FIGUEIRA DO RIO DOCE ANO 2 NÚMERO 85 FIM DE SEMANA DE 13 A 15 DE NOVEMBRO DE 2015 FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS EXEMPLAR: R$ 1,00
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TSUNAMI DE LAMA
Empresa pertencente à Vale e à BHP Billiton (maior mineradora do mundo) é culpada por acabar com vários distritos da cidade primaz de Minas Gerais, além de entupir o rio Doce com rejeito de minério e assassinar pessoas com a lama da barragem que desabou. Páginas 2 a 9
ESPECIAL 2
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
Da lama ao caos
Você é a favor do novo código da mineração?
A mineradora Samarco, única responsável pelo rompimento das barragens em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, é uma joint venture da Vale com a australiana BHP Billiton (a maior empresa de mineração do mundo) e em 2014 teve um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões. Não questionamos o direito ao lucro dessas empresas, porém, num momento como este, é importante pensar a que custo elas lucram tanto. O Brasil tem sido como uma “mãe” para as mineradoras e Minas Gerais é um dos seus “berços”. Isto porque as empresas de mineração são isentas de diversos impostos para exportação, uma excelente vantagem competitiva para elas, mas um péssimo negócio para a nação e, principalmente, para os Estados da Federação em que há extração mineral. No caso dos impostos estaduais, desde 1996, com a aprovação da chamada Lei Kandir (Lei Complementar n° 87), o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal fonte de arrecadação dos Estados, deixa de valer para as exportações de alguns produtos, entre eles, os minerais. Entre os tributos federais dos quais esses produtos são isentos podemos citar: Imposto sobre Exportação (IE), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Operações Financeiras (IOF, que pode ter alíquota zero ou ser compensado quando o exportador contratar operações com derivativos), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e PIS/Pasep, que podem ser ressarcidos. Ou seja, um grande volume de dinheiro que deixa de ser arrecadado pelo Estado Brasileiro. É compreensível que sejam oferecidos alguns benefícios a empresas tão importantes para a economia nacional; mas, o que faz com que elas tenham uma vida tão fácil no Brasil? Num país soberano os interesses deveriam ser ditados pelo público, o que nos faz pensar: é de interesse da população, por exemplo, extrair todo o minério disponível em nossas terras a qualquer custo? Claro que não. Mas, infelizmente, a economia brasileira ainda é extremamente dependente da exportação de commodities, o que nos faz reféns dessas mineradoras. Essa dependência (sem contar as doações de campanha), talvez explique a inércia com que os nossos representantes têm tratado a “tragédia de Mariana”, que já atinge boa parte da população do Leste mineiro e do Estado do Espírito Santo. O prefeito de Mariana Duarte Júnior; o Senador Aécio Neves; o Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais Altamir Rôso; e o governador Fernando Pimentel, todos tentaram salvaguardar a Samarco. Pimentel inclusive chegou a dar uma entrevista coletiva na sede da mineradora. Enquanto isso, milhões de metros cúbicos de lama desceram o rio do Carmo e chegaram ao rio Doce. A situação nos municípios atingidos pela lama da Samarco é calamitosa. Em Governador Valadares falta água nos reservatórios da cidade, nas casas das pessoas e não há previsão para o retorno do abastecimento. A lama que chegou ao rio Doce comprometeu a qualidade da água e, até agora, não há possibilidade de tratamento. Além disso, a economia da cidade também padece os efeitos desta crise. Órgãos públicos reduziram o expediente, construção civil está paralisada, bares e restaurantes utilizam materiais descartáveis e o comércio baixa as portas. Isso sem contar o mau cheiro que se instalou às margens do rio por causa da grande quantidade de peixes mortos. Enquanto essas mineradoras só pensam em seus altíssimos lucros com a exploração do minério, os prejuízos causados pela Samarco ao povo são incalculáveis. Pessoas morreram, outras estão desaparecidas e muitas estão sem água. Isso não pode ficar assim. Os responsáveis têm que ser penalizados e precisam, ao menos, amenizar o impacto que este desastre terá a longo prazo. A população espera um posicionamento da Justiça e de nossos representantes e, pelo que vemos, não se deixará passar despercebida. Como diria Chico Science: “Da lama ao caos, do caos à lama. Um homem roubado nunca se engana.”
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Editor Fernando Gentil - DRT/MG 18477 Reportagem Gina Pagú - DRT/MG 013672 Revisão Fábio Guedes - DRT/MG 08673 Ombudsman Manoel Assad
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
PARLATÓRIO
EDITORIAL
Diretor e Jornalista Responsável Moisés Oliveira - DRT/MG 11567
ESPECIAL 3
Colunistas e Colaboradores Flávio Froés Ingrid Morhy João Paulo M. Araújo José Marcelo Júlio Avelar Marcos Imbrizi Assessoria jurídica Alexandre Albino Diagramação Stam Comunicação - (33) 3016-7600
Artigos assinados não refletem a opinião do jornal
José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia do CNT Jornal e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder Notícias, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo em Brasília.
José Marcelo / De Brasília
Fale com o José Marcelo: noticiasdopoder@uol.com.br
SIM
A reforma do código da mineração
Sentimento de traição
Danilo Tavares da Silva – Associado do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Advocacia
D
e fato, há tempos já se debate a respeito da necessidade de uma nova lei para o segmento. O Código de Mineração foi editado em 1967 e, apesar da reforma a que foi submetido pela lei n.º 9.314/96, dá claros sinais de que não se mostra mais suficiente para uma regulação adequada e capaz de enfrentar os desafios que a gestão dos recursos minerais impõem. Por isso é que vale aprofundar o debate em torno do projeto de nova lei no qual o governo federal vem trabalhando. Como se dá em qualquer proposta de reforma regulatória, é de se iniciar com duas tarefas fundamentais: um diagnóstico da situação que se pretende suplantar e o estabelecimento de novos objetivos de política pública que serão perseguidos mediante a aplicação da nova normatização. O que se pretende fazer com a presente série de artigos é expor os componentes principais dessas duas tarefas primordiais e indicar alguns dos dilemas regulatórios com que a reforma terá que lidar. Um dos principais problemas hoje identificados refere-se à ausência de planejamento estatal na exploração dos recursos minerais e à inexistência
de instrumentos mais robustos de organização do acesso de particulares ao patrimônio mineral. A sistemática de atribuição dos direitos de lavra ao agente que logre êxito na pesquisa premia aquele que incorre nos riscos exploratórios, mas não garante que a atividade econômica subsequente se coadunará com outras políticas públicas. Se, por um lado, há de se tomar cuidado para não se tolher a perspectiva de ganho daquele que se submete a severos riscos econômicos por conta da prospecção mineral, por outro, não se pode negar ao Estado, titular do bem a ser explorado, a possibilidade de manejar instrumentos que conformem a atividade privada a interesses albergados em projetos que privilegiem, por exemplo, a sustentabilidade ou aspectos outros ligados ao desenvolvimento local. Nessa perspectiva, pode-se pensar na articulação de mecanismos (como a desoneração tributária) que incentivem o adensamento de valor da cadeia produtiva mineral, fomentando a internalização de processos industriais. Nesse sentido, pode-se cogitar também uma forma de coadunação com a política de desenvolvimento produtivo – tal como a pro-
moção de Arranjos Produtivos Locais baseados na mineração (o que também pode ser feito no âmbito de políticas de desenvolvimento regional) e o emprego dos recursos oriundos da atividade em C&T – envolvendo, pois, a participação de outras instâncias governamentais. Outra questão importante se refere aos mecanismos de apropriação estatal da riqueza oriunda da atividade. Ao mesmo tempo em que setores do governo entendem que a tributação é baixa, os agentes privados, de outro lado, há tempos reclamam da elevada carga tributária. Além disso, não se deve esquecer que os royalties e compensações suscitam uma questão federativa importante: a sistemática de distribuição entre União, Estados e Municípios. E, ainda no que concerne aos ônus que podem incidir sobre os particulares, existe uma grande discussão a respeito dos mecanismos de cobrança pelos direitos exploratórios e de seleção dos agentes que os titularizarão. De qualquer forma, os mecanismos de atuação estatal na economia não podem ter o efeito de inibir a indústria da mineração. A reforma da lei sobre a qual se reflete agora deve cumprir a função precípua de estimular a atividade privada. *Texto retirado do site Migalhas
Um código sob suspeita Carlos Bittencourt – Pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
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Se o presidente Eduardo Cunha está sendo obrigado a conviver com o sentimento de traição em relação a alguns parlamentares, principalmente do PSDB, para alguns deputados o sentimento é outro. Membros de partidos com bancadas menos numerosas e até mesmo para alguns figurões da política, o desgaste de Eduardo Cunha e a sangria dele perante a opinião pública traz um certo sentimento de libertação. Na verdade, Eduardo Cunha vem sentindo o mesmo gosto amargo do remédio que ajudou a empurrar goela abaixo do governo. Assim como vem acontecendo com a presidente Dilma Rousseff, em momento de fragilidade perante a opinião pública, cada parlamentar passa a agir de acordo com os próprios interesses, deixando de lado o até então aliado. Aqueles deputados que se elegeram graças à ajuda de Cunha, junto aos financiadores, são os que ainda têm demonstrado mais solidariedade.
