o LIVRO DOS CINCO ANÉIS

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o resultado de uma profunda reflexão sobre o que é qualquer oponente. Ou seja, com este livro Musashi capacita o leitor de qualquer idade, sexo ou profissão a se tornar uma pessoa vencedora.

O

Livro dos Cinco Anéis é hoje um manual

de gente de sucesso que soube aproveitar as lições de Miyamoto Musashi (1584-1645) nas batalhas do

O autor dividiu a Arte do Combate em cinco

o autor resumiu nesta obra clássica a experiência

o nome dos quatro elemen-

to, Vácuo. Em toda a obra,

equilíbrio, sabedoria e honra. Fogo, Vento e Vácuo, Musashi trata de liderança e

mesmo quando se conhece

dos princípios ligados aos conflitos da existência

os outros”, ensina. E alerta: “Nos assuntos da vida, o excessivo é igual à carência”. Wataru Kikuchi Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Letras (Língua, Literatura e Cultura Japonesa), é professor doutor de Língua e Literatura Japonesa do Departamento de Letras Orientais da FFLCH-USP. Leciona língua japonesa desde 1986, atua em instituições também do PR, DF e de MG e é organizador e coautor de diversos livros relacionados à língua e à cultura japonesa.

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humana para fazer do leitor uma pessoa vencedora. Esta edição da Jardim dos Livros tem primorosa tradução, direta do japonês, do professor doutor Wataru Kikuchi. Um caderno de fotos, pinturas do autor e mapas de batalhas do Japão antigo tornam o livro, além de tudo, uma requintada obra de arte.

CINCO A NÉIS

logias. “Só se conhece a si

DOS

simples e faz bonitas ana-

Nos cinco capítulos ou tomos do livro, Terra, Água,

L IVRO

Fogo e Vento — e o quin-

e modo de vida para os samurais que inclui

O

tos naturais — Terra, Água,

E

scrito por volta de 1644 pelo mais célebre samurai de

todos os tempos, Miyamoto Musashi (1584-1645), O Livro dos Cinco Anéis chega aos dias de hoje como leitura de cabeceira de empresários, militares, políticos, estudantes etc. que adaptaram os conselhos do

de quem representou o apogeu do Bushido, ou “caminho do guerreiro”, o código de conduta

Musashi transmite lições

TRADUZIDO DO JAPONÊS PELO DR. WATARU KIKUCHI, DIRETOR DO CENTRO DE ESTUDOS JAPONESES DA USP

CINCO A NÉIS

dia a dia. Espadachim imbatível desde os 13 anos,

Caminhos, ou tomos, com

MIYAMOTO MUSASHI

L IVRO DOS

MIYAMOTO MUSASHI

estratégia e como superar

O

O L IVRO DOS

C INC O A NÉI S

espadachim para as batalhas do cotidiano. Nesta edição renovada e completa, traduzida diretamente do japonês pelo professor doutor Wataru Kikuchi, diretor do Centro de Estudos Japoneses da USP, o leitor tem o melhor manual clássico de estratégias para vencer no mundo cada vez mais competitivo. “A Arte do Combate de um mestre guerreiro consiste em fazer de algo pequeno uma coisa maior”, afirma o autor. Musashi sintetiza aqui a sua rica experiência obtida

ESTRATÉGIA PESSOAL ISBN (13) 978-85-8484-033-5

em lutas vitoriosas (a primeira aos 13 anos) contra os mais poderosos samurais de sua época. E mais ainda: ele traz especialmente

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MIYAMOTO MUSASHI TRADUZIDO DO JAPONÊS PELO DR. WATARU K IKUCHI, DIRETOR DO CENTRO DE ESTUDOS JAPONESES DA USP

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Título original:

GoRin no Sho Copyright © 2020 by Jardim dos Livros Março de 2020 Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009. Editor e Publisher Luiz Fernando Emediato Editor Sênior Marcos Torrigo Diretora Editorial Fernanda Emediato Capa e Diagramação Alan Maia Estagiário Luis Gustavo Barboza Tradução do Japonês Dr. Wataru Kikuchi Revisão Josias A. de Andrade Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD M985l Musashi, Miyamoto O livro dos cinco anéis / Miyamoto Musashi ; traduzido por Wataru Kikuchi. – São Paulo : Jardim dos Livros, 2020. 128 p. ; 13,5cm x 21cm. Tradução de: Gorin No Sho ISBN: 978-85-8484-033-5 1. Ciência militar. 2. Estratégia pessoal. 3. Estratégia militar. I. Kikuchi, Wataru. II. Título. I. Título. 2020-938

CDD 355 CDU 355

Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva – CRB-8/9410 Índices para catálogo sistemático 1. Estratégia militar 355 2. Estratégia militar 355 EMEDIATO EDITORES LTDA Rua João Pereira, 81 – Lapa CEP: 05074-070 – São Paulo – SP Telefax.: (+ 55 11) 3256­‑4444 E-mail: geracaoeditorial@geracaoeditorial.com.br www.geracaoeditorial.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil

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Sumário

Tomo Terra...............................................................7 Tomo Água..............................................................31 Tomo Fogo..............................................................61 Tomo Vento............................................................89 Tomo Vácuo..........................................................107 (manuscrito por Shibatou Sanzaemon)

Caderno de Fotos..............................................113 Anotações do Leitor........................................124

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Com o intuito de registrar pela primeira vez por escrito a Arte do Combate, denominada estilo Duas Espadas, aprimorado ao longo dos anos, após escalar o monte Iwato, em Higo, na ilha de Kyushu, na primeira quinzena do décimo mês do ano vinte da era Kan’ei (1643), este guerreiro de Shogoku Harima (sudoeste da província de Hyogo), Shinmen Musashi No Kami Fujiwara No Harunobu — que reverencia o Céu, venera a entidade budista Avalokiteshvara e se curva para o Buda —, completou sessenta anos. Desde jovem, adentrei no Caminho da Arte do Combate e, aos treze anos, pela primeira vez, desafiei alguém. Superei esse oponente, um combatente chamado Arima Kihei, do estilo Shintô; e aos dezesseis, venci outro combatente potente denominado Akiyama, do território de Tajima (ao norte da província de Hyogo). Aos vinte e um anos,

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10 cheguei à capital Quioto e, por inúmeras vezes, travei combates com os espadachins abaixo do Céu, mas nunca deixei de sair vitorioso. Depois dessa fase, percorrendo diversas regiões e vários rincões, encontrei combatentes de diversos estilos, travei com eles mais de sessenta combates, e venci todos. Isso foi no período entre meus treze e vinte e oito ou vinte e nove anos. Por volta dos meus trinta anos, coloquei em perspectiva a minha trajetória e refleti que talvez não tivesse atingido o ápice da Arte do Combate, e que todos esses feitos fossem fruto do meu talento nato, que não tivesse me permitido afastar dos princípios do Céu, ou ainda, que a Arte do Combate dos meus oponentes é que estivesse incipiente. Após essa reflexão, continuei a me aprimorar diariamente para adquirir os princípios mais profundos, e espontaneamente, obtive a sabedoria sobre o cerne da Arte do Combate somente por volta dos cinquenta anos. Desde então, se passaram anos sem que tivesse novos caminhos a perscrutar. Como me aprimorei em diversas artes e técnicas de acordo com a Arte do Combate, para todos os efeitos não possuo nenhum mestre. Ao escrever esses tomos, não pretendo empregar nenhuma assertiva antiga do budismo nem do confucionismo, tampouco ilustrarei com acontecimentos do passado, próprios de registros de guerra e estratégias bélicas. Para expressar os pensamentos e o verdadeiro espírito desse estilo Duas Espadas, terei como guia o Caminho dos Céus e Avalokiteshvara, e inicio

