Revista Gayachess Nº5 (2019)

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Nº5 - 01 de Julho de 2019 - 1º Edição

GAYACHESS A Terra do Xadrez

••••••••• ARTIGOS Subida da Profigaia à 1ª Divisão Nacional Projeto Divertir com o Saber O Xadrez enquanto estratégia de Apoio Tutorial Específico

•••••••••••••• ENTREVISTAS Ana Inês Silva

•••••••••• NOTÍCIAS

Mariana Silva

Workshops no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira FITEI 2019 - Yo Escribo Vos Dibujas Jogos Juvenis de Gaia 2019

••••••• TÁTICA Tática GAYACHESS 2019

Escola Profissional de Gaia

G A X

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G A X

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Academia de Xadrez de Gaia Rua Diogo de Silves, 231 - 4400-268 Vila Nova de Gaia Nº de telefone: 223 747 160 - Email: geral@gaiachess.com Facebook: www.facebook.com/axgaia

Ficha Técnica Editor: Academia de Xadrez de Gaia Diretor: Direção da Escola Profissional de Gaia Sub-Diretor: António Fróis Redação: Ana Isabel Lopes, Bruno Figueiredo, Sónia Reis Arranjo Gráfico e Design: Ricardo Teixeira Arranjo Gráfico - Capa: Verónica Couto, Beatriz Couto e Augusta Silva (alunas do 10º ano de Design Gráfico) Fotografia - Capa: Sónia Reis


GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

Sumário 05

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Tabuleiro

Artigo de Opinião

Artigos

33 - O que se pode dizer da

16 - Sports Concept Made for You

Academia de Xadrez de Gaia

17 - Unidades de Apoio ao Alto

34 - Xadrez e Yoga. Uma dupla de

Rendimento na Escola

sucesso!

18 - Subida da Profigaia à 1ª Divisão

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06 Notícias 06 - Deus Quer, o Homem sonha, a Obra Nasce 07 - Workshops no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira 08 - Xadrez, Jogo de Estratégia Xadrez, Vida e Prisão 10 - FITEI 2019 - Peça de Teatro: Yo Escribo Vos Dibujas 11 - Xadrez no Porto na época

Nacional

Entrevistas

19 - CXB – Clube de Xadrez de

36 - Ana Inês Silva

Braga

38 - Mariana Silva

20 - Do Desporto Escolar para o

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Desporto Federado

Táctica 2019

22 - O estranho caso do campeão

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mundial Alekhine

2017/2018

Profigaia Open 2019

23 - O Penta da Personalidade

12 - Jogos Juvenis de Gaia 2019

25 - Divertir com o Saber

14 - Escola Profissional de Gaia

30 - O Xadrez enquanto estratégia

15 - Ensino Profissional – Uma

de Apoio Tutorial Específico

oportunidade de primeira qualidade

32 - Centurium – Jogos Romanos de

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12.º TORNEIO INTERNACIONAL CIDADE GAIA

XIX PROFIGAIA OPEN 1ª sessão 2ª sessão 3ª sessão 4ª sessão 5ª sessão 6ª sessão 7ª sessão

28/06 - 6ª Feira 29/06 - Sábado 29/06 - Sábado 30/06 - Domingo 30/06 - Domingo 01/07 - 2ª Feira 02/07 - 3ª Feira

19h30 14h30 19h30 10h00 15h30 19h30 19h30

Augusta Silva, Beatriz Couto e Verónica Couto, 10º Design Grááco

Local: Escola Profissional de Gaia


GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

Editorial

ELOGIO DA IGNORÂNCIA Hoje poderia escrever-se uma obra tão satírica como Erasmo de Roterdão, na época do Renascimento, quando lançou o Elogio da Loucura. O sector do ensino e educação não tem conseguido dar resposta às grandes questões da adolescência que, ao fim e ao cabo, desembocam em saber mais e mostrar um comportamento equilibrado. Esta crise dos valores pedagógicos afecta muita gente incluindo os professores que parecem não acreditar nos princípios básicos da educação liberal, segundo os quais o conhecimento é um bem em si-mesmo. Mostram a sua preferência pelos conceitos de relevância, aptidões e igualitarismo social. Não apreciam a educação pelo seu valor intrínseco, mas exclusivamente pelos seus resultados. Assim, se a educação é apenas ponderada pela vantagem económica que confere, perderá a sua premência. A jornalista inglesa Melanie Phillips, muito apreciada pelos seus leitores, alude num dos seus editoriais a uma intervenção do inspector-geral do ensino

secundário britânico na qual focava duma forma acutilante a corrosão do núcleo dos valores educativos. Punha em evidência o desequilíbrio na apreciação das disciplinas: as de carácter técnico dominam as de carácter formativo. A jornalista não deixa de apontar a chaga que mói o problema: a falta da compreensão da finalidade das escolas, a destruição da confiança na educação. As raízes desta situação dominam a crise geral que vai afectando os valores sociais: o desequilíbrio da autoridade, a confusão sobre o que é a infância, a equação catastrófica da igualdade com o seguidismo, os valores niilistas da cultura mediática, o relativismo cultural que pretende tornar o êxito antipático. Tenta-se redefinir a educação de forma a que reflita um tipo de personalidade ajustado a uma sociedade fragmentada. Apesar de tudo, alimentemos a esperança que a onda de mediocridade tantas vezes protegida por lei, não submerja um núcleo cada vez maior de jovens. In - Editorial do Jornal A Nossa Geração Publicação trimestral da Escola Profissional de Gaia Dezembro de 1994 Padre Manuel Leão

ATUALMENTE A ÚNICA

REVISTA DE XADREZ EM PORTUGAL !!!

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Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce Foi uma grande alegria para a família AXGAIA/PROFIGAIA ter o seu jovem gaiense, Daniel Silva, a sagrar-se campeão nacional de sub-10 no Luso. O apoio concedido pela Câmara Municipal de Gaia, na época anterior, deu o seu fruto e este jovem alcançou uns dos seus objetivos.

dos quais : 5 vitórias, 2 empates e 2 derrotas. Teve uma excelente classificação: ficou em 15º de 132. Tendo em conta que o nosso país não tem tradição xadrezística, é um bom começo!

dois empates com jogadores fortíssimos: o Inglês - CM Shreyas Royal (nº 2) e o americano Dimitar Mardov (nº9). Sendo que em ambos tinha vantagem decisiva. Como diz o mestre Fróis, o xadrez é uma maratona, prova de resiliência e

Esta vitória abriu portas para o Daniel representar a Federação Portuguesa de Xadrez no Campeonato Europeu de Jovens em Riga, Letónia. Neste campeonato estiveram presentes 3 pessoas da casa: António Fróis (treinador da FPX), André Sousa (atleta sub-18) e Daniel Silva (atleta sub-10). Entre treinos e jogos ainda deu um tempinho para tirar fotos com celebridades do xadrez e ter o seu livro favorito autografado pelo autor! O Daniel realizou 6 pontos em 9

Por terras de Santiago de Compostela…

de longo prazo. O mais importante é continuar a caminhada: “Caminho reto, caminho erguido, caminho buscando um sentido, caminho porque tenho um objetivo e não pararei até alcançar o meu destino!”

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De 4 a 15 de Novembro decorreu, em Santiago de Compostela, o Mundial de Cadetes em que estiveram presentes muitos jovens portugueses dos quais o nosso atleta, Daniel Silva. A FPX apoiou o nosso campeão nacional sub-10. Foi um verdadeiro desafio para conciliar escola e competição! Foram 11 batalhas diárias, em que o Daniel fez 5,5 pontos em 11. Foram 5 empates e 3 vitórias. De salientar

NOTÍCIAS

Por: Marisa Silva


GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

Workshops no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira Realizou-se um Workshop de Xadrez no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira levado a cabo pelo Mestre Internacional António Fróis no dia 30 de Novembro de 2018. Este Workshop reuniu um grupo de reclusos entusiastas da modalidade, que já têm hábitos de jogo entre sie iniciou-se com o Mestre a fazer uma simultânea, tal era a avidez de competição por parte dos reclusos. Puderam ter o contacto com o grau de complexidade que é defrontar um adversário do nível do Mestre Fróis e evidenciar os seus próprios conhecimentos acerca da modalidade. O Mestre verificou que estes não eram meros principiantes na modalidade, mas sim prósperos praticantes com bastante estudo e prática envolvida. De seguida, lançou um desafio de resolução de exercícios de mate em dois lances, o qual despertou imenso a curiosidade dos reclusos e o seu sentido de estratégia. Por fim foram trocadas diversas impressões acerca dos campeonatos mundiais e dos campeões ao longo dos anos. Também foram tiradas dúvidas relacionadas com o funcionamento dos torneios nos vários ritmos existentes, a obtenção dos títulos e o ranking ELO.

Puderam verificar-se as preferências de cada um relativamente aos modos de jogo dos seus jogadores favoritos: Petrosian, Mikhail Tal, Carlsen, etc e houve o debate inevitável acerca da comparação entre os campeões atuais e os antigos. Uma tarde bastante enriquecedora para todos os intervenientes, que por fruto das exigências e constrangimentos do mundo agitado em que vivemos, não se pode prolongar por mais tempo! Ficou prometida a volta do Mestre! Por: Sónia Reis A volta estava prometida e comecei o dia 31 de Maio em Carcavelos (Lisboa) cedinho. Lá fui até Gaia e conseguimos todos os objectivos. Por volta das 13h20 eu e o Ruben Freitas fomos até ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira onde fomos recebidos pelo professor Miguel Lapa. Os Reclusos estavam (estão) ainda mais entusiasmados com o xadrez e o que o xadrez lhes permite fazer dentro das limitações que têm neste momento das suas vidas. São extraordinários os testemunhos que alguns deles escreveram para esta edição de 2019 da Revista GAYACHESS.

NOTÍCIAS

A sessão estava prevista durar uma hora e durou mais de 2 horas. Dei uma primeira simultânea com os eles, depois da qual tivemos uma conversa muito interessante sobre tomadas de decisão, na qual eles analisaram a minha forma de jogar. Pude falar-lhes no livro “A vida imita o Xadrez “de Garry Kasparov, livro fantástico que fala precisamente de como o pensamento estratégico do Xadrez ajuda a tomar decisões todos os dias nesta vida! Espontaneamente o Professor Rúben Freitas acabou por jogar também com eles e para terminar eu dei uma segunda simultânea com eles, ficando coma sensação que a sessão poderia durar muito mais tempo, dado a “fome de Xadrez “que eles demonstram. O Momento mais alto da sessão foi quando os reclusos ofereceram um exemplar dedicado à Ana Isabel e outro a mim do 2ª Volume de Poesia “(IN) Verso, uma colectânea de Poemas de Alunos da Escola no EPPF. Agradeço-lhes profundamente e tenho aprendido muito com estas experiências que nos fazem reflectir no que é verdadeiramente importante nesta vida. Por: António Fróis

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XADREZ, JOGO DE ESTRATÉGIA

Sempre adorei jogos de estratégia, táticos e que me fizessem calcular. Quando entrei no Estabelecimento Prisional, jogava diariamente alguns jogos com os meus parceiros de cela e colegas. Jogava para passar o tempo, para exercitar a mente e também abstrair-me um pouco do sítio em que me encontrava. Os jogos que jogava com mais frequência eram damas, dominó e cartas. Mais tarde, alguns destes jogos já me aborreciam, já não me cativavam, já os jogava unicamente para passar o tempo. Um dia, numa aula de TIC, quando já tinha concluído a tarefa e esperava

pelos outros colegas, resolvi explorar os jogos do Windows. Abri o jogo de xadrez. Embora não fizesse a mínima ideia de como se moviam as peças ou das regras do jogo, comecei, movendo um peão. Confesso que já tinha alguma curiosidade sobre este jogo, pois sabia que era muito antigo, jogado em todo o mundo e que assentava num cálculo complexo. Eu só não fazia ideia do quão complexo era. As suas peças faziam-me lembrar os exércitos das antigas batalhas da Antiguidade. O tabuleiro, todo montado e com as peças a postos é mesmo de uma beleza épica. Aquele jogo conquistou-me. Em todas as aulas de Informática só jogava xadrez e já nem queria saber dos trabalhos da disciplina (o professor que não me ouça!). Uma vez, numa saída precária, cheguei mesmo a comprar um tabuleiro. Foi então que larguei o Windows e comecei a jogar com os meus parceiros de cela. Na altura, pouco mais sabia para além do movimento das peças. Um dia fui transferido para o Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira. Foi então, que conheci o “grupo de xadrez”. O