Aproximação segura
Já que no campo da política a condição de aliado ou adversário muda de acordo com o interesse das partes, o Palácio do Planalto está cada vez mais atento à situação de Cunha e isso tem incomodado a ala mais esquerdista do PT. Na avaliação de um parlamentar mais ligado às origens da legenda e que pediu para não ser identificado para evitar conflitos internos, o PT já deveria ter pedido a cabeça de Cunha. Até agora, interlocutores do Palácio no Congresso têm feito vistas grossas, mas mantido os ouvidos bem atentos.
E o riso
Em conversa por telefone na manhã de quarta-feira, um parlamentar do PT ironizou a declaração do líder da legenda na Câmara, Sibá Machado (AC), que liberou os parlamentares a votarem como quiserem no Conselho de Ética, quando for apreciado o relatório sobre Eduardo Cunha. O parlamentar brincou e criticou Sibá, dizendo que a liberação ou não por parte dele não muda em nada. Sibá é apontado como um líder que não lidera. E não é de hoje.
Aposta em popularidade
Apesar de lamentar a tragédia ocorrida em Mariana, em conversa com este jornalista um importante interlocutor do Palácio do Planalto avaliou que o assunto tomou conta da mídia e afastou, temporariamente, as atenções sobre a presidente Dilma Rousseff. Na avaliação da fonte, em função do distanciamento do noticiário mais negativo, a expectativa é de que a popularidade da presidente volte a reagir e isso seja comprovado nas próximas pesquisas de opinião. O sangramento e o desgaste de Eduardo Cunha também devem ajudar, segundo o interlocutor. É que Cunha perdeu o poder de fogo contra o governo, de quem agora espera algum afago.
Solidariedade presidencial
Tudo bem que a mudança de foco da imprensa coloca a tragédia de Mariana no centro do noticiário e tira um pouco o foco sobre a presidente Dilma Rousseff. Mas custava a presidente demonstrar mais solidariedade, estar mais presente em Minas e se mexer para mostrar que o governo federal está de olho?
Júlio Avelar E VALADARES TÁ SOFRENDO, TÁ DE LUTO
NÃO
esde 2009, sem o saldo positivo da balança comercial da mineração, a balança comercial brasileira seria deficitária. O saldo do setor mineral tem sido maior do que o saldo total do comércio brasileiro. Como a mineração é uma atividade material, movimenta uma grande massa de recursos naturais para existir. O crescimento da mineração significa um crescimento também sobre os territórios e, consequentemente, sobre as comunidades e o meio ambiente. Um dos mais notáveis impactos causados pela mineração é sobre a água. Ela consome quantidades gigantescas de água. Em 2012, foram mais de cinco quatrilhões de litros de água, o equivalente ao consumo de oito cidades do tamanho do Rio de Janeiro. Além disso, a mineração é uma das atividades econômicas que mais poluem as águas superficiais e subterrâneas no Brasil. Outros dois impactos importantes dizem respeito aos trabalhadores do setor, já que a mineração é dos segmentos que mais matam, mutilam e enlouquecem no país. E a mineração vem removendo famílias e afetando os modos de vida de diversas comunidades atingidas por sua logística. Por incrível que pareça, a proposta apresentada pelo governo federal ao Legislativo representa um retrocesso quanto a esses pontos na comparação com o atual código apresentando em 1967, em plena ditadura militar. Se neste código de um tempo de exceção, em seu artigo 54, se condicionava a atividade mineradora à responsabilidade sobre os usos da água e ao impacto de vizinhança e ao dano e prejuízo causados a terceiros, no atual projeto de lei não há sequer menção a esses temas. Nesse aspecto, o governo Castello Branco se mostrava mais progressista do que o atual governo federal. A omissão quanto a esses pontos revela uma visão que trata a mineração exclusivamente como uma atividade econômica, como se ela ocorresse num espaço vazio, sem pessoas, comunidades, natureza. Em estudo realizado pelo Ibase fica claro que as empresas investem alto na sua relação com as instituições políticas bra-
A declaração do líder do PSDB na Câmara, o deputado Carlos Sampaio, de que o partido vai pedir a cassação de Eduardo Cunha caso fique comprovado que ele mentiu não foi bem digerida pelo presidente da Câmara. Eduardo Cunha, que até agora se escorava basicamente na oposição, e principalmente em nomes de peso do PSDB, para enfrentar o governo e parte do próprio PMDB do qual faz parte, teria reclamado com um colega, dizendo que o sentimento de traição é grande. E, em parte do PSDB, a avaliação é de que a possível comprovação de que Cunha tenha mentido ao negar ser titular de contas no exterior pode colocar o senador Aécio Neves (MG) em situação muito delicada. É que Aécio Neves disse, há algumas semanas, que Cunha deveria se afastar da Presidência da Câmara para preservar o mandato. Até internamente a declaração soou como imprópria. Agora, ficou preocupante.
Sentimento de libertação
sileiras. Só as principais empresas do setor, como a Vale, CSN e Anglo-America, somadas, doaram mais de R$ 17 milhões nas eleições de 2010. Não à toa, dois dos principais beneficiados por essas doações são ninguém menos que o presidente (deputado federal Gabriel Guimarães-PT/MG) e o relator Leonardo Quintão (PMDB-MG) da Comissão Especial, que tiveram campanhas de R$ 3 milhões e R$ 2 milhões, e receberam cerca de 20% das empresas mineradoras. Não há como aprovar um novo código sobre o qual o governo federal só havia discutido com as grandes empresas do setor mineral em detrimento da sociedade civil e das pequenas empresas do segmento. *Texto retirado do Canal Ibase
RECORTE DAS REDES
Sempre tivemos escassez de água em Valadares em tempos de enchentes do rio Doce, mesmo com água suja mais fácil de ser tratada. Este ano, em menos de uma semana, tivemos problemas graves de falta de água e, agora, com a barragem da Samarco rompida, o problema virou calamidade pública, uma verdadeira catástrofe. Nossas autoridades estão de pés e mãos amarrados porque nunca se preocuparam em captar água potável em outros locais como deveria para a chamada prevenção. A famosa “Cachoeira dos Bretas” tem água de sobra e viria por gravidade até o SAAE. Águas passadas e presentes ainda estão lá jorrando e sendo jogadas no “mar de lama” do nosso rio, que já foi Doce.
SEM TEMPO Prefeita Elisa Costa e seu mais fiel e confiável secretário, Omir Quintino, não têm muito tempo agora para trazerem as águas dos Bretas ou do Onça para a cidade, mas deveriam marcar um início de obras para que o futuro prefeito ou prefeita dê continuidade. Um trabalho caro sim, mas nem tanto, pelo tamanho do estrago que hoje estamos vivendo e passando. Há mais de 20 que venho falando aqui na imprensa em que atuamos e como vereador que fomos da necessidade de se buscar água em outros lugares.
AS PROFECIAS SE CUMPRIRAM Um geólogo francês nos deu uma entrevista ao vivo há 23 anos na TV Rio Doce. Ele, hospedado no então famoso GPH, disse claramente “que no ano 2025 o rio Doce viraria um filete de água porque nossa região não tem água, só pedra, e que o Vale do Rio Doce se uniria ao Jequitinhonha numa seca sem fim”. Rimos dele porque o rio Doce transbordava de água cristalina. Mas ele tinha razões de sobra, o geólogo francês que aqui estava a trabalho para a Organização das Nações Unidas para Saúde. Mas tarde, outro ambientalista e geólogo, Henrique Lobo, valadarense, falava a mesma coisa. Menos dramático, ele dizia: “Vamos ter escassez de água no futuro em Valadares e região”.
Júlio Avelar é jornalista, apresentador na TV Rio Doce e membro da Academia Valadarense de Letras
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Marcos Rios e Rita de Cássia
POLÍTICA 3
SAMARCO CULPADA, VALE IDEM Não se sabe o porquê de a imprensa nacional vir dando tão pouco destaque a esta tragédia, que é a maior de Minas, não só pela falta de água, mas pelas mortes, destruição das matas, dos animais e de tantas outras vida, que num futuro ainda distante (e muito distante) poderá, querendo DEUS, se recuperar. A Vale não se pronuncia como deveria, nem a Samarco, as únicas grandes culpadas. Governador Pimentel vem à cidade, fala nada com nada e vai embora. O povo está apavorado, sofrendo calor intenso, sem água e sem chuva. Até parecem as pragas do Antigo Egito; exatamente quando a Record finaliza sua novela de maior Ibope do que a Globo, “Os Dez Mandamentos”.
