com manifesto prejuízo destes e dos aficionados menos dotados que poderiam constituir as equipas opositoras Mas, que perdem uns e outros? É o que muita gente desconhece e que vou tentar esclarecer. Para os mestres, a simultânea constitui um excelente treino de técnica de jogo e de golpe de vista. Dada a impossibilidade de poder pensar os lances com demora, por conseguinte de estudar todas as variantes possíveis, profundamente, o simultaneador conduz as partidas quase sempre à base da estratégia, das regras gerais, pois a táctica é de mais difícil generalização. O treino do golpe de vista é determinado pela exigência de jogo rápido, algo parecido como que acorre nas partidas-relâmpago (de 3 ou de 5 minutos para cada jogador) mas não o mesmo. A diferença reside em que na simultânea é permitida uma certa dose de calma, que nas partidasrelâmpago é impedida pelo relógio. Logo, a simultânea é o melhor treino para os jogadores fortes. Os opositores, normalmente jogadores de técnica ainda imperfeita, seriam numa partida normal, de vis-à-vis, com 56
tempos iguais, adversários sem interesse para o simultaneador. Na simultânea, porém, com um tempo superior de reflexão em relação ao mestre, a luta tornase mais equilibrada como o adversário é geralmente um bom técnico, têm a oportunidade de uma lição agradável que não é pesada a aquém a dá. A partida que se segue, jogada numa simultânea em Espanha, é um bom exemplo de técnica de ataque.
antes do roque, segue o melhor caminho.As pretas deviam ter jogado 9..., d5 que é um lance de precisão visto 9...,Bxc3 permitir 10.Ba3 que é ganhante. 0.d5 ¤a5 11.d6! cxd6
MÉRIDA, 1956 Sessão de 19 simultâneas Brancas: DURÃO (Simultaneador) Negras: MARTIN (Simultaneado) Giuoco Piano (8) Durão, Joaquim - Martin [C54] Simultâneas-Mérida, 01.01.1956 1.e4 e5 2.¤f3 ¤c6 3.¥c4 ¥c5 4.c3 ¤f6 5.d4 exd4 6.cxd4 ¥b4+ 7.¤c3 ¤xe4 8.0–0 ¤xc3 9.bxc3 ¥e7
11.... Bxd6 permite às brancas operar sobre a coluna aberta e o ponto f7: 12.Te1+, Rf8; 13.Bxf7!, Rxf7; 14.Bg5, Dg8; 15.Ce5+!, Bxe5; 16.Txe5, Rf8; 17.Be7+, Re8; 18.Dh5+, g6; 19.Bg5+, Rf8; 20.Bh6+, Rf7; 21.Df3 mate.Evidentemente que ao jogarem 11.d6!as brancas não previram tudo, mas o ataque é desencadeado por factores tão poderosos que teria fácil execução.Simples de ver era 11..., Cxc4; 12.dxe7, Rxe7; 13.De2+ ganhando peça 12.¥xf7+! 14.¦e1 h6
Até aqui tudo tinha sido teórico mas, como o simultaneado conhece menos, é natural que faça o primeiro erro. O mérito do simultaneador reside na forma de explorá-lo, o que nem sempre se consegue com perfeição e êxito. Sabendo o simultaneador que, neste género de posição em que as pretas têm inferior desenvolvimento, é útil o ganho de tempos e f7 é um ponto fraco ARTIGOS TÉCNICOS
¢xf7
13.£d5+
¢e8
Para evitar as entradas em g5. Ou 16..., Cc6; 17.Bg5, Tf8; 18.Bxe7,
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Cxe7: 19.Dh5+, Tf7; 20.Cg5, g6; 21.Dh6 ganhando facilmente. 15.£h5+ ¢f8 16.¤g5
continua mas sem inferioridade de material: 19....,Dh5; 20.Ce6+ 17.£xh8+ ¢f7 18.£h5+ ¢g8 19.¥xg5 Que não pode ser tomado em vista de 20.Te8+. 19...¤c6 20.¦xe7 ¤xe7 21.¦e1 g6
22.£g4 d5 Para ver se consegue dar jogo ao Bc8, mas é tarde de mais] 23.¦xe7 £b6 24.h3 Há que defender o mate em b1. 24...£b1+ 25.¢h2 £f5 26.£d4 ,1–0
Por Joaquim Durão e Fernando Alves
16...., hxg5 Ou 16...£e8 17.£f3+ ¢g8 18.£d5+ ¢f8 19.£xa5 e o ataque branco
Portugal Open 2018 O Portugal Open 2018, realizado de 3 a 9 de fevereiro, foi o torneio mais forte de sempre realizado em Portugal. Contou com um total de 79 titulados, 19 deles GM. Eu situavava-me no 38º lugar inicial,
e tinha grandes prespetivas para esta competição. Correu me bem, tendo subido 12 pontos de elo, e feito bons jogos, pontuando contra alguns nomes do xadrez. Analisei algumas partidas minhas
ARTIGOS TÉCNICOS
que achei interessantes. Espero que gostem de passar por elas como eu gostei de as analisar! Por: André Sousa
57
Análise de Partidas por André Sousa (1) Sevian,Samuel (2617) - Sousa,Andre Ventura (2405) [E05] Portugal Open chess24.com (3.4), 04.02.2018 [andre] 1.d4 Segundo a database, o meu adversário joga 1.e4 em muito maior quantidade que as outras opções. Aqui percebi que provavelmente ele tinha preparado algo muito específico contra o meu repertório 1...d5 2.¤f3 ¤f6 3.c4 e6 4.g3 Entrando na Catalã, uma abertura segura para as brancas, mas com boas chances de vitória. Decidi optar por uma linha menos ambiciosa, dado o calibre do adversário 4...¥e7 5.¥g2 0–0 6.0–0 dxc4 7.¤e5 Uma das opções embora não a mais jogada. [7.£c2 a6 8.a4 ¥d7 9.£xc4 ¥c6 Esta é a linha principal nos dias que correm] 7...¤c6!
Pode parecer uma jogada estranha ao início, mas se pensada com profundidade faz todo o sentido. As pretas têm um peão a mais, e o seu único problema é o desenvolvimento, mais concretamente do bispo 58
em c8. Com esta jogada as pretas preparam-se para trocar o seu peão por uma estrutura ligeiramente pior que as brancas, mas com jogo ativo para compensar. Esta jogada está estabelecida como a melhor para as pretas. 8.¤xc6 [8.¥xc6 bxc6 9.¤xc6 £e8 10.¤xe7+ £xe7 11.£c2 e5„] 8...bxc6 9.¤a3 ¥xa3 10.bxa3 ¤d5 [10...¥a6 Esta é a continuação mais jogada, e melhor. Eu confundi a minha preparação e joguei Nd5, o que fez o meu adversário tomar algum tempo para considerar as suas opções. O ponto da situação da posição é o seguinte: As pretas têm um peão a mais ( um e meio, devido aos peões não ideais das brancas na coluna a). Por outro lado também não têm grandes problemas de desenvolvimento, pelo que não têm grande razão para estarem pior. As brancas, por seu lado, têm a vantagem do par de bispos, que, a longo prazo, se as pretas não jogarem ativamente com o seu peão a mais, dar-lhes à de facto uma superioridade. Assim, sendo, A posição pode considerar-se igualada. 11.£d2 ¦b8 12.£a5 £c8 13.a4 ¦d8÷ O melhor posicionamento das peças brancas garantem-lhe pelo menos completa compensação pelo peão a mais. Na prática, esta posição tem um bom score para as brancas.] 11.£a4 ¤b6 12.£a5 A dama encontra-se espetacularmente localizada aqui. Bloqueia possíveis expansões com a5, mantém um olho em c7, e não pode realmente ser muito importunada. [12.£xc6 ¦b8 13.£c5 ¥b7 14.e4 £d6 15.¥f4 £xc5 16.dxc5 ¤d7 17.¦fc1 e5 18.¥e3 ¥c6 19.¦xc4 ¦b2 20.¥f1² ARTIGOS TÉCNICOS
O peão a mais das brancas é o dobrado em a3, pelo que esta posição é ligeiríssima vantagem branca, quase nada, devido à atividade das peças negras.] 12...¦b8 As pretas têm que jogar ativamente, com peças. 13.¦d1 £e7?! Primeira jogada duvidosa. Falhei em ver o plano de Bd2, Bb4, e portanto não tinha visto nada contra ele. Aqui, com jogo correto as brancas conseguem uma boa vantagem. [13...e5! 14.£xe5 (14.¥xc6 exd4 15.£c5 d3 16.exd3 ¥g4 17.f3 ¥d7 18.¥g5 f6 19.¥xd7 £xd7 20.dxc4 £f7= Depois desta estranha linha, a posição simplifica para algo onde a vantagem branca é praticamente inexistente) 14...¤d5! 15.¦e1 f5 Ameaçando aprisionar a dama branca 16.e4 fxe4 17.¥xe4 £d6³] 14.¥d2 ¤d5? A minha solução. Tanto eu como o meu adversário não calculamos corretamente a continuação que dá grande vantagem às brancas [14...¦d8 15.¥b4 £e8 16.£xa7± As brancas fizeram grandes progressos quanto à posição das suas peças e as negras encontram-se sobre pressão] 15.¦db1?!