XADREZ, VIDA E PRISÃO Frequentemente, o xadrez não vê reconhecido todo o seu mérito, sendo por muitos considerado como um mero jogo de tabuleiro, ainda que extremamente complexo. Na verdade, o xadrez apresenta um vasto leque de valências que superam essa designação. Existem muitos paralelismos entre o jogo e a vida que devem ser cautelosamente considerados. Num tabuleiro de 64 casas pretas e brancas, sequencialmente intercaladas, cada jogador dispõe de 8 peões, 2 torres, 2 cavalos, 2 bispos, uma rainha e um rei. A partir desse início igual 8

e justo, cada jogador procura a captura do rei inimigo. Cada peça tem o seu próprio movimento e função na estratégia global; não raras vezes, um simples peão pode ter mais valor que a poderosa rainha. Existe uma certa magia em sermos atacados em cada turno por uma incontrolável multiplicação de jogadas possíveis, em sabermos lidar com uma extrema disciplina mental para evitar lances tentadores que depressa nos podem conduzir ao desastre. Não será assim também na nossa vida? No decorrer dos nossos dias, deparamo-nos com momentos que NOTÍCIAS

nível dos jogadores era muito superior ao da cadeia anterior. Além de se jogar bem xadrez, também se estudava o jogo e isso fez-me evoluir. Passei a dominar as regras, a melhorar o meu nível de conhecimento, a minha maturidade como jogador. Fui muito bem recebido pelos elementos daquele grupo. As pessoas que faziam parte dele eram como a minha família na cadeia. Tenho um carinho especial por aquele grupo. Tudo o que sei e sou hoje, como jogador, devo-o ao grupo, um conjunto de pessoas com características especiais que fui encontrar no local mais improvável do planeta. Foi, de facto, o que melhor me aconteceu em todo o meu percurso prisional. Estou a poucas semanas de concluir o cumprimento da minha pena. Há muita coisa que quero esquecer e muita que quero mudar. Mas, de uma coisa tenho a certeza: o xadrez, que tanto me ajudou e fez crescer na cadeia, vai continuar a fazer parte da minha vida! Por: Carlos Silva


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nos obrigam a escolhas, sendo umas mais fáceis que outras. E, por vezes, basta uma má escolha para virmos jogar xadrez para o “xadrez” (cadeia). Sim, pode causar espanto na sociedade livre, mas na cadeia jogamos xadrez. Procuramos, através deste jogo, melhorar continuamente a nossa capacidade de escolha, a evolução pessoal e a disciplina. Dias há em que o jogo é apenas uma metáfora da vida e nas casas pretas e brancas descobrimos o yin e o yang, o Bem e o mal, e dessa luta retiramos o equilíbrio para as nossas almas. O xadrez é um campo de batalha que proporciona entretenimento, disputa mental e melhora as nossas capacidades de raciocínio. São inúmeras as qualidades evocadas quando se pretende definir um jogador desta arte. Seja a disciplina, a capacidade de cálculo, os nervos de aço, a segurança na defesa, a criatividade no ataque, a paciência nas jogadas, até mesmo a elegância no sacrifício para capturar o rei inimigo. Na minha humilde opinião, todas são características importantes num jogador. Mas existe uma que supera a combinação de todas elas. O segredo para se ser um bom jogador, e talvez o mais aplicável ao sucesso na vida (fora do tabuleiro), é a máxima “Conhece-te, mas tira o máximo partido das tuas qualidades e esconde as tuas fraquezas”. Quem interioriza esta palavras certamente será bem-sucedido em tudo quanto se empenhar. E aquilo que pode parecer um cliché é, na verdade, exemplificado a cada passo. Enquanto jogador, é-me difícil recordar lances magníficos, como os de Mikhail Tal, por exemplo. Reconheço, então, o meu defeito: memorizar bons lances e replicá-los não me é fácil. Assim, não devo insistir no estudo de jogadas específicas, pois seria perda de tempo e tempo, quer no jogo quer na vida, é demasiado importante para desperdiçar. A minha qualidade no xadrez é aquilo que posso chamar de “criatividade masoquista na vertente ofensiva”. Sacrifico, com frequência, grande parte das peças, num ataque súbito ao rei, seguindo linhas pouco óbvias, o que me conduz, geralmente, ao tão desejado “mate”. O sacrifício é, no xadrez e na vida, uma navegação perigosa, onde uma falha pode levar à derrota. Enquanto jogador, devo tirar o máximo proveito da minha capacidade de ver jogadas de ataque pouco óbvias, não dar tempo ao adversário para repor a defesa, “matar” o rei o mais rapidamente possível e, sempre que sacrificar peças, assegurar-me que o meu plano terá sucesso para evitar uma inesperada reviravolta. A sequência lógica que leva um jogador a reconhecer qualidades e defeitos para aperfeiçoar o seu estilo de jogo é a mesma que utilizamos para garantir um desenvolvimento pessoal contínuo. Outro aspeto importante que se vai aprimorando neste jogo é a análise perante situações complexas. Nem sempre a tomada de uma qualquer decisão é cuidadosamente ponderada. Quando confrontados com uma situação complicada, dificilmente analisamos todas as opções viáveis, escolhendo, muitas vezes o caminho mais fácil. Nós, humanos, deixamos que a precipitação nos domine, no

momento da escolha. No xadrez, aprende-se a planear antecipadamente, a prever as jogadas do adversário, com todas as variantes, e, após toda essa análise, montar-lhe a armadilha de modo a ganharmos uma vantagem material. Transpor isto para a vida quotidiana é usar este conhecimento para nossa vantagem, parar e pensar no melhor curso de ação, ponderar no que pode correr bem e mal, minimizarmos riscos desnecessários e, só então, agir. Numa cadeia, esta capacidade significa a diferença entre podermos voltar para a liberdade ou prolongar a nossa “estadia”. O xadrez é mais do que um jogo, é uma filosofia de vida. Ajuda-nos a crescer enquanto pessoas. É uma ferramenta que permite criar arte em tempo real, além de uma belíssima lição acerca do bom e mau consumo dos recursos disponíveis, sejam eles materiais ou temporais. Não existe ninguém que não tenha, pelo menos, uma qualidade e um defeito, portanto não existe ninguém que, com dedicação e vontade, não possa melhorar. Claro que alguns terão mais facilidade de aprendizagem que outros, mas com o xadrez aprendi que o trabalho árduo faz-nos sempre vencer. Por isso, lanço o desafio a qualquer um que ainda não sabe jogar e que considere este tipo de aprendizagem inalcançável… pegue ainda hoje num tabuleiro de xadrez, aprenda o movimento de uma peça, mas aprenda-o bem. Amanhã, aprenda a movimentar outra peça… se o fizer, daqui a sete dias já conhecerá o suficiente para começar a praticar sem despender muito do seu precioso tempo. A partir daí, com alguns jogos e alguma prática, começará a entrar neste mundo fascinante. Mas não se preocupe em ganhar, logo no início. Procure interiorizar o funcionamento do jogo e, em pouco tempo, ficará surpreendido consigo mesmo. Ganhar o primeiro jogo é uma sensação fantástica, mas começar a ver o mundo com olhos de xadrezista é … indescritível!!! Aqui, onde não existe liberdade, encontrámo-la diariamente no único lugar onde jamais seremos prisioneiros… na nossa mente. Por: Altamiro Semana

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Peça de Teatro (FITEI 2019) Yo Escribo Vos Dibujas Entre os dias 15 e 24 de maio, tive a oportunidade de viver uma experiência única na minha vida. À boleia deste jogo milenar, integrei o elenco da peça de teatro “Yo escribo. Vos dibujás”, do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI). Nesta peça eram necessários quatro jogadores de xadrez, sendo que um deles ia dar uma simultânea aos outros três. Posto isto, os jogadores escolhidos, para além de mim, foram o João Guerra Costa, o João Cruz e o MI António Fróis. Esta peça teve um elenco composto por cerca de 25 pessoas, entre portugueses e argentinos. O realizador e respetiva equipa de produção eram argentinos e, acompanhados por alguns atores do seu país, viajaram para a Europa para fazerem cá o espetáculo. Juntando uma série de atores portugueses, a peça aconteceu. Nesta experiência foi possível divulgar o xadrez junto dos restantes colegas, ensinar algumas das técnicas e entusiasmar as pessoas pelo jogo. É notável que o xadrez é um veículo que nos permite comunicar e conviver com desconhecidos, pelo simples facto do prazer que dá aprender e jogar de forma lúdica e divertida.

o pensamento latino-americano das situações e todo a heterogeneidade que havia, foi muito enriquecedor para mim, pois houve espaço para ver outras maneiras de estar e de pensar. Só por isto, já tinha valido a pena ter participado. Mas, por acréscimo, o grupo de pessoas que se juntou foi fantástico. Houve a oportunidade de fazer novos contactos, e de vivenciar verdadeiros artistas na sua arte. Foi uma experiência que o xadrez me permitiu realizar e que nunca esquecerei. Por: Pedro Marinho

O papel dos xadrezistas também foi alargado a outras cenas da peça, pelo que foi possível vivenciar e aprender o que envolve o mundo do espetáculo. Todos os bastidores que eu não tinha noção de como se processavam, bem como o número de pessoas invisíveis ao espetador que trabalham em prol do teatro. A partilha cultural que foi realizada, 10

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Xadrez no Porto na época 2017/2018 Durante a época 2017/2018 estiveram filiados na AX Porto cerca de 500 jogadores. Jorge Ferreira (GD Dias Ferreira) é o número 1 nacional e conseguiu o titulo de Grande Mestre. Francisco Veiga (EX Porto) conseguiu o título de Mestre FIDE. A equipa do GD Dias Ferreira foi campeã nacional absoluta em clássicas e rápidas. A AX Porto ocupou todo o pódio no Nacional de Equipas da 1ª divisão. A EX Porto venceu a 2ª e 3ª divisão sénior, conquistando ainda a quase totalidade dos títulos jovens por equipas. Conta-se nas largas

dezenas os atletas AXP que foram campeões nacionais. O campeão absoluto de 2017/18, André Sousa, da AX Gaia, defendeu o seu titulo, perdendo na ultima jornada. David Martins (GD Dias Ferreira) chegou ao pódio. A AXP apoiou ainda dois torneios internacionais de semi-rápidas, um torneio internacional de clássicas, dois congressos de xadrez (em Felgueiras e na Maia) e Estágios de Xadrez (com António Fróis e Paulo Costa). O trabalho da AX Porto com a CM Felgueiras poderá ter contribuído para a vinda dos campeonatos

nacionais de jovens (rápidas) a esta cidade do distrito. Estiveram disponíveis conjuntos tabuleiro e peças e relógios para provas organizadas pelos clubes.

Um destaque para os vencedores das provas distritais: - Campeão Clássicas: Simão Pintor - Campeão Semi-Rápidas: MI André Sousa - Campeão Rápidas: Miguel Sismeiro

Equipa Campeã Distrital: - Escola de Xadrez do Porto C

Equipa vencedora Taça AXP: - Escola de Xadrez do Porto Em paralelo com o xadrez federado tem havido muitas iniciativas de divulgação e ensino do xadrez, quer em colégios quer em escolas públicas. Por: Pedro Areal

Simão Pintor, Campeão Distrital Absoluto 2017/18

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Jogos Juvenis de Gaia 2019 Realizou-se no ano de 2019 a 35ª edição dos Jogos Juvenis de Gaia. Esta iniciativa do Município de Vila Nova de Gaia, reúne anualmente centenas de jovens a praticar as mais diversas modalidades desportivas. Os Jogos Juvenis fazem parte do projeto de promoção e desenvolvimento desportivo do Concelho de Vila Nova de Gaia e são da competência e responsabilidade da Câmara Municipal de Gaia e das Juntas de Freguesia/União das Freguesias, que promovem a sua realização. No âmbito do Programa Município Amigo do Desporto, os Jogos Juvenis de Gaia receberam o Galardão de Programa Desportivo do Ano 2019. A fase de freguesia desenvolveu-se de fevereiro a abril de 2019 e a fase concelhia durante os meses de maio e junho. As modalidades participantes

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são: Andebol de 5, Andebol de 7, Atletismo, Basquetebol, Futebol de 5, Futebol de 7, Ginástica, Natação, Ténis de Mesa, Voleibol, Xadrez, Desporto Adaptado e Badminton. O Xadrez teve a participação de 78

de Mafamude e Vilar do Paraíso, com 14 pontos em 15. A nível coletivo a União de Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso subiu ao 1º lugar do pódio, arrecadando também o prémio de Fair-Play. Em 2º lugar classificou-se a União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo e em 3º a União de Freguesias de Santa Marinha e Afurada. O culminar dos jogos deu-se com a cerimónia de entrega de prémios no dia 2 de Junho e com a 1ª caminhada da família dos Jogos Juvenis no dia 15 de Junho. Por: Sónia Reis

atletas, nos escalões de Sub-10 e Sub-12, provenientes de 12 freguesias de Vila Nova de Gaia. O vencedor individual, foi o atleta João Antão, da União de Freguesias

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GAYACHESS Nยบ5 - A Terra do Xadrez 2019

ESCOLA PROFISSIONAL DE GAIA

Uma escola em movimento

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Escola Profissional de Gaia Os cursos profissionais são uma modalidade de educação, do Ensino Secundário, que se caracteriza por uma forte ligação ao mundo empresarial.

Laboratório Auxiliar de Saúde

Cozinhas pedagógicas

Cacifos para os alunos

Oficina Gráfica

Entrada

CERTIFICAÇÃO A conclusão de um curso profissional confere um diploma do ensino secundário (12º ano) e um certificado de qualificação profissional de nível 4 do Quadro Nacional de Qualificações (QNQ). O diploma equivalente ao ensino secundário e o certificado de qualificação profissional permitem o ingresso nos Cursos de Especialização Tecnológica (nível 5 do QNQ) e nos cursos Técnicos Superiores Profissionais (nível 5 do QNQ), bem como a candidatura ao ensino superior.

