Revista Cãncer

Page 1

1 - Revista do Câncer


2 - Revista do Câncer


Editorial

D

esde a edição que a revista do Câncer registrou em edição especial o Centro de Oncologia do Sírio Libanês e sua equipe na edição nº 9 é que vimos acompanhado o trabalho profissional do Professor Doutor Paulo Hoff. Posteriormente a revista fez uma edição sobre o ICESP na qual tivemos entrevistas com o Dr. Paulo e profissionais que pertenciam ao Instituto. Na edição atual estamos apresentando novamente a instituição que vem de complentar 8 anos de fundação trazendo novamente fatos importantes que o ICESP com a sua equipe e diretoria vem fazendo na luta contra o Câncer. Na seção “Entrevista” reproduzimos uma entrevista do Dr. Paulo Hoff ao Estadão sobre o polemico tema da “Pílula do Câncer” entre os artigos apresentados nesta edição destacamos um sobre “Trabalho do oncologista vai além do físico do paciente” veja também a “Opinião” do Dr. Dráuzio Varella sobre “epidemia de ultrassons” Boa Leitura. O Editor

Formação: Escola superior de propaganda e marketing, Fundação Getulio Vargas, Fundação Brasileira de Marketing e ADVB - Associação dos Dirigentes de vendas do Brasil

3 - Revista do Câncer


Expediente

Câncer

Sumário

revista do

Panorama da Oncologia Nacional

Volume XII - nº 25 - ano 2016 Diretor e Editor

Dr. José Márcio da Silva Araújo j.marcioaraujo@bol.com.br 11 - 2339-4712

Publicidade Gilberto Cozzuol 11 - 2339-4711 Administração e Circulação Yvete Togni 11 - 2339-4710 Diretora de Relações Externas Ariadne De Marchi 11 - 2339-4716 Produção e Publicação Lucida Artes Gráficas revcancer@bol.com.br 11 - 2339-4710 Fotografia Assessoria de Imprensa e Arquivos Correspondência

Rua Carneiro da Cunha, 212 sl 1 Saúde

Conselho Editorial • Dra. Lair Barbosa de Castro Ribeiro (in memurium) • Dr. Adonis Reis L. de Carvalho (in memurium) • Dr. João Carlos G. Sampaio Góes • Dra. Clarissa Cerqueira Mathias • Dra. Gildete Lessa • Dra. Maria Lúcia M. Batista As matérias apresentadas nesta edição são de inteira resposanbilidade do editor, exeto as matérias e artigos assinados, estes são de responsabilidade dos autores.

OncoNews...................................06 Noticias sobre Lançamentos de novos medicamentos, Mercado Hospitalar e Farmacêutico

Entrevista ............................................14 Dr. Paulo Hoff

Matéria de Capa

Homenagem aos 08 anos do ICESP.............18

Artigo Câncer: o desafio do SUS no século 21.....................34 Trabalho do oncologista vai além do físico do paciente....................................................36 Câncer: medicamentos estão mais eficazes, mas menos acessíveis.................................38

Atualização Tabagismo passivo e ambientes livres da fumaça do tabaco.........................................42 ..

Não imaginava que homem podia ter câncer de mama! ............44

Perfil Empresarial .....................48 Opinião A Importância e Indicações da Nutrição Parenteral em Pacientes com Câncer ........50 O médico........................................................52 Epidemia de ultrassons................................54

4 - Revista do Câncer


5 - Revista do Câncer


Onconews

Atividade física regular reduz o risco de câncer De acordo com um novo estudo, a prática regular de exercício diminui em 7% a probabilidade de desenvolver qualquer tipo de tumor

P

raticar atividades físicas regularmente reduz o risco de desenvolver 13 tipos de câncer. De acordo com o estudo publicado na revista científica JAMA Internal Medicine, a prática de exercícios está associada a uma redução de 7% na probabilidade de desenvolver qualquer tipo de tumor. “Nossos resultados mostram que a relação entre exercício e redução do risco de câncer pode ser generalizada em diferentes grupos de pessoas, incluindo aquelas com sobrepeso e as que foram fumantes”, explicou Steven Moore, principal autor do estudo. A pesquisa, realizada pelo Instituto Nacional do Câncer, dos Estados Unidos, revisou 12 estudos americanos e europeus feitos entre 1987 e 2004, com 1.4 milhão

de participantes. Durante cerca de onze anos de acompanhamento, 186.932 casos da doença foram diagnosticados entre os participantes. Em seguida, os autores relacionaram os dados sobre a prática de atividade física com o risco de desenvolvimento de 26 tipos de câncer. Os resultados apontaram que uma vida ativa fisicamente está associada a um menor risco no desenvolvimento de pelo menos 13 tipos de câncer. Por exemplo, a prática de exercícios está relacionada à uma redução de 42% no risco de câncer de esôfago e 25% no caso de tumores no fígado e pulmão. Em média, a prática regular de exercício físico estava associada à redução de 7% no risco de desenvolver qualquer tipo de câncer.

Café reduz o risco de câncer de endométrio Estudo de Harvard mostra que ingerir quatro xícaras da bebida reduz em 22% a probabilidade de desenvolvimento da doença

B

eber pelo menos quatro xícaras de café diariamente reduz em 22% o risco de câncer no endométrio ou do corpo do útero. A conclusão é de um estudo apresentado na segunda-feira durante o encontro anual da Sociedade Americana de Pesquisa sobre o Câncer (The American Association for Cancer Research, AACR). Pesquisadores de Harvard revisaram 19 estudos já publicados, envolvendo 40.000 mulheres, das quais 12.000 tinham sido diagnosticadas com câncer de endométrio.

As demais eram saudáveis e foram usadas como controle. As informações são do site especializado Live Science. Os resultados mostraram que tomar café regularmente reduz o risco de desenvolvimento do tumor. As participantes que ingeriam de duas a três xícaras da bebida por dia tinham um risco 7% menor do que aquelas que não bebiam nenhuma. Já naquelas que tomavam quatro xícaras ou mais, houve uma redução de 22% no risco.

6 - Revista do Câncer


Ejaculação frequente reduz o risco de câncer de próstata De acordo com estudo da European Urology, homens que ejaculam mais de 21 vezes por mês têm menor probabilidade de desenvolver o tumor

E

jacular com frequência reduz o risco de câncer de próstata. De acordo com um estudo publicado recentemente na versão online da revista científica European Urology, homens que ejaculam pelo menos 21 vezes por mês têm um risco 20% menor de desenvolver este tipo de tumor.

da ejaculação na prevenção do câncer de próstata. Não devemos enfatizar o número exato de ejaculações, mas o fato que uma atividade sexual segura é benéfica para a saúde da próstata.”, disse Jennifer Rider, líder do estudo.

Uma das explicações para a associação estaria na liberação de substâncias, O estudo, realizado por pesquisado- como os hormônios ocitocina e DHEA dures da Universidade de Boston, nos Estados rante a ejaculação. Os compostos teriam Unidos, acompanhou cerca de 32 mil ho- um efeito benéfico para a saúde. mens ao longo de 18 anos. Durante este período, 3.839 participantes foram diagnosticados com câncer de próstata, dos quais 384 foram fatais. Em um questionário preenchido no início do estudo, os participantes relataram a sua frequência média de ejaculação por mês em três períodos de suas vidas: entre 20 e 29 anos, de 40 a 49 anos e no ano anterior ao início do estudo. Os resultados mostraram que, em geral, os homens que ejaculavam pelo menos 21 meses por mês corriam um risco 20% menor de desenvolver câncer de próstata, em comparação com aqueles que tinham entre quatro e sete ejaculações mensais. Embora uma maior frequência de ejaculação tenha sido associada a um risco menor, mesmo homens que reportaram um número menor de ejaculações por mês – de 8 a 12 – conseguiram reduzir o risco em 10%. “Esse grande estudo prospectivo fornece uma evidência forte do papel benéfico

7 - Revista do Câncer


Onconews

Watson IBM usará dados genômicos para combater câncer Sistema de computação cognitiva será usado por pesquisadores para entender como cânceres se tornam resistentes a tratamentos com drogas

A

plataforma de inteligência artificial da IBM se uniu a pesquisadores do MIT e Harvard para estudar como milhares de cânceres se tornam resistentes a tratamentos com medicamentos que inicialmente funcionam para combater a doença.

“Combater o câncer envolve um jogo biológico de xadrez. Quando nós decidimos por uma terapia, o câncer responde com um movimento ao encontrar uma forma de se tornar resistente. A chave será aprender a partir da experiência clínica, de forma que nós conhecemos os movimentos do câncer antes e conseguiremos aplicar estratégias Ao descobrir como cânceres se adap- para escapar”, comparou Lander. tam para superar certos medicamentos, pesquisadores do MIT e do Broad Institute de O trabalho do Broad Institute irá gerar Harvard, centro de pesquisa de genoma, es- uma sequência de genoma de tumores de peram desenvolver uma nova geração de te- pacientes que inicialmente respondem ao rapias que cânceres não conseguem superar, tratamento, mas cujo cânceres se tornam tendo em vista que tumores adquirem muta- resistentes aos medicamentos. ções que os tornam resistentes a drogas. O Broad Institute irá usar novos méTal resistência é uma das principais todos de edição de genoma para conduzir causas de cerca de 600 mil mortes anuais estudos em larga escala de resistência a nos Estados Unidos, de acordo com Eric drogas em laboratório, para ajudar a idenLander, diretor fundador do Broad Institute. tificar vulnerabilidades específicas a tumoEnquanto cientistas descobriram a causa res. Cientistas da IBM usarão o Watson para da resistência a drogas em um pequeno analisar esses dados e identificar padrões número de casos de câncer, que levou ao genômicos que possam ajudar pesquisadodesenvolvimento de novos e bem-sucedi- res e médicos a preverem a sensibilidade a dos tratamentos, a maioria dos casos não medicamentos e resistência. são inteiramente compreendidos. No início deste mês, a IBM e a Quest O projeto prevê duração de cinco anos Diagnostics lançaram o IBM Watson Genoe recebeu investimento de US$ 50 milhões mics, um serviço disponível para oncologisda IBM, a iniciativa irá estudar milhares de tas nos Estados Unidos para ajudar a avandrogas que resistem a tumores e são base- çar a medicina ao combinar computação adas nos métodos de aprendizado de má- cognitiva com sequenciamento genômico quina do Watson, sistema de computação computacional. O serviço marca a primeira cognitiva que ajuda pesquisadores a enten- vez que o Watson for Genomics se tornou derem como cânceres se tornam resisten- amplamente disponível para pacientes e tes a terapias. médicos no país. 8 - Revista do Câncer


