paisagem
Galeria de Arte Copasa apresenta
paisagem
Exposição Selecionada pelo 12º Edital de Concorrência Pública
Vontade, liberdade; Coisas e fundos; Estrutura, plasticidade; Elementos e mundo Gilson Rodrigues trabalha sob um desejo bastante intenso com a pintura e o desenho, misturando-os sob o domínio da primeira; sua produção exala visivelmente esse investimento. Muitos artistas nascidos depois dos anos 80 – e que estudaram com outros que iniciaram seu trabalho a partir dessa década, representada principalmente pelo slogan da volta à pintura – não carregam o peso da pergunta sobre a validade desse meio: eles simplesmente pintam, com muito prazer, convicção e crescente competência1.
E é exatamente assim que penso que o trabalho com a arte deva acontecer. Essa naturalidade precisa, evidentemente, nutrirse de outras ações, de uma meditação ativa permanente, de um esforço produtivo sem fim, etc e tal; mas o gosto pela coisa é essencial. Considero esse gás como um trunfo, um ganho muito importante, pois nossas preocupações devem ser de outra ordem. No campo da arte, as questões sobre o que fazer não tem grande sentido, pois como fazer importa muito mais. Já temos a liberdade de fazer de tudo, inclusive essa (ou aquela) de pintar.
O trabalho do artista aqui, portanto, exibe sua vontade e liberdade, em sua estrutura e plasticidade, como valores intrínsecos da linguagem que compõem a imagem sobre os suportes; à nossa vista, nada se esconde – voluntariamente – de sua dupla condição. A mancha verde é a copa de árvore; a pincelada ondulante é o perfil de morro; o azul manchado de branco é o céu com nuvens; a pincelada longa ascendente/descendente é o tronco de árvore sombreado; e assim por diante. Historicamente, é bom lembrar que já se pretendeu que esses elementos se confundissem de (alguma) maneira mais verossímil com aquilo que compõe o mundo – representando-o ou se passando por ele – e o resultado nem sempre foi tão interessante; prefiro a operação de Gilson.
A contemporaneidade produziu diferenças e o que hoje dividimos através das imagens é a curtição de sua natureza, no sentido de sua condição de base de potencia reflexiva2. A variada exploração dos cânones da apresentação pictórica, como essa aparente destruição da representação tradicional, me parece – acima de tudo – uma declaração de afeto genuíno pelo trabalho da arte. A experimentação real e produtiva – sem leis – só se dá no campo de um interesse e curiosidade realmente profundos por uma matéria. É como o conhecimento e a exploração de outro ser, que só se desencadeiam pelo amor, pela amizade, pela admiração.
É interessante lembrar algo daquela “má-pintura” (a bad painting) que surgiu na passagem dos anos 70 para os 80, que hoje se mistura com questões da “pintura dos campos de cor” (a color field painting) que a desmontava nos anos 40, para comentar o vigor que reconheço nessa leva de pintores e pinturas3 que não deixa um sentido de investigação da obra muitas vezes transgressor, se confundir com irreverencia. É importante lembrar que o respeito, em seu sentido tradicional, não cabe no espaço da arte; vivemos e sobrevivemos no campo de atravessamentos (ou como diriam outros, de culto, algo sagrado), em reverencia afinal, sob uma espécie de veneração atávica, sem a qual o grande jogo termina definitivamente para todos nós. Ao manter a consciência do trabalho acesa no trabalhar, o puzzle se ativa, sábia e generosamente, e o outro – o tal espectador/ expectador – se torna mais próximo do artista, mais afeito (e por que não, amoroso) à obra.
