Labceu pinheirinho by Gisela Domschke

LABCEU: TERRITÓRIO CEU PINHEIRINHO D’ÁGUA

A convite da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, o Labmovel realizou de 15 a 19 março de 2016 uma série de oficinas com crianças, adolescentes, jovens e idosos nas comunidades do Pinheirinho d’Agua em Pirituba, dando continuidade a um projeto piloto iniciado em 2014 no Território CEU Parque Novo Mundo. A proposta é buscar entender as necessidades e expectativas das pessoas que moram no bairro com relação à construção do novo CEU. Há uma atenção especial aos aspectos subjetivos, nem sempre aparentes em estatísticas, censos e mapeamentos. O projeto se concretiza através de uma ação conjunta da Secretaria Municipal Desenvolvimento Urbano, Secretaria Municipal de Cultura e Secretaria Municipal de Educação. Trata-se de uma prática onde as pessoas informam e produzem sua própria representação do espaço. Os resultados serão utilizados pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento Urbano para a elaboração do projeto urbanístico do território CEU, e pelas Secretarias Municipais de Cultura e Educação para a definição de sua futura programação, respondendo aos desejos dos moradores da região e incorporando talentos locais.

HISTÓRICO DO BAIRRO A região do Parque Pinheirinho d’Água, que fica entre os bairros City Jaraguá e Jardim Rincão, área administrada pela subprefeitura de Pirituba, era constituída por chácaras até a década de 1960. A partir desse momento, o bairro passou a sofrer um processo de loteamento das propriedades, abrindo caminho para a formação do Jardim Rincão. O primeiro sítio a ser loteado foi o sítio Duas Lagoas. Para aprovação do loteamento na prefeitura, trechos do terreno deveriam ser destinados a equipamentos públicos. Porém com a ausência da uma ação efetiva do governo na construção de equipamentos para o bairro, esses terrenos foram ocupados irregularmente e surgiram assim as primeiras favelas. Nesse processo de loteamento e ocupação, chegaram moradores de outras regiões de São Paulo e até mesmo de outras cidades e estados. Desta forma, gradativamente foi acontecendo a urbanização da região e o desaparecimento das chácaras do Jardim Rincão. A partir da década de 90 o bairro passou a sofrer intervenções da prefeitura e de mutirões de moradia. Favelas começaram a ser removidas e moradores foram realocados para os conjuntos habitacionais que passaram a ser construídos, como foi o caso do Seu José Cícero, funcionário do parque Pinheirinho d’Água, que conta com muita alegria sobre esse momento. Foi também nessa época da verticalização e urbanização do bairro que os moradores se uniram e lutaram para que na área do atual parque Pinheirinho não fosse construído nada. E assim a população local conquistou um equipamento público e preservou uma grande área verde para o bairro. “O parque tem uma natureza educadora pela sua história, pela sua relação com o espaço geográfico e como remanescente de Mata Atlântica. Ele deve contar com uma estrutura de parque, mas também ter equipamentos que atendam a necessidade das escolas para as atividades de pesquisa, estudos do meio, esportivas, lúdicas, culturais e de recreação. Por isso, a partir de oficinas as escolas fizeram uma lista de necessidades e desejos para que esse parque se torne estruturalmente um Parque Educador, sintetizadas pela arquiteta Paula Martins. Embora as escolas já tenham se apropriado amplamente desse equipamento, multiplicando as ações que ocorrem nesse espaço e incorporando-o a sua prática pedagógica.”