Flórida legaliza maconha terapêutica em referendo

A

maconha medicinal foi aprovada, na Flórida, em um referendo realizado em paralelo à eleição presidencial 2016, dois anos depois de os americanos rejeitarem o uso terapêutico da cannabis em uma consulta similar. Uma esmagadora maioria dos floridenses (71,2%) votou a favor da Emenda 2, que permite o uso medicinal da maconha no Estado, de acordo com apuração parcial da Divisão de Eleições da Flórida. Nessa mesma consulta, realizada em novembro de 2014, os eleitores votaram contra. Apenas 57,6% apoiaram a maconha terapêutica nesse Estado conservador, abaixo do mínimo de 60% dos votos necessário para sua aprovação. Agora, esse limite foi superado com folga. “A Flórida é o primeiro Estado do sul (dos Estados Unidos) a legalizar o uso médico da maconha”, celebrou a porta-voz da

Drug Policy Alliance, Sharda Sekaran. Essa ONG luta fervorosamente em nível nacional para pôr fim à chamada “guerra contra as drogas” iniciada pelo ex-presidente Richard Nixon nos anos 1960 e que, segundo a organização, serviu apenas para alimentar o narcotráfico e encher os presídios de hispânicos e de afro-americanos por crimes menores. “Agora os indivíduos com câncer, epilepsia, glaucoma, HIV, síndrome de estresse pós-traumático, doença de Crohn, esclerose lateral amiotrófica, Mal de Parkinson e esclerose múltipla, assim como outras condições médicas, poderão comprar e consumir maconha”, disse Sekaran. “O objetivo sempre foi termos compaixão com aqueles que precisam, desesperadamente do alívio médico que a maconha pode oferecer”, comentou.

9 - Revista do Câncer


Onconews

Cansaço extremo e falta de ar podem ser sinais de câncer de pulmão Especialistas explicam que sintomas só aparecem em fase avançada, pois a doença é silenciosa. Agosto é o mês de conscientização sobre câncer de pulmão, uma doença que atinge cerca de 30 mil pessoas por ano no Brasil.

P

or mais que seja uma doença conhecida, 90% dos casos da doença são diagnosticados já em estágio avançado. O cirurgião torácico do Hospital Abert Einstein Ricardo Sales afirmou que esse índice exacerbante está relacionado ao fato de a doença ser silenciosa. Os principais sintomas, que são cansaço extremo, tosse incessável e falta de ar, só começam a se manifestar quando o câncer já está em estágio avançado, dificultando o tratamento. - Os cirurgiões torácicos só podem operar alguém com câncer de pulmão quando a doença é diagnosticada precocemente. Com a cirurgia, as chances de cura são quase certeiras. No entanto, a maior parte dos pacientes só vai procurar um especialista quando a doença está em estágio avançado, e nesses casos, só tratamentos como a quimioterapia e a radioterapia podem resolver.

passivos e pessoas que vivem em ambientes poluídos não podem neglienciar o problema, uma vez que 20% dos casos afetam esse tipo de público. Uma pesquisa do Datafolha, encomendada pela biofarmacêutica Bristol-Myers Squibb, mostrou que há uma desinformação grande em relação à doença: 76% da população brasileira nunca conversou com um médico sobre câncer de pulmão e apenas 39% se considera bem informada sobre a doença. O oncologista Marcelo Cruz ressaltou que esses índices se devem porque a doença é subestimada, e que isso só vai mudar quando as pessoas começarem a dar a ela a mesma importância que dão aos outros tipos de câncer.

- O câncer de pulmão é o único tipo de câncer que pode ser prevenido. O câncer de mama e o de próstata, que são levados Grupo de risco Sales listou quem são muito mais a sério pela maior parte da poas pessoas que mais têm chances de de- pulação do que o câncer de pulmão, não senvolver o câncer de pulmão: são pesso- têm prevenção. as com mais de 50 anos que, há 30 anos ou mais, fumam pelo menos um maço de Então, as pessoas precisam aproveicigarro por dia. Contudo, apesar de os ta- tar que há como evitar o problema e tomar bagistas serem os mais propensos a desen- as medidas que lhes cabem para isso. volverem a doença, ex-fumantes, fumantes 10 - Revista do Câncer


11 - Revista do Câncer


Onconews

Pesquisa mostra que EUA: 40% dos cânceBrasil tem 14,3 mires estão relacionalhões de diabéticos dos com o tabaco, Uma pesquisa encomendada pela Somostra estudo ciedade Brasileira de Diabetes (SBD), em

parceria com um laboratório farmacêutico, mostrou que - entre diabéticos e cuidadores - 92% acreditam que atividade física e alimentação saudável são fundamentais para o controle da doença, mas 64% não praticam exercícios regularmente. O estudo indicou que no Brasil existem mais de 14,3 milhões de pessoas vivendo com diabetes, o que corresponde a 9,4% da população. O levantamento foi feito para chamar a atenção para o Dia Mundial do Diabetes, celebrado em 14 de novembro, e para alertar sobre a doença. Foram entrevistadas 2.002 pessoas em 147 municípios.

Quimioterapia: touca evita perda de cabelo A queda de cabelo é uma das características mais marcantes do paciente com câncer e um dos fatores que mais afetam a autoestima. Porém, com tratamentos cada vez mais avançados e consequências menos agressivas, é possível contar também com itens como, por exemplo, a touca de gel de silicone que resfria o couro cabeludo. “A Touca Hipotérmica Elastogel impede ou minimiza a alopecia induzida por quimioterapia. Foi desenvolvida com hidrogel à base de glicerina, que tem como princípio o resfriamento do couro cabeludo, fornecendo vasoconstrição contínua, com consequente redução de fluxo sanguíneo e diminuição da quantidade de droga que alcança os folículos pilosos”, explica Jussaine Alves, enfermeira responsável pela assistência do COT – Centro Oncológico do Triângulo, em Uberlândia (MG).

Até 40% dos cânceres diagnosticados nos Estados Unidos podem estar relacionados com o uso do tabaco, segundo um estudo federal publicado na quinta-feira (10/11). O fumo está em descenso entre os adultos dos Estados Unidos há décadas, mas continua sendo a principal causa evitável de câncer, de acordo com o relatório dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). De 2009 a 2013, cerca de 660.000 pessoas por ano foram diagnosticas com câncer nos Estados Unidos, segundo o estudo. E durante este período, 343.000 mortes por ano foram resultado de um tumor maligno vinculado ao tabagismo. "Há mais de 36 milhões de fumantes atualmente nos Estados Unidos", detalha o diretor dos CDC, Tom Frieden. "Infelizmente, cerca da metade pode morrer prematuramente por doenças relacionadas ao tabaco, e cerca de seis milhões devido a um câncer se os programas federais para ajudar a parar de fumar não forem implementados", alertou. Além do câncer de pulmão, o tabaco pode causar tumores na boca, garganta, esôfago, estômago, rins, pâncreas, fígado, baço, colo do útero, reto e leucemia mieloide crônica.

Corrente do bem O Projeto Nosso Lenço, da Unidade de Radioterapia do Hospital do Câncer Mãe de Deus, de Porto Alegre (RS), estimula pacientes que terminaram o tratamento a do-

12 - Revista do Câncer


arem lenços para pacientes submetidos à radioterapia e quimioterapia. “Este lenço simboliza a autoconfiança e a coragem de todas as pessoas que enfrentaram a mesma batalha que você”. A mensagem está escrita no folheto que cada paciente recebe quando é convidada a escolher um lenço entre os doados. Ao ganhá-lo, é incentivada a também fazer a sua doação para que a corrente do bem tenha continuidade. As mulheres recebem da equipe de enfermagem orientações sobre as maneiras de usar o lenço na cabeça ou no pescoço.

Sírio-Libanês, inaugura duas novas áreas O Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo (SP), inaugura duas novas áreas voltadas à cirurgia: o Centro de Material e Esterilização (CME) e a Unidade de Preparo Pré-Operatório. Com processos automatizados e estrutura física que duplicarão a capacidade de esterilização de instrumentos cirúrgicos, o novo CME, com 1.200 m², foi desenhado em formato de linha de produção, com equipamentos de última geração. Os carros com produtos para saúde passam pelas “lavadoras de túnel”, que fazem a primeira etapa do processo em apenas 15 minutos. Com leitura por código de barras, os equipamentos fazem a seleção automática do ciclo de termodesinfecção específico para cada tipo de produto. Os instrumentos são organizados em bandejas, que seguem por uma esteira até a área de triagem, para a montagem das caixas cirúrgicas. A nova Unidade de Preparo Pré-Operatório, por sua vez, passou de 227 m² para 520 m² para abrigar maior número de boxes - subindo de 12 para 17, todos com banheiro privativo - e conta com um posto de enfermagem centralizado.

Magnamed nas Paralimpíadas Rio 2016 A Magnamed, empresa brasileira voltada para o mercado de cuidados intensivos e especializada em ventilação pulmonar, esteve presente nos Jogos Olímpicos Rio 2016 e também nas Paralimpíadas. A empresa forneceu as 136 unidades do ventilador, de transporte OxyMag instaladas nas ambulâncias destinadas ao atendimento durante os jogos. Com o fim das competições, os aparelhos ficarão como um legado para a população do Rio de Janeiro. “Foi uma honra para toda a equipe da Magnamed poder contribuir para um evento que mostrou o que de melhor o Rio de Janeiro e o Brasil têm. Poder contribuir para garantir o bem-estar dos atletas e público em momentos de emergência é muito recompensador”, ressalta Tatsuo Suzuki, diretor de Projetos Especiais da empresa.

Feira de negócios em saúde Com o intuito de oferecer inovações tecnológicas e grandes negociações no segmento da saúde, um grupo de empresários com mais de 20 anos de experiência em gestão de feiras e áreas hospitalares está trabalhando e materializando a ideia de um investidor do setor para a concretização da SAHE - South America Health Exhibition. O evento será voltado a empresários, organizações do segmento e profissionais da saúde. Com investimento inicial de R$ 9 milhões, a feira, que ocorrerá entre os dias 13 a 16 de março de 2017, no Centro de Eventos Pro Magno, em São Paulo (SP), conta com uma infraestrutura de 36.000 m², adequados para 180 expositores nacionais e internacionais e preparada para receber cerca de 15.000 visitantes.

