S達o Paulo | 2009
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UMA FORÇA EM MOVIMENTO
DEDICATÓRIA
A minha esposa, Kim; meu filho, Aaron; minha filha, Mariah; minha filha no Senhor, Pati e seu marido, Steve. Ao meu irmão, Alex; sua esposa, Adriana e seus filhos, Michael, Erica e Lucas. À Mosaic. É a jornada que compartilhamos e prezamos. É a aventura que encontramos em seu chamado. Peregrinos, cada um de nós, diante desse cenário divino. Exploradores de mistérios perigosos.
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UMA FORÇA EM MOVIMENTO
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS P REFÁCIOS
P RÓLOGO
RICK WARREN BRAD SMITH ORIGENS
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MOVIMENTO ZERO C A P Í T U L O Z ERO
ATROFIA
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PRIMEIRO MOVIMENTO CAPÍTULO UM
TRAÇÃO POR ATRITO
CAPÍTULO DOIS
MOMENTUM
CAPÍTULO TRÊS
MUDANÇA TEOLÓGICA
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SEGUNDO MOVIMENTO C APÍTULO Q UATR O C A P Í T U L O C INCO
E-MOÇÃO
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ARQUITETURA CULTURAL 131
TERCEIRO MOVIMENTO CAPÍTULO SEIS
O ARQUITETO CULTURAL 153
C APÍTULO S ETE
A TEORIA DO DESIGN ESPIRITUAL 169
CAPÍTULO OITO
AMBIENTES DA ALMA
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EM MOVIMENTO C A P Í T U L O N OVE
RE-FORMA
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EPÍLOGO C APÍTULO D EZ
UM PADRÃO RADICAL MÍNIMO
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AGRADECIMENTOS
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eus erros são minhas dádivas às pessoas. Meus sucessos são as dádivas que recebo delas. Até mesmo os meus erros se transformam em doces lembranças por intermédio das dádivas da amizade e da comunidade. Gostaria de agradecer a algumas das muitas pessoas que compartilharam a jornada comigo, tanto nos momentos de fracasso e sofrimento quanto nos de sucesso e alegria. Ninguém combina mais com essa descrição do que minha companheira de vida, Kim. Juntos, descobrimos a unidade que somente o amor de Cristo torna possível. Também gostaria de expressar minha gratidão por meu filho e minha filha, Aaron e Mariah, que me apoiaram nesse esforço; ambos me incentivaram e aguentaram a presença do novo bebê em nossa família, mais conhecido como “o livro”. A vida de vocês me inspira a viver com visão e coragem! O rei Davi tinha seu círculo mais íntimo, chamado “Os Três”, que lutava ao seu lado, e além dele havia trinta homens valorosos. Conheci gente assim. Gostaria de expressar minha mais profunda gratidão aos presbíteros e suas esposas, que permaneceram ao meu lado mesmo quando enfrentamos as mais perigosas jornadas: Robert e Norma Martinez; Greg e Debbie SooHoo; Enrique e Felipa Vazquez; Rick e Susan Yamamoto; Paul e Cyndi Richardson. Tenho por vocês o maior respeito, admiração e amor. Sustento o título de pastor presidente, mas a realidade é que sirvo ao lado de uma equipe de liderança extraordinária. Eles não apenas fornecem o contexto de minha liderança; graças à sua amizade, minha vida é imensamente mais feliz. A todos os que servem e serviram comigo na Mosaic, saibam o quanto sou grato pela sua contribuição. Uma palavra especial de agradecimento a Janice e Steve Sakuma; Dave e Tami Auda; Gerardo e Laura Marti; Alex e Adriana McManus; David e Carrie Arcos; Eric e Debbie Bryant; Joel e Susan Catalan; Norm e Carolyn Sillman; Joyce Chao; Robbie e Missy Sortino; Shelly Martin; Jaime e Belinda Puente. Todos vocês deixaram suas pegadas nessa trilha. Obrigado por seguir à frente, abrindo uma trilha no meio da selva. Durante anos, senti que tinha a responsabilidade de colocar no papel todas as coisas que guardava em meu coração e em minha mente. A cada esforço, eu me convencia mais e mais de que tudo aquilo ficaria para sempre dentro de mim. Foi então que Deus enviou uma série de milagres. Seus nomes: Cindy Nakamura; Jennifer Cho, Shiho Inoue Johnson, seu marido, Colin Johnson, e Holly Rapp. Sem Colin e Holly, não haveria um livro. Sinto-me em débito com todos vocês. Obrigado por acreditar que eu tinha algo importante a dizer. Houve uma época em que a Mosaic era a Igreja de Brady. Substituí um pastor que entregara a própria vida à sua congregação. Foi sua combinação de inteligência e paixão
