CIHEL 2012

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AS SUPERFÍCIES AJARDINADAS COMO SISTEMA DIFERENCIADOR NA HABITAÇÃO Vegetated building surfaces as a housing differenciating system

Maria Manso 1, Ana Lídia Virtudes 2 e J. P. Castro-Gomes3

Arq. Maria Manso C-MADE, UBI Covilhã - Portugal

1

Prof.ª Ana Lídia Virtudes

Prof. João CastroGomes

C-MADE, UBI

C-MADE, UBI

Covilhã - Portugal

Covilhã - Portugal

Universidade da Beira Interior (Arquitecta, Estudante de Doutoramento em Engenharia Civil e Bolseira de Investigação no C-MADE - Centre of Materials and Building Technologies, Edifício II das Engenharias, Departmento de Engenharia Civil e Arquitectura, Universidade da Beira Interior, Calçada Fonte do Lameiro, COVILHÃ, PORTUGAL, mcfmm@ubi.pt) 2 Universidade da Beira Interior (Urbanista, Professora Auxiliar, Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura e Investigadora no C-MADE - Centre of Materials and Building Technologies, Edifício II das Engenharias, Departmento de Engenharia Civil e Arquitectura, Universidade da Beira Interior, Calçada Fonte do Lameiro, COVILHÃ, PORTUGAL, virtudes@ubi.pt)

3 Universidade

da Beira Interior (Professor Catedrático, Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura, Universidade da Beira Interior e Coordenador do C-MADE - Centre of Materials and Building Technologies, Edifício II das Engenharias, Departmento de Engenharia Civil e Arquitectura, Universidade da Beira Interior, Calçada Fonte do Lameiro, COVILHÃ, PORTUGAL, castro.gomes@ubi.pt)

Palavras-chave: Coberturas ajardinadas, Fachadas ajardinadas, Reabilitação habitacional, Sistema modular Resumo O modelo de desenvolvimento territorial em Portugal tem-se caracterizado pela expansão urbana assente na construção nova, em detrimento da reabilitação de espaços existentes. O sector da construção registou em 2000, 6% de investimento na reabilitação de edifícios, face aos 33% da média europeia. Paralelamente os resultados preliminares dos Censos 2011 evidenciam, para a última década, um desequilíbrio entre o número de fogos e as necessidades da população com um excedente de 735 mil fogos, num momento de estagnação ou retrocesso do mercado de imobiliário. Estes fatores evidenciam a necessidade de reabilitar o parque edificado, encontrando estratégias adequadas à realidade construtiva portuguesa. 1


As superfícies ajardinadas como sistema diferenciador na habitação Maria Manso et al.

Na cidade contemporânea, a escassez de espaços verdes e de lazer, a par da utilização de superfícies impermeabilizadas em grande escala (edifícios, arruamentos ou logradouros) interrompe as tarefas vitais do solo. Este facto agrava-se em bairros residenciais de elevada densidade construtiva, pelas tipologias dominantes de edifícios de habitação coletiva, inexistência ou crescente ocupação de logradouros. Ora, a dinamização do mercado imobiliário, através da aquisição de habitação e do investimento na reabilitação, pode ser incentivada pela presença de fatores diferenciadores nos imóveis ou na envolvente urbana. Assim, a introdução de coberturas ou fachadas ajardinadas pode constituir um factor diferenciador no sector da habitação, melhorando as suas condições de conforto ambiental, criando espaços verdes sem o consumo de solo, qualificando a imagem e constituindo uma amenidade a todas as escalas. Neste contexto, este artigo aborda alguns resultados preliminares de um projeto de I&D em curso, financiado pela FCT, com o acrónimo GEOGREEN, que visa criar um sistema de peças modulares para execução de coberturas e fachadas verdes, adaptável a edifícios novos ou a reabilitar. A solução de peças modulares visa diferenciar-se dos sistemas convencionais de coberturas e fachadas ajardinadas, por ser adaptável a diversas configurações de superfícies, quer sejam horizontais, verticais, inclinadas ou curvas. As peças modulares são constituídas por camadas de diferentes materiais, combinando características como a baixa densidade, porosidade, retenção de água, isolamento térmico, resistência, durabilidade e resistência ao fogo. Este sistema destaca-se pela integração de materiais não convencionais elaborados com base no reaproveitamento de desperdícios industriais, visando minimizar o seu impacte ambiental. Salienta-se a utilização de materiais de activação alcalina com base na transformação de lamas residuais das minas da Panasqueira, visando minimizar a energia incorporada do sistema e as emissões de CO2, promovendo a reciclagem e valorização de resíduos. Trata-se de um sistema modular concebido para simplificar os processos de montagem e de manutenção, para integrar vegetação autóctone que possua baixas necessidades de irrigação e cuja composição contribua para melhorar as condições ambientais, térmicas e acústicas da envolvente do edifício. 1.