13 - Revista do Câncer


Entrevista

Dr. Paulo Hoff

H

off nem de longe se encaixa no sisudo padrão dos médicos que ocupam o seleto grupo dos melhores do mundo. Se diverte contando suas peripécias diante de um videogame — é viciado desde a época do Atari, e, agora, passa noites ao lado das três filhas correndo atrás do Mário Bros, no jogo Wii . Foi ainda adolescente, com 16 anos, que o rapaz nascido em Paranavaí, no Paraná, ingressou em Medicina na Universidade de Brasília (UnB). Tinha dúvidas se seria médico ou não, e, para evitar arrependimentos, prestou vestibular no mesmo ano para duas faculdades de Direito, além de Administração e para dois cursos de Medicina. Passou em todas. Filho de um farmacêutico e de uma dona de casa. No terceiro ano da faculdade, aos 19, conheceu Ana Amélia, com quem casou quatro anos depois. No último ano da universidade, deu o primeiro passo rumo a uma carreira que seria reconhecida anos depois. Apesar da resistência de grupos da universidade, seguiu para a Universidade de Miami para completar o último ano. Voltou ao Brasil, mas logo estava de volta ao Jackson Memorial Hospital para residência em clínica médica nos Estados Unidos. É no Sírio-Libanês que Paulo Hoff cuida da saúde de boa parte do empresariado responsável pelo PIB brasileiro. Hoff dá expediente também no Instituto do Câncer de São Paulo, hospital presidido por ele e que atende pelo SUS. Tem uma sala simples, mas abastecida com potes de jujuba e doces de chocolate, no sexto andar do edifício. 14 - Revista do Câncer


15 - Revista do Câncer


Entrevista

Paulo Hoff, sobre pílula do câncer

Entrevista,

Os testes com a fosfoetanolamina sintética em humanos, iniciados pelo Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), do governo estadual, podem definir o futuro de milhares de liminares que obrigam o poder público a fornecer a substância para pacientes com câncer. Nesta entrevista, o diretor do Icesp, Paulo Hoff, afirmou que os testes são necessários para definir se a substância é segura e eficaz, na forma como foi distribuída ao longo de anos, sem qualquer fundamento científico. Segundo ele, o estudo não arriscará a vida dos voluntários. Os estudos do Ministério da Saúde ainda estão sendo feitos em células e camundongos. Por que o Icesp começou diretamente com os testes em humanos? Hoff - Para determinar a toxicidade no ser humano, é preciso testar em seres humanos. A única diferença do nosso estudo é que ele foi desenhado para avaliar a eficácia de um produto que já está sendo usado pela população. Não há necessidade de fazer escalonamento da dose em animais, pois queremos estudar a dose que as pessoas já vêm tomando. Já foram feitos todos os testes necessários em animais? Hoff - Não foram feitos estudos com animais de grande porte. Mas não se pode ignorar que milhares de pessoas já tomaram o produto. Antes dos testes em humanos, os produtos são testados em 40 animais de grande porte. Temos milhares de seres humanos em todo o Brasil dizendo que tomaram o produto. Não podemos ignorar isso.

É seguro testar a substância em humanos? Hoff - Um estudo clínico de fase 1 serve exatamente para isso. Esse protocolo de pesquisa passou por todos os comitês de ética. Então, os voluntários não correrão riscos? Hoff - Há sempre um risco, mas é assim que funciona. Alguém tem de ser o primeiro ser humano a receber o produto. Aqui nem é o caso, porque dezenas de milhares de pessoas já o receberam. Os pacientes serão acompanhados com todo o cuidado necessário. Tivemos a precaução de somente aceitar aqueles pacientes que não teriam impacto negativo na expectativa de vida caso recebessem dois meses de uma terapia não efetiva. Por que seguir testando a substância depois dos maus resultados que foram obtidos com os testes federais?

16 - Revista do Câncer


Hoff - Nosso objetivo é outro. O projeto federal é de desenvolvimento de produto. A missão que recebemos é determinar se o produto que já está sendo utilizado pela população tem benefício ou não, na dose que vem sendo distribuída. O fornecimento dessa dose específica é que está sendo exigido em quase 20 mil liminares concedidas pela Justiça. A indústria já teria parado os testes depois desses resultados? Hoff - A indústria não continuaria o estudo porque ela tem expectativa de retorno financeiro. Mas o Estado não tem interesse financeiro. Nosso estudo não é de desenvolvimento do produto nem é um estudo de registro (de patente). Queremos deter-

minar se o que está sendo demandado por milhares de brasileiros faz sentido. Alguns contestam que o Estado invista esses recursos. Hoff - Os recursos de menos de R$ 1 milhão resolverão um grande problema. Quanto custa para a sociedade brasileira os 18 mil processos que estão tramitando na Justiça? O custo para o Estado seria muito maior se o estudo não fosse feito. Se o produto for bom, não haverá necessidade de ir à Justiça, porque todos vamos querer desenvolvê-lo. Se o resultado for negativo, teremos embasamento para suspender algo que pode custar uma fortuna para o contribuinte. (fonte: Estadão)

17 - Revista do Câncer


Matéria de Capa

ICESP

trat 18 - Revista do Câncer 18 - Revista do Câncer


P completa 8 anos

e se consolida no tamento do câncer 19- Revista - Revistado doCâncer Câncer 19


C

Matéria de Capa onsiderado um dos principais centros de excelência da América Latina no tratamento oncológico, o ICESP

(Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) completa, 8 anos de existência. Com uma megainfraestrutura, o Instituto realizou 2,98 milhões de procedimentos. Foram feitos 50 mil atendimentos, 5,4 mil sessões de radioterapia e outras 4,7 mil de quimioterapia. O Icesp conta também com o maior parque radioterápico do país, com equipamentos de ponta como aceleradores lineares para radioterapia, de braquiterapia e tomógrafo para simulação de procedimentos. É ainda o primeiro hospital público 100% digital. Possui um Núcleo de Pesquisas, que gerencia a execução de mais 61 estudos através de parcerias e 15 projetos institucionais, e tem o Centro de Simulação Realística em Saúde, responsável por treinamentos assistenciais. Além dessa estrutura, o Icesp também se destaca pelo atendimento humanizado. Dentro do Instituto existem 78 ações acolhedoras, como cursos artesanais e a doação de lenços e perucas. Em comemoração ao aniversário da unidade, a equipe de Humanização e Voluntariado passou de quarto em quarto e nos ambulatórios do hospital distribuindo mais de 500 mimos. "Nossa principal preocupação é com o bem-estar dos pacientes, por isso toda a equipe multiprofissional trabalha para proporcionar acolhimento e conforto durante o tratamento. Ações pontuais amenizam o ‘peso' do ambiente hospitalar e podem contribuir com a autoestima e a confiança do paciente", destaca a coordenadora de Humanização do Icesp, Maria Helena Sponton. 20 20- -Revista Revistado doCâncer Câncer


Icesp quer ser o maior centro

especialista em tratamento de câncer da América Latina O Instituto do Câncer do Estado de São são de que sempre há algo a ser feito, em Paulo Octávio Frias de Oliveira (Icesp) – uma relação a como saber levar a vida com Organização Social de Saúde (OSS) criada pelo aquele problema. Os psicólogos estão governo do Estado, em parceria com a Funda- atuando fortemente no instituto”, afirma ção Faculdade de Medicina, para ser o maior o diretor executivo do Icesp, Marcos Fuhospital especializado em tratamento de cân- mio Koyama. Para reforçar cer da América Lao projeto, uma caractina –, desde sua O Icesp em números: terística essencial do inauguração, em instituto é a inovação maio de 2008 vem Mais de 50 mil atendimentos por mês na assistência presse destacando como tada, que permite ao referência no Siste- - 42 mil pacientes ativos e 1.000 pacientes novos por mês enfermo submeter-se ma Único de Saúde - 28,4 mil consultas ambulatoriais, sendo 18 a todas as fases de para o tratamento mil médicas seu atendimento – do oncológico. Com um - 10,2 mil pacientes atendidos na farmácia diagnóstico à reabilitaatendimento mensal ambulatorial ção –, integradas no de aproximadamen- - 5,4 mil sessões de radioterapia mesmo local. te 20 mil pacientes, - 4,7 mil sessões de quimioterapia 730 cirurgias oncológicas Na administrao hospital adotou o ção do Icesp, um esconceito de humani- - 84 mil m² de área construída tilo de coordenação zação para definir a - 499 leitos, dos quais 85 de UTI mais participativo e filosofia de trabalho - 18 salas cirúrgicas - 34 especialidades compartilhado, que aplicada por mais de - 525 médicos no corpo clínico valoriza os profissiodois mil funcionários ligados à instituição. - O parque tecnológico do Instituto conta, hoje, nais e permite uma escuta capacitada Na assistên- com mais de 5.600 aparelhos que vão desde das sugestões, é cia humanizada, o um simples medidor digital de pressão até uma das ferramentrabalho em equipe sofisticados equipamentos de ressonância e tas de gestão para multiprofissional é tomografia a qualidade das reuma estratégia de lações interpessoais promoção da qualidade do serviço em saúde, por meio do aten- e para a eficácia no trabalho e nos resultadimento integral ao paciente e da articulação dos. “Nossa maior preocupação não é disde conhecimentos e habilidades dos diversos cutir o quanto a cirurgia foi complexa, mas profissionais envolvidos no cuidado ao doen- sim o acolhimento prestado ao doente. O te e seus familiares. “Às vezes, não há o que que aconteceu até ocorrer a cirurgia? O fazer terapeuticamente, o paciente está numa paciente pegou fila? Ficou satisfeito com situação incurável. Mas a equipe especializada a consulta médica? Quanto demorou?”, no tratamento humanizado lida com uma vi- observa Koyama. 21 21- -Revista Revistado doCâncer Câncer