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Para iniciar, a Arte do Combate é própria das famílias de samurais. O comandante samurai que se preza deve treinar essa arte, e os comandados também devem conhecer esse Caminho. No entanto, não há atualmente um samurai que conheça de fato o Caminho dessa arte. Entre os Caminhos conhecidos, há o do budismo, que salva as pessoas; o do confucionismo, que orienta o Caminho do saber; o do médico, que cura as diversas doenças; o do poeta, que ensina o Caminho dos poemas; o do mestre da cerimônia do chá; o do mestre arqueiro; e até aqueles que treinam e apreciam as diversas artes e técnicas cênicas, entre outros, cada qual com suas intenções. Mas no Caminho da Arte do Combate, são raros aqueles que o apreciam. Em primeiro lugar, para o samurai, o Caminho é apreciar dois Caminhos: o do combate e o das letras e demais artes. Mesmo que não tenha talento para isso, o samurai que se preza deve, de acordo com suas possibilidades, se aprimorar no Caminho da Arte do Combate. Quando se presume o que um samurai pensa, parece que o senso comum não ultrapassa a crença de que ele apenas possui disposição para a morte. Mas isso não se limita aos samurais. No sentido de possuir disposição para a morte, como consequência de sentimentos de gratidão ou vergonha, até

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esse registro por volta das quatro e meia da madrugada do décimo primeiro dia do décimo mês.

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12 os monges, as mulheres, os camponeses e outros abaixo desses na sociedade não são diferentes. O verdadeiro sentido do Caminho da Arte do Combate do samurai é ser superior a outros em qualquer atividade que for exercer, seja vencendo um oponente na luta de espada, corpo a corpo, ou enfrentando vários ao mesmo tempo, ou ainda tentando se promover para o seu senhor e para si. Tudo isso é concretizado pela virtude da Arte do Combate. Ainda, alguns podem pensar que aprender sobre o Caminho da Arte do Combate não possui praticidade. Mas, quanto a isso, a verdade desse Caminho é que se deve treinar para poder usufruir da sua utilidade sempre que necessário e também ensinar para que se tire proveito disso, em qualquer circunstância.

Sobre o Caminho da Arte do Combate Seja na China ou no Japão, sempre se afirmou que o mestre é quem treina nesse Caminho da Arte do Combate. Um samurai, em nenhuma hipótese, deve deixar de aprender sobre esse Caminho da Arte do Combate. Ultimamente, aqueles que se denominam especialistas na Arte do Combate entendem somente de espadas. São recentes a criação e a difusão do estilo, tido como tributo dos deuses, por parte dos sacerdotes do Kashima e Kantori,

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do território de Hitachi (província de Ibaraki). Desde a Antiguidade, das chamadas “dez técnicas e sete artes”, a Arte do Combate é tida como “prática” ligada às artes em geral; mas sendo considerada prática, é evidente que não se deve restringi-la aos conhecimentos sobre o manejo da espada. Se limitar-se a isso, não compreenderá a arte da espada propriamente dita e, obviamente, não alcançará a essência da Arte do Combate. Observando a sociedade, consideram-se as diversas artes, o próprio corpo e os diversos utensílios como mercadorias. Mas se fizermos analogia disso com a flor e o fruto, é como se tivessem poucos frutos em relação às flores. Especialmente nesse Caminho da Arte do Combate, se pensar em florir superficialmente apenas ostentando as técnicas, ou ainda se multiplicarem-se academias que visem apenas ensinar e aprender essas técnicas com finalidade de obter lucro, logo todos sentirão na pele o adágio “uma Arte do Combate verde causa um grande ferimento”. Basicamente, para se viver neste mundo, há quatro Caminhos: o da agricultura, o dos negócios, o dos guerreiros e o dos artesãos. Primeiro, temos o Caminho da agricultura. Os camponeses preparam diversos utensílios agrícolas e passam os anos atarefados nos trabalhos com a terra, pautados pelas mudanças das quatro estações. Esse é o Caminho da agricultura. Em segundo lugar, temos o Caminho dos negócios. Por exemplo, quem produz saquê se sustenta buscando

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14 seus métodos e obtendo lucro de acordo com a qualidade do produto produzido. Seja como for, quem está no Caminho dos negócios vive nesse mundo de acordo com seu trabalho e seu lucro. Esse é o Caminho do negócio. O terceiro é o Caminho do guerreiro. Ao segui-lo, certamente, quem é samurai deve elaborar diversas armas e instrumentos de luta e estar consciente do seu manejo e das suas vantagens. Não aprender o manejo das armas e desconhecer suas vantagens é algo de um samurai com conhecimento raso. Por fim, o quarto Caminho é o dos artesãos. No caso do carpinteiro, ele elabora com destreza diversos instrumentos de trabalho, aprende a manejá-los, verifica as medidas da planta com esquadro e fio de tinta e vive incessantemente tirando proveito das técnicas que adquiriu. Eis os quatro Caminhos: o da agricultura, o dos negócios, o dos guerreiros e o dos artesãos. Vamos fazer uma analogia entre a Arte do Combate e o Caminho dos artesãos. Faremos isso porque ambos têm relação com a Casa. Usamos o termo Casa para designar as famílias dos nobres, dos guerreiros — as Quatro Famílias (Nan, Hoku, Shiki e Kyô, que compõem o clã Fujiwara); quando essas famílias entram em ruínas, outras perpetuam suas linhagens, seus estilos, enfim, suas Casas. Tudo isso justifica essa analogia. A palavra carpinteiro se escreve com os ideogramas “grande” e “elaboração”, e como o Caminho da Arte do Combate também consiste em uma grande elaboração, essa analogia se justifica. Assim, aquele que

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15 pretende assimilar a Arte do Combate deve refletir sobre o conteúdo deste livro e treinar incessantemente, como se o mestre fosse uma agulha, e seus discípulos, uma linha.

Sobre a analogia do Caminho da Arte do Combate Essa analogia se confirma também quando observamos que, assim como o mestre dos carpinteiros, um general deve conhecer as normas e os padrões do mundo, corrigir os desvios e incorreções praticados na sua terra e manter a ordem da sua Casa. O mestre de obras deve memorizar as medidas dos templos e santuários, compreender as plantas de palácios e edifícios e construir as casas empregando os artesãos. Então, o mestre de obras e o mestre da família guerreira são similares. Quando for construir uma casa, cabe ao mestre escolher bem as madeiras. As vistosas, retas e sem nós devem ser usadas para os pilares frontais, enquanto aquelas com nós, mas retas e resistentes, devem ser escolhidas para os pilares de trás. As frágeis, mas sem nós e de aparência boa podem ser usadas na porta corrediça, porta interna de papel, soleira e dintel. Mesmo as madeiras com nós e retorcidas, porém fortes, devem ser usadas para pontos da casa que exigem resistência, e assim, essa casa permanecerá de pé

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e o carpinteiro

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16 por longo tempo. E por fim, as madeiras com muitos nós, retorcidas e frágeis devem servir para andaime, e após o uso, transformadas em lenha. Para o mestre de obras empregar bem os carpinteiros que estão à sua disposição, deve conhecer os níveis das técnicas que eles possuem: superior, médio ou inferior, e atribuir tarefas como confecção da parte principal da sala-dormitório, porta corrediça, ou ainda porta interna de papel, soleira, dintel e o forro do teto, de acordo com suas qualidades. Para os que possuem qualificação inferior, deve atribuir tarefas como prender o barrote; e para os menos qualificados ainda, mandar confeccionar cunhas. Dessa forma, se empregar as pessoas adequadamente, o trabalho flui e rende mais. Além disso, fazem parte dos conhecimentos requeridos de um mestre de obras: se atentar aos detalhes e não permitir serviços incompletos; conhecer a função de cada ferramenta; saber reconhecer a motivação dos subordinados, assim como incentivá-los e conhecer seus limites. O princípio da Arte do Combate também possui essas características.

