GAU Vol 07 - Galeria de Arte Urbana

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“CALÇADA” COM VHILS ENTREVISTA COM MAR GRAFFITOLOGIA COM LÍGIA FERRO

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NAS PAREDES ...

CALÇADA Sempre que chover na cidade de Lisboa, Amália voltará a chorar, sobre as pedras da calçada, ali naquela praceta entre a Mouraria e Alfama. O fado ouve-se há muito por aquelas ruas e a mais recente criação de Alexandre Farto aka Vhils, intitulada Calçada, vem trazer essa vivência vadia e de pranto que a figura maior da fadista portuguesa tão notavelmente evoca. Com o apoio inabalável de um temerário conjunto de calceteiros municipais, não apenas, mas também da Escola de Calceteiros, e contando com a colaboração de muitos outros serviços da Câmara Municipal de Lisboa, bem como da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, ergueu-se esta intervenção junto à Rua de S. Tomé. A convite do realiza-

dor Ruben Alves e com o intuito de ilustrar a capa do CD – Amália, as Vozes do Fado –, Vhils concebeu a sua primeira obra em calçada portuguesa artística, num registo pioneiro, mesmo a nível mundial, que eleva a efígie da fadista do chão para a verticalidade do muro. Nunca antes estes calceteiros haviam tentado transpor esta técnica do piso, mas o resultado é tão exigente quanto a de um mosaico romano incrustado numa parede. Assim, conjugando a tradição do fado e da calçada com o universo contemporâneo da arte urbana, a obra inaugurada a 2 de julho, pelo Presidente do Município, será apreciada por muitas gerações futuras, num feito tão singular e único quanto Amália o foi.

Rua de São Tomé

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HONORATO CHIADO Outra das mais recentes intervenções de Vhils na cidade de Lisboa, pode ser visitada no Honorato Chiado. Esta cadeia de restauração, com vários espaços abertos na capital, convidou Alexandre Farto a transladar da rua para o interior, um dos rostos anónimos pelos quais se tornou mundialmente prestigiado. Numa ambiência que se preservou industrial e frontal em relação à entrada do restaurante voltada para o Largo Rafael Bordalo Pinheiro, surge uma contemplativa face feminina com um olhar doce, ainda assim distante. A composição, nascida da aspereza escavada do reboco, mas que sempre reflete uma subtil luminosidade, alimentou-se dos elementos envolventes, trazendo para a parede, o bicromático padrão geométrico do mosaico hidráulico que foi mantido no piso. Esta reinterpretação, oferece ao conjunto, valores plásticos próximos dos anos de 1970 e algum gosto brasileiro, associado ao “calçadão” de Ipanema, no Rio de Janeiro. O espaço parece assim, ter aguardado todo o tempo do mundo por esta intervenção, num efeito site-specific, de imediato enraizamento no local que frequentemente as criações de Vhils exibem.

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NAS PAREDES ...

SE AS PAREDES FALASSEM Com o objetivo de celebrar a História do cinema português, o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) promoveu, em parceria com a GAU, um concurso para a realização de uma intervenção artística num dos edifícios da antiga TOBIS, subordinado ao tema Se as paredes falassem - A Arte e a Indústria da imagem em movimento, ontem, hoje e amanhã. O Júri, composto por Catarina Correia (ICA), Glória Diógenes (Socióloga e investigadora em Arte Urbana), Sara Godinho (CML/ UITNorte) e Jorge Carvalho (CML/DPC) decidiu, por unanimidade, eleger a proposta do artista Ricardo Guerreiro, premiando a

originalidade de uma composição intemporal, que procura estabelecer um diálogo entre o passado e o futuro da 7ª Arte, e a consistente integração no edifício que lhe serve de suporte. Segundo as palavras do autor, neste trabalho “(…) passa-se o olhar por 80 anos de história da TOBIS e voltamo-nos para o futuro. As heranças do passado observam o corpo gigante da atualidade. Passado e presente testemunham e esperam aqui pelo próximo na história do cinema em Portugal. Um olhar na palma da mão guianos para o futuro.” A obra foi inaugurada no dia 22 de abril de 2015.

Rua Luís Pastor de Macedo

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MUSEU DO TEATRO ROMANO Quando passamos na Rua de S. Mamede precisamente na zona que delimita o espaço do Teatro Romano, quase conseguimos ouvir as vozes propagadas pelas enormes máscaras romanas, realizadas por Gonçalo Mar. A intervenção foi pensada para a reabertura do respetivo Museu e pretendia evocar alguns objetos e narrativas que se encenaram neste ancestral palco da cidade de Lisboa. Apropriando-se dos vãos que permitem observar o interior do monumento, Mar localizou ali algumas das bocas, surgindo

quase um coro de rostos, alguns mais irados, outros mais melancólicos, alguns mais desgostosos, outros mais sonhadores, numa paleta totalmente integrada no espaço envolvente, entre o ferrugem, o beringela, o bege e o rosa pastel. Com a reinterpretação deste património teatral, o autor demonstra a permeabilidade das manifestações de arte urbana, perante produções artísticas da antiguidade clássica, nunca abandonando ainda assim, alguns traços que marcam a sua identidade enquanto street artist.

Rua de São Mamede

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NUNCA Os últimos meses do “Underdogs” não poderiam ser mais preenchidos. No contexto deste projeto concebido por Alexandre Farto aka Vhils e Pauline Foessel, que conta com o apoio da GAU, visitou-nos o há muito desejado artista brasileiro, Nunca. Numa rotunda junto à Avenida Infante D. Henrique, a sua peça, consistentemente integrada na configuração da empena, representa Pedro Álvares Cabral, sentado no chão a pedir esmola. Este autor deixou assim, as figuras de indígenas pelas quais é reconhecido, para,

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neste caso, dedicar simbólica e criticamente a sua atenção, a esta figura emblemática que simboliza a ligação de Portugal ao Brasil. Um dos mais prestigiados artistas internacionais, com presença de destaque na memorável exposição da Tate Modern dedicada à arte urbana, Nunca exibe mais uma vez, a sua peculiar opção plástica de criar grandes manchas monocromáticas preenchidas posteriormente, com um padrão tracejado, num efeito próximo da gravura que oferece volumetria à superfície.

Avenida Infante Dom Henrique


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FINOK

Rua de Manica

Outro criador brasileiro que no âmbito do projeto “Underdogs”, realizou uma intervenção na cidade de Lisboa, foi Finok. E ali para os lados dos Olivais, mais precisamente na Rua de Manica, sob um céu vermelho e chuvoso, emergiu uma figura possivelmente de uma mãe de santo, sacerdotisa do candomblé. Esta chefe de terreiro, agora de rosto indígena, enverga o habitual fato branco, neste caso com apontamentos verdes, vermelhos, laranja, castanhos, tudo em tons aquosos, com um tratamento de

transparência que lembra uma paleta aguarelada, pouco comum no universo da arte urbana. Entre representações sintéticas de ondas, gotas, padrões florais, formas geométricas, surgem duas rosas e o barco enfeitado de Iemanjá, um dos mais importantes orixás do panteão pertencente àquela prática pagã tão reconhecida no Brasil. Descrevendo com a sua mão, um gesto secreto, a personagem religiosa abençoa certamente o Bairro e quem passa nas imediações.

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NAS PAREDES ...

ERNEST ZACHAREVIC “Não me preocupo tanto em fazê-lo muito bonito ou muito realista, mas sim em trabalhar tanto quanto possível de modo a concretizar aquilo que tenho em mente” - palavras do autor lituano Ernest Zacharevic, num vídeo produzido pela “Underdogs”. As figuras das crianças, como é habitual na sua obra, invadiram a exposição anteriormente patente, no espaço galerístico daquela plataforma, bem como o edifico onde trabalhou, situado na Rua da Manutenção, ao Beato. Aqui, na beleza que a própria degrada-

ção do construído pode exibir, surgem os gestos espontâneos de uma menina que parece brincar solitária, ora olhando algo que passou, ora espreitando melhor o que está no chão, ora saltando para um buraco, ora ficando no parapeito da janela a ver quem passa. E o seu vestido é apenas feito do ziguezague de um espesso traço azul de spray, num conjunto de composições de admirável simplicidade, que oferecem uma particular expressividade a estas paredes.