Matéria de Capa

Central de Gerenciamento

P

ara aumentar a eficiência na utilização dos leitos e reduzir o tempo de espera por internação, o Icesp implantou a Central de Gerenciamento de Leitos e Agenda Cirúrgica. De acordo com o diretor executivo, a estratégia está minimizando os atrasos, os cancelamentos e as mudanças não previstas na hora da internação. “Em muitos hospitais, os chefes de departamento não têm a informação completa de leitos. É comum haver problemas de comunicação e não se saber que existia uma vaga em determinado leito, após o paciente ter alta. Essa comunicação nem sempre é rápida”, avalia. Com a central, médicos e enfermeiros de perfil administrativo programam todas as informações de leitos ao longo do dia, por meio de um sistema informatizado, relatando as necessidades e previsões de altas. “Aqui existe uma priorização dos pacientes conforme os recursos clínicos disponíveis naquele momento. Essa cen-

tral calcula tudo isso na hora de decidir qual paciente irá ocupar determinado leito de forma prioritária. No Icesp não existe a regra de quem chegou primeiro é atendido na frente”, afirma Koyama. Além do atendimento médico, os profissionais do Icesp desenvolvem atividades de ensino e pesquisa de acordo com o modelo introduzido pela Faculdade de Medicina da USP no país. O objetivo é transformar o Icesp em um centro de pesquisa de referência em nível internacional na área do câncer, inclusive no estudo de novos fármacos e tratamentos para a doença. Neste âmbito, o instituto foi a primeira unidade pública do Estado a utilizar as técnicas de crioterapia (congelamento do tumor) e radiofrequência (aquecimento do tumor) para o tratamento de câncer de rim. Os procedimentos são altamente eficientes na cura desse tipo de doença, destruindo cerca de 90% dos tumores com até três centímetros. Confira a seguir a evolução do ICESP.

22 22 -- Revista Revista do do Câncer Câncer


23 - Revista do Câncer


Matéria de Capa

2009

Instituto do Câncer zera fila de cirurgias

E

m um ano de funcionamento, o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) zerou as filas de espera no Hospital das Clínicas para as cirurgias oncológicas digestivas, ginecológicas e urológicas. Antes, os pacientes esperavam até seis meses. Agora, a demora é de um mês, segundo a direção do instituto. Equipe médica do Instituto do Câncer de SP realiza cirurgia de tumor no útero em quatro salas, são feitas 200 operações por mês. O tempo médio de espera por consultas também foi reduzido de 45 para 15 dias e houve um aumento de 76% no número desses atendimentos de 1.700 consultas mensais para 3.000. "A rapidez do tratamento tem impacto no controle da doença e no estado psicológico do paciente. Receber o diagnóstico de câncer e ficar esperando é muito difícil", diz Paulo Hoff, diretor clínico do Icesp. Apesar de operar com dois terços da sua capacidade o funcionamento pleno está previsto para 2010, o instituto completa hoje o primeiro ano com a marca de 100 mil atendimentos realizados. Dos 29 pavimentos, 20 estão em operação. Ao menos 170 dos 580 leitos estão ocupados. Segundo o diretor-geral do Icesp, a última etapa será a entrega do centro de radioterapia. Será o maior centro da América Latina, avaliado em R$ 55 milhões. Sete bunkers abrigarão um aparelho de tomografia computadorizada de simulação, seis equipamentos de radioterapia e um de braquiterapia técnica por meio da qual o material radioativo é colocado diretamente no tumor. O instituto atenderá pacientes de

outras unidades de saúde, encaminhados pela Secretaria de Estado da Saúde. O hospital não é "porta aberta" não recebe doentes diretamente. Para os pacientes, o maior impacto está no atendimento. "É uma mudança da água para o vinho [em relação ao SUS, em geral]. Aqui, tem enfermeira 24 horas te tratando com respeito", afirma o aposentado Dorivaldo Barbosa, 57, que se recupera de uma cirurgia para a retirada de câncer no esôfago. A enfermeira Edna Araújo Teixeira, 63, faz quimioterapia no Icesp para tratar um câncer de mama e concorda com Barbosa. "Sinto-me acolhida, bem-tratada. Isso aqui parece um Playcenter", exagera, enquanto toma chá com bolachas. Para diretor-geral, o bem-estar do paciente reflete-se no bom prognóstico do tratamento. "Quanto mais agradável, mais acolhedor for, mais rápida é a recuperação e melhores são os resultados. Nosso foco é sempre o paciente", afirma. Neste mês, o instituto ganha um "hospital-dia". São 30 leitos para pacientes que fazem procedimentos como biopsias, transfusões de sangue e aplicações de medicação e ficam no local entre duas e 12 horas. A unidade vai beneficiar, especialmente, os pacientes com leucemias e linfomas, que precisam de aplicações regulares de medicação, transfusões sanguíneas e eventuais cirurgias. O instituto também investe em tecnologia. Desenvolve, por exemplo, um sistema de correio pneumático que permitirá o envio de qualquer material de até 7 kg dentro de uma cápsula, capaz de percorrer os 29 andares do prédio em dez segundos.

2424- Revista - RevistadodoCâncer Câncer


Icesp aplica técnica de congelamento de células para tratar câncer do rim

2010 O

Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado à Secretaria do Estado da Saúde, é a primeira unidade pública de São Paulo a utilizar as técnicas de Crioterapia (congelamento do tumor) e radiofreqüência (aquecimento do tumor) para o tratamento de câncer de rim. Os procedimentos são altamente eficientes na cura desse tipo de câncer, destruindo totalmente cerca de 90% dos tumores com até três centímetros. Utilizando uma espécie de seringa que penetra diretamente no tumor, a lesão é destruída, ou a uma temperatura de -20°C (Crioterapia) ou com temperatura superior a 60°C (Radiofreqüência). O resultado é a destruição total das células cancerígenas do local, que ficam mortas e completamente inativas. “Minimamente invasivas, as técnicas favorecem a recuperação do paciente. Além disso, o procedimento como um todo é muito rápido”, explica Marcos Dall’Oglio, chefe da urologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.

Prevenção

Estudos indicam que a incidência mundial do câncer de rim aumentou 43% nas últimas três décadas e atualmente equivale a 2% dos carcinomas em adultos. Mais uma vez, a prevenção e detecção precoce são aliadas fundamentais para garantir a cura da doença. “Fumo, histórico familiar de câncer de rim e uso prolongado de medicamentos diuréticos são fatores de risco que podem levar ao desenvolvimento de um tumor renal”, alerta Dall’Oglio. A boa notícia é que exames simples como a ultrassonografia ou a tomografia computadorizada, realizadas em check-up’s, podem identificar o problema precocemente. E nestes casos, as chances de cura são superiores a 90%. Mais de 50% dos tumores de rim são descobertos em exame de rotina e quando diagnosticados sem nenhum sintoma, as lesões são menores que quatro cm em 28% dos casos, facilitando o tratamento e ampliando as chances de cura.

25 - Revista do Câncer


Matéria de Capa

Instituto do Câncer de SP apresenta ultrassom capaz de destruir tumores

2011 Foto Mário Barra

Pulsos de ondas sonoras queimam o tecido doente. Instituto vai pesquisar aplicação da técnica em tumores malignos em ossos

Aparelho de ultrassom de alta frequência (em azul), ligado a uma esteira para receber pacientes durante ressonâncias magnéticas

O

Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) inaugurou nesta quinta-feira (14) um serviço de ultrassom - ondas sonoras de alta frequência que

o ouvido humano é incapaz de escutar para destruir células cancerígenas, sem a necessidade de cirurgia e anestesia. O novo equipamento estará disponível à população pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

26 - Revista do Câncer 26 - Revista do Câncer


“A grande vantagem é que as áreas ao redor do tumor não são afetadas, a técnica é muito precisa, só ataca onde é necessário" Marcos Roberto de Menezes, diretor do setor de diagnóstico por imagem do Icesp

Apesar do efeito do ultrassom em tumores já ser conhecido, o novo equipamento consegue focar até mil feixes em um único ponto - com a ajuda de um aparelho de ressonância magnética. Com o calor, as células cancerígenas são queimadas, sem que o aumento de temperatura afete os tecidos saudáveis vizinhos.

“Dois fatores que são levados em conta na escolha das pacientes são o local do tumores e o tamanho deles”, explica o médico do Icesp.

A técnica dispensa o uso de anestésicos. “As pacientes ficam conscientes durante toda a operação, recebem apenas sedativos”, explica Marcos. Segundo o médico, Único na América Latina, o aparelho o procedimento não causa dor intensa. “As é de tecnologia israelense e custou R$ 1,5 pacientes costumam reclamar de dores pamilhão. Segundo Marcos Roberto de Me- recidas com cólicas menstruais, mas isso nezes, diretor do setor de diagnóstico por somente durante o exame.” imagem do Icesp, seis mulheres já foram atendidas com sucesso para casos de mioNo caso do uso da terapia contra miomas - tumores benignos, de tecido muscu- mas, as pacientes deitam, de bruços, em lar e fibroso, conhecidos por afetar o útero. uma esteira usada comumente em exames O Icesp já solicitou protocolos de pesquisa de ressonância magnética. O aparelho de para testar a eficiência da técnica em me- ultrassom fica logo abaixo da cintura. tástases - câncer que se espalharam pelo corpo - ósseas. O diagnóstico por imagem permite “ conhecer as áreas onde estão os miomas. Essa tecnologia ainda é experimental, Após definir os pontos que serão destruídos não só no Brasil, como em outros centros pelo calor, os médicos começam a dispado mundo”, afirma Marcos. “No caso das rar as ondas sonoras em pequenos pontos metástases, a aplicação seria um paliativo, dos tumores. Cada pulso demora apenas mais indicada para reduzir as dores causa- alguns segundos. Vários são necessários das pelo tumor e aumentar a qualidade de para queimar uma área inteira. Toda a opevida do paciente.” ração pode levar até, no máximo, 2 horas. Como funciona

O ultrassom eleva a temperatura das células cancerígenas até 80º C. Esse calor O tratamento, no entanto, não serve destrói qualquer tipo de célula”, diz Marcos. “A para qualquer paciente. Um estudo ante- grande vantagem é que as áreas ao redor do rior precisa ser feito para saber quem pode tumor não são afetadas, a técnica é muito prepassar pelo ultrassom. cisa, só ataca o que é necessário.” 27 - Revista do Câncer 27 - Revista do Câncer


28 - Revista do Câncer


29 - Revista do Câncer


Matéria de Capa

2012

Icesp promove serenata para pacientes

P

acientes em tratamento no Icesp participaram de um evento especial nesta segunda-feira: uma apresentação de serenata foi oferecida para todos os que estão em tratamento na unidade. Realizada em parceria com o grupo Seresteiros de Diadema, a ação leva canções cuidadosamente selecionadas, a partir de um repertório de músicas populares consagradas, mobilizando mais de 2 mil pacientes. A apresentação foi realizada nas recepções da radioterapia, quimioterapia e ambulatórios com objetivo de contribuir para tornar o tratamento contra o câncer mais ameno. Os músicos se apresentam no Icesp trimestralmente, na virada de cada estação. Nessas oportunidades são

cantadas músicas que retratem a estação vigente. “A ideia é que o grupo entoe canções que retratem o espírito de cada estação, no caso da primavera, as músicas remeterão ao processo de renascimento e despertar para um novo ciclo”, afirma Marcelo Cândido, supervisor da Hospitalidade do Icesp.

