G. Radaelli

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Radaelli
















G. R


Radaelli Pinturas e Desenhos

Bolsa de Arte de Porto Alegre


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 30x30cm


Paisagens suspeitas Tabajara Ruas Não sei se o Gelson Radaelli tem a intenção de assustar as pessoas com seu trabalho, mas conheço muita gente que tem medo dos seus quadros. Na verdade, andei constatando, sentem horror quase pânico diante daqueles quadros enormes que nos contemplam. Um pouco por isso; diante dos quadros de Radaelli nos sentimos contemplados. Isso, é evidente, dá um certo calafrio no incauto observador. Não a banalidade do frio na espinha que causa o filme de terror ou os romances de Stephen King. É outro calafrio. Talvez aquele que nos atinge quando fechamos a última página de “A outra volta do parafuso” de Henry James, ou caminhamos solitários por certas ruas de Porto Alegre. Quando somos obrigados a pensar. Quando olhamos a nossa volta. Quando vemos essas paredes cinzas, esses rostos frios, essas pequenas mãos sujas estendidas, esses papéis voando, esses homens de sobretudo preto que circulam silenciosos e nos olham sem dizer nada. Os quadros de Radaelli nos contemplam sem compaixão e nos deixam desamparados, com sentimento de culpa que não sabemos identificar porque nos sentimos suspeitos de alguma coisa. Alguma coisa muita estranha, muito feia, muito escondida fizemos em algum lugar e os quadros estão ali, mudos, grandes, em preto e branco e com aquela pastosa massa vermelha sangue para nos informar que eles sabem. Eles sabem. Alguma coisa eles sabem, alguma coisa que nós mesmos já esquecemos, mas aqueles quadros enormes, com aqueles homens disformes, sabem. Neste emaranhado de mentiras em que se transformou nosso universo de pobres humanos, tudo é suspeito, e a pintura de Radaelli não nos deixa esquecer isso. As benesses são suspeitas, os elogios são suspeitos, a grana é suspeita, a glória é ainda mais suspeita, a paisagem é suspeita. A única e minúscula esperança, a básica esperança é a pintura em si mesma, incorruptível no seu horror velado: ela é a tenaz resistência do artista, o corredor impoluto que o leva para a alma.

Bolsa de Arte, Porto Alegre, 2008


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 175x196cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 195x170cm.


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 195x170cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 175x196cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 148x156cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 195x170cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 195x170cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 175x196cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 30x30cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 30x20cm

sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 30x20cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 30x20cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 30x20cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 24x16cm

sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 24x16cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 24x16cm


sem t铆tulo (untitled), 2008 贸leo sobre tela (oil on canvas) 16x24cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 30x30cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 150x180cm


A Ação Coagulada João Gilberto Noll Se há algum enigma na figura fantasmática presente em grande parte da obra de Radaelli, meio curvada às vezes, suspendendo gestos impossíveis em outras, este enigma não é o dessas esfinges – a aniquilar o candidato a decifrador com a arma de seu sentido secreto. Esse ser tantas vezes esbranquiçado, a se vazar num cenário de mesmo tom (chapado, sem grandes diferenciais que o qualifiquem como ambiente), esse ser sem órgãos, quase que arrancado de sua própria espécie, parece desprovido da capacitação humana de confrontação com o outro. Na vacuidade, se revela. Mas é desta própria abstinência de significações que emerge - aos olhos de quem vê – a sua aura de aspiração imponderável, ou melhor, o seu mistério, essa densidade difusa, aberta enfim ao nosso leque de interrogações. Quase inóspito ao conhecimento, ele se despoja ao extremo para oferecer uma outra face, como se feita com a homogeneidade do osso, nua, exemplar: a reinventada face de seu próprio descaminho. Em outras palavras, essa arte de enervações desencapadas como uivos, vertida no alfabeto do inconsciente, expõe a diáspora de nossa atual, opaca, avulsa identidade. Aí repousa talvez a radicalidade do pulso de Radaelli. Ele mostra os vultos desgarrados do nosso tempo, desaguados num mar de imprecisões, espectros do indistinto, a esboçar repetidamente um sentido perverso que teima em se negar. Poderíamos ver nessa obra uma dramaturgia do impasse, onde a ação se coagula, extraviada de sua fonte, amputada já de suas funções. Quem sabe alguém pudesse lastimar que o impressionante vigor dessa pintura se alimente de sua colossal aridez. Nesse caso, esse alguém talvez estivesse se esquecendo de que alguns dos grandes momentos estéticos, hoje, encenam esse sentimento expatriado não com um engenho paradidático, mas com o próprio veneno a se desafiar como vacina. É possível que, nesse rito da falha humanista, se possa surpreender uma espécie de reverberação de alguns ideais traídos. O homem sábio, aqui, como que imprime um poder curativo à sua própria clandestinidade, reconstituindo de alguma forma o mito da ruptura ancestral, de história recalcada, mas agora repotencializada no viço da atualidade artística. Uma história, sim, novamente pulsante no advento da memória.