INTRODUÇÃO

Em Portugal o modelo de desenvolvimento territorial dos meios urbanos tem-se baseado na expansão urbana com base na promoção de construção nova. Os resultados dos Censos 2011 indicam que na última década o parque habitacional português registou um forte crescimento (12,1%), pese embora se verifique um abrandamento quando comparado com a década de noventa. Tal deu origem a num desequilíbrio entre o número de fogos e as necessidades da população com um excedente de 735 mil fogos [1], num momento de estagnação ou retrocesso do mercado de imobiliário. A promoção da construção nova em Portugal foi acompanhada por um agravar da degradação da construção existente, sendo escasso o investimento na manutenção e reabilitação de edifícios. Em Portugal, no ano 2000 assinalou-se um investimento de 6% do sector da construção na reabilitação de edifícios, o que se situa muito abaixo dos 33% da média europeia [2], tornando-se fundamental encontrar estratégias de intervenção adequadas à realidade construtiva portuguesa. De facto, o ambiente urbano da maioria das cidades portuguesas é dominado pelo espaço construído e impermeabilizado (edifícios, arruamentos ou logradouros) em detrimento da integração de espaços ajardinados e de lazer. No contexto habitacional as áreas urbanas portuguesas centraram-se na densificação do edificado, recorrendo a tipologias de habitação colectiva, anulando a existência de logradouros ou previlegiando a sua ocupação. Nas zonas residenciais as características físicas dos espaços urbanos influenciam o conjunto de atividades que neles se realizam, nomeadamente as relações de proximidade e interacção social. De facto, a qualidade dos espaços exteriores urbanos estimula a prática de atividades sociais e acontecimentos, formando um tecido comunitário com interesses comuns, o que nos leva a crer que as decisões de projeto urbano influenciam a vivência dos espaços exteriores [3]. 2


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Uma zona residencial agradável é aquela que permite o sentido de segurança e protecção contra a delinquência, privilegia o peão em detrimento do automóvel, protege os cidadãos contra as condições climáticas e favorece o sentido de lugar [3]. Em zonas residenciais os percursos pedonais devem ser estimulantes, devendo ser pontuados por pólos de interesse [4]. Alguns autores referem que os cidadãos sentem-se motivados pela presença de elementos da natureza no quotidiano [5]. No que concerne à localização dos espaços verdes em zonas residenciais há a considerar as características preexistentes de cada local.Por outro lado, a obtenção de efeitos climáticos e ambientais favoráveis depende não apenas da sua existência mas também da sua dimensão. Pelo que importa articular todas as zonas verdes entre si a fim de maximizar os benefícios paisagísticos, minimizando os custos de instalação e manutenção [4]. A integração de elementos naturais pode exercer um papel importante não só no ambiente urbano mas também na caracterização e eficiência da envolvente edificada. Atualmente em Portugal é já requerida a integração de espaços verdes em edifícios novos, dependendo da atividade, tipologia e dimensão do imóvel. Em habitações unifamiliares são exigidos no mínimo 28m2 por fracção e em habitações colectivas são exigidos 28m2 por cada 120m2 de área de construção. Contudo, estas medidas não se aplicam a acções de reabilitação urbana, nomeadamente nos centros urbanos, em que as ruas são estreitas e a construção é densa, onde não existe espaço disponível para a instalação de espaços verdes. Neste contexto, a aplicação de sistemas de revestimento ajardinado de edifícios pode ser uma forma de integração da natureza na cidade. Os sistemas de revestimentos ajardinados de edifícios podem ser uma estratégia de inserção de vegetação no contexto urbano sem ocupação do solo [6], contribuindo para a qualificação da imagem do edificado, requalificando os espaços urbanos consolidados, tornando-os mais estimulantes para os cidadãos e constituindo uma amenidade local. As superfícies ajardinadas proporcionam uma grande diversidade de ambientes [4], contribuindo para tonar as zonas residenciais mais pessoais, suscitando a fruição do espaço público, o convívio e a animação em comunidade. Deste modo, cria-se uma cidade viva, na qual os espaços interiores dos edifícios se complementam com as zonas exteriores, reforçando as possibilidades de bom funcionamento dos espaços públicos [3]. Neste contexto, emergem novos desafios no universo dos revestimentos ajardinados, sendo necessária a sua integração quer na construção nova quer na reabilitação urbana. 2.

