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NOTÍCIAS ABRASEL RS

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FIRMADO ACORDO PARA REGULAMENTAÇÃO DA GORJETA CÂMARA REJEITA PROIBIÇÃO DA VENDA DE ENERGÉTICOS PARA MENORES DE 18 ANOS

PERFIL

ELI ANTÔNIO STURMER

CAVANHAS

COMPLEX FOOD STATION REÚNE NOVE RESTAURANTES SERVINDO CLÁSSICOS A CÉU ABERTO FENAMASSA CELEBRA CULTURA GASTRONÔMICA ITALIANA A PARTIR DO DIA 9 ARTIGO, DE ADELI SELL: CUSTO DE ABRIR E FECHAR EMPRESAS


ENERGÉTICOS LIBERADOS

CÂMARA REJEITA PROIBIÇÃO DA VENDA DE ENERGÉTICOS PARA MENORES DE 18 ANOS

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Câmara Municipal de Porto Alegre rejeitou, na última quarta-feira (30), Projeto de Lei (PL) que pretendia proibir a venda e o fornecimento gratuito de bebidas energéticas para menores de 18 anos na Capital gaúcha. De autoria da vereadora Mônica Leal (PP), a proposta foi derrotada por 15 votos a 14. De acordo com a autora do PL, o objetivo seria alertar para os riscos à saúde de jovens e adolescentes pelo consumo excessivo dessas bebidas, e vedar uma eventual "porta de entrada" para o álcool. Vereadores contrários à medida, no entanto, questionaram a eficácia de medidas proibicionistas e o ataque às liberdades individuais, que podem ter efeito contrário nos jovens. Diversas entidades também posicionaram-se contra o projeto. De acordo com a diretora-executiva da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel RS), Thais Kapp, a proposta não teria efeito positivo. “Alertamos para a ineficiência do projeto, que não cumpriria o objetivo a que se propõe. Em relação à associação com as bebidas alcoólicas, existe ampla legislação e campanhas informativas”, afirma a diretora. No mesmo sentido, os vereadores contrários à medida criticaram a associação ao álcool como justificativa. “Se o problema do energético é a associação com o álcool, e o álcool já é proibido para menores, me parece que há um problema de fiscalização”, sustentou o vereador do PT Marcelo Sgarbossa. Já a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir) manifestou-se contrária ao projeto destacando que os energéticos não são proibidos "em nenhum lugar do mundo" e que não há "qualquer justificativa" para a proibição a menores de 18 anos.

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Parceiro desde: Setembro de 2015.

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GORJETA

FIRMADO ACORDO PARA REGULAMENTAÇÃO DA GORJETA

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m reunião realizada em setembro no gabinete do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), representantes da Abrasel e de outras entidades do setor discutiram a regulamentação da gorjeta e chegaram a um acordo em torno do projeto de lei 57/2010, que tem relatoria do senador. Entre os principais pontos debatidos pelo acordo, estava o percentual de desconto, por parte do empregador, sobre a taxa de serviço para cobrir os encargos sociais e previdenciários dos empregados. A matéria foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e segue agora para votação no Plenário do Senado. Na reunião, ficou acordado o valor de até 20% de desconto para as empresas enquadradas no Simples e de até 33% para as empresas que não se enquadram nesse regime de tributação. Participaram o presidente executivo da Abrasel, Paulo Solmucci Junior, o presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação, Alexandre Sampaio, o presidente da Associação Nacional de Restaurantes, Cristiano Melles, o presidente da Confederação Nacio-

Na reunião, ficou acordado o valor de até 20% de desconto para as empresas enquadradas no Simples e de até 33% para as empresas que não se enquadram nesse regime de tributação.