Bolsa de Arte, Porto Alegre, 2000


sem t铆tulo (untitled), 2004 贸leo sobre tela (oil on canvas) 164x152cm


sem t铆tulo (untitled), 2004 贸leo sobre tela (oil on canvas) 164x152cm


sem t铆tulo (untitled), 2004 贸leo sobre tela (oil on canvas) 164x152cm


sem t铆tulo (untitled), 2004 贸leo sobre tela (oil on canvas) 164x152cm


sem t铆tulo (untitled), 2000 贸leo sobre tela (oil on canvas) 180x150cm


sem t铆tulo (untitled), 2004 贸leo sobre tela (oil on canvas) 164x152cm


sem t铆tulo (untitled), 2000 贸leo sobre tela (oil on canvas) 180x150cm


sem t铆tulo (untitled), 2003 贸leo sobre tela (oil on canvas) 164x152cm


sem t铆tulo (untitled), 2000 贸leo sobre tela (oil on canvas) 180x150cm


sem t铆tulo (untitled), 2004 贸leo sobre tela (oil on canvas) 164x152cm


sem t铆tulo (untitled), 2001 贸leo sobre tela (oil on canvas) 198x152cm


sem t铆tulo (untitled), 2000 贸leo sobre tela (oil on canvas) 180x150cm


sem t铆tulo (untitled), 1998 贸leo sobre tela (oil on canvas) 150x180cm


A Memória das Formas dois Santos dos Santos Gelson Radaelli define-se como pintor, apenas pintor, absolutamente pintor. Não mistura técnicas, não busca artifícios, nem se esconde atrás de conceitos. Seus instrumentos de trabalho são elementares – pincel, tinta e tela – utensílios ainda antigos, propensos ao arcaico: Bela palavra para um artista que recusa a gratuidade e persegue acima de tudo a emoção. Ele mesmo confessa, entre irônico e sério, ao observar as novas tecnologias, as modas e o experimentalismo exacerbado e vazio, que se encontra mais próximo da pintura paleolítica que das imagens projetadas nos computadores. Desejaria Radaelli regressar às cavernas? Tornou-se impossível para o artista na era da história, após o conhecimento da escrita e outros meios, com a carga de informação, o fardo de referências e o olho viciado que possui, alcançar a pureza, a força e a singularidade de nossos ancestrais remotos. Eles estavam poderosamente ligados ao cosmo através do mágico, do sagrado e do religioso no sentido primordial, sem teologias. Filhos de deuses, reinventaram o mundo na medida de suas necessidades. Poucos traços, e o pesado bisão se põe em movimento; alguns riscos, e se tem a leveza de cavalos em fuga; quantas linhas, e uma manada de rinocerontes parece levantar vôo. Arquétipos, essas impressões tremeluzem no fundo de nosso imaginário. O que será agora de Radaelli, que se empenha tão severamente em apagar rastros, destruir pistas e combater o óbvio, desprezando o fácil porque o fácil lhe dá engulhos? Aplica-se aqui a resposta que o fotógrafo-filósofo Miguel Rio Branco deu numa entrevista recente: “É preciso deseducar o olhar para fazer qualquer coisa. A originalidade está dentro de nós, não na busca estéril do inédito. Isso é coisa de publicitário”. Só resta a este expressionista irremediável a experiência alucinatória da razão e o legado de seus mestres, dentre os quais sobressai, talvez como inconsciente coletivo, aquela criatura dos tempos da pedra lascada. Porque é dessa arquimemória – espécie de matriz das formas – em que todas as coisas estão amalgamadas de maneira primitiva, embrionária e amorfa, que Radaelli extrai as suas figuras. É deste lodo pré-humano, do sonho mais que da inteligência, que ele, com mãos trêmulas, intenta dar vida a manchas que teimam em desaparecer. Dali, onde queima o fogo inaugural, o artista lança seu grito contra a morte.