Rua da Manutenção

AKACORLEONE E HEDOF Sim, é verdade - há 75 anos que a companhia KLM, assegura a travessia área entre Amesterdão e Lisboa. Para comemorar este aniversário e com o apoio da plataforma “Underdogs” e da GAU, aterraram ali para os lados da Rua de S. Bento, o português Aka Corleone e o holandês Hedof. E a conjugação de discursos foi tão conseguida, que pareciam trabalhar juntos há 75 anos! Numa efusiva paleta, a intervenção faz-se de camadas de manchas monocromáticas, que descrevem um puzzle de símbolos e emblemáticos monumentos de ambas as cidades, como os resquícios do Castelo de S. Jorge, a cúpula do Panteão, caravelas na diáspora dos Descobrimentos, o leão da heráldica e a arquitetura caraterística de Amesterdão, mais aviões, assistentes de bordo, passageiros e até um cosmos planetário. Enfim, uma festa bem animada, como a data o exigia.

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Rua de São Bento © CML|DPC|GAU 2015


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SAINER Foi na Avenida Afonso Costa que a cidade viu nascer, até à data, aquela que é a sua maior peça em altura de arte urbana. Ao longo de 11 andares o artista polaco Sainer (que juntamente com Betz, constitui o coletivo ETAM) estreia-se de forma grandiosa com uma intervenção artística em Lisboa que intitulou Crossroads. No âmbito do projeto Underdogs, que conta com a parceria da GAU desde a sua fundação, Sainer desenvolveu este trabalho durante duas semanas no passado mês de abril. Deixa-nos uma obra de natureza figurativa, numa paleta pastel que se funde com a paisagem arquitetónica envolvente, jogando

com as transparências e iludindo-nos o olhar, através da criação de planos distintos. Numa das mais vivas artérias da cidade, oferece-nos uma cena do quotidiano, onde retrata uma elegante e idosa figura feminina, surpreendendo-nos depois com apontamentos inesperados como a presença de um pato, umas orelhas de coelho, ou um ícone dos vídeo-jogos dos anos 80. Nas palavras do artista: “não consigo explicar as personagens retratadas na pintura através de palavras, por isso tento contruí-las com muitos elementos diferentes”.

Avenida Afonso Costa

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MURAL DAS INDEPENDÊNCIAS Há 40 anos, com as independências de Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e, um ano antes, Guiné Bissau, fechou-se um ciclo da história de Portugal e abriu-se uma nova era de relacionamento entre povos livres. Este aniversário surgiu como uma oportunidade para assinalar esse momento de viragem bem como a diversidade cultural que dele resultou e que é hoje uma das caraterísticas distintivas da cidade de Lisboa. A EGEAC em parceria com a GAU lançou o concurso “Mural das Inde-

pendências, a Arte e a Liberdade”, inserido no contexto da programação do Festival Rotas & Rituais, que promoveu a realização de um conjunto de cinco intervenções de arte urbana no muro municipal sito na Rua Cais de Alcântara. Os artistas vencedores, Francisco Correia, Granje, Miguel Brum, Nomen e Tinta Crua, espelharam neste longo mural, a sua visão pessoal e artística relacionada com o aniversário das independências dos países em causa e os cruzamentos culturais que proporcionaram para a cidade de Lisboa.

Miguel Brum | Rua Cais de Alcântara © CML | DPC | GAU 2015

Francisco Correia © CML | DPC | GAU 2015

Nomen © CML | DPC | GAU 2015

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Tinta Crua © CML | DPC | GAU 2015

Granje © CML | DPC | GAU 2015


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ROSTOS DO MURO AZUL Um dos mais longos murais de arte urbana da Europa, com cerca de 1 km de comprimento, foi concluído este ano em Lisboa. Trata-se do muro que delimita as instalações do CHPL - Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, na Rua das Murtas, onde a Galeria de Arte Urbana em parceria com esta instituição desenvolveu desde 2012 o projeto Rostos do Muro Azul, resultando num conjunto de cerca de 77 intervenções artísticas, executadas por 61 criadores, sempre sobre a temática do rosto e sempre sobre um fundo azul. Desde o início desta iniciativa vários foram os formatos de participação, alternando entre o acolhimento de propostas pontuais, a realização de concurso ou edições com curadoria, chegando agora o momento da sua conclusão. Nos últimos meses do projeto a presença de artistas nacionais e internacionais, de diferentes proveniências foi uma constante. A fase final integrou um total de oito criadores, designadamente Jorit Agoch (Itá-

lia), Godmess (Portugal), Vanessa Teodoro (Portugal), Nadine Boulengier (França) e Vanessa Rosa (Brasil) que já realizaram as suas peças, tendo o australiano Jimmy C e os portugueses Isa Silva e Ôje realizado as obras finais, nos últimos dias do mês de março. Devido à riqueza deste conjunto de peças, não só pelo volume mas também pela heterogeneidade dos discursos presentes, Rostos do Muro Azul revela-se como um dos projetos de arte urbana mais emblemáticos da cidade, confirmando o interesse nesta temática por parte dos criadores que responderam ao desafio de forma tão expressiva. É com muita satisfação que hoje podemos afirmar que Lisboa é uma das capitais europeias onde podemos visitar gratuitamente um dos mais longos murais dedicados à arte urbana, fruto da produtiva parceria com o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa e todos os seus colaboradores ao longo de três anos.

Jorit Agoch | Rua das Murtas

Godmess

Vanessa Teodoro

Nadine Boulengier

Vanessa Rosa

Jimmy C

Isa Silva

Ôje

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MYNEANDYOURS MYNEANDYOURS visitou Lisboa durante este verão e deixou-nos uma peça de arte urbana no Parque Infantil do Mercado do Forno do Tijolo, que contou com o apoio da Junta de Freguesia de Arroios e da Galeria de Arte Urbana. A produção do criador londrino, de origem iraquiana, é caraterizada pela propagação da sua nuvem e pela alteração na forma como percebemos

o meio que nos rodeia. O seu trabalho pode ser encontrado em todos os cantos do mundo e agora também na nossa cidade. Nas palavras do artista: “esta obra pretende deixar à comunidade local algo que os inspirasse a continuar a sonhar. Foi um privilégio pintar entre estas pessoas entusiasmadas e amáveis. Estou ansioso pela próxima oportunidade de estar numa cultura tão maravilhosa”.

Mercado do Forno do Tijolo

COLETIVO NOVECINCO A tarefa era de responsabilidade – completar o mural onde se encontravam presentes a narrativa western dos Cyrcle e o robot decadente, já corroído por pequenas flores, da autoria de Pixel Pancho. Foi este o desafio lançado aos NoveCinco, do Rio de Janeiro, para intervirem num muro localizado no Parque das Nações, junto à Gare do Oriente, mais precisamente na Rua Conselheiro Mariano de Carvalho. Contando com o apoio da Flying House Lisboa, da 8DIX e da GAU, ali sur-

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giu então Zeferino. Esta é uma das personagens emblemáticas deste coletivo carioca, figura mitológica com pele azul, farta cabeleira e retorcidos chifres que, neste episódio inspirado na lenda do Adamastor, retira do fundo marinho, a rocha onde se encontrava incrustada uma embarcação de novo fumegante. Simultaneamente, os NoveCinco apresentaram as suas obras na exposição Doçaria Lisboa, realizada na galeria Giv Lowe, com curadoria/produção da Ctrl+Alt+RUA.

Rua Conselheiro Mariano de Carvalho


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FESTIVAL TODOS Subitamente, aquele discreto canteiro da Rua do Saco ascendeu pelas duas paredes vizinhas e dali brotou uma Gaia, na sua mais esplendorosa pujança. A divindade grega da natureza, mãe da terra e de muitas figuras mitológicas, como titãs e ciclopes, ergue-se num corpo crespado, de pele em casca de árvore rasgada por troncos, plantas silvestres e fungos. Uma pequena floresta habita agora aquele recanto junto ao Campo Mártires da Pátria, trazendo pássaros, diversos peixes e até um pequeno crocodilo, suspenso nas águas onde a deusa se

banha. O pequeno milagre nasceu das mãos de Violant e foi promovido pela GAU, no contexto do Festival “Todos – Caminhada de Culturas”, nesta sua 7ª edição que decorreu na zona da Colina de Santana. Igualmente integrado nas atividades do evento, organizou-se com o apoio da Junta de Freguesia de Arroios e todo o acompanhamento de Lara Seixo Rodrigues, mais um workshop Lata 65, vocacionado para a sensibilização do público sénior em relação às práticas do graffiti e da street art.