nal dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade, Moacyr Auersvald e o presidente da Abrasel/ES, Wilson Calil. Outro ponto relevante discutido foi a constituição da comissão de empregados com intuito de acompanhamento e fiscalização da regularidade da cobrança e distribuição da gorjeta. Ficou definido que estes representantes serão eleitos em assembleia convocada pelo sindicato laboral, mas que estes empregados não gozarão de estabilidade empregatícia atrelada ao exercício dessa função e que a comissão será apenas para empresa com mais de 60 empregados. Para o presidente executivo da Abrasel, o acordo foi histórico para o setor. “A regulamentação da gorjeta, vital para os bares e restaurantes, estava em pauta há anos sem que se conseguisse conciliar os interesses dos representantes dos empresários e trabalhadores. Daí a importância do acordo firmado entre as partes hoje”, argumenta Paulo Solmucci. Para ele, a decisão vai beneficiar a todos. “A falta de regulamentação dava espaço a entraves diversos e a interpretações descabidas por parte da Justiça do Trabalho, o que prejudicava o empreendedor e o trabalhador. As decisões tomadas hoje foram uma vitória para o setor. Temos a agradecer ao senador Ricardo Ferraço do ES que mediou o acordo histórico”.

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FOOD STATION

COMPLEX FOOD STATION REÚNE NOVE RESTAURANTES SERVINDO CLÁSSICOS A CÉU ABERTO

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Das cozinhas para a rua: no final de semana dos dias 24 e 25 de outubro, nove restaurantes de Porto Alegre terão suas iguarias apreciadas a céu aberto. O Complex Food Station levará ao público os clássicos de cada estabelecimento no Complex Skatepark (Av. Protásio Alves, 3839), local que reúne pista de skate e a cozinha mexicana do Pueblo. O evento conta com o apoio da Abrasel RS. A ideia, segundo o idealizador Eduardo Mallmann, é unir a informalidade da comida de rua com a tradição dos restaurantes (confira lista abaixo), já que nenhum dos participantes - com exceção do anfitrião Pueblo, possui foodtruck. “Estamos fazendo esse piloto no Complex para que os restaurantes tomem a rua. É um movimento muito bacana que

está acontecendo, e queremos que mais locais façam parte disso”, afirma Mallmann. Após três edições do “Food Park” no Complex, que reuniram food trucks atuantes na Capital, o empreendedor conta que a ideia de realizar um evento com restaurantes amadureceu em ambientes de discussão como o Pólo do Sebrae - entidade que também apoia o Food Station: “A ideia é utilizar esse momento como um laboratório e, dando certo, repeti-lo e levá-lo a outros espaços da cidade”. O Complex Food Station levará nove restaurantes ao Complex, servindo versões dos seus pratos mais clássicos, nos dias 24 e 25 de outubro, entre 11h e 21h. No evento criado no Facebook para divulgar a atividade, mais de 3,6 mil pessoas confirmaram presença.

Confira os restaurantes participantes: • BAZKARIA • BOTECO NATALÍCIO • MAOMÉ • TARTONI RISTORANTE • PUEBLO • SASHIBURI • USINA DO PASTEL • VERMELHO GRILL • WOKING THAI IN BOX

FENAMASSA CELEBRA CULTURA GASTRONÔMICA ITALIANA A PARTIR DO DIA 9

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A partir deste final de semana, um dos elementos mais tradicionais da nossa mesa será celebrado com extensa programação em Antônio Prado, na Serra Gaúcha. O Festival Nacional da Massa – Fenamassa – que busca desenvolver a cultura gastronômica legada pelos imigrantes italianos e seus descendentes, conta com o incentivo da Abrasel. Entre os dias 9 e 12 e 16 e 18 de outubro, o evento reúne shows, atividades culturais e, claro, muita comida de qualidade com o festival gastronômico da Fenamassa e oficinas culinárias.

Realizada anualmente, a Fenamassa chega à sua 4ª edição com o objetivo fomentar o desenvolvimento do setor de alimentação, por meio do incentivo à criação de novos empreendimentos, qualificação e promoção do segmento. Além das oficinas em parceria com o SENAC e da “Fábrica de Massas”, que ensina os segredos da produção de diversos tipos de massa, o festival oferece ainda diferentes cursos de qualificação (confira informações abaixo). As atividades ocorrem no Centro Histórico de Antônio Prado, anunciada pela organização como “a cidade mais italiana do Brasil”. No cardápio, mais de 80 tipos de massas farão a alegria dos visitantes no festival gastronômico do evento. Ao longo da programação, shows e atividades artísticas tomam conta do espaço. Quem tiver interesse em participar dos Cursos de Qualificação da Fenamassa pode realizar a inscrição através do email eventos@cicaprado.com.br ou do telefone (54) 32931609. A programação completa do festival pode ser encontrada no site www. fenamassa.com.br/programacao. 4I