2.1

O USO DE REVESTIMENTOS AJARDINADOS NA REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS Caracterização dos sistemas de revestimentos ajardinados de edifícios

Os sistemas de revestimentos ajardinados de edifícios integram os diversos sistemas de coberturas ajardinadas e de fachadas ajardinadas. Estes não são simplesmente uma superfície edificada coberta com vegetação. Tratam-se de sistemas construtivos compostos por diversos materiais com finalidades distintas, assentes sobre uma superfície devidamente impermeabilizada, com características que visam garantir uma maior performance e longevidade do sistema. Os sistemas de coberturas ajardinadas podem ser caracterizados como extensivos, intensivos ou semiintensivos, dependendo da espessura das camadas de substrato, tipos de vegetação, necessidades de irrigação e materiais de drenagem. As especificidades das coberturas ajardinadas resultam da necessidade de aplicação de uma camada de terra vegetal com a respectiva vegetação, assim as suas camadas fundamentais, no sentido descendente da cobertura, são as seguintes: terra vegetal e vegetação, camada filtrante, camada drenante e sistema de impermeabilização [7]. Actualmente, os sistemas de coberturas ajardinadas centram-se no desenvolvimento de sistemas extensivos modulares ou contínuos, de espessura reduzida (ver figuras 1 e 2), utilizando vegetação resistente e adaptada, com baixas necessidades de irrigação e manutenção. 3


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1 Figuras 1 e 2 – Sistemas de coberturas ajardinadas extensivas. 1. Sistema modular [8]; 2. Tapete pré-enraizado [9].

Os sistemas de fachadas ajardinadas podem ser classificados como fachadas verdes ou paredes vivas (respectivamente “green façades” ou “living walls” na nomenclatura Inglesa). As fachadas verdes são compostas por trepadeiras (perenes ou caducas), enraizadas no pavimento ou inseridas em vasos, que se desenvolvem ao longo da superfície a revestir e se sustentam de forma autónoma ou através um sistema de guias fixo à parede. Pese embora sejam soluções económicas e de simples aplicação, apresentam um crescimento disperso, demorando alguns anos para garantir a continuidade da superfície vegetal (ver figura 3). As paredes vivas integram os os jardins verticais e os sistemas modulares. Estes sistemas vieram permitir a utilização de uma maior variedade de espécies de plantas e o revestimento vegetal de superfícies de grandes proporções. Os jardins verticais baseiam-se na aplicação de soluções leves compostas por telas geotêxteis com aberturas onde são introduzidas individualmente as plantas [10] (ver figura 4), sendo habitualmente sistemas hidropónicos e consequentemente, com elevadas necessidades de irrigação. Os sistemas modulares, são compostos por peças modulares com meio de crescimento e vegetação, que encaixam entre si e são fixos à superfície vertical (ver figura 5), possuindo vantagens de manutenção e de minimização das necessidades de irrigação.

