ZH - Cauê Fonseca

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ZAMBIASI E GUGU NO AR NA FARROUPILHA

PORTO ALEGRE, DOMINGO, 20 DE FEVEREIRO DE 2011 - ANO 47 - Nº 16.604

SC/PR-R$ 4,00/

DEMAIS REGIÕES-6,50/ URUGUAI-$ 60

R$ 3,50

A redescoberta do Centro O coração da capital dos gaúchos volta a ser atraente para morar e empreender.

PÁGINAS 32 a 34

MILHARES DE CARROS APREENDIDOS O HARÉM DO PREMIER ITALIANO PÁGS. 22 e 23

Frota que poderia reforçar a polícia abarrota depósitos Enquanto se deterioram 29 mil veículos tirados de autores de crimes, Estado discute como revertê-los para a segurança.

Páginas 4 e 5

Trânsito Acidente com ônibus mata um e fere 12 Página 27

JEFFERSON BOTEGA

DEBORAH EM SEU PAPEL MAIS SENSUAL

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Geral

ZERO HORA DOMINGO, 20 DE FEVEREIRO DE 2011

CENTRO RENOVADO

O coração da Capital volta a ser cobiçado

“

FOTOS JEFFERSON BOTEGA

Após décadas de êxodo de pessoas e negócios, o centro da Capital começa a receber uma nova leva de moradores, pontos comerciais e serviços, um dos sinais mais festejados de sua revigoração

SUZANA ENGLERT Relações públicas que está se mudando com o marido para um apartamento de 210 metros quadrados, na Praça Dom Feliciano

As mudanças no Centro serviram de incentivo.

Apostamos na revitalização

ITAMAR MELO

D

epois de um tenebroso mergulho no abandono e na degradação, o bairro que serviu de farol para os gaúchos ao longo dos séculos volta a ter luz.Revigorado pelo investimento de milhões de reais em restaurações e pela retirada do comércio informal que atravancava suas ruas, o Centro vive um momento de virada. Um dos sinais mais festejados é a chegada de uma nova leva de moradores, que promete reverter a sangria populacional responsável pela debandada de 15 mil pessoas, um terço do total,entre 1980 e 2005.

O notável é que a motivação dos recém-chegados é a mesma dos que procuravam um endereço na região em seu período áureo, os anos 40 e 50 do século passado, quando o bairro era sinônimo de elegância.

A geração que desembarca agora escolhe o Centro porque ele se tornou glamouroso mais uma vez. Em grande parte, trata-se de um movimento de jovens antenados, com profissões ligadas à criação. É uma turma formada por designers, pu-

blicitários, arquitetos e artistas que reformam apartamentos com décadas de história para conferir-lhes um ar contemporâneo. São as águas passadas do Centro movendo novos moinhos.

Moradia é lastro de recuperação Um prédio da Avenida Siqueira Campos recebeu uma dezena de moradores com esse perfil. Os publicitários Ismael Goli, 34 anos, e Mariana Balestra, 30 anos, foram dos primeiros a chegar, cinco anos atrás. O casal trocou o Menino Deus por um apartamento de 220 metros quadrados com vista para as ilhas do Delta do Jacuí em praticamente todas as janelas.

– Sou gourmet, e o Mercado Público é onde acho ingredientes que não encontro em outro lugar – elogia Goli.

Uma das pessoas mais indicadas para explicar a opção do casal e o que ela significa para Porto Alegre é justamente a mãe de Mariana Balestra, a professora da Faculdade de Arquitetura do Uniritter Maria Isabel

Marocco Milanez.A arquiteta enxerga, depois de décadas de declínio, a existência de uma ação orquestrada para a recuperação da área central.

A grande reviravolta, na sua avaliação, foram as obras do Monumenta.

Uma parceria entre a prefeitura e o Ministério da Cultura, o programa investiu desde 2002 perto de R$ 12 milhões no restauro de edificações públicas e privadas e tem uma série de obras em andamento, totalizando R$ 21,8 milhões.

– Quando uma área é recuperada, a tendência é de que surjam iniciativas no entorno. Esse processo gerou um movimento de retorno, tênue ainda, de jovens formadores de opinião. Isso é importante: a moradia é o lastro da recuperação – observa a professora.