PERFIL

PERFIL ELI ANTÔNIO STURMER CAVANHAS

QUANDO SAIU DO INTERIOR, EM MEADOS DOS ANOS 80, ELI ANTÔNIO STURMER BUSCAVA CRESCIMENTO PESSOAL E PROFISSIONAL NA CAPITAL. MAIS DE 30 ANOS DEPOIS, CONDUZ UMA REDE COM OITO LOJAS E UM DOS NOMES MAIS RECONHECIDOS DO SEGMENTO DE LANCHERIAS EM PORTO ALEGRE. NESTE CAMINHO, MUITA CRIATIVIDADE E ESPONTANEIDADE CONSTRUÍRAM A IDENTIDADE DO CAVANHAS JUNTO A UMA CLIENTELA FIEL. NESTE BATE PAPO, O EMPRESÁRIO CONTA DETALHES DESSA TRAJETÓRIA. BOA LEITURA! Por que o senhor veio de Muçum para Porto Alegre?

Já tinha o nome Cavanhas?

Eu trabalhava em uma empresa em Muçum, e achei que aquilo não dava. Queria mudar, vir para a cidade grande. Eu e meu irmão viemos para Porto Alegre em 84. Quando nós chegamos, já tínhamos a intenção de colocar um restaurante.

Não, era Recanto. Aí se passou um ano, e uns amigos lá de Santa Maria, estudantes, disseram: “Pô, muda aí, põe Cavanhaque, Cavanhas”. E colocamos Cavanhas. Porque meu irmão, na época, usava um cavanhaque.

Já haviam trabalhado nessa área?

Como foi a evolução até chegar no ponto em que está hoje?

No Interior, nós tínhamos um bar tipo boteco, vendia cachaça, vinho. Aquelas coisas bem do Interior. Bolichão. E aí, quando chegamos em Porto Alegre, conseguimos um local bom na Borges de Medeiros. Mas a gente não se deu bem. Era um buffet. Ficamos uns meses, e fomos para a Perimetral (Av. Loureiro da Silva), onde até hoje existe o Cavanhas da Perimetral. Era uma casinha pequena. Fez 31 anos. Quando nós começamos, não tinha muito movimento. Eu trabalhava na chapa e meu irmão atendendo. Daí, começamos a vender cinco xis, oito xis numa noite. Nós ficávamos até as 5h da manhã.

Trabalhamos mais uns cinco anos e o movimento foi crescendo. Colocamos funcionários, tinha cada vez mais clientela e movimento. Nós começamos a inventar outro estilo de xis. Em Porto Alegre, se fazia praticamente só xis salada, xis coração e deu. Começamos a fazer xis galinha com bacon, coração com bacon, e colocar nome no cardápio. O movimento começou a crescer e não tinha mais espaço para atender todo mundo na Perimetral. Aí nós fomos pra Lima e Silva. Financiei, peguei dinheiro emprestado, mas consegui comprar aquele terreno que tem o 274 (loja do Cavanhas também na Cidade Baixa). Quase não tinham 5I


restaurantes na Cidade Baixa. Minha intenção era comprar o terreno, construir e fechar na Perimetral porque eu não queria pagar aluguel. Mas o movimento seguiu aumentando e pensei: “tem lugar pra outro aqui”. E compramos o terreno do 373 (terceira loja aberta no mesmo bairro), e construímos. Aí, teve movimento nas três, e continuamos ampliando. Na Barão do Amazonas (nº 1241, bairro Jardim Botânico), vai fazer 12 anos. Na época, se dizia que não havia lugar nas redondezas para comer à noite. Colocamos e deu certo. Depois dessa, fomos para a Assis Brasil, Gravataí e abrimos um buffet perto da Ipiranga (Barão do Amazonas, 1397). Estando há muito tempo na Cidade Baixa, como notou a mudança dela para um bairro mais boêmio? Em 86, 87, tinha no máximo três ou quatro bares na Cidade Baixa. Não tinha mais, era só moradia. E tinham os barzinhos da João Alfredo, mas barzinho pequeno, violãozinho. Em três anos, deve ter aumentado para mais de 50 bares. Foi rápido, deu um salto. Porque fechou o Bom Fim, fecharam os bares. Para onde o pessoal foi? Lima e Silva. Foi na época que comprei o terreno lá. Eu não tinha nem o dinheiro, mas tinha que construir. Porque começou, eu vi que era a hora. Tive a oportunidade. Nós tivemos muita sorte, tenho que agradecer a Deus. Eu sempre pensava comigo que o importante era não pagar aluguel. Não pagando aluguel, ajuda a crescer. Pensa em abrir em outros locais da cidade? Não. Várias vezes já pensei, mas acho que não quero mais. Terminou aí. Hoje temos sete casas, oito com a cafeteria (Barão do Amazonas, 1240). Em torno de 140 funcionários. Mas eu e meu irmão não queremos mais. Não adianta ter quantidade e perder a qualidade.