QUEM VAI NOS PAGAR? Quem vai nos pagar por todo este estrago que, segundo alguns entendidos (e como temos entendidos no assunto por aqui e por aí), o prejuízo já ultrapassa a casa dos R$ 10 bilhões, o que, para eles da Samarco, é fichinha. Porém, se cada morador entrar na justiça por danos morais isso pode dobrar. Afinal, água é um bem comum, é de todos, mas tiraram nosso direito. Idosos, crianças, doentes; minha higiene pessoal, a sua higiene pessoal, os bares, restaurantes, padarias, escolas, faculdades, e tudo por irresponsabilidade de empresas ricas e poderosas que financiam políticos cada dia mais corruptos, mais ladrões, safados e que só pensam neles. Toneladas de peixes desaparecendo, o famoso cascudo mineiro provavelmente não terão jamais. Nosso medo é a cegueira da Justiça, porque às vezes ela é cega por completo ou abre um dos seus olhos raramente a favor dos atingidos mais do que nos atinge.
Carlos Thebit e Alzira
OS ABUSADOS Com essa tragédia que se abateu sobre Valadares e outras dezenas de cidades rio abaixo, apareceram os carnificeiros, os abusados que aumentaram o valor de um galão de água de R$ 7 para R$ 15 a 25. Cadeia neles e pra eles com altas multas! Grave tudo, espalhe pelas redes sociais, mande para os programas locais de TV, denunciem esses bandidos corruptos para que tão logo a normalidade volte, suas lojas sejam fechadas e eles expulsos de cada cidade onde residem.
POLÍTICA 1 Como eu disse em primeira mão nas minhas redes sociais, Ruy Moreira iria (e foi) para o PSDB. O partido tá ficando cheio ou inchado de tradicionais políticos vitoriosos e perdedores, mas com o objetivo de ficar forte e não deixar o PT continuar no poder. É ver pra crer. Ruy está inelegível, mas tem moral, tem respeito da população, foi um bom prefeito. Basta saber se transfere voto.
POLÍTICA 2 E por onde entraram o ex-presidente da FPF, atual presidente do Democrata Edvaldo Soares, que, depois de perder o PMDB para Renato Fraga, está sendo cogitado não só pelo seu dinheiro, mas pelos quase dez mil votos que teve numa primeira tentativa de eleição. Edvaldo não é de se jogar fora, é de ser bem aproveitado.
Renato Fraga está calado. Bobo ele nunca foi nem é. Tem um número de candidatos a vereador muito melhor do que quando Ronaldo Perim presidia o PMDB. Vem costurando alianças independentes e fortes numa soma melhor.
POLÍTICA 4 Presidente da Câmara de Vereadores de Valadares Adauto Carteiro disse no Programa Júlio Avelar (TV Rio Doce) na última sexta-feira que é pré-candidato a prefeito e não mais disputará reeleição para vereador. Em conversas, aqui e ali dizem que ele terá o apoio do rico empresário e ex-deputado Hélio Gomes. Será? Já na terça-feira seguinte, o Diário do Rio Doce também deu a notícia com nomes de dez vereadores o apoiando para prefeito, e entrevistados também. Como política é igual nuvem de chuva, às vezes está aqui e outras vezes lá, vamos ver até quando Adauto terá esse apoio. Humilde e simples ele sempre foi.
MISSA PARA O “NICOLINHA” CARLOS NICOLE PERIM FILHO Tereza e eu sempre o chamávamos de “Nicolinha”, o príncipe dos olhos verdes, filho de Carlos Nicola Perim e Romilda. Pois é, hoje, sexta-feira, às 19h30, na Catedral de Santo Antônio, acontece a Missa de Sétimo Dia para a boa alma deste garoto que seria médico pediatra como o pai. É obrigação e vontade.
João Paulo M. Araújo
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or sugestão de um amigo, chamemo-lo “Folhinha”. Folhinha é meu vizinho. Certamente um sujeito íntegro, excelente pai de família, machista, racista e homofóbico na medida que (na cabeça dele) separa o piadista do inconveniente. Todos os dias, no fim da tarde, ele faz por merecer seu cognome. Sem camisa, com ar descansado e de mangueira na mão, Folhinha lava a sua calçada. Quem nunca? Seu zelo pela limpeza causa inveja até aos obsessivo-compulsivos: para não ter de impor a um desconhecido a sujeira da sua parcela de passeio público, Folhinha faz questão de deixá-la imaculada. Homem de bem, tem mentalidade prática e arrojada: o patriarcado não lhe permite o desperdício desnecessário de energias – daí o uso constante da mangueira. Sua tenacidade é um exemplo para todos nós: domar a água, fazê-la sua serva, impor-se a ela como a uma filha adolescente, até que a última folha, aquela folhinha, possa também submeter-se a sua vontade e seguir o seu curso junto à lama. Esta sim sua mais verdadeira inimiga! Pois quanto mais se fazia valer, mais a lama assomava-se; e Folhinha ignorava que sua vontade era justamente o que a movimentava; que sua tentativa de se impor forçosamente contra aquele movimento era precisamente o que o impulsionava. Pois eis que Folhinha teve uma surpresa nos últimos dias. A lama, sua inimiga figadal, vingou-se de forma astuciosa: e ele – e todos os “Folhinhas” – foi surpreendido pelo despropó-
Os homens ocos
sito da mais proposital das catástrofes. A lama agora impõe-se a todos nós, e, com ela, o pesado dos metais, o poluído que não se filtra, a escassez que aflige e faz-nos prostrar diante de um evento que só podemos, sem muitas definições, murmurar cabisbaixos: tragédia. Mas a trágica catástrofe que se abate agora sobre Governador Valadares não é – não pode ser! – o acaso de um infeliz ocaso. Ela é o último fruto de uma inglória colheita cuja semeadura nós, diariamente, efetuamos: pois é difícil, hoje, mensurar o valor de algo tão abundante, de preço tão diminuto. Menor que a conta de fim de mês do boteco, um quase nada diante das quinquilharias mensais do cartão de crédito... Estamos acostumados a ter por garantido aquilo a que habitualmente não temos o costume de pagar (caro); o preço tornou-se medida de valor. Embriagados pela estética do consumo, somos tragados sem misericórdia pela ressaca oriunda da potência do sem-medida. E aquilo que outrora foi-nos tão acessível como o girar de uma torneira agora se mostra como o alívio desejado, mas impedido por absoluta ausência. Como um milagre às avessas que nos arregimenta como as testemunhas de uma desgraça nunca antes compartilhada. Nascido no Nordeste, a escassez de água sempre foi como o vizinho inconveniente: sempre indesejado, sempre presente, sempre próximo. Mas, como explicar, não a ausência, mas o vilipêndio? Não a falta, mas o desperdício irresponsável que instaura a ausência mesma? Não é ou-
tra a situação que parece tragar-nos à calamidade que se avizinha. Pois a lama dos outros é, hoje, a carência forçada dos componentes do nosso quotidiano mais banal: o som da água ao escovar os dentes, o refletir diante do chuveiro, o duplo enxágue da roupa íntima na máquina de lavar. E esta quebra na banalidade do dia a dia nos deixa atordoados. Atônitos, corremos desesperados aos melhores de nós – tornados assim por nossa escolha quadrienal. E mesmo assim não encontramos conforto algum, pois, por mais que a resposta imediata e sincera da prefeitura não mereça reparos, ainda assim esperamos por mais. Já se anuncia o futuro próximo de penúria. A penúria que uns experimentam como sofrimento sem par e que forma o horizonte inescapável da miséria. Esta é, por paradoxal que seja, a mesma penúria que se mostra a alguns como “oportunidade” – àqueles mesmos que o espírito de nossa época ousa chamar de “empreendedores”: os mercadores nas praias do túrgido rio que, lucrando sobre a possibilidade de uns, condenam tantos outros. Que nossa desgraça nos lembre hoje do significado tão banal e, talvez por isso, tão esquecido: que a água com a qual lavamos, outros se banham; que nosso banhar é o cozinhar de tantos, e nossa mesa farta exige a água que outros bebem. E que mesmo aquele quinhão que bebemos descompromissadamente é a falta que falta na absoluta falta daqueles que mais necessitam. Ao inferno com Folhinha!