Rua do Saco

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GRAFFITOLOGIA

MAIS OU MENOS PORTO: NA SENDA DA ARTE URBANA Como prática juvenil contemporânea que grassou nas ruas de Filadélfia e Nova Iorque a partir de final dos anos 60 do século XX, o graffiti tem-se reinventado ao longo dos tempos. Nas suas origens, tratava-se de uma prática que consistia em “espalhar o nome” pela cidade (“getting up”), permitindo visibilidade urbana aos que eram socialmente mais desprivilegiados. Pouco a pouco, o graffiti foi-se misturando com outras linguagens e práticas artísticas, configurando uma forma de cultura cheia de vitalidade a que hoje chamamos de arte urbana. A partir do projeto de investigação que deu origem a uma tese de doutoramento em Antropologia Urbana (2011, ISCTE-IUL) 1, propus-me pensar sobre a forma como os quadros de gestão urbana do espaço público interferem na configuração de práticas como a arte urbana. Na pesquisa desenvolvida em Lisboa e Barcelona, procurava entender de que modos se configuravam as práticas da arte urbana em dois contextos tão diferentes do ponto de vista da morfologia social mas também tão próximos geográfica e historicamente. Neste trabalho ficou claro que os campos urbanos de possibilidades em que atuam os protagonistas da arte urbana, influenciam fortemente a configuração das suas práticas. Por exemplo, em Lisboa foram criados múltiplos espaços de reconhecimento e atuação para os atores da arte urbana, gerando-se um nicho cultural com grande visibilidade nacional e internacional. Já em Barcelona, os esforços empreendidos centravam-se numa espécie de réplica da “guerra ao graffiti” empreendida em Nova Iorque ao longo de décadas 2. A consequência desta “guerra” foi o surgimento de múltiplas estratégias de resistência e contestação aos planos e ações empreendidos com vista à erradicação da arte urbana do mapa da cidade. Esta estratégia revelou -se um fracasso, pois as expressões mais elaboradas de arte urbana começaram a desaparecer e as suas formas mais vandálicas ganharam força. Hoje sabemos que Barcelona mudou de estratégia relativamente à arte urbana, percebendo os erros cometidos no passado.

Apesar de serem sobejamente conhecidos os resultados de uma estratégia urbana centrada no combate a esta prática artística, no Porto assistimos a uma feroz campanha anti-graffiti especialmente a partir do ano de 2009, com o então executivo camarário a protagonizar um plano de combate à arte urbana sem precedentes que apagou boa parte da memória artística da cidade. Atualmente o município do Porto parece demonstrar uma certa abertura e interesse pela arte urbana. Percebe-se facilmente que esta expressão artística começou a ocupar um espaço na agenda cultural da cidade ao longo do último ano (veja-se o exemplo do projeto protagonizado por +-MaisMenos+-, “Quem és Porto”). Contudo, a limpeza de peças de arte urbana feita pela autarquia continua a demonstrar que existe uma falta de conhecimento por parte dos atores camarários relativamente aos modos de fazer e de viver a arte urbana nesta cidade. Se os artistas são chamados a ocupar um lugar na agenda cultural, porque não procurar compreender os significados e histórias das suas práticas? Só a partir de uma estratégia concertada e inclusiva de abordagem à prática da arte urbana no Porto se poderá efetivamente criar um nicho cultural que poderá trazer mais valias à cidade e aos artistas. Não nos faltam bons e maus exemplos para escolher a boa senda para a arte urbana no Porto! A ver vamos, quem serás, Porto, e que arte de ti brotará! Lígia Ferro, CIES, ISCTE-IUL Ferro, Lígia (2011), Da Rua para o Mundo. Configurações do Graffiti e do Parkour e Campos de Possibilidades Urbanas, Dissertação de Doutoramento em Antropologia Urbana, ISCTE-IUL. 1

Austin, Joe (2001), Taking the Train. How Graffiti Art Became an Urban Crisis in New York City, New York, Chichester, West Sussex, Columbia University Press. 2

+-MaisMenos+- | Porto © Mário Rui André 2015

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Cal莽ada da Gl贸ria

Largo da Oliveirinha



MAR | Avenida JosĂŠ Mourinho


Cal莽ada da Gl贸ria


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PAINÉIS GAU

CÂNTICO NEGRO Longa é a relação da GAU com artistas do Porto e o nosso esforço foi sempre no sentido de os convidar a realizarem peças em Lisboa, mas nunca antes uma exposição temática a decorrer nos painéis da Calçada da Glória e do Largo da Oliveirinha, tinha sido entregue a um coletivo da Invicta. Há muito que admirávamos o trabalho dos RUA e finalmente chegara a oportunidade de os convidar para um desafio bastante simples – criarem sete intervenções dedicadas ao tema que mais lhe agradasse. Foi assim que surgiu a exposição Cântico Negro, executada por Alma, Fedor e Third, inspirada nesse grito de emancipação que constitui o poema da autoria de José Régio. VEM POR AQUI, chama-nos logo o primeiro painel da Calçada da Glória, verso de abertura do poema, e toda a exposição se irá estruturar na alternância entre peças com trechos desta reconhecida obra da lírica portuguesa e composições figurativas de índole metafórica, alegórica, por vezes quase mitológica. Numa única paleta de fluência étnica que se elabora entre os tons da terra, como o ferrugem e o ocre, e os tons do céu, entre o branco e o azul, a figuração surge no segundo painel, com um homem a lançar acusações, em múltiplos braços que disparam e apontam a culpa de alguém, serpenteando em fundo, a reprodução de uma corrente metálica. Segue-se no painel central da Calçada da Glória, uma peça nevrálgica no conjunto da exposição, em que a armadilha de urso num iminente estalar, delimita um coração de fibras de tom ferrugem, em redor de uma lata de spray. Esta define um eixo centralizado na composição, organizada simetricamente, e liberta um fluxo de tinta na mesma cor sanguínea, que, como uma espiral de fumo, envolve o conjunto. Trata-se de uma peça de

forte impacto icónico, retrato de uma comunidade frequentemente discriminada e encarada com certo preconceito que a reduz por vezes a práticas vandálicas. NÃO SEI POR ONDE VOU \ NÃO SEI PARA ONDE VOU são os versos inscritos no painel seguinte, para quem desce a Calçada e o poema de José Régio, surgindo os trechos sempre num ecrã trespassado por estreitas lianas com pequenas folhas, tudo enquadrado por uma moldura branca. Se continuarmos, chegamos então ao único painel vertical da GAU, onde talvez a peça de maior elegância formal da exposição, representa um cisne branco que se encontra enleado por uma serpente. Com conotações bíblicas, mitológicas, até psicanalíticas, é de salientar neste trabalho, traçado e preenchido a spray, uma técnica de expressão pictural, com especial cuidado no tratamento dos volumes, das texturas, das sombras e de uma luz muito particular de tom azulado. E são trabalhos como este que refletem o nível de sofisticação plástica atingido pela prática do aerossol na atualidade. Entrando no Largo da Oliveirinha, à esquerda alinha-se uma representação igualmente de expressivo efeito, na qual um coração se solta ou aguarda ser trancado por uma fechadura metálica que o poderá espartilhar. Por fim, o último painel, revela o derradeiro verso do poema - SEI QUE NÃO VOU POR AÍ! – conclusão inevitável de um autor liberto dos ditames de uma sociedade demasiadamente formatada para quem ama o Longe e a Miragem, os abismos, as torrentes, os desertos… Do todo, emana assim, o sentimento que na exposição, o coletivo Rua foi certeiro na sua interpretação e fez realmente jus ao espírito deste Cântico Negro.