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que me atraiu, assim como minha família, à sua comunidade de fé. Quero expressar meu apreço pelos 25 anos de ministério que Tom Wolf e sua esposa, Linda, dedicaram ao povo de Deus aqui no leste de Los Angeles; e também ao seu companheiro de ministério, Carol Davis. Muita gente incrível enriqueceu de bênçãos a minha vida. Essas pessoas preenchem as páginas deste livro. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer pelo tremendo impacto exercido por algumas dessas pessoas em minha vida. Agradeço a Karric e Barbara Price, Gene Kelsey, Gary Goodin, Bob Weatherly, Joe Moseley, Delores Kube, David e Sue Cobb, Roy Fish, Jerry e Fern Sutton, Greg Bourgond e Jim Henry. Gostaria também de agradecer a Inez Armstrong, que parecia sempre saber quando enviar a palavra certa de encorajamento para me manter avançando. E agradeço a vocês todos da Life Community que vieram para L.A. comigo e com a Kim para mudar o mundo. O cerne deste livro é a história de vocês. Vocês sabem quem são, e as nossas vidas estarão para sempre entrelaçadas. E quero agradecer à pessoa que mais me ensinou a gostar do risco e da mudança, a adotar um espírito empreendedor e a viver como um explorador: obrigado, Alby Kiphuth, pela dádiva que você me ofereceu. Você é uma pessoa singular, mãe! Eu amo você! Gostaria ainda de agradecer às pessoas da Group Publishing. Da maneira como vocês me trataram, cheguei a acreditar que fizesse parte da realeza. Obrigado, Thom e Joani, por me oferecer essa oportunidade de expor minhas reflexões àqueles que estão enfrentando os mesmos desafios da Mosaic. Obrigado, Paul Allen, por ter sido um amigo para nós aqui em Los Angeles e por torcer tanto por nós. Gostaria de externar minhas mais profundas expressões de gratidão a Paul Woods, que não só se tornou meu editor, como também meu “Barnabé” e amigo. Trabalhar com pessoas de quem se gosta é uma dádiva divina. Por fim, quero expressar minha humildade diante da bondade de Deus para comigo e confessar que não sou digno de tanta generosidade. Obrigado, Senhor Jesus, por estar sempre disposto a derramar água viva nesses vasos tão imperfeitos. Oro para que o senhor se agrade com o resultado desta obra. E àqueles que neste momento optam por participar comigo dessa jornada ao longo das páginas a seguir, sugiro que deixem todo o excesso de bagagem, pois a estrada que vamos tomar exige que sejamos ágeis. Antecipando o Reino invisível ERWIN RAPHAEL MCMANUS
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ste livro inspirador foi escrito por um sobrevivente. Há oito anos, meu amigo Erwin McManus foi convidado a pastorear uma igreja que ostentava um grande histórico na área metropolitana de Los Angeles. A Igreja de Brady era conhecida pela criatividade de seu pastor, por sua diversidade e por seu coração missionário. A maioria dos consultores teria recomendado a Erwin não aceitar a liderança da igreja por três razões. Primeiro, ele substituiria um grande pastor veterano que servira por 25 anos e criara uma cultura singular. Segundo, a igreja vivera seu auge durante uma década e meia, e estava em declínio havia alguns anos. Terceiro, a congregação ocupava três quartos de acre de um quarteirão. A sabedoria convencional diria: “Você seria um tolo se tentasse mudar uma igreja com um histórico tão vasto. Acabaria martirizado.” Fazer a transição dessa igreja para um ministério diferente, mais adequado ao século 21, seria uma tarefa complicada e dolorosa. Erwin, porém, manteve uma postura de fé e aceitou o desafio. Ele conduziu a igreja nesse impressionante movimento de transição e renovação, que culminou na mudança do nome da igreja para Mosaic (o qual, diga-se de passagem, é um dos nomes mais legais que se pode imaginar para uma igreja, em minha opinião). Ele não apenas sobreviveu a esse processo, como também cresceu e prosperou. Coisa rara de se ver. Para aproveitar o melhor que este livro tem a oferecer, preste atenção especial às metáforas e às histórias. Se você deseja liderar pessoas, sejam elas modernas ou pósmodernas, cinquentonas, integrantes da chamada “geração X” ou da “geração Y”, precisa conhecer suas metáforas, usar as metáforas certas e mudar as metáforas, quando necessário. Se você muda as metáforas, pode mudar o mundo! Foi o que Jesus fez. Ser um “arquiteto cultural” ou líder espiritual tem tudo a ver com isso. Este livro oferece um modelo de como pode ser uma igreja pós-moderna, orientada por propósitos. Toda igreja é chamada a cumprir cinco propósitos eternos que Jesus estabeleceu no Grande Mandamento e na Grande Comissão. Tais propósitos nunca mudam, mas os estilos e métodos que utilizamos para cumprir esses propósitos precisam mudar de acordo com cada geração e objetivo. E a maneira de dizer isso faz diferença. A Mosaic usa cinco elementos metafóricos para representar os cinco propósitos do Novo Testamento: o Evangelismo como o “Vento”, a Comunidade como a “Água”, o Serviço como a “Madeira”, a Adoração como o “Fogo” e o Discipulado como a “Terra”. Essas imagens são poéticas, muito profundas e combinam perfeitamente com o objetivo da igreja de alcançar artistas, criadores e todos os habitantes da região de Los Angeles que se sentem atraídos pela estética e pela imagística.