QUALIDADE DE ENSINO A Escola possui um conjunto de serviços e infraestruturas de apoio que facilitam o dia a dia e contribuem para o sucesso dos estudantes e para a sua formação como cidadão. 14

Oficinas de Maquinação

Oficina Mecatrónica Automóvel

Auditório

Destacam-se os laboratórios/ oficinas de: Gestão Integrada; Desenvolvimento de Projetos; Eletrónica/Sistemas Digitais; Centro CIM/Programação e Maquinação; Centro de Maquinação Industrial; Máquinas Elétricas/Pneumática; Automação; Saúde; Oficina Gráfica; Laboratório de Ciências (Biologia, Física e Química); Laboratório de Informática. A escola está dotada também de: Auditório; Mediateca; Reprografia; Refeitório; Bar; Gabinete de Inserção na Vida Ativa (GIVA); Fórum; Sala de Xadrez; Gabinete de Atendimento aos Encarregados de Educação; Centro de Saúde Escolar; Parque de Jogos Desportivos.

CURSOS PROFISSIONAIS • Auxiliar de Saúde

Espaços de lazer

Bar

Mediateca

• Contabilidade • Cozinha/Pastelaria • Design Gráfico • Eletrónica, Automação e Comando • Gestão • Gestão de Equipamentos Informáticos • Informática de Instalação e Gestão de Redes • Mecatrónica Automóvel • Mecatrónica • Programação e Maquinação • Operações Turísticas • Restaurante/Bar

CURSOS CEF’S • Técnico de Cozinheiro/a • Técnico de Eletricista de Instalações • Técnico de Operador/a de Informática


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Ensino Profissional - Uma oportunidade de primeira qualidade O que diz quem por cá passou

Nuno Barros Dr. Nuno Barros, antigo aluno e professor da Escola Profissional de Gaia, licenciado em Gestão Autárquica, atual assessor do Diretor Municipal de Finanças e Património da Câmara Municipal do Porto, considera ter feito a escolha certa quando decidiu ingressar no curso de Gestão Autárquica na Escola Profissional de Gaia, por se tratar de um curso “com muita projeção, pioneiro e bem delineado”. Como professor sentiu-se orgulhosamente em casa, tendo sido “muito bem recebido pelos professores”, embora, no início, tenha estranhado o facto de ser “confundido frequentemente com os alunos”. Aos atuais alunos da Escola aconselha a “agarrarem as oportunidades com toda a força” e a serem “muito bons naquilo que fazem”, a “destacarem-se” dos demais, pois é “nesta fase que vão construir a sua carreira”.

Margarida Ferreira Dra Margarida Ferreira, antiga aluna da Escola, licenciada em Gestão de Recursos Humanos, atual Secretária da Vereação da Câmara Municipal de Gaia, considera que a Escola re-

formulou a sua vida, sublinhando o papel dos professores que viram em si “um valor que na altura na via”, fazendo de “si aquilo que é hoje”. Atualmente, a trabalhar no executivo camarário, salienta os conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Gestão Autárquica que ainda hoje põe em prática. Defensora do Ensino Profissional e da Escola, aconselha os jovens a “acreditarem nas suas capacidades”, a “participarem na vida ativa” e a “interessarem-se mais pela cidadania ativa”, salientando a “importância de dar voz aos jovens” e à sua identidade regional e cultural.

Mónica Ferreira Mónica Ferreira, antiga aluna do curso de Cozinha e Pastelaria da Escola Profissional de Gaia, atual cozinheira de primeira no Hotel Yeatman, salienta a importância da “formação e dos professores” na sua experiência como formanda. Determinada desde o seu ingresso no curso, considera que trabalhar numa cozinha é algo muito “exigente”, sendo necessários “empenho, dedicação e paixão” pela área, destacando o fator “pressão” como o maior obstáculo para se ser bem-sucedido como cozinheiro. Nesta fase da sua vida, ainda pensa em ser “perfecionista” em todas as suas ações, deixando a “marinar” o desejo de se tornar um “chef”, objetivo maior de todo e qualquer cozinheiro

Pedro Jerónimo Pedro Jerónimo, antigo aluno do curso de Restaurante e Bar da EPG, exercendo atualmente a profissão de barman no Casino Solverde – Espinho, aconselha “os jovens a aproveitarem ao máximo as aulas”, porque há oportunidades que “surgem apenas uma vez na vida”. Na Escola, destaca, para além da formação e da paixão, os “valores” que lhe foram transmitidos e a “possibilidade que a Formação em Contexto de Trabalho” lhe proporcionou para “demonstrar profissionalmente tudo o que aprendeu” ao longo do curso. Jovem ambicioso, deseja ser um grande barman, sabendo que, para isso, tem de ter sempre os olhos postos na concorrência, para poder alcançar esse seu sonho, que lhe surgiu apenas quando iniciou o seu estágio no Casino.

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Sports Concept Made for YOU Um projeto agregador, com um conceito multidimensional.

+ Formação Desportiva O investimento na formação de crianças e jovens, especialmente na área do Futebol, apresenta-se como um dos desígnios fundamentais da atuação da Sports Concept (SC) junto da comunidade. Neste sentido, foram criados os Centros de Formação Desportiva (CFD), cujo objetivo central passa pelo ensino e treino dos princípios do Futebol com crianças e jovens, a partir dos 4 anos de idade. A abordagem metodológica apresenta um cariz pedagógico e progressivo, desde o contexto mais lúdico às formas mais competitivas, sempre de acordo com o nível de evolução dos alunos, com o apoio de um conjunto de professores e treinadores especialistas, utilizando métodos avançados e materiais inovadores. As crianças e jovens interessados poderão encontrar-nos em 3 polos na cidade: Santa Marinha (Escola EB 2,3 Teixeira Lopes), Canelas (Campo de Treinos do CF Canelas) e Oliveira do Douro (Estádio da Lavandeira).

+ Formação Profissional Ao nível da formação profissional, a SC centrou-se na área desportiva, particularmente na formação especializada dos vários agentes desportivos. Neste âmbito, destacase a parceria de vários anos com a Câmara Municipal de Gaia para a realização de ciclos de formação no âmbito dos Jogos Juvenis de Gaia, que já trouxe à cidade alguns dos melhores especialistas nas diferentes modalidades. Destaca-se ainda a parceria com o Torneio Internacional de Futebol Douro Cup, que se realiza anualmente em Gaia, ao nível da formação complementar dos Treinadores que acompanham as equipas, em ambos os casos 16

com uma forte ligação ao ensino superior e à investigação científica através da participação de Docentes e Investigadores especialistas em diferentes modalidades desportivas.

+ Aventura

No domínio das Atividades de Exploração da Natureza, a SC apresenta uma área específica de Aventura que engloba a educação desportiva e ambiental, num espaço aprazível - Parque Emboscada, com excelentes condições para a prática de atividades de exploração da natureza e infraestruturas de apoio às atividades. Trata-se de um espaço com uma ampla área verde envolvente, proporcionando experiências de aventura e, ao mesmo tempo, de contemplação da Natureza, onde promovemos programas para Escolas, Empresas e Famílias, com ênfase em atividades

como o paintball, o slide, a escalada, a corrida de orientação, bubble football, tiro ao alvo, canoagem, entre outros.

+ Fitness & Wellness Nos projetos deste âmbito, as atividades da SC são orientadas por profissionais especializados em diferentes áreas de intervenção, com um amplo conhecimento dos conteúdos e metodologias mais avançadas na área do Fitness & Welness, estruturados e orientados para diferentes objetivos, como a melhoria da condição física ou da performance. Neste contexto, destaca-se a parceria com a Quinta do Fojo, em Gaia, que possibilitou o desenvolvimento de um conceito de Treino na Natureza, o Top Studio. Este espaço permite aos utentes e associados uma prática desportiva orientada para diferentes objetivos, e corporizados em programas de treino diferenciadores: Image & Shape, Performance, Recovery, Health & Wellness, existindo também a possibilidade de aluguer para treinos individualizados.

Jéssica Martins, a Jéssica Reis e a Inês Marques, da Escola Profissional de Gaia ARTIGOS


GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

+ Educação A colaboração com instituições de ensino de referência como é o caso do Colégio Oceanus, em Gaia e o Colégio Santa Eulália, em Sta. Maria da Feira, exige da SC e dos seus colaboradores / parceiros elevados padrões de qualidade e constante qualificação dos recursos. A referência fundamental da qualificação para as atividades traduz-se no desenvolvimento da plasticidade dos seus técnicos, no contexto profissional e pedagógico. Assim, a intervenção pedagógica supera a abordagem de conteúdos,

transitando para a exploração interativa, na qual a aprendizagem é auxiliada por recurso uma pedagogia inovadora, alicerçada em materiais, ferramentas e programas que refletem e interiorizam saberes, práticas e competências. Be Active, Be Smart, Be Happy é o slogan que procuramos “concretizar” nos nossos projetos educativos.

+ Integração Profissional Temos uma preocupação fundamental em proporcionar aos jovens estudantes o primeiro contacto com o mundo profissional.

Desta forma com base na parceria com instituições de ensino de referência como é o caso da Escola Profissional de Gaia, e do Instituto Politécnico da Maia, todos os anos recebemos alunos estagiários, aos quais prestamos a melhor formação profissional, através de um processo de orientação e supervisão competente e integrador. Este ano temos connosco a Jéssica Martins, a Jéssica Reis e a Inês Marques, da Escola Profissional de Gaia! Por: Daniel Duarte

Alto Rendimento Como conjugar a escola com a prática de um desporto ao nível da competição? Conjugar um calendário de tarefas escolares com um calendário de desporto de competição é uma tarefa árdua quando ambos coincidem com exigências escolares e desportivas. É uma pressão essencialmente sentida pelos atletas. Exigindo destes: mais esforço físico, mental e emocional, pois têm de redobrar esforços. No ensino público ou privado, muitos atletas sentem-se assim, incompreendidos pelos professores pois têm de cumprir as tarefas escolares independentemente dos treinos e provas desportivas que tenham. Por se ter verificado esta falta de conciliação entre desporto de competição e vida escolar de sucesso surgiu, em 2009, um novo projeto implementado pelo professor Victor Pardal em Montemor-oVelho, o Gabinete de Apoio ao Alto Rendimento (GAAR). As Unidades de Apoio ao Alto Rendimento surgem em 2016/2017, coordenadas nacionalmente pelo professor Victor Pardal. Estas visam uma articulação eficaz entre os agrupamentos de escola, os encarregados de educação, as federações desportivas

e seus agentes e os municípios, entre outros interessados, tendo por objetivo conciliar, com sucesso, a atividade escolar com a prática desportiva de alunos/atletas do 2º ciclo ao ensino secundário enquadrados no regime de alto rendimento ou seleções nacionais.

Quem pode integrar as UAARE? O programa UAARE destina-se: I - Alunos-Atletas que se integrem no estatuto de alto rendimento (Decreto-Lei n.º 272/2009 de 1 de outubro; II - alunos-atletas que se integrem nos trabalhos e ou na seleção nacional (Decreto-Lei n.º 45/2013 de 5 de abril; III – alunosatletas com potencial talento desportivo.

Como funciona o apoio escolar das UAARE? Todos os estudantes das UAARE têm à sua disposição a Sala de Apoio Aprender Mais, que tem uma dimensão física e outra digital. Cada escola tem um horário reservado para que os alunos-atletas possam ter apoio personalizado requisitar a presença de um professor da disciplina que pretendem trabalhar, para tirar dúvidas, ou recuperar ARTIGOS

matéria, preparar para testes e exames. Na internet, têm também disponíveis materiais curriculares e de apoio numa plataforma informática (moodle) para que, quando estão em estágios, competições ou mesmo em casa, possam ir estando a par dos conteúdos que estão a ser lecionados aos seus colegas de turma. Os alunos têm igualmente professores a quem podem recorrer, por Skype e ou e-mail em caso de dúvidas. São, ainda, implementados apoios pedagógicos diferenciados, articulados entre a direção da escola, o professor tutor, os diretores de turma e conselhos de turma, bem como as entidades desportivas, treinadores e encarregados de educação. As UAARE são uma aposta positiva pois a taxa de sucesso escolar está acima dos 90%. Para mais informações pode ser consultado o seguinte site:

https://desportoescolar.dge.mec.pt/unidadede-apoio-ao-alto-rendimento-na-escola Por: Marisa Silva

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Subida da Profigaia à 1ª Divisão Nacional Corria o ano de 2009. A equipa da AX Gaia B ganhava a sua série na II Divisão mas não podia subir pois na I Divisão já lá estava a equipa A. A equipa A, a mais forte a nível nacional, estava bem distante dos 4 jovens sub-16 que venciam a sua série na II Divisão. Era necessário refletir. Havia uma ideia de Xadrez em Gaia,onde os clubes não seriam rivais mas cúmplices. Academia de Xadrez de Gaia, Profigaia e Colégio de Gaia colaboravam em recursos e ideias, e ocasionalmente tal aconteceu com A.P.Vila D’Este e Grupo dos Cem Paus. Foi nessa lógica que a equipa do Profigaia ascendeu em 2 anos do Distrital à II Divisão, desde 2010 a 2011.Em 2012 primeira bola na trave. A equipa vence a sua série mas na final-four só uma equipa ia para a IDivisão Elite. Falhamos o objetivo por meio ponto que nos faltou em 2 jogos.Voltamos a estar muito perto nos 2 anos seguintes mas sem conseguir o objetivo. Entretanto há uma fase de menor fulgor em que se garante a permanência mas a subida é conquistada por equipas emergentes,mais bem preparadas e que o fazem com todo o mérito, como o 113, a Didaxis e o Ex Porto.