ANDREA TARLI AKA BADTRIP

Calçada da Glória

- Qual a razão de quereres pintar e oferecer uma obra de arte tua, à nossa cidade? Andrea Tarli (AT): Quando era estudante vi o filme Lisbon Story, do Wenders, e fiquei impressionado. O filme era suposto ser uma propaganda para a cidade, mas o realizador focou-se na crise pessoal de um artista que estava perdido e que vagava numa cidade decadente, mas cheia de charme, música e poesia. Fiquei imediatamente com vontade de vir a Lisboa, mas muitos anos se passaram antes de o conseguir fazer. Em 2009 ou 2010, não me lembro, como todos os turistas fui ver a famosa Calçada da Glória e seu tradicional elevador. Para minha surpresa, vi na sua lateral, os primeiros painéis da GAU. Eu não tinha ideia do que era, mas lembro-me que disse “Bravi!” [Que boa ideia!]. Gostava de um dia pintar aqui. É curioso como passados 5/6 anos, voltei a esta Calçada, precisamente para pintar um desses painéis. - Queres explicar-nos um pouco o conceito desta peça? Que inspiração? O que estás aqui a retratar? AT: O título do meu trabalho é “Jailbreak” e como o nome indica é a fuga da pri-

são. A ideia nasceu depois de uma experiência com a população prisional, com a qual realizei um mural. A coisa mais difícil na prisão é manter a cabeça limpa, levar o pensamento além das grades. Mesmo nós, homens livres, somos todos um pouco “prisioneiros” de algo, talvez prisioneiros da mesma sociedade que acreditamos ter criado (…). O livro de Kerouac é um ícone da geração Beat, um convite para partir estrada fora e livrarmo-nos das correntes. As páginas voam, porque a imaginação do corpo é mais leve e mais rápida do que os caracóis. Há liberdade dentro de nós .... basta saber onde procurar. Não acho que tenha sido muito claro com esta explicação, mas gosto de deixar ao espetador a liberdade de interpretar as minhas peças. - Como foi o teu percurso profissional? Decidiste seguir pela área artística quando eras jovem ou isso surgiu mais tarde? Queres falar-nos um pouco da tua carreira? AT: Eu sou um autodidata, estudei ciência na universidade, mas entre os números e teoremas, sempre desenhei. Era um hobby, uma saída mas não um emprego. Tornou-se um trabalho pouco antes de finalizar os estudos. Comecei por fazer desenhos para estúdios de design gráfico, de seguida web design, sempre continuando a pintar minhas telas. Em 2003, uma galerista da minha cidade, convidou-me a organizar a minha primeira exposição e desde então não parei. Fiz várias exposições em Itália e no estrangeiro, dedicando-me muito à ilustração e um pouco à escultura e vídeo. Sempre gostei de conhecer novos materiais e experimentar diferentes estilos, explorar um pouco os limites da minha criatividade, até colocar-me em dificuldades. Fiz capas e ilustrações para livros, cartazes, desenhos animados, CD multimédia, capas de álbuns de música, projetos para roupa, etiquetas para cerveja, história de banda desenhada, projetos de vitrais, adesivos, aulas de pintura e murais. Na verdade, interessei-me tardiamente pela arte urbana, talvez desde a altura em que comecei a refletir e a tentar compreender a superestrutura da arte contemporânea, tão distante do público. A arte visual deve ser acessível a todos, tal como a música que sai de uma janela e todos podem beneficiar, não apenas aqueles que a podem pagar.

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ENTREVISTA COM…

Caldas da Rainha © Diogo Machado 2014

- Gonçalo, como foi passares de Ribeiro para Mar? O caudal aumentou imenso… Sim, aumentou muito mesmo. É, de facto uma pergunta interessante, e engraçado colocares a pergunta dessa forma. Foi uma solução que encontrei, depois de muito pensar, quando queria juntar o meu eu pessoal, com o meu eu artista, o “tag” passa a ser parte de mim, como que dizendo que não preciso mais de me “esconder” atrás do artista, somos os dois a mesma pessoa. Entendo como um crescimento artístico e pessoal da minha a parte. Percebi que juntar o meu nome ao meu “tag” ajuda a aproximar-me mais das pessoas, consigo dar a entender estes meus mundos num plano mais próximo, consigo explicar de onde vem o meu nome artístico e assumo um pseudónimo no seu todo. Ainda que em todas as peças que faço, seja na rua ou noutro suporte, continuo a assinar só MAR. - Como foram os teus primeiros anos de graffiti? Quem te acompanhou e quais eram as tuas referências? Os meus primeiros anos de graffiti foram muito importantes e muito bem passados. Tudo começou em 98, quando entrei para um estúdio de animação, onde encontrei o Roket e o Klit de Almada. Na altura já tinha muita vontade em experimentar umas coisas mas nunca tinha achado oportunidade, e foi com o Roket que comecei, ao lado do Klit, esta aventura. Ainda hoje me lembro perfeitamente que andava à procura de um bom nome para ter e o Roket diz: “porque não MAR?! É um nome pequeno, fácil e tu fazes surf, tem tudo a ver!” E de repente aquela palavra soava-me tão bem que decidi de imediato que assim seria chamado. Vivia intensamente esses primeiros passos, criámos uma crew, os LEG, os elementos eram: Mar, Klit, Hium, Time, Oxi a.k.a.HBSR e o Vhils. Mais tarde juntou-se a nós o Ram, Bray e Chure. Em tempos históricos diferentes, mas nesta ordem. À medida que ia entrando mais no movimento apercebi-me que queria muito pintar com mais pessoas e num registo mais de “Hall of Fame”, organizei o Seixal Graffiti, na minha ideia era a melhor forma de conhecer e juntar pessoas com o mesmo sentimento num gigante “Hall of Fame”. Decorria o ano de 2000. Rapidamente se tornou uma referência nacional, porque era o único evento que conseguia juntar um maior número de writters numa só parede, lembro-me que houve um ano em que consegui juntar 70 “writters” a pintar, um cenário maravilhoso. O que foi incrível e provavelmente, o princípio do fim, no papel de organiza-

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MAR «O segredo está na mistura!», Mar não poderia ser mais certeiro nesta entrevista. Sendo este um dos princípios do surrealismo, movimento que defende não haver fronteiras entre realidades, ao revelar-se a obra como uma simbiose processada ao nível do inconsciente, estamos totalmente situados em termos plásticos. No entanto, será este o mesmo e velho surrealismo? Claro que não, o imaginário de Mar cozinha-se no caldeirão do Lowbrow, com ingredientes dos tempos que correm, mas também da antiguidade clássica, destas paragens, mas também de terras longínquas, da sua maturidade, mas também da sua infância. A poção mágica que nos tem oferecido, dá-nos força para acreditar em criaturas icónicas como o novelo com fios de arco-íris e a mão-peixe, habitantes de um mundo certamente melhor, mais bondoso e caloroso, tal como Gonçalo Mar é. Bem-vindos a este cosmos que tem pontuado as ruas de Lisboa, a viagem recomeça agora!

dor, porque depois desse ano, passei a pasta, achei que tinha feito a minha parte no que eu achava que podia ser um evento de Graffiti. Estávamos em 2005, juntamente com alguns elementos dos LEG, criámos o evento que nos iria marcar para sempre o VSP (Visual Street Performance) e eu queria dar prioridade à parte criativa e ao meu corpo de obra, este evento era perfeito para isso, surge como uma nova forma de encarar o que os artistas faziam na rua e em espaços abandonados numa perspectiva de Galeria de Arte no seu estado bruto. Pelo caminho houve e há pessoas, para além das que referi, que me acompanham e me dão uma energia marcante neste meu percurso, uns de uma forma e outros de outra mas são artistas que tenho como referência e não querendo esquecer ninguém, coloco aqui alguns nomes mas que me perdoem por algum esquecimento, Mosaik, Paulo Arraiano, Miguel Januário±, Pipoca, Youth, Obey, Nomen, Stuck, Uber e tantos outros. As minhas referências no mundo artístico são muitas e variadas um pouco fora da esfera do mundo do streetart, acredito que o que tenho como referência é tudo aquilo que de certa forma me inspira e faz com que catalise em ideias. Gosto muito de Paula Rego, Júlio Pomar, Barry MacGee (Twister), Margaret Kilgallen entre muitos outros, mas as referências são muitas e todos os dias essas referências multiplicam-se. -Quais são os ingredientes que colocas no caldeirão para a tua poção mágica? Animação, BD, mitologia grega, iconografia japonesa… Essa receita é secreta, mas posso divulgar um pouco dos ingredientes sim, o segredo esta na mistura! Todos esses ingredientes que referes e mais alguns, são temas que me acompanham há já alguns anos na minha vida, o meu interesse pelo Universo da Marvel e DCcomics, já vem desde muito cedo, lembro-me que a única forma de arranjar esses livros era nas bancas de livros no paredão da Costa da Caparica, aqueles senhores que vinham de Lisboa e traziam essas novidades, tinha por volta de 12/13 anos, sempre fascinado pela animação, trabalhei 2 anos no estúdio de animação. A Mitologia Grega é fabulosa porque os Deuses Gregos tinham poderes e nomes tal e qual os meus super-heróis de outro Universo e parecia que tudo se encaixava na minha cabeça. Precisava urgentemente de deitar tudo cá para fora, de criar visualmente esse Universo e vem tudo daí, das minhas recordações, das minhas experiências e vivências por esse mundo fora. Tento sempre perceber um pouco da história de cada pais que visito e encontro sempre paralelismos entre eles em relação a aspectos das religiões, de lendas, de contos populares, que de facto, é o que me fascina e me ajuda a aprofundar cada vez mais este meu universo surrealista que tenho dentro de mim.