João Paulo M. Araújo é professor de direito da Universidade Federal de Juiz de Fora campus Governador Valadares Contato: jp.medeirosaraujo@gmail.com
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
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Foto: Lincon Zarbietti/Jornal O Tempo
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FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
VALE E BHP CAUSAM A MAIOR TRAGÉDIA DA HISTÓRIA DE MINAS GERAIS Foto: Fadia Calandrini
Mineradora acabou com a vida, história, cultura, identidade e a natureza Foto: Fernando Gentil
Fernando Gentil
I
rresponsabilidade, omissão, falta de planejamento, não fiscalização. Os motivos são vários, mas o que é certo é que a Samarco causou a pior tragédia da história do Estado de Minas Gerais. São mais de 600 quilômetros de destruição. Rios, lagos, distritos e cidades inundados por rejeitos de minério. Dois Estados afetados, falta de água, de casa, de amor, de vida. Tudo começou na tarde do dia 5 de novembro de 2015. As barragens de Fundão e Santarém, que ficam na cidade de Mariana, se romperam e alagaram alguns distritos. Bento Rodrigues, Paracatu, Barra Longa e Santa Rita são alguns exemplos. Mariana é uma cidade muito extensa, com muitos distritos distantes uns dos outros. A lama com os rejeitos chegaram a passar por distritos que ficam a mais de 70 quilômetros de distância uns dos outros. A tragédia não parou por aí. No dia 6, o minério chegou ao rio Doce, na cidade com o mesmo nome. A partir daí, o minério ganhou força e passou pela barragem de Santa Cruz do Escalvado. Foi por Ponte Nova, Piracicaba, Belo Oriente. Ao chegar à represa de Baguari, a diretoria da usina resolveu soltar a água e prender a lama. A chegada dos rejeitos a Valadares estava prevista para a madrugada de domingo (8) para segunda (9). Porém, o grosso do minério chegou apenas na terça-feira (10) de manhã. Junto com o minério veio a destruição de tudo, desde Bento Rodrigues até Valadares. Esta tragédia ainda vai passar por Aimorés, Baixo Guandu, Colatina e Linhares. É, sem dúvida, o maior desastre ambiental da história de Minas Gerais. O promotor de Justiça do Meio Ambiente Carlos Eduardo Ferreira Pinto concorda com a afirmação. “A população precisa ser ressarcida desse dano imensurável. Ele avança, não cessa neste momento, e é o maior da história do Estado”, afirmou o membro do Ministério Público. Para o rio Doce, então, o problema está apenas começando. A bacia vivia seu pior momento da história, uma crise hídrica sem precedentes, e, com a poluição causada pelos rejeitos, isso vai piorar. “Independentemente de ter ou não metais pesados no rio, ele já está assoreado”, disse o diretor-geral do SAAE de Valadares, Omir Quintino Soares. A fauna da bacia já sofria para se manter viva – agora é impossível. Várias espécies de peixes, tartarugas e aves já se foram e algumas podem até ser extintas no Doce. “Os níveis de ferro e de turbidez do rio estão extremamente altos. Impossível tratar a água, assim como manter a fauna viva. Hoje (dia 10), já foi possível encontrar diversos peixes mortos”, explica o diretor-geral.
Fauna e flora do rio Doce estão completamente ameaçadas
O apicultor Afonso Augusto relata os momentos de terror que passou
Os efeitos são devastadores. “A lama que chegou ao Leste de Minas foi o golpe de misericórdia no rio Doce, que este ano atingiu seu nível mais baixo. Vivemos um clima de apreensão, principalmente com a interrupção no fornecimento de água em Valadares. Ficamos só com o que tem na caixa d’água”, relatou o professor de agroecologia e botânica da UFJF/GV Reinaldo Duque-Brasil ao jornal Estado de Minas. A recuperação da biodiversidade existente no rio vai demorar cerca de cem anos. “O dano ambiental é irremediável, pois tudo o que respira no ecossistema está morrendo: peixes, tartarugas, pequenos mamíferos e aves. Houve interrupção na cadeia alimentar. É engano dizer que esta lama não é tóxica. São resíduos do minério que estão lá e vão formar uma camada, em todo o curso, liberando, aos poucos, substâncias tóxicas. Este ano o rio não conseguiu chegar ao mar no Espírito Santo. Imagine uma situação dessas em um rio que recebe uma carga desse tipo de repente”, explicou o pesquisador. André Ruschi, biólogo da Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Aracruz, prevê muitos transtornos ainda. “Esta sopa de lama tóxica que desce pelo rio Doce – e descerá por alguns anos toda vez que houver chuvas fortes – irá para a região litorânea do Espírito Santo, espalhando-se por cerca de 3.000 quilômetros quadrados no litoral norte e 7.000 no litoral ao sul, atingindo três unidades de conservação marinhas – Comboios, APA Costa das Algas e RVS de Santa Cruz, que juntos somam aproximadamente 200 mil hectares no mar. Os minerais mais tóxicos e que estão em pequenas quantidades na massa total da lama aparecerão concentrados na cadeia alimentar por muitos anos, talvez cem anos”, explica o ambientalista. O professor de geologia da Universidade Estadual de Londrina Cleuber Moraes Brito concorda. “Essa lama avermelhada deve causar danos em todo o ecossistema da região, impactando por anos seus rios, fauna, solo
e até os moradores, no sentido de que o trabalho deles, como a agricultura, pode se tornar impraticável”, relata o consultor na área de meio ambiente e mineração à BBC Brasil. Além do rio, outro problema grave já está em curso. O uso do solo das áreas atingidas vai ficar bastante prejudicado. Muitos componentes necessários para a agricultura se perderam na enxurrada de minério e vai prejudicar o nascimento de árvores, plantas, hortaliças e frutas. “Esse resíduo é pobre em material orgânico, ou seja, não favorece o crescimento de vegetação. Assim, o que acontece é que essa lama vai começar a secar lentamente, criando uma capa ressecada por cima do solo, dificultando a penetração de água, e, por baixo, esse solo seguirá mole”, afirma o professor de geotecnia da UFRJ Márcio Almeida à BBC. Junto com o empobrecimento do solo e o assoreamento do rio vem a desertificação acelerada de toda a região do Vale do Rio Doce. Se antes existia a possibilidade de isso tudo virar deserto, agora as chances são bem maiores. “Essa lama é estéril. Não há o que possa crescer nela. A natureza, se deixada por si só, levará muitos e muitos anos para se recuperar. Por isso, tem que ser removida”, reitera o professor. O saldo negativo só aumenta. A usina de Baguari está semicomprometida, outras duas foram sacrificadas por re-
terem lama e uma represa do Espírito Santo deve seguir o mesmo caminho. Nível zero de oxigênio no rio Doce, fauna e flora completamente mortas.
O desastre humano Além de destruir toda a região do rio Doce, os rejeitos da Samarco também mataram pessoas. De acordo com o promotor que cuida do caso, Guilherme de Sá Meneghin, a empresa deve pagar pelo crime que cometeu. “Vamos fazer de tudo para ressarcir a comunidade e apurar a responsabilização da empresa. Para mim, ela deve pagar como homicídio culposo”, afirma Meneghin. Na terça-feira foi confirmada mais uma morte de criança causada pela Samarco. Emanuelle Vitória Fernandes, de cinco anos, foi encontrada a 70 quilômetros do distrito de Bento Rodrigues. “O pai estava tentando resgatar ela e o menininho (irmão de Emanuele), mas ela escapuliu. Assim mesmo tentamos entrar na lama, mas não a alcançamos. Ela sumiu, depois apareceu mais uma vez e afundou de novo. Ainda consegui ouvir dois gritos dela”, relatou o avô da menina, Francisco Izabel, 65 anos. Já são oito mortes confirmadas e várias outras ainda estão por vir. Outras 18 pessoas ainda estão desaparecidas de acordo com as in-
Taxas de monitoramento de água:
formações oficiais, mas não é isso que o Movimento de Atingidos por Barragens diz. “A tragédia é bem maior do que está sendo divulgada. Há mais desaparecidos e mortos”, afirmou o membro do MAB Frederico Santana Rick. O presidente do movimento social também questiona o que foi noticiado pela mídia tradicional. “Temos documentos que já foram enviados ao Ministério Público que provam a irresponsabilidade da Samarco. O processo de busca está sendo mal feito, temos como melhorá-lo para encontrar os desaparecidos”, completou Joceli Andrioni. Não foram apenas as mortes que foram causadas pela tragédia social. Alguns trabalhadores perderam seu único sustento. Ronaldo Tuzzi Pereira é um exemplo. Ele tinha um quiosque em Santa Cruz do Escalvado e viu tudo ir embora. “Ainda estamos tentando assimilar o que aconteceu. Nós ganhamos a vida com isso. Esperamos que as autoridades tomem providências. Até agora ninguém da empresa nem autoridades nos deram qualquer orientação”, disse o comerciante ao jornal O Tempo. O apicultor Afonso Augusto também ficou indignado com a irresponsabilidade da Samarco. “Eu nunca vi uma coisa dessas. É muito difícil. Agora não tem mais jeito. Bento Rodrigues acabou. Agora vai ficar para a Samarco mineradora mesmo. Está do jeito que ela queria que estivesse. É um absurdo!”, concluiu emocionado.