[15.e4! ¦b5 (15...c3 16.¥e1 ¤b6 17.¥xc3 ¦d8 18.¥b4 £d7 19.¦ac1±
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
As pretas perderam o seu peão a mais e encontram-se sobre grande pressão.; 15...¤b6? 16.¥b4+-) 16.£xa7 ¥b7 17.a4 ¦a8 18.£xa8+ ¥xa8 19.axb5 ¤f6 20.a4+-] 15...¦b6 16.e4 ¦a6 17.£c5 £xc5 18.dxc5 ¤f6 Penso que o meu adversário não avaliou corretamente esta posição. Apesar da estranha posição da torre em a6, a única maneira de a capturar é dar de volta mais um peão e uma peça, e o material fica de novo igualado. Se as brancas não partirem para esse plano, têm apenas um peão a menos, e não há muito por onde jogar. Tendo tudo isto em conta, a posição deverá ser igualdade 19.¥b4 Este plano deveria ter sido mais preparado com e5. Aqui, devido às casas disponíveis para as peças negras, posso ficar um pouco melhor. [19.e5 ¤d5 20.¥b4 c3 21.¦b3 ¦a4 22.¥xc3 ¥a6=] 19...e5 20.¥f1 ¥e6 21.f3 ¦b8 22.¥e2 ¤d7 [22...g5! Pressionando e4 no futuro. Se as brancas quiserem tirar essa pressão permanentemente teriam que dar as casas f4 e h4, ficando com uma estrutura bastante horrível 23.¦f1 ¢f8 24.¥d1 ¤d7 25.¥c2 ¢e7³] 23.¥d1 ¢f8 24.¥c2 ¢e7 25.¢f2 ¦b5 26.a4 ¦xb4 27.¦xb4 ¤xc5 28.¢e3 ¦b6 29.¦ab1 ¢d6 30.¦d1+ ¢e7 31.¦db1 ¢d6 32.¦d1+ ¢e7 Não há muito por onde jogar aqui, e foi acordado empate ½–½
1.e4 Este é um jogo interessante. Enganei-me na abertura, e fiquei com uma pior posição, e optei por arriscar e sacrificar material. Com defesa “computacional” as negras poderiam ter ganho o jogo, mas no tabuleiro não é facil descobrir todas as jogadas . [1...d6 2.d4 ¤f6 3.¤c3 e5 4.¤f3 ¤bd7 5.¥c4 ¥e7 6.a4 0–0 7.0–0 c6 8.¦e1 exd4 9.£xd4 Foi aqui que me enganei. Existe uma linha que as negras jogam h6 para ameaçar Ne5, para cortar a casa g5 para a dama, ganhando a dama no caso de esta capturar o peão em e5. É uma ameaça posicional muito grande, mas sem h6 eu não conhecia esta opção, e tomei o isco 9...¤e5 10.¤xe5 dxe5 11.£xe5 ¤g4 12.£f4 ¥d6 13.e5 Única opção lógica 13...¤xe5 14.¦xe5 (14.¦d1 ¤xc4 15.£xc4 £c7 16.g3 Vi esta opção, mas devido ao par de bispos e posição relativamente aberta, não quis jogar uma posição em que estava pior sem nenhum tipo de compreensão do jogo especial. 16...¦e8µ) 14...£c7 15.¥xf7+ ¢h8 16.£h4 ¥xe5 17.¥g6 h6 18.¥xh6 gxh6 19.£xh6+ ¢g8 20.¥d3 Ameaçando Bc4, algo muito irritante em combinação com a dama perfeitamente localizada em h6 20...£f7 21.¤e4!!
(2) Sousa, Andre Ventura (2405) –Apanasenok, Alexander (2236) [C41] Portugal Open chess24.com 04.02.2018 [andre] ARTIGOS TÉCNICOS
Vi esta posição quando joguei 13.e5 A uma distância tão grande, não tinha a certeza que tivesse calculado todas as defesas possíveis ( e não tinha), mas achei que era uma tentativa interessante. As ameaças são Bc4, que é completamente ganhador, já que nunca há maneira de as pretas entreporem, ou fugirem com o rei. Além disso, há Ng5 e Bh7+, que também é matador. Portanto, é para essas casas que as negras têm que dirigir a sua atenção. Também de notar que a dama em h6 é chave para todas as ameaças portanto uma possível defesa poderá passar por retirá-la desse posto 21...¥g7 Primeiro erro. Re8 ou b5 era necessário (21...¦e8! 22.¤g5 £g7 23.£h4 ¦e7– + Uma defesa um pouco ortodoxa, mas eficiente, e as negras têm grande vantagem) 22.£h4 ¥d4
Segundo erro, e decisivo. Apesar da situação ter piorado, ainda existia a hipótese de Re8 ou b5, com um jogo complicado (22...¦e8 23.¤d6 £e7 24.£h7+ ¢f8 25.¤xe8 ¢xe8 26.¢f1 ¥e6 27.¦e1÷) 23.c3 ¥xf2+ (23...£f4 24.¥c4+ ¢g7 25.£e7+ ¢h6 26.cxd4 ¥f5 27.¤g3±) 24.¤xf2 ¥f5 25.¥c4 ¥e6 26.£g3+?? (26.¤g4+-) 26...¢h7?? (26...¢h8 27.¥xe6 £xe6 28.¤g4= Apenas ligeira vantagem branca devido ao rei preto exposto) 59
27.¤e4 £f4 28.¤g5+ ¢h6 29.¤xe6 £xg3 30.hxg3 ¦f6 31.g4 ¢g6 32.g5 ¦f7 33.¦e1 ¦e8 34.¥d3+ 1–0 Sousa,A (2405)-Apanasenok,A (2236)/chess24.com 2018/ [andre]] 2.¤f3 ¤c6 3.¥c4 ¥c5 4.c3 ¤f6 5.d3 0–0 6.¤bd2 d5 7.exd5 ¤xd5 8.¤e4 ¥e7 9.0–0 ¤b6 10.¥b3 ¥f5 11.a4 a5 12.¥e3 ¤d5 13.¥c4 ¤xe3 14.fxe3 ¥xe4 15.dxe4 ¥c5 16.£e2 £e7 17.h4 ¢h8
(3) Sousa,Andre Ventura (2405) - Costa,Paulo (2175) [B50] Portugal Open chess24.com (6.24), 06.02.2018 1.e4 Apesar de ser contra um adversário teoricamente mais fraco, este jogo foi um jogo que penso ser muito instrutivo, e foi um jogo muito disputado até à última jogada ( quase literalmente). É interessante principalmente do ponto de vista posicional 1...c5 2.¤f3 e6 3.b3 ¤c6 4.¥b2 d6 5.d4 cxd4 6.¤xd4 ¤f6 Uma escolha que permite às brancas entrar num final um pouco superior devido à fraqueza em c6, mas completamente jogável 7.¤xc6 bxc6 8.e5 dxe5 9.£xd8+ ¢xd8 10.¥xe5 ¤d5 11.¥b2 f6 12.¤c3 ¤xc3 Primeira imprecisão. O cavalo das negras faz mais sentido na posição do que o cavalo das brancas. Em d5 está centralizado, e nada controlado pelos peões brancos. Por outro lado bloqueia ataques ao peão de c6, única fraqueza na posição. O cavalo branco só pode encontrar futuro algures na coluna c, mas é difícil suportá-lo na sua casa ideal (c5) devido ao cavalo em d5 controlar e3. 13.¥xc3 a5 14.0–0–0+ ¢c7 60
Esta posição é um interessante objeto de análise. Para das negras, temos a fraqueza em a5, c6, e6, e menos visivelmente o peão de g7. O objetivo principal das brancas é jogar f4, g4 e g5, ficando estrategicamente ganho. 4 fraquezas são demasiadas e as peças brancas ficam muito ativas. Além disto, as peças brancas têm lugares mais óbvios como destino. Quanto às negras, estão um pouco resignadas a defender este final, com principais ideias de se livrarem da fraqueza de a5 via a4, jogar e5 para restringir ainda mais o bispo de c3 e fazer desaparecer a fraqueza de e6, e desenvolver as restantes peças. 15.¦d4?! Na altura demorei cerca de meia hora a jogar esta jogada. Não é a melhor jogada. A razão para 15.Rd4 foi poder controlar a quarta fila, poder jogar Ra4 ou Rg4 ou mesmo Rc4, e mais tarde jogar f4 e atacar na ala de rei. As pretas resolvem estes problemas muito diretamente. [15.f4! ¥d6 16.g3 ¦e8 17.¥d3 h6 18.¦he1 e5 19.¥g6 ¦e7 20.fxe5 ¥xe5 21.¦e4 ¥d7 22.¦d3!² Para dobrar na coluna “e” sem dar oportunidade de Bxc3. Apesar de objetivamente a posição apenas ser ligeira vantagem branca, as pretas encontram-se sobre pressão 22...a4] 15...¥a3+ [15...¥b4! 16.¢b2 e5= Resolvendo todos os problemas] 16.¢b1 ¦d8 17.¦xd8 ¢xd8 18.¥d3 h6 19.f4 ¥b4 20.¥b2 ¢c7 21.¦f1! A torre encontra-se bem aqui, porque defende profiláticamente o peão de f4, e quando a coluna f abrir a torre tem acesso direto à casa f7 21...¥a6 22.c4 ¦e8 [22...a4 23.g4 axb3 24.axb3 ¥b7 25.g5 hxg5 26.fxg5 ¦d8! 27.¥e4
Este final resultante não apresenta grande futuro às brancas, devido à grande atividade das peças negras 31...¦d1+=] 23.g4 ¥d6 24.h4 e5 25.fxe5 ¥xe5 26.¦e1 [26.g5 ¥xb2 27.¢xb2 hxg5 28.hxg5 ¦e6 29.gxf6 gxf6 30.¦f5 ¢b6 31.¢c3 c5= As brancas têm vantagem microscópica apenas devido à melhor estrutura de peões, mas sem grande capacidade de o aproveitar] 26...c5 27.¥a3 ¢b6 28.¢c2 ¦e7 29.¥c1 ¥d6 30.¦d1 ¥e5 31.¥f5 ¥d4 32.¥f4 ¦e2+ 33.¦d2 ¦xd2+ 34.¢xd2 g5 35.¥g3 ¥b7 36.h5 ¥e5 37.¥f2 ¥g2 38.¢c2 ¥f3 39.a3 ¢c6 40.¥e1 ¥c7?! Até aqui toda esta sequência foi bem jogada, sem nada de especial a anotar. Este foi o primeiro erro, que me deu hipóteses. Agora o bispo está muito pior em d8 do que na poderosa casa de e5, e as brancas têm o plano de avançar com b4, e tentar atacar h6. Estávamos os dois em apuros de tempo, portanto este erro é compreensível [40...¢b6 41.b4 cxb4 42.axb4 a4! 43.¥f2+ ¢c7 44.b5 ¥e2 45.b6+ ¢b7 46.¥e6 ¥f3=] 41.¥c3 ¥d8 42.¢d2 ¢d6 43.¢e3 ¥d1 44.b4 axb4 45.axb4 ¥b3 46.¢d3 ¥d1 47.bxc5+ ¢xc5 48.¥b2 ¢d6 49.¥a3+ ¢e5 50.¢e3 ¥b6+? [50...¥b3 51.¥b2+ ¢d6 52.¢d4 ¥b6+ 53.¢c3 ¥d1 (53...¥a4? 54.¢b4+-) 54.¢d2 ¥b3 55.¥xf6 ¥xc4 56.¥g7 ¢e7 57.¥xh6 ¢f6 58.¥f8 ¥d4 59.¥b4 ¢g7=] 51.c5 [51.¢d2? ¥b3 52.¥f8 ¥xc4 53.¥xh6 ¥e6 54.¥xe6 ¢xe6 55.¥g7 ¢f7=] 51...¥a7 52.¢d2??