Icesp fica entre as 30 melhores práticas de sustentabilidade do País

P 2013 rojeto do Icesp fica entre as 30 melhores práticas de sustentabilidade do País. O ranking foi divulgado no dia 1 de agosto, durante o “11º Dia Benchmarking, Compartilhar para Crescer”, que reúne a massa crítica da sustentabilidade, representada por empresas e gestores que são referenciais pela excelência de suas ações. O Icesp foi o único hospital público a receber o título, com o trabalho “Reciclarte:

redução do número de impressões e a arte de reutilizar o papel”. Durante oficinas, profissionais do Instituto decoram bloquinhos de papéis rascunhos, que são entregues para pacientes com dificuldade de fala. Para se tornar uma empresa ou gestor benchmarking é necessário submeter os modelos gerenciais sustentáveis a uma comissão técnica multidisciplinar composta por especialistas de diversos países que avaliam as práticas inscritas sem ter acesso ao nome da organização.

3030- Revista - RevistadodoCâncer Câncer


31 - Revista do Câncer


Matéria de Capa

Robô vai guiar cirurgias no ICESP

I

nstituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), ligado ao governo paulista. Sentados à frente de um console, os médicos irão guiar o robô, que vai permitir uma visão tridimensional e com profundidade, propiciando maior precisão nas intervenções quando comparadas às técnicas de videolaparoscopia e convencionais. O robô será usado nas cirurgias de cinco especialidades oncológicas: urologia, ginecologia, cabeça e pescoço, aparelho digestivo e tórax. A expectativa é que o uso do equipamento reduza o tempo de recuperação e menor dor para o paciente, além de um menor período de internação. Foram feitas três cirurgias no Icesp com o robô no mês de fevereiro. Todas para a retirada de tumores malignos da próstata. O professor titular de cirurgia do aparelho digestivo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a qual o Icesp é ligado, Ivan Ceconello, explicou que o objetivo do projeto científico é comparar o uso da nova tecnologia com os métodos utilizados atualmente no hospital. “O resultado será em três anos e temos disponibi-

lidade para 500 operações nesse período. A técnica é promissora e tem muita chance de dar certo. Para nós, é muito bom estar ocorrendo isso em um hospital de grandes operações”. Ceconello disse que diversos hospitais privados já usam a tecnologia, mas apenas três públicos oferecem esse tipo de cirurgia. O robô custou R$ 10 milhões e a manutenção fica em torno de R$ 500 mil por ano. Apesar do alto custo, o professor diz que o equipamento é vantajoso por oferecer menor desgaste para o cirurgião, diminuir o risco de falhas (como tremores), variedade de movimentos e a visão tridimensional. “Esse robô aumenta a imagem e, em muitas vezes, o que permite que sejam vistos detalhes que podem passar a olho nu em uma operação aberta”. Na primeira fase, serão treinados 30 profissionais, e a cada dois meses uma especialidade nova vai entrar no trabalho. “O que deverá ocorrer é que serão selecionadas as operações a serem feitas em cada um dos métodos, de acordo com a necessidade e funcionalidade. Isso vamos ter que determinar”, disse.

2014

3232- Revista - RevistadodoCâncer Câncer


Médicos residentes do Icesp ficam entre os 5 melhores do mundo

2015

Prova internacional contemplou mais de 200 programas de residência médica; equipe do hospital estadual teve aproveitamento de 75%

O

s residentes de oncologia clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), unidade ligada à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, ficaram entre os cinco melhores do mundo no exame anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO).

Conectados a uma plataforma digital, ao longo de cinco horas, os participantes responderam, em inglês, a 200 questões de múltipla escolha que abrangem todas as áreas de conhecimento no campo oncológico.

O exame é uma ferramenta valiosa para as instituições avaliarem o conhecimento dos profissionais, além de ajudar A prova, que contemplou mais de 200 a estabelecer a consistência dos padrões programas de residência em oncologia clí- educacionais e a mapear as dificuldades nica, foi realizada por quase dois mil pro- individuais. fissionais de todo o mundo e contou com a “Esse resultado nos mostra a quaparticipação de 29 residentes do hospital. O Instituto superou em 10 pontos percen- lidade dos residentes do Icesp, que apretuais a média geral, obtendo um aprovei- sentaram um desempenho excepcional na tamento de 75% e colocando o Icesp, uma avaliação da ASCO, nos colocando entre os instituição brasileira, em uma posição iné- cinco melhores do mundo”, ressalta Paulo Hoff, diretor geral do Instituto. dita nesse tipo de avaliação.

33 33- -Revista Revistado doCâncer Câncer


Artigo

Câncer:

o desafio do SUS no século 21 Paulo M. Hoff*

Apesar dos avanços, recursos são insuficientes, não há em todo País estrutura de tratamento e faltam profissionais capacitados

U

ma das grandes missões da sociedade brasileira no século 21 será a de como garantir um tratamento de saúde realmente digno e eficiente a todos. Quando o assunto é câncer, esse desafio tem uma relevância ainda maior. No mundo, quase 15 milhões de pessoas serão diagnosticadas este ano e mais de 8 milhões morrerão em decorrência da doença. Considerando apenas o Brasil, ao redor de 600 mil casos serão identificados no próximo ano, e a tendência é de aumento nesses dados. Podemos identificar muitas razões para isso. A população envelhece rapidamente, paramos de morrer por doenças infecto-parasitárias, e começamos a controlar mais e melhor as doenças cardiovasculares. O estilo de vida mudou com a urbanização dos últimos 50 anos, levando a alterações nem sempre saudáveis na alimentação e nos níveis de atividade física. A obesidade também é um problema e avança como causa potencialmente evitável de câncer, sem esquecermos ainda dos tumores associados a excesso de exposição ao sol, cada vez mais comuns. Tumores causados por vírus encontraram terreno fértil em uma sociedade mais tolerante em relação a condutas que facilitam sua disseminação, além do tabaco, que continua sendo a principal causa de mortes

por câncer. Os médicos passaram a ter instrumentos muito mais sensíveis para o diagnóstico e casos previamente não diagnosticados passam a engrossar as estatísticas. A medicina contra-ataca utilizando-se da pesquisa e da proliferação de informação pelo ensino. O diagnóstico está mais acurado e incorpora tecnologias como a biópsia líquida e testes de imagem funcional. A cirurgia está cada vez melhor e menos invasiva, e conta com auxílio robótico em muitas situações. A radioterapia torna-se mais segura e eficiente. A quimioterapia tradicional abre espaço ao tratamento molecular, dirigido contra alvos presentes apenas nas células tumorais, diminuindo efeitos colaterais e melhorando as chances de cura. Mesmo pacientes com tumores muito avançados já podem ter esperança de que os tratamentos modernos lhes trarão uma vida mais longa e com melhor qualidade. A imprensa tem sido generosa ao noticiar esses avanços. Pessoas ilustres colaboraram expondo suas lutas contra esse mal, reduzindo o tabu em relação ao diagnóstico e mostrando que, em muitos casos, a cura é possível sim. Cada vez mais vemos os pacientes enfrentando a doença com esperança e cabeça erguida.

34 - Revista do Câncer


Mas esses avanços trouxeram novos desafios ao SUS, incluindo a necessidade de educação e capacitação de pessoal para utilização adequada dessas novas tecnologias, dependência da importação de insumos, equipamentos e medicamentos e o alto custo. Infelizmente, nem sempre esse novo e animado cenário é, de fato, uma realidade palpável a todos. A questão da pesquisa clínica no País tem gerado uma discussão muito saudável e produtiva, com praticamente todos os interessados concordando que nosso sistema atual foi importante e inovador, mas que se tornou lento e burocratizado com o tempo e precisa de ajustes, sem, claro, sacrificar os preceitos éticos que protegem os pacientes.

mentos não param de aumentar? Segundo dados do Cremesp, apenas 45% dos jovens que realizam a prova do Conselho Regional de Medicina são aprovados. Mas todos estão legalmente autorizados a clinicar. Na Medicina um erro pode ser fatal, além de aumentar os custos do tratamento. É evidente que o País precisa de mais médicos, mas não podemos sacrificar a qualidade pela quantidade. Quanto melhor o médico na assistência primária, maior a chance de reconhecer os sinais do câncer e encaminhar o paciente de maneira correta para o tratamento.

“Apenas 45% dos jovens que realizam a prova do Conselho Regional de Medicina são aprovados.”