Delphus Galeria de Arte, Porto Alegre, 1998


sem t铆tulo (untitled), 2000 贸leo sobre tela (oil on canvas) 164x152cm


sem t铆tulo (untitled), 1998 贸leo sobre tela (oil on canvas) 152x164cm


sem t铆tulo (untitled), 1996 贸leo sobre tela (oil on canvas) 140x180cm


sem t铆tulo (untitled), 1998 贸leo sobre tela (oil on canvas) 140x180cm


sem t铆tulo (untitled), 1995 贸leo sobre tela (oil on canvas) 150x180cm


Persistência do Humano Luiz Carlos Barbosa Pra início de conversa, é melhor alertar que é mais interessante abandonar esta leitura e ir ver as pinturas de Gelson Radaelli. Se o espectador não aceitar essa recomendação, é bom saber logo que o trabalho deste artista é para ser visto através dos olhos. O que os olhos não conectarem on line com a alma não será visto mesmo. O resto são referências culturais e especulações, medidas pela subjetividade de quem gosta do que Radaelli faz e escuta o que ele diz sobre o seu próprio trabalho. E ele fala pouco, seu vocabulário abundante é de fato a pintura. Com a pintura – um dos suportes mais tradicionais das artes plásticas – ele desenvolve um tema igualmente ortodoxo na História da Arte: a figura humana. Gelson Radaelli é um pintor que pinta a figura humana. Ao proceder assim, este artista encara com determinação um “estilo de época” marcado pela destruição das estruturas formais da arte, na qual predomina a banalização do fazer e do fruir artísticos. Apesar das exceções – em que as experimentações com suportes e linguagens resultam em realizações artísticas de vigor – essa tendência é tão hegemônica e nefasta que levou o mestre Ferreira Gullar a pensar na morte da arte. O crítico herdeiro de Mário Pedrosa constata exatamente a incomunicabilidade intrínseca da arte atual e a sua ruptura com o referencial humano, substituída pelo “discurso” verbal e pictórico sobre a própria arte. Ora, aquilo que não é humano não poderá ser universal. E o humano só poderá ser universal mediado pela linguagem. Ou não poderá? Se depender de Radaelli, este assassinato anunciado por Gullar não se consumará. Ele se refere ao humano com a dramaticidade do Expressionismo sem deixar de ser absolutamente contemporâneo. Portanto, não ignora as questões colocadas pela arte atual, mas faz uma opção clara, explícita e legítima: busca plasmar sua linguagem pessoal e não abdica de tocar o outro. Neste movimento, dialoga com o melhor da tradição artística em termos formais e ideológicos. Comprometidos com seu tempo, o artista e sua obra parecem nos desafiar a uma reflexão essencial: E daí? Este “E daí?” instintivo e irracional revela a postura de quem sabe que o presente é estratégico para o futuro. É com esta espontaneidade não ingênua que o artista realiza suas telas de grandes dimensões, pintadas com tintas pva e acrílica, manejadas com pincéis e espátulas que detêm o movimento das mãos, aplacando quem sabe a explosão da ira ou da ternura. Depois vem a racionalização. Neste processo muitas composições desaparecem sob a massa de tinta com a qual o artista pretende reparar o suposto equívoco. Caráter de criador (demiurgo?) quer reparar a pintura, reparar a si mesmo o mundo? O repertório plástico de Radaelli é conseqüência desta proposta generosa que supera os limites da arte. Desde 1988 Radaelli fixou-se no preto e no branco, abandonando definitivamente as cores irreverentes que povoavam seus quadros até então, resultado de sua experiência com a atividade gráfica. Mas não é só. O uso exclusivo do branco, todas as cores, e do preto, nenhuma cor, revela a eleição do que é essencial na pintura e talvez na vida. Há situações limites, apenas duas decisões. O homem frente a si mesmo e frente à História? O meio de tom de cinza nas telas de Radaelli parece pulsar e se transformar em cores, cores estranhas que apenas acentuam a ausência de esperança das suas figuras singelas, figuras de uma amargura discreta e resignada. Figuras cheias de dignidade, que se insinuam com sutileza e se escondem com pudor. Essas pinturas em preto e branco não têm um quê de literário, de descrição e por isso mesmo se realizam como arte, abrem espaços e volumes através dos quais o espectador é convocado a projetar sua própria imaginação e sensibilidade.