No Caminho da Arte do Combate, um soldado é um carpinteiro

Um carpinteiro deve amolar suas ferramentas, confeccionar diversas cunhas, carregá-las num caixote e,

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seguindo as orientações do mestre de obras, desbastar pilares e vigas com o enxó, aplainar as tábuas do piso e das estantes, fazer esculturas e talhas com abertura, conferir medidas, concluir rapidamente as quinas e os corredores. Se assimilar bem as técnicas e souber distinguir corretamente as medidas, o carpinteiro poderá se tornar posteriormente um mestre de obras. A essência do carpinteiro está em possuir as ferramentas afiadas e, nas horas vagas, amolá-las sempre. O mais importante é usar essas ferramentas e confeccionar habilidosamente armário, estante, escrivaninha, mesa, ou ainda lamparina, tábua de cozinha e até tampa de panela. O soldado também é assim. Deve-se refletir bem sobre isso. Um carpinteiro sábio não deixa a sua obra entortar, acerta as suas juntas, sabe aplainar bem, não disfarça com polimentos superficiais, não deixa retorcer depois. Se se pretende assimilar o Caminho da Arte do Combate, deve-se incorporar e refletir bem sobre cada item que registro neste livro.

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Sobre estruturar este Livro em cinco tomos

Dividirei a Arte do Combate em cinco Caminhos, e para facilitar a compreensão de sua essência, vou intitulá-los Terra, Água, Fogo, Vento e Vácuo.

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18 No tomo Terra, farei uma síntese do Caminho da Arte do Combate, explanando o pensamento próprio do meu estilo de Duas Espadas, pois se considerar que se trata simplesmente de uma exposição da técnica comum de manejo da espada, não conseguirá apreender a sua verdade. Denominarei esse tomo inicial de Terra, como se plainasse a terra antes de traçar um caminho retilíneo, pois o intuito é que se obtenha a sabedoria partindo do maior para o menor, do raso até atingir o profundo. O segundo tomo será denominado Água. Significa ter a água como modelo e fazer do espírito como se fosse ela. A água segue o formato da vasilha que a contém, circular ou angular, e também pode se tornar tanto uma gotícula assim como um imenso oceano. Ela possui uma cor azulada. Inspirando-me na sua pureza, vou descrever nesse tomo os princípios da Arte do Combate do meu estilo Duas Espadas. Se compreender concretamente os princípios da técnica de espada e conseguir vencer um inimigo livremente, conseguirá vencer todos os outros que surgirem pelo mundo. Vencer um oponente significa a mesma coisa que vencer mil ou dez mil inimigos. A Arte do Combate de um mestre guerreiro consiste em fazer de algo pequeno uma coisa maior, assim como o mestre de obras constrói uma imensa estátua de Buda tendo como modelo uma miniatura de trinta centímetros. É difícil detalhar tudo isso numa escrita. O princípio da Arte do Combate é ser capaz de saber dez mil partindo de um. Então, vou registrar

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esse princípio da Arte do Combate do meu estilo Duas Espadas neste tomo Água. O terceiro tomo será Fogo. Nesse tomo, vou escrever sobre as lutas, pois o fogo pode ser tanto de pequena quanto de grande extensão, mas é algo extremamente intenso. O Caminho das lutas pode ser de um contra um, assim como de dez mil contra dez mil, é igual. Implica ter uma visão do todo, sem deixar de se atentar para detalhes e refletir. As partes maiores são visíveis, e as menores são difíceis de visualizar. Isto porque quando há grande quantidade de lutadores, os movimentos são mais lentos e se tornam evidentes. Já o movimento de um só lutador é ágil, obedecendo a seu raciocínio, e fica difícil verificar os detalhes. Devemos refletir bem sobre isso. Sobre as lutas e guerras a serem desenvolvidas nesse tomo Fogo, elas estão em constante transformação; portanto, o praticante deve treinar e aperfeiçoar diariamente, fazer disso algo rotineiro e manter sempre constante o seu espírito. Isso é essencial na Arte do Combate. Por isto, assuntos sobre a luta e o combate serão registrados nesse tomo. O quarto é o tomo Vento, e isso se deve ao fato de registrar assuntos sobre os diversos estilos da Arte do Combate existentes na sociedade, e não sobre o meu estilo Duas Espadas. Como é sabido, o ideograma “vento” pode ser empregado como “estilo”, como em “estilo antigo”, “estilo atual”, “estilo de cada Casa” etc. Então,

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20 aqui serão registrados de forma clara os modos de outros estilos da Arte do Combate. Isto porque só se conhece a si mesmo quando se conhece os outros. E se treina em diversos Caminhos, ou sobre vários assuntos, existe o que denominamos heresia. Mesmo que se dedique diariamente a um Caminho, convencendo-se de estar fazendo o bem, se o espírito contrariar o que é correto, ele não é verdadeiro. Se não atingir o verdadeiro Caminho, um pouco de desvio do espírito levará a um grande desvio do todo. Nos assuntos da vida, o excessivo é igual à carência. Deve-se refletir bem sobre isso. As pessoas costumam pensar que outros estilos da Arte do Combate tratam apenas do manejo da espada, e isso se verifica de fato. Mas os princípios e técnicas da nossa Arte do Combate são completamente distintos. Por isso, para informar as pessoas sobre as artes de combate comuns, redigiremos sobre outros estilos nesse tomo Vento. O quinto tomo será denominado Vácuo, para refletir sobre o que é profundo e o que é elementar na Arte do Combate. No momento em que o samurai dominar completamente o princípio dessa arte, ele se desprenderá dela tornando-se autônomo e, naturalmente, obterá uma força incalculável. Num momento oportuno, conhecerá o devido ritmo da espada e espontaneamente o dominará, o acertará. Tudo isso é o caminho do Vácuo. Então, o que se pretende registrar nesse tomo é a entrada de forma espontânea no Caminho da verdade.