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Em 2017 só no ultimo jogo perdemos o jogo decisivo com a Didaxis, e mais um 2’lugar...parecíamos o Poulidor do Tour de França(eterno segundo numa prova de ciclismo). 2018 bateuse no fundo do poço...a época não foi totalmente bem planeada, não se previram atempadamente algumas indisponibilidades, e a equipa é relegada à III Divisão. Da equipa inicial (a de 2009), desanimaram ou tiveram outros interesses o Tiago Tavares e o André Mateus. O Francisco Mateus

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e o Miguel Ferreira estiveram ano após ano a conseguirem bons ou excelentes resultados,mas agora sem a disponibilidade de outrora. Da equipa inicial sobrava o velho Bruno e o melhor jogador da equipa atual, o José Margarido (a jogar o seu melhor Xadrez nesta fase), à qual se juntou o jovem em forte ascensão Hugo Sousa, e um ex-adversario (mas já com boa relação) com experiencia de ter subido que entretanto se juntou à equipa, o Simão Pintor. Assumimos que faríamos a III Divisão com dignidade. Pois é, o azar de uma equipa foi a nossa sorte, fomos repescados! Começa 2019,tínhamos de ir jogo a jogo, unidos. Sexta feira anterior a cada jogo, reunião de equipa com o Mestre Fróis com partilha de ideias e planos. Começamos com empate difícil em Didaxis e vitórias moralizadoras contra ExPorto e GXPorto, equipas que de secundarias pouco tinham,com jogadores que já jogaram 1’Divisão ou em breve vão jogá-la. O jogo com Estarreja podia ser decisivo,mas o empate deixou


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tudo no ar. A derrota contra o Dias Ferreira era previsível mas deixou nos a depender de terceiros pois entretanto Estarreja mostrava também uma regularidade impressionante ganhando jogos difíceis pela margem mínima. Restava cumprir o nosso papel e esperar. Cumprimos a nossa parte. Desta vez vencemos os Urgezes (que no ano anterior nos tinham relegado para baixo) e um Braga já desmotivado pela descida.Entretanto Estarreja tinha dois jogos difíceis,não manteve a regularidade e ficamos à frente deles.

O José Margarido, destaco a regularidade dos empates cirúrgicos contra Didaxis e Ex Porto,e as vitórias difíceis mas decisivas contra Estarreja,Porto e Urgeses. Mesa 1, só jogos dificeis, e sempre a faturar. O Hugo Sousa, destaco a vitória que nos manteve em Didaxis,vitória decisiva contra ExPorto e uma regularidade de empates e vitórias contra adversarios fortes com um tático na hora certa. O Simão Pintor, destaco a vitoria rápida e decisiva contra a EX Porto, o único que pontuou contra Dias Ferreira, e um contributo sempre a acreditar e a

motivar.O Bruno Lopes, o Francisco Mateus e o Miguel Ferreira estiveram de bombeiros e jogaram na equipa noutras competições e estariam lá se fosse preciso. E vá, não estive só olhar,fui ajudando a equipa com um outro empate ou vitória que também ajudou a equipa. Veremos quem joga a 1’Divisão, se nós,se outros,mas o mérito de lá chegar é de quem elenquei atrás. Jogar bem faz-nos ganhar jogos,mas seguirmos juntos fez-nos chegar mais longe. Por: Bruno Figueiredo

CXB - Clube Xadrez de Braga

O Clube de Xadrez de Braga é uma associação sem fins lucrativos, fundada em Novembro de 2012, com o objectivo de disponibilizar a prática do xadrez à população e divulgar a modalidade. As suas actividades desenvolvem-se nas vertentes de formação, competição e divulgação. A nível de formação, temos o treino semanal ao sábado à tarde onde é dado apoio a todos os jogadores, e onde queremos que eles se sintam em casa num ambiente relaxado de confraternização e partilha de

conhecimento. No inicio deste ano lectivo foi estabelecido um protocolo com a Escola Básica de Fraião e Associação de Pais, que está localizada geograficamente e administrativamente perto da nossa sede, um curso semanal gratuito para a iniciação ao xadrez. A nível de competição, esta época participamos na 2ª Divisão Nacional, Taça Portugal, Campeonato Distrital por Equipas e Taça AXDB, Nacional de Jovens, Distrital Rápidas, SemiRápidas e Campeonato Nacional Amador. ARTIGOS

O clube organiza provas regularmente, exemplo disso é o Torneio Xadrez ESAS 25 Abril, em breve o Torneio da Cidade de Braga, que vai na quinta edição e que está integrado no Circuito Nacional de Semi-Rápidas a decorrer no próximo dia 18 de Maio. Temos participado em algumas atividades em parceria com as instituições locais nomeadamente a Câmara Municipal de Braga, a Junta de Freguesia de Lamaçães, Nogueira e Fraião, o Sindicato de Bancários da Zona Norte, com a Associação Aneis, 19


Universidade Católica de Braga, Mosteiro de Tibães, Departamento Matemática da Universidade do Minho e também algum apoio no Desporto Escolar nomeadamente com a Escola Trigal Santa Maria, Escola Secundária Alberto Sampaio e Escola Secundária Carlos Amarante. Os objectivos futuros do clube são aumentar o número de atletas federados, manter a relação de proximidade com a população, estabelecer mais parcerias com associações locais. Por: Pedro Pacheco

Do Desporto Escolar para o Desporto Federado Qualquer política de desenvolvimento do xadrez a nível federado tem de considerar os esforços feitos diariamente nas escolas que dinamizam clubes de xadrez. Dos clubes à federação, passando pelas associações distritais, todos têm de ter interesse de ir ao encontro dos mais jovens, designadamente atuando e aproveitando as potencialidades que as escolas,

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através do Desporto Escolar, poderão trazer ao desporto federado. Com isto pretende-se primeiramente provocar a massificação do xadrez para, posteriormente, se obter a especialização, ou seja, a melhoria da qualidade da prática desportiva dos jovens mais promissores. Dado que os valores educativos do xadrez poderão facilmente ser utilizados pela Escola, parece

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que o investimento do xadrez federado junto desta é de todo pertinente. É do conhecimento geral que o xadrez enriquece não só o nível cultural do indivíduo, mas também várias outras capacidades como a memória, a agilidade no pensamento, a segurança na tomada das decisões, a consciencialização da vitória e da derrota, a capacidade de concentração, entre outros


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domínios. O jogador de xadrez, constantemente exposto a situações em que precisa efetivamente de olhar, entender e avaliar a realidade, pode mais facilmente aprender a planear de modo adequado e equilibrado, a aceitar pontos de vista diversos, a discutir questionários e compreender limites e valores estabelecidos e a vivenciar a riqueza de experiências e de pensamentos. Em alguns países, como a França e a Holanda, o xadrez já há muito tempo faz parte do currículo escolar como atividade extracurricular. Após a sua implementação, verificou-se uma melhoria no rendimento escolar dos alunos que praticavam xadrez. O mesmo tipo de experiência desenvolvido em Portugal traria com certeza iguais e valiosos benefícios e, assim aliados, desporto e escola fariam efetivamente jus à sua função básica: formar melhores cidadãos. O Desporto Escolar é uma atividade do Ministério da Educação, que serve de complemento curricular e permite aos alunos a prática de atividades desportivas, em ambiente educativo, sob a orientação de professores, podendo configurarse como a principal possibilidade para a maioria dos nossos jovens poderem participar em quadros competitivos, de forma regular. Qualquer escola poderá concorrer ao programa de Desporto Escolar. Este pode reunir diferentes modalidades desportivas, sendo elas ministradas por docentes qualificados, e tendo estes e os alunos tempo disponível

para as atividades, com uma clara distinção dos períodos destinados aos treinos e aos campeonatos. Deverá ser de todo interesse do desporto federado aproveitar estas sinergias, apoiando da seguinte forma: a) Qualificando tecnicamente

dos clubes escolares e a dinamizar e a dotar de nova vida muitos clubes federados que poderão estar em estado de estagnação, por falta de camadas jovens. No Xadrez, como em qualquer outro desporto, a componente competitiva

os professores; b) Uniformizando o quadro competitivo e respetivos regulamentos no Desporto Escolar a nível nacional; c) Sensibilizando e habilitando as associações distritais de xadrez de meios para se tornarem mais um parceiro deste processo – é importante que os professores tenham toda a recetividade e apoio das associações para desenvolverem os seus clubes escolares, nomeadamente na resolução de aspetos técnicos que possam não dominar, como a organização de torneios, o encaminhar para o desporto federado dos alunos mais talentosos e/ou mais dedicados, a criação de clubes federados, a especialização própria ou dos alunos, etc.; d) Formando quadros de monitores/animadores no âmbito das associações distritais – estes serão técnicos qualificados que, ao serviço das associações, apoiarão os clubes escolares e farão a ligação destes com o desporto federado, através do fomento da criação de clubes federados nas escolas e captando os jovens mais talentosos para os clubes já existentes. Desta forma, estarão, por um lado, a reforçar a importância e ambivalência

assume-se como uma ferramenta formativa de extrema importância, dado que os níveis de motivação, entre as camadas jovens, aumentam muito quando enquadrados nesse cenário. Por esse motivo, o xadrez federado deverá apoiar a participação dos jovens, oriundos de clubes escolares, em todo o tipo de encontros, tais como torneios do Desporto Escolar, campeonatos escolares, encontros particulares interescolas, torneios escolares internos, torneios de clubes, torneios e campeonatos oficiais distritais, torneios e campeonatos nacionais. Nas escolas os professores do Desporto Escolar deverão ser o veículo para a aproximação dos jovens à modalidade. Ao xadrez federado deverá também caber a função de incentivar a participação de associações de pais e municípios na divulgação do xadrez entre os mais jovens. Quando as sinergias do desporto escolar e do desporto federado se mostrarem finalmente convergentes podemos avançar para o Xadrez na sua plenitude.

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Por: Ana Isabel Lopes 21


O estranho caso do campeão mundial Alexander Alexandrovich Alekhine O futuro campeão de xadrez Alexander Alekhine (em russo: Александр Александрович Алехин), nasceu 31 de Outubro ou 1 de Novembro de 1892, em Moscovo, na Rússia e faleceu a 24 de Março de 1946 no Estoril, Portugal. Ao longo da sua curta existência foi um jogador de xadrez franco-russo de grande nível, conhecido pelo seu estilo marcadamente atacante e campeão mundial de xadrez durante 17 anos. O jogador nasceu no seio de uma família abastada, o pai era proprietário de terras e enquanto que a mãe era filha de um rico industrial (foi a progenitora que ensinou a Alexander e ao seu irmão a jogar xadrez, em 1903). O primeiro feito relevante de Alekhine no mundo de xadrez foi em 1909, quando com apenas dezassete anos, venceu o torneio russo de xadrez para amadores, disputado em São Petersburgo, com um resultado de doze vitórias, dois empates e duas derrotas. A vitória valeu a A. Alekhine o título de mestre nacional. Após a Revolução Russa, em 1919, foi dado como suspeito de espionagem e preso em Odessa. Ao ser libertado mudou-se para França em 1921, onde, quatro anos depois, adquiriu a cidadania e entrou na faculdade de Direito da Sorbonne. Em 1927 arrebatou ao cubano Capablanca o título de campeão do mundo de xadrez. No entanto, no ano de 1935 perdeu o título para Max Euwe, uma derrota que foi atribuída ao consumo abusivo de álcool por parte do jogador russo. Após abandonar o vício do álcool, conseguiu brilhantemente reconquistar o título e mostrar mais uma vez que era o melhor do mundo frente a Euwe em 1937, com uma vantagem confortável.