Galeria Iberê Camargo, Usina do Gasômetro, Porto Alegre, 1996


sem t铆tulo (untitled), 1990 贸leo sobre tela (oil on canvas) 125x146cm


sem t铆tulo (untitled), 1995 贸leo sobre tela (oil on canvas) 150x180cm


sem t铆tulo (untitled), 1991 贸leo sobre tela (oil on canvas) 100x100cm


Provocações Sociais Armindo Trevisan O forte, o inimitável de Radaelli é o traço, que o leva a reutilizar grafismos pré-histórico, que se intrometem em suas criações de uma forma subliminal – veja-se, por exemplo, a pintura em PVA e acrílico, de 1991, da coleção de Ronaldo Assumpção, na qual o artista faz aparecer duas mãos da Gruta de Cargas, na França. Não se trata de um traço delicado, acariciador; pelo contrário, o traço de Radaelli tem qualquer coisa de uma incisão, quando não se limita a configurar enormes massas escuras, ou brancas, pois – para o artista – as coisas não admitem meios-tons. Tudo é preto e branco, o branco servindo, sobretudo, para a iluminação dos rostos que, paradoxalmente, são sempre sombrios. Nenhum sorriso nessas faces, nenhuma fresta por onde possa escapar um sentimento, uma gentileza. E dizer que o artista nada possui de truculento: é alma sensível, dotada de uma carga humana de simpatia e solidariedade que o tornam um ser profundamente social. A chave talvez resida nisso: na sua necessidade de golpear a sociedade burguesa em que vivemos, que sistematicamente exclui, diríamos até “ex-comunga”, os verdadeiros sentimentos, que deveriam reger as relações humanas. É por isso que Radaelli mergulha nelas, vai até o fundo, chega ao paredón onde a carne, a alma e o destino físico e psíquico das pessoas se torna ineludível. É arte que punge, que fere, que obriga o espectador e recolherse, humilhado às vezes, à sua própria insignificância e egoísmo. Não obstante, insistimos num ponto: a despeito de semelhante pontaria, de semelhante objeção sistemática à monotonia e, sobretudo, à hipocrisia dos sentimentos correntes, Radaelli persegue outro objetivo: o de tocar, mediante sua opção maniqueísta por duas cores – embora, observando-se bem, possamos captar a riquezas de nuances que ele insere nesse epidérmico radicalismo -; repetimos: seu objetivo é tocar o espectador, toca-lo onde ele menos espera, na sua inércia e indiferença em relação a vida. A arte de Radaelli, filia-se a uma corrente das mais ricas e frutíferas do mundo e do Brasil: o Expressionismo. Mas é um expressionismo que se renova, que retoma as lições candentes do grande Rouault, haja vista o comovente quadro do pai velado por duas mulheres, preferindo, em determinadas ocasiões, despoja-las de sua aura “humanista” para, desse modo, aprofundar a denúncia. Uma de suas criações mais notáveis é a do homem, também velado, ao redor do qual se ajuntam 6 personagens que, por uma estranha ressonância imagética, evocam “A Lição de Anatomia” de Rembrant, embora não exista o médico instrutor, nem os alunos interessados em anatomia. Não minimizemos a sagacidade de Radaelli: ele é um artista qualificado, que sabe o que faz, que sabe até o que sente, e que, com sua produção agressiva, não só visa sacudir o leitor atento a sua obra, mas ainda, por paradoxal que isto pareça, deleita-lo. Claro está, trata-se de um prazer que não existe sem um mínimo de simpatia humana, sem um mínimo de autocrítica. O contemplador terá direito à semelhante arte na medida em que se dispuser a receber também a sua mensagem.

Sala Miguel Bakun, Curitiba, 1992


sem t铆tulo (untitled), 1991 贸leo sobre tela (oil on canvas) 80x124cm


Mundo Agônico Eunice Gruman O trabalho de Gelson Radaelli já nos permite coloca-lo dentro do circuito restrito dos produtores do que chamamos a verdadeira arte – aquela que passa ao largo de si mesma, do objeto de culto, para tornar-se pretexto de reflexão. Seu grande tema é a figura humana – o homem solitário, sem raízes e sem expectativas, que não conta com o consolo de um ambiente familiar, de um cenário que lhe seja próprio, ou mesmo de adereços que o integrem a uma época. Voltado para si mesmo, este homem é constituído de gestos amplos e vigorosos, tem contornos internos mais nítidos e precisos do que aqueles que o destacam do espaço circundante. A despeito de não haver nada sobre o suporte além de tinta branca e preta, as peças detém um extraordinário relevo que as projeta violentamente contra os nossos olhos. Algumas molduras pintadas nas próprias obras ajudam a sublinhar o isolamento dos personagens, como se o artista quisesse subtraí-lo até mesmo da convivência com o espaço exterior e real da galeria. Donas de uma dramaticidade contida, as figuras de Radaelli prescindem das nuances do cinza e mais ainda da exaltação do colorido. Não hesitam. Mantém a dignidade, embora por vezes transformem-se quase em abstrações, em não-seres, na busca de trocas e diálogos que não chegam a se consumar. Diante de peças como aquela dominada por impressionante diagonal que organiza um grupo em torno do personagem que agoniza, é fácil pensar no melhor expressionismo alemão, pelo tratamento pictórico, pelos recursos de composição e até mesmo pela temática. Mas é num precursor deste movimento que encontramos melhor paralelo para a arte de Radaelli: no Munch de “O Grito”, a despeito da importância conferida pelo norueguês à cor. Sua pintura mais conhecida ilustra o terror de alguém subitamente atingido pelo sofrimento do mundo, resumido num uivo. Isoladas deste mundo, as figuras do pintor gaúcho ouvem antes o embate dos conflitos e o som dos lamentos internos. Mas não reagem com pânico. Sua resposta é o ensimesmamento, a contenção da ansiedade. A expressividade está latente, poreja daqui e dali, mas nunca se declara. Nas peças em que parece haver um duplo da figura central, a troca poderia se desenvolver, mas o resultado não nos é dado a ver. Sob a sombra de um sol (lua?) negro, seres humanos vivem procurando o autoconhecimento despido do supérfluo, a afirmação e o encontro. O desencanto e a ironia desta busca está, sem dúvida, nos nossos olhos, e dificilmente haveria algo mais característico deste fin-de-siècle.

