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APOCALYPSE
APOCALYPSE. Trata-se de uma seqüência de 16 fotos deformadas para se transformarem em quadrados (formato de 60 x 60 cm, cada foto) e montadas como um grande quadro (obviamente também quadrado). Quadro, aqui, diz respeito à imagem, à literalidade necessária da percepção da imagem para o surgimento de uma escritura. Poderiam ser consideradas como “viagens”, “divagações”. Trata-se de um “Apocalypse” muito particular. As dez fotos superiores retratam dois pontos na rodovia “Fernão Dias”. O primeiro ponto é o quilômetro de número 666. Por uma grande “coincidência”, tal quilômetro se situa em uma saída para uma cidade chamada “PERDÕES”. O nome “Perdões” remete à “piedade” e, para Rosseau [relido por Derrida], a “piedade” foi a primeira manifestação da “natureza” humana que permitiu o surgimento da linguagem. Essa estranha coincidência não termina por aí. Nessa saída 666 temos o livre-arbítrio para seguir em frente, na direção de “BELO HORIZONTE” ou podemos retornar, com outras opções: entre parar em “Perdões”, virar à direita e seguir para uma cidade chamada “CAMPO BELO”, ou retornar para “SÃO PAULO”. Supondo a hipótese de seguir rumo a um “Belo Horizonte”, há um segundo ponto, outra saída nesse caminho, inscrita no quilômetro 606. Em tal ponto de desvio [também possibilidade de retorno] está um dos caminhos de encontro com a cidade de origem de um autor que teoricamente já está morto, “DIVINÓPOLIS”, não sem antes passar, nessa trajetória, por “OLIVEIRA” (que não remete à presença de olivais, mas a um “Jardim das Oliveiras”). Para quem nasceu em uma cidade chamada de “DIVINÓPOLIS”, ou seja, uma pólis do Divino Espírito Santo, o assunto da Trindade não poderia ter passado despercebido em vida. Se a linguagem não é capaz de oferecer um relato coerente do “Divino”, como afirma Harold Bloom, a análise da realidade que utiliza qualquer forma de linguagem também está sob forma de suspeita. Até que ponto é possível chegar no processo de literalização de uma metáfora? Se existisse tal ponto, ele se revelaria como um lugar de difícil percepção ou localização, talvez um ponto que fosse múltiplo de três, talvez uma nova metáfora para desconstruir (ou construir) um novo acesso, uma nova saída para um portal definitivamente estranho. Essa “estranheza” é a coexistência de três objetos em uma única coisa. Essa “estranha” seqüência descendente de fotos desse caminho é interrompida por seis fotos que retratam outra “coincidência”. Em um dos vôos a caminho de um trabalho, aquele suposto autor morto percebeu que o prefixo do avião em que ele viajava era “GOD” e fotografou os momentos de descida desse avião até ele, “GOD”, estar completamente parado no chão para ser reabastecido. Essas seis fotos formam um “L” deitado nesse quadrado. Um “L” que foi exposto verticalmente várias vezes na instalação “Love & Hate”. Um “L” que é evidenciado na “Tese na [da] caixa preta” como a letra que transforma a palavra “WORD” (palavra) em “WORLD” (mundo).
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