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Durante a Segunda Guerra Mundial, Alekhine jogou em diversos torneios na Alemanha e nos territórios ocupados por esta Nação. Em 1941 apareceram artigos antisemitas intitulados Aryan and Jewish Chess, assinados com o seu nome no Pariser Zeitung. (apesar de investigações intensas, não se conseguiu comprovar se os artigos foram mesmo escritos por Alekhine). Após a Segunda Guerra Mundial, suspeito de simpatias pró-nazis e conotado como anti-semita, foi considerado persona non grata pelos organizadores de torneios. O notável mestre de xadrez Alexander Alekhine veio a falecer num hotel do Estoril em Portugal, enquanto se preparava para um match para defender o seu título de campeão do mundo contra Botvinnik. Pensa-se que a sua morte, um assunto muito controverso e ainda debatido, se deva ou a um ataque cardíaco, ou a ter sufocado enquanto se alimentava. A este propósito, alguns investigadores mais recentes apontam a hipótese de Alekhine ter sido espião (possivelmente alemão) durante a 2ª Guerra Mundial e ter sido vítima de homicídio (notar que Lisboa era então uma importante praça giratória da espionagem mundial). Ao certo, ARTIGOS

é que este estranho enigma, ainda continua hoje, passadas tantas décadas a despertar o interesse dos investigadores de mistérios policiais nunca resolvidos. Actualmente, existe no Estoril uma avenida com o nome de Alekhine, quanto a nós amplamente merecida pois mais que o Homem em si independentemente do que foi ou poderia ter deixado de ser, é a Obra que ele deixou, neste caso uma notável táctica defensiva e ofensiva que tantas vitórias lhe proporcionou na prática desta apaixonante modalidade. A Defesa Alekhine é uma defesa de xadrez que se produz após os lances 1.e4, Cf6; e deve-se ao famoso xadrezista russo Alexander Alekhine. A sua ideia básica é provocar o avanço prematuro dos peões brancos. Uma continuação típica seria 2.e5,Cd5;3. c4,Cb6;4.d4, com avanço prematuro dos peões, debilitando-os para mais tarde serem alvos das peças negras. Vejamos o exemplo mais típico da sequência correspondente à Defesa Alenkine:


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Ainda Alekhine… Na sequência do número anterior, continuamos a temática dedicada ao grande xadrezista Alekhine, não obstante as suas posições políticastomadas livre-mente ou sob a forma de coacção, foi mais uma vítima do que um actor consciente no palco da actuação política da Alemanha nazi e da Rússia estalinista nos conturbados anos trinta e quarenta dos século passado: um “peão” no xadrez geopolítico mundial das grandes potências da época…que como sabem conduziria à sua morte em circunstâncias mais que misteriosas no Estoril em 1941 em plena realização de um campeonato europeu. A Defesa Alekhine é uma

das mais estimulantes aberturas de xadrez. As pretas desafiam as brancas a avançar com os peões centrais e até desperdiçam tempo enquanto eles avançam. O objectivo das pretas é que os peões se tornem um alvo a aniquilar. Por: Pedro Teles

O Penta da Personalidade O nosso atleta Hugo Sousa atingiu mais um marco fantástico na sua carreira xadrezística. Apesar da sua tenra idade, o seu palmarés é já de um registo assinalável – 5 títulos de Campeão Nacional de Jovens, em partidas clássicas. Aos títulos de Sub-12 (2012/2013), Sub-14 (2014/2015 e 2015/16) e Sub-16 (2016/2017), juntou-lhe agora o título de Campeão Nacional de Sub18, época 2018/2019. Falar do meu amigo e colega de equipa Hugo é muito fácil. Quando, no ano passado, fui convidado a escrever para esta mesma revista, falei na importância que tem para mim a postura de um jogador no tabuleiro. Quer na sua vertente competitiva, quer na forma de reagir ao resultado, seja ele positivo ou negativo. O Hugo personifica o comportamento exemplar de um atleta de alta competição: entregase a 100% ao jogo, luta, persiste e acredita nas suas chances; respeitase sempre a si mesmo e ao seu adversário no final do jogo, com a

discrição e classe que o caracterizam – pela cara do Hugo eu não consigo saber se ele acabou de fazer um excelente resultado, ou um menos conseguido, e esse é dos maiores elogios que lhe posso fazer. Mas não só de valores extra tabuleiro é feito um Campeão, e como tal, quero falar também da grande valia do Hugo nas 64 casas. Exímio em posições de calibre tático, o que mais admiro nele é a capacidade que tem de se agarrar a uma partida, por mais perdida que possa parecer. Tendo o privilégio de jogar ao seu lado pelo Profigaia, os dedos das mãos já não são suficientes para contabilizar as vezes que o vi, ao vivo e a cores, reverter posições bastante inferiores. E a prestação dele foi essencial para o cumprir do nosso objetivo, a subida à 1ª Divisão Nacional! Por todo este trajeto, e acima de tudo por seres a pessoa que és, Parabéns Campeão! Um exemplo da capacidade do Hugo em encontrar sempre uma escapatória em posições ARTIGOS

complicadas. Assisti a este exemplo ao vivo em Famalicão, com ambos os jogadores em apuros de tempo. As brancas tinham acabado de jogar Tg8 e a pregagem parece decisiva, com ameaças ao bispo de

g6 e à promoção… Ao que o Hugo responde com 1…Txd3+ 2.Re2 Rf4!! A única para empatar, através da ameaça de Te3+. O jogo seguiu com 3. e8=D Bxe8 4. Rxd3 h2 5. Th8 Rg3 6.Rd4 e o empate foi acordado.

Padeiro, José vs Sousa, Hugo – Torneio Cidade de Famalicão, 1/2-1/2 ] Por: Simão Pintor 23


PROJETO DIVERTIR COM O SABER

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Divertir com o Saber é um projeto educativo que tem como públicoalvo as crianças residentes nos empreendimentos sociais do Município de Gaia que frequentam o pré-escolar, 1.º, 2.º e 3.º ciclo do ensino básico. Trata-se de uma iniciativa do Município de Vila Nova de Gaia, promovida pela Unidade de Acão Social da Gaiurb, EM. Tem como objetivo principal proporcionar às crianças espaços alternativos de aprendizagem, com especial incidência na disciplina de matemática, onde quase tod@s as crianças revelam grandes dificuldades de aprendizagem. O Projeto encontra-se em funcionamento em 19 empreendimentos sociais, abrangendo um total de cerca de 200 crianças. Na sua 11.ª edição, mais precisamente, no ano letivo 2016-2017 aliamos o ensino da matemática ao ensino do xadrez, numa parceria com a Academia de Xadrez de Gaia e Escola Profissional de Gaia, o que nos permitiu trabalhar de uma outra forma as diversas competências essenciais ao desenvolvimento de uma criança.

O tabuleiro de xadrez desenvolve nas crianças a capacidade de tomar decisões, aumentar a concentração, a autocrítica, o raciocínio lógico, a memória, capacidades fundamentais para o desenvolvimento de muitas outras habilidades, que lhes serão muito uteis na Vida. Além da componente formativa, o Projeto envolveu também a componente competitiva deste desporto, uma vez que esta é uma importante fonte de motivação para a aprendizagem. Um número considerável de crianças (mediante a idade e disponibilidade) participaram nos Jogos Juvenis de Gaia 2019, uma iniciativa do Município de Gaia, distinguida no presente ano como Programa Desportivo do Ano de 2019 – Munícipio Amigo do desporto. No presente ano letivo, o projeto estabeleceu uma nova parceria com a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, por forma a levar às crianças um programa de literacia financeira denominado “No Poupar Está o Ganho”. Este foi considerado um dos melhores projetos da Área Metropolitana do Porto, tendo participado no Programa Amplifica e no Fórum de Empreendedorismo

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Social – AMP 2020. “No Poupar Está o Ganho” tem como objetivo transmitir às crianças e jovens a aquisição de conhecimentos e capacidades para que, no futuro possam tomar decisões acertadas sobre as suas finanças pessoais, além de serem os interlocutores, para em casa com as suas famílias abordarem este tema, tão importante na sociedade atual. A pertinência da promoção e implementação da Educação Financeira para crianças é reconhecida pelo Ministério da Educação, através do Referencial de Educação Financeira, um documento orientador para as diversas atividades desenvolvidas com as nossas crianças e jovens. Por: Catarina Ciríaco Responsável pelo Projeto Divertir com o Saber

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minha experiência no projeto “Divertir com o Saber – Xadrez” já vem de anos anteriores. Primeiramente, através da Ana Isabel Lopes, que partilhou comigo a sua experiência e que me foi dando a “conhecer” todo este projeto. Seguidamente, pediram-me para fazer algumas substituições de professores que não poderiam estar presentes. Muito a medo, aceitei e lá fui eu. Desta vez, comecei a conhecer, de forma tímida, o “terreno”. Sempre que realizava uma substituição saia de lá satisfeita. Satisfeita por ter, de alguma forma, ajudado as crianças/jovens a evoluir não só no xadrez como também como pessoas. Se calhar é muita pretensão, mas acredito que isso também faça parte do projeto. Após esse “ano de estágio”, passei a fazer parte integrante do “Divertir com o Saber”. Se no ano anterior fiquei com receio, este ano, fiquei aterrorizada. Tudo começou no dia 20 de outubro. As únicas informações que tinha do Empreendimento eram que os meninos que faziam parte deste projeto tinham idades compreendidas entre os 6-11 anos e que eram extremamente simpáticos. E assim lá fui eu. Devo dizer que após cinco minutos de estar com eles é como já fizesse parte do projeto desde o início (e se calhar, até fazia!). A partir desse dia, o Cláudio, a Cláudia, o David, o Filipe e a Maribel começaram a fazer parte da minha vida. Infelizmente, o meu “trabalho” chegou mais cedo ao fim. O projeto tinha como data final 15 de junho, mas devido ao grande absentismo por parte dos alunos, existiu a necessidade de terminar o projeto, neste Empreendimento, mais cedo. Foi com grande tristeza que vi o final desta minha “aventura” no Empreendimento Francisco Pinto Balsemão. Este sentimento devese ao facto não só pela minha contribuição ter terminado, mas a contribuição de todos que fazem parte deste projeto e pelo facto de 26

um grupo de pessoas ter-se unido com o intuito de proporcionar atividades, interdisciplinares e de carater lúdico, que de outra forma muito dificilmente estas crianças/ jovens teriam acesso. De qualquer forma, o tempo que passei em Sermonde (7 meses) foi um tempo de aprendizagens. Não só para os alunos como para mim. E por isso, agradeço a oportunidade de ter feito parte desta (grande) equipa. Por: Ana Marques

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participação neste projeto tem sido um enorme privilégio pois permitenos conviver, divertir e também aprender uns com os outros, tudo isto conciliado com a aprendizagem de Xadrez. Desde que participo no projeto, há três anos, que tenho enriquecido como pessoa por partilhar experiências com todos os que estão inscritos nos empreendimentos, Ruy de Carvalho e Quinta de Monte Grande. Apesar de ser o terceiro ano que participo, posso dizer que não houve um único fim-de-semana que tenha sido igual ao anterior. Os dois empreendimentos a que vou não podiam ser mais heterogéneos, um, Ruy de Carvalho, é um empreendimento com poucos elementos, encontra-se num local mais pequeno e existe uma maior familiaridade entre todos. O outro, Quinta de Monte Grande, possui mais elementos, situa-se num local maior e apesar de todos se entenderem bem, não existe a mesma cumplicidade. Ora, se este texto é sobre o projeto “Divertir com o saber”, faz todo o sentido que fale nos atores principais, assim, no empreendimento, Ruy de Carvalho, temos a Ana e o Nélson, irmãos gémeos mas muito diferentes, a Ana mais tímida, o Nélson mais extrovertido, em comum, o gostarem de jogar Xadrez. O João, consta-se exímio jogador de Badminton e também um bom jogador de Xadrez. O Pedro e a Inês, também irmãos, mas ele já um elemento da “casa” pois já frequenta o projeto há anos e como tal, com um grande à vontade e desenvoltura, enquanto a irmã, começou este ano a frequentar o Xadrez e fruto da sua tenra idade ainda se encontra a dar os primeiros passos. A Iara, muito boa aluna e muito atenta e perspicaz e a Naiara, muito alegre e interessada. Por último, este empreendimento recebeu o mês passado dois elementos, o Lucas, bastante responsável e o seu irmão,

Gabriel, muito brincalhão. Já o empreendimento Quinta do Monte Grande tem os irmãos, Adelino e Adriano com uma energia quase inesgotável, o Afonso, muito alegre e os irmãos, André, um bom jogador de Xadrez, Andreia, muito alegre e a Lara, sempre muito bem disposta e educada. O Diego, muito responsável, sempre preocupado em arrumar antes de ir embora. Os irmãos Gabriel, muito brincalhão e Rafael, um excelente jogador de Xadrez. Por último, o Guilherme, muito responsável e educado. Por tudo isto já referido, podemos dizer que existe algo que é comum, a boa disposição, a alegria e a vontade de querer saber sempre mais, tão típica das crianças e isso acaba por ser algo que nos desarma pela sua simplicidade, relembrando-nos da essência das coisas. Se há algo que este projeto promove são os valores de solidariedade, entreajuda e de partilha que devemos ter enquanto seres humanos, permitindo também uma aprendizagem de Xadrez ARTIGOS

benéfica para a concentração e desenvolvimento cognitivo. Por isso não devemos falar de um projeto que promove a aprendizagem de Xadrez, devemos falar sim, de um projeto que promove o desenvolvimento de todos os que nele participam enquanto pessoas, que vivem numa sociedade e como tal, devem contribuir para um bem comum e simultaneamente possibilita também o desenvolvimento de competências lógico matemáticas, assim como de concentração. Para concluir, devo dizer que apesar de acreditar que todos os intervenientes ganham com esta experiência, atrevo-me a dizer que eu ganhei ainda mais pela possibilidade de poder partilhar um bocadinho do meu dia com estes fantásticos elementos, por isso, só me resta dizer obrigado! Por: Bruno Marques

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assaram treze anos desde que o Projeto Divertir com o Saber iniciou nos empreendimentos sociais do Município de Vila Nova de Gaia. Nos últimos três anos contou com a parceria da Academia de Xadrez de Gaia para levar aos “miúdos dos bairros” a modalidade desportiva do Xadrez (para além da Matemática [da vida]). Quem me conhece sabe que “miúdos dos bairros” é a minha forma carinhosa de tratar os jovens professores de palmo e meio que têm ensinado bastante à minha pessoa.

em pleno empreendimento social. A verdade é que não são salas de aula. São salas de convívio, de brincadeira, de sorrisos, de birras, de chamadas de atenção, de trocas de experiências, de partilha... são mais salas de estar do que muitas salas de estar de famílias “modernas”. Onde não há telemóveis e a tecnologia não afasta, onde não há rancores e dissabores presentes no mesmo espaço físico, onde no aconchego de cada cadeira não existe distância entre as pessoas que estão perto umas das outras... onde quem ensina é ensinado.