O número de médicos também é um assunto polêmico. O Brasil tem a quinta maior população do mundo e quase meio milhão de médicos, mas certas áreas geográficas ainda padecem com a falta de um profissional da saúde no local. Obviamente, um aumento no número de médicos graduados seria parte da solução, associado à disponibilidade de infraestrutura adequada e bons salários. O Brasil, que possuía ao redor de 100 escolas de medicina, saltou para mais de 240 instituições em pouco mais de uma década. Apenas a China e a Índia têm mais escolas que o Brasil. E o que questionamos nesse caso é a qualidade das mesmas. Quantas escolas têm bibliotecas, laboratórios e hospitais de ensino que possam treinar o profissional do século 21? Qual a capacitação e conhecimento esperados de nossos médicos em um momento em que o custo e a complexidade dos trata-

Apesar dos avanços nas últimas décadas, ainda estamos longe do ideal. O financiamento é insuficiente, o acesso ao diagnóstico inicial demora muito, as estruturas de tratamento não estão disponíveis em todo o território nacional, e há falta de profissionais capacitados. O alto custo torna imprescindível que a sociedade discuta quais parâmetros serão utilizados na adoção de protocolos de tratamento. Com recursos limitados, as escolhas precisam ser feitas com bom senso. Trabalhar nos pilares de ensino, pesquisa e assistência, em todos os níveis, é fundamental para termos sucesso no combate ao câncer. *É professor titular de oncologia da faculdade de medicina da usp e diretor-geral do instituto do câncer do estado de são paulo (icesp) (fonte: Jornal Estadão)

35 - Revista do Câncer


Artigo

Trabalho do oncologista vai além do físico do paciente

Newton Santos

por Guss de Lucca

Médico do Instituto do Câncer, em SP, fala dos desafios diários da profissão

O

trabalho do oncologista, responsável pelo tratamento do câncer, é sem dúvida uma dos mais complexos e desafiadores. Foi exatamente essa combinação que atraiu o médico Felipe Roitberg, oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. “Sempre gostei de cuidar de pacientes que apresentassem muitos desafios, não apenas referentes aos problemas físicos, mas também no lado psicológico. No caso de quem está tratando um câncer, isso é muito complexo”, afirma o profissional, que define a atuação do cancerologista de forma abrangente. “É ele quem trata do paciente com câncer em toda a sua dimensão, atuando próxi-

mo ao cirurgião e ao radioterapeuta da mesma forma que um maestro numa orquestra. Cabe ao oncologista definir o tratamento ideal, dizendo quando um paciente deve operar, quando fazer a quimioterapia ou seguir em observação”, explica. Complexidade Por conta dessa complexidade, o médico dá extrema importância ao momento da consulta, ocasião em é preciso prestar atenção em todas as queixas do paciente e explicar tudo nos mínimos detalhes. A consulta no Instituto do Câncer de São Paulo, segundo Roitberg, dura sempre mais que 30 minutos. “Não é uma consulta em que você

36 - Revista do Câncer


dá o remédio e se despede. Por isso acho esse tempo adequado. Exceto para o primeiro contato, aí a consulta chega até uma hora, pois você precisa entender o caso e conhecer melhor o paciente”, conta. Ele salienta a importância de o profissional ser um bom ouvinte. “Às vezes as informações que o paciente passa são subliminares.”

paradas para dar o tratamento certo – algumas inclusive limitando medicações e exames. “Isso acontece no sistema público de forma geral, mas também no sistema privado. Os planos estão cada vez mais restritivos, negando ordens médicas e pedindo justificativas em excesso – e isso angustia muito a gente”, lamenta.

Roitberg diz que em hospitais de ponta de São Paulo o oncologista conta com o auxílio de “superespecialistas”, citando como exemplos dermatologistas que trabalham apenas com o tratamento do câncer de pele e cirurgiões especializados somente em tumores no pulmão – fato que minimiza a possibilidade de sequelas após a operação.

Aos interessados em entrar nesse mercado competitivo, Roitberg aconselha dedicação e atualização, além de amor pelo ofício. “É uma profissão dura.

O índice de oncologistas com estafa é alto, pois ela exige muito do tempo do médico, além do estudo e a dedicação a um paciente que demonstra um grau maior de sofrimento – e que às veSistema público zes cabe a você apenas confortá-lo em Porém, muitas instituições não estão pre- sua trajetória.”

37 - Revista do Câncer


Artigo

Câncer:

medicamentos estão mais eficazes, mas menos acessíveis

U

m dos principais desafios no financiamento da assistência oncológica na rede pública é o alto preço cobrado pelas drogas mais inovadoras contra a doença. Em alguns casos, o tratamento de um único paciente chega a custar R$ 600 mil.

fato, terão benefício com esses medicamentos. “Essas drogas são extremamente caras e não funcionam para todo o mundo. É importante investigar caso a caso para selecionar o doente que vai se beneficiar. Caso contrário, vamos usar armas muito poderosas em uma situação desnecessária”, diz.

As novas tecnologias e medicamentos tornaram-se mais efetivas contra cada determinado tipo de tumor, mas o processo de descoberta dessas terapias encarece o produto final. “O que aconteceu na última década é que a biologia molecular e o estudo genético ficaram baratos o suficiente para detectarmos alterações nas células tumorais a ponto de definirmos o tratamento específico. Conseguimos olhar o alvo e quase que desenhar uma molécula capaz de destruir a célula tumoral. Só que essas drogas chegam caras ao mercado, primeiro porque elas são muito específicas, então não têm venda em larga escala, e segundo porque a indústria argumenta que teve as despesas de várias pesquisas até chegar a uma molécula eficaz”, explica Riad Younes, diretor do centro de oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Não por acaso, as drogas mais modernas - e caras - demoram anos para serem incorporadas no Sistema Único de Saúde (SUS). Nos últimos anos, a situação tem aumentado o número de demandas judiciais por medicamentos contra órgãos governamentais.

O especialista explica que, tanto no aspecto terapêutico quanto no financeiro, é preciso ter certeza de quais pacientes, de

No Estado de São Paulo, por exemplo, a estimativa é que seja gasto R$ 1,2 bilhão neste ano para atender aos pedidos de tratamentos feitos via Justiça. Segundo o secretário da Saúde, David Uip, cerca de 70% desse valor será gasto com imunobiológicos usados no tratamento oncológico. “Isso é uma das coisas com que tenho enorme preocupação. O que ocorre é que o tratamento contra o câncer está mudando e avançando, mas essas drogas custam muito caro e nem a medicina pública nem a pri-

38 - Revista do Câncer


39 - Revista do Câncer


Artigo

vada têm recursos para isso. Vamos ter A ação foi movida em janeiro, mas de repensar o sistema e buscar outras a aplicação do remédio só foi iniciada formas de financiamento.” outubro, após decisão judicial favorável. “Foram momentos de desespero, você Desespero vê todas as portas fechando, as possibilidades se esgotando, e parece que o Ingressar com uma ação judicial sistema público não está nem aí. Se eu foi a única saída encontrada pela autô- não tivesse corrido atrás, nada seria feinoma Letícia Fernandes Campos, de 22 to. Tive amigos que nem tiveram tempo anos, para buscar uma nova opção de para isso, morreram antes”, afirma. tratamento para sua doença, um linfoma de Hodgkin. Para Riad Younes, o Brasil deve investir em estratégias de prevenção e Diagnosticada em 2013, a jovem detecção precoce para evitar casos de já havia passado por diferentes tipos de câncer mais avançados, justamente quimioterapia, radioterapia e autotrans- os que precisam de tratamentos mais plante de medula, mas, em todas as caros. “Aqui no Brasil, além de termos vezes, o câncer voltou a aparecer após pouco dinheiro, a gente gerencia mal. alguns meses. A prevenção não é levada muito a “Sempre fiz tratamento pelo SUS, sério. É muito mais barato prevenir um tentei todas as opções, mas, em agos- câncer de pulmão do que tratá-lo, por to de 2015, o câncer voltou de novo e exemplo”, afirma. eu não tinha mais o que fazer. Só tinha um medicamento que podia me ajudar, mas ele não estava disponível no SUS. As 16 aplicações do remédio custam de R$ 500 mil a R$ 600 mil. Foi aí que decidi entrar na Justiça”, conta ela.

40 - Revista do Câncer


41 - Revista do Câncer


Atualização

Tabagismo passivo e ambientes livres da fumaça do tabaco

T

abagismo passivo é a inalação da fumaça de derivados do tabaco, tais como cigarro, charuto, cigarrilhas, cachimbo, narguilé e outros produtores de fumaça, por indivíduos não fumantes, que convivem com fumantes em ambientes fechados respirando as mesmas substâncias tóxicas que o fumante inala. A fumaça do cigarro é uma mistura de aproximadamente 4.720 substâncias tóxicas diferentes que constituem-se de duas fases fundamentais: a particulada e a gasosa. A fase gasosa é composta, entre outros por monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína. A fase particulada contém nicotina e alcatrão. Alcatrão é um composto de mais de 40 substâncias comprovadamente cancerígenas, formado a partir da combustão dos

derivados do tabaco. Entre elas, o arsênio, níquel, benzopireno, cádmio, resíduos de agrotóxicos, substâncias radioativas, como o Polônio 210, acetona, naftalina e até fósforo P4/P6, substâncias usadas em veneno para matar rato. O monóxido de carbono (CO) tem afinidade com a hemoglobina (Hb) presente nos glóbulos vermelhos do sangue, que transportam oxigênio para todos os órgãos do corpo. A ligação do CO com a hemoglobina forma o composto chamado carboxihemoglobina, que dificulta a oxigenação do sangue, privando alguns órgãos do oxigênio e causando doenças como a aterosclerose. A nicotina é considerada pela OMS uma droga psicoativa que causa dependência. A nicotina age no sistema nervoso central como a cocaína, com uma diferença: chega em torno de 7 a 19 segundos ao cérebro. Por isso, o tabagismo é clas-

42 - Revista do Câncer


sificado como doença e está inserido no Código Internacional de Doenças (CID-10) no grupo de transtornos mentais e de comportamento devido ao uso de substância psicoativa. Além disso, a nicotina aumenta a liberação de catecolaminas, causando vasoconstricção, acelerando a frequência cardíaca, causando hipertensão arterial e provocando adesividade plaquetária. A nicotina juntamente com o monóxido de carbono, provoca diversas doenças cardiovasculares. Além disso, estimula no aparelho gastrointestinal a produção de ácido clorídrico, o que pode causar úlcera gástrica. Também desencadeia a liberação de substâncias quimiotáxicas no pulmão, que estimulará um processo que irá destruir a elastina, provocando o enfisema pulmonar. A fumaça que sai da ponta do cigarro e se difunde homogeneamente no ambiente, contém em média três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que o fumante inala. A exposição involuntária à fumaça do tabaco pode acarretar desde reações alérgicas (rinite, tosse, conjuntivite, exacerbação de asma) em curto período, até infarto agudo do miocárdio, câncer do pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) em adultos expostos por longos períodos. Em crianças, aumenta o número de infecções respiratórias. Em 2011, houve um grande avanço que contribuirá para que não haja mais a poluição tabagística ambiental nos recintos fechados, com a aprovação da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro, que proíbe o fumo em local fechado em todo País. De acordo com a referida Lei, o artigo 2º da Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: [1] rt. 2º É proibido o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou qualquer

outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, em recinto coletivo fechado, privado ou público. (Redação dada pela Lei nº 12.546, de 2011) § 1º Incluem-se nas disposições deste artigo as repartições públicas, os hospitais e postos de saúde, as salas de aula, as bibliotecas, os recintos de trabalho coletivo e as salas de teatro e cinema. § 2º É vedado o uso dos produtos mencionados no caput nas aeronaves e veículos de transporte coletivo. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.190-34, de 2001) § 3º Considera-se recinto coletivo o local fechado, de acesso público, destinado a permanente utilização simultânea por várias pessoas. (Incluído pela Lei nº 12.546, de 2011) Assim, o fumante deve ter conhecimento de que a fumaça do seu cigarro ou de outro derivado do tabaco pode causar doenças nas pessoas com quem convive em casa, no trabalho e em demais espaços coletivos e que não existe nível seguro de exposição à fumaça. Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco em seu artigo 8º [2], recomenda que os países signatários elaborem, adotem e apliquem leis que garantam ambientes fechados 100% livres de fumo em locais fechados de trabalho, meio de transporte público dentre outros. Zelar pela saúde pública é um compromisso que deve ser assumido por todos: patrões, empregados, usuários de serviços públicos e privados, enfim toda a população pois a Constituição da República estabelece que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos” (art. 196) [3], se sobrepondo dessa forma aos direitos estritamente individuais e aos interesses de determinados grupos ou classes sociais e econômicas.