Já passou da hora de deixarmos de ser Minas para nos tornamos mais Gerais.
Tabela revela a enorme quantidade de rejeito de minério no último dia 10
*Que fique claro. A Samarco pertence à Vale e à BHP Billiton (maior mineradora do mundo). Ela deve ser responsabilizada e culpada pelo crime ambiental e pelos homicídios que cometeu. A Samarco é a única culpada de todo o desastre e deve pagar por isso.
ESPECIAL 6
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
ESPECIAL 7
SAMARCO É A ÚNICA CULPADA PELA TRAGÉDIA
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
Foto: Alex de Jesus/Jornal O Tempo
DESTRUIÇÃO CAUSADA PELA SAMARCO PODE DURAR CEM ANOS
Empresa da Vale e da BHP Billiton não fiscalizou barragem da forma correta
Reconstrução do distrito deve ser prioridade, mas rio Doce merece o tratamento devido
Fernando Gentil
Foto: Lincon Zarbietti/ Jornal O Tempo
Foto: Fernando Gentil
Foto: Lincon Zarbietti/Jornal O Tempo
C
Fernando Gentil
Distritos de Mariana ficam embaixo da lama
Desabrigados dormiram duas noites no chão da Arena
Homem se arrisca no rio infectado em Valadares
Pessoas se solidarizam com a dor provocada pela Samarco Foto: Fernando Gentil
falta de fiscalização foram os responsáveis por matar e desabrigar diversas pessoas, destruir a fauna, a flora e o próprio rio Doce. Colocar a culpa em um abalo sísmico de dois pontos é chamar a sociedade mineira de ignorante e idiota. A Samarco deve ser responsabilizada pela sua omissão e irresponsabilidade, e pagar por todo o desastre causado, tanto o ambiental quanto o social. Outro fato que a empresa alega ser falso é a presença de metais que possam causar transtornos à população. O presidente do Movimento pela Soberania Popular na Mineração discorda da Samarco. “Somente para citar alguns casos, temos a exploração da maior mina a céu aberto de ouro do mundo, localizada em Paracatu (MG). Estudos do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) de 2014 comprovam a contaminação com níveis elevados de arsênio, um metal pesado e que causa diversos tipos de câncer. Trabalhadores da empresa estão com 25 vezes mais do que o mínimo suportável de arsênio no corpo e, a população, de 5 a 10 vezes mais do que o tolerável. Até quando iremos manter a lógica destrutiva (de todos os pontos de vistas) para satisfazer os interesses das transnacionais? Serão necessários mais quantos trabalhadores mutilados, enlouquecidos e mortos? Quantos rompimentos de barragens serão necessários? Quantas pessoas serão vítimas de câncer causado pela exploração mineral?”, reivindica Jarbas Vieira.
A Samarco tem que pagar pelo crime O principal receio dos moradores e da sociedade civil organizada é de que a Samarco passe ilesa mais uma vez. “Nossa preocupação é que, enquan-
Foto: Lincon Zarbietti/Jornal O Tempo
to o assunto está na mídia, a empresa responsável pelas barragens vai dar suporte. Mas, como saber onde vamos estar depois de um ano deste acidente? Será que a mineradora vai continuar pagando as nossas diárias? Queremos saber para onde vamos e o que vai ser feito”, questionou o técnico em segurança do trabalho Airton Sales, que morava em Paracatu antes da tragédia. São mais de 600 pessoas desabrigadas que perderam tudo. Não têm mais casa, comida, roupas, documentos, carro, emprego – muito menos dinheiro. Por isso, o Ministério Público entrou com uma ação que exige o pagamento de um salário para cada família desabrigada e também uma casa provisória para eles morarem. A Samarco tem que responder à exigência do MP até hoje (sexta-feira). “A gente fez uma recomendação para que a empresa Samarco tome certas providências imediatas em prol das vítimas. A gente entende que elas perderam tudo, que elas estão extremamente afetadas e desamparadas. Houve um
primeiro momento importante, que foi hospedar essas pessoas, mas agora é preciso seguir em frente”, afirmou o promotor Guilherme de Sá Meneghin. A pressão popular foi muito importante para que a Samarco pagasse o hotel para os desabrigados. Nas duas primeiras noites, eles dormiram na Arena Mariana, um espaço poliesportivo da cidade. Porém, com a enxurrada de mensagens exigindo da Samarco a atenção devida, ela recuou e hospedou os desabrigados em hotéis. Porém, essa é apenas a primeira vitória. Muitas ainda têm que acontecer para que o mínimo de respeito e dignidade seja dado a essas pessoas. Além disso, a Samarco tem que pagar por todo o dano ambiental que causou. Destruiu a fauna e flora de toda a extensão do rio Doce, acabou com o solo, assoreou o rio. Foi uma tragédia que vai ficar para sempre na história triste e amarga do país. E a primeira luta é que ela pague pela água que vai faltar em diversas cidades afetadas pelo desastre causado pela em-
presa. O governo do Estado do Espírito Santo e a prefeitura de Valadares já fizeram essa exigência. “A Samarco é a principal e única responsável pelo desastre que aconteceu em Minas Gerais. Ela deve ressarcir por todo dano causado. Por isso, estamos enviando um plano de emergência para que as providências sejam tomadas pela empresa. São necessários 300 caminhões para abastecer a cidade e ela só disponibilizou 13. É muito pouco. Precisamos de mais, senão a população vai ficar sem água”, explicou a prefeita de Valadares, Elisa Costa. Porém, a prefeita não conta com o apoio dos seus colegas de partido. O governador Pimentel usou a sala da Samarco para falar com a imprensa e seu secretário deu uma declaração colocando a empresa como vítima da tragédia. Para piorar, a presidenta Dilma mantém um silêncio assustador para uma chefe de Estado. Um pequeno detalhe: Pimentel recebeu R$ 1,8 milhão da Vale na última campanha. Dilma recebeu R$ 1,9 milhão. O colunista do jornal O Tempo deixou claro que os diretores e o presidente da Samarco deveriam estar na cadeia. “A solidariedade, apesar de bela, não pode ser o sentimento prioritário neste momento em que presenciamos aquela que pode ser confirmada como a maior tragédia ambiental da história de Minas Gerais. O que ocorreu é um severo crime contra a população e a natureza. Se estivéssemos em um país minimamente correto, já haveria gente presa”, disse Guimarães. E ainda completou. “Mas não é só a indenização. Estamos diante de um flagrante delito. Se a polícia se depara com um suspeito de homicídio diante de um cadáver com as mãos sujas de sangue, ela tem elementos que justificam o recolhimento deste indivíduo até que provas sejam obtidas e averiguadas. É isso o que temos”, concluiu o colunista. Samarco, você é a única culpada e (ir)responsável pelo maior crime cometido na história do Estado de Minas Gerais. *Que fique claro. A Samarco pertence à Vale e à BHP Billiton (maior mineradora do mundo). Ela deve ser responsabilizada e culpada pelo crime ambiental e pelos homicídios que cometeu. A Samarco é a única culpada de todo o desastre e deve pagar por isso.