Primeiras favelas do Jardim Rincão, fonte: http://www.cantareira.org

Parque Pinheirinho d’Água

“O parque já era uma reivindicação do movimento de moradia desde a década de 1990 e em abril de 2001 a comunidade realizou a primeira reunião para a discussão de sua construção. As escolas do entorno fizeram um edital para o concurso do nome do Parque e o nome Pinheirinho d ́Água foi eleito pela população em outubro de 2001. Os professores das escolas envolvidas no processo tiveram a assessoria da professora Nídia Nacib Pontuschka, da Faculdade de Educação da USP, para o uso da metodologia de Estudo do Meio e em 2002 somou-se ao movimento a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). Iniciando uma parceria entre escola/universidade/comunidade. Foram realizados estudos do meio, oficinas, mapeamento da área, construção de maquetes, pesquisas de campo e levantamento dos desejos que a comunidade tinha para o parque, que foram projetados por alunos da professora Catharina Cordeiro de Lima, da FAU. Esses projetos foram apresentados a comunidade no final de 2002, na EMEF Luiz David Sobrinho.(…) O parque é inaugurado em 2009, distorcendo e desrespeitando o projeto original, o que causou uma enorme frustração em todos aqueles que militavam pelo parque há anos. Em 2012 uma segunda oficina (Charrete) é realizada durante uma semana na EMEF Rogê Ferreira, em parceria com a FAU/USP. O que resulta nos projetos Parque Escola e Escola Parque. Em abril desse ano ocorre um Crime Ambiental de grandes proporções no parque, tendo sido depositada toneladas de entulho na área do Brejo. A situação é encaminhada para o Ministério Público. Em 2013, após um incêndio de grandes proporções, as escolas do entorno se unem e realizam uma aula pública, reivindicando condições mínimas para o uso do parque. A partir desse momento passa a haver uma rearticulação das escolas no território e em outubro desse ano o prefeito Fernando Haddad é recebido por representantes da comunidade, das escolas do entorno e da Diretoria Regional de Educação de Pirituba, na EMEF Rogê Ferreira e compromete-se com a revitalização do parque, inserido na proposta de Território CEU. Em 2014 é proposto um seminário com as escolas do entorno para o início do ano letivo, pensando na proposta educadora do Parque. Ainda no primeiro semestre são realizadas oficinas entre membros da comunidade, do Conselho Gestor do Parque, representantes da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, da FAU, das Unidades Educacionais, da Diretoria Regional de Educação e da SMDU, para pensar a construção do CEU e do Território CEU. O projeto final é apresentado pela Secretaria para a comunidade. Passam a haver formações mensais com os coordenadores pedagógicos das CEIs, EMEIs e EMEFs, que refletem a potencialidade pedagógica do parque. (…) As EMEFs se articulam para a construção de um Blog do Parque Educador Pinheirinho d ́Água e para a realização de TCAs tendo o parque como tema central. É proposta uma ação articulada das Unidades Educacionais para a Semana do Meio Ambiente. E a história continua. O conceito de Parque Educador que vem sendo discutido e aprimorado pelas escolas do entorno, representa na verdade uma síntese do processo vivido pelo Parque Pinheirinho d ́Água. A partir das discussões realizadas com as escolas, entende-se que devem ser preservadas e conservadas suas áreas de preservação permanente, nascentes, flora e fauna”. fonte: http://pinheirinhodagua.blogspot.com.br

A OFICINA As oficinas foram realizadas em um processo de imersão de cinco dias na região, utilizando recursos pedagógicos e tecnológicos viabilizados pelo Labmovel. O objetivo foi trabalhar em proximidade com a comunidade, buscando uma escuta atenta às demandas para a implantação do Território CEU Pinheirinho d’Agua. Com uma programação voltada ao encontro com grupos de diferentes faixas etárias - crianças, jovens, adultos-idosos e mulheres - as oficinas ofereceram atividades nas quais os participantes eram estimulados a refletir sobre temas relacionados aos usos e fluxos na região: Itinerários, equipamentos de maior frequência, lugares e atividades de preferência, os destaques, as características e as dificuldades próprias do bairro, as atividades extracurriculares realizadas, a oferta de atividades para o tempo livre, bem como as expectativas para o futuro CEU. As ideias do pensador e educador Anísio Spínola Teixeira, autor de “Educação e o Mundo Moderno”, foram transpostas para a prática que transcorreu, em grande parte, na área externa do parque. Anísio seria nosso conforto e estímulo, no contato atento, que lembrávamos uns a outros, ser a tona do que estava prestes a ser levado ali. Estávamos todos concentrados em dar sentido a essa experiência de participação das pessoas que, não duvidávamos, eram providas de desejos e prioridades para si próprio, para sua família, para a comunidade, para o bairro e para a cidade.

METODOLOGIA Toda a experiência de educador deveria estar a favor de uma escuta sensível, dando o contorno do contato com essas pessoas, habitantes da região, para que se sentissem à vontade e certos de que estávamos ali para lhes dar voz. Buscou-se registrar as atividades de várias maneiras, anotando as falas, fotografando e gravando em video a participação de todos. Cuidados foram tomados para que os participantes se sentissem à vontade durante as filmagens, com autorizações de uso de imagem devidamente encaminhadas. Um mapa da área do entorno do Território CEU Pinheirinho d’Água foi viabilizado com a finalidade de que nele fosse marcado as áreas e os equipamentos de uso, assim como o itinerário habitual de cada um. Durante o transcorrer da semana, foram muitos os momentos em que o sentido de nossa atividade de escuta se elucidava, à medida que tínhamos um retorno muito imediato nos depoimentos e no desembaraço dos participantes, afinados à condição de protagonista, mote de nosso encontro. Mesmo nos grupos de crianças, a fala de cada uma delas, mediadas por brincadeiras, se fez representativa, revelando as atividades cotidianas e trazendo seus interesses e usos para o CEU. Por outro lado, estávamos vivenciando, com os grupos de pessoas compostos por jovens, adultos e mulheres, uma escuta de falas muito estruturadas, que trazia uma história de envolvimento cultural, político e social na região. Foi através da maneira como cada um deles se colocava como morador e provedor de suas próprias prioridades, que conhecíamos seus usos do bairro e expectativas para o território CEU.