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- Reconheces-te no Lowbrow enquanto movimento que integra uma linguagem surreal com um pendor pop? Sim, reconheço-me, o Lowbrow enquanto movimento artístico (nasceu em L.A. Califórnia nos anos 70) é para mim o início deste ciclo que temos na rua agora, os artistas “underdogs” ou os “low-brow “são os artistas que ganharam espaço no mundo da Arte fora da esfera académica, para além do aspecto estético se comparar, muitas vezes, ao estilo que muitos artistas aplicam no seu trabalho, as cores fortes, os motivos surrealistas, o enfatizar o figurativo, são tudo aspectos que eu coloco nas minhas obras e acredito que, se tiver que escolher uma definição ou uma prateleira onde colocar o meu trabalho para me dar a entender neste mundo das Artes é aí que o coloco. Sinto-me bastante confortável nessa posição e acredito que já é uma plataforma aceite no mundo das Artes Contemporâneas. - Consideras o novelo com fios de arco-íris e a mão-nemo como ícones do teu imaginário? Achas que te representam enquanto autor? Porque regressas frequentemente a eles? Considero as minhas duas criações mais bem conseguidas, sinto uma ligação profunda com esses seres. Representam um pouco do meu trabalho de autor e representam também um tempo em que percebi o caminho a seguir, mais coeso e mais forte. Quando ele nasceu percebi que se abriu um universo inteiro à minha frente em que este meu “ícone” seria o primeiro de muitos que ainda estão para vir. Preciso de manter este Surrealismo todo, com histórias que são povoadas por estas personagens e que podem mostrar emoções, curiosidades, paralelismos e coincidências com a nossa realidade. Considero o peixe mão o meu “bombing”, aquilo que faço na rua quase como uma assinatura figurativa. O regressar frequentemente a eles, encaro como “um nunca ter saído”, são o meu porto de abrigo preciso sempre deles:) - Estás constantemente a sentir um apelo para prosseguires para uma nova fase plástica ou sentes mais assiduamente que deves insistir no que já conquistaste? Eu sinto em mim esse apelo constantemente, mas acredito que esse apelo nos “assombra”, no bom sentido, a todos nós, artistas enquanto pessoas criativas e que temos sempre a necessidade de crescer, de criar, de não estagnar no mesmo sítio, na mesma fórmula, acho importante termos esse apelo para construir a partir da nossa fórmula, uma receita nova e melhor. A partir daí é que nascem as fases plásticas e as novas descobertas e quem sabe novas fórmulas, novas abordagens. Neste momento sinto esse apelo e estou a tentar desconstruí-lo baseado no meu trabalho figurativo, ou seja estou a pegar no meu trabalho antigo e a transformá-lo através de experiência com novos materiais e novas misturas de cores e formas. Espero conseguir mostrar em breve. Mas uma das minhas preocupações será, sem dúvida manter a linha inconfundível do MAR, enquanto artista de rua. Nunca quero fugir dessa raiz, dessa base que tanto me deu, e eu não estou a falar em retornos financeiros, estou-me a remeter ao sítio onde tudo aprendi e tudo vivi, ou quase tudo. - Fala-nos um pouco dos ARM Collective e de como tem sido esta tua saga com o Ram. Bom, os ARM surgiram numa altura em que eu estava constantemente a pintar com o Ram, por variadíssimas razões, tivemos um entendimento quase imediato na primeira vez que pintámos. Uma coisa que nunca me tinha acontecido e de facto houve uma relação que se estreitou, até aos dias de hoje, onde fazemos um trabalho em equipa e achamos necessidade de ter um nome para esta equipa! Já que nós nos apresentamos muitas vezes sozinhos e temos os “tags “ que já são nossos, mas nunca tínhamos um nome que identificasse este nosso projecto. Começámos na brincadeira dos nomes e das letras e acabou por ficar uma solução que passava pela desmultiplicação dos nossos dois “tags”, MAR+RAM=ARM! No fundo esta nossa viagem tem sido feita de altos e baixos com imensas aventuras pelo meio, muitas histórias para contar e muitos quartos de hotel por esse mundo fora! Temos alturas em que estamos mais juntos e outras mais separados, mas faz parte de uma equipa em que os dois elementos têm trabalhos bastantes consolidados independentes e também o sair para outros meios, faz com que quando nos voltamos a encontrar, trazemos

um conhecimento e uma energia diferente ao projecto, o que não deixa de ser importante. O engraçado é que os nossos “tags” são ao contrário, sem nunca termos pensado nisso, quando nos conhecemos já eu era MAR e o Miguel já era RAM, parece que houve aquele encaixe quase astral no meio desta aventura. Estamos separados pelo rio, eu na margem Sul ele na margem Norte, eu trabalho mais as personagens, ele trabalha mais os fundos com as suas viagens de cor e forma orgânicas e parece que quando juntamos tudo sai algo único e diferente. Os ARMcollective já existem desde de 2007. Eu espero que esta equipa se mantenha por muitos mais anos. - Queres destacar um projeto que realmente tenha sido determinante para ti? Não consigo! Acredito que todos eles foram determinantes, todos eles foram feitos com muita energia e muita vontade de serem sempre os melhores que o anterior e acho que é assim que encaro os meus projectos. Pode ter havido uns mais bem conseguidos que outros mas todos são válidos. Todos contribuíram para estar onde estou hoje como artista. O importante nunca é o trabalho final, mas sim o processo! É nesse processo que evoluis, que te tornas mais perspicaz, mais técnico, mais capaz de pensar que o próximo já vai ser diferente, já vai ser melhor. E as experiências de cada um são tão valiosas quanto o próprio trabalho. As pessoas que conheces, o sítio que te acolhe, as culturas que descobres e as formas de estar e de viver a vida é tudo importante. Daí eu nunca conseguir dizer qual foi o projecto que realmente foi determinante para mim. Todos eles foram no seu tempo, na suas escala, no seu momento. - Como te parece atualmente a arte urbana em Lisboa? E no mundo e arredores? Pelo que me tenho estado a aperceber a Arte Urbana em Lisboa, vai bem e recomenda-se, como se costuma dizer. Analisando a coisa de uma forma muito breve, acredito que tivemos uma série de factores que condicionaram o facto de estarmos onde estamos agora. Tudo se resume ao sítio certo na hora certa. Acredito também que muitos de nós, fizeram parte dessa evolução, temos a nossa quota-parte de “culpados”, isto é, criámos um monstro e eu espero que esse monstro não se vire contra nós, os Artistas. Historicamente falado, surge em 2005 a VSP, em Lisboa e até então não se falava em streetart ou Arte Urbana ou fachadas de prédio ou arte de rua e ninguém queria saber de cidades embelezadas pela arte de artistas de rua. Ouvimos falar numa Barcelona que era mesmo aqui ao lado e, recheada de cor era um ponto de ebulição europeu para todos os nomes sonantes terem o seu trabalho na rua. Estávamos cientes que era uma questão de tempo, até esse furacão chegar, agora apercebo-me que nós éramos esse furacão, chegámos onde ninguém tinha estado, em 2007 no Braço de Prata, o Vhils surge com a primeira peça que ia revolucionar o seu trabalho e o mundo. Tinha começado. Nessa altura surge a Galeria de Arte Urbana que tem um papel fundamental no crescimento organizado deste movimento e quanto a mim foi uma ajuda para conseguir concretizar objectivos pessoais que sem eles não sei se seria possível. O que traz para dentro das cidades um novo movimento artístico o chamado StreetArt/Arte Urbana, onde foi aberto uma nova perspectiva a muitos artistas e agentes que fazem este crescimento ser global. Estamos perante o movimento artístico do séc. XX, como todos os movimentos acredito que este não foge à regra e sendo cíclico tem um princípio, meio e fim, e da minha perspectiva acho que ainda estamos a meio. As possibilidades são imensas, as áreas de intervenção estão longe de acabar e o factor efémero ajuda a querer não parar. Isto é apenas a minha opinião e desculpem-me se estou enganado com alguma data histórica, é um apanhado geral do que me apercebo. Acho que temos grandes valores em Portugal e que estão a mostrar o seu trabalho pelo mundo, como nunca antes tinha acontecido e isso é bastante positivo. Por último queria deixar aqui um apelo a todos para nunca deixarem de ser quem são e que continuem a acreditar por mais que lhe digam que é impossível! Obrigado.