Podia dizer que foi apenas mais um ano sem muito para escrever ou dizer..., mas no meio de tanto sentimento semelhante, todos os trinta e um sábados deste ano letivo foram diferentes. Podia dizer que mais um ano passou e levei o Xadrez a mais de setenta crianças (só os que por mim passaram, sem contar com os dos meus colegas professores). Podia descrever o ano com os mesmos adjetivos do ano passado e até escrever de igual forma. Estaria tudo bem, não fosse este ano ser diferente dos outros.

“miúdos dos bairros” é a minha forma carinhosa de tratar os jovens professores de palmo e meio que têm ensinado bastante à minha pessoa.”

“A verdade é que não são salas de aula. São mais salas de estar do que muitas salas de estar de famílias “modernas”.”

“Podia dizer que foi apenas mais um ano sem muito para escrever ou dizer... Estaria tudo bem, não fosse este ano ser diferente dos outros.”

Este foi o meu terceiro ano no Projeto Divertir com o Saber a levar o Xadrez às “salas de aula” improvisadas

Sendo o meu terceiro ano no projeto, tenho acompanhado o seu desenvolvimento e crescimento.

No final deste ano tenho cinco alunos que estão federados na modalidade de Xadrez. Cinco miúdos de bairro

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GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

que aprenderam e desenvolveram as suas capacidades no decorrer destes três anos, dois anos, ou mesmo este ano. Cinco crianças que veem no Xadrez algo mais do que mover peças. Eles são o verdadeiro motivo deste artigo. As crianças. “Eles são o verdadeiro motivo deste artigo. As crianças.”

tomada de decisão. Assim como na vida, no Xadrez não existem boas ou más decisões, apenas existem consequências. Resta aos jogadores saberem lidar e aceitar essas consequências. Não são as consequências das jogadas que temos de enfrentar que nos definem, mas sim a forma como reagimos a elas. Este é o pensamento que tento, desde há três anos para cá, transmitir às crianças (tantas vezes mais adultas que um adulto) que por mim passam. “Não são as consequências das jogadas que temos de enfrentar que nos definem, mas sim a forma como reagimos a elas.”

Quando se semeia, não se colhe o fruto de imediato. É tão verdade que é a frase perfeita para este pequeno (ou grande) texto. Faz três anos que a semente começou a ser plantada nas crianças que brincam na rua. Faz três anos que as mesmas crianças que brincam na rua começaram a divulgar o Xadrez pelos seus colegas. Outras crianças que jogam à bola na rua com latas e garrafas (quem nunca...). Faz três anos que o projeto tem crescido, não em termos de dimensão em número, mas na dimensão do afeto que entrega a cada simples e genuíno miúdo de bairro que o projeto abraça. “Quando se semeia, não se colhe o fruto de imediato. Faz três anos que a semente começou a ser plantada nas crianças que brincam na rua.”

Defendo que o Xadrez é um jogo de decisões. Assim como a vida. A vida está repleta de pontos de

A consequência de levar para o Xadrez o paralelismo com a vida é ter hoje crianças que querem competir na modalidade de Xadrez. É ter hoje miúdos que escolhem mover peças em cima de um tabuleiro em vez de outras opções com diferentes consequências. É ter hoje alunos da modalidade que estudam o jogo e pensam uma jogada mais à frente do que eram capazes ontem. É ter hoje o amanhã presente nos abraços que por mim passam. “A consequência de levar para o Xadrez o paralelismo com a vida (...) É ter hoje o amanhã presente nos abraços que por mim passam.” Independentemente de os alunos virem a ser jogadores regulares ou não, uma coisa é garantida, eles começaram com pouco e transformaram o pouco tempo que tinham para aprender Xadrez em muito. Estas crianças sentem-se felizes a jogar um jogo que, não ARTIGOS

fosse o Projeto, não saberiam da sua existência e tão pouco jogá-lo. Estes miúdos são grandes, porque não importa de onde vêm, nem o (tão pouco) que têm, eles querem. Eles querem jogar, querem aprender e querem ensinar... e ensinam. “Estes miúdos são grandes, porque não importa de onde vêm, nem o (tão pouco) que têm, eles querem.” Este pequeno texto serve para mostrar que o trabalho desenvolvido numa base de afetos e focado nas crianças está realmente apontado para Norte. O Norte é o amanhã e o amanhã são as melhores decisões que estes jovens poderão tomar. O Norte são as melhores consequências que as jogadas destes futuros adultos poderão trazer. O Norte, é acreditar que amanhã podemos realmente (de verdade) ser melhores do que hoje. “O Norte é o amanhã e o amanhã são as melhores decisões que estes jovens poderão tomar.”

O Xadrez no Projeto Divertir com o Saber é apenas uma bússola que serve para ajudar a guiar quem a usa a atingir o Norte. Há várias maneiras de o alcançar. Não tenho dúvidas que os nossos meninos e meninas vão, um dia, atingir o Norte da Vida. Espero estar lá para ver e sentir que contribui (um pedacinho de nada) para o sucesso deles. “Não tenho dúvidas que os nossos meninos e meninas vão, um dia, atingir o Norte da Vida.” Por: Edgar Taveira

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O Xadrez enquanto estratégia de Apoio Tutorial Específico Julho de 2018 assistiu à publicação de dois decretos-leis com profundos impactos na organização e dinâmicas da Escola enquanto organização educativa, os quais criaram (mais) uma janela de oportunidade para uma inclusão (ou um reforço da presença) do Xadrez no sistema educativo nacional. O primeiro desses normativos legais foi o Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho, o qual “estabelece os princípios e as normas que garantem a inclusão, enquanto processo que visa responder à diversidade das necessidades e potencialidades de todos e de cada um dos alunos, através do aumento da participação nos processos de aprendizagem e na vida da comunidade educativa.” O segundo foi o Decreto-Lei n.º 55/2018. de 6 de julho cujo intento é definido pelo legislador como o de definir “o currículo dos ensinos básico e secundário, os princípios orientadores da sua conceção, operacionalização e avaliação das aprendizagens, de modo a garantir que todos os alunos adquiram os conhecimentos e desenvolvam as capacidades e atitudes que contribuem para alcançar as competências previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.” Os dois corporizam uma denominada “Autonomia e Flexibilidade Curricular”, com o segundo a dar a liberdade à Escola para uma gestão “até 25% do total da carga horária por ano de escolaridade, no caso das matrizes com organização semanal” possibilitando a introdução do Xadrez como Oferta Complementar de Escola, criando a possibilidade de os alunos terem um tempo semanal na sua carga letiva dedicado à aprendizagem e prática do Xadrez. Com igual importância, o DecretoLei n.º 54/2018 revela-se como um 30

dos normativos legais com maior importância para a inclusão do Xadrez nas escolas publicado nos últimos anos, ao definir as condições de criação e funcionamento das Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclusiva. A posterior publicação do Despacho Normativo n.º 10-B/2018, prevê no seu artigo 12.º “a implementação da medida de Apoio Tutorial Específico” o qual “acresce às medidas já implementadas pelas escolas.” O mesmo despacho enquadra a implementação desta medida “no âmbito do funcionamento da Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva (Artigo 12.º do Decreto-Lei

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n.º 54/2018, de 6 de julho) ”. No entender da Direção Geral da Educação o Apoio Tutorial Específico constitui-se “como um recurso adicional, visando a diminuição das retenções e do abandono escolar precoce e consequentemente, a promoção do sucesso educativo”, sendo esta a mensagem apresentada aos diretores dos Agrupamentos de Escolas e/ou Escolas Não Agrupadas num encontro de trabalho realizado em 2016. A mesma entidade baliza os objetivos do Apoio Tutorial Específico sendo este um meio para “levar os alunos a definir ativamente objetivos, decidir sobre estratégias apropriadas,


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planear o seu tempo, organizar e priorizar materiais e informação, mudar de abordagem de forma flexível, monitorizar a sua própria aprendizagem e fazer os ajustes necessários em novas situações de aprendizagem.” As competências acima enunciadas são indissociáveis do Xadrez, com este a promover nos seus praticantes o desenvolvimento da “criatividade, concentração, memorização, paciência, disciplina, respeito a adversários, árbitros e leis e isso já é o suficiente para formar um cidadão com o caráter que a sociedade exige e em condições adequadas para ser bem-sucedido na vida”

Numa das comunicações apresentadas na 1.a Jornada de Estudos em Matemática, o Xadrez é referenciado como estratégia potenciadora da capacidade de “apreender e aprimorar habilidades mentais, como tomar decisões no momento certo, ter um pensamento crítico acerca dos factos, cálculo mental (habilidade primordial para a [aprendizagem da] matemática), dentre outros valores educacionais.” O Grande Mestre Gary Kasparov tem destacado, ao longo do seu trabalho de fomento da introdução do Xadrez nas escolas, os “comprovados benefícios do Xadrez enquanto ferramenta essencial para a educação dos dias de hoje. O Xadrez melhora a concentração e as capacidades essenciais a um pensamento lógico e estruturado. Este assume-se como uma resposta adaptada a um mundo em constante transformação e onde se exigem respostas criativas para os problemas.” Centrais para o sucesso dos alunos são também as suas competências de controlo dos níveis de ansiedade e de stress, com alguns estudos académicos a colocarem como válida a hipótese de “o decréscimo do desempenho académico dos estudantes poder estar associado ao aumento dos níveis de ansiedade face aos testes.” No contexto do Apoio Tutorial Específico o objetivo de fomentar nos tutorandos a competência de “planear do seu tempo” poderá ser promovida através da introdução do Xadrez e do uso de um relógio de competição (seja no seu modelo mais formal, seja através das aplicações para smartphones,) desenvolvendo neles a capacidade de “tomarem as melhores decisões” num contexto de gestão de tempo. O estabelecer de um paralelismo entre um momento de avaliação ARTIGOS

(onde o aluno conta apenas com as suas competências e é vital uma correta gestão do tempo para o alcançar de melhores resultados) e uma partida de Xadrez (onde decisões erradas e/ou uma ineficaz gestão do tempo conduz fatalmente à derrota) aproxima esta duas realidades à primeira vista tão distantes. Para a Escola importa também reconhecer a missão do Apoio Tutorial Específico como um espaço de desenvolvimento de competências e não como um “apoio ao estudo e realização de atividades de reforço de aprendizagem” e incorporar a mensagem do Ministro da Educação segundo o qual “o xadrez é uma modalidade importante para a socialização dos mais novos. (…) É um desporto de alta competição, mas também poderá ser um suplemento positivo para que muitos dos nossos jovens alcancem o tão esperado sucesso escolar.” O lance de abertura foi dado pelo Ministério da Educação cabe agora aos diferentes atores conduzir a partida e efetuar xeque-mate ao insucesso escolar, consolidando a presença do Xadrez no contexto educativo.” Por: Vítor Cardoso

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Centurium - Jogos Romanos de Tabuleiro

O Torneio de Jogos Romanos de Tabuleiro, já vai na sua décima edição, e cresce de ano para ano uma vez que tem cativado cada vez mais professores e alunos de diversos agrupamentos de escolas da cidade e sua periferia, até mesmo de outras instituições ou associações (por exemplo, a Escola Profissional de Braga que auxilia na sua organização logística). Sem esquecer o louvável trabalho dos utentes da APPCDM de Braga que todos os anos elaboram com grande profissionalismo e carinho as coroas de louro dos vencefores.

Este projecto, gizado por uma dinâmica e jovem equipa de professores de matemática (Prof. Paulo Morais, Prof.ª Joana Braga Simões, Prof.ª Joana Tinoco e Prof.ª Sónia Coelho) teve o seu início nas escolas dos distritos do Porto e de 32

Braga e paulatinamente expandiu-se a todo o território nacional. Este ano os organizadores estão a contar com a participação de cerca de 1000 alunos, repartidos entre o 1º ciclo até ao secundário, passando pelos alunos da Educação Especial. O objetivo primordial deste evento centra-se na sensibilização da comunidade educativa para os jogos da época romana, como sejam o Seega, o Soldado, o Moinho e o Tábula, os quais curiosamente constituem a base de muitos jogos de tabuleiro atuais. O segredo do êxito desta atividade, de grande valor pedagógicodidáctico, resulta da adesão maciça dos alunos, uma vez que contribui para fomentar a sociabilização e o autocontrole dos educandos, numa óptica de competição saudável entre todos, contribuindo para despertar a curiosidade para os usos e costumes romanos, a par de desenvolver o raciocínio matemático através da utilização de estratégias na antecipação das jogadas e disposição das peças no tabuleiro. No fundo, com a antecipação de alguns anos, os seus promotores já tinham em mente aquilo que hoje em dia constitui o «cavalo de batalha» ARTIGOS

do sistema educativo português que tem como pedra angular a autonomia e flexibilidade curricular numa óptica inclusiva de todos os discentes. Os professores das mais diversas áreas articulam entre si conhecimento e aprendizagem, o que resulta numa consolidação de aprendizagem mais significativa para os alunos. Na semana da Braga Romana, o Centurium também está presente com o Torneio para as famílias. Estamos perante um projeto que envolve ativamente todos os agentes educativos. Por: Cláudia Antunes Machado


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O que se pode dizer acerca da Academia de Xadrez de Gaia Projeto XADREZGAIA Que se pode dizer acerca da Academia de Xadrez de Gaia? É constituído por um núcleo duro que assegura a participação e divulgação desta modalidade que nos apaixona que é o xadrez.

e ajudando na preparação e organização de vários torneiros escolares, distritais, federados e a nível municipal, nem sempre é fácil mudar o chip de manha para tarde , quando por exemplo tens de arbitrar 100 pessoas de manha num torneiro

Pode-se mesmo dizer que são poucos os clubes que conseguem atingir o sucesso que a AXG atingiu e que consegue ter um programa tão diversificado e amplo mas verdade é que mesmo com tanta coisa a acontecer, muitas vezes em

escolar e preparas-te para jogar de tarde para um jogo federado porém graças a uma equipa rotinada a andar nestas andaças de ter que tão rapidamente dar aulas arbitrar e jogar conseguimos realizar sempre tudo podendo sempre no final olharmos e ficarmos orgulhosos do que fizemos.

simultâneo, temos sempre gente suficiente para realizarmos tudo o que nos propormos a realizar e com sucesso, e é por esse motivo que sinto muito orgulho no projeto de Gaia e de puder fazer parte dele.