(27.¢c2?! ¦h8!=) 27...c5 28.¥xb7 ¢xb7 29.gxf6 gxf6 30.h4 e5 31.¦xf6 ARTIGOS TÉCNICOS
[52.¥b2+! ¢d5 53.¢d2 ¥f3 54.¥xf6 ¥xc5 55.¥g7 ¥e4 56.¥c8 ¥h7
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
57.¥xh6 ¥e7 58.¢e3 ¢e5 59.¥g7+ ¥f6 60.¥f8 ¥d8 61.¥c5!+Apesar de a posição parecer parecida com uma variante algumas jogadas antes, aqui não é empate mas sim vitória branca. Esse acontecimento deve-se à colocação dos bispos pretos, deplorável aqui, e à enorme liberdade do bispo preto branco. Era difícil jogar com toda esta técnica nos 30 segundos.] 52...¥f3 [52...¥a4 53.¥b2+ ¢f4 54.¥xf6 ¥xc5=] 53.¢e3 ¥d1?? [53...¥g2=] 54.¥b2+ ¢d5 55.¥xf6? [55.¢d2 ¥f3 56.¥xf6 ¥xc5 57.¥g7+-] 55...¥xc5+ 56.¢d2 ¥f3??
O erro final. Todo este final foi jogado nos 30 segundos e é totalmente compreensível que a técnica apresentada por ambos os jogadores não tenha sido a melhor [56...¥d4!!
57.¥g7 ¥d4 58.¥xh6 ¥f6 59.¥f8 ¢e5 60.¢e3 ¥d5 61.¥a3 ¥d8 62.¥b2+ ¢d6 63.h6 ¥b6+ 64.¢e2 ¥c4+ 65.¥d3 ¢d5 1–0
A minha ideia, mas demasiado criativa. Apesar de haver alguma compensação, não há algumas jogadas específicas que eu queria que existissem e no final as brancas ficam melhor.
(4) Perez Ponsa,Federico (2553) - Sousa,Andre Ventura (2405) [C54]
[21...Rxf2 22.Rxf2 Ne5 23.Ba2 Rf8 24.Rxf8+ Qxf8=] 22.hxg5 Qxg5 [22...Ne5 23.Rf5!+/-] 23.Rf4 Re8 24.Bf7 Re7? [24...Qg3 Única para continuar a tentar 25.Rg4 Qxe3+ 26.Qxe3 Bxe3+ 27.Kh2 Rf8 28.Rxe4 Bc5 29.Kh3+/] 25.Bd5 g6 26.Bxc6 bxc6 27.b4 Ba7?? [27...Bd6 28.Qd2 c5 29.bxa5 Re8 30.a6+- ]
Portugal Open chess24.com (7.9), 07.02.2018 1.e4 e5 2.Nf3 Nc6 3.Bc4 Bc5 4.c3 Nf6 5.d3 0-0 6.Nbd2 d5 7.exd5 Nxd5 8.Ne4 Be7 9.0-0 Nb6 10.Bb3 Bf5 11.a4 a5 12.Be3 Nd5 13.Bc4 Nxe3 14.fxe3 Bxe4 15.dxe4 Bc5 16.Qe2 Qe7 17.h4 Kh8 Até aqui era tudo preparação e sabia que deveria estar igualado. No entanto, era uma linha secundária da preparação e não sabia muito bem como seguir, e entrei um pouco em pânico com os possíveis planos das brancas. Essa é a razão porque decidi adotar uma estratégia um pouco mais arriscada ( que acabou por se provar não ser correta) 18.Rf2 f5 [18...f6 19.h5 Nd8 20.Nh4 Era este tipo de planos que eu tinha medo. No entanto, parece que com tempo e calma fora do tabuleiro, não é muito difícil de defender o ataque branco 20... Nf7 21.Nf5 Qe8 22.Qg4 Ng5=/+] 19.exf5 Rxf5 20.Raf1 e4 21.Ng5 Rxg5?
A ala de dama está demasiado fechada para as peças negras conseguirem defender corretamente o avanço dos peões brancos 28.Qf2?? [28.Qd2+- ] Parece estranho dar uma variante de uma jogada, mas não há muito mais para dizer. As pretas não têm ameaças e as brancas podem simplesmente consolidar e desfrutar da sua qualidade a mais. Felizmente para mim o meu adversário caiu na última ameaça existente na posição, condenando o jogo 28...Rf7!
29.Rxf7 [29.Kh2 ] Durante o jogo achei que esta variante era preocupante, mas falhei uma vitória! 29...Qh6+ 30.Kg3 g5-+ Esta foi a jogada que não vi (30...Qg5+?? 31.Kh3 Qh6+ 32.Qh4
57.¥e7 (57.¥xd4 ¥xg4!!=) 57...¥c5 58.¥xc5 ¥xg4 59.¥xg4 ¢xc5=] ARTIGOS TÉCNICOS
61
Qxh4+ 33.Kxh4 g5+ 34.Kxg5 Bxe3 35.bxa5 Bxf4+ 36.Rxf4+/Esta foi a posição que eu pensei que teria que jogar, e é ligeira vantagem branca (que eu avaliei corretamente no jogo), devido aos periogos peões passados na coluna a, e o rei melhor posicionado das brancas) 31.Rxf7 Qh4#] 29...Bxe3 30.Re1 Bxf2+ 31.Rxf2 Kg7 32.Rfe2 Qe5 33.Rxe4 Qxc3 34.bxa5 1/2-1/2
(5) Sousa,Andre Ventura (2405) - Spraggett,Kevin (2535) [B12] Portugal Open chess24.com (8.12), 08.02.2018 [andre] 1.e4 c6 2.d4 d5 3.e5 ¥f5 4.¤f3 e6 5.¥e2 ¤e7 6.0–0 h6 7.¤bd2 ¤d7 8.¤b3 £c7 9.¥d2 a5 10.a4 g5 Ambicioso, mas também perigoso. Esta jogada cria fraquezas futuras no campo negro, mas por outro lado, expande-se na ala de rei e pode ameaçar um ataque nesse flanco. Além disso, tenta destabilizar o cavalo em f3 para atacar com f6, e desmoronar o centro branco 11.h4 [11.c4 ¥g7 12.¦c1 0–0!? 13.¦e1 f6÷] 11...g4 12.¤e1 h5 13.¤d3 Mais uma vez, misturei preparação, e usei um plano que não se adequa a esta posição específica. Aqui com ideias de f6 as pretas obtêm um bom jogo. 13...¤g6 14.g3 [14.¥g5 Necessário 14...¥e7 15.¥xe7 ¢xe7 16.g3 ¢d8!?÷ As ideias de pressionar o centro com f6 são suficientes para assegurar um jogo interessante para as negras, apesar de as brancas provavelmente terem alguma vantagem] 14...b6 prevenindo ideias em a5, mas 62
dando um importante tempo [14...f6! 15.f4 gxf3 16.¥xf3 0–0–0 O computador cospe uma linha bastante estranha, vou apenas colocá-la aqui por pura diversão (16...fxe5?! 17.¥xh5 e4 18.¥xg6+ ¥xg6 19.£g4 0–0–0 20.£xg6 exd3 21.£xd3±) 17.¥xa5 b6 18.¥e1 fxe5 19.¥xh5 ¤xh4 20.a5 e4 21.axb6 ¤xb6 22.¤e5 ¤f3+ 23.¦xf3 exf3 24.¥xf3 ¥d6 25.£e2 ¦dg8÷ É difícil decidir qual dos reis está pior. O computador prefere um pouco as brancas, devido provavelmente ao bispo em e1 que defende bastante bem o rei branco. Por outro lado, o rei negro sente-se um pouco inseguro. De qualquer forma, as brancas têm qualidade por peão a menos, portanto o total deverá ser igualdade] 15.¦c1?! [15.¤f4 f6 16.¥d3 ¤xf4 17.¥xf4=] 15...¥g7 [15...f6 16.c4÷ Aproveitando também que agora c6 encontra-se enfraquecido
O computador diz 0.00, depois de uma linha comprida, mas não é muito instrutivo e necessário passar por ela] 27...¥xh6 28.£xh6 £d5 29.£xh5 cxd4 30.¦xf7 ¦xf7 31.¦xf7?! [31.£xf7+ ¢d8 32.£f3 £xe5 33.¦d1²
As brancas têm uma ligeira vantagem devido à presença das peças pesadas, e do facto do rei preto estar um pouco aberto] 31...¢d8 32.£g5+ ¢c7 33.£e7 d3 34.¢f2? O erro final, que destrói todas as
16...dxc4 17.¦xc4 fxe5 18.dxe5 0–0–0 19.¤d4] 16.¤f4 ¤xf4 17.¥xf4 £b7 18.c4 dxc4 19.¦xc4 ¦d8 20.£c1 ¥e4 21.¥g5 ¦c8 22.¦c3 ¥d5 23.f3 gxf3 24.¥xf3 [24.¦cxf3!! ¥xf3 25.¦xf3 c5 26.£f4 ¦f8 27.¥b5+Apesar da qualidade a menos, todas as peças brancas estão melhores que as pretas, e têm vantagem decisiva] 24...c5 25.£f4 ¥xf3 26.¦cxf3 ¦f8 27.¥h6 [27.¤d2 Um bom plano, para colocar o cavalo em d6 ganhando imediatamente, mas as pretas conseguem atacar de volta com Qd5, frustrando os planos das brancas. A melhor defesa é sempre o ataque 27...£d5 28.¤e4 £xd4+ 29.¦e3 ¥xe5 30.£f3÷ ARTIGOS TÉCNICOS
possibilidades de vitória, e até me coloca numa posição díficil psicologicamente de defender [34.¤d2²] 34...¦d8 35.£d6+ £xd6 36.exd6+ ¢xd6 37.¢e3?! ¦g8 38.¢f2 ¤e5 [38...e5 39.h5 ¢e6 40.¦f3 e4 41.¦f4 ¤f6 42.¤d4+ ¢d5 43.¤f5 ¦h8 44.¤e3+=] 39.¦f4 ¦c8 40.¦d4+ ¢e7 41.¢e3 ¦g8 42.g4 ¤xg4+ 43.¢xd3 ¤e5+ 44.¢c2 ¦g2+ 45.¦d2 ¦g4 46.¦d4 ¦g3 47.¤d2 ¦h3 48.¢d1 ¤c6 Aqui o meu adversário propôs empate, que eu aceitei com
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
alívio, pois estava a ver em frente de mim um longo caminho de defesa extenuante contra um Grande Mestre muito mais experiente. ½–½ Por André Sousa
A partida da minha vida Se houve coisa que nunca pensei fazer foi escrever para uma revista de xadrez. Convidado a fazê-lo, colocados nos pratos da balança e ponderados os prós e os contras, decidi aceitar. Nunca fui jogador particularmente forte (terei chegado aos 2050 de ELO) mas reconhecendome alguma intuição para o ensino decidi, como forma de motivação para os jovens de hoje, dar a conhecer o que, em jovem, me fez dedicar, até hoje, muito do meu tempo de lazer à pratica desta modalidade. Aprendi a jogar muito tarde – 15 anos- tomando em linha de conta o que, no Portugal actual, já é a idade de início e aprendizagem. O meu professor foi um colega dois anos mais velho que ensinava a modalidade nas tardes de 4ªfeira dedicadas às actividades da Mocidade Portuguesa.
