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GALERIA DOS ESQUECIDOS: QUEM É QUEM Carlos Pinhão
Carlos Pinhão
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1. Nascido em Lisboa a 4 de maio de 1924 e falecido na mesma cidade a 15 de janeiro de 1993, Carlos (Alberto da Silva) Pinhão, frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa até ao terceiro ano do curso, enveredando pelo jornalismo, sobretudo jornalismo desportivo, tendo-se estreado em 1944 no jornal “Sports”, futuro “Mundo Desportivo” e passado pelo “Diário Popular” e pelo “Século Ilustrado”. Em 1955, assumiu o cargo de redator do jornal “A Bola”, onde permaneceu até morrer. Escreveu, na qualidade de correspondente desportivo, para jornais de Espanha (A Marca), França (France Soir) e ainda o Les Sprorts, da Bélgica. Colaborou intensamente em outros órgãos da imprensa regional e nacional, com especial destaque para o jornal Público, onde ganharam relevância as suas crónicas sobre a cidade de Lisboa e que lhe valeram o Prémio Júlio César Machado.
2. O primeiro livro para crianças que publicou foi Futebol de A a Z, editado pela Direção Geral dos Desportos em 1976. Seguiu-se Bichos de Abril (1977), um livro de poemas sobre animais que lhe granjeou um sucesso imediato. Outros títulos foram-se somando entre a poesia e a narrativa, a saber: Uma Gaivota com Óculos (1979), O Professor de Pijama Azul (1981), A Onda Grande e Boa (1981), Era uma vez um Coelho Francês (1981), O Coelho Atleta e a sua Escola de Desporto (1983), O Senhor que não Sabia Contar Histórias (1984), Vovô Bicho e Sete Recados, (1984), Lua Não, Muito Obrigado (1986), Sete Setas (1987), Balada de Embalar (1988), Certo Dia no Deserto (1988), O Senhor ABC (1989), Abril Futebol Clube (1991) e João Campeão (1994, em edição póstuma).
Quinze adivinhas, publicadas no jornal O Pimpão, permanecem inéditas à espera de serem editadas em livro. Projetava uma coleção infantil de índole desportiva, intitulada Agora Que Sou Crescido, quando a morte o surpreendeu.
3. Carlos Pinhão, a par de outros da sua geração, é um dos autores de literatura infantil e juvenil injustamente esquecido, seja pela qualidade inegável dos seus textos, seja pela quantidade de livros publicados (17) em cerca de duas décadas de atividade literária. A comprovar o esquecimento a que parece votado está a inexistência de edições atualizadas dos seus livros (com a subsequente dificuldade em os encontrar) e de estudos críticos ou literários sobre a obra do autor.
Os textos para o público infantil e juvenil repartem-se entre a poesia e a narrativa, sendo transversal a ambos os géneros a simbiose (mais que a combinação) entre fantasia e intervenção social, entre ritmo e jogo, entre humor e recriação da realidade, numa aliciante convocação de universos ora familiares, ora simbólicos, capazes de aguçar a imaginação e despertar o prazer da leitura. Neste entretecido são identificáveis alguns eixos temáticos transversais à sua escrita: o desporto, como escola de virtudes e de aprendizagem de competências cívicas fundamentais; os animais, como reiterada metáfora arquetípica do comportamento humano, com uma presença evidente em vários livros, como protagonistas ora ativos, ora passivos; o compromisso sociopolítico e o testemunho (de evidente matriz) existencial.
Num estilo escorreito, bem-humorado, com sequências narrativas lineares e caracterização pormenorizada das personagens, marcas específicas da escrita do autor, e com intertextualidades internas (evidentes de livro para livro, seja pela recorrência de temáticas, seja pela utilização de personagens já referidas), a escrita de Carlos Pinhão permite ao leitor descodificar e interpretar a mensagem de forma aliciante e criadora de novos (e gostosos) conceitos e temas.
Carlos Pinhão é um autor que vale a pena descobrir pela qualidade da sua obra ao nível linguístico, retórico-estilístico e ao nível ideológico-interpretativo, mantendo a atualidade e desafiando a capacidade imagética dos pequenos leitores de hoje.