B
ento Rodrigues não existe mais. Não tem como recuperá-lo. Mas os moradores querem voltar a viver em uma comunidade juntos. E nisso o governo do Estado, a prefeitura de Mariana e a Samarco vão ter que dar um jeito. Assim que acabarem as buscas por corpos e desaparecidos será hora de reconstruir a vida e identidade dessas pessoas. “Eu acho que eles podiam arrumar um jeito de colocar todo mundo pra morar perto de novo. Criar uma nova comunidade, nem que não seja no mesmo lugar, senão os amigos ‘distanceam’ (sic) da gente”, disse um morador quando ainda estava abrigado na Arena Mariana. Isso é o que deve ser feito de forma imediata, junto com as indenizações para todas as famílias afetadas dos distritos de Mariana. Em seguida, é necessário que o governo retire a licença ambiental da Samarco. Atualmente, ela está embargada. O promotor de meio ambiente de Minas Gerais Carlos Eduardo Ferreira Pinto acredita que há irregularidades na liberação de licenças ambientais para mineradoras. “A licença não é um salvo-conduto. É muito importante que ela seja dada com critério. Cobra-se muito que a licença seja mais rápida, mais flexível. É preciso que a sociedade participe dessa discussão, de modo que o licenciamento traga normas mais rigorosas. Hoje ele é flexível e o poder econômico prevalece em detrimento do meio ambiente. Quando a gente aponta a necessidade de estudos mais rigorosos, o Ministério Público é taxado como radical. Busca-se um crescimento exacerbado, com as licenças sendo concedidas cada vez mais rapidamente e com menos estudos. O que a gente busca é aumentar esse rigor e que o licenciamento ambiental exerça um papel de resguardo da sociedade. Eu participo do órgão licenciador. Elas não são levadas com a seriedade necessária. Cada vez mais se busca a flexibilização desse processo de licenciamento. É importante que a sociedade discuta e participe disso para evitar que novas tragédias como essa ocorram futuramente”, explicou o promotor em entrevista à rede Globo Minas. Porém, não é isso que acha o secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais Altamir Rôso. “A Samarco foi vítima do acidente que ocorreu. Discordo que não haja rigidez no licenciamento ambiental, pelo contrário. Afirmo com toda tranquilidade que existe excesso de rigi-
Saae e Copasa analisam a água que chega às cidades afetadas
resultado de problemas no processo de licenciamento. Em várias obras estão acelerando o licenciamento e queimando etapas – acham que é mera burocracia. Mas, na realidade, é um processo para evitar acidentes”, afirmou a coordenadora do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da UFMG Andrea Zhouri ao jornal Folha de S.Paulo. A licença dada à Samarco para operar as barragens que cederam foi liberada sem o aval do Ministério Público – e isso já faz dois anos. Outro fator agravante é que a empresa não Foto: Lincon Zarbietti/Jornal O Tempo
hega de desculpas. Um abalo sísmico de dois pontos não derruba uma barragem construída para sustentar mais de 22 milhões de toneladas de rejeitos de minério. O caso é muito pior e muito mais grave. Há 15 anos moradores já denunciavam o fato. “A Samarco sabia que isso podia acontecer, tanto é que já quis tirar a gente lá de Bento Rodrigues e levar pra outro lugar”, disse uma moradora que não quis ser identificada. Alguns moradores até aceitaram a proposta da Samarco de saírem de Bento Rodrigues e se mudarem para Mariana, mas não foi isso que aconteceu. A empresa se recusou e quis alocá-los em outro distrito, separados. Os habitantes da comunidade se recusaram a perder a identidade que tinham com o local e a morar separados. “Eu achava que não ia acontecer nunca, mas tinha gente ali que sempre ficava com esse medo sim”, disse Edilaine Marques dos Santos, 26 anos, moradora de Mariana. O ultrassom industrial é utilizado para avaliar a estrutura de monumentos, trilhos, transportes e até de árvores. Por meio de cálculos, o equipamento consegue prever se há alguma fratura na construção ou veículo. Isso faz com que se evitem desastres como o que aconteceu. Um especialista em ultrassonografia industrial que não quis ser identificado explicou como funciona a fiscalização da empresa em barragens. “É impossível que um abalo sísmico fraco e diário derrube uma represa daquele tamanho sem que ela tenha uma fratura. É como você fazer um furo em uma garrafa de água e pressionar. Quanto mais pressão, maior o furo e o volume de água que sai. É a mesma coisa com a barragem. Exatamente onde há a fratura é o local de maior pressão dos rejeitos. Se eles passam por abalos diários, essa pressão aumenta e uma hora ela arrebenta. Faltou fiscalização por parte da empresa. Se fizesse de maneira correta, diariamente, isso não teria acontecido”, revela o técnico. O ex-funcionário da Vale Makely Ka concorda que faltava fiscalização. “É necessário dizer que a atividade mineradora em Minas é predatória e altamente perigosa. As mineradoras não monitoram as barragens, elas empurram com a barriga. O que elas monitoram mesmo é a informação que sai quando acontece o inevitável. No período em que trabalhei na Vale em Timbopeba, que teve seu mineroduto também atingido pela lama, vi pelo menos três acidentes graves que foram abafados. Esse de Bento Rodrigues, pela dimensão e alcance, não pôde ser amordaçado”, afirma o gestor. Além disso, outros dois fatos contribuíram para a tragédia. A Samarco operava a barragem acima do limite e estava fazendo obras para aumentar a capacidade dela. A fratura, as obras, o alto volume de minério e a
Bento Rodrigues não existe mais no mapa do Brasil
dez no licenciamento e um excesso de órgãos envolvidos. Por isso, temos até uma proposta para mudar esse sistema. Alguém precisa fiscalizar, não precisa ser o Estado, que pode delegar a outros. Uma empresa pode ser contratada para fazer isso”, disse o político em coletiva. Minas Gerais tem 42 barragens sem estabilidade garantida. No total, são 735 barragens de rejeitos no Estado. E o pior: as duas barragens da Samarco que se romperam estavam em dia com o licenciamento e teoricamente com estabilidade garantida. Se uma barragem que estava com problemas foi considera própria para ser utilizada, imaginem as que não estão.
O novo Código da Mineração Com o objetivo de flexibilizar mais ainda as licenças ambientais, corre no Congresso Nacional a proposta de se alterar o Código da Mineração. O relator é o deputado Leonardo Quin-
tão (PMDB-MG), com campanhas completamente bancadas por mineradoras. Além disso, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais também passa um projeto de lei, enviado pelo governador Pimentel, que flexibiliza as licenças ambientais. O objetivo do governo e dos parlamentares é aumentar a extração de minério, com pouca fiscalização, destruição do meio ambiente e risco para pessoas que moram perto de mineradoras. O capital financeiro, mais uma vez, tenta vencer a humanidade. Porém, com a tragédia, o Código da Mineração pode perder força e até mudar, o que é realmente necessário. Aumentar a rigidez dos licenciamentos, acabar com as licenças de quem comete crimes ambientais, fiscalização real, punições exemplares. Aí sim o Código da Mineração trará benefícios para a população. O que está aí não pode ser aprovado, senão a tragédia cometida pela Samarco será só mais uma no meio de tantas outras que podem vir. “Os deslizamentos são
tinha alertado os moradores com sirene, como é exigido pelos órgãos competentes. A Samarco disse que ligou para líderes comunitários, porém o presidente da Associação Comunitária de Bento Rodrigues negou ter recebido qualquer tipo de contato por parte da empresa. Dois dias após o rompimento das barragens, a Samarco instalou sirenes. Porém já era tarde demais, a lama já havia inundado os distritos de Mariana. “Os riscos eram conhecidos por todos, desde a empresa até os políticos. O governo aprovou e esperou que nada acontecesse”, disse o professor de Geociência da UFMG Klemens Laschesfki à Reuters. Para piorar, ainda há risco de que outra barragem da Samarco se rompa: a de Germano, a maior de todas.
Recuperação ambiental Após indenizar e construir uma nova comunidade para os desabrigados e cassar a licença ambiental da
Samarco, é preciso investir na recuperação do rio Doce. A previsão de biólogos é de que sejam necessários cem anos para que o impacto ambiental seja aplacado em toda a região e também no mar. “Os criadouros marítimos vão receber essa carga de elementos químicos, que vão ser trazidos ano a ano pelas enchentes da época de chuva, e que vai contaminar o mar por tempo indeterminado. A cada ano, com a época de chuvas, uma carga deste material vai descer e vai chegar ao mar. E a situação só vai piorando por todos esses anos. Vão ser precisos de cem a 150 anos para que a água comece a se limpar desse rejeito”, analisa o biólogo da Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi, André Ruschi, em entrevista ao jornal O Tempo. É preciso que a Samarco pague uma indenização bilionária para agilizar o processo de recuperação do rio Doce. Ela não pode ficar impune na maior tragédia da história do Estado. Só a bacia possuía mais de 70 espécies exóticas que estavam entrando em extinção e que, provavelmente, não existem mais. “Já era. Não tem como salvar o que já está morto. Nem um mutirão de um milhão de pessoas conseguiria salvar alguma coisa neste momento. O que fizeram com esse rio, que está entre os cem maiores do mundo, é um crime contra a humanidade. Ele agora é um rio morto que joga seus nutrientes e tudo o mais que é carregado pelo rio, e que não fica na margem, no mar”, condena o especialista. Com o pagamento da indenização pelos danos causados, a destruição pode ser aliviada com uso de tecnologias e formas de enfrentamento da poluição no rio. A empresa já perdeu bilhões de reais em ações após a tragédia. Até o fechamento desta edição, a cota de ação da Samarco estava em 57 centavos. Valor muito baixo para uma empresa do porte dela. Alguns credores, como a Deutsche Bank AGMas, esperam que a empresa tenha que pagar 1 bilhão de reais para recuperar os danos ambientais causados por ela. Isso é pouco, muito pouco. É preciso cobrar para que a Samarco pague tudo que deve à sociedade marianense, mineira e brasileira. *Que fique claro. A Samarco pertence à Vale e à BHP Billiton (maior mineradora do mundo). Ela deve ser responsabilizada e culpada pelo crime ambiental e pelos homicídios que cometeu. A Samarco é a única culpada de todo o desastre e deve pagar por isso.