Joaquim Durão. Com um amigo também principiante decidi participar numa dessas simultâneas, não sem antes adquirir o meu primeiro livro de xadrez que devorei àvidamente. E com a “forte” preparação de uma única abertura (Oh! Inocência), lá me abalancei a estar presente.
Recordo que, por esta altura, o meu amigo, ao meu lado, me perguntou: e agora? Respondi: acabaram os meus conhecimentos teóricos. Seja o que Deus quiser! 10.¥d3 0–0 11.c4 ¦e8 [11...¥g4 12.¥e3 ¦e8 13.h3 ¥h5 14.¦e1 ¤b4 15.¥f1 dxc4 16.¥xc4 ¤d6 17.¥b3 c6] 12.cxd5 £xd5 13.¦e1 ¥f5 [13...¥g4 14.£b3 £xb3 15.axb3 ¥xf3 16.gxf3 ¤f6] 14.¥b2 ¤d6 15.¥xf5 ¤xf5 16.£a4 ¦e7 17.¥a3 ¤d6 18.¦xe7 ¤xe7 19.£d7
Nessa noite, aos treze corajosos presentes calhou, como simultaneador, o Mestre António Rocha que, para mim, na altura, não passava de um ilustre desconhecido. De pretas e com algumas tremuras, lá começámos o jogo.
Rocha, António - Alves, Fernando [C54] SCP-Simultâneas, 21.07.1962
Com esta entrada da dama apenas recordo ter sentido algum desespero...próprio de simultaneado. 19...¤ef5 20.¦e1 £a5 21.¥c5 £b5
(Notas do simultaneado) 1.e4 e5 2.¤f3 ¤c6 3.¥c4 ¥c5 4.c3 ¤f6 5.d4 exd4 6.cxd4 ¥b4+ 7.¤c3 ¤xe4 8.0–0 ¥xc3 9.bxc3 d5
Nos inícios da década de sessenta do século passado, durante as férias de 1962, realizaramse, aos sábados à noite, nas instalações do SCPotugal, na Rua do Passadiço, sessões de simultâneas de divulgação conduzidas pelos jogadores de 1º categoria da equipa principal do Sporting, onde se incluíam nomes como João Mário Ribeiro, António Rocha, José Vinagre e
Para principiante esta jogada, foi o meu orgulho durante muito tempo pois apercebi-me de que o peão c7 não podia ser capturado! Mestre António Rocha não viu o perigo e... tomou mesmo!
ARTIGOS TÉCNICOS
63
22.£xc7 [A opção não terá sido a melhor. Trocar as damas dava vantagem ao simultaneador mas, quando não se vê, não se vê!] [22.£xb5 ¤xb5 23.¦e5 g6 24.g4 f6 25.¦e1 ¤h6 26.¦b1 a6 27.a4 b6 28.axb5 bxc5 29.bxa6 cxd4] 22...¦c8 23.¥xd6
32...¤e6 33.¦c1 ¢g7 [33...f5 34.g4 ¢g7 35.¤xf5+ (35.gxf5 ¤f4 36.¢h2 ¢xh6 37.¦c5 gxf5) 35...gxf5 36.gxf5 ¤d4 37.¦d1 ¤xf5 38.¢g2] 34.¤g4 ¢f7 35.¥b8 ¢f8!? [Aprendi mais tarde que a ameaça é muitas vezes mais forte do que a sua concretização. Difícil é raciocinar bem debaixo da pressão da ameaça e fácil é atribuir-lhe uma força que ela não tem.
o pensamento de que o único obstáculo à vitória eram os duplos de cavalo cuja concretização tinha de ser, naturalmente, evitada. 50.¤e3+ ¢xg5 51.¢g2 a5 52.a3 £c6+ 53.¢g3 £d6+ 54.¢g2 £xa3 55.¢g3 £d6+ 56.¢g2 a4 57.h4+ ¢h5
[35...£b7 36.¦c7+ ¤xc7 37.dxc7 ¢e6 38.a3 £c6 39.¢f1 ¢d7 40.¥xa7]
A jogada que mereceu maior meditação por parte de Mestre António Rocha 23...¦xc7 24.¥xc7 £c6!? Aqui foi a minha vez! Como em muitas e frequentes situações na minha carreira de xadrezista, a jogada ao toque foi, pela primeira vez, má conselheira.
36.¤xf6 £d8 37.¦c3 ¢g7 38.¦f3 £xb8 39.d7 £d8 40.¤e8+ ¢g8 41.¤f6+ ¢g7 42.¤e8+ ¢h6!? Jogado com algum desespero face ao facto de me ter apercebido que havia hipóteses de cheque perpétuo. 43.¤f6?! [Não é o mais forte a avaliar pela variante que começa com 43–Tf7]
58.f3 [43.¦f7 £a5 44.¤f6 ¤d8 45.¤g4+ ¢g5 46.¦e7 ¢h5 47.¤f6+] 43...¤d4 44.¤g4+ ¢g7 45.¤e5
[24...f6 25.g4 £c6 26.gxf5 £xf3 27.¥g3 £xf5 28.¦e2 £d3 29.¦e8+ ¢f7 30.¦b8 £a6 31.d5 £b5 32.d6 g5 33.a4 £c6]
Mestre António Rocha já tinha compreendido que o peão d7 me assustava e decidiu manter a pressão, conservando-o. 25.d5! 25...£d7 26.d6 f6 27.¦d1 b5 28.h3 g6 29.¤h2 ¤g7 30.¤g4 ¢f7 31.¤h6+ ¢f8 32.¦e1 [32.¥a5 ¤e8 33.¦d3 ¢g7 34.¤g4 h5 35.¤e3] 64
Tomar o peão em h4 e ganhar a partida com a coroação do colega que está passado na coluna A era algo impensável dentro do espírito comentário anterior!
45...¤xf3+ 46.gxf3 ¢f6 47.f4 g5 48.¤g4+ ¢f5 49.fxg5 £xd7 Depois da tomada deste peão convenci-me que ganharia a partida e ainda tenho presente ARTIGOS TÉCNICOS
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Uma última tentativa de Mestre António Rocha: será que ele sabe o que é o “ rei afogado”? 58...£d2+ 59.¢g3 £xe3 60.¢h2 a3 61.f4 a2 62.f5 ¢xh4 63.f6 £f2+ 64.¢h1 ¢g3?? E Mestre António Rocha abandonou finalmente! 0-1 A satisfação era tal que até me esqueci do peão da coluna A. Só mais tarde, já em casa, reparei que havia mate imediato. Sempre me recordei que o nervoso antes deste lance de Rei me levou a “confirmar” que o peão branco
de f6 não causaria surpresas (!) Não vejo o Mestre António Rocha há mais de 20 anos mas gostaria de voltar a encontrá-lo para lhe poder dizer: sem o querer, o Mestre, ao ter-me permitido ganhar esta partida, marcou e continuará a marcar toda a minha vida! Se ainda continuo a jogar xadrez, a esta partida o devo! OBRIGADO, MESTRE ANTÓNIO ROCHA! Por Fernando Alves
O verdadeiro segredo de uma boa jogada no Xadrez GM Lubomir Ftacnik Depois de algumas décadas a jogar xadrez, acabo por concentrar minha energia no treino de futuros jogadores. O trabalho é desafiador, estimulante e força-me a reavaliar o meu conhecimento e compreensão do jogo real. Todo o treinador de xadrez também passa por momentos difíceis, especialmente se os alunos fazem perguntas inteligentes, que são impossíveis de responder com uma frase simples. Especialmente difícil é um pedido para definir o segredo principal de uma boa jogada em um único princípio…. Eu não sou forte o suficiente para dar uma resposta definitiva, mas nesta fase a minha resposta daria muita importância à questão de encontrar os melhores lugares para as peças.
Para jogar xadrez bem, o estudante tem que aprender bastante sobre a importância central do jogo de peças, traduzindo em detalhes é a localização de cada ator numa história de qualquer jogo. Para ilustrar o meu ponto, escolhi três jogos dos melhores jogadores do Torneio de Candidatos jogado em 2018 em Berlim. O leitor pode- se surpreender com o fato de até mesmo os melhores jogadores do mundo estarem à procura da tarefa de tentar encaixar o ideal da colocação das suas peças em jogos reais. Para acertar, tentamos usar a experiência, o reconhecimento de padrões, o sentimento pela posição e, claro, as táticas.