O xis é muito tradicional no RS. Que fatores ajudaram o Cavanhas a alcançar o reconhecimento que tem? Quando eu comecei a fazer xis, tinham poucos em Porto Alegre. Depois entrou o McDonald’s, que ajudou. Porque o pessoal não comia xis à noite, era cachorro quente ou janta. Tinha buffet de janta, que hoje quase não se encontra mais. Então, mudou. Chegou o McDonald’s e mudou pra melhor. Habituou o pessoal a comer xis. Nós já fazíamos um xis realmente bom, nosso xis já ganhou várias vezes como o melhor de Porto Alegre na revista Veja. Como tem várias casas, começa a vender bastante e ficar mais conhecido. E tem um diferencial na questão dos ingredientes, não é? Sim. A nossa maionese é adorada pelo pessoal. Tem ideia da porcentagem de pessoas que pedem o xis e pedem também a maionese? Todos pedem a maionese e, se pudessem, levariam pra casa. Até tem um conflito entre clientes e nós, pois querem pra levar. E não posso deixar, pois tem data de validade. Estou perdendo com isso, mas em primeiro lugar tenho que cuidar do cliente. Não posso deixá-lo com a maionese cinco dias em casa, e depois passar mal. Então, não deixo levar. Só que eu sei que tem gente que coloca até na bolsa, na mochila pra levar. Por que começou a embalar individualmente a maionese? Foi um pedido da Saúde. Eu uso ovos em pó, que não têm salmonela. Então, não tem problema. A Saúde exigiu rotular com data de validade. Para mim ficou melhor. Fiquei mais tranquilo. Quando tive que mudar, eu já usava ovos em pó. Então, eles só queriam saber como era feita. Minha nutricionista listou o que ia na maionese e deram três dias de validade. Mas indico 6I


no rótulo só dois dias. Prefiro nem usar de um dia para o outro. Se sobrar, prefiro colocar fora. Vocês conseguiram criar um padrão de xis em todas as unidades. Como é a formação do funcionário para manter esse padrão? Todo o equipamento em que eles trabalham e matéria prima são os mesmos. A bancada refrigerada, todos têm igual. Todo o chapista, o responsável pela chapa, tem no mínimo sete anos de Cavanhas. Tenho chapista de 14, 16 anos de casa. E pra pegar a chapa, tem que trabalhar com certeza mais do que três anos fazendo o mesmo serviço que o anterior estava fazendo. Então, vem com uma experiência grande, a prática. Nós, na área de chapista, trabalhamos forte. Nós consideramos ele o cozinheiro chef da casa. Que ações o Cavanhas busca para inovar? Semanalmente tem que mudar alguma coisa. Agora, estamos implantando mais um xis, fazendo umas coisinhas diferentes. Sempre foi assim, tentando algo a mais. A gente não divulga muito, mas vendemos mui-