COMO AS OFICINAS FORAM ENCAMINHADAS Crianças (5-12 anos): o tema para esse encontro foi “os brinquedos e brincadeiras no bairro”. As crianças eram incentivadas a narrar suas brincadeiras, os espaços de usos para cada uma delas e as frequentes companhias ao brincar. Introduzimos “os segredinhos” nessa dinâmica, para evitar que as crianças repetissem as falas de seus colegas e pudéssemos, de fato, ter uma variedade de respostas para as questões em torno do que fazem e gostariam de fazer no bairro. Aproveitamos a vinda desse grupo ao parque para brincar, relaxar e cultivar uma relação mais horizontal, que nos permitisse uma escuta mais despojada, precisa e democrática. Adolescentes (12-18 anos): A escuta envolveu os participantes numa dinâmica no qual se reuniam em pequenos grupos, com a finalidade de entrevistar uns aos outros, e conhecer os usos do bairro. Pensar nas perguntas que fariam, no encadeamento dessas perguntas, se colocando do lugar, ora de entrevistador, ora de entrevistado foi o desafio colocado. Chamou a atenção como alguns deles se mostraram maduros, sabendo como se posicionar pelos seus direitos. Durante a dinâmica de gravação das entrevistas, o grupo foi, aos poucos, se soltando, e as sequências.feitas por eles, orientadas pela equipe do Labmovel, trouxeram uma gama de atuações no bairro Grupos esportistas (usuários do parque e organizadores de atividades esportivas): A dinâmica de escuta, cujo tema foi “o que você sabe fazer e poderia ensinar” e “o que você gostaria de aprender”, foi atravessada por uma forte troca entre os participantes. Coletivos culturais: os integrantes de alguns dos grupos locais, vieram ao nosso encontro. Cada coletivo trazendo sua vivência e desejos para suas vidas e carreiras, numa tarde no qual a proposta de escuta se prolongou e sensibilizou a todos.

COMO AS OFICINAS FORAM ENCAMINHADAS Mulheres: um novelo de lã era jogado de uma para outra à medida que se apresentavam, compondo ali uma metáfora de uma rede formada entre elas. No decorrer da escuta desse grupo de mulheres, suas lembranças, usos e o passar dos dias na região, levou a conversa para a ideia de que “espaços e territórios também são aqueles construídos pela memória”. A participação foi marcada por falas repletas de muita propriedade. Com uma forte conotação de quem realmente vive e participa do bairro, veio de encontro à convicção de que estavam ali, mais uma vez, para agregar valor e sentido, compondo uma importante representação na escuta que antecede a ativação do CEU. Adultos (jardineiros do parque): foi sugerido que narrassem o seu cotidiano, suas atividades pessoais, suas memórias e as transformações do bairro no decorrer dos anos. O mapa da região foi o suporte para o registro e marcação de áreas do parque que passaram por transformações. A ideia original para esta oficina, que se organizaria através de fotos trazidas pelos participantes, se converteu numa escuta a partir dos conhecimentos que os jardineiros tinham sobre plantas e ervas medicinais, acompanhada de uma caminhada e exploração do Parque Pinheirinho d’Água. A tomada de decisão sobre o rumo que a oficina irá seguir, compõe a orientação de que escuta pode se dar por dois caminhos: o que planejamos para a atividade ou o que o próprio grupo vai nos trazendo.

Pinheirinho D’Água Prepare-se para o Laboratório CEU do Território Pinheirinho D’Água! Durante cinco dias serão realizadas atividades para ouvir o que a comunidade tem a dizer sobre o projeto do CEU no Pinheirinho D’Água. Contamos com a sua participação!

Laboratório CEU Território Pinheirinho D’Água Prepare-se para o Laboratório CEU do Território Pinheirinho D’Água! Durante cinco dias serão realizadas atividades para ouvir o que a comunidade tem a dizer sobre o projeto do CEU no Pinheirinho D’Água. Contamos com a sua participação! ter 15|03

qua 16|03

qui 17|03

sex 18|03

sáb19|03

9-11h Oficina adolescentes (12-18 anos) Local: EMEF Antonio Rodrigues de Campos. Traga o equipamento que você usa para fotografar.

9-11h Oficina com grupos esportivos Local: Campo de futebol do Parque Pinheirinho D’Água.

9-11h Oficina com crianças (5-8 anos) Local: EMEF Dr. José Kaufmann

9-11h Oficina com mulheres Local: Casarão do Parque Pinheirinho D’Água. Traga um objeto que diz sobre você.

14h-16h Oficina com crianças (8-12 anos) Local: EMEF Pe Leonel Franca.

14h-16h Oficina com coletivos de cultura Local: Adm do Parque. Se chover, será no Casarão do Parque Pinheirinho D’Água.

14h-16h Oficina com adolescentes (12-18 anos) Local: EMEF Leonel Franca. Traga o equipamento que você usa para fotografar.

14h-16h Oficina com adultos Local: Adm do Parque. Se chover, será no Casarão do Parque Pinheirinho D’Água. Traga fotos para compartilhar sua história no bairro.

9-11h Encerramento! Apresentação do projeto e dos resultados do Laboratório! Local: Churrasqueira do Parque. Se chover, no Casarão do Parque Pinheirinho D’Água.

EE PROF. THAYANE LUZIMARA COSTA VALCACER

COLÉGIO CARROSSEL

CEU PINHEIRINHO D’ÁGUA

EMEI ZELIA GATTAI CEI CITY JARAGUA IV