Voltando aos objetos representados e às imagens de Gilson Rodrigues (reinvocando as paisagens em seus corpos decorados), é dessa maneira que elas interrompem o idílio das visões campestres em formação planar e nos solicitam a sutil lembrança do aqui/agora: isto não é um cachimbo4, atenção; trata-se de tinta sobre tela e isso é uma pintura. Esse quadro quer nos levar ao espaço do próprio trabalho; essas obras (acompanhadas pelo elaborado catálogo) nos oferecem também a chance de refletir ao ver. Então, esmiúce as obras, reveja as imagens do balcão do ateliê, dos muros de fundo da sala de trabalho do artista – da cabeça do autor, do mundo imaginário do pintor – em que as paredes são as telas, quando as bandejas são os canteiros arrumadinhos dos jardins franceses, antes guardados nas cristaleiras maternas, agora fáceis nas lojinhas do centro da capital, vulgares e divertidas Made in China (via Paraguai), em torno de todos nós, em nossos interiores mestiços, iluminados e obscuros (cada um, de vez em quando). Repare como o artista aborda os temas através dos objetos que o rodeiam, através da vida da própria obra, agora exposta. O périplo que ele nos propõe é o nosso trajeto cotidiano, atravessado pela clara tensão entre brutalidades e delicadezas, na qual vivemos. A paisagem do artista aqui – que também é nossa enfim – é como um terreno de múltiplas e imensas possibilidades, como um suporte planar permanente da supravisão, com a própria linguagem em constante curso, e não apenas um tema de eleição propriamente dito ou simples erudição. Os riscos, as pinceladas, as cores, as sombras, os objetos e suas figurações devem se apresentar sobre algo... E daí, isso tudo é como um pano-de-boca teatral, plano/projeto meio perverso sobre suas referencias (o mundo das referencias da própria pintura); ou seja, o mundo da melhor pintura-pintura, que evoca a celebração da arte ativa, como seu discurso sobre coisas e fundos (por exemplo), elementos e mundo, nesse caso. É o trabalho da arte, esse imutável moto-perpétuo entre o homem e a natureza, sempre flagrado na paisagem. Mário Azevedo / Março de 2015
A edição dos livros “Pintura brasileira do século XXI” e “Desdobramentos da pintura brasileira do século XXI”, ambos organizados por Frederico Coelho e Isabel
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Diegues, pela editora Cobogó em 2011 e 2012 respectivamente, reflete muito bem esse panorama.
Algo assim como o mundo (material e imaterial) em que vive e existe o ser humano, em meio às suas atividades e fenômenos decorrentes, como o somatório das
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forças ativas em todo o universo; a realidade, junto a quaisquer artifícios ou efeitos, artísticos ou não, na combinação das qualidades constitucionais, no conjunto de tendências que regem as várias condições e disposições possíveis. (Nota formulada a partir do verbete natureza do Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.)
Qualquer coisa que já existia na pintura de Yves Klein, Daniel Buren, Jasper Johns, Robert Ryman, Luc Tuymans e do brasileiro Luiz Zerbini, por exemplo (apesar
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de vir de tendências aparentemente opostas). Trata-se de algo espirituoso (simultaneamente espiritual e humorado), claramente perceptível para quem conhece as obras a que me refiro. De qualquer maneira, esse não é o espaço adequado para estender essa questão.
Lembrando a obra de René Magritte, “A traição das imagens”, na qual a frase Ceci n’est pas une pipe (Isto não é um cachimbo) está escrita sob a figura bastante
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convincente de um cachimbo, ocupando o centro de uma tela com o fundo pintado de uma cor plana e neutra. Existem algumas versões da obra, com pequenas variações, de 1927, 1928 e 1929, em alguns museus da Europa e Estados Unidos.
Paisagem, detalhe.
Paisagem, tĂŠcnica mista sobre mdf, 100x150, 2013.
Hibiscus, detalhe.
Hibiscus, tĂŠcnica mista sobre mdf. 1,50x1,00, 2012.
Helicônia, detalhe.
Helicônia, técnica mista sobre mdf, 100x150, 2011. ( Coleção particular )
Sem tĂtulo, Ăłleo sobre mdf, 100x150, 2014 (trabalho em processo).
Vaso com azaleias, รณleo sobre tela, 20x30cm, 2014.