Bruno Figueiredo - Edgar Taveira A AXGAIA atua em diversas vertentes como no xadrez federado, distrital, escolar, e como meio de apoio social. Num fim de semana a AXG pode ter de manha a decorrer ao mesmo tempo nas suas instalações a decorrer um torneiro de desporto escolar, aulas para jogadores federados e em iniciação, aulas nos empreendimentos sociais e de tarde competições quer a nível federado nacional como a nível federado distrital. Para não falar do habitual Profigaia Open e da Revista GayaChess que requerem uma preparação anual, mais alguns torneiros internos realizados ao longo da época. Para tal ser possível foi preciso criar esse núcleo duro que vai desde da Direção do clube, dos secionistas do clube, a formação de treinadores, jogadores e árbitros e sem esquecer dos familiares destes membros pois muitos perdem vários fins de semana para tal ser possível. Tal como é possível ver nas fotos abaixo deste artigo temos aqui vários exemplos de como trabalha a AXG e como tem sempre a “casa” cheia de jogadores. Falando da minha experiência pessoal como jogador, arbitro

Por: Bruno Lopes

Bruno Lopes

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Xadrez e Yoga. Uma dupla de sucesso! Quando me foi lançado o desafio de escrever sobre os benefícios do Yoga, questionei-me como apresentar o Yoga de uma forma didática, perceptível e cativante. Sendo a GayaChess uma publicação essencialmente lida por pessoas ligadas ao Xadrez, fazia sentido que o artigo interligasse o Xadrez e o Yoga. Que tal numa perspectiva histórica?

Objecto encontrado no Vale do Indo. Exibido no Museu de Arqueologia em Harapa, Pakistão | Foto: BBC

Muito tem sido escrito sobre a origem do Xadrez e da sua evolução. Neste contexto apenas de referir que a Civilização Drávida (> 9.000 anos no Vale do Indo) jogava Chaturanga [lê-se Tchaturanga], indicado por alguns, como a origem do Xadrez e praticava o Yoga primordial. E então, perguntarão vós? Hoje em dia há pessoas que praticam Yoga, outras Xadrez e outras ambas. Tal como podem praticar muitas outras actividades... Qual o interesse particular de ligar o Xadrez e o Yoga? Lembro-me de quando comecei a privar com pessoas ligadas ao Xadrez e que me referiam, com toda a qualidade, os benefícios da sua prática, na minha mente ter-se formado uma questão: Como é que os jogadores conseguem a energia e saúde, principalmente a emocional?

Qualidades do Xadrez

Traduzido de <Physical and Psychological Factors>, Efstratios Grivas, Material do Curso de FIDE Trainer Muito tem sido escrito sobre a origem do Xadrez e da sua evolução. Neste contexto apenas de referir que a Civilização Drávida (> 9.000 anos no Vale do Indo) jogava Chaturanga [lê-se Tchaturanga], indicado por alguns, como a origem do Xadrez e praticava o Yoga primordial. E então, perguntarão vós? Hoje em dia há pessoas que praticam Yoga, outras Xadrez e outras ambas. Tal como podem praticar muitas outras actividades... Qual o interesse particular de ligar o Xadrez e o Yoga? Lembro-me de quando comecei a privar com pessoas ligadas ao Xadrez e que me referiam, com toda a qualidade, os benefícios da sua prática, na minha mente ter-se formado uma questão: Como é que os jogadores conseguem a energia e saúde, principalmente a emocional? Grande parte da vida é passada num ambiente, onde a força de vontade é constantemente testada face aos acontecimentos do dia-adia. Quando às rotinas e actividades habituais (estudar, trabalhar, socializar) acrescentamos o factor competição, é ainda mais importante termos práticas que nos permitam manter uma atitude equilibrada e positiva (interior e exterior) de forma constante e duradoura. Isto requer grandes doses de Energia, Saúde Física, Emocional e Mental, Concentração e Lucidez. Na altura estava a meio da minha formação de 6 anos para instrutora

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do Yoga e claro, para além de beneficiar da sua prática, tinha bem presente o que os alunos relatam ao fim de poucas aulas. A prática do Yoga pode facilitar as qualidades alcançáveis do Xadrez (anteriormente referidas). Senão vejamos: A prática regular do Yoga Sāmkhya, Método de Desenvolvimento Humano promove: - a Saúde – é profiláctica - a manutenção de um peso saudável - a força de vontade - a resistência ao stress - um sono biológico nocturno da máxima qualidade - um constante pico hormonal de juventude - uma sensação de auto confiança e felicidade - o emocional positivo - a diminuição do absentismo - a criatividade - o aumento do desempenho profissional e escolar - a oxigenação do cérebro - tomadas de decisão velozes e inspiradas - a alegria de viver - o bem estar psicobiofísico - o relaxar em tensão É curioso que encontramos qualidades coincidentes, mas há algo que os separa. A competição! O Xadrez é um jogo em que alguém quer ganhar a outro. O Yoga é uma prática de desenvolvimento humano


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e visa a cooperação. Há uma pergunta que costumo colocar aos jogadores de Xadrez: “Jogas para ganhar ou para que o outro perca?”. Parece a mesma coisa, mas se dissecarmos, percebemos que podem ser comparadas a duas faces da mesma moeda. Aceita o desafio de me enviar a sua resposta e respectiva justificação? Estou curiosa! A perspectiva e a atitude fazem a diferença. O primeiro objectivo do Yoga é desenvolver o Ser Humano de forma Excepcional em todas as suas facetas positivas, sempre em Harmonia, mantendo-o no seu estado natural, Saudável e Feliz, com sólida base de Auto Exigência, anti-ego deformado, e Fraterna. Dir-se-ia que também é o objectivo de viver em pleno. Como é que no Séc. XXI continua a fazer sentido este objectivo? Apesar de toda a evolução tecnológica, o ser humano continua a ter características intrínsecas muito assentes no lado negativo. A

“ginástica” mental de nos focarmos no lado positivo é um exercício diário e contínuo. Como se consegue? O Yoga, através das suas 14 disciplinas técnicas principais (13 se forem crianças), num total de 20 com as secundárias, trabalha o ser humano como um todo e nas suas várias dimensões: física, emocional e mental. O contacto com jogadores de Xadrez e de saber alguns obstáculos que enfrentam antes, durante e após uma competição, motivoume a facultar a prática do Yoga a xadrezistas de várias idades e graus de desenvolvimento. O Yoga Sāmkhya desvenda o domínio do som, da Concentração Contínua e do Controlo Mental e, através da Meditação, a exploração dos compartimentos e Planos Mentais insuspeitos e por utilizar, descobrindo a Mente Supra Cognitiva, estimulando a Intuição e proporcionando incursões para Além da Mente - “OvWermind“.

Korchnoi (vice campeão mundial) a praticar Yoga, 1978 Consciente que os seus benefícios ultrapassam o mero objectivo de vencer a partida, exploremos a solução. O ideal é praticarmos regularmente, no mínimo, uma hora de um SÁDHANÁ – prática com pelo menos as 14 disciplinas técnicas principais.

Quando tal não é possível, podemos utilizar essas técnicas como ferramentas ao nosso dispor durante 24 horas Exemplos das Disciplinas do Yoga com efeito directo nos obstáculos referidos pelos jogadores de Xadrez Disciplinas

Dores nas costas

Ansiedade

Nervosismo

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Dhyána – Meditação

Desconcentração

Cansaço

Negatividade

X

X

X

Pránáyáma

X

X

X

Ásana

X

X

Yoganidrá

X

X

X X X

Kriyá X

Mantra / Kírtanam

X X

Jápa Tala Jápa Shesha X

Bandha

X

Yantra

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Pújá X

Mudrá

X

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Nyása X

Mánasika

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Yama e Niyama

Fontes: Curso Especial Superior do Yoga (CESYO) da Confederação Portuguesa do Yoga; Curso FIDE Trainer; https:// en.chessbase.com/; https://www.youtube.com/ watch?v=wkL8jtDw7uA Por: HELENA GUIMARÃES

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Email: hmbguimaraes@gmail.com A leccionar aulas do Yoga desde 2014, com formação especializada de 6 anos, pela Confederação Portuguesa do Yoga, sob orientação filosófica de H.H. Jagat Guru Amrta Súryánanda Mahá Rája, em Yoga primordial para crianças, adultos e gestantes. É uma grande satisfação quando os alunos terminam as aulas com ar saudável, tranquilo e felizes. ARTIGOS

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Ana Inês Silva

Inês no Profigaia Open 2018

Inês Silva tem 17 anos, é aluna de Ciências e Tecnologias na Escola Secundária de Carlos Amarante. Aos 11 anos conseguiu o seu primeiro título de relevo, ao sagrar-se Campeã Nacional de jovens sub-12. Para além disso, na época de 2014/2015, sagrou-se a Campeã Nacional Feminina mais jovem de sempre Inês Silva tem 17 anos, é aluna de Ciências e Tecnologias na Escola Secundária de Carlos Amarante. Aos 11 anos conseguiu o seu primeiro título de relevo, ao sagrar-se Campeã Nacional de jovens sub-12. Para além disso, na época de 2014/2015, sagrou-se a Campeã Nacional Feminina mais jovem de sempre Mas a sua dedicação ao xadrez começou muito antes dessa idade, pois nasceu numa família de xadrezistas em que a modalidade é um tópico de conversa frequente em casa, o que acaba por ser uma grande motivação e por manter o interesse vivo. “O meu primeiro contacto com o xadrez foi com cerca de 6 anos. Com essa idade comecei a aprender as regras do jogo com o meu pai e a ter interesse pela modalidade. No entanto, o primeiro contacto com o meio competitivo 36

foi mais tarde, com 8 anos, idade com que comecei a participar em competições de Desporto Escolar”. Os seus primeiros treinos no âmbito do Desporto Escolar foram na escola básica de Tadim, com o pai e com o Carlos Novais. No entanto, recorda que “Apesar de ter aprendido bastante com o meu pai e nas aulas de grupo em que fui participando, o meu primeiro treinador “a sério”, com quem tive aulas particulares, foi o CM Bruno Gomes, e surgiu muito mais tarde, quando já tinha cerca de 13 anos. Penso que foi com ele que cresci mais como xadrezista e que ganhei mais interesse pela modalidade”. Atualmente é treinada pelo IM André Sousa, que se tem mostrado igualmente importante no seu percurso. Participou no seu primeiro Nacional ENTREVISTAS

de Jovens com 9 anos, e no primeiro Europeu de Jovens com 10. No entanto, para si, as competições mais importantes em que participou foram as Olimpíadas de 2016 e 2018. Depois de se ter consagrado campeã nacional aos 11 anos, a esse título juntaram-se mais três títulos de Campeã Nacional Feminina de Jovens (lentas), quatro títulos de Campeã Nacional Feminina de Jovens (rápidas), quatro títulos de Campeã Nacional Feminina de Jovens (semi-rápidas) e um título de Campeã Nacional de Jovens Absoluta (rápidas). Na época de 2014/2015, sagrou-se Campeã Nacional Feminina e foi também ViceCampeã Feminina de Semirrápidas. Na época de 2017/2018 foi Campeã Nacional Feminina de Semirrápidas. A estes títulos juntam-se outros distritais e de desporto escolar.