Centro Municipal de Cultura, Porto Alegre, 1991


sem t铆tulo (untitled), 1991 贸leo sobre tela (oil on canvas) 140x198cm


OA, 1990 贸leo sobre tela (oil on canvas) 150x100cm


G. Radaelli Paintings e Drawings


Suspect Landscapes Tabajara Ruas

The Coagulated Action João Gilberto Noll

Bolsa de Arte, Porto Alegre, 2008

Bolsa de Arte, Porto Alegre, 2000

I am not sure whether Gelson Radaelli intends to scare people with his work but I do know many people get scared by his paintings. As a matter of fact, I found, they feel horror, near panic before those huge pictures that stare at us. This is a bit why we feel contemplated before Radaelli´s paintings. This is clear. It gives the careless observer a certain shiver. Not the banality of the cold shivers caused by horror movies or Stephen King novels. It is about some other chill. Maybe one that strikes us when we turn the last page of “Turn of the Screw” by Henry James, or when we walk alone around certain streets of Porto Alegre, when we are compelled to think, when we look around. When we see grey walls, those cold faces, those small stretched out hands, those flying papers, those men wearing black overcoats, walking around and saying nothing as they look at us. The paintings by Radaelli gaze at us with no compassion and leave us to desolation, with a feeling of guilt that hardly allows us to find out why we feel suspect of something. Something very strange, very ugly, very disguised have we done somewhere and the paintings are there, speechless, huge, in black and white with that pasty blood-red mass, to tell us that they know it. They know. They know something. Something we have long forgotten. But those large paintings, with those deformed men, do know. Amidst this bunch of lies into which our universe of poor humans has turned, everything is suspect. And Radaelli´s painting does not let it go unnoticed. Good acts are fishy, compliments are fishy, money is fishy, glory even more fishy, the landscape is fishy. The only and minute hope, the basic hope is the painting in itself, incorruptible in its hidden horror: it is the tenacious resistance of the artist, the unsullied hallway that leads him to the soul.

If there should be some enigma in the phantomlike figure present in great part of the work by Radaelli, half curved at times, suspending impossible gestures at others, this riddle is not the one from those sphinxes – to annihilate the candidate to decipher it with the weapon of its secret sense. This often whitened being, blurred onto a same color-tone scenario (integrated, with no great differences that qualify it as an environment), this being without organs, nearly devoid from its own species, seems deprived from the human ability of confronting the other. In emptiness, it reveals itself. But it is from this very deprival of meaning that its imponderable longing aura emerges – to the eyes of the observer –, or rather, its mystery, this diffuse density, ultimately left open to our range of inquiries. Almost inhospitable to knowledge, it divests itself to the utmost in order to offer another face, as though made with the homogeneity of the bone, bare, model-like: the reinvented face of its own misguidance. In other words, this art with unwrapped enervations such as howls, translated into the alphabet of unconsciousness, exposes the Diaspora of our present, opaque, detached identity. That is probably where the grip of Radaelli lay. He produces figures that are detached from our times, drained into a sea of inexactnesses, spectra of the indistinctive, to repeatedly portray a perverse sense of stubborn self-denial. In this piece of art, one might see the drama of dilemma, in which action coagulates, astray from its source, crippled already from its actions. One might even feel sorry to see the fact that the impressing vigor of this painting feeds on a colossal dryness. In such case, one might be overlooking some great aesthetic moments that currently stage this banned feeling, not as

paradidactic inventive power, but rather as the very venom to be defied as a vaccine. It is possible that, in this ritual of humanist failure, one may spot a kind of reverberation of some betrayed ideals. The wise man, here, seems to coin a curative power onto his own clandestine condition, in some way reconstructing the myth of ancestral breakaway, history crushed down, but now boosted anew by artistic updatedness. History, yes, newly pulsing in the advent of memory. The Memory of Shapes dois Santos dos Santos Delphus Galeria de Arte, Porto Alegre, 1998