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O motivo de denominarmos duas espadas é o fato de que é inerente ao samurai, seja ele general ou soldado raso, carregar duas espadas na cintura. Antigamente, eram uma espada longa e uma espada; atualmente, uma espada e outra espada curta. Mas de qualquer forma, não há necessidade de argumentar mais do que isso: o natural é um samurai portar duas espadas. Na nossa terra, independentemente de se conhecer a sua origem e suas razões, é o Caminho do samurai portar duas espadas na cintura. É para fazer compreender a essência dessas duas espadas que denominamos estilo Duas Espadas. Certamente, outras armas como lança e alabarda fazem parte; porém, são distintas e denominadas “armas periféricas”. No nosso estilo, é fato que um iniciante treine segurando uma espada longa ou curta com as duas mãos. Isto porque, quando colocamos a própria vida à prova numa luta, precisamos tirar proveito de todas as armas que temos à disposição. É inconcebível morrer sem ter podido utilizar todas as armas, ainda guardadas na cintura. No entanto, é difícil portar e segurar as armas em ambas as mãos. Justamente para treinar a destreza nas duas mãos é que obrigamos que se segure a espada de forma ambidestra. Consideramos que, embora nos casos de armas grandes como lança e alabarda isso seja inevitável, as espadas

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Sobre a denominação Duas Espadas do nosso estilo

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22 devem ser seguras somente com uma mão. Segurar a espada com duas mãos se torna desvantajoso quando se está cavalgando, correndo, ou ainda lutando nos pântanos, terras alagadas, terrenos com pedregulho, caminhos íngremes e aglomeração. Se estiver portando arco, lança ou outras armas na mão esquerda, o samurai inevitavelmente terá que segurar a espada na mão direita; portanto, segurar a espada com as duas mãos não é o caminho correto. Se tiver dificuldade de executar o golpe final com uma mão, basta juntar a outra, isso não é trabalhoso. Para ser ambidestro, é preciso segurar duas espadas e treinar o manejo da espada longa com ambas as mãos. No início, o samurai terá dificuldade, pois a espada longa é pesada e difícil de brandir, mas no começo tudo é difícil, seja no arco, seja na alabarda. Seja como for, o importante é se habituar. A flechada se torna potente com o tempo, por exemplo. E no caso do manejo com a espada, o seu brandir também se tornará vigoroso e mais ágil com a prática. A essência de brandir a espada não é a sua velocidade, isso ficará claro no tomo dois, Água. É básico que a espada longa deve ser brandida num espaço amplo e a espada curta num espaço reduzido. No nosso estilo, entretanto, o objetivo é vencer com qualquer espada, e por isso não estabelecemos o seu comprimento. O nosso Caminho possui o espírito de vencer em qualquer circunstância. A vantagem de lutar com duas espadas fica evidente quando enfrentamos oponentes múltiplos ou

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23 alguém entrincheirado num recinto. Não há necessidade de esmiuçar sobre isso. Quem é sábio deve saber deduzir muito a partir do pouco. Se conhecer o Caminho da Arte do Combate, não há nada que não possa enxergar. Deve refletir muito sobre isso.

Sobre saber o

Neste Caminho, ao longo do tempo, usamos o termo mestre da Arte do Combate para quem aprendeu a brandir uma espada. No caminho das artes marciais, quem tem destreza no arco é arqueiro, quem domina o tiro com a espingarda é artilheiro, quem se aperfeiçoou na lança é lanceiro e quem é formado em alabarda é alabardeiro. Sendo assim, poderíamos sugerir que quem se formou no Caminho da espada longa seria espadachim-espada -longa e outro, espadachim-espada-curta. Inclusive, todas essas armas — o arco, a espingarda, a lança e a alabarda — são ferramentas de guerreiros e, nesse sentido, pertencem ao Caminho da Arte do Combate. Mas o fato de denominarmos Arte do Combate o que se refere especificamente à espada tem sua razão. Isto porque a espada é o princípio dessa arte, pois o mundo é governado e o guerreiro se faz guerreiro pela autoridade e virtude dela.

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princípio das palavras “Arte do Combate”

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24 Se incorporar as virtudes da espada, é possível vencer sozinho dez oponentes, seguramente. Se estando só um guerreiro consegue vencer dez oponentes, se fossem cem poderiam vencer mil, e em mil, dez mil. Por esse motivo, no nosso estilo, um e dez mil são iguais, e denominamos todas as técnicas dos samurais de Arte do Combate. Acerca do que denominamos Caminho, existem vários: o do confucionismo, o do budismo, o da cerimônia do chá, o das regras de etiqueta, do Nô etc., mas esses não são Caminhos do samurai. Mas se os conhecermos amplamente, em cada um há algo que podemos aproveitar. O essencial é o homem se aprimorar persistentemente em seus Caminhos.

Sobre conhecer as

vantagens das armas

Se o guerreiro procurar conhecer as vantagens e os pontos positivos de cada arma, com o tempo se conven­ cerá de suas qualidades. A espada curta terá muitas vantagens em lugares estreitos ou quando se aproxima do inimigo, e a espada longa tem qualidades compatíveis em qualquer situação. A alabarda tende a ser desvantajosa em relação à lança no campo de batalha. Com a lança, se toma iniciativa, com a alabarda, se defende inicialmente. Entre dois guerreiros

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de nível técnico aproximado, quem usa a lança supera um pouco o oponente. Mas em espaços reduzidos, pelas circunstâncias, essas armas não são vantajosas, nem para atacar alguém fechado em um recinto. Basicamente seriam armas para serem usadas em campo aberto, sendo importantes no campo de batalha. Quem valorizar apenas os treinamentos nos recintos internos, acabará se esquecendo dessas vantagens em campo e não saberá aproveitá-las. O arco é eficiente no avanço e no recuo num campo de batalha, em apoio aos lanceiros no início do combate, em especial nos terrenos planos. Mas perde a potência no ataque aos castelos, ou quando a distância do inimigo supera os trinta e seis metros aproximadamente. Atualmente, não somente o arco, mas outras técnicas de combate também apresentam floreios sem possuir praticidade. Em situações reais de combate, essas técnicas não servem. Para combater o inimigo de dentro do castelo, nada supera a espingarda. Num terreno plano, ela também demonstra vantagens, mas se torna inadequada quando inicia o confronto direto. Uma das vantagens do arco é que a flecha é visível para quem atira. A bala é invisível e isso é o ponto fraco da espingarda. Isso deve ser muito bem refletido. Sobre o cavalo, é importante que ele reaja com vigor às situações e que não tenha cacoetes. De um modo geral, o cavalo deve andar adequadamente, as espadas devem estar afiadas à altura, a lança e a alabarda, devidamente perfurantes, e o arco e a espingarda, resistentes.

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26 Não se deve ter predileção demasiada por algum armamento. O excesso é o mesmo que insuficiência. Não imite outros, a arma deve ser compatível consigo, ela deve ser de acordo com o seu cacife. Tanto o general quanto o soldado raso não devem ter demasiado gosto ou desgosto por uma arma, devem fazer arranjos para se adaptar a todas elas.