(1) Caruana,Fabiano (2784) - So,Wesley (2799) [E00] ARTIGOS TÉCNICOS
FIDE Candidates Berlin (1), 10.03.2018 [Ftacnik] 1.d4 ¤f6 2.c4 e6 3.g3 ¥b4+ Aplicando a ideia bem conhecida na abertura Catalã, o bispo branco é arrastado para d2 e não pode facilmente chegar a b2 . (3..,d5 4 Bg2, Bb4 5.Cd2,0-0 6 Cgf3,b6 ) 4.¥d2 ¥e7 5.¥g2 d5 6.¤f3 0–0 7.0–0 c6 8.£b3 ¤bd7 9.¥f4 a5 As pretas tem uma posição muito sólida, mas ainda precisam desenvolver várias peças (principalmente pesadas). A prática mostrou que o avanço ativo do peão faz o melhor trabalho de perturbar o desenvolvimento das brancas 65
que, de outra forma, estaria muito facilitado. .¦d1 [10.¦c1 a4 (10...h6 11.a4 ¤e4 12.¤fd2 ¤d6 13.¥xd6 ¥xd6 14.e4 dxe4 15.¤xe4 ¥b4 16.c5 ¤f6 17.£c4 ¤xe4 18.¥xe4 ¢h8 19.¥g2 e5³ 0–1 (48) Giri,A (2711)-Aronian,L (2816) Istanbul 2012) 11.£c2 (11.£d1 dxc4 12.¦xc4 ¤b6 13.¦c1 ¤bd5 14.¥d2 £b6 15.£c2 ¤b4 16.¥xb4 £xb4 17.e3 ¥d7 18.¤e5 ¦fc8 19.¤xd7 ½–½ (19) Markus,R (2624)-Hracek,Z (2633) Sibenik 2010)
O primeiro movimento verdadeiramente independente que evita os problemas com o avanço a5-a4. [12.¤c3 a4 13.£c2 dxc4 14.e4 h6 15.d5 cxd5 16.exd5 ¤xd5 ½–½ (18) Ulybin,M (2521)-Palac,M (2586) Zagreb 2011] 12...b5!? 13.c5 Caruana sabiamente evita o combate no flanco de dama e concentra-se na iniciativa pela casas centrais. [13.cxb5 cxb5 14.¤e5 a4³] 13...b4
11...¤h5 (11...c5 12.dxc5 ¥xc5 13.cxd5 exd5 14.¤c3 a3 15.bxa3 ¥xa3 16.¦d1 ¤b6 17.¥e5 ¥e6 18.¤g5 g6 19.¥d4² 1–0 (27) Grischuk,A (2719)-Landa,K (2550) playchess.com INT 2004) 12.¥d2 ¤hf6 13.¥e1 b5 14.cxd5 cxd5 15.¤c3 ¥a6 16.a3 ¤b6 17.¤a2 ¤c4 18.¥b4 ¦c8 19.¥xe7 £xe7= 1–0 (37) Aronian,L (2801)-Eljanov,P (2742) Moscow 2010; 10.a4 b6 11.¤c3 ¥a6 12.¤d2 ¦c8 13.¦fd1 c5 14.dxc5 d4 15.c6 ¤c5 16.c7 £xc7 17.¥xc7 ¤xb3 18.¤xb3 dxc3 19.¥xb6 ¥xc4 20.¤xa5 cxb2 21.¦ab1+- 0–1 (26) Chuchelov,V (2539)-Sargissian,G (2651) Dresden 2007;
Como treinador, não concordo conceitualmente com muitas soluções em posições complexas que são baseadas em movimentos de peão. Eu acredito fortemente que, sempre que possível, faz mais sentido usar as peças, então neste caso, objetivamente, o melhor deveria ter sido: 13...Qc7. [13...£c7 14.£c2 e5 15.e4 ¦e8=] 14.£c2 a4 15.¦e1 [15.e4 b3 (15...¤xe4 16.¤xe4 b3 17.£b1 bxa2 18.¦xa2 dxe4 19.£xe4 ¤xc5=) 16.axb3 axb3 17.¤xb3 ¦xa1 18.¤xa1 ¤xe4 19.¥f1 f5=] 15...e5!?
10.¤c3 a4 11.¤xa4 dxc4 12.£c2 ¤d5 13.¤c3 b5 14.b3 ¤xf4 15.gxf4 b4 16.¤a4 c3 17.a3 bxa3 18.¤xc3 ¦a5 19.¦fb1 c5 20.dxc5 ¦xc5 21.b4 ¦c4 22.¦xa3 ¥xb4 23.¤d2 ½–½ (23) Sargissian,G (2600)-Asrian,K (2601) Yerevan 2003] 10...¤h5
Este movimento ativo pertence à categoria de defesa criativa. A melhor abordagem para qualquer problema é resolvê-lo indiretamente, criando problemas para o adversário. Contra-ataque ativo é a reação mais inteligente a qualquer ataque!
[10...¤e4] 11.¥c1 [11.¥d2 ¤hf6] 11...¤hf6 12.¤bd2
[15...¥b7 16.e4²] 16.¤xe5 [16.e4 exd4 17.exd5 (17.¤xd4 ¥xc5µ) 17...d3 18.£xd3 ¤xc5µ]
66
ARTIGOS TÉCNICOS
16...¤xe5 ¥xc5
17.dxe5
¤d7
18.¤f3
O meu artigo pretende demonstrar a arte de colocar as peças no jogo de xadrez nas melhores casas possíveis. Então Wesley tem um amor secreto para com o bispo e, assim, ele prefere a peça na diagonal ao cavalo para a recaptura do peão sacrificado. A minha investigação de muitos jogos levou-me à convicção de que em muitas posições do meio de jogo a melhor contribuição para a melhoria da peça é alcançada pelos movimentos dos cavalos. Os cavalos são as peças mais sensíveis para uma ocupação cirúrgica no tabuleiro, variando em impacto do controlo de apenas 2 casas no canto do tabuleiro para as orgulhosas 8 casas no centro, muitas dessas casas por vezes dentro do território do oponente. Eu acredito que o movimento mais correto era: 18. Cc5 [18...¤xc5 19.¥e3 ¦a5 20.¤d4 ¥d7=] 19.¤g5 g6 20.¥f4 A posição está a esconder um segredo, que é facilmente reconhecível para qualquer jogador experiente. O xadrez é um jogo de desequilíbrios e, neste momento, as brancas têm uma vantagem de 4-1 peças no lado do rei, enquanto as pretas podem ser felizes com a proporção de 5-2 na ala da dama. Quaisquer desequilíbrios reais no tabuleiro (simetrias quebradas entre flancos, disparidade no controlo de casas pretas e brancas, material incomparável no tabuleiro como a dama pelas 3 peças menores, etc) estão a tornar a situação nitidamente, perigosa e exige de ambos os
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
jogadores jogadas muito precisas. 20...£b6 21.e4 b3 22.axb3 axb3 23.£e2 ¥a6?
A posição crítica revela muito sobre o pensamento e as preferências do jogador. Os pretas enganam-se ao pensarem na chance de ativar o bispo, mas perdem a oportunidade de usar a torre de forma muito mais eficiente para o mesmo fim! Com 23. Ra2! atingiase a igualdade.
As pretas praticamente não conseguem respirar em condições, ao ver como a situação se torna tão perigosa no lado do rei. As brancas decidiram corretamente apontar todas as suas baterias para o flanco de rei. [27...¢g7 28.£c3+ ¤f6 (28...¥d4 29.£xc4 ¥xf2+ 30.¢h1 ¥xe1 31.¤e6+ ¢xf7 32.¤g5++-) 29.¤xe4+-; 27...¢f8 28.¤xe4 ¥xf7 29.¥h3+-] 28.¤xe4 ¥d4?
[23...¦a2! 24.e6 fxe6 25.exd5 exd5 26.£e6+ ¢g7 27.¥e3 h6 28.¦ac1 hxg5 29.¦xc5 £b4=] 24.£f3 ¥c4 25.¦xa8! ¦xa8 26.e6 O jogador de pretas não resolveu os problemas da posição de forma a ficar com boa posição . A sua posição é tão crítica, que até 26.Bh3 estava quase a forçálo a procurar um contra-ataque com a tentativa obscura de 26.Bxf2
[26.¥h3 ¥xf2+!? (26...¤f8? 27.e6+-) 27.£xf2 £xf2+ 28.¢xf2 ¤c5 29.¢g1 h6 30.¤f3±]
Wesley So, é muito atraído pelos bispos que ele preferiria utilizar em vez da manobra da torre na maioria dos casos. As pretas ignoram a defesa mais difícil de 28.Re8 que logicamente traz uma peça muito substancial para a defesa do rei. [28...¦e8! 29.¦d1 ¥d5 30.£d3±] 29.¤d6! É de notar que a ideia de chave deste ataque é baseada no movimento do cavalo. Devido aos movimentos incomuns desta peça,as pretas ficam sem
26...dxe4
hipótese de defender com a torre para e8, e para cúmulo o bispo em f7 está sob fogo.
[26...fxe6 27.¥b8! (27.¥c7) 27...¤e5 28.¥xe5 ¦f8 29.£g4 d4 30.¤xh7 ¢xh7 31.£h4+ ¢g8 32.¦a1 £d8 33.£h6 ¢f7 34.£c1+-]
29...¥d5 [29...¤f6 30.¤xf7 ¢xf7 31.¥f1 ¦a7 32.¥c4+ ¢g7 33.¦e6±] 30.£e2 ¤f8
27.exf7+ ¥xf7
Há momentos em que todos os ARTIGOS TÉCNICOS
jogadores precisam de admitir que alguma coisa correu mal pelo caminho. As pretas tentam evitar desesperadamente a entrada de Qe6 +, mas as peças brancas estão muito bem localizadas. [30...¥xg2 31.£e6+ ¢h8 32.¤f7+ ¢g8 33.¤d8++-] 31.¥xd5+ cxd5 32.£f3 £a5 [32...£c5 33.¦c1 £a5 34.¥h6+-] 33.¦e7 A diferença entre a coordenação de peças brancas e pretas tornou-se muito dolorosa. Wesley So abandona a partida, com a convicção de que nesta partida, as brancas tiveram um jogo de peças muito superior. [33.¦e7 ¥f6 34.¥h6 £a1+ 35.¢g2 £xb2 36.£xd5+ ¢h8 37.¥g7+ ¥xg7 38.¤f7++-] 1–0 O primeiro jogo foi bastante revelador para o autor, pois mostra claramente a dificuldade que So, Wesley tem para jogar bem com os bispos, pelo menos nesta partida. O gosto pessoal influencia as escolhas de todos os jogadores, mas a perda de flexibilidade pode ser dispendiosa. Pelo menos em dois casos, o negro ignorou um movimento de torre muito melhor que teve que ter preferência sobre as melhorias do bispo. Grischuk sempre foi respeitado como um notável talento de xadrez da sua geração. Na luta com So ele consegue criar um exemplo de modelo de como colocar as peças no tabuleiro para o efeito máximo. Por favor, note que as brancas conseguiram incluir todas as suas forças em ação e sua boa localização tem contribuído em quaisquer complicações no jogo. Você pode se lembrar da regra, que peças bem localizadas estão 67
preparadas para qualquer curso de desenvolvimento que o jogo possa tomar sob a orientação de dois mestres concorrentes.