Um indício de que Maria Isabel pode estar certa é um fenômeno percebido por outra moradora do edifício da Siqueira Campos. Em 2005, quando mudou com o marido para o local, a designer Márcia Steyer, 45 anos, deparava com reações de preconceito sempre que mencionava morar no Centro.

– As pessoas faziam cara feia.

Agora, telefonam para saber como

Na escolha do apartamento com vista para o Delta do Jacuí, Ismael Goli (ao lado) apostou em atrações como proximidade com o Mercado Público

conseguir apartamento aqui – conta.

A nova fase também está permitindo a vinda de quem já se sentia atraído, mas era repelido pela situação de abandono e deterioração. O arquiteto Mário Englert, 55 anos, passou parte da infância brincando na Praça da Matriz, perto da residência do avô.

No final dos anos 90, quando decidiu mudar-se do bairro Petrópolis, enamorou-se de um edifício situado na Praça Dom Feliciano. Mas não foi possível convencer a mulher, a relações públicas Suzana, 56 anos. O casal acabou no Moinhos de Vento.

No ano passado, quando decidi-

ram-se por nova mudança, o Centro estava diferente. Desta vez, foi fácil convencer Suzana. Ela e o marido se mudaram para um apartamento de 210 metros quadrados no prédio da Dom Feliciano em janeiro e estão no meio de um processo de reforma que inclui a derrubada de paredes e a interligação de ambientes.

A nova fase se reflete nas estatísticas do mercado imobiliário. Em alguns meses de 2010, o Centro perdeu pela primeira vez o posto de bairro com mais imóveis usados à venda. itamar.melo@zerohora.com.br

Geral

ZERO HORA DOMINGO, 20 DE FEVEREIRO DE 2011

ROSANE TREMEA, BD, 26/09/2009

O que mudou

JEFFERSON BOTEGA

A nova Praça XV

Durante décadas, os camelôs foram uma chaga no Centro. Começaram a se espalhar pela Praça XV nos anos 70, ganharam alvarás do prefeito Alceu Collares nos anos 80 e tomaram conta da região nos anos 90. Na década passada, eles somavam 752 regularizados e mais de 2 mil ilegais.

Tornaram o Centro um espaço inóspito, aniquila-

DEPOIS

O entorno da Praça XV se transformou em um eixo de recuperação. Os primeiros passos foram a remodelação da Otávio Rocha, a saída dos camelôs e a renovação do Largo Glênio Peres, que ganhou deques ao ar livre e terá em breve uma fonte luminosa. As obras mais recentes foram a ampliação

Restaurações

ram o comércio regular e bloquearam a circulação de pedestres. Quem ia ao bairro ficava sob o risco de ser atropelado pela correria de camelôs em fuga das ações de fiscalização. O problema acabou no começo de 2009, quando a prefeitura criou um shopping popular para onde os ambulantes foram transferidos. Foi a saída do Centro da UTI.

Desde 2005, foram restaurados 25 prédios de valor histórico. O principal agente foi o Projeto Monumenta, que desde 2002 financiou a recuperação de 12 edifícios particulares (outros oito estão na fila) e recuperou prédios públicos como o Piratini, a Biblioteca Pública, o Memorial do Rio Grande do Sul, o Margs e a Igreja das Dores (foto acima).

GENARO JONER, BD, 30/06/2008

ANTES

DEPOIS

DIEGO VARA, 20/01/2011

EMÍLIO PEDROSO, BD, 03/06/2001

Fim dos camelôs

RONALDO BERNARDI, BD, 09/02/2009

RONALDO BERNARDI, BD, 25/01/2009

As iniciativas responsáveis por reverter o declínio do centro de Porto Alegre: ANTES

do chalé, que ganhou um anexo envidraçado, e a reurbanização da praça. O processo prossegue com a recuperação do entorno e o restauro do edifício de 1911. A intenção é criar um polo de lazer e cultura que inclui o chalé, a Praça XV, o Largo Glênio Peres e a prefeitura.

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Transformações viárias Calçadões foram liberados para os carros em determinados horários e trechos interrompidos voltaram a ser abertos aos veículos, devolvendo a vida ao entorno. Além disso, ocorreu a retirada de terminais de ônibus e a liberação do Largo Glênio Peres para estacionamento, nos fins de semana.