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Há 25 anos tenho ensinado aos pastores que “a igreja é um Corpo, não um negócio. É um organismo, e não uma organização! É uma família a ser amada, e não uma máquina a ser controlada nem uma empresa a ser gerenciada”. Pastorear é uma arte. Não tem nada a ver com a vocação para ser um diretor executivo. Trata-se de serviço, de autenticidade, de assumir riscos pela fé. Neste livro você encontra várias histórias que ilustram essa verdade que resiste ao tempo. Adoro o senso de humor de Erwin, que vive rindo de si mesmo. É um traço encantador que encontro em todos os pastores que Deus usa de maneira grandiosa. Muitos líderes cristãos se levam a sério demais, porém não fazem o mesmo no que diz respeito a Deus. Humor e humildade são palavras que possuem as mesmas raízes. Acima de tudo, amo este livro porque Erwin ama a igreja. Li muitos críticos interesseiros da igreja que atacam homens sem valor, que usam os livros que escrevem para levantar questões relacionadas a algum ressentimento pessoal não resolvido e nunca oferecem uma contribuição útil para ajudar as igrejas a mudar e se tornar mais saudáveis. Erwin, como cabe a um autêntico líder, não perde tempo criticando ou atacando os outros. Em vez disso, ele sonha e se concentra naquilo que a igreja pode ser. Este livro não reúne as teorias de um acadêmico, de um pesquisador ou de um crítico. Foi escrito por um pastor de verdade, que serve nas trincheiras verdadeiras de uma igreja local dia após dia. Ele entende o que é um ministério. Sendo assim, leia o livro e aprenda. Leia-o com a mente aberta. A partir do momento que você achar que entendeu em que consiste o ministério, então terá chegado ao fim — tanto no ministério quanto na vida. Para crescer, as igrejas precisam de líderes que também tenham potencial de crescimento. Este livro ajudará você nessa jornada. RICK WARREN Pastor presidente da Igreja de Saddleback Escritor, autor de Uma igreja com propósitos
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odo mundo, de vez em quando, é obrigado a enfrentar um daqueles dias complicados em que não dá vontade nem de levantar da cama. São quarenta minutos alternando cochilos cheios de culpa com tapinhas no despertador a cada oito minutos para garantir mais uma soneca. Ou então, sentado na cama, em transe, ouvindo a buzina e o ronco do motor dos carros que já estão nas ruas, levando pessoas para o trabalho. É aí que invade aquela sensação depois da segunda xícara de café ou de uma hora de exercícios matinais: o dia ainda é o mesmo, mas a disposição mudou. Sentimonos vivos, ativos e bem acordados. Percebemos que teríamos muito a perder se nos rendêssemos à preguiça. Uma força em movimento é a abertura repentina das cortinas que impedem a entrada da luz, revelando como todos nós temos apertado o botão “soneca” do despertador há décadas. Este livro apresenta um tipo de fé diferente, uma nova consciência, um novo entusiasmo e uma nova compreensão de que a necessidade é muito maior do que achávamos. Em conversas que travo com centenas de líderes de igrejas todos os anos, tenho visto dois movimentos divinos que parecem ultrapassar todos os limites denominacionais, geográficos e eclesiásticos. Uma força em movimento acerta bem no alvo em ambos. Primeiro, vemos líderes de igrejas evoluindo para além do movimento de crescimento das igrejas dos anos 1980, o que gerou uma nova consciência em relação à cultura que nos cerca. Eles também seguem além do movimento pela saúde da igreja da década de 1990, que criou uma nova ênfase sobre o discipulado como objetivo. O assunto cada vez mais frequente entre líderes eclesiásticos é a dispersão das igrejas. Trabalhamos duro para levar as pessoas para dentro da igreja e colocá-las em uma trilha que conduz à maturidade espiritual; como fazer agora para que saiam do templo para servir no mercado de trabalho, na comunidade e no mundo todo? O crescimento e a saúde da igreja realmente não fazem sentido sem a dispersão; mesmo assim, essa também pode ser a tarefa mais difícil. Gostamos do conforto. Gostamos da segurança. Mudar a igreja para que deixe de ser um lugar dedicado à satisfação dos consumidores e se transforme em um celeiro de servos é uma tarefa capaz de intimidar muita gente. Uma força em movimento encara esse desafio frente a frente. Segundo, o papel dos líderes das igrejas é o de promover as mudanças. Nas últimas duas décadas, os pastores têm sido orientados a ser bons pregadores... quer dizer, na verdade, estamos falando de mestres... ou melhor, para sermos mais precisos, devem ser bons líderes... bem, o que estamos mesmo tentando dizer é que o perfil desses homens precisa ser o mesmo dos executivos visionários das empresas... espere um pouco, não é bem isso... talvez a melhor definição seja a seguinte: desenvolvedores de sistemas e