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MAIS NAS PAREDES…

SWEET N’8

Pariz One, Rasty, Edis One | Estrada do Calhariz de Benfica

Pariz One | Avenida das Forças Armadas

Edis One | Avenida das Forças Armadas

A produção artística de ParizOne e a sua capacidade de mobilização de artistas nacionais e internacionais, continua a brindar e a animar as paredes da nossa cidade, com vibrantes peças de graffiti. Nos últimos meses, no muro da Estrada do Calhariz de Benfica, do qual faz uma gestão partilhada com a GAU relativamente às intervenções de arte urbana, juntou Edis, um dos writers nacionais que mais o acompanha, com o sul-africano Rasty, conhecido tatuador e writer, organizador de um dos maiores eventos de graffiti de Africa do Sul - City Of Gold Festival. Nas palavras de ParizOne: “a ideia foi juntar uma personagem do universo da tatuagem mas num estilo mais contemporâneo em conjunto com o meu “lette-

ring” e o de Edis, estilos de graffiti por si próprios, muito contemporâneos”. O resultado é um mural que tinha tudo para ser um clássico do graffiti na sua composição, mas foi transformado numa peça mais atual. Num dos outros principais eixos da cidade, no muro localizado no topo da Avenida das Forças Armadas, realizou “Dark Horse”, um mural inspirado no videoclip da cantora Katy Perry. Ao lado e seguindo a mesma paleta, onde o amarelo se destaca do fundo negro e azul profundo, surge a nova peça de Edis, um mural realizado aquando da cerimónia de entrega dos Óscares, e no qual decidiu nomear-se e receber o seu próprio “Graff Oscar”.

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LUMIARTE [ URBANA ] Nascido da inquebrável vontade de Ana Vilar Bravo, surge o LumiARTE [urbana], projeto de arte urbana desenvolvido com e para a comunidade daquela área da cidade. Simultaneamente objeto de estudo para a sua tese de Mestrado e experiência direta no território, com a população e as entidades gestoras, a iniciativa é apoiada pela GAU e pela Junta de Freguesia do Lumiar e apadrinhada pelos street artists Raf e Vanessa Teodoro, os dois autores da primeira intervenção parie-

tal do projeto. Esta foi realizada no pilar do Eixo Norte-Sul na Azinhaga da Cidade, tendo para tal contado com o apoio das Infraestruturas de Portugal. Antes, como actividade preliminar, o LumiARTE reuniu um conjunto de autores para intervirem em vidrões no contexto do “LeYa Arte Urbana”, evento promovido pela Editora LeYa e pela GAU. Bem-vinda à cidade Ana e que persista a tua determinada vontade de trabalhar neste universo do graffiti e da street art.

Azinhaga da Cidade

MONTANA SHOP & GALLERY LISBOA E comemorámos mais um aniversário da Montana Shop & Gallery Lisboa. O quinto da loja que tem fornecido materiais a muitos artistas nacionais e estrangeiros a trabalhar em Lisboa, promovendo também a sua obra através de exposições que organiza no seu espaço do Bairro

Alto. Em branco, amarelo e negro, vimos nascer nalguns muros legalizados de Telheiras, os renovados tags de Hium, Glam, Odeith, dos barceloneses Japon e Rail, do japonês Aeck, entre muitos outros. Parabéns à Montana e que mantenham as portas abertas durante muitos anos!

Japon, Hium, Rail | Rua Professor Fernando da Fonseca

Mister, Chure One, Odeith | Rua Professor Fernando da Fonseca

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OLHAR EM VOLTA...

LATA 65 O Lata 65, projeto selecionado no âmbito do Orçamento Participativo de Lisboa 2013, é uma iniciativa dirigida ao público sénior e visa sensibilizar esta faixa etária para a crescente importância do graffiti e da street art. Tendo sido convidada Lara Seixo Rodrigues para o desenvolver, o programa apresenta como principais objetivos, aproximar os menos jovens a uma forma de expressão habitualmente associada aos mais novos, provar que conceitos como envelhecimento ativo e solidariedade entre gerações fazem a cada dia mais sentido, demonstrar que a arte urbana tem o poder de fomentar, promover e valorizar a democratização do acesso à arte, pela simplicidade e naturalidade com que atinge as mais variadas faixas etárias, demonstrar que a idade é (apenas) um número. A Arte Urbana é nesta abordagem encarada como uma ferramenta de inclusão e de diálogo intergeracional. Os primeiros workshops Lata 65, realizaram-se na Junta Freguesia de Carnide e de Benfica. Após uma tarde de trabalho em sala, onde, para além de um enquadramento histórico, é ministrada a técnica do stencil, registo de intervenção de rua de mais fácil apreensão, cada participante é estimulado a criar o seu tag , para posteriormente participar na execução de um mural. O Lata 65 já deixou também a sua marca nas Freguesias dos Olivais, Arroios e Estrela, estando outros locais agendados até final do ano. Travessa do Pregoeiro © CML | DPC | GAU 2015

ALKAJUDA A GAU apoiou a Associação Alkajuda na realização de um mural em frente às suas instalações, na Rua da Cascalheira, em Alcântara no âmbito do projeto Bip/Zip. A iniciativa partiu da Alkajuda, associação que presta apoio social aos moradores do Bairro do Alvito Velho em Alcântara, com o intuito de envolver a população residente e promover o diálogo entre gerações. Por outro lado, a execução de peças de arte urbana pode traduzir-se numa mais-valia para a paisagem e num enriquecimento artístico e cultural da área envolvente, que contribui para o sentimento de valorização do território e para o desenvolvimento de laços de pertença. A obra comunitária versa a temática ”Alvito e Alcântara noutros tempos/ hoje”, tendo sido executada pelo artista de arte urbana Smile, em colaboração com os moradores e os jovens que frequentam as atividades da associação, que não se pouparam a esforços para transmitir as suas ideias e acompanhar todo o trabalho. A execução do mural foi precedida de um workshop onde os

participantes ouviram uma breve contextualização histórica do graffiti e da street art e visualizaram algumas técnicas de intervenção de rua.

Rua da Cascalheira © CML | DPC | GAU 2015

PASSAGENS: RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS Dentro do programa Passagens: Residências Artísticas na Fundação AFID Diferença, Ricardo Campos e Tamara Alves trabalharam com um conjunto de alunos daquela instituição, em materiais e técnicas tão diversas como o spray, o stencil, a xilogravura. Depois propuseram-se passar “Do Papel para a Parede” e num muro legalizado em Telheiras, arquitetou-se uma cidade que fantasia entre o azul e o verde, protegida pela grande figura central toda coração pulsante, mãoabertasaomundoeolhardespertoperanteasuabelezaediversidade. Para quem apenas conhecia Ricardo Campos nas suas andanças antropológicas dedicadas à arte urbana, revelamos que há muito desenha e pinta, sendo esta a sua primeira incursão pelos muros da cidade. Na sequência, inaugurou-se uma exposição representativa deste programa de residências, no Museu do Oriente.