(2) Grischuk,Alexander (2767) - So,Wesley (2799) [C84] FIDE Candidates Berlin (2), 11.03.2018 [Ftacnik] 1.e4 e5 2.¤f3 ¤c6 3.¥b5 a6 4.¥a4 ¤f6 5.0–0 ¥e7 6.d3 A revolução da informação no xadrez (computadores, bases de dados, internet) mudou completamente a paisagem também no jogo de abertura. Muitos jogadores simplesmente admitem que é quase impossível obter qualquer vantagem contra um adversário bem preparado. O lado positivo dessa tendência é a liberdade de jogar qualquer linha, até mesmo a mais pacífica ou não agressiva. 6...b5 7.¥b3 d6 8.c3 0–0 9.h3 ¥b7 Wesley So gosta de jogar com os bispos. O segredo desta linha da linha é o fato de que a manobra, o cavalo a pular para a5 é muito eficiente contra 6.d3,uma vez que os planos das brancas são mais lentos com d3. 9...¤a5!? 10.¥c2 c5 11.¤bd2 ¤c6 (11...¦e8 12.¦e1 ¥f8 13.¤f1 h6 14.¤g3 g6 15.d4 £c7 16.b3 ¥g7 17.d5 ¥d7 18.¥e3 ¤b7 19.£d2 ¢h7 0–1 (58) Korneev,O (2601)-Karjakin,S (2658) Benidorm 2005 20.c4±) 12.¦e1 ¦e8 13.¤f1 h6 14.a3 ¥f8 15.¤e3 ¥e6 16.b4 d5 17.exd5 ¤xd5 18.¤xd5 £xd5 19.¥e3 ¥f5 20.bxc5 ¥xc5= ½–½ (85) Bologan,V (2682)-Fressinet,L (2624) Bastia 2005] 10.¤bd2 ¦e8 11.¤g5 ¦f8
68
Momento muito instrutivo que mostra quão profundamente os jogadores estão a trabalhar nas linhas de abertura. Aparentemente jogável 11 ... d5 provocará o sacrifício em f7 que arrasta o rei negro para o centro. Os bons motores estão chocados, valorizam a posição como vantagem das brancas. [11...d5 12.exd5 ¤xd5 13.¤xf7!? ¢xf7 14.£f3+ ¢e6 15.a4±] 12.¦e1 d5!? Com tanta informação, ficou razoavelmente fácil de ler o oponente com detalhes consideráveis. Além do amor pelos bispos, Wesley So acredita na força da ideia de d5 contra a abertura espanhola. [12...h6 13.¤gf3 ¦e8 14.¤f1=; 12...¤d7 13.¤gf3 ¥f6²; 12...¤a5 13.¥c2 c5 14.¤f1 h6 15.¤f3 ¦e8 16.¤3h2?! (16.¤g3 ¥f8 17.d4=) 16...d5 17.£f3 dxe4?! (17...¥f8) 18.dxe4 ¤c4 19.¤g3 ¤d6= 20.¥e3?! (20.¦d1 £c7 21.¤g4 ¤xg4 22.£xg4 ¢h8 23.f4ƒ) 20...£c7 21.¤g4 ¤xg4 22.£xg4² 0–1 (54) Yudasin,L (2645)-Ivanchuk,V (2695) Riga 1991] 13.exd5 ¤xd5 14.¤df3 £d7 As pretas não estão satisfeitas com o facto da sua abertura central ter dado mau resultado. [14...h6 15.¤e4 f5 16.¤g3 £d6 17.c4 (17.¤xe5 ¤xe5 18.¥f4±) 17...bxc4 18.dxc4 ¤a5 19.¦xe5+-] 15.d4! Grande parte da filosofia sobre a importância dos movimentos de peças no xadrez está relacionada com o extremo cuidado ao fazer qualquer movimento de peão. O peão desfruta de grande popularidade entre muitos jogadores e, infelizmente, muitos movimentos com eles devem ter sido substituídos por movimentos adequados com a peça ARTIGOS TÉCNICOS
adequada à situação concreta! Grischuk sente corretamente que a expansão com o peão central irá multiplicar o seu potencial pelo controle das casas centrais c5, e5. [15.¤xe5?! ¤xe5 16.¦xe5 f6 17.¦xe7 (17.¦xd5 ¥xd5 18.£g4 f5µ) 17...£xe7 18.¤e4 ¢h8³] 15...exd4 16.cxd4 [16.£d3 g6 17.£e4 ¦ad8 18.cxd4²] 16...h6 17.¤e4 ¦fe8 O uso inteligente de computadores e motores pode ajudar os jogadores de todos os tipos de forças de jogos . O mecanismo de silício ressalta que a torre está ocupando a única coluna aberta no tabuleiro, mas era mais desagradável para as brancas se as pretas fossem diretamente para a coluna “ d “. 17...Rad8!? [17...¦ad8!? 18.a4 ¤db4=] 18.¥d2 ¤f6 [18...¦ad8 19.¦c1 ¥f8 (19...¤f6? 20.¦xc6! £xc6 21.¤e5+-) 20.¤c5²] 19.¦c1 Por favor, preste atenção aos dois últimos movimentos jogados por Grischuk. O bispo d2 trabalha em duas diagonais importantes, embora a partir de uma casa modesto e a torre tomou o controlo da coluna semi-aberta. Todas as peças brancas já estão mobilizadas, o perigo para as pretas é iminente. 19...¤xe4 [19...¤xd4? 20.¥xf7+ ¢h7 21.¤e5+-] 20.¦xe4 ¥f6 21.¦g4!
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
(24.¥xh6 ¦ad8 25.£c1+-) 24...¦e4 25.¥xd4+-] 23.£c1!? Eu aconselho vivamente este jogo como um modelo para ensinar a arte de colocar as peças da melhor maneira possível. Grischuk sente a posição muito bem e prefere incluir a dama no ataque das brancas. 21...¢h8 Com esta jogada de defesa Wesley So admite que não valorizou bem a posição. O movimento do rei é uma medida defensiva pura e as pretas definitivamente preferiria o contra-ataque com 21 ... Nd4. Infelizmente, as pretas já não estão bem, e assim, o defensor tenta evitar o pior. [21...¤xd4 22.¤xd4 ¥xd4 23.¥xh6 (23.¥e3 c5 24.¥xd4 cxd4 25.¦xd4 £e7 26.¦d7 ¦ad8 27.¦cc7±) 23...¦ad8 24.£d2 (24.¥g5?! ¥xf2+! 25.¢xf2 £f5+ 26.¦f4 £xg5 27.¥xf7+ ¢f8 28.£g4 ¦d2+µ) 24...¥e5 (24...¦e4 25.¦xg7+ ¥xg7 26.£g5 £d4 27.¥xg7 £d2 28.¦c5±) 25.¦xg7+ ¥xg7 26.£g5 £d4 27.¥xg7 £d2 (27...£xg7 28.¥xf7+ ¢f8 29.£xg7+ ¢xg7 30.¥xe8 ¦xe8 31.¦xc7++-) 28.¦c5±] 22.¦c5!
[23.¦h5 ¤xd4 24.¤xd4 ¦e5 25.¦xe5 ¥xe5 26.£c1 ¥xd4 27.¥xh6±] 23...¤xd4 [23...g5 24.¥xg5! hxg5 (24...¥xd4 25.¥f6++-) 25.¤xg5 (25.¦cxg5 ¥g7 (25...¥xg5 26.£xg5 £xg4 27.hxg4+) 26.¦h5+ ¢g8 27.¦xg7++-) ] 24.¤xd4 ¦e4! O novo jogador americano não seria uma estrela do Top se não tivesse qualidades especiais. O espírito de luta é simplesmente necessário para os começos no top 10 e Wesley tenta sobreviver por todos os meios. [24...¥xd4 25.¥xh6! (25.¥c3 ¦e4=) 25...¥xc5 26.¥xg7+ ¢g8 27.£h6+-]
[22...¤xd4? 23.¤xd4 ¥xd4 24.¥c3!?
[27.¥xd4 ¦xg2+ 29.¦xf7!+-]
28.¢f1
¥xd4
27...£e4 28.f3 £b4 [28...¥xb2 29.fxe4 ¥xc1 30.¥xc1 ¥xe4 31.¥xf7+-] 29.¦xb7 ¥xb2 No caso de alguém perguntar por que as pretas continuam a jogar com uma peça a menos, o fato das brancas estarem em apuros de tempo é a resposta! Wesley So não tem mais nada a perder e Grischuk precisa prestar uma boa atenção para os próximos 10 movimentos.
30.£f1 [30.£xb2? £e1+ 31.¢h2 £h4++-] 30...f6 31.£f2 ¥e5 32.f4 ¥d6 33.g5! Abrir o acesso ao rei preto permitirá que as peças brancas mostrem o seu verdadeiro potencial.
25.¦xc7! £xd4 26.¥e3 Naturalmente as brancas não podem consultar o motor durante a luta! Ele teria concluído que o 26.Bc3 poderia ter sido um pouco mais exato, mas não mudaria radicalmente o quadro. [26.¥c3 ¦xg4 27.hxg4 (27.¥xd4 ¦xg2+ 28.¢f1 ¥xd4 (28...¦h2 29.£xh6++-) 29.¦xf7 (29.¦xb7? ¦xf2+–+) 29...¦e8 30.£c7 ¦g1+ 31.¢xg1 ¦e1+ 32.¢h2 ¥e5+ 33.£xe5 ¦xe5 34.¦xb7+-) 27...£xg4 (27...£e4 28.f3 ¥d4+ 29.¢h1+-) 28.¦xb7+-]
22...¦ad8
tomar a dama, a sua escolha conservadora é muito segura.