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capacitadores. Agora podemos ver que os líderes de igreja precisam ser diretores espirituais: promotores da cultura e artífices da alma da igreja. Com grande sabedoria, Uma força em movimento ajuda a formar essa cultura interna — ou éthos — da igreja sem sucumbir à tendência de se tornar um modismo. E esta obra também mostra como esse processo ocorre. Trata-se de um livro de sabedoria perene, explicada a partir de uma perspectiva atual que emana autenticidade e realidade. Erwin McManus é uma pessoa dotada de qualificação singular para escrever este livro. Eu o conheci quando pastoreávamos igrejas a pouco mais de um quilômetro e meio de distância nas imediações da cidade de Dallas. Há muitos anos ele tem sido um amigo e mentor digno de confiança, revelando novas maneiras de compreender Deus, a igreja e a maturidade espiritual. Atualmente, McManus é pastor de uma comunidade vibrante do leste de Los Angeles que segue uma jornada autêntica rumo à plenitude. A Mosaic é, com certeza, uma igreja fora do comum. É multicultural, multiétnica, multigeográfica, e passa por um processo muito rápido de transição. É coisa rara e divina ver tantos princípios dos quais outras igrejas se limitam a falar se transformando em realidade dentro de uma comunidade. É evidente que Erwin cuida bem dessa preciosidade. Não se trata do simples resultado do cumprimento de cinco etapas; ninguém inventou isso. E como Erwin é um grande líder, ele sabe que não é dele o crédito pela manutenção do rumo desse processo. Uma força em movimento não é um manual do tipo “faça fácil”, e sim um diário sobre o que Deus está fazendo em uma congregação impressionante, explicado de tal forma que possa ser aplicado (e não imitado) na igreja de cada leitor. É provável que a melhor maneira de ler este livro seja na companhia de uma equipe de líderes. Ele estimula o diálogo desafiador. Ele não procura tornar mecânico um objetivo que só pode ser colocado em execução de uma maneira orgânica e espiritual. Na Leadership Network, dedicamos nossos dias à busca de igrejas inovadoras e divinamente capacitadas. A Mosaic é uma comunidade pioneira. Já mandamos muitos líderes de igrejas à Mosaic para verem ali o futuro em primeira mão. Este livro é mais barato que uma passagem de avião e, talvez, um bom estímulo para visitar a Mosaic, mesmo depois de lê-lo. Melhor ainda, ele me convenceu (e espero que faça o mesmo com você) de que temos perseguido um cristianismo capenga, ineficiente. Como a luz de Deus brilha em todo lugar — inclusive sobre a minha vida cristã tão confortável —, corremos o risco de nos sentirmos tentados à acomodação e a um cristianismo complacente. Sou grato pelo fato de Erwin ter aberto as cortinas de maneira tão ampla a possibilitar que Deus use este livro para me sacudir por dentro, despertando em mim uma nova consciência a respeito dos projetos e propósitos dele para mim e para sua igreja. BRAD SMITH Presidente da Leadership Network
TEXTO ANTIGO O vasto oceano do desconhecido só pode ser navegado com a bússola de um antigo texto.
CONTEXTO PRESENTE Os mapas que orientarão sua jornada refletem um nobre passado pronto para descortinar os mistérios do contexto presente.
TRAMAS DO FUTURO A jornada na qual você embarcou não é em busca do mundo que já conhece, mas dos mistérios contidos nas tramas do futuro.
ORIGENS REVELAM COMEÇO AS
O FUTURO
A PARTIR DO
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UMA FORÇA EM MOVIMENTO
É o começo de um movimento. Um desafio à tradição. Tão sagrado quanto sacrílego. Sem títulos ou privilégios. Revolucionário. Saindo da obscuridade para entrar na História. É o começo de um movimento. Contra todas as expectativas. Unindo reverência e relevância. Nada pode deter. Questionando tudo e se reportando apenas a Deus.
ORIGENS REVELAM COMEÇO AS
O FUTURO
A PARTIR DO
PARA
EXPLORAR precisamos primeiro escavar.
PARA
DESCOBRIR
precisamos primeiro resgatar.
PARA
REESTRUTURAR precisamos primeiro refletir.
PARA
IMAGINAR
precisamos primeiro analisar.
PARA
SEGUIR EM FRENTE
precisamos primeiro dar um passo para trás.
PRÓLOGO
ORIGENS
E
m 1926, Fritz Lang fez um filme mais profundo do que propriamente popular. Naquela produção ácida em preto-e-branco, quando o cinema ainda não contava com o som, ele traçou um painel do futuro do ser humano em relação à tecnologia. O filme se chama Metrópolis. É um alerta: o homem depende tanto da tecnologia que, um dia, pode se tornar escravo dela. Lang foi uma das primeiras vozes a se pronunciar contra nossa rendição incondicional aos caprichos do mundo moderno. Suas profecias se cumpriram à medida que as pessoas trocaram a vida comunitária pela eficiência e descobriram não ser nada além de máquinas. A imagem que mostra é a de uma sociedade eficiente, porém estéril, onde não existe emoção, compaixão ou amor. Mais recentemente, novos alertas sobre esse perigo foram lançados por meio de imagens como as do filme Matrix, no qual as máquinas nos levam a um estado inconsciente de ilusão e as pessoas abrem mão da realidade em nome da sensação de conforto e diversão. Outra imagem semelhante é da raça Borg, da série de TV e cinema Jornada nas estrelas. Trata-se de uma integração fria entre o homem e a máquina na qual o valor do indivíduo e a preservação da singularidade dos seres humanos se perdem em meio ao conformismo comum. Não é o caso de se dizer que a tecnologia só produz coisas inúteis. Suas contribuições permitem que trabalhemos mais rápido e melhor. Conveniências antes inimagináveis se transformam em expectativas palpáveis. Dos telefones celulares à banda larga, temos o mundo todo ao alcance dos dedos. Em certo sentido, a tecnologia organiza a bagunça de nossa vida, ainda que, vez por outra, ofereça-nos tanta conveniência que esquecemos de parar para fazer a pergunta: “Será que organização é o melhor para todos em todo tipo de situação?”