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Rua Professor Fernando da Fonseca


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O MEU BAIRRO O projeto europeu “O Meu Bairro”, visou a criação e dinamização de uma rede social de bairro em quatro cidades europeias, na qual se integra Lisboa, com base numa plataforma digital de livre acesso e utilização pelos munícipes. A concretização da vertente de intervenção em espaço público deste projeto foi desenvolvida na Freguesia de Marvila e contou com o apoio da respetiva Junta de Freguesia, da AMBA – Associação de Moradores do Bairro das Amendoeiras e de diversos serviços municipais, nos quais se incluiu naturalmente a Galeria de Arte Urbana do Departamento de Património Cultural. Neste âmbito, ocorreram ao longo do mês de maio, um conjunto de atividades na área da arte urbana desenvolvidas especificamente para esta zona da cidade e para a realidade e população do Bairro das Amendoeiras, designadamente: conversas e workshop sobre arte urbana, visitas guiadas às peças de street art mais emblemáticas daquela Freguesia e a realização de uma intervenção artística no muro da Rua Luiz Pacheco onde o artista convidado -Rui Ferreira aka RAF- desenvolveu uma peça em conjunto com a população local, dedicada ao tema das Amendoeiras. A significativa participação dos residentes e parceiros tornou esta iniciativa uma verdadeira celebração do espaço público do Bairro. Avenida Doutor Augusto de Castro © CML | DPC | GAU 2015

INCURSÕES PELA ARTE Em parceria com o Departamento de Educação da Câmara Municipal de Lisboa levámos, no último período do ano letivo, a arte urbana a três escolas do ensino básico de Lisboa, com a iniciativa Incursões pela Arte. Pretendeu-se com este programa piloto, envolver não só a comunidade escolar como as famílias, estimular a criatividade, promover o contacto com outras formas de arte e sensibilizar para a salvaguarda do património. Para além da realização de visitas dedicadas a esta temática, todos os trabalhos foram acompanhados pelos street artists José Carvalho e Filipe Gusmão, numa primeira fase em sala de aula para elaboração das propostas, culminando com a pintura de um mural na escola. Foi fascinante ver o envolvimento de todas as crianças e o seu empenho em tornarem mais belo o espaço escolar. Estrada Militar © CML | DPC | GAU 2015

HÁ ARTE NO BAIRRO “Há Arte no Bairro” é um projeto de arte urbana realizado no Bairro do Condado, Freguesia de Marvila, iniciativa da GEBALIS - Gestão do Arrendamento Social em Bairros Municipais de Lisboa e do Centro Social Paroquial São Maximiliano Kolbe (CSPSMK), que contou com o apoio da Galeria de Arte Urbana e de outros parceiros locais. A iniciativa partiu da GEBALIS e do CSPSMK, em parceria com a GAU e contemplou diversas ações de sensibilização sobre arte urbana, visitas guiadas, workshops, culminando na realização de um mural coletivo inspirado na paisagem, história e vivências do Bairro, numa das suas principais artérias, que envolveu a população residente e em particular os jovens utentes daquele Centro, instituição de solidariedade social enraizada no Bairro. O artista convidado para acompanhar estas ações, realizadas durante os meses de fevereiro e março, foi o writer SMILE, cuja carreira se tem vindo a destacar no panorama nacional tanto pelo seu talento artístico, como pela preocupação social que revela nos seus projetos. A GAU iniciou assim um novo ciclo de trabalho dedicado aos bairros municipais, que constitui uma das prioridades de atuação de 2015, na esteira da atuação desenvolvida nesta área em anos anteriores, em contexto nacional e internacional com resultados muito positivos, onde a arte urbana pode

constituir uma ferramenta importante para a inclusão social e cultural e um contributo para a paisagem urbana.

Avenida João Paulo II

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… ALÉM PAREDES

LEYA ARTE URBANA A LeYa, grupo editorial que se orgulha de publicar os grandes autores de língua portuguesa, realizou, em parceria com a GAU, o projeto LEYA ARTE URBANA, iniciativa destinada a homenagear um conjunto de escritores, através da realização de intervenções artísticas num grupo de vidrões espalhados pela cidade. As referidas intervenções, de inspiração literária, basearam-se na obra de um escritor, num dos seus livros ou numa frase extraída desses li-

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vros, escolhidos a partir de um universo de nomes e referências previamente selecionados. A iniciativa contou com três fases, uma aberta ao público, em geral, uma outra, dedicada às escolas e uma terceira, em que cinco artistas convidados executaram as suas obras em dez vidrões instalados no Parque Eduardo VII, durante a Feira do Livro. No total da iniciativa, foram pintados 52 vidrões.

Raquel Costa e Esc.Sec. Miraflores

Ana Costa e Henrique de Oliveira

Rui Marques Ferreira

Pedro Daniel Diniz da Silva Pereira

Cláudio Amaral Martins

Joana Motta Guedes

Isa Silva

Hugo Lucas

Nicolae Negura


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Hugo Henriques

Leonor Brilha

Robô

Parque Eduardo VII

Fotografia dos Autores | Esc. Sec. Rainha D. Leonor

Fotografia dos Autores | Esc. Sec. Rainha D. Leonor

RECICLAR O OLHAR Ainda no âmbito do projeto Reciclar o Olhar, um grupo de alunos da Escola Superior de Educação de Lisboa realizou um conjunto de seis intervenções artísticas em vidrões instalados na freguesia de Benfica. Em vez do tradicional realismo, a intervenção artística foi desenvolvida numa linguagem moderna, por meio de uma estrutura linear que conduziu à geometrização e síntese da realidade, numa despojada paleta bicromática, a preto e branco. Os estudantes recorreram à técnica artística do trompe l’oeil, utilizando efeitos óticos e truques de perspetiva para criar uma ilusão de transparência nos vidrões, camuflando-os na paisagem. Num exercício site specific que “joga” com a perceção visual do espetador, enfatizou-se assim, a relação dos vidrões com o contexto urbano. O projeto Reciclar o Olhar tem-se revelado um terreno fertil para quem, não sendo artista, quer deixar o seu contributo no espaço público. Alcinda Moreira, Luís Pedro Costa, Ricardo Cardoso, Sara Pité Carvalho e Tiago Alexandre © José Pedro Regatão 2015

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MEGAFONE

FESTIVAIS A GAU esteve na “Openwalls Conference” do Festival D’Art Urbà, sob o lema “The Urban Art Gallery as a municipal strategy towards graffiti and street art”, apresentação feita em Barcelona. Presença da GAU na edição 2015 do festival de arte urbana, “City Leaks” em Colónia, Alemanha e no Festival “Transition in color - Heerlen Murals”, organizado pela Stichting Street Art em Heerlen, Holanda, em agosto 2015. Foi inserida nas questões da sustentabilidade (ambiental, social, cultural e económica), que a GAU compareceu no Festival “Greenfest”, no painel “Lisboa + bonita com arte na rua” organizado pela Book a Street Artist.

Participação no seminário “Arte e Comunidade. Compromissos, Partilha e Reflexão”, organizado pela Escola Superior de Educação de Lisboa, em dezembro 2015, que incidiu sobre projetos de intervenção comunitária realizada através das artes visuais e/ou do Design. Participação da GAU no Cannes Lyons Review 2014, painel “A Criatividade Fora da Indústria”, organizado pela MOP – Multimedia Outdoors Portugal, na Estufa Fria, outubro 2014. A Galeria de Arte Urbana apresentou a estratégia municipal para o graffiti e a street art, na “Marketing Marathon”, organizada pela Associação Portuguesa dos Profissionais de Marketing.

Na Casa do Povo de Juncal do Campo, a GAU refletiu sobre “Uma arte urbana substantiva – alguns contributos para o desenvolvimento do território”, no âmbito do projeto “Aldeias Artísticas”, decorrido no Freixial e Juncal do Campo, no Conselho de Castelo Branco.

Apresentação do programa pedagógico para o universo do graffiti e da street art, no âmbito do Encontro dos Serviços Educativos, organizado pela Direção Municipal da Cultura.

CONFERÊNCIAS, SEMINÁRIOS E COLÓQUIOS

Foi durante a “Semana do Passaporte Escolar: Ciclo de Conferências – Educação Não Formal”, que a GAU revelou o seu “ Olhar em Volta: Programa Pedagógico para a Cidadania Artística”.

I Seminário de Arte Urbana dirigido a autarquias, estudantes, investigadores e público em geral, tendo como formadores o antropólogo Ricardo Campos e elementos da GAU, no qual se debateu o fenómeno da arte urbana e a estratégia municipal para o graffiti e a street art. Estreou-se ainda, nacionalmente, o documentário “Rastos de Arte Urbana em Lisboa” da socióloga Glória Diógenes (Brasil), tendo o Seminário terminado com um visita guiada por alguns trabalhos patentes na cidade de Lisboa.

AULAS A GAU levou à Universidade Lusófona a estratégia municipal para o grafitti e street art, inserida na licenciatura em Arquitetura. A GAU apresentou a comunicação “A Arte Urbana de Lisboa, Retrato de uma Renovação”, numa aula que decorreu na Universidade Lusíada.