Sobre o ritmo na Arte do Combate Para cada coisa na vida, há um ritmo próprio. Em se tratando especificamente do ritmo da Arte do Combate, ele somente será assimilado com muito treino. Na sociedade, outras atividades que valorizam o ritmo correto são o Caminho do Nô, a dança e a música da corte e os instrumentos de corda e de sopro etc. No Caminho das artes marciais, também há ritmos e compassos ao atirar a flecha, disparar com a espingarda e até ao cavalgar. E em diversas artes e técnicas, não se pode contrariar o ritmo próprio de cada uma. Há ritmo até em algo invisível. Também na vida de um samurai, há um ritmo de quem serve a um senhor e prospera; e há outro, de quem perde a posição e entra em decadência. Em tudo existem ritmos adequados e ritmos inadequados. Ou ainda, no Caminho do negócio, há um ritmo que faz alguém muito rico, assim como há um ritmo

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que pode fazer mesmo um ricaço entrar em ruína. Em cada Caminho há ritmos diferentes. Em qualquer setor é necessário distinguir bem o ritmo ascendente e o descendente. Na Arte do Combate também há diversos ritmos. Nessa arte é importante conhecer o ritmo adequado e saber desequilibrar o ritmo do oponente. Existem diversos ritmos, amplos e reduzidos, rápidos e lentos. E o samurai deve saber qual é eficaz, principalmente para enfrentar o oponente e desequilibrá-lo. Se não souber contrariar o ritmo do outro, a sua Arte do Combate não será consistente. Vencem-se as lutas conhecendo o ritmo de cada inimigo que se enfrenta e imprimindo um ritmo de sabedoria e estratégia, inesperado e não perceptível para o inimigo. Em cada um dos tomos subsequentes vou tratar especificamente desses ritmos. Devem refletir sobre isso e praticar suficientemente. O Caminho da Arte do Combate de Duas Espadas, que descrevi acima, se desenvolveu naturalmente na minha consciência como fruto de minha dedicação diária, dia e noite, e com o intuito de transmiti-la ao mundo como Arte do Combate, seja enfrentando um ou múltiplos inimigos. E aqui ela é registrada por meio dos cinco tomos: Terra, Água, Fogo, Vento e Vácuo. Abaixo, apresento um regulamento para quem pretende aprender o meu Caminho da Arte do Combate:

tomo terra

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Em primeiro lugar, desejar ser correto; Em segundo lugar, dedicar-se ao treinamento da Arte do Combate;

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28 Em terceiro lugar, aprender sobre diversas artes; Em quarto lugar, conhecer diversos Caminhos de profissões e atividades; Em quinto lugar, saber discernir o benéfico e o danoso, o vantajoso e o desvantajoso; Em sexto lugar, obter a capacidade de avaliar qualquer assunto; Em sétimo lugar, intuir o que não está visível; Em oitavo lugar, prestar atenção em tudo, mesmo que sejam detalhes; Em nono lugar, não fazer coisas inúteis.

Então, deve-se atentar para esses princípios e se dedicar ao treinamento da Arte do Combate. Em se tratando desse Caminho, se não pensar no correto do ponto de vista mais amplo, ele jamais se tornará mestre. E se conseguir dominar essa arte, poderá enfrentar um, vinte ou trinta inimigos e não será derrotado. Se dedicar-se ao Caminho correto, sem se esquecer por um instante da Arte do Combate, vencerá em técnica e no modo de ver as coisas. Pelo treinamento conseguirá controlar livremente o seu corpo e, assim, vencerá seus inimigos. Com o espírito habituado à Arte do Combate, será capaz de vencer também do ponto de vista psicológico. Se atingir esse patamar, como haverá de ser derrotado? Ainda, na grande Arte do Combate, vencerá ao ter bons subordinados, ao comandar tropas, ao ter boa formação, ao governar um território, ao dar assistência ao povo e

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29 ao defender as etiquetas e os bons modos da sociedade. Seguro de que saberá ter êxito em qualquer Caminho, assim salvará a si mesmo e manterá a sua honra. Eis o Caminho da Arte do Combate. Shinmen Musashi no Kami Genshin Décimo segundo dia do quinto mês do ano dois da era Shouho (1645)

Ancião Shibatou Sanzaemon Shigenari (assinatura estilizada) Naomichi (sinete) Primeiro dia do quinto mês do ano três da era Manji (1660)

Sr. Yoshida Chuzaemon

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tomo terra

Terao Magonojou Nobumasa

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II

Tomo Água

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tomo água

Neste tomo, Água, pretendo registrar os traços marcantes do manejo da espada do nosso estilo Duas Espadas, pois fazemos treinamentos práticos tendo como modelo a água. Todavia, é difícil descrever em detalhes esse Caminho, como penso. Mesmo que minhas palavras não se articulem de maneira ordenada, creio que seus princípios serão compreendidos naturalmente. Os leitores devem refletir e se aprofundar sobre cada item, cada fato, cada letra que registrarei neste tomo. Se fizerem uma leitura desleixada, muito provavelmente cometerão erros nesse Caminho. Em se tratando dos princípios da Arte do Combate, mesmo que esteja registrado como embate de um contra um, é importante ser aplicado também para batalha entre dezenas de milhares, ampliando o escopo. Nesse Caminho da Arte do Combate, se cometer um pequeno erro ou tiver equívoco na sua compreensão,

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34 entrará no caminho perverso. Isso quer dizer que se ficar apenas na leitura, não atingirá esse Caminho. Terá que fazer desses princípios os do seu coração, fazer esforços para isso, e não ficar apenas na leitura, na aprendizagem e imitação.

Sobre o estado de espírito na Arte do Combate No Caminho da Arte do Combate, o estado de espírito não pode ser diferente do estado no cotidiano. Seja no cotidiano ou no momento da luta, deve-se esforçar muito para o espírito estar aberto e natural, sem ficar nervoso em demasia, sem relaxar nem um pouco, permanecendo neutro, sem parcialidade, mantendo o espírito no centro e permitindo que flua sem cessar nem um instante sequer. Mesmo quando está devagar, o espírito não deve relaxar. E quando o corpo se movimenta rapidamente, o espírito não deve se abalar; o espírito não deve ser arrastado pelo corpo, tampouco o corpo, pelo espírito. O guerreiro deve atentar para o espírito sem que sua atenção seja desviada para o corpo. Para não perder o foco do espírito, não deve pensar em coisas supérfluas. Mesmo com aparência frágil, deve ser forte internamente, e cuidar para que o oponente não leia seus pensamentos. É importante que o soldado tenha percepção do geral e que o general tenha

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conhecimento do particular. Isso vale tanto para os que ocupam altas patentes quanto para os de patentes mais baixas, todos devem permanecer corretos no espírito, livrando-se do egoísmo. O samurai deve abrir o coração sem deixar que ele se turve, e usar a sabedoria, tendo um olhar amplo. É importante aprimorar a sabedoria e o espírito incessantemente. A sabedoria deve ser lapidada, tendo discernimento do que é justo e injusto no mundo, o bem e o mal das coisas. Ele deve experimentar vários Caminhos das artes para que não corra risco algum de ser enganado pelos homens. Somente assim se adquire a sabedoria da Arte do Combate. Muitas vezes, a sabedoria da Arte do Combate na luta real pode ser diferente, se comparada aos treinos. No campo de batalha, o guerreiro deve se esforçar muito para manter o espírito sereno e atingir seu auge na Arte do Combate, mesmo em situações atribuladas. É preciso refletir bem sobre isso.

tomo água

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Sobre a postura na Arte do Combate A postura na Arte do Combate deve seguir o que descrevo: não abaixar o rosto nem olhar para cima; não inclinar ou entortar a cabeça; não desviar o olhar; não enrugar a

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36 testa, mas franzir as sobrancelhas para que os olhos não se mexam; afinar os olhos mais do que o normal como se não piscasse; fazer uma feição serena, mantendo o nariz reto, e levantar um pouco o queixo. Deve manter o nervo de trás do pescoço reto e a nuca, enrijecida; abaixar o ombro e manter o corpo simétrico, com a coluna reta; não empurrar as nádegas para trás; forçar a musculatura do joelho até a ponta dos pés; esticar a barriga para que o quadril não fique curvado. E ainda deve praticar o denominado “apertar a cunha”, ou seja, reter a bainha da espada curta com a barriga, para que a faixa do quimono não afrouxe. De um modo geral, sobre a postura na Arte do Combate, é muito importante fazer da postura do cotidiano a postura da luta e da postura da luta a postura do dia a dia. Deve refletir bem sobre isso.