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UMA FORÇA EM MOVIMENTO
O CONSUMIDOR PERFEITO Adotamos as conveniências das linhas de montagem, da cultura da eficiência e das coisas padronizadas. Com isso, passamos a menosprezar tudo quanto é caótico, imprevisível e desorganizado. Todos nós estamos muito mais ansiosos por adquirir as coisas com rapidez e facilidade do que por conquistá-las a partir do esforço próprio. É por isso que o planeta inteiro está marcado por logotipos de cadeias de fast food, símbolos de nossa disposição de abrir mão da singularidade que nos é característica e trocá-la pela mesmice. Não estou, com isso, dizendo que as pessoas não gostam da diversidade, das múltiplas opções e escolhas. Todos gostamos, é claro. Queremos dispor de várias opções de cores, de tamanho e de estilo. Apenas desejamos tudo isso de um modo que nos seja mais conveniente, complicando minimamente a vida. Queremos tudo bem de acordo com nosso gosto pessoal; ao mesmo tempo, desejamos que essas coisas estejam à nossa disposição sem que tenhamos de fazer esforço algum para consegui-las. COMPROMETIDO COM UMA INSTITUIÇÃO A igreja contemporânea optou por seguir o mesmo rumo. Escolhemos o padrão em detrimento da singularidade; o previsível em vez do surpreendente. Sem nos darmos conta disso, e para nossa tristeza, escolhemos o conforto e a conveniência ao invés do serviço e do sacrifício. Em última análise, optamos pela organização acima da própria vida, e talvez seja esse o dilema fundamental que estejamos enfrentando: que a igreja é vista, no máximo, como uma organização saudável. A igreja é considerada como um equivalente religioso da IBM ou da Microsoft. Quando ela não funciona bem, então as soluções são procuradas entre as melhores práticas executivas disponíveis no mercado. O pastor se transforma em diretor executivo, e o sucesso da igreja reside em sua capacidade de trocar o estilo de negócio familiar por uma estrutura de conglomerado. Os manuais de gestão passam a ser os textos que orientam a administração da igreja, e não o padrão apostólico. O problema é que tratamos a igreja como uma organização, e não como um organismo. Até mesmo uma leitura básica do Novo Testamento deixa claro que a igreja é o corpo de Cristo. Em sua essência, ela é um sistema vivo. Toda vez que olhamos para a igreja como uma organização, começamos a criar uma instituição. Em contrapartida, ao nos referirmos a ela como um organismo, começamos a despertar um éthos apostólico que libera a ação divina. O poder e a vida do Espírito de Deus operando nessas pessoas resultam em nada menos do que transformação cultural. TORNANDO-SE UM AMBIENTALISTA ESPIRITUAL Neste livro, usaremos muitas metáforas diferentes para descrever a liderança pas-
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toral, sendo a primeira delas a do pastor como ambientalista espiritual. Ele tem a incumbência singular de levar o povo de Deus a se tornar aquilo que realmente é. Para que uma espécie sobreviva e se reproduza em determinado ecossistema, são necessárias pelo menos cinco características básicas: 1) um ecossistema equilibrado; 2) adaptação ao ambiente; 3) reprodução espontânea; 4) instinto de preservação; e 5) um ciclo vital harmônico. Esses mesmos princípios podem ser aplicados ao nascimento, ao crescimento e à multiplicação de igrejas em todo o mundo. O ambientalista espiritual centraliza a igreja a partir dessas cinco arenas. UM ECOSSISTEMA EQUILIBRADO Quando Deus cria algo, ele o faz levando em conta a integridade das relações entre as coisas. Tudo está ligado e se combina. Isso é verdadeiro não apenas no reino físico, mas também, e ainda mais, no espiritual. A Bíblia nos conta que, quando o homem pecou, toda a criação gemeu. Aqueles que estudam a ciência nos dizem que o movimento das asas de uma borboleta na América do Sul poderia, em certo sentido, ser a causa primária de uma avalanche na Antártida. Esse nível de complexidade mexe conosco, pois surge como algo novo e diferente; no entanto, as Escrituras já falavam sobre esse tipo de interconexão há milhares de anos. A ideia de que o pecado de um homem e uma mulher poderia causar uma ruptura em todo o cosmo é uma descrição extraordinária da conexão orgânica que existe entre todas as coisas na natureza. Colher o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal foi a causa primeira da fome que se espalha pelos desertos, dos tsunamis que engolem aldeias, dos terremotos que sacodem a terra e da força imprevisível e violenta da natureza. De acordo com as Escrituras, há uma conexão entre todas as coisas, e toda ação produz algum tipo de efeito sobre o todo. Da mesma forma, a igreja faz parte do todo; ela é influenciada pelo mundo que a cerca, assim como é chamada a influenciá-lo. A igreja não costuma perceber que faz parte de um ecossistema social e espiritual bem maior, e que o seu papel é o de ser a própria fibra que produz a saúde desse sistema ecológico. É por essa razão que um ecossistema equilibrado é de importância fundamental no projeto de Gênesis. E assim como o equilíbrio do ecossistema é crítico para todos os seres viventes, a igreja só pode vicejar dentro do contexto de relacionamentos saudáveis. Estamos acostumados a falar a respeito da grande comissão, mas é Jesus quem usa o termo “grande” para se referir ao mandamento. Esse comissionamento emerge do grande mandamento: “‘Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças’. O segundo é este: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Não existe mandamento maior do que estes” (Mc 12:30-31). O evangelho flui com mais facilidade quando se estabelece