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Inês no Profigaia Open 2018

Para si, o título mais importante em termos de destaque no mundo xadrezístico foi o de Campeã Nacional Feminina, feito que um dia espera poder vir a repetir. “Foi também o que mais estimei conquistar, uma vez que na época foi uma enorme motivação para continuar a praticar a modalidade”. A Inês é uma jovem de ar sereno e ponderado, tem sido sempre boa aluna e considera que a maior influência que o xadrez teve na sua personalidade foi o facto de a ter ensinado “a conciliar melhor

as coisas, e a estruturar melhor o pensamento. O xadrez para mim é um hobby, algo de que gosto imenso e que sinto ajudar-me bastante em várias áreas, como por exemplo na escola. É um desporto que acompanhou grande parte da minha vida e que teve um papel fundamental na minha infância, e será por isso sempre algo importante para mim”.

desfrutar dela. Afirma que gostaria de continuar na selecção olímpica e de voltar a ser campeã nacional feminina um dia. Por: Ana Isabel Lopes

Guarda planos para a modalidade, que consistem maioritariamente em continuar a praticá-la e a

ENTREVISTAS

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Mariana Silva

Mariana no Profigaia Open 2018

MARIANA SILVA tem 20 anos e estuda Línguas Aplicadas na Universidade do Minho. Hoje soma títulos no seu currículo, merecidos de um esforço e dedicação que começou muito cedo, tal como nos conta “O meu primeiro contacto com o xadrez foi por via do meu pai, que praticava a modalidade regularmente e ativamente antes de eu e a minha irmã nascermos. Quando eu frequentava o 7º ano, o meu pai criou um clube de xadrez na escola onde eu estudava, a Escola EB2,3 Tadim. Embora, no princípio, não tivesse muito interesse, aos poucos fui começando a ganhar o gosto pela modalidade e a participar em torneios”. Desde esse tempo até hoje a motivação pela modalidade nunca parou de crescer, ao ponto de nos confessar que não imagina a sua vida sem jogar xadrez: “Aquilo que me motiva a não deixar de o fazer não são os resultados, e sim o facto de me divertir imenso e de gostar genuinamente de jogar. 38

Outro fator muito importante é o facto de toda a minha família jogar xadrez, bem como o meu namorado e alguns dos meus amigos mais próximos, o que significa que tenho sempre companhia para participar em torneios e discutir assuntos relacionados com a modalidade”. Na nossa entrevista recordou os seus primeiros passos no xadrez e todos aqueles que a ajudaram a caminhar: “os meus primeiros treinos em casa e na escola EB2,3 de Tadim, com os meus primeiros treinadores: o meu pai e o Carlos Novais, duas figuras extremamente importantes para a minha evolução na modalidade. Além destes, considero que o GM Jorge Ferreira, o CM Bruno Gomes e o FM Luís Silva, com quem treinei em diferentes momentos da minha vida, me ajudaram bastante a crescer. Tenho para com todas estas pessoas muita gratidão e amizade”. Como toda a dedicação leva ao ENTREVISTAS

êxito, o primeiro título que alcançou foi precisamente no primeiro torneio de relevo em que participou. Tinha 12 anos, quando competiu no Campeonato Nacional de Jovens em Torres Vedras, e aí se sagrou Campeã Nacional de Jovens Feminina Sub-14. Como nos diz, “Foi completamente inesperado e uma enorme motivação para continuar, na altura”. Além desse primeiro título no plano jovem, seguiram-se outros seis, nos anos 2012-2015, 2017 e 2018. Tornou-se ainda Campeã Nacional Feminina de Semi-rápidas em 2016, e Campeã Nacional Universitária de Semi-rápidas em 2017, 2018 e 2019, e de rápidas em 2019. Apesar de não ser um título, aquilo que considera ter sido a sua maior conquista no xadrez foi ter feito parte da Seleção Nacional Feminina, nas Olimpíadas de 2016 e 2018. Foram dois dos momentos que recorda com maior alegria e duas das experiências


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Mariana no Profigaia Open 2018

mais enriquecedoras que diz ter tido em toda a sua vida, tanto a nível xadrezístico como pessoal. Quando questionada sobre a forma como o xadrez poderá ter ajudado a moldar a sua personalidade, refere que “O xadrez ajudou-me, sem dúvida, a controlar e gerir melhor as minhas emoções no dia-a-dia, e a ser mais organizada com os meus processos de pensamento e de gestão de tempo. Considero ainda que a aquisição de padrões, que é algo extremamente importante para um xadrezista, me ajudou bastante, nomeadamente a nível académico,

pois também é muito importante no contexto de aprendizagem de línguas”. Por todos estes motivos, continua a ter muitos planos para a modalidade, sendo que, para si, o principal é bastante simples: “Continuar a jogar e continuar a divertir-me. Ao nível dos resultados, gostaria de sagrarme Campeã Nacional Feminina no ritmo de clássicas, de ultrapassar a barreira dos 2000 de ELO a curto prazo, e de continuar a fazer parte da Seleção Nacional Feminina nas próximas Olimpíadas”. Resume-nos a sua perceção do

ENTREVISTAS

xadrez como “Uma atividade cativante e estimulante que, para mim, se assemelha a uma arte, por toda a beleza que pode ter”. Por: Ana Isabel Lopes

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Tática GAYACHESS 2019 Caros Leitores vamos no 5º Ano da GAYACHESS única Revista de Xadrez em Portugal. Porquê os finais? Bom, na era de Magnus Carlsen Campeão Mundial e um dos maiores finalistas da História a resposta é fácil. Magnus é um Grande Campeão que aposta muito nos finais da partida, fase onde ganha a maior parte dos seus jogos. Vamos, pois, tentar imitálo! Por outro lado, todos os Grandes Mestres sem excepção que ajudaram a dar à Academia de Xadrez de Gaia os seus 9 Títulos de Campeão de Clubes de Portugal em apenas 20 anos são jogadores profissionais de grande categoria Mundial e excelentes finalistas. Para reforçar a importância dos finais o Curso de FIDE Trainer (Curso de Treinador de Xadrez mais importante do Mundo) dá aos finais uma relevância mais importância superior às outras fases da partida.

Relembro que os finais e a Tática estão umbilicalmente ligadas e por isso todos estes exercícios se resolvem com subtilezas táticas por vezes surpreendentes. Divirta-se com estas desafios que lhe propomos .

1...d2 2.Ra1! [A torre é uma peça de perna grande e, portanto, deve afastar-se para trabalhar tranquila não dando hipóteses ao rei adversário] 2...Kd3 3.Kf2 []

Posição 1

3...Kc2 4.Ke2+– 1.Kf1+– []

Posição 3

Posição 2

1...c2 2.Ra1 Kc3!= [Não há espaço para o ganho]

Só conseguimos níveis elevados em qualquer actividade com muito treino e o xadrez não é excepção. Temos 8 exercícios sobre um tema específico. Porquê? Porque me parece que o país xadrezístico carece de especialização. Assim sendo este ano temos o tema de uma corrida entre rei e peão contra rei e uma torre. É um tema muito subtil! A torre é uma peça que necessita de espaço para ter eficácia e por vezes é o seu próprio rei que lhe dificulta a tarefa. Não esquecer que em xadrez as peças que temos têm de trabalhar coordenadas para renderem o máximo das suas possibilidades. Assim sendo, não importa o material que temos, mas sim o dinamismo que conseguimos dar a essas mesmas peças.

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ARTIGOS TÉCNICOS


GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

Posição 4

Posição 7

Posição 6 1...b2 2.Kc2+–

1.Kb7!+– [

[2.Rh2?? Estes são os erros óbvios e surge o tema do afogado espectacular 2...Ka1!!= ]

1.Kg4 d3 [1...Ke3 2.Kg3 d3 3.Re1+] 2.Kg3 Ke3 3.Re1+!+– [

Posição 5 1.Kd6!! [ Atravessar momentaneamente o rei das brancas no caminho da torre é o único plano para ganhar .]

Zugzwang . Agora o rei das pretas é obrigado a abrir caminho ao rei das brancas até á perda do peão !] 1...Ka4 [1...Kc4 2.Ka6 Kc3 3.Ka5 b3 4.Ka4 b2 5.Ka3+–] 2.Kc6 b3 3.Kc5 Ka3 4.Kc4 b2 5.Kc3+– Posição 8

O xeque da torre deve ser dado no momento exacto em que prejudica definitivamente o trajecto do rei adversário e permite a aproximação do nosso rei com eficácia !´]

1...d3 2.Kc5 Ke3 3.Kc4 d2 4.Kc3+– [Chegando a tempo !]

1.Rg5!! [

ARTIGOS TÉCNICOS

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seu trabalho !] [1.Rg8?? Tg8 seria normalmente o lance correcto mas neste caso fantástico a torre em e8 não ataca o peão porque tem o rei no seu caminho. 1...Kd3 2.Rd8+ Kc2 3.Re8 e3 4.Kf5 Kd2 5.Kf4 e2 6.Kf3 e1Q 7.Rxe1 Kxe1] 1...Kd3 Uma exceção fantástica . É pela 5ª fila que a torre consegue manobrar prejudicando o rei das pretas e sem que o seu próprio rei prejudique o

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[1...Kf4 2.Rf5+ Kg3 3.Re5 Kf3 4.Kd5 e3 5.Kd4 e2 6.Kd3+–; 1...Ke2 2.Ke5! e3 3.Ke4! Kd2 4.Rd5+ Ke2 5.Rd3]

TÁTICA

2.Rd5+ Kc2 3.Re5 Kd3 4.Kf5 e3 5.Kf4 e2 6.Kf3+–

Por: Antónios Fróis


Sven Fiel “Um Jogo de Física Quantica!”

“Xadrez Existencial”

Jogar Xadrez proporciona num tabuleiro com 64 quadrados e 32 peças, mais variantes de seus jogos, do que átomos no Universo! Dois Seres Humanos se desafiam num jogo Multidimensional e testam a sua conexão de si próprio com o Cosmos. Sem limites, desafia mais do que estar certo em matemática, desafia sim que um jogador esteja mais certo que outro. Cálculos têm que ser feitos e a assertividade interior cresce não dando espaço para sorte, hipocrisias, e boa semântica teórica. Aqui é a prática e objectividade de todo o equilíbrio das emoções e da mente! Para os que são demasiado cautelosos, ganham atitude e iniciativa e os demasiados audaciosos, aprendem a ser menos inconsequentes e a defender-se melhor. Entre a cautela e a audácia, não há uma melhor, mas sim as duas, na altura certa! Desafios para um Cérebro evolutivo e que nos pode encaminhar como uma metáfora da vida...Se...estivermos atentos a essa ligação!

Tal como na nossa existência, No Jogo de Xadrez, é necessário, saber trabalhar em equipa e conhecer com clareza, as capacidades de cada um, usando isso, para se apoiarem uns aos outros. Sem medo e com cautela, Dar uso à imaginação e criatividade, Como da lógica e objectividade, Com discernimento espacial, No seu próprio caminho, até à sua intenção: Cheque-Mate! Os desafios são eternos na nossa evolução, e na nossa impermanência no tempo e no espaço. Uma boa posição contextual, no nosso processo se afirma, com todas as coisas que temos de sacrificar. Se queremos evoluir, a auto-crítica e motivação têm que caminhar aliadas e assim transcendemos no nosso padrão qualitativo. Um padrão que se arrasta do Jogo de Xadrez para a nossa vida!


PROFIGAIA OPEN 2019

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Afonso Borges

Afonso Carvalho

Afonso Matos

Afonso Oliveira

Afonso Pereira

Ana Inês Silva

André Artilheiro

André Azinheira

André Moldovan


GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

André Pereira

André Ribeiro

André Sousa

António Fróis

António Pedro Marinho

Aníbal Galindro

Beatriz Areal

Bruna Silva Tarelho

Bruno Figueiredo

Álvaro Brandão

Bárbara Monteiro

Carlos Novais

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46

Claus Pakmor

César Tavares

Damião Alves

Daniel Ribeiro

Daniel Silva

David Farias

David Íncio

Diana Nogueira

Diogo Camacho

Dragos Moldovan

Duarte António Duarte

Edgar Íncio


GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

Estevão Moreira Gomes

Eunice Quintas

Fernando Costa

Filipa Pipiras

Francisca Camacho

Francisco Assunção

Francisco Duarte

Francisco Luís

Francisco Parente

Francisco Ribeiro

Francisco Veiga

Fábio Dong

47


48

Gonçalo Cavaz Coelho

Gonçalo Mesquita

Guilherme Filipe

Gustavo Carneiro

Gustavo Filipe

Gustavo Ribeiro

Hugo Sousa

Joaquim Pereira

Jorge Antão

Jorge Figueiredo

José Cavadas

José Dias


GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

José Miguel Santos

José Pedro Antão

José Ralha

José Veríssimo

João Antão

João Castro

João Guedes Carvalho

João Luís

João Manuel Almeida

João Pedro Almeida

João Romano

Luana Gonçalves

49


50

Lucas Moldovan

LuĂ­s Marques

Manuel Martins

Mariana Silva

Marisa Silva

Mark Orlov Silva

Marta Almeida

Miguel Palhas

Miguel Sismeiro

MĂĄrio Sousa

Nuno Santos

Nuno Sousa


GAYACHESS Nยบ5 - A Terra do Xadrez 2019

Nuno Taveira

Orlando Ribeiro

Paulo Monteiro

Pedro Fonseca

Pedro Vieira

Rafael Azeredo

Rafael Dong

Rafael Peres Borges

Ricardo Andrade

Ricardo Martinho Marques

Ricardo Santos

Rodrigo Paiva

51


52

Rodrigo Ribeiro

Rodrigo Sarabando

Rui Pereira

Rúben Freitas

Rúben Marriós

Samuel Gonçalves

Sara Soares

Saran Velumani

Simão Pintor

Sofia Fontes

Sofia Sismeiro

Sofia Valente


GAYACHESS Nº5 - A Terra do Xadrez 2019

Sérgio Rocha

Tiago Fernandes

Tomás Chipelo

Tomás Matos

Vítor Cardoso

Wilson Soares

José João Pinto

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GAYACHESS Nยบ5 - A Terra do Xadrez 2019

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