43 - Revista do Câncer


Atualização

Não imaginava que homem podia ter câncer de mama!

A

o sentir um nódulo no lado direito do peito, o paulista Carlos Alberto Louro, de 50 anos, pensou “em qualquer besteira”, menos na possibilidade de ter um câncer na mama. Achava que a doença acometia somente mulheres, e por isso levou dois anos até procurar um médico com especialidade em clínica geral. No consultório, descobriu que o tal caroço era um tumor maligno. Enquanto mostra a cicatriz da mastectomia que fez em 2015, indicando que ali haverá agora uma tatuagem, ele faz um alerta: o chamado outubro rosa, quando campanhas no mundo inteiro conscientizam sobre câncer de mama, também tem que ter tons de azul, a cor usada, ao longo do mês de no-

vembro, para fazer barulho sobre o câncer de próstata, comum em homens. – Até descobrir a doença, não imaginava que homem podia ter câncer na mama. Tanto que eu conseguia sentir o caroço e simplesmente deixei para lá, por displicência da minha parte. Acho que podiam alertar mais os homens – sugere Louro, que passou por sete sessões de quimioterapia, 30 de radioterapia e hoje faz acompanhamento no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). A incidência de câncer de mama masculino é rara: para cada 100 mulheres acometidas, um homem é atingido, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Nos dois últimos anos, o Ministério da Saúde registrou 2,1 mil internações de homens com

44 - Revista do Câncer


45 - Revista do Câncer


Atualização esse tipo de tumor. Os números são maiores na região Sudeste, com 796 casos, sendo 318 em São Paulo e 157 no Rio de Janeiro. Em todo país, nesse período, 146 homens morreram. Os sinais e sintomas são semelhantes ao câncer de mama feminino, com o aparecimento de nódulos. O tratamento também é o mesmo, em alguns casos com quimioterapia ou mastectomia, como aconteceu com Louro. A diferença, claro, é o fato de o homem não fazer a mamografia. No caso deles, a mamografia é substituída por exames de ultrassom, além de biópsia. Herança genética e uso de estrogênio, o hormônio feminino – no caso de transgênero, por exemplo -, estão na lista de possíveis causas da doença.

tologista há algumas semanas, no Hospital de Câncer de Barretos, interior de São Paulo. Meses depois de um câncer de próstata, em janeiro, procurou um especialista quando sentiu um caroço no lado direito do peito.

O Ministério da Saúde registrou 2,1 mil internações de homens com esse tipo de tumor. Os números são maiores na região Sudeste, com 796 casos, sendo 318 em São Paulo e 157 no Rio de Janeiro. Em todo país, nesse período, 146 homens morreram.

O oncologista Max Mano, do Icesp, salienta que qualquer aumento nos nódulos deve ser investigado a fundo. Por se tratar de caso raro, aponta ele, tanto o homem como os próprios clínicos que não têm experiência no tema deixam passar essa hipótese. Em sete anos, o Icesp registrou 43 ocorrências do tipo.

– Geralmente, quando o homem descobre, a doença está um pouco avançada. E é mais fácil notar, mas o nódulo é negligenciado, até porque muitos homens não sabem disso – ressalta Mano. O biólogo Luis Alberto Zavala, de 78 anos, teve sua segunda consulta com o mas-

– Nunca conheci um caso semelhante, mas sabia que poderia existir. Aconselho a todos o cuidado constante, a realização de exames com frequência. Por isso descobri bem no início. É levantar a cabeça para seguir em frente – recomenda ele, um peruano que mora em Valinhos, cerca de 90 quilômetros de São Paulo. A mulher de Zavala, a aposentada Maria Aparecida, 67 anos, conta que a família está encarando com naturalidade a doença, “sem grandes dramas”, e até faz graça: – O único em meio a tantas senhoras fazendo tratamento.

O biólogo é assistido pelo mastologista Antônio Bailão, que explica que os remédios usados no tratamento contra o câncer de próstata também podem levar à doença, pois eles estimulam a ginecomastia, que é a hipertrofia das glândulas mamárias. O uso de anabolizantes é outro fator que pode acarretar no câncer de mama. Desde 2000, o Hospital de Barretos registrou 60 casos. – É bom que se deixe o alerta: apalpou a região, sentiu algo diferente, tem que procurar o mastologista e afastar a chance de câncer. (Fonte: O Globo)

46 - Revista do Câncer


47 - Revista do Câncer


Perfil Empresarial

Luiz Donaduzzi:

um empreendedor à frente de seu tempo

U

m visionário que nunca deixou de acreditar em seus sonhos. Assim é Luiz Donaduzzi, diretor-presidente da indústria farmacêutica líder em venda de medicamentos genéricos no Brasil¹, a Prati-Donaduzzi. Após uma infância simples no interior do Paraná, com esforço e dedicação aos estudos se formou em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Depois de ter obtido título de mestre e sempre em busca de novos desafios, Donaduzzi foi contemplado com uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) para cursar doutorado na França, onde obteve o título de doutor em Biotecnologia e Indústrias Alimentares pelo Instituto Politécnico de Lorraine. A inquietação pela inovação levou Luiz Donaduzzi a fundar em 1993, junto com familiares, a empresa Prati-Donaduzzi, em Toledo-PR. A indústria iniciou a produção de medicamentos hospitalares com um capital inicial de apenas US$100 e hoje é uma das maiores indústrias farmacêuticas do Brasil, empregando mais de quatro mil colaboradores. “Há 22 anos buscamos a construção de um modelo próprio de negócio com gestão orientada para a valorização do ser humano, de forma a fortalecer e potencializar a contribuição e a autonomia das pessoas”, afirma.

medicamentos Oncológicos Em seu próximo passo a Prati-Donaduzzi está efetivando sua entrada em uma área pouco explorada no Brasil, a de farmoquímicos. Serão 15 insumos farmacêuticos ativos (IFAs) com foco no tratamento do câncer, sendo que três deles já se encontram em fase de produção de lotes-piloto. Um laboratório piloto de síntese orgânica foi instalado na cidade de Toledo-PR, e equipado para a realização do projeto, que tem como objetivo garantir a alta qualidade dos produtos de uma classe tão importante como a oncologia. A equipe de pesquisadores, responsável pelo desenvolvimento dos processos de produção, é altamente qualificada, formada por mestres e doutores na área de síntese orgânica.

“O objetivo da indústria é atender aos mercados nacional e internacional. Todo o Atualmente, a estrutura da Prati-Do- desenvolvimento dos produtos e o conceitunaduzzi nada lembra o começo de sua his- al da unidade de produção foram pensados tória, porém, sua essência inovadora acom- visando o atendimento às normas brasileira, do FDA e EMEA”, destaca Donaduzzi. panha cada processo até hoje. 48 - Revista do Câncer


49 - Revista do Câncer


Opinião

A Importância e Indicações da

Nutrição Parenteral em Pacientes com Câncer Valéria Abrahão S. Rosenfeld*

O

câncer é umas das maiores causas de morbidade e mortalidade no mundo e o número de novos casos deve subir significativamente nas próximas décadas, ao mesmo tempo todos os tipos de tratamento anti-câncer como cirurgia, radioterapia e terapias farmacológicas têm evoluído e se tornado mais preciso e direcionado as características específicas de cada câncer individualmente. A ingestão oral inadequada é frequente em pacientes com câncer e está associada a perda de peso que pode ser acentuada. A sociedade europeia de nutrição parenteral e enteral publicou recentemente as novas diretrizes para pacientes portadores de câncer que tem como alguns pontos-chave: •De forma prática define-se inadequação da ingestão oral quando o paciente não consegue ingerir por via oral pelo menos 60% de suas necessidades calóricas por uma a duas semanas. •A depleção da musculatura esquelética é a marca da caquexia do câncer, afetando negativamente a qualidade de vida, capacidade funcional e tolerância ao tratamento. •Estudos de composição corporal em pacientes com câncer revelam que a perda específica da musculatura esquelética com ou sem perda de massa gorda associada é o aspecto principal da desnutrição associada ao câncer sendo fator preditor de declínio de capacidade funcional, complicações pós-operatórias, toxicidade a quimioterapia e aumento de mortalidade. •As intervenções nutricionais e metabólicas devem objetivar o aumento da ingestão oral, o controle dos desarranjos metabólicos, manutenção da massa muscular e da performance física, redução do risco de interrupções do tratamento anticâncer e melhora da qualidade de vida.