Gelson Radaelli defines himself as a painter, an a painter only, absolutely a painter. He does not mix techniques; neither seeks artifices nor hides behind concepts. His working tools are elementary – brush, paint and canvas – utensils still ancient, even tending to be archaic: Beautiful word for an artist who refuses gratuity and pursues emotion above all. He himself gives in, between ironic and seriously, at observing the new technologies, the fashion trends and the empty and exaggerated experimentalism, that he stands closer to Paleolithic painting rather than images projected on computers. Would Radaelli possibly wish to go back to the cave ages? It has become impossible for the artist, in the Era of History, after acquiring writing skills and other media plus the load of information and the burden of references and his biased sight, to reach purity, the strength and the singularity of our remote ancestrals. They were powerfully connected to the cosmos through what is magic, sacred and religious, in the primordial sense, without theologies. Sons of gods, they reinvented the world to the extent of their needs. Few traces, and the heavy bisons are set into motion; some lines, and we have the lightness of the fleeing horses; few more sketches, and a herd of rhinos seems to be taken up to the sky. Archetypes, these impressions waver at the bottom of our imagination.


What will now be made of Radaelli, who is so seriously dedicated to erasing tracks, destroy evidences and fight what is obvious, despising what is easy because the easy makes him sick? The answer that applies here is the one given by the photographer-philosopher Miguel Rio Branco in a recent interview: “It requires de-educating the sight in order to do anything. Originality is inside us, not on the sterile search of the unedited. This is a publicist thing”. The irremediable expressionist is left to the hallucinatory experience of reason and the legacy of his masters, among who maybe as a collective unconsciousness the creature dating back to times of carved stone stands out. Because it is from that arch memory – a kind of a shape matrix – that all these things are amalgamated in primitive, embrionary, amorphous fashion, that Radaelli extracts his figures. It is from that pre-human mud, from dream rather than from intelligence that he, with trembling hands, intends to give life to the patches to the ever-fading patches. Hence, where the primary flame burns, the artist shouts out his call against death. Persistence of the Human Luiz Carlos Barbosa Galeria Iberê Camargo, Usina do Gasômetro,

equally orthodox theme in Art History: the human figure. Gelson Radaelli is a painter who paints the human figure. By doing so, the artist faces with determination a “style of epoch” pinpointed by the destruction of formal art structures, in which the banalizing of artistic doing and fruition predominate. Despite the exceptions – in which experimenting with supports and languages result in vigorous artistic achievement – this tendency is so hegemonic and disgraceful that it led the master Ferreira Gullar to consider the death of art. The critic, inheritor of Mário Pedrosa, finds himself faced with the very intrinsic incommunicability of present art and its rupture with the human referential, replaced by the verbal and pictorial “discourse” about art itself. For what is not human, is no longer universal. And what is human shall only be universal as mediated by language. Or shall it not? If we rely on Radaelli, this assassination announced by Gullar will never come to be. He refers to the human with the dramaticity of Expressionism that never stops being absolutely contemporaneous. Thus, he does not overlook the issues set up by present art, but makes a clear, explicit and legitimate choice: he seeks to plasm his personal language and keeps on touching the other. In this movement, he dialogues with the best artistic tradition in logical and formal terms.

Porto Alegre, 1996

To begin with, it is worth stressing that it is best to drop this reading and go see the paintings by Gelson Radaelli. If the spectator should not take this piece of advice, he should just as well know that the work by the artist is to be seen through the eyes. Whatever is not connected online with the soul will not be seen in any other way. The rest are cultural references and speculations, measured by the subjectivity of those who like what Radaelli does and listens to what he says about his own art. He says little, his abundant vocabulary actually lies in his paintings. With painting – one of the most traditional supports of plastic arts – he develops an

Committed to his time, the artist and his work seem to challenge us for an essential reflection: And so what? This instinctive and irrational “And so what?” reveals the attitude of someone who knows that the present is strategic to the future. It is with non naiv spontaneity that the artist works out his large canvas, painted in acrylic PVA, handled with brushes and spatulas that detain the movement of the hands, maybe softening the burst out of anger or tenderness. Next, follows rationalization. In this process, many compositions disappear under the mass of paint with which the artist intends to fix the presumed misunderstanding. Character of a creator (Demiurge?) wants to repair the painting, to help himself or the world?