Sobre o olhar na Arte do Combate O olhar deve ser amplo, focando o geral. Há duas formas de olhar, a saber: observar e ver. O olhar da observação do geral deve superar o olhar de meros detalhes. Mas deve olhar o distante como se fosse perto, prestando atenção nos detalhes, e ver o próximo como se fosse longe, tendo uma visão geral. Isso é o mais importante na Arte do Combate.

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tomo água

Nessa arte, é fundamental conhecer o traço do manejo da espada do inimigo e não ficar seguindo a sua trajetória com o olhar, para não ser ludibriado pelo seu movimento. Deve-se aperfeiçoar para isso. Esse olhar é válido tanto numa luta, para enfrentar um oponente; quanto numa batalha, enfrentando diversos inimigos. É importante também enxergar as laterais do corpo sem movimentar os olhos. Esse tipo de habilidade não se adquire repentinamente. Após ler este tomo, você deve praticar esse olhar cotidianamente e se aperfeiçoar para que seu olhar não se altere em situações incomuns.

Sobre a maneira de

segurar a espada longa

A espada longa deve ser segurada como se o polegar e o indicador flutuassem, sem apertar muito. O dedo médio não deve nem apertar nem afrouxar, o anelar e o mínimo é que devem ser forçados. Não pode haver frouxidão na mão que segura a espada. E também não se deve simplesmente pegar a espada, ela tem que sempre ser segurada com o intuito de golpear o inimigo. Para ferir o inimigo, não pode ser diferente, tem que segurar firme para que a mão não hesite. Mesmo que seja necessário bater na espada inimiga, se defender, tocar ou reter, o samurai tem que sempre

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38 segurar a espada longa mantendo a flexibilidade no polegar e no indicador, e invariavelmente com a disposição de desferir um golpe. Não há diferença no modo de segurar a espada, seja para testar a amolação ou para golpear o inimigo. Concluindo, devemos evitar o enrijecimento tanto da espada quanto da mão. O enrijecimento é a mão que morre, o não enrijecimento é a mão que vive. Deve-se compreender bem isso.

Sobre o

movimento dos pés

Os pés devem ser movimentados levantando um pouco a ponta dos dedos e pisando fortemente com o calcanhar. O movimento deve ser feito como se anda no cotidiano, embora possa variar a amplitude do passo ou a velocidade, dependendo da situação. Há três passos que devem ser evitados: o de salto, o de flutuação e imobilização, e o de pés fixos. O importante é o “pé Yin Yang”, a essência do Caminho da Arte do Combate. Esse pé consiste em não movimentar um só lado para avançar, recuar ou se defender. Deve-se sempre pisar “Yin Yang”, ou seja, o pé direito e depois o esquerdo, o direito e o esquerdo e assim sucessivamente. Reitero que nunca se deve pisar com um pé só. Deve-se aprimorar bem nisso.

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Sobre as cinco

As cinco posições da espada são: superior, meia altura, inferior, lateral direita e lateral esquerda. Todas são usadas para golpear o oponente e não há outras posições além dessas. Em quaisquer delas, é preciso ter consciência de que são posições para golpear o inimigo. As variações das posições devem seguir um princípio, de acordo com a situação. As posições superior, meia altura e inferior são posições essenciais do corpo, e as laterais são aplicações. As posições laterais da direita e da esquerda são alternativas para quando estiver num espaço reduzido, com limitações acima ou num dos lados. Nesse caso, as opções entre a direita e a esquerda são feitas de acordo com o espaço físico. A essência desse Caminho indica: “compreenda que o melhor das posições está na meia altura”. A posição meia altura é a principal entre todas. Se você fizer uma analogia com as patentes militares, a posição meia altura está para general, e as demais são subordinadas a ela, ou seja, são soldados. Deve-se refletir bem sobre isso.

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posições da espada

Sobre o Caminho da espada longa

Saber brandir uma espada longa, que porta na cintura, significa ser capaz de manuseá-la somente com

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40 dois dedos. A pressa de brandir uma espada contraria a sua essência e dificulta esse movimento. O importante é brandir a espada devagar, numa intensidade que seja confortável para si. Às vezes, o iniciante quer brandir uma espada longa rapidamente como se estivesse manuseando um leque ou espadim, e isso atrapalha o movimento. Isso é chamado “picar com espadim”, ou seja, com isso não se consegue ferir o adversário com espada longa. Se golpear com a espada para baixo, deve levantar pelo lado disponível; se cortar para o lado, deve voltar à posição inicial pelo lado mais fácil. Em qualquer situação, deve-se esticar bem o cotovelo e golpear com força. Esse é o Caminho da espada. Se assimilar as cinco posições básicas da minha Arte do Combate, o samurai estabelecerá o Caminho da espada longa, que facilitará o seu manejo. Deve-se aperfeiçoar bem.

Sobre a trajetória

das cinco posições da espada

Nessa trajetória, a posição inicial é à meia altura. A ponta da espada longa deve estar apontada para o rosto do inimigo; e ao confrontá-lo, se ele golpear com a espada, esta deve ser desviada para a direita, e no segundo ataque do oponente, deve virar a ponta da sua espada e contra­ ‑atacar golpeando para baixo. E, se o inimigo insistir,

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41 deve-se atingir a mão dele por baixo. Eis a primeira trajetória da espada. Creio que somente descrever as cinco trajetórias bási­ cas não possibilita a compreensão delas. Isso ocorre somente com a prática, com a espada longa nas mãos. Com essas cinco trajetórias, será possível compreender o meu estilo Duas Espadas e julgar o estilo dos inimigos. Dessa forma, deve-se aprender que não há mais do que cinco trajetórias da espada longa no estilo Duas Espadas. Deve-se aperfeiçoar.

tomo água

Sobre a ordenação

da segunda trajetória básica da espada

A segunda trajetória se inicia a partir da posição superior, e no que o inimigo atacar, o golpeia simultaneamente para baixo. Se eventualmente o samurai errar o golpe, deve manter a espada baixa e, no segundo ataque do inimigo, golpeá-lo por baixo. Em caso de novo ataque, isso deve ser repetido. Nessa trajetória, há diversos detalhes e variações, além de ritmos variados; e se treinar corretamente levando tudo isso em consideração, compreenderá minuciosamente o Caminho das cinco trajetórias da espada e será imbatível. Deve-se treinar muito.

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Sobre a ordenação

da terceira trajetória básica da espada

A terceira trajetória consiste em segurar a espada longa na posição inferior, voltada para baixo como se estivesse pendurada; e no ataque do inimigo, golpear a mão dele por baixo. E quando o inimigo tentar bater a sua espada por cima, você deve esquivar-se, ferindo o braço dele. Assim, deve-se posicionar a espada para baixo desta forma neutralizando simultaneamente o ponto em que o inimigo pretende golpear. A posição inferior é encontrada constantemente ao longo da formação na Arte do Combate, desde a fase iniciante até a avançada. Deve-se pegar a espada e treinar com afinco.