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relacionamentos significativos, autênticos e saudáveis. Quando esses relacionamentos ficam estagnados e a comunidade de Cristo se fecha para o mundo que a cerca, o resultado é uma instituição, e não um movimento. Em um ecossistema equilibrado, a igreja mantém um relacionamento peculiar com Deus e as pessoas mantêm um relacionamento peculiar umas com as outras e com o mundo descrente. A medida de nossa saúde espiritual deve ser a nossa capacidade de servir no relacionamento com um mundo perdido e dilacerado. Jesus via a ordem de amar a Deus sobre todas as coisas e a atitude de amor em relação aos marginalizados como coisas inseparáveis. Recebemos um convite carinhoso e levamos mais de trinta líderes para participar da conferência da igreja de Willow Creek em Barrington, no Estado de Illinois. Durante o tempo que permanecemos lá, fomos mobilizados por muitas coisas que vimos e ouvimos. Apesar de achar tudo maravilhoso, o que mais me impressionou foi o fato de que cristãos comuns estavam convidando seus amigos para compartilhar o evangelho. É bem simples, mas cultos de busca de comunhão não funcionam quando não há pessoas em busca de comunhão dentro do culto. Fui mobilizado pela mesma mensagem quando estive na igreja de Saddleback em Lake Forest, na Califórnia. Ali estava uma comunidade de fé que continua colocando as pessoas em primeiro lugar. A comunidade de fé em Saddleback está organicamente ligada à comunidade de Lake Forest e além. A vida da igreja não pode ser separada da vida do mundo à sua volta. Há um ecossistema equilibrado com Deus, com as pessoas e com o mundo em que elas vivem. ADAPTAÇÃO AO AMBIENTE O segundo ambiente está relacionado a um fator externo, e esse fator é a mudança. Todo sistema vivo que frutifica e se multiplica precisa se adaptar ao ambiente em que foi estabelecido. As espécies que prosperam são as espécies que se adaptam. Aquelas que não se adaptam à mudança não sobrevivem porque a mudança é uma realidade permanente. Essa é a diferença entre macroevolução e microevolução. Não se trata da descrição da transformação de uma espécie em outra, pois Deus claramente criou cada uma delas segundo sua natureza; estamos falando do aprimoramento da própria espécie. Não precisamos ser mais do que seres humanos para entender a capacidade única que temos de adaptação e mudança. Imagine uma competição entre os atletas olímpicos do fim do século 19 e os medalhistas das últimas Olimpíadas. Até mesmo os grandes heróis do passado, como Jesse Owens, fracassariam se tentassem disputar provas com os atletas de primeira linha da atualidade. No basquete, vemos jogadores de grande estatura abrindo passagem para outros atletas igualmente altos. Vemos jovens de 14 anos ganhando medalhas de ouro em ginástica, realizando feitos consi-
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derados impossíveis há apenas vinte anos. Assistimos a jogadores de futebol cada vez maiores e mais rápidos. Na única área em que deveríamos ter o menor controle — o nosso desenvolvimento físico —, temos visto avanços extraordinários. O que costuma ser considerado aprimoramento nada mais é, na verdade, que adaptação — mude ou morra. O mesmo vale para a igreja local. Se aceitarmos a premissa de que a igreja é um organismo, então compreenderemos que ela tem a capacidade de se adaptar ao ambiente. Um dos fatores que compõem o projeto da igreja é sua capacidade de promover mudanças positivas e, ao mesmo tempo, manter sua essência fundamental. Ao longo dos últimos quarenta anos, as comunidades em volta de várias igrejas mudaram de um modo radical, ainda que as igrejas tenham permanecido as mesmas. Em algum momento do processo de transformação da comunidade, a igreja se desconectou. E como a transição começou de maneira intensa, a congregação local estava despreparada e desatenta. A igreja precisa se adaptar a um mundo que está se transformando; caso contrário, estará se condenando à irrelevância ou mesmo à extinção. O que isso significa para o pastor, na condição de ambientalista espiritual? Significa que ele precisa entender as mudanças no ambiente em que sua igreja foi chamada para servir. Uma dessas mudanças radicais em nosso ambiente é a transição das palavras às imagens. Orientar a igreja de tal forma que ela se torne uma comunidade inteiramente orientada pelo texto impresso é uma sentença de morte. As pessoas simplesmente não leem; elas se limitam a observar. Nossa cultura se baseia na experiência do telespectador. Além do surgimento de uma sociedade pós-literária, temos uma cultura baseada no entretenimento. Precisamos nos adaptar para que sejamos capazes de capturar imagens que comuniquem a verdade, e de sair da imobilidade para o uso de sistemas de comunicação dinâmicos. Nossa cultura não é apenas multissensorial; ela também possui várias camadas. Recebemos informações por meio de nossos sentidos, mas também por intermédio de mais de um deles ao mesmo tempo. É por isso que, para nós, a adoração orienta não apenas o ensinamento da palavra e o louvor musical, mas também o uso da escultura, da pintura, da dança, dos aromas e do cinema. Seja decidindo mudar para um ambiente no qual possa prosperar ou se readaptando ao ambiente que emerge à sua volta, a mudança na igreja continua sendo inevitável. Não pode ser vista como um mal necessário, mas como uma ferramenta concedida por Deus. Para a igreja do primeiro século, ambientes difíceis e desafiadores foram fatores de crescimento. A igreja primitiva se formou a partir de um contexto de perseguição. A igreja foi criada para prosperar nos limites da mudança e no centro da História. Ela foi criada para crescer em meio às mudanças radicais de nossos ambientes.