The plastic repertoire of Radaelli is the consequence of this generous proposal that overcomes the boundaries of art. Since 1988, Radaelli focused on the black and white, definitely dropping the irreverent colors that had lived in his paintings up to then, as a result of his experience with graphic arts. But that is not all. The exclusive use of white, all colors, and of black and no colors at all, reveals his choice of what is essential in painting and may so be in life. There are boundary situations, two choices only. Man facing himself and facing History? The grey color environment in the canvas by Radaelli seems to pulse and turn into colors, strange colors that only highlight the absence of hope in his plain figures, figures with a resigned and discrete bitterness. Figures full with dignity that subtly show themselves and that bashfully hide. These paintings in black and white have no literary touch, one of description, which is why they are fulfilled as art and open spaces and volumes through which the spectator is called upon to project his own imagination and sensitivity. Social Provocations Armindo Trevisan Sala Miguel Bakun, Curitiba, 1992

The strong, inimitable in Radaelli is the line that makes him reuse pre-historical tracings that interfere with his creations in a subliminal way – for instance, as seen in the acrylic and PVC painting, dated 1991, from the Ronaldo Assumpção collection, in which the artist has two hands come out of the Cargas Grot, in France. This is not a delicate, cherishing trace; on the contrary, the trace by Radaelli has something incisive about it, as it were not limited to depicting huge dark, or white, masses, because – for the artist – things do not allow for half-colors. Everything is in black and white, white serving, above all, to enlighten the faces that, as a paradox, are always shady. No smiles in these faces, no breaches that set free any feeling, or kindness. And in no way does the artist have any cruelty: he has a sensitive soul, full with human content, sympathy and solidarity that make him a deeply social


being. The key might lay in this: his need to strike the bourgeois society in which we live, that systematically outcasts, we might even say “ex-communicates”, the true feelings that should rule over human relations. This is why Radaelli dives into them, dips down to the bottom, reaches the paredón where flesh, the soul and the psychic and physical destiny of people becomes ineludible. It is art that pierces, that hurts, that forces the spectator to retire, humiliated sometimes, to his own insignificance and selfishness. However, we insist on one point: despite the similar target, the similar systematic objection to monotony and, overall, the hypocrisy of current feelings, Radaelli pursues another goal: touching, upon his manicheist two-color option – although, watching closely, we may capture the richness of the nuances he fits into this epidermal radicalism –, here again: his goal is to strike the spectator, touch him where least expected, in his inertia and indifference regarding life. The art by Radaelli, is affiliated to one of the richest and most fruitful currents in Brazil and in the world: Expressionism. But it is a renewed Expressionism, that dates back to the glowing lessons by the great Rouault, considering the touching painting that shows the wake of a father by two women, preferring, in certain occasions, to devoid them from their “humanist” aura and, by doing so, deepen a denouncement. One of his most remarkable creations is the man who, also in his wake, is surrounded by six characters that, for some strange imagetic resonance, invoke “The Anatomy Lesson” by Rembrant, although there is no doctor or instructor, neither students interested in anatomy whatsoever. Let us not minimize the sagacity of Radaelli: he is a qualified artist who knows what he is at, who knows what he feels and who, with his aggressive production, not only aims at shaking up the reader attentive to his work, but also, as much of a paradox as it may seem, delighting him. It is clear, thus, that this is about pleasure that cannot be without minimal human sympathy, without a least of self criticism. The observer will be entitled to similar art as he is willing himself to receive its message

Agonic World Eunice Gruman (Centro Municipal de Cultura, Porto Alegre, 1992)

The work by Gelson Radaelli already allows us to set him amongst a restricted circle of producers of what we call true art – the one that walks on the offing of itself, of the cult object, to become the pretext of reflection. His great theme is the human figure – the solitary man, with no roots and expectations, who does not rely on the consolation of a family-like environment or a scenario that belongs to him or even trimmings that are part of a time. Turned towards himself, this man is made up of wide and vigorous gestures, has inner, precise but more clear-cut contours from those that highlight the surrounding space. Although there is nothing on the support besides the black and white paint, the pieces bear an outstanding relief that violently projects them against our eyes. Some frames painted in the piece itself help do stress the isolation of the characters as if the artist wished to subtract them even from their coexistence with the outside and real space of the art gallery. Possessing a contained dramaticity, the figures of Radaelli renounce not only to the nuances of the grey but also the magnification of the colors. They do not hesitate. They keep their dignity, although sometimes transforming into near abstractions, non-beings, on the search for exchanges and dialogues that do not actually come to be. Before pieces like the one dominated by a striking diagonal that organizes a group around the dying character, the best of German Expressionism easily springs to mind concerning the pictorial treatment, the composition resources as well as the thematics. But it is in a precursor of this movement that we find a better parallel for the art of Radaelli: in the “The Scream” by Munch, despite the importance conferred by the Norwegian artist to color. His most known painting depicts the horror of someone suddenly stricken by the suffering of the world as condensed in a howl. Isolated from this world, the figures of the South Brazilian painter rath-

er heed the clash of conflicts and the sound of inner mourns. But they do not react with panic. Their answer is the self-centeredness, the contention of anxiety. Expressivity is latent, sweating out here and there, although never declared. In the pieces in which there seems to be a double of the central figure, the exchange could develop, but the outcome is not given to our sight. Under the shadow of a black sun (moon?), human beings live their lives seeking for self-knowledge, undressed from the superfluous, the affirmation and the encounter. The disenchantment and the irony of this quest undoubtedly lays in our eyes, and there would hardly something more characteristic of this fin-de-siècle.