ta pizza. Hoje, perde pouca coisa para o xis, é muito bem vendida. E a qualidade da nossa pizza é fantástica. A massa, quem faz, é a mesma pessoa desde o dia em que começamos a fazer. Se tu veres como a massa é feita, é inacreditável a qualidade. Toda ela embaladinha, fechadinha. Começa aí a qualidade. Como está, na tua visão, o mercado em Porto Alegre? Eu tenho sentido a crise, como todo mundo. Mas talvez não tenha sentido tanto quanto outros por estar bem estruturado e por eu pegar o público de 16 a 30 anos. Fizemos pesquisa de levantamento no Cavanhas. Esse público sai à noite, não se importa muito com a violência. Porque ele quer viver, quer sair. Gosta de batata frita, gosta de xis, de pizza. Essa crise eu estou sentindo, mas sentindo menos. Almoço já cai mais, porque o pessoal dá um jeitinho, come um lanche. Dentro desse cenário, o que pretende para um futuro a médio e longo prazo? Melhorar as casas, a qualidade. Mas abrir outra unidade não, porque não tenho gente pra trabalhar. Está bom assim. Na Lima e Silva a gente já deu uma melhorada, e vimos que o cliente está gostando. Sempre tem que estar fazendo alguma coisa, melhorando. Ou mudar alguma coisa no cardápio, que é importante. Agora, abrir casas, não. Não adianta abrir quantidade e perder a qualidade. Em todos esses anos de Cavanhas, por abrir nas madrugadas, deve ter algumas histórias engraçadas... Tem várias histórias. Uma engraçada é quando eu e meu irmão trabalhávamos até as 6h da manhã. Saímos cansados, o sol raiando e a gente indo embora. Andando de Fusca, que tirávamos o banco do carona para colocar as compras. Eu atrás e meu irmão dirigindo. E eu tava cochilando atrás. Aí, na Protásio Alves, ele cochilou também. Sei lá por quanto tempo, mas alguém viu que nós não saíamos do lugar e acabamos sendo acordados pela buzina dos carros. Imagina o cansaço. E outra coisa que também era engraçada é que, quando nós tínhamos muito movimento, às vezes não dávamos conta. Tinha dias que chegava gente e mais gente. E daqui a pouco tinha alguém no bar que era conhecido, e aí dizíamos: “cara, me ajuda”. Os caras eram clientes e a gente dizia: “pô, lava a louça lá pra mim”. Nós usávamos clientes amigos para tentar atender. Até brinco com alguns: “quando é que tu vai me cobrar na Justiça por eu te botar pra trabalhar?”. Tinha um cara que morava no edifício e vinha todos os dias. Nós ligávamos pra ele: “desce aqui que o bicho pegou” (risos). Acredite se quiser, assim que nós começamos. Deu certo, né?

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*Adeli Sell foi vereador da capital; é acadêmico de Direito, consultor e escritor.

MARTÍRIO DE EMPREENDER CUSTO DE ABRIR E FECHAR EMPRESAS O dia 28 de setembro pode ter sido o dia D(a) Mudança. Prefeito da Capital e governador garantem um "projeto que agiliza abertura de empresas na Capital", é a manchete do dia seguinte. O Instituto Endeavor investirá R$ 1,5 milhão para reduzir o prazo, hoje em 245 dias. Claro, isto se a pessoa conseguir abrir, reabrir, repassar seu empreendimento. O surgimento do Instituto Empreender Endeavor no Brasil deu-se por meio de uma conversa entre o empresário brasileiro Beto Sicupira e Linda Rottenberg, diretora e co-fundadora do Endeavor, no fim da década de 1990, quando Chile e Argentina estavam se tornando os países em desenvolvimento mais recentes com atuação do Instituto. Por sua trajetória, o Instituto Endeavor aposta na profissionalização do empreendedorismo, ainda na fase de amadorismo no Brasil. A ação se chama "Projeto Simplificar", com o intuito de, junto à prefeitura e ao Estado, além de outras entidades, desburocratizar os processos. Esperamos que os processos aconteçam. "Além do licenciamento urbano, a Secretária Municipal de Planejamento Estratégico e Orçamento, Izabel Matte, também elenca a automatização e digitalização dos processos, a transparência nos passos a serem seguidos pelos empreendedores e a liberação, por parte do Corpo de Bombeiros, como etapas a serem facilitadas." Só falta combinar com o Corpo de Bombeiros, ainda submetido ao Comando da Brigada, mas com seu "moto próprio". O que mais se ouve é uma visão autoritária de alguns agentes, achando-se donos do processo. O que é uma violação. Sou capaz de afirmar que um bombeiro, mesmo treinado para ser o "homem de fogo", não tem a mesma formação, capacitação de um técnico da área ou um engenheiro e arquiteto que entende de edificações. É uma total incongruência que esses profissionais que têm que estar em dia com seus Conselhos fiscalizadores, pagando altas taxas, sejam tripudiados muitas vezes por um servidor sem formação adequada. É uma total inversão das coisas, é um mundo de ponta cabeças. Aqui, se fala em pagar horas extras para os bombeiros pelas instituições privadas. Não acho que fira algum princípio, afinal, temos que sempre dar o crédito da boa fé; mas não consegue achar uma solução o governo do Estado, porque "tudo vai para o caixa único". Ora, ora, esqueceram que temos o FUNREBOM, que é para reequipar, só muda e acrescenta o item das horas trabalhadas a mais. "Pensar dói", já dizia um professor meu. A prefeitura deveria aproveitar este dinheiro, esta abertura dada pela Endeavor para termos uma fiscalização centralizada. Quem quiser se candidatar em 2016 tem a obrigação de propor a modernização. Sou sabedor também que virão bombardeios de todos os lados, porque em cada Secretaria existe uma "casta" de agentes que se insurgirão contra isto.