ESPECIAL 8
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
ESPECIAL 9
Foto: Fadia Calandrini
AS MINAS DESTRUÍRAM GERAIS
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
O CAOS DA LAMA O relato de quem viu a vida ficar debaixo dos escombros
Confira o ensaio fotográfico feito pelo fotojornalista do Jornal O Tempo, Lincon Zarbietti, sobre a tragédia ocasionada pela Samarco Mineradora, pertencente à Vale e à BHP Billiton.
Seu Nélio ficou emocionado ao ver que Bento Rodrigues não existe mais Foto: Fadia Calandrini
Foto: Fadia Calandrini
Fadia Calandrini e Fernando Gentil
N
a coletiva de imprensa do governador Fernando Pimentel em Governador Valadares, um pescador da região questionou o fato de que os peixes estão morrendo e não vão ser “repostos”. “Não adianta dar multa só. Tem que voltar com os peixes para o rio. Somos 500 pescadores na associação. Precisamos disso para viver”. O governador, como em todas as outras perguntas, enrolou para responder e disse que precisa rever a lei ambiental do Estado, mas ele mandou um projeto de lei para a Assembleia que facilita a concessão de licença ambiental às mineradoras. Que feio, Pimentel. Um governo que mente para o pescador, para o ribeirinho, para o morador de Mariana e também o de Valadares. Para quem se diz do povo, está longe de ser. O pescador do rio Doce não é o único preocupado com sua história e identidade. O seu Nélio Cordeiro, de Bento Rodrigues, chorou ao ver o lugar onde ele morava completamente devastado. “Eu vim para socorrer o outro fazendeiro, mas já tinha acontecido. Ele estava do outro lado, perto da cachoeira, tentando tirar as crianças. É triste demais, gente. Isso está sendo avisado há 20 anos. Isso aqui era uma vegetação nativa, mas com essa tragédia... Nossa Senhora!” Seu Nélio ouviu no rádio que a tragédia estava acontecendo. “Eu vim descendo. Vi peixes boiando, cavalo, cachorro, galinha. É triste demais. Triste demais mesmo. Agora acabou. Nosso município acabou. Tudo para quê? Para tirar o minério, para mandar ele para fora e nos dar isso de recompensa. É triste. Acabou o Bento. É horrível! É desastroso!” O fazendeiro ainda contou sobre a trajetória heroica dos professores que salvaram 70 crianças do desastre. “Ela (uma professora) foi muito ágil. Saiu da porta da escola com os meninos e subiu para lugares mais altos. Mas a gente não dormiu, a gente passou a noite desatinado. Que as autoridades tomem providências para que essas mineradoras trabalhem com mais segurança. É lastimável ver uma situação dessas, as matas ‘tudo’ (sic) devastada. Virgem Maria... Acabou!” O servente Waldeci da Silva Reis, de Santa Rita Durão, distrito de Mariana, também viu a tragédia acontecer. “Eu vi um pessoal tentando sair da lama. Passaram umas ambulâncias, mas estavam muito longe. Não resolveu nada. Aí estavam falando que a polícia estava batendo nos outros ainda. Nunca vi isso, bater em quem veio salvar, mas conseguiram tirar o menino no meio
Waldeci está inconformado com a irresponsabilidade da Samarco
Jefeson conseguiu salvar várias pessoas da tragédia Foto: Fadia Calandrini
da enxurrada e ‘levar ele’ (sic) para o pronto socorro.” Waldeci diz que passou por momentos desesperadores. “O pessoal estava pedindo socorro. A Samarco não tinha ligado a sirene para alertar o povo. É muita mentira. Tem muito tempo que a Samarco fala que está tomando providências para mudar isso e nunca fez nada. Agora já era. Nunca deu apoio para o pessoal. E agora que acontece a tragédia fala que vai tomar providência? Agora é tarde.” O servente afirma que foi uma tragédia anunciada. “Há muitos anos todo mundo fala que esse ‘trem’ ia estourar e matar o povo todo. Consegui salvar só um menininho. Ele estava na beira aí conseguimos salvar ele lá”. Jefeson Geraldo é vigilante e salvou várias pessoas da enxurrada de lama. “Eram umas 16h20. Ouvi uma explosão e achei que era tubulação que havia estourado. Mas, como o barulho era muito intenso e começou a quebrar muito mato, a gente percebeu que não tinha como ser a tubulação e sim a barragem que tinha estourado. Tentamos avisar o máximo de gente possível com escândalo porque não tinha mais como ir à casa de cada um. Conseguimos pegar o máximo de gente e colocar em caminhonetes para levar para cima, para os morros. Depois voltamos pela beirada, tentando ver se achávamos algumas pessoas e resgatar quem estava pedindo socorro mais próximo da margem.” A casa de Jefeson, porém, não foi perdoada pelo desastre causado pela Samarco. “Não sei como ficou minha casa. Eu acho que não vejo ela nunca mais. A última vez que eu vi, ela tinha se desprendido do lugar, andou uns cem metros para cima e depois aí pelo rio abaixo”. O vigilante conseguiu salvar alguns familiares. “Graças a Deus eu consegui salvar minha família, alguns amigos e umas pessoas de idade. Mas dois primos meus estão desaparecidos. Ninguém sabe por onde anda,
Luciene não conseguia conter a tristeza de ver seu distrito acabar Foto: Fadia Calandrini
Dona Maria Januária procurava por parentes desaparecidos
ninguém acha. De 1999 até 2005 havia muito boato sobre a barragem explodir. A gente começou a debater isso com a Samarco e eles falaram que não corria risco nenhum disso acontecer. E aquilo foi indo. Houve um ano, não me lembro ao certo, em que eles falaram que ela ia explodir, corremos todos para o ponto mais alto, mas não explodiu nada. Depois disso, a Samarco foi tranquilizando o pessoal e ninguém ficou muito preocupado porque no dia em que ela ia estourar, não estourou. Aí, ninguém se preocupou mais. E em um sol quente, de uns 35 graus, quatro horas da tarde, vem esse desastre acontecer.” Jefeson acredita que faltou empenho por parte dos órgãos ditos competentes. “O governo mandou várias pessoas, mas não fez nada para ajudar a gente. A Samarco, que é uma das maio-
res responsáveis, junto com a Vale, nem aqui apareceu. Não mandaram socorro, não mandaram nada. Se não fosse a gente mesmo tentado nos ajudar, estava todo mundo morto. E Deus ajudou tanto que isso aconteceu quatro horas da tarde, quando estava todo mundo acordado. Porque se isso acontece onze horas da noite, por exemplo, não tinha ninguém para contar a história. Não dá nem para descrever o que eu sinto. É uma tragédia que levou tudo que era nosso. E não tenho suporte da companhia nem sei como vou recuperar um terço do que eu perdi.” Maria Januária Nunes, também de Bento Rodrigues, estava na Arena Mariana à procura de quatro pessoas desaparecidas. “Eu deixei meu nome lá dentro; agora estou dando entrevista e quero saber onde eles estão enterrados ou soterrados. Minha casa
está toda debaixo da lama, caiu tudo. Agora estou imaginando o inquilino que estava lá.” Um trabalhador da Vale, que também acha que a culpa é da Samarco, está com receio de sofrer represália. “A gente está indo trabalhar à paisana, já falaram de manifestações, que vão fechar o trilho. Estamos com medo de apanhar na rua. Mas a gente não fez nada. A empresa é culpada, o trabalhador não”. Uma senhora, que só se identificou como Luciene, estava na Samarco quando tudo começou. “A gente ouviu e achou que era um tremor de terra e fomos todos evacuados da área. Balançaram as paredes todas, mas falaram que era tremor. Só que daí a pouco chegou notícia de que a barragem tinha estourado e que tinha muita gente soterrada. Agora acabou com nosso distrito. Graças a Deus minha família ao menos está viva, mas eu só tenho a roupa do corpo agora e mais nada.” De acordo com relatos de diversos moradores do distrito, a Samarco sabia que a barragem podia se romper e agiu com descaso. A população precisa de respostas imediatas sobre o número real de desaparecidos e mortos. O que se vê na mídia tradicional não corresponde à realidade dos fatos. Foram vistos muitos carros do IML perto do distrito, helicópteros descendo e subindo, carros de funerária. E falam em apenas seis mortos? A população foi proibida de ajudar. Uma barricada formada pela polícia do Pimentel com funcionários da Samarco proibia os moradores de ajudar a encontrar os amigos no destruído distrito de Bento Rodrigues. Como disse a jornalista Laura Capriglione, “é o bandido cuidando da cena do crime”. *Que fique claro. A Samarco pertence à Vale e à BHP Billiton (maior mineradora do mundo). Ela deve ser responsabilizada e culpada pelo crime ambiental e pelos homicídios que cometeu. A Samarco é a única culpada de todo o desastre e deve pagar por isso.