WORKSHOPS A iniciativa “Há Festa no Parque”, inseriu-se nas comemorações do 25 de Abril, tendo-se realizado no Parque Eduardo VII. Entre outras atividades, organizou-se um workshop de arte urbana que teve o acompanhamento do street artist José Carvalho.

VISITAS A GAU realizou uma visita guiada com o Agrupamento de Escolas Gil Eanes, de Lagos. Participaram docentes e alunos de Inglês do 9º ano, o itinerário foi percorrido a pé, com várias paragens desde a Av. Fontes Pereira de Melo até ao Parque Estacionamento do Chão-do-Loureiro. OKUDA | Rua de Marvila

Forum “Beyond 2020”, moderação e comunicação no painel “Learning and Creativity”, juntamente com representantes do FabLab Lisboa, Banco Mundial Universidade de Coimbra, ocorrido em junho 2015. No II Colóquio de Olisipografia, promovido pelo Gabinete de Estudos Olisiponenses, nomeadamente no painel “Pintar/Fazer”, foi apresentada a estratégia Municipal para a Arte Urbana, bem como os respetivos objetivos, áreas de atuação e alguns projetos paradigmáticos. Comunicação no contexto do X Seminário sobre a “História do Património e da Ciência: Arte em Espaços Públicos de Lisboa, por entre Olhares e Sentires”, na Universidade Lusófona.

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Num programa organizado pela Div. de Promoção e Comunicação Cultural, realizou-se a “Visita Comentada” ao Parque de Estacionamento do Chão-do-Loureiro, que teve o acompanhamento da GAU. Visita guiada no âmbito do seminário “Conversa sobre Arte Urbana”, no contexto da Semana da Juventude com o apoio da Câmara Municipal do Montijo.

JÚRIS A GAU participou como membro de júri no “Olivais - Urban’Art 2015, Concurso de Graffiti” promovido pela Junta de Freguesia dos Olivais, e na Bienal de Coruche “Percursos com Arte/2015”, organizada pela Câmara Municipal de Coruche.


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OBSERVATÓRIO

HNRX | Largo da Oliveirinha

Autor desconhecido | Largo da Oliveirinha

Autor desconhecido | Largo da Oliveirinha

Psoman | Largo da Oliveirinha

HAZUL| Largo da Oliveirinha

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OBSERVATÓRIO

Autor desconhecido | Rua de São João da Praça

Dast KC | Avenida Infante Santo

Autor desconhecido | Campo de Santa Clara © CML | DPC | GAU 2015

Costah | Rua das Francesinhas

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Autor desconhecido | Largo do Terreirinho

Styier, Utopia | Beco da Galharda


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Uivo | Rua Rodrigues de Faria

Alice Pasquini | Escadinhas de Sao Cristovão

Cane Morto | Avenida Infante Dom Henrique

Ernest Zacharevic | Rua da Graça

Autor desconhecido | Calçada da Bica Grande

Fra.Biancoshock | Calçada da Glória

Tinta Crua | Rua Capelo

Adres | Rua Rodrigues de Faria

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EDITORIAL

CONTINUA ...

Nesta sétima edição da revista GAU, celebramos precisamente 7 anos de existência da Galeria de Arte Urbana, numa feliz coincidência que toma corpo em 32 páginas, o maior volume de sempre da publicação. Esta dimensão, permitiu-nos inserir duas novas secções que há muito planeávamos: uma dedicada à reflexão sobre o fenómeno do graffiti e da street art, na qual temos o privilégio de contar com um artigo de Lígia Ferro, socióloga do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE –IUL, e outra vocacionada para as atividades de cariz comunitário, envolvendo diversos públicos, desde o escolar ao sénior, uma das prioridades de atuação da Galeria.

Muitas são as novas peças e projetos divulgados nesta edição, mas até ao final do ano Lisboa vai continuar a ter novidades na área da arte urbana. Destacamos o lançamento de um concurso para a realização de intervenções artísticas no muro que delimita o recém inaugurado CIM – Centro de Inovação da Mouraria, localizado na Rua dos Lagares, que já acolhe peças de artistas locais, numa iniciativa que tem vindo a ser desenvolvida pela APAURB – Associação Portuguesa para a Arte Urbana. Salientamos ainda a vinda do artista espanhol Koctel, estreando-se na nossa cidade através de uma parceria com a GAU e a Junta de Freguesia de Arroios, e com o apoio do restaurante PSI, para realizar uma peça de street art nos muros do Jardim Maria de Lurdes Pintassilgo. No âmbito do projeto Underdogs 2015, da autoria de Alexandre Farto aka Vhils e Pauline Foessel, Lisboa espera ainda receber intervenções em espaço público e exposições na Galeria Underdogs, de alguns criadores nacionais.

Entre as intervenções realizadas no último ano, salientamos naturalmente a peça “Calçada”. Com autoria de Alexandre Farto aka Vhils, foi executada junto à Rua de S. Tomé, por elementos da Escola de Calceteiros e por outros calceteiros municipais, resultante de uma iniciativa de Ruben Alves, no sentido de homenagear Amália Rodrigues, figura incontornável do fado. A peça surge representada na capa do CD distribuído pela Universal Music Portugal, “Amália, as Vozes do Fado”, tratandose da primeira intervenção verticalizada em calçada, aspeto que constituiu um enorme desafio, superado com a maior mestria pelos nossos calceteiros e pelos que os apoiaram nesta aventura. Por outro lado, a obra significou a entrada do universo de arte urbana num domínio de forte tradição e valor patrimonial na cidade de Lisboa, oferecendo não apenas perenidade as estas manifestações efémeras, como uma nova opção estética e técnica à calçada artística portuguesa. Mas, outros trabalhos devem ser realçados, como a intervenção de Ricardo Guerreiro no ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual; o Mural das Independências promovido pela EGEAC em parceria com a GAU; a conclusão do vasto projeto “Rostos do Muro Azul” desenvolvido com o CHPL - Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, que se prolongou durante 3 anos de trabalho e cerca de 1 km de muro, e ainda a intervenção de Gonçalo Mar no reinaugurado Museu do Teatro Romano, autor do qual publicamos também uma entrevista nesta edição da revista. Por fim, destacamos a exposição “Cântico Negro”, inspirada no poema de José Régio e realizada pelo Colectivo Rua originário do Porto, nos painéis da Galeria instalados na Calçada da Glória e no Largo da Oliveirinha. O conjunto de trabalhos é bem ilustrativo da consistência temática e da exigência plástica que estes artistas têm revelado nas suas criações. Assim, sob o signo do 7, com o sétimo aniversário da Galeria, a sétima edição desta publicação, as sete cores do arco-íris que formam a luz branca que banha os 7 painéis da Calçada da Glória, esperamos que este algarismo considerado perfeito e sagrado, e que representa o universo em transformação, simbolize o trabalho desenvolvido pelo Município e pelos diversos agentes no campo do graffiti e da street art. Jorge Ramos de Carvalho

Koctel | Jardim Maria de Lurdes Pintassilgo © CML | DPC | GAU 2015

FICHA TÉCNICA GAU vol 07 – Outubro de 2015 Publicação da Galeria de Arte Urbana Edição da Câmara Municipal de Lisboa Pelouro da Cultura | Direção Municipal da Cultura | Departamento de Património Cultural Diretor - Jorge Ramos de Carvalho Coordenadora - Sílvia Câmara Redação- Cláudia Silva, Inês Machado, Miguel Carrelo, Miguel Rato, Sílvia Câmara Projeto Gráfico - GAU Design – Tiago Morais | Divisão de Promoção e Comunicação Cultural Revisão – Sara Simões | Divisão de

Promoção e Comunicação Cultural Secretariado - Gracinda Ribeiro Fotografia da capa - © CML|DPC|JoséVicente 2015 – Vanessa Teodoro Fotografias - © CML|DPC|JoséVicente 2014/2015 (exceto onde indicado) Impressão - Louresgráfica Tiragem - 1300 exemplares Fontes - Helvética|MrsEavesXLSerNar ISSN - 2182 – 777X Depósito Legal – 351671/12 Distribuição - Gratuita Contactos - Rua do Machadinho, nº 20, 1249-150 Lisboa| telef. 218 171 945 gau@cm-lisboa.pt


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