Ainda somos o país que precisa descobrir suas raízes burocráticas, cartoriais, arrancá-las com arado de pá profunda, sem sobrar qualquer chance de brotar este inço do atraso. Em qualquer lugar por onde passo, as queixas são exatamente iguais. Centralização que não faz sentido. Pela nossa cultura, alguém acha sensato que o Corpo de Bombeiros de Rio Grande mande no de Pelotas? É claro que isto não dá certo. Aqui, os órgãos licenciadores são um distante de outro. O protocolo geral fica no Centro Histórico, mas ninguém sabe o que deve ser protocolizado aqui ou na respectiva Secretaria. E, o pior, a coitada da estagiária é empoderada para decidir se aceita ou não um documento. Em princípio, nenhum cidadão pode ser coibido de protocolizar o que quer que seja. Cabe a um órgão adequado da Administração Municipal dizer se é justa ou não a demanda. O mais grave é quando você manda um e-mail para uma Secretaria e te obrigam a oficializar no 156. Ou seja, é quando o agente não quer fazer o seu serviço. Mas, vejam bem, respondam com sinceridade: de quem é a culpa mesmo? O gestor-burocrata se dá o luxo de negar! Ponto e basta. Agora, com o Novo Código do Processo Civil, os juízes, sim, eles são obrigados a explicar ponto a ponto de uma demanda judicial, mas o burocrata só diz que o teu projeto não está em conformidade com o projeto. Sim, mas afinal, cara pálida, o que não está na "sua visão", porque eu, arquiteto, engenheiro, que temos RT - sim, nós temos que assinar, responsabilizando-nos por tudo, mas você "Deus do Olimpo", me joga na cara que "não está de acordo...". Aonde vamos parar com este autoritarismo? Temos que realizar, as entidades de classe e setoriais, uma ampla mobilização por JUSTIÇA! O que estão fazendo com os empreendedores de Porto Alegre, do Rio Grande do Sul é uma aberração legal. De quem é a culpa? A culpa maior é minha, sua, é nossa! Nós nos dobramos à burocracia. Nós sucumbimos à ela. Vamos na conversa de "intermediários" e "intermediadores" que vendem sempre facilidades, para eles tudo é fácil, "eu sei", "eu conheço", "deixa comigo". Jamais te mostram os martírios, vão cobrando e te deixando na mão. E pior, alguns dizem que "tem um jeitinho", "tenho um amigo que...". E embarcamos na "canoa furada". Por isso, temos que nos vincular às nossas entidades de classe e setoriais. Acompanhar os processos públicos. Demandar, sempre que possível, coletivamente. Procurar profissionais que conheçam os temas, que não enganam ninguém. Enquanto isto, vamos fazer pressão sobre os parlamentares para mudar as leis inócuas, mudar leis para que haja menos burocracia. E, é claro, não votar em vereador e deputado que acabou de complicar a sua vida com alguma lei que não vai ajudar quem quer que seja.

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