33...£e4 34.£f3 [34.gxf6 gxf6 35.¦f7+-] 34...£b1+ 35.£f1 £e4 36.£f3 £b1+ 37.¢f2 ¥b4 38.£e2 £e4 39.£f3 £b1 40.¢g3 fxg5 41.¢h2 As brancas passaram os apuros de tempo sem estragarem a posição. Grischuk cuidou bem do seu rei enquanto o rei das pretas ficou vulnerável.
26...¦xg4 27.hxg4
41...£f5 [41...gxf4 42.¥b6! (42.¥d4!? ¦xd4 43.¦b8+ ¢h7 44.¥g8+ ¢g6 (44...¢h8 45.¥f7+ ¢h7 46.¦h8+!+-) ); 41...¥d6 42.¦d7+-] 42.¦f7 £g6 43.fxg5 ¥d6+ 44.¢h3
Grischuk recusa meter-se em complicações depois de
As pretas abandonam sem deixar as brancas brilhar com o lance
ARTIGOS TÉCNICOS
69
45º lance Kg4! É um tributo modelo do tratamento adequado das peças no xadrez; às vezes até o rei pode desempenhar um papel ativo no meio de jogo. [44.¢h3 hxg5 45.¢g4! (45.¥xg5 £xg5 46.¦f5+-) 45...¦e8 46.¦f5+-] 1–0
(3) Aronian,Levon (2794) - Kramnik,Vladim ir (2800) [C65] FIDE Candidates Berlin (3), 12.03.2018 [Ftacnik] 1.e4 e5 2.¤f3 ¤c6 3.¥b5 ¤f6 4.d3 O modesto movimento do peão tornou-se a norma contra a defesa de Berlim. Em um dos exemplos modestos de exceção à regra, as pretas ameaçam jogar 4.0-0 Ne4 !? e as brancas estão lutando para obter alguma vantagem. 4...¥c5 5.¥xc6 dxc6 6.0–0 £e7 7.h3 Aronian definitivamente não suspeitava de nada de mau depois desse movimento profilático ao pé do seu rei. A maioria dos jogadores no futuro será mais cuidadosa e jogará a ideia Cbd2 desenvolvendo o jogo. 7.Nbd2. [7.¤bd2 ¥g4 (7...0–0 8.¤c4 ¤d7 9.¥d2 b6 10.a3 ¥a6 11.b4 ¥xc4 12.bxc5 ¥e6 13.cxb6 axb6 14.a4 ¦a6 15.a5 ¦fa8 16.¥c3 ¥g4 17.axb6 cxb6 18.¦xa6 ¦xa6 19.£d2 ¥xf3 20.gxf3 £f6³ 1/2–1/2 (40) Bartel,M (2637)-Kryvoruchko,Y (2714) Poland 2017) 8.h3 (8.¤c4 ¤d7 9.a3 a5 10.¥e3 f6 11.¥xc5 ¤xc5 12.¤e3 ¥xf3 13.£xf3 0–0 14.h4 ¤e6 15.h5 a4 16.g3 £d7 17.£g4 ¦ad8 18.¦ad1 c5= 0–1 (54) Anand,V (2786)-Carlsen,M (2832) Leuven 2017; 8.¦e1 ¤d7 9.h3 ¥e6 10.c3 0–0 11.d4 ¥d6 12.¤f1 f6 13.¤e3 70
¦fe8 14.b3 exd4 15.cxd4 ¦ad8 16.¥b2 ¥b4 17.¦e2 ¤e5 18.¤h4 £f7 19.¤ef5 ¤g6 20.¦e3 ¤xh4 21.¤xh4 c5= 1/2–1/2 (34) Adams,M (2738)-Bok,B (2620) Douglas 2017) 8...¥h5 9.a3 (9.¦e1 ¤d7 10.¤f1 ¤f8 11.¤g3 ¥xf3 12.£xf3 g6 13.c3 (13.¥d2 ¤e6 14.b4 ¥b6 15.a4 a5 16.¦eb1 axb4 17.¥xb4 ¥c5 18.¥d2 b6 19.a5 0–0 20.axb6 cxb6= 1/2–1/2 (26) McShane,L (2647)-Bok,B (2611) Germany 2018) 13...h5 14.b4 ¥d6 15.a4 a5 16.b5 cxb5 17.axb5 ¤d7 18.d4 ¤b6 19.£d3 a4 20.f4 f6 21.h4 0–0–0 22.fxe5 fxe5 23.¥g5= 0–1 (53) Bartel,M (2609) -Cheparinov,I (2693) Batumi 2018) 9...a5 10.¤c4 ¤d7 11.g4 ¥g6 12.b4 axb4 13.¥g5 f6 14.axb4 ¦xa1 15.£xa1 ¥d6 16.£a8+ £d8 17.£xd8+ ¢xd8 18.¦a1 ¢e7 19.¥d2 ¥f7 20.¤e3² 1/2–1/2 (30) Anand,V (2783)-Nakamura,H (2792) Saint Louis 2017] 7...¦g8!?N Kramnik supostamente conhecia esta ideia de ataque já há algum tempo. As pretas têm 4 peças na direção do flanco de rei das brancas contra 2 peças apenas das brancas na defesa dessa área, e a ideia de g7-g5-g4 é extremamente perigosa devido à fraqueza h3. [7...¥d6 8.d4 ¤d7 9.¤bd2 0–0 10.¤c4 exd4 11.£xd4 ¤b6 12.¤xd6 £xd6 13.a4 ¦e8 14.¦e1 a5 15.b3 £xd4 16.¤xd4 f5 17.¥f4 fxe4 18.c4 ¤d7 19.¥xc7 ¤f6 20.¦ad1² 1/2–1/2 (47) Romanov,E (2642)-Postny,E (2630) Fagernes 2014; 7...h6 8.c3 0–0 9.¤bd2 ¥d6 10.d4 ¤d7 11.¦e1 c5 12.¤c4 cxd4 13.cxd4 ¥b4 14.¦e2 exd4 15.a3 ¤b6 16.¤xb6 axb6 17.¦b1 d3 18.£xd3 ¦d8 19.£c2 ¥d6 20.e5 ¥c5= 1–0 (39) Smirin,I (2671)-Hracek,Z (2579) Czechia 2004;
ARTIGOS TÉCNICOS
7...0–0 8.¤bd2 b5 9.¦e1 a5 10.a4 h6 11.¤f1 ¤d7 12.¥d2 b4 13.¤g3 ¦e8 14.¤f5 £f6 15.¤h2 ¤f8 16.£f3 ¤h7 17.¤g4 £g6 18.¥e3 ¥f8 19.¥d2= 1–0 (58) Solak,D (2635) -Georgiadis,N (2421) Dubai 2014] 8.¢h1 [8.¤c3 g5 9.¥xg5 ¥xh3! (9...h6 10.¥xf6 £xf6 11.¢h1=) 10.¤a4 ¥d6µ] 8...¤h5 [8...g5? 9.¥xg5±] 9.c3?! Aronian não jogou bem em Berlim, muitas das suas escolhas não estiveram em sincronia com as necessidades da posição. As brancas ainda estão atrasadas no desenvolvimento, então a prioridade deveria ter sido recuperar esse atraso! No calor do combate, as brancas conseguirão esquecer que, pior do que as peças mal desenvolvidas, são as peças que nem entram na partida! [9.¤c3 g5 10.¤xe5 g4 11.d4 ¥d6 12.g3=] 9...g5 10.¤xe5 g4
[10...¤g3+? 11.fxg3 £xe5 12.d4 £xg3 13.£h5+-] 11.d4 [11.¤xg4 ¥xg4 12.hxg4 £h4+ 13.¢g1 ¤g3–+] 11...¥d6 12.g3 [12.hxg4 £h4+ 13.¢g1 ¥xe5 14.dxe5 ¥xg4 15.f3 ¥h3 16.¦f2 ¦d8–+; 12.¤c4? gxh3–+] 12...¥xe5 13.dxe5 £xe5 14.£d4 A primeira onda de ataque foi repelida e as brancas certamente não suspeitaram do nível real de perigo.
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
A maioria dos movimentos no início do meio do jogo as brancas ignoram completamente as possibilidades das pretas.
a qualquer substituição dos movimentos da peça com avanços imprudentes de peões em momentos aleatórios.
(27.¢f1 ¤g3+ 28.¢xf2 £f3+ 29.¢g1 ¤e2+ 30.¢h2 £h3#) 27...£f3+ 28.¢g1 £g3+ 29.¢h1 £h3+ 30.¢g1 ¦g3+ 31.¢f2 £h2+–+]
[14.h4 £xe4+ 15.¢g1 ¥e6 16.¦e1 £d5³]
19.¥g5? [19.exf5? ¤xg3+! 20.fxg3 ¥d5+ 21.¢g1 £e2–+; 19.¤a3 f4 20.¢g2 ¦f8µ] 19...¦xg5! 20.hxg5 f4
25...gxf3 26.exd5 £e2 27.¦e1
14...£e7 [14...£xd4 15.cxd4 gxh3 16.¢h2 ¥d7³] 15.h4
Kramnik prefere corretamente o fator tempo às complicações depois de se livrar do intruso em g5.
[15.¥e3 gxh3 16.¤d2 b6³] 21.£d1 15...c5 16.£c4 [16.£d3 ¥d7 17.c4 0–0–0 18.¤c3 ¦ge8³] 16...¥e6 17.£b5+? Ser corajoso por vezes pode ser a melhor forma de partir para a derrota!. Aronian perde a última chance de voltar a defender a posição com 17.Qd3! [17.£d3! ¥d7 18.c4 0–0–0³] 17...c6 18.£a4 [18.£d3 ¦d8 19.£e3 ¥c4µ] 18...f5!