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Figuras 3, 4 e 5 – Sistemas de fachadas ajardinadas. 3. Fachada Verde, Golegã (Maio,2006); 4. Jardim Vertical e 5. Sistema Modular, Natura Towers, Lisboa (Agosto, 2012).

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No mercado têm vindo a surgir novas soluções de coberturas e fachadas ajardinadas que permitem cobrir superfícies extensas com vegetação e criar um novo efeito estético na envolvente edificada. Pese embora a configuração e composição destes sistemas seja muito variável, os actuais desenvolvimentos destes sistemas centram-se em determinados aspectos que visam garantir uma maior performance do sistema, como: a minimização do seu peso mediante o uso de materiais leves, não constituindo uma sobrecarga para a estrutura do edifício; a simplificação dos processos de construção, manutenção e substituição; a minimização do consumo de água, mediante o favorecimento da drenagem e retenção de água, a escolha de espécies resistentes com baixas necessidades de rega e a recolha e armazenamento de águas pluviais; e a gestão das condições do sistema, através da monitorização das condições ambientais. 2.2

Potencialidades destes sistemas

A maioria do edificado português é anterior às actuais exigências de conforto ambiental, pelo que se torna fundamental encontrar soluções de reabilitação adequadas às características construtivas do edificado. As soluções de revestimentos ajardinados podem melhorar as características ambientais, funcionais, sociais e económicas do espaço urbano e dos edifícios, atribuindo-lhes uma imagem diferenciada. De facto, estudos recentes revelam que a instalação de revestimentos ajardinados na envolvente edificada de edifícios habitacionais pode proporcionar diversos benefícios. A inserção de superfícies ajardinadas de dimensão considerável no contexto urbano contribui para a melhoria das suas condições ambientais. A vegetação fomenta a mitigação do “efeito de estufa”, a melhoria da qualidade do ar [11], a absorção de gases poluentes [12] e a fixação de poeiras suspensas no ar e a gestão de águas pluviais, enquanto contribui para o aumento da biodiversidade e a produção de oxigénio. A vegetação é reconhecida pelo seu efeito terapêutico, melhorando esteticamente e visualmente os espaços em que se insere, daí que o atual mercado valorize a qualidade do imobiliário habitacional através de factores como a vista e a proximidade com ambientes naturais e de lazer (i.e. parques, jardins, terraços). Por outro lado, os sistemas de revestimentos ajardinados protegem a envolvente edificada, sombreando-a [13] [14], evitando o sobreaquecimento e a degradação dos materiais de revestimento [15] [16] [17] e contribuindo para o aumento da sua vida útil. A integração de vegetação no edificado permite melhorar a performance da envolvente protegendo-a a dos agentes externos, melhorando o conforto térmico [18] [19], quer no inverno quer no verão e reduzindo as necessidades energéticas dos sistemas de climatização [20] [15] [21]. Por outro lado, alguns sistemas contribuem também para o conforto acústico do edificado. O conhecimento e divulgação das potencialidades dos sistemas de revestimentos ajardinado de edifícios pode constituir um factor fundamental para fomentar a integração destes sistemas no contexto habitacional. Desta forma estes sistemas podem tornar-se elementos distintivos, que contribuem para a competitividade do sector imobiliário habitacional [22]. 2.3

Os revestimentos ajardinados como factor diferenciador nos imóveis

Os revestimentos ajardinados podem constituir um elemento diferenciador de um determinado imóvel quer por questões estéticas, funcionais, económicas ou sociais. Os sistemas de revestimentos ajardinados de edifícios integram superfícies vivas e mutáveis, que podem conter variedade vegetativa com cor, textura, forma, vigor e fases de crescimento distintas ao longo de todo o ano [23], podendo ser dispostas segundo um determinado padrão e densidade, formado mediante um determinado arranjo paisagístico. Para tal, poderão ser utilizadas espécies suculentas de maior resistência, tal como exemplificado na cobertura em Maryland, onde a vegetação adquire colorações distintas ao longo do ano (ver figuras 6 e 7). Ou espécies que não dependam da presença de substrato, como o sistema hidropónico de Patrick Blanc inserido num edifício habitacional de Madrid, no enquadramento urbano do edifício Caixa Forum (ver figura 8).Em alternativa, surgem soluções contendo plantas aromáticas, de que é exemplo a habitação unifamiliar situada em Lisboa, onde o uso destas plantas é evidenciado como premissa de projecto (ver figura 9), marcando o contexto de cada compartimento com aromas distintos [24]. 5