Samambaia, 20x30, 2014
Sem tĂtulo, Ăłleo sobre tela, 2014.
Sem titulo , 20x30, 2014
Sem título, óleo sobre tela, 20x30cm, 2014.
Sem título, óleo sobre tela, 20x30cm, 2012
Gilson Rodrigues FORMAÇÃO
2014 - Artes Visuais Bacharelado em pintura (UFMG). 2013 - Artes Visuais Licenciatura (UEMG).
EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
2013 - Arte Educador - Fundação Inimá de Paula.
2013 - Professor no Curso de Extensão; Introdução a Aquarela - UEMG.
2012 - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) - UEMG. 2011 - Monitor na disciplina de Pintura C; do curso Artes Visuais - UFMG. 2010 - Arte Educador - Palácio da Liberdade.
EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL
2016 - Mostras BDMG 2015, Belo Horizonte/MG. (Exposição agendada)
2015 - Orgânico/Artificial - Galeria SESI-Mariana, Mariana/MG. (Exposição agendada)
2015 - Paisagem - 12° edital de concorrência pública da Galeria de Arte Copasa, Belo Horizonte - MG.
EXPOSIÇÕES COLETIVAS E CURADORIA
2015 - ÀOBRA - Ateliê Expandido, Exposição coletiva - Centro Cultural UFMG, Belo Horizonte/MG.
2015 - Poéticas do Habitar - Exposição coletiva, Escola de Belas Artes/UFMG, Belo Horizonte - MG.
2014 - Fragmentos e trajetos - Exposição coletiva dos formandos, Centro Cultural UFMG, Belo Horizonte - MG.
2014 - Casa de Cacos: objetos - Curadoria e montagem, Museu Casa de Cultura Nair Mendes Moreira, Contagem/MG. 2013 - Corpos-dados - Exposição Coletiva - Centro Cultural de Contagem, Contagem - MG.
2012 - VI Mostra de Artes Visuais L. - Exposição Coletiva, Escola de Design, UEMG -,Belo Horizonte - MG.
2012 - Visceralidades - Exposição Coletiva e Café Debate - PUC Minas, São Gabriel. Coletivo Vórtice. Belo Horizonte - MG. 2011 - Sem título - Exposição Coletiva - Festival Independente 424 - Espaço Fluxus, Belo Horizonte – MG. 2011 - Deriva III - Exposição Coletiva - Centro Cultural UFMG. Belo Horizonte - MG.
2010 - Deriva II - Exposição Coletiva - Centro Cultural UFMG. Belo Horizonte - MG.
2009 - II Mostra de Artes Visuais L. - Exposição Coletiva - Escola de Design, UEMG. Belo Horizonte - MG.
RESIDÊNCIA 2014 - Residência Artística - Centro Cultural UFMG. OUTROS
2014 - III EPHIS - Encontro de Pesquisa em História. UFMG, Belo Horizonte - MG.
2013 - I Seminário Interdisciplinar das equipes PIBID/UEMG. UEMG, Belo Horizonte - MG.
2012 - Mesa dialógica: Pintura - VI Mostra de Artes Visuais da Escola de Design, Belo Horizonte - MG.
Gilson Rodrigues (31) 88370897 gilsonrodrigs@gmail.com Flickr/gilsonrodrigs Projeto gráfico: Samuel Wenceslau Fotos: Gilson Rodrigues Texto: Mário Azevedo agradecimentos Mário Azevedo e Samuel Wencslau
30 de abril a 31 de maio de 2015 Realização Copasa Conselho Curador Maria Angélica Melendi Maria José Fonseca Francisco Magalhães Curadoria Mário Azevedo Montagem Gilson Rodrigues e Copasa Galeria de Arte Copasa Rua Mar da Espanha, 525 Bairro Santo Antônio Belo Horizonte - MG galeriadearte@copasa.com.br www.copasa.com.br facebook.com/galeriadeartecopasa
FORTALECENDO A ARTE E A CULTURA EM MINAS