•Devido a alta incidência de déficits nutricionais e distúrbios metabólicos entre os pacientes com câncer, a monitorização de parâmetros nutricionais deve ser feita regularmente em todos os pacientes com câncer e as INTERVENÇÕES NUTRICIONAIS DEVEM SER PRECOCES. •A argumentação teórica de que os nutrientes “alimentam o tumor” não tem evidência relacionada a estudos com desfechos clínicos e não deve ser utilizada como argumento para diminuir, recusar ou interromper a terapia nutricional. •Se a decisão é de nutrir o paciente com câncer, a recomendação é iniciar nutrição enteral se o paciente não tem condições de adequação da via oral e nutrição parenteral estará indicada em caso de nutrição enteral insuficiente ou quando o tubo digestivo não puder ser utilizado (NÍVEL DE RECOMENDAÇÃO: FORTE). Com relação a indicação de nutrição parenteral em pacientes com câncer é consenso que: •As metas terapêuticas para nutrição parenteral nestes pacientes devem ser: prevenir e tratar a desnutrição/ caquexia, melhorar a tolerância a tratamentos antitumorais, controlar alguns efeitos adversos das terapias antitumorais, melhorar a qualidade de vida. •A NP estará indicada em pacientes com mucosite ou enterite actínica graves. •A nutrição parenteral suplementar está indicada em pacientes quando ingestão oral/enteral < 60% de suas necessidades for estimada por mais de 10 dias. •Durante a terapia oncológica não-cirúrgica (quimioterapia e/ou radioterapia) o uso NP não está indicada, entretanto em vigência de desnutrição grave ou jejum > 7 dias deve-se iniciar NP caso não seja possí-

50 - Revista do Câncer


vel utilizar o tubo digestivo. •Em pacientes incuráveis com falência intestinal a nutrição parenteral estará indicada se: a nutrição enteral for insuficiente, a expectativa de vida for maior que 2 a 3 meses, for esperado que a nutrição parenteral possa estabilizar ou melhorar a qualidade de vida ou se for desejo do paciente ser nutrido por esta via. •Vários estudos vêm demonstrando que 7 a 10 dias de NP no pré-operatório pode melhorar desfechos no pós-operatório de pacientes com desnutrição grave em que o tubo digestivo não possa ser utilizado. •A NP no pós-operatório está recomendada em pacientes que não consigam alcançar sua meta calórico-proteica em 7 a 10 dias somente pelo tubo digestivo. •A reposição diária de vitaminas e oligoelementos é necessária em pacientes no pós-operatório que não consigam ser nutridos por via enteral e que necessitem de nutrição parenteral. •Soluções individualizadas de nutrição parenteral são desnecessárias em pacientes sem comorbidades graves. O desenvolvimento de soluções 3x1 de nutrição parenteral trouxe um avanço na estrutura ergonômica hospitalar por diminuir o número de manipulações de cateter, de erros de prescrição, produção e administração, além de importante redução global do trabalho da equipe hospitalar. Em uma análise retrospectiva de banco de dados, Pontes Arruda e cols avaliaram 15.328 registros médicos de pacientes que receberam nutrição parenteral no período de 2005 a 2007 e como resultado observaram que os pacientes que receberam nutrição parenteral manipulada tiveram maior tempo de internação em terapia intensiva quando comparados a pacientes que receberam soluções de nutrição parenteral “prontas para uso” (11,3 x 9,1 dias, p < 0,001) e maior tempo de internação hospitalar (22,6 x 19,4 dias, p < 0,001). Após ajustes estatísticos para as diferenças, a probabilidade de infecção de corrente sanguínea foi 19% maior no grupo nutrição parenteral manipulada quando comparadas as soluções “prontas para uso” (29,6% x 24,9%, OR 1,29,

95% IC = 1,06 – 1,59). É consenso da ASPEN a recomendação de um processo padronizado para administração de nutrição parenteral. A padronização melhora a segurança do paciente e maximiza a utilização de recursos, diminuindo custos. Este processo inclui a padronização de formulações nutrição parenteral. Um sistema seguro de nutrição parenteral deve existir para que se possa minimizar incidentes e erros de prescrição e melhorar a atenção aos pacientes hospitalizados. Sugestões de Leitura: 1. Pontes Arruda A, Zaloga G, Wischmeyer P, Turpin R, Liu FX, Mercaldi C. Is there a difference in bloodstream infections in critically ill patients associated with ready-to-use versus compounded parenteral nutrition? Clin Nutr 2012, 31: 728-734. 2. Kochevar M, Guenter P, Holcombe B, et al. ASPEN statement on parenteral nutrition standardization. J Parenter Enteral Nutr 2007;31:441–8. 3. Pontes Arruda A, Zaloga G, Wischmeyer P, Turpin R, Liu FX, Mercaldi C. Is there a difference in bloodstream infections in critically ill patients associated with ready-to-use versus compounded parenteral nutrition? Clin Nutr 2012, 31: 728-734. 4. Arends J, et al., ESPEN guidelines on nutrition in cancer patients, Clinical Nutrition (2016), http://dx.doi.org/10.1016/j.clnu.2016.07.015. 5. Bozzetti F, Arends Jb, Lundholm Kc, Micklewright Ad, Zurcher Ge, Muscaritoli M. ESPEN Guidelines on Parenteral Nutrition: Non-surgical oncology. Clinical Nutrition 2009, 28: 445–454.

Valéria Abrahão S. Rosenfeld* • • • • • •

Especialista em terapia intensiva – amib Especialista em terapia nutricional – sbnpe Pós-graduação em nutrologia – abran Instrutora do tenuti - amib Chefe do cti do hospital federal da lagoa/rj Médica da eternu – emtn/rj

51 - Revista do Câncer

Baxter medical affairs


Opinião

O médico Rogério Wolf de Aguiar* É presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers).

Q

uando somos atendidos por um médico, sabemos quem ele é – mesmo que, hoje em dia, com o atendimento de massa, muitas vezes não saibamos nem seu nome. Mas o que ele é?

Às vezes, projetamos no médico alguns papéis irreais. Vulneráveis, enfraquecidos por nossos sintomas, sofridos pelas nossas dores, ameaçados pelos nossos temores, quando nos sentimos doentes atribuímos a ele o poder de resolver tudo isso. É nosso desejo e de nossos familiares. É natural que seja assim. Gostaríamos que a cura acontecesse por mágica, milagre ou qualquer coisa que atendesse a nossa vontade. O médico, com seu saber, deve assumir a incumbência para a qual foi formado, com diligência, perícia e prudência. Deve ter competência técnica. Mas não é mágico nem deus para fazer milagres. Compreendendo e aceitando suas capacidades e limites, poderá agir melhor para ajudar aqueles a quem atende, por mais que a realidade contrarie suas expectativas. Esse é o campo da relação médico-paciente por excelência, tão importante quanto o da competência tecnológica: saber lidar com o paciente em seu momento de esperança-desesperança, biológica e psicologicamente, em seu contexto social. Esse é o médico em seu máximo potencial humano. Não há exagero algum em afirmar que sua atividade é de maior relevância social. Uma sociedade que preza a si mesma deve se empenhar fortemente para que a formação completa dos médicos seja sempre primorosa, ética e tecnicamente, e para que aqueles assim formados possam exercer suas atividades com dignidade e devidamente valorizados. Em nosso país, os médicos muitas vezes trabalham em precárias condições, em lugares deficientes e sem acesso aos progressos da medicina. Cumprem verdadeiros atos heroicos. Mas a sociedade deve compreender que seria muito melhor atendida se precisasse menos de heróis e mais de seres humanos com boas condições de trabalho. No momento em que se celebra o Dia do Médico, é bom lembrar disso. 52 - Revista do Câncer


53 - Revista do Câncer


Opinião

EPIDEMIA DE ULTRASSONS

D

Drauzio Varella

eve existir alguma síndrome tireoidovaginal que desconheço. Minha ignorância é a única explicação para justificar por que as mulheres saem das revisões ginecológicas com pedidos de ultrassom da tireoide. Em 1947, foi publicado um estudo mostrando a discrepância entre o grande número de casos de câncer de tireoide encontrados nas autopsias e a raridade das mortes pela doença. Os autores estimaram que pelo menos um terço dos adultos apresenta pequenos carcinomas papilares de tireoide, que jamais causarão complicações. O The New England Journal of Medicine, a revista médica de maior circulação que publicou esse estudo, agora analisa o exemplo da Coreia do Sul. O país assegura acesso à saúde para seus 50 milhões de habitantes, desde os anos 1980. O sistema é tecnologicamente intensivo: é o segundo do mundo em leitos de UTI por milhão de habitantes, o quinto em aparelhos de tomografia e o quarto em ressonâncias magnéticas. Embora o câncer de tireoide não faça parte do programa nacional de diagnóstico precoce, vários hospitais e médicos incluíram o ultrassom de tireoide nos assim chamados checkups. As estatísticas vitais revelaram que a incidência desse tipo de câncer aumentou lentamente até os anos 1990, para dar um salto exponencial ao redor de 2000. Em 2011, a proporção de diagnósticos foi 15 vezes maior do que em 1993. Atualmente, 56% dos casos são de tumores com menos de 1 cm, contra 14% naquela época.

Você, leitor, poderá pensar que esses dados comprovam a eficácia do screening. Afinal, diagnóstico precoce é passo fundamental para a cura. A realidade, no entanto, é mais complexa. O aumento dramático do número de diagnósticos não foi acompanhado de redução da mortalidade. Essa constatação, em medicina, sempre sugere exagero de diagnósticos (overdiagnosis, na literatura). Hoje, câncer de tireoide é o tipo mais prevalente na Coreia. Foram 40 mil casos no ano de 2011, contra 300 a 400 mortes pela enfermidade. Virtualmente, todos os pacientes receberam tratamento: dois terços pela tireoidectomia total e um terço pela parcial. A retirada da tireoide não é uma tarde no circo. Além do trauma cirúrgico, exige reposição diária de hormônio tireoideano pelo resto da vida, cerca de 10% dos pacientes desenvolverão deficiências das paratireoides e 2% terão paralisias de corda vocal, com alterações permanentes da voz. Nas últimas duas décadas, diversos países observaram fenômeno semelhante: aumento substancial da incidência de câncer da tireoide, sem qualquer impacto na redução da mortalidade. De acordo com o banco de dados Cancer Incidence in Five Continents, a proporção de diagnósticos mais do que duplicou na França, Itália, República Tcheca, Israel, China, Canadá e Estados Unidos. Estamos vivendo uma epidemia de ultrassons de tireoide que sobrecarrega os serviços especializados, encarece o sistema de saúde e expõe as pessoas a punções, cirurgias, angústias e sofrimentos desnecessários.

54 - Revista do Câncer


55 - Revista do Câncer


56 - Revista do Câncer


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.