Sobre a ordenação

da quarta trajetória básica da espada

Na quarta trajetória, a espada longa é posicionada na horizontal, no lado esquerdo, para quando o inimigo atacar, você tentar atingir sua mão por baixo. Nisso, se o inimigo tentar bater a sua espada por cima, o guerreiro deve reagir como se esticasse a sua mão seguindo

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43 a trajetória da espada naturalmente, desferindo o golpe de forma cruzada para a direção do ombro do oponente. Isso é a trajetória da espada. É uma trajetória capaz de vencer o inimigo, mesmo quando este toma a iniciativa do ataque. Deve-se aperfeiçoar bem nisso.

Sobre a ordenação

A quinta sequência consiste em posicionar a espada longa na horizontal no lado direito; e de acordo com a direção em que o inimigo atacar, a partir da posição um pouco abaixo da inicial, levantar a espada na diagonal para a posição superior e desferir o golpe reto, para baixo. Essa descrição também serve para conhecer bem a trajetória da espada. Se o samurai se acostumar nessa trajetória, se tornará capaz de brandir livremente mesmo uma espada pesada. Sobre essas cinco trajetórias básicas, não há o que escrever em detalhes. Para conhecer todas as trajetórias do meu estilo Duas Espadas, aprender a maioria dos ritmos e saber discernir a trajetória de espada do inimigo, é necessário, em primeiro lugar, treinar incessantemente essas cinco trajetórias básicas. Feito isso, é chegada a etapa de aprimorar o manejo da espada. Assim, ao enfrentar um

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da quinta trajetória básica da espada

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44 inimigo, o guerreiro poderá adaptar seu ataque a diversos ritmos e vencer o oponente em qualquer circunstância. Deve-se aperfeiçoar bem.

Ensinamentos sobre

a existência e a inexistência da posição

A existência e a inexistência da posição impli­cam não se posicionar estaticamente com a espada longa. Porém, como há cinco direções de posicionamento da espada, conforme visto anteriormente, na prática é como se existissem os posicionamentos. Independentemente da posição, a espada longa deve ser segurada de uma forma que possa golpear o inimigo de acordo com sua ação, local e circunstâncias. Mesmo a posição superior se torna à meia altura se o samurai abaixar um pouco a espada. E a posição à meia altura se torna superior caso o guerreiro erga a espada de acordo com a conveniência. Da mesma forma, a posição inferior também se torna à meia altura se a espada for um pouco levantada. Mesmo as posições laterais se tornam à meia altura ou inferior se o samurai trouxer a espada para o centro ou para baixo, dependendo da posição tomada. Disso decorre esse princípio da existência e inexistência da posição.

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O guerreiro deve ter ciência, acima de tudo, de que quando se apossa da espada é para decepar o inimigo, de qualquer maneira. Mesmo que tenha que se defender, ou repelir, bater, conter, tocar etc. a espada do inimigo, tudo isso deve ser compreendido como um percurso para, em seguida, contra-atacar e golpear. Quando não consegue golpear o inimigo, é porque está se concentrando em tentar se defender, repelir, bater, conter e tocar. É muito importante considerar que tudo deve ser convertido numa oportunidade para vencer o inimigo. Deve-se refletir bem sobre isso. Se estender isso a uma situação de batalha, a disposição da tropa também é um posicionamento. Tudo se torna um meio para vencer a batalha. Não devemos nos apegar a um posicionamento. Deve-se aprimorar bem.

tomo água

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Sobre o

golpe de ímpeto para atingir o inimigo

Dentre os ritmos para golpear o inimigo, existe aquele que se aproxima dele a ponto de os corpos se tocarem, e sem que ele perceba suas intenções, o golpeia agilmente sem movimentar o corpo. Isso deve ser feito num ímpeto que não permita ao inimigo raciocinar e se preparar para recuar a espada, desviar ou golpear. Deve assimilar bem

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46 esse ritmo e treinar para golpear rapidamente o inimigo com esse “ritmo de ímpeto”.

Sobre o ritmo

de dois tempos

Quando iniciamos o nosso ataque, o inimigo pode se antecipar e recuar ou tentar se defender. Então, nesse ritmo de dois tempos, inicialmente simulamos que vamos atacar. E no que o inimigo se descuidar, após a tensão inicial ou ao recuar, o atacamos de fato. Isso é o que denominamos ritmo de dois tempos. Talvez seja difícil assimilar lendo apenas esta descrição, mas se receber orientações na prática, compreenderá imediatamente.

Sobre o golpe

sem pensamento

Quando estamos enfrentando um inimigo, deparamos com situações em que ambos tentam tomar a iniciativa do ataque com a espada. Nessas condições, se dominamos esse golpe, tanto o corpo quanto a mente se posicionam naturalmente e as mãos espontaneamente golpeiam o inimigo com agilidade e força, eis o golpe sem pensamento. Isso

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47 constitui um dos segredos da nossa arte. Esse golpe é visto com frequência, e deve ser bem treinado e aperfeiçoado.

Quando estamos enfrentando um inimigo, e esse tenciona recuar, desviar ou rebater a nossa espada rapidamente, devemos pressioná-lo e, por trás do nosso corpo, devemos golpear devagar, como água calma, com grande amplitude e intensidade. Se assimilar a técnica, ficará fácil executar esse golpe. É muito importante saber avaliar a competência do inimigo.

tomo água

Sobre o golpe de corrente d’água calma

Sobre o golpe oportunista

Quando estamos para atacar o inimigo, ele tenciona parar ou repelir esse ataque. Então, num golpe só, atingimos a cabeça, a mão ou a perna. O golpe oportunista é isso, em um único golpe atingir qualquer lugar, oportunamente. Isso deve ser praticado intensamente e será sempre útil. Deve-se treinar repetidamente para compreendê-lo.

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Sobre o golpe

“gerar fogo com pedra” Em uma situação na luta em que a nossa espada toca a do inimigo, batemos fortemente sem levantar minimamente a espada. É necessário bater agilmente com a força do pé, corpo e mãos; e para isso, é preciso ter força nesses pontos. Isso requer treinamento frequente do samurai, pois se ele se aprimorar, se tornará capaz de executar esse golpe com força.

Sobre o golpe

“folhagem vermelha” Trata-se do golpe de bater a espada do inimigo e deixá-lo desarmado. Quando o inimigo está ansioso, posicionado com a espada para atacar, resistir ou se defender, batemos a espada do inimigo com força usando o golpe sem pensamento ou de gerar o fogo com pedra. E se insistir e bater com a ponta da espada para baixo, certamente a espada do inimigo cairá no chão. Se treinar bem esse golpe, será fácil desarmar o inimigo. Deve-se treinar intensamente isso.

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Sobre o corpo que

Pode-se dizer também da espada que alterna com o corpo. Isso quer dizer que, de modo geral, na postura em que golpeia o inimigo, não se movimenta a espada e o corpo ao mesmo tempo. De acordo com o ataque do inimigo, primeiro se posiciona o corpo para, em seguida, golpear com a espada. Eventualmente, pode ocorrer de golpear com a espada sem movimentar o corpo, mas de um modo geral, posicionar primeiro o corpo para depois usar a espada. Deve-se refletir bem sobre isso e treinar o golpe.

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alterna com a espada

Sobre golpear e

acertar com a espada

Golpear e acertar com a espada são movimentos distintos. Golpear é, seja de que forma for, consciente e certeiro. Acertar é algo como atingir por acaso, por mais que seja forte a ponto de o inimigo morrer instantaneamente, isso não é mais do que acertar. Golpear significa golpear com intenção. Deve-se refletir sobre isso. Acertar, seja a mão ou a perna do inimigo, significa acertar para, em seguida, golpear com força. Acertar significa, nesse contexto, algo

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50 como tocar. Se treinar bem, acertar tem sua eficácia e deve ser aprimorada.