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Figuras 6 e 7: Alterações cromáticas de plantas suculentas numa cobertura ajardinada Maryland, EUA. 6: Abril e 7: Junho [8].

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Figuras 8 e 9: Fachadas ajardinadas em edifícios de habitação. 8: Edifício de habitação colectiva com jardim vertical de Patrick Blanc, CaixaForum, Madrid, Espanha (Junho 2011). 9: Habitação unifamiliar com plantas aromáticas na fachada, Lisboa [25].

A par das suas características estéticas, a escolha das espécies de plantas deve ter em conta alguns aspectos funcionais e económicos, devendo ter-se em atenção a sua capacidade de resistência e adaptação, características de crescimento, rusticidade, albedo das espécies, suscetibilidade a pragas, doenças e desenvolvimento de espécies daninhas, facilidade de manutenção, características de escala e necessidades de irrigação [4]. A escolha de vegetação autóctone pode ser determinante na identificação dos cidadãos com o lugar, favorecendo simultaneamente a durabilidade e resistência dos sistemas de revestimentos ajardinados às condições de exposição e clima local (temperatura, humidade, chuva e neve). Nalgumas áreas de Portugal é necessário ter em atenção às condições climáticas de cada região, podendo conter temperaturas extremas, quer positivas quer negativas, o que pode limitar a escolha de determinadas espécies de plantas. 6


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Alguns exemplos demonstram que a inserção destes sistemas permite conferir uma imagem diferenciada aos edifícios novos ou a reabilitar ou melhorar o enquadramento do edificado no espaço urbano. A inserção de sistemas de coberturas ajardinadas no edificado pode efectuar-se a diversas escalas, desde o espaço individual e de cariz privado (ver figura 10), à cobertura comum do edifício (ver figura 11) ou ao corredor ajardinado de um conjunto edificado (ver figura 12). Em determinados contextos estes elementos podem contribuir esteticamente para o contexto edificado ou constituir uma amenidade para os habitantes, fazendo parte integrante de um espaço para usufruto dos cidadãos.

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Figuras 10, 11 e 12: Coberturas ajardinadas em edifícios de habitação. 10: Terraço privado, Torre Verde, Lisboa [26]. 11: Edifício de habitação colectiva, The 8 Tallen, Copenhaga (Setembro 2012) 12: Passeio pedonal, Copenhaga (Setembro 2012)

Estes sistemas contribuem para a imagem do edificado e fomentam a interacção entre os habitantes e o espaço exterior para além de constituirem um factor de valorização económica dos imóveis. Segundo um estudo efectuado para a zona de Battery Park City em Nova Iorque estimou-se que o custo do arrendamento de apartamentos em edifícios com coberturas ajardinadas é em média 16% superior ao de edifícios sem coberturas ajardinadas [27]. Constata-se que, os sistemas de coberturas ajardinadas são soluções apelativas para os habitantes. Segundo um inquérito realizado em Sevilha (Espanha) e Antalya (Turquia) a maior parte dos inquiridos revelou que gostaria de instalar uma cobertura ajardinada na sua casas, dando preferência a soluções de coberturas intensivas com maior variedade vegetativa [28]. Frequentemente, os centros urbanos das cidades portuguesas resultam de um evoluir de ações sobre o edificado ou as infraestruturas, fruto da construção sucessiva sobre um mesmo tecido urbano ou do traçado de vias após a implantação do edificado, sem coerência ou continuidade com a envolvente, à escala do conjunto. Esta praxis dá origem a fachadas descaracterizadas e desenquadradas no conjunto urbano. Ora, as soluções de fachadas ajardinadas podem ser utilizadas para melhorar a imagem e coerência da cidade, permitindo ocultar empenas cegas ou deterioradas, garantir o alinhamento de fachadas face à via pública; regularizar as cérceas de uma frente urbana ou mesmo fortalecer a vivência de pequenos espaços privados exteriores, como pátios, terraços ou logradouros [6].