Às vezes até os melhores jogadores precisam de engolir o orgulho e aceitar que se enganaram! O recuo para d1 é o quinto movimento da rainha e a única “conquista” real de sua peregrinação foi a completa ignorância do desenvolvimento das peças. [21.¢g1 fxg3 22.fxg3 £xg5 23.£c2 0–0–0 24.£c1 £e5–+] 21...¦d8 22.£c1 [22.£e1 £xg5 23.£c1 £e5–+] 22...fxg3 23.¤a3 ¦d3 As brancas estão completamente perdidas, já que suas peças não estão jogam e todas as forças negras são dirigidas contra o seu rei. 24.¦d1 ¥d5! Bela combinação, Kramnik decidiu entrar na história com este jogo com algum estilo. A partir deste momento, é praticamente impossível para as brancas evitar a derrota.
Grande jogada de peão que abre todas as portas na direção do rei das brancas! Na verdade, o autor não tem nenhum problema com o jogo oportuno e excelente com peões, mas sofre sérias objeções
[24...¦f3 25.fxg3 ¤xg3+ 26.¢g2 ¤xe4–+] 25.f3 [25.¦xd3 £xe4+ 26.f3 gxf3 27.¦e3 (27.£e3 f2+ 28.£xe4+ ¥xe4+ 29.¦f3 ¥xf3#) 27...f2+ 28.¦xe4+ ¥xe4#; 25.exd5 £e4+ 26.¢g1 gxf2+ 27.¢xf2 ARTIGOS TÉCNICOS
Aronian tenta resistir, mas na verdade não há nada a fazer. Não se vê todos os dias que apesar do ataque à dama das pretas, o lado mais forte possa terminar a invasão em grande estilo. [27.£c2 g2+ 28.¢g1 (28.¢h2 g1£+ 29.¢xg1 f2+ 30.¢h2 f1£+ (30...f1¤+ 31.¢h1 ¦h3+ 32.¢g1 ¦g3+ 33.¢h1 £f3+ 34.£g2 £xg2#) ) 28...f2+ 29.¢h2 (29.¢xg2 f1£#) 29...g1£+ 30.¦xg1 fxg1£+ 31.¢xg1 ¦g3+ 32.¢h1 £f3+ 33.¢h2 ¦h3+ 34.¢g1 ¦h1#] 27...g2+ [27...g2+ 28.¢h2 (28.¢g1 f2+ 29.¢h2 g1£+ 30.¦xg1 f1¤+ (30... f1£+ 31.¢h1 ¦h3# (31...£eg2#) ) 31.¢h1 ¦h3#) 28...g1£+ 29.¢xg1 f2+ 30.¢h1 ¦h3+ 31.¢g2 f1£#] 0–1
O último exemplo causou sensação devido à natureza dolorosa da derrota do Aronian nas mãos do ex-campeão mundial Kramnik. A espetacular vitória das negras não seria possível sem a devastadora negligência que as brancas demonstraram em relação ao desenvolvimento das peças. Os jogadores estão justificadamente com medo de perder as peças no meio do jogo, mas um problema pode ser ainda pior - não as desenvolver em absoluto! Nós todos sabemos que o valor das peças é relativo e depende muito da sua colocação, mas qual é exatamente o valor duma peça que nunca teve a chance entrar na partida ? 71
Concluindo, posso tentar sugerir uma forma sensata de utilizar o tempo de trabalho em xadrez ! Por favor, tente reduzir o número de horas que você investe em estudar aberturas e tente aprender a colocar melhor as peças.
Tática 2018 A secção da Tática na revista GAYACHESS tem quatro anos tal como a revista. Já estão na Revista 36 exercícios nestes quatro anos, todos explicados, com vários temas e os porquês das jogadas. Tenho chegado à conclusão de que os alunos não veem os exercícios. Será necessário: primeiro vê-los, depois pensar sobre eles, anotar as soluções e os temas, para os interiorizar, e a evolução tática será muito significativa. É como fazer abdominais mentais! Este ano, vou explicar os 8 exercícios que coloquei. Os 8 exercícios estão divididos em 3 capítulos: Os 2 primeiros são 2 mates em 2 jogadas de dificuldade relativamente elevada: em cada um deles, o primeiro lance é subtil e depois tudo se torna evidente. Compete ao leitor em consciência ver quanto tempo leva a encontrar a primeira jogada! Os exercícios 3, 4 e 5 dão uma pequena aula sobre finais de bispo da mesma cor com um peão na sétima. Dois deles estão ganhos e um está empatado. A posição de Centurini é de rara beleza e é muito didática a forma como as brancas destroem as possibilidades defensivas das pretas até à vitória final. Os exercícios 6, 7 e 8 ajudam a aprender a regra da oposição, 72
Você pode ser agradavelmente surpreendido pelo nível crescente de suas performances. Por: GM Lubomir Ftacnik
e uma das suas exceções mais importantes: a exceção da sexta fila - Na sexta fila (para as pretas na terceira) a oposição não conta. A minha ideia tem sido ensinar através destes artigos. Se tiverem críticas escrevam. O processo de escrita é em si mesmo de aprendizagem permanente!
(1) Mate em dois lances [António Fróis]
+:-
E é mate imparável seja qual for a jogada das pretas. 1.¦h1
(3) Posição de Centurini
[António Fróis] +:-
(2) Mate em 2 lances [António Fróis]
É mate imparável com qualquer tentativa de defesa das pretas 1.£c5
ARTIGOS TÉCNICOS
1.¥a4 Tentando entrar em h7 via c2. 1...¢g6 2.¥c2+ ¢h6 Impedindo a primeira ideia das brancas. 3.¥f5!! A jogada Chave para impedir Be6 como jogada defensiva! [3.¥e4? ¥e6! 4.¥c6 ¢g6 5.¥e8+ ¢f6
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
6.¥d7 ¥a2 7.¥f5?? Jogada que não é obviamente possível pela colocação do rei das pretas em f6. 7...¢xf5] 3...¥b3 4.¥d7 ¢g6 5.¥e8+ ¢f6 6.¥a4 ¥a2 7.¥c2 +:-
11...¢a8 12.b6 ¢b8 13.b7+- +:-
(7) Brancas Ganham [António Fróis]
(4) Final Bispos empatado [António Fróis]
1.¥e8
1.¥f8 1...¥c1 2.¥b4 ¥h6 3.¥c3!! A partida está ganha, porque uma das diagonais de defesa da casa de promoção tem apenas 3 casas e por isso as pretas acabam por ficar em zuzgwang e perder a partida! +:-
(6) Oposição na sexta
1.e5! 1...¢e7 2.¢c7 ¢f7 3.¢d7 ¢f8 4.¢xe6 ¢e8 5.¢f6 ¢f8 6.e6 ¢e8 7.e7 +:-
(8) Pretas empatam [António Fróis]
[António Fróis]
1...¥d1 2.¥b5 ¥h5 3.¥c6 ¥g6! Está empatado porque as duas diagonais de defesa da casa de promoção têm 4 ou mais casas, e portanto não se consegue aplicar um zugzwang ganhador! =:=
1.¤b6+!! 1...cxb6 2.¢g3 ¢b7 3.¢f4 ¢c7 4.¢e5 ¢d7 5.¢d5 ¢c7 6.¢e6 ¢b7
(5) Final bispos ganho
1...e5!! As pretas colocam o peão na quinta fila e assim vão conseguir uma oposição de empate, fugindo à exceção da sexta fila, na qual a oposição não conta. [1...¢f7 2.e5 ¢g6 3.¢d7 ¢f5 4.¢d6] 2.¢d6 ¢f7 3.¢xe5 ¢e7 4.¢f5 ¢f7 5.e5 ¢e7 6.e6 ¢e8 7.¢f6 ¢f8 8.e7+ ¢e8 9.¢e6 =:=
[António Fróis]
Por António Fróis
7.¢d7 ¢a8 8.¢c7 ¢a7 9.¢c6 ¢a8 10.¢xb6 ¢b8 11.¢a6!
ARTIGOS TÉCNICOS
73
XVIII Profigaia Open
74
Árbitro Principal
Paulo Rocha
Árbitro Auxiliar
Pedro Areal
Árbitro Auxiliar
Pedro Marinho
Daniel Campora
André Sousa
José Padeiro
António Fróis
Simão Pintor
Albano Pinheiro
Diogo Martins
Mariana Silva
Hugo Sousa
Duarte Duarte
Bruno Figueiredo
Ricardo Marques
Jorge Antão
Miguel Sismeiro
Inês Silva
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Pedro Mendes
Francisco Assunção
Manuel Martins
Filipa Pipiras
Pedro Silva
Marcelo Carreira
Ricardo Andrade
Fernando Alves
José Dias
Daniel Silva
Rodrigo Basílio
Álvaro Brandão
Rúben Freitas
Paulo Monteiro
Pedro Lopes
Gil Sousa
André Ribeiro
Luís Sá 75
76
João Coimbra
David Sousa
Décio Mateus
Sara Soares
Diogo Camacho
Rúben Marriós
Pedro Vieira
Edgar Taveira
António Clemente
Rodrigo Sarabando
Rafael Borges
Mário Sousa
Fábio Dong
Filipe Real
Pedro Fonseca
Bruno Correia
Joaquim Pereira
Manuel Pedroso
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
José Antão
Ilya Frolov
Rafael Dong
Luís Marques
David Rey
Gaspar Couto
Filipa Camacho
Tiago Fernandes
Paulo Alves
Guilherme Magalhães
Francisco Duarte
Ricardo Marques
Nuno Taveira
Jorge Figueiredo
António Silva
Nuno Pereira
João Carvalho
Gonçalo Mesquita
77
78
Afonso Pereira
Afonso Borges
Gonçalo Coelho
Guilherme Filipe
Gustavo Filipe
Rodrigo Paiva
David Farias
Tomás Veleirinho
Clara Couto
José Silva
Afonso Oliveira
Sofia Valente
Paulo Soares
Beatriz Areal
Maria Rita Pinto
José Ralha
David Alves
João Azevedo
GAYACHESS Nº4 - A Terra do Xadrez 2018
Vítor Cardoso
David Carvalho
Tomás Costa
Saran Velumani
Pedro Flores
André Pereira
Pedro Pinto
Eunice Quintas
Daniel Ribeiro
Nuno Santos
Frederico Silva
Marisa Silva
Mark Orlov Silva
Sofia Sismeiro
Nuno Vasconcelos
79
XVIII Profigaia Open Classificação Final
Ao centro - GM Daniel Campora - Vencedor do XVIII Profigaia Open
80
GAYACHESS Nยบ4 - A Terra do Xadrez 2018
81