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REPRODUÇÃO ESPONTÂNEA Toda criatura vivente foi criada com a capacidade de gerar vida. Até mesmo as plantas produzem sementes. Uma espécie incapaz de se reproduzir só vive uma geração, mas outra que se reproduz normalmente (impedindo uma catástrofe natural) viverá enquanto o tempo existir. As espécies não precisam ser ensinadas a se reproduzir. É um processo inerente à sua natureza. No entanto, na maioria das igrejas essa característica parece estar desaparecendo. A igreja precisa ser liberada para fazer as coisas de maneira muito natural. Há alguns anos, minha esposa, Kim, levou-me à sua terra natal, nas montanhas da Carolina do Norte. Ela foi criada em uma fazenda com seus pais adotivos, Theodore e Ruth Davis. Theodore caminhou comigo pela fazenda e me apresentou a uma mula. Ele me explicou que a mula é uma combinação de cavalo com burro. Aquilo me pareceu um pouco esquisito, por isso perguntei-lhe por que eles não usavam simplesmente um cavalo ou um burro. Ele disse que os cavalos são muito mais inteligentes em comparação aos burros, mas não são tão fortes. E os burros, por sua vez, são muito fortes, mas não são suficientemente inteligentes para o trabalho que precisa ser feito. Quando se cruza um com o outro, chega-se à perfeita combinação para a tarefa. Mas ele prosseguiu, explicando-me que, mesmo sendo boas para o trabalho, as mulas não conseguem se reproduzir. As mulas são mais conhecidas por sua teimosia e sua esterilidade. Em certo sentido, elas ilustram muito bem o que acontece quando o ser humano começa a brincar de Deus. Temos de reconhecer que, com frequência, essa descrição cabe muito bem quando nos referimos às igrejas criadas pelo homem. As igrejas que nascem de Deus possuem a capacidade de se reproduzir espontaneamente, resultado de uma força interna que orienta uma espécie. Quando a igreja é um organismo vibrante, a vida se reproduz repetidamente. Cristãos vibrantes reproduzem novos cristãos; pequenos grupos vibrantes reproduzem novas comunidades de fé; e igrejas vibrantes se tornam catalisadoras de um movimento apostólico. INSTINTO DE PRESERVAÇÃO Assim como o instinto de preservação é característica comum a todas as criaturas, também o é em uma igreja viva. Ela precisa cuidar de seus jovens e mostrar-se sensível ao que é necessário à sua sobrevivência espiritual. A igreja apostólica possui um instinto natural de preservação, por isso se alimenta de maneira apropriada e saudável. É possível identificar que uma igreja não está sendo suficientemente alimentada quando os novos convertidos desistem da fé com facilidade e frequência; o alimento excessivo, em contrapartida, é evidente quando aqueles que consideramos cristãos maduros são obrigados a assumir a missão de Cristo de uma maneira pessoal.