Sobre o corpo de

“macaco de braço curto” Ser como “macaco de braço curto” significa não esticar o braço. Ao se aproximar do inimigo na luta, não deve pensar em esticar o braço, mas posicionar o corpo rapidamente antes que ele ataque. Se pensar em esticar o braço, certamente o seu corpo se afasta; em vez disso, deve reposicionar o corpo rapidamente. Numa distância em que se alcança com o braço, é fácil posicionar o corpo. Deve-se refletir bem sobre isso.

Sobre o corpo de “laca-grude” A expressão corpo de “laca-grude” significa grudar, encostar o corpo no inimigo e não se desprender. Para isso, deve-se encostar a cabeça, o corpo e as pernas com força. As pessoas conseguem encostar rapidamente o rosto e a perna, mas o corpo acaba se afastando. Deve-se fixar

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51 bem o próprio corpo no do inimigo, sem deixar nenhum espaço entre eles. Reflita bem sobre isso.

Sobre a

“Disputar a altura” significa, em qualquer situação ao encostar no inimigo, cuidar para que o próprio corpo não fique contraído, e esticar a perna e o quadril até o pescoço, de modo que o rosto fique na mesma altura da face do inimigo. É importante encostar com força, como se vencesse numa disputa de altura. Deve-se aprimorar isso.

tomo água

“disputa de altura”

Sobre

ter aderência

No confronto com o inimigo, se ele se defender, devemos fixar nossa espada na dele e encostar o corpo como se criasse aderência. Aderência, nesse caso, seria cuidar para a espada não se soltar facilmente e encostar o corpo sem forçar muito. Ao criar essa aderência, o corpo pode ser encostado devagar. Há diferença entre criar aderência

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V

Tomo Vácuo

(manuscrito por Shibatou Sanzaemon)

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tomo Vácuo

O que há para registrar neste Tomo Vácuo, do Caminho da Arte do Combate do estilo Duas Espadas, é o significado do vácuo. O vácuo significa que não há nada, é algo que é impossível de captar sensorialmente. Obviamente, o vácuo é não existir. Saber o que existe é saber o que não existe, isso é o vácuo. Como os homens interpretam equivocadamente, pensam que a incompreensão das coisas é o vácuo, mas isso não é o vácuo verdadeiro. É tudo um engano. Também nesse Caminho da Arte do Combate, não conhecer os Caminhos do samurai não constitui necessariamente um vácuo, assim como ter muitas dúvidas e não ter um rumo a seguir. Dizem que o vácuo seria ter muitas dúvidas e ficar sem ação, mas isso também não é o vácuo verdadeiro. É preciso saber que para um samurai, o verdadeiro vácuo significa dominar concretamente a Arte do Combate;

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110 esforçar-se em outras artes marciais, como arco e cavalaria; ser versado em Caminhos de formação de guerreiro, na estratégia militar e nas letras; não se perder nem se furtar; aprimorar a sabedoria e a vontade; afiar os dois olhares, a observação e a percepção; e estar no céu límpido distante das nuvens obscuras de dúvidas. Enquanto não se formar no Caminho verdadeiro, o aprendiz pensa que está trilhando o caminho correto ao se apegar ao dogma budista ou às leis dos homens, mas numa avaliação mais objetiva, percebe que devido a seus preconceitos e olhares enviesados, está contrariando o verdadeiro Caminho. O samurai deve se iluminar no Caminho tendo-o como referência, adotando-o como seu guia, treinar amplamente a Arte do Combate, ser correto e claro, conhecer o nível mais avançado e fazer do vácuo o Caminho, e do Caminho, o vácuo. Shinmen Musashi Genshin Naomichi (sinete) Décimo segundo dia do quinto mês do ano dois da era Shouho (1645)

Sr. Terao Magonojou Transmito-lhe os cinco tomos: Terra, Água, Fogo, Vento e Vácuo. Ofereço-lhe a cópia do registro do

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que o nobre Shinmen Genshin me transmitiu e ensinou. Dentre os tomos, o do Vácuo não pôde ser registrado pelo nobre Genshin, devido à sua longa enfermidade. No entanto, se dominar objetivamente os princípios dos quatro tomos iniciais e adquirir a autonomia, naturalmente se adequará ao Caminho do vácuo. Consegui alcançar esse estágio ao me aperfeiçoar por alguns anos, dominar os princípios do Caminho e obter autonomia em relação a eles. Exclusivamente na Arte do Combate, o samurai deve seguir os princípios da natureza, estar no silêncio e repetir os treinamentos para, naturalmente, atingir o estado inabalável do espírito, e somente assim, alcançará o pleno vácuo. “A Arte do Combate da verdadeira harmonia não perece com a morte”, foi a mensagem que o nobre Genshin deixou para seu epitáfio. Que exercitem exaustivamente a Arte do Combate. Isso é tudo.

tomo Vácuo

111

Segundo dia do décimo mês do ano dois da era Shouho (1653)

Terao Magonojou Nobumasa Naomichi (sinete) O mestre Musashi transmitiu os cinco tomos da Arte do Combate, os segredos do seu estilo Duas

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112 Espadas, para Terao Nobumasa. Eu herdei esses ensinamentos e me tornei o discípulo da terceira geração, mas ainda hoje não sou capaz de afirmar que domino o verdadeiro espírito do mestre. No entanto, V. Sa. ingressou nesse Caminho e se aperfeiçoou nele por vinte e seis anos ininterruptos. Por esse motivo, lhe ofereço os cinco tomos, para lhe transmitir os segredos do referido estilo que humildemente assimilei. Na Arte do Combate, o correto é a postura da imparcialidade, o verdadeiro Caminho correto é enfrentar o inimigo em silêncio, como uma rocha. Não seja envolvido por ele. Trate os inimigos assim, adequadamente, e pratique o Caminho da espada. Ancião Shibatou Sanzaemon Yoshimune (assinatura estilizada) Naomichi (sinete) Segundo dia do quarto mês do ano oito da era Enpou (1680)

Sr. Yoshida Tarouemon

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Benkei pacificando as ondas na baía de Daimotsu: Os cem aspectos da Lua

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Gravura de Musashi enfrentando Tsukahara Bokuden

Musashi demonstrando a técnica de duas espadas

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Gravura de Sakakibara Yasumasa e Toyotomi Hideyoshi

Samurai montado a cavalo

Espadachim japonês travando um duelo

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O cerco ao Castelo de Osaka

A batalha de Sekigahara

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Travessia pelo rio Uji que precede a segunda batalha da guerra Genpei

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A conquista de Shikoku

Gravura de Sekiguchi Yatarō Yoshioka Kanefusa e Miyamoto Musashi

Gravura de Kanama Goro Immakuni

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Gravura de Oda Nobunaga

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A batalha de Sekigahara

Princesa Yaegaki carregando o capacete de Shingen

Gravura de Tomoe Gozen junto de Uchida Ieyoshi e Hatakeyama Shigetada

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Miyamoto Musashi matando o morcego gigante que habita as montanhas da Província de Tamba

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Gravura de Takega Nobushige

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A batalha de Sekigahara

Hotei, o deus da fortuna

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Gansos selvagens rodeados de junco

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Miyamoto Musashi

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Miyamoto Musashi

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Miyamoto Musashi

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Miyamoto Musashi

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