Nunca se comprou e alugou tanto Cinco anos atrás, o Centro era um bairro povoado de edifícios vazios do segundo andar para cima.Agora,cresce até para baixo. Com o reflorescimento da região, o grupo que comprou e restaurou a tradicional Galeria Chaves passou os últimos meses escavando um novo pavimento no subsolo, em plena Rua da Praia.O andar subterrâneo será aberto ao público em maio,com 17 lojas e um restaurante.

A expansão da Galeria Chaves é um entre vários empreendimentos que passaram a pipocar na região.As novidades incluem lojas,escolas,cafés,restaurantes e um recém-ampliado Chalé da Praça XV.O cenário destoa do que foi retratado no começo de 2006 pela série de reportagens A Encruzilhada do Centro, de Zero Hora.Em lugar dos canteiros de obras de hoje,o que

Com o interior renovado (E), Galeria Chaves crescerá para baixo (D)

ZH encontrou na ocasião foram placas de Vende-se ou Aluga-se por todos os lados. Detentor da maior concentração de espigões do Estado, o Centro havia se tornado um bairro térreo, com andares e edifícios inteiros às moscas.

Um deles era o antigo edifício da Companhia União de Seguros, um colosso de 16 pavimentos e 13 mil metros quadrados.

Sem uso,o prédio permaneceu por longo período à venda.Adquirido por um grupo de investidores,começa a renascer. O térreo, que já havia ganho uma agência bancária, acaba de receber uma lanchonete.

Dados do Sindicato da Habitação do Estado (Secovi) fornecem um retrato da transformação em curso. Em fevereiro de 2006, havia 1.115 imóveis disponíveis para locação, um em cada cinco da cidade. Em dezembro passado,a oferta havia caído pela metade.

Eram 608 imóveis,13% do total de PortoAlegre.

Responsável pelo processo de recuperação e comercialização da Galeria Chaves e por um banco de pontos comerciais,RogérioWagner é testemunha privilegiada da revalorização do Centro.

Com 30 anos de atuação no bairro,garante que começaram a faltar espaços: – Após a saída dos camelôs e com os investimentos na recuperação,a procura cresceu 30%.

REPRODUÇÃO

SEGUE

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Geral

ZERO HORA DOMINGO, 20 DE FEVEREIRO DE 2011

CENTRO RENOVADO

O futuro em construção O que está prometido

Os próximos meses prometem novidades importantes ao Centro, algumas com atraso considerável em relação ao cronograma:

1 BANCO DE DADOS

Multipalco

Cais deve ser o grande elemento de vitalização O projeto, elaborado por um grupo de empresas de Brasil e Espanha, gerou entusiasmo entre os gaúchos.

Divididos em três setores, os dois quilômetros do cais seriam transformados em um centro de compras, cultura, lazer e negócios, devolvendo à vida àquela região. Perto da Usina do Gasômetro, o porto seria integrado à cidade por meio de uma área verde com prolongamento até a Praça Brigadeiro Sampaio, passando por cima da Avenida Presidente João Goulart.

– O cais será o grande elemento de vitalização, o grande diferencial.

Estou muitíssimo otimista, porque nunca estivemos tão perto – acredita a coordenadora do Projeto Monumenta, Briane Bicca.

Outra intervenção decisiva que demora a sair do papel é oxigenação do Centro por meio da redução no número de ônibus em circulação.

Hoje são 33 mil viagens diárias para a região. A prefeitura vem acenando desde 2007 com os Portais da Cidade, um projeto que promoveria redução do número de coletivos no Centro sem reduzir o número de passageiros e eliminando as rodoviárias a céu aberto.

Segundo Izabel Matte, coordenadora do Gabinete de Planejamento Estratégico da prefeitura, estão sendo tomadas neste mês decisões de cronograma que vão permitir finalizar o processo de financiamento da obra.