Sem tĂ­tulo (untitled), 1999. Ă“leo sobre tela (oil on canvas), 111x222cm.


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


sem t铆tulo (untitled), 1999 贸leo sobre tela (oil on canvas) 111x222cm


Sem tĂ­tulo (untitled), 1999. Ă“leo sobre tela (oil on canvas), 111x222cm.


Paisagens suspeitas Tabajara Ruas

Não sei se o Gelson Radaelli tem a intenção de assustar as pessoas com seu trabalho, mas conheço muita gente que tem medo dos seus quadros. Na verdade, andei constatando, sentem horror quase pânico diante daqueles quadros enormes que nos contemplam. Um pouco por isso; diante dos quadros de Radaelli nos sentimos contemplados. Isso, é evidente, dá um certo calafrio no incauto observador. Não a banalidade do frio na espinha que causa o filme de terror ou os romances de Stephen King. É outro calafrio. Talvez aquele que nos atinge quando fechamos a última página de “A outra volta do parafuso” de Henry James, ou caminhamos solitários por certas ruas de Porto Alegre. Quando somos obrigados a pensar. Quando olhamos a nossa volta. Quando vemos essas paredes cinzas, esses rostos frios, essas pequenas mãos sujas estendidas, esses papéis voando, esses homens de sobretudo preto que circulam silenciosos e nos olham sem dizer nada. Os quadros de Radaelli nos contemplam sem compaixão e nos deixam desamparados, com sentimento de culpa que não sabemos identificar porque nos sentimos suspeitos de alguma coisa. Alguma coisa muita estranha, muito feia, muito escondida fizemos em algum lugar e os quadros estão ali, mudos, grandes, em preto e branco e com aquela pastosa massa vermelha sangue para nos informar que eles sabem. Eles sabem. Alguma coisa eles sabem, alguma coisa que nós mesmos já esquecemos, mas aqueles quadros enormes, com aqueles homens disformes, sabem. Neste emaranhado de mentiras em que se transformou nosso universo de pobres humanos, tudo é suspeito, e a pintura de Radaelli não nos deixa esquecer isso. As benesses são suspeitas, os elogios são suspeitos, a grana é suspeita, a glória é ainda mais suspeita, a paisagem é suspeita. A única e minúscula esperança, a básica esperança é a pintura em si mesma, incorruptível no seu horror velado: ela é a tenaz resistência do artista, o corredor impoluto que o leva para a alma.

Sem título (untitled), 1999. Óleo sobre tela (oil on canvas), 111x222cm.




G. Radaelli Pinturas e Desenhos Paintings and Drawings

Gelson Radaelli é representado pela galeria is represented by the gallery Bolsa de Arte de Porto Alegre

Projeto Gráfico Graphic Design Fabio Zimbres fz@portoweb.com.br Fotos Photos Amilcar Pinto, Clenio Lentino, Eduardo Aigner, Egon Kroeff Neto, Eurico Sales, Fabio Del Re, Fernando Zago, Luiz Eduardo Robinson Achutti e Ruy Varella

Rua Quintino Bocaiúva, 1115 90440-051 Porto Alegre RS Brasil Fone|Fax 55 51 3332.6799 / 3331.6459 bolsadearte@bolsadearte.com.br www.bolsadearte.com.br

Digitalização e tratamento de imagem Scans and Image processing Jorge Gariba / GRB gariba@grbimagem.com.br Tradução Translation Cornelia Stolting

Distribuição Distributed by Livraria Editora Palmarinca 55 51 3026 2744 / 3225 2577 livrariapalmarinca@terra.com.br Impressão Printed by Comunicação Impressa www.graficacomunicacaoipressa.com.br

Porto Alegre, primavera de 2008 Porto Alegre, Spring of 2008

R124g RADAELLI, Gelson G. Radaelli / Gelson Radaelli.– Porto Alegre: [s. ed.], 2008. 96 p.: il.; 23 x 20 cm. Catálogo de obras de Gelson Radaelli. ISBN 978-85-860-72-73-7 1. Arte. 2. Pintura. 3. Gravura. I. Título.

CDU 75

CIP – Catalogação na fonte: Paula Pêgas de Lima CRB 10/1229



G.


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