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Figuras 13, 14, 15 e 16: FACHADAS ajardinadas em edifícios de habitação (Iimagens de autor). 13: Regularização das cérceas de edifícios. 14: Alinhamento de fachadas face à via pública. 15: Requalificação de uma empena cega. 16: Renovação de um logradouro.

Pese embora sejam ainda escassos os exemplos de integração de fachadas ajardinadas como elementos de reabilitação urbana estas podem melhorar o valor estético do edificado e a coerência do espaço envolvente [6], fomentando a fruição e a vivência do espaço público. 2.4

Requisitos de aplicação

Pese embora exista uma grande diversidade de soluções no mercado, a definição de uma proposta de intervenção deve ter em consideração as necessidades reais do edificado. A escolha de um determinado sistema de revestimento ajardinado deve ter em consideração a sua adequabilidade ao edificado, dependendo das características construtivas do mesmo, das suas condições de acessibilidade, localização, enquadramento urbano, orientação, exposição solar e clima local. Em zonas residenciais é determinante definir medidas que minimizem os encargos com a sua manutenção [4], pelo que devem ponderar-se aspectos como a eficiência do sistema de rega com vista à minimização do consumo de água e a existência de linhas orientadoras que indiquem estratégias de simplificação e economia nos cuidados de manuntenção. Aspectos didáticos como a divulgação da evolução do sistema ou das espécies que integra pode ser motivador para captar o interesse e participação dos residentes na gestão das superfícies ajardinadas em edifícios. Alguns municípios como Chicago desenvolveram um guia de aplicação de coberturas ajardinadas onde são descritas algumas das características necessárias à sua instalação, tendo em conta as condições de acessibilidade, a capacidade estrutural do edifício para suportar a carga do sistema e outras cargas adicionais (ex: equipamentos, utilizadores, neve, etc.) [29].

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3.

ESTUDOS MODULAR EDIFÍCIOS

PRELIMINARES: DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA EXECUÇÃO DE SUPERFÍCIES AJARDINADAS EM

Este trabalho resulta de um projeto de investigação em desenvolvimento, que integra uma equipa multidisciplinar, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, com o acrónimo GEOGREEN e título “Painéis com vegetação natural produzidos com ligantes geopoliméricos de resíduos para aplicação em coberturas e fachadas verdes de edifícios”. O integra uma equipa de investigação multidisciplinar do C-MADE, Centre of Materials and Building Technologies, da Universidade da Beira Interior, em parceria com investigadores da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco especialistas no estudo de espécies autóctones de plantas e substratos. 3.1

Conceção do sistema

A conceção de um novo sistema modular para revestimento de superfícies ajardinadas baseou-se no conhecimento obtido a partir do estudo de diversos sistemas de revestimentos ajardinados, das suas técnicas construtivas e materiais utilizados. A maioria dos sistemas não permite a sua integração simultaneamente em coberturas e fachadas. Esta investigação visa desenvolver um sistema de peças modulares pré-fabricadas, com vegetação pré-plantada, destinado à criação de superfícies ajardinadas em edifícios novos ou existentes ou em estruturas isoladas, independentes de qualquer estrutura edificada, procurando-se uma uma solução versátil e adaptável a diversas configurações de superfícies, quer sejam horizontais, verticais, inclinadas ou curvas, tendo em conta as particularidades de cada superfície e os requisitos associados. O sistema em desenvolvimento no âmbito do projeto de investigação visa diferenciar-se dos demais sistemas pela utilização de materiais com base no reaproveitamento de resíduos industriais, que conferem determinadas propriedades térmicas, acústicas e ambientais à envolvente edificada. Com base na experiência e conhecimento adquiridos em investigações anteriores elaboradas pelo C-MADE, pretende-se explorar as potencialidades de materiais não convencionais de ativação alcalina obtidos a partir de resíduos industriais, atendendo às suas propriedades (densidade, porosidade, retenção de água, isolamento térmico, resistência, durabilidade e resistência ao fogo). Este sistema baseia-se no reaproveitamento de materiais de resíduos industriais, procurando minimizar a energia incorporada e as emissões de CO2 do sistema, promovendo a reciclagem e valorização de resíduos. Os módulos são compostos por duas camadas, uma placa superior em aglomerado negro de cortiça elaborado com desperdício de cortiça e uma placa inferior composta por ligante geopolimérico elaborado base na transformação de lamas residuais das minas da Panasqueira e outros materiais reciclados.