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BANCO DE DADOS

Prometido para 20 de setembro de 2006, o complexo cultural Multipalco Theatro São Pedro, de seis pavimentos e 15 mil metros quadrados, depende da arrecadação de R$ 18 milhões para ser terminado. Com os R$ 27 milhões aplicados desde 2003, a estrutura física foi erguida, uma laje com restaurante e concha acústica foi entregue e um estacionamento subterrâneo de três andares passou a operar. Faltam basicamente obras internas, que incluem um teatro italiano de 650 lugares, um teatro de oficina e 11 salas especializadas. José Roberto Diniz de Moraes, coordenador do projeto, diz que, com dinheiro em caixa, a obra seria terminada em no máximo dois anos.

REPRODUÇÃO

As melhorias são palpáveis, mas o centro de Porto Alegre ainda está longe dos seus dias de maior esplendor. Urbanistas, profissionais envolvidos no processo de recuperação e representantes do mercado imobiliário acreditam que, sem a conversão do Cais do Porto em um polo de lazer e turismo, a transformação não estará completa.

– Não é o chalé da Praça XV que vai revitalizar o Centro. Não tem como. O Centro vai mudar mesmo quando o porto for revitalizado – afirma Gilberto Cabeda, vice-presidente de comercialização de imóveis do Sindicato da Habitação do Estado (Secovi).

Há razões para otimismo e para cautela. O dado animador é que já existe um projeto pronto para o cais e um consórcio habilitado por licitação para executá-lo. Os temores, por seu turno, envolvem décadas de planos frustrados e um imbróglio jurídico que impediu a assinatura do contrato ainda no governo passado e empurrou a solução para a nova gestão no Piratini.

Praça da Alfândega Em obras há dois anos, a Praça da Alfândega deve ter o seu miolo entregue recuperado e com o desenho original, do começo do século passado (foto menor), até a próxima Feira do Livro. Segundo Briane Bicca, coordenadora do Monumenta, a obra atrasou por imprevistos co-

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mo a descoberta das antigas fundações da alfândega durante as escavações. A renovação do perímetro deve ficar para 2012. Uma área lateral vai receber módulo de serviços, com café, floristas, bancas de revistas e outros estabelecimentos.

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Cais do Porto O projeto para recuperar dois quilômetros de cais promete uma transformação do local em centro de compras, lazer e negócios. Há décadas sucessivos planos foram descartados, mas agora há razão para otimismo, já que o projeto está pronto e existe um consórcio habilitado.

4 Praça da Matriz e General Câmara A recuperação, também a cargo do Projeto Monumenta, esbarrou na falta de empresas interessadas em tocar a obra. Uma nova licitação está em preparo e deve ser lançada no mês de abril. As obras incluem a restauração do monumento a Julio de Castilhos, a recuperação do pavimento da praça e o alargamento de uma das calçadas da Rua General Câmara.

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Na imagem, o centro da Capital, com simulação do projeto previsto para remodelação do Cais do Porto

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Caixa Cultural

Bonde Histórico

O centro cultural da Caixa, no antigo Cinema Imperial, já esteve previsto para 2006. O prazo atual é o final deste ano, com inauguração em 2012. Em 2010, a obra andou a passo lento, enquanto se definiam questões ambientais como a remoção de um pedra de grandes dimensões na base do edifício. A questão foi resolvida mês passado. Com aplicação de R$ 16,5 milhões na obra e de R$ 6 milhões em materiais, terá teatro, museu, cafeteria e livraria.

A ideia de trazer de volta os bondes ao centro, por meio de uma linha turística, é antiga e ainda não está garantida.

A prefeitura está lançando um edital para estudo de viabilidade. O plano é de um trajeto circular, saindo do antigo abrigo dos bondes da Praça XV, seguindo até o Gasômetro pela Sete de Setembro e voltando ao abrigo dos bondes pelas ruas da Praia e Vigário José Inácio. O caminho cruza com cerca de 30 casas de cultura e museus.

7 Centro Administrativo Depois de enfrentar dificuldade para encontrar um imóvel disponível, devido à revalorização do Centro, a prefeitura inaugura em março, na Siqueira Campos, um Centro Administrativo Regional para esclarecer dúvidas da população e solicitar serviços. Também começam a atuar no Centro oito agentes para fiscalizar desde alvarás comerciais até placas publicitárias. Esse tipo de fiscal, uma novidade, só não atuará no trânsito.