PRÓLOGO – ORIGENS
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No primeiro caso, a porta de trás mal consegue conter a grande evasão; o segundo gera um engarrafamento na porta da frente. Um ambiente apostólico alimenta expressões plenas e dinâmicas de fé, amor e esperança. CICLO VITAL HARMÔNICO A última dinâmica do projeto divino é a harmonia no ciclo vital. Isso nada mais é que a consciência do processo constituído por nascimento, vida e morte. É enriquecedor chegar à conclusão de que a maior parte de nossa vida deve ser dedicada à preparação da próxima geração. Cada geração está diretamente ligada à anterior e à que a sucederá. O processo que culmina em nossa substituição começa desde que nascemos. Quando há um relacionamento saudável dentro do ciclo vital, cria-se um sentimento altruísta de se doar, de entrega pessoal. Quanto mais uma pessoa se concentra na própria vida, menos ela se preocupa em doar-se aos outros. Só há uma maneira de os templos permanecerem cheios ao longo das gerações: as igrejas devem viver, morrer e nascer de novo, num ciclo permanente. Logo percebemos que a igreja não é a mesma que era há vinte anos, ou mesmo há quarenta anos. Para produzir o tipo de impacto sobre a história humana que Deus deseja, precisamos nos conscientizar de que esse ciclo vital é justo e necessário. No fim, a questão não é tanto de prolongar ou perpetuar nossa vida, e sim de promover a vida do próximo. O exemplo mais inspirador que a natureza fornece é o do salmão que nada contra a corrente, rio acima, com o propósito único de dar origem a uma nova geração, mesmo que isso lhe custe a vida. Não tenho muita certeza se o instinto diz ao salmão que chegou a hora de morrer ou que ele precisa trazer ao mundo uma nova geração ao custo da própria vida, mas sei que até a natureza declara que a vida e a morte são inseparáveis. Não é muito diferente com a igreja. Jesus nos lembra o seguinte: a não ser que uma semente morra, ela não pode produzir vida. Ele nos diz que a única maneira de vivermos é abrindo mão de nossa vida. Não deveria ser surpresa para nós o fato de que, quando a igreja desperta para um éthos apostólico, ela assume o compromisso de se entregar para que as outras pessoas possam viver. Uma das coisas mais difíceis do mundo para um médico deve ser a obrigação de dizer a uma pessoa que ela está morrendo. Às vezes, o tratamento é ministrado apenas para aliviar parte do sofrimento, atuando apenas sobre os sintomas. Temos a tendência de fazer o mesmo com a igreja. A verdade é que, se as igrejas demoram muito a morrer para si, significa que elas estão fazendo o possível para se assegurar de que morrerão apenas quando lhes for conveniente. Uma igreja próxima à região praiana de Santa Mônica, nos Estados Unidos, reúne todas as semanas seus dez membros remanescentes, cuja média de idade é de,
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UMA FORÇA EM MOVIMENTO
no mínimo, 70 anos. Eles não podem decidir o que fazer. Estão paralisados pelo medo da morte e pela falta de vida. Em todo o país, igrejas que antes chegavam a uma frequência superior a mil pessoas deixaram de existir. Literalmente. O ciclo vital é uma coisa curiosa: não importa a maneira como a pessoa aborda essa questão, o resultado é o mesmo — ela morre. Se você, desde cedo, morre para si e celebra o dom da vida, encontra a alegria mesmo na morte. Nosso futuro não está em nossa preservação, mas naquilo em que investimos. Não acho que seja apenas obra do acaso o fato de “igreja” ser um substantivo feminino, e não masculino. Ela é a noiva de Cristo, e ele é o noivo. A noiva abre mão de seu nome quando se casa com o noivo. Os nomes de nossas igrejas — a identidade que elas possuem como comunidades locais distintas — precisam ser assimilados pelo único nome que importa, o nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Uma grande sensação de liberdade me invade por saber que a Mosaic está aqui e um dia vai passar; que, um dia, uma nova geração talvez descubra que as estruturas e os estilos que escolhemos devem ser enterrados; que o noivo precisa continuar a contar com uma noiva pura e imaculada. Precisamos viver a vida com a fidelidade que demonstraríamos se soubéssemos que Jesus está voltando hoje, mas com a consciência de que ele pode levar outros mil anos ou mais para retornar. Temos de nadar contra a corrente, seja pelo instinto que indica como nossas vidas estão se encaminhando para o fim, seja porque, de algum modo, sabemos que temos o dever de chegar ao ponto de gerar vida nova a qualquer custo. A igreja precisa se empenhar o tempo todo em dar à luz o futuro. Uma vez despertado, o éthos apostólico não tem medo da morte — pelo contrário, ele encontra vida ao morrer para si e viver para Cristo. Em nossa jornada de compromisso com o futuro, precisamos voltar ao princípio. Nosso destino está nas origens. Para que a igreja deixe a paralisia da instituição ela deve descobrir a própria identidade em sua essência como organismo espiritual. Esse é tanto o ponto de partida quanto o de chegada. Provavelmente, o pastor é, em primeiro lugar e a acima de tudo, um ambientalista espiritual que desperta a essência primordial da igreja. VIVENDO COM ESPONTANEIDADE No livro The Spontaneous Expansion of the Church [A expansão espontânea da igreja], Roland Allen faz a seguinte observação: as igrejas na China pareciam florescer sempre que a vida dos missionários estava em perigo. Ele chega à conclusão de que a igreja de Jesus Cristo tem dentro de si a capacidade de se expandir espontaneamente, e é isso o que acontece naturalmente quando a igreja é saudável e vibrante. Um éthos apostólico aguarda para emergir dentro de cada igreja local. Ele permanece adormecido em cada comunidade genuína de fé, embora latente. Minha esperança e
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minha oração são no sentido de que, a partir da leitura destas páginas, você se sinta inspirado a despertar um éthos apostólico. COMBUSTÍVEL PARA A REFLEXÃO: 1. Seus relacionamentos são saudáveis? Eles agradam a Deus? 2. Que passos podemos dar rumo à reconciliação para restaurar os relacionamentos destruídos? 3. Que mudanças fundamentais devemos promover para obter a vitória em nosso campo missionário?