Figura 17: Vista lateral do sistema modular em desenvolvimento para revestimento de superfícies ajardinadas.

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Pretende-se simplificar o processo construtivo, facilitando a sua instalação, procurando criar superfícies ajardinadas de forma rápida e eficaz, e facilite a desmontagem individual de cada módulo para efeitos de manutenção.O sistema modular centra-se na simplificação do processo construtivo Cada módulo contém reentrâncias para introdução do substrato, situadas a uma distância constante entre si, com diâmetro e profundidade adequados aos tipos de vegetação a instalar, criando um plano de revestimento vegetal uniforme ao longo de toda a superfície.Este projeto também integra o estudo de vegetação resistente às condições do clima mesomediterrâneo seco, procurando minimizar os problemas de adaptação de espécies de plantas e as necessidades de irrigação. Pretende-se assim desenvolver um sistema modular, de fácil aplicação e manuseamento que possa ser usado a diversas escalas, desde o espaço privado, de menor dimensão até superfícies de grandes proporções, facilitando sempre a sua manutenção e substituição. 4.

CONCLUSÕES

Portugal ainda tem um longo percurso no que concerne ao investimento na reabilitação de edifícios de habitação, devendo para tal recorrer a estratégias que marquem a diferença nos imóveis e no contexto urbano em que se inserem. É neste contexto que se considera a aplicação de sistemas de revestimentos ajardinados de edifícios, cuja aplicabilidade depende do contexto do edificado. Pese embora a maioria dos casos de aplicação dos sistemas de revestimento ajardinado de edifícios esteja associado com a integração em edifícios novos, como elemento marcante que realça a presença simbólica do imóvel ou como amenidade, existe um forte potencial de utilização destes sistemas na reabilitação de edifícios melhorando o seu valor estético e contribuindo para a revitalização das áreas consolidadas. A inserção destes sistemas em edifícios habitacionais permite conferir novas funções ao edificado, através da instalação de espaços ajardinados em coberturas transitáveis existentes, ou melhorar o enquadramento urbano do edificado existente através da instalação de fachadas ajardinadas, ocultando empenas cegas ou deterioradas, garantindo o alinhamento de fachadas face à via pública, regularizando as cérceas de uma frente urbana ou mesmo fortalecendo a vivência de pequenos espaços privados exteriores [6]. É evidente o crescente interesse nestes sistemas e as vantagens associadas à sua instalação. Contudo, um aspecto importante consiste em conhecer as preferências estéticas e interesses dos habitantes. Tal pode tornarse útil na tomada de decisão dos projectistas quanto ao tipo de sistema a implementar e ao desenho da superfície ajardinada [28]. O projecto de I&D a decorrer no C-MADE visa projetar um sistema modular para revestimento de superfícies ajardinadas que se diferencie dos demais existentes no mercado pelas suas características físicas, funcionais e ambientais. Pese embora o desenvolvimento de um sistema para execução de superfícies ajardinadas em edifícios seja um processo iterativo, que resulta da constante procura de melhorias na solução desenvolvida, do questionar das soluções, do estudo dos seus detalhes, vantagens e desvantagens, nomeadamento na configuração do sistema, na escolha dos materiais, na sua montagem, transporte, manutenção, desmontagem, custo e sustentabilidade.

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