Adeus, Bento Rodrigues O cavalo que tentava respirar
O desespero do desabrigado A igreja intocada
O menino e seu novo velho calçado
Cruz Vermelha e a força de lutar pela vida
A lama que move e mata O minério e o Rio Doce
O rio virando sertão
O refresco do guarda após um dia de busca
POLÍTICA | ECONOMIA 10
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
CIDADES 11
Toda forma de amor
Música ressocializa detentos em Minas Gerais
Foto: Arquivo Pessoal
Parece moda, mas não é: casais de três pessoas são uma nova forma de estrutura familiar e de felicidade
Proposta é incentivar a formação de músicos nos presídios do Estado
Gina Pagú
A
Foto: Arquivo Pessoal
diversidade humana e suas nuances nos levam a pensar em preconceito e dificuldades de relacionamento, mas para os casais de três pessoas a felicidade está em estar junto e “a três” mesmo. No Brasil já é possível discutir o assunto, mesmo com dificuldades para se entender as uniões. Parece novidade, mas não é. O preconceito é o maior desafio a ser vencido, afinal, estamos acostumados à cultura da família tradicional formada por homem, mulher e filhos. Mas porque não três mulheres, ou três homens, ou a mistura de ambos? Um casal de três mulheres foi pioneiro em formalizar esse tipo de união em cartório. Em outubro de 2015, uma empresária de 32 anos, uma dentista também de 32 anos e uma gerente administrativa de 34 se casaram no 15º Ofício de Notas do Rio, no Rio de Janeiro. A ideia surgiu quando uma delas, a empresária, decidiu engravidar, e quis que na certidão de nascimento da criança houvesse o nome das três mães. “Somos uma família. Nossa união é fruto de amor. Vou engravidar e estamos nos preparando para isso inclusive financeiramente. A legalização é uma forma de a criança e de nós mesmas não ficarmos desamparadas. Queremos usufruir os direitos de todos, como a licença-maternidade”, diz a empresária. Assistidas pela advogada Marta Mendona, a briga na Justiça para que esses e outros direitos sejam garantidos só começou.
Gina Pagú
A felicidade do “trisal” que divide não só a cama, mas também a vida
Um dos casais mais famosos do Facebook, ou melhor, o “trisal” formado pelos mato-grossenses Angélica, Paula e Klinger, que moram atualmente em São Paulo, agora tem sua história conhecida na TV pelo programa “Amores Livres”, da GNT, e pelo “Profissão Repórter”, da Globo. Segundo eles, o objetivo era esse mesmo: levar a naturalidade da relação para o conhecimento das pessoas por meio das redes sociais. “Pra nós é supernatural e tranquilo. Somos muito felizes vivendo do nosso modo. Basta ter força, coragem e querer viver de forma plena e estar disposto a pagar o preço (preconceito). Nós vivemos assim e não nos arrependemos em uma vírgula. Enfrentaremos o que for preciso, mas viveremos sem hipocrisia.” A relação desse casal formado por duas mulheres e um homem começou com a união tradi-
Marcos Imbrizi / De São Paulo
cional de Paula e Klinger. Eles moraram juntos por um tempo; então, Paula conheceu Angélica na internet e foi Klinger quem promoveu o encontro das duas pela primeira vez. A partir daí, a relação passou a ser a três, sem dores, sem dificuldades, somente com muito prazer e amor. “Não temos história triste pra contar por vivermos assim. O preconceito é inevitável, mas sofrer com ele é opcional. Costumamos dizer o seguinte: sofremos preconceito, mas não sofremos com o preconceito. Sempre nos demos muito bem vivendo assim”, declara o trisal. Sobre a relação dos três ser firmada em cartório, eles confirmam a intenção de oficializar a união para que os três tenham as garantias legais de qualquer casal. “Não temos ainda contrato social ou união estável registrada em cartório, mas vamos fazê-lo porque queremos mostrar para as pessoas que já é possível ter um documento resguardando esse tipo relação.”
Com foto do homenageado ao fundo, Marcus Vinicius Furtado Coelho, presidente do Conselho Federal da OAB, participa da cerimônia
OAB-SP concede título de advogado in memorian a Luiz Gama
Pelo jornalismo independente e colaborativo A edição desta semana do Figueira só se tornou realidade pela colaboração de diversos colegas jornalistas espalhados por Minas Gerais. Por isso, fica aqui o agradecimento a estes que todo dia lutam por um jornalismo colaborativo, independente e combativo. Obrigado: - Fadia Calandrini, jornalista de Ouro Preto - Jornalistas Livres - Jornal Brasil de Fato - Jornal O Tempo Sem vocês esta edição especial não teria saído.
o menino Luiz Gama, que tinha dez anos, a um traficante paulista. Em São Paulo, foi alfabetizado por um amigo quando tinha 17 anos. Um ano mais tarde, Gama foge para entrar na Marinha de Guerra, de onde foi expulso seis anos mais tarde por insurgir-se contra um oficial que o havia ofendido. De volta a São Paulo, passa a trabalhar no escritório de um escrivão e, posteriormente, na Secretaria de Governo da província. Decide, então, estudar direito e defender em juízo a liberdade dos escravos. Tentou matricular-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas foi repelido pelos estudantes e passa a atuar como rábula, advogado que, não possuindo formação acadêmica em direito, obtinha autorização para exercer, em primeira instância, a postulação em juízo. Nos tribunas, Luiz Gama defendia a vigência da Lei de 7 de novembro de 1831, a qual, em cumprimento a um tratado de repressão ao tráfico negreiro celebrado entre Portugal e a Inglaterra em 1810, declarava livres todos
os africanos desembarcados no país após aquela data. Ao mesmo tempo, procurou combater a escravidão por meio da militância política. Por ironia do destino, o rábula acaba por partilhar seu escritório de advocacia com dois ilustres catedráticos do Largo São Francisco: Januário Pinto Ferraz e Dino Bueno. Em 1850, cinco anos após a aprovação pelo Parlamento britânico do Bill Aberdeen, pelo qual o tráfico negreiro foi igualado à pirataria e sujeito à repressão internacional, o Brasil aprovou a Lei Eusébio de Queiroz, que tipificou como crime o tráfico de africanos para o Brasil. Mas a lei só admitia como livres os negros conhecidos como boçais, ou seja, que não dominavam a língua portuguesa. Com isso, sem declarar revogada a lei de 1831, a nova lei mantinha no cativeiro todos os africanos comprados ilegalmente nas décadas anteriores, que falavam o português, e estimados em mais de um milhão de pessoas. Por isso, várias autoridades, tanto nos tribunais como no governo, que-
Experiência O projeto de musicalização já atende 17 presos no Presídio Antônio Dutra Ladeira, com direito a certificado da SEE após o cumprimento de 109 horas de carga horária. O professor de música e agente penitenciário Willian de Lima diz que os resultados são
Foto: José Luis da Conceição/OAB-SP
“Trisal”
Café com Leite
advogado in memorian a Luiz Gama. Considerado o precursor do abolicionismo no Brasil, com o seu trabalho garantiu a liberdade a mais de 500 escravos no Brasil no século 19. Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu na Bahia em 1830. Filho da africana livre da nação Nagô Luiza de Mahin, seu pai pertencia a uma ilustre família baiana. Depois de perder a fortuna no jogo, o pai decidiu vender
orriso no rosto e ansiedade nas mãos. O clima é de felicidade entre os detentos que farão parte da banda e coral do Presídio de Leopoldina, na Zona da Mata (MG). A assistente social do projeto e professora de música Patrícia Jobim explica que serão distribuídos pela Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), 32 teclados para incentivo aos projetos de musicalização para presos. “Conseguimos apoio da sociedade civil, o Conservatório de Música de Leopoldina cedeu dois professores de canto e coral, e a doação, por particulares, de três flautas doces e um violão.” Em Ribeirão das Neves (MG), no Presídio Antônio Dutra, o projeto de musicalização já existe com sucesso. E os presos dessa unidade também receberão novos instrumentos segundo a Subsecretaria de Administração Prisional (SUAPI). Ana Louise Leite, superintendente de atendimento ao preso da SUAPI, afirma que novas parcerias para o projeto serão firmadas. “Está prestes a ser confirmada uma parceria entre a SAPE/SUAPI e a Secretaria de Estado de Educação (SEE) para formar instrutores de música nos estabelecimentos prisionais.”
O “trisal” formado por Angélica, e Klinger Karin e FredPaula viajam o mundo em busca de uma vida feliz e sem amarras gravando o programa “Profissão Repórter”
vista grossa ao que já existe há tempos. No imaginário do povo brasileiro figuram “Dona Flor e seus Dois Maridos” e atualmente, no canal GNT, canal fechado de TV a cabo, o programa “Amores Livres”, em que casais testemunham suas experiências em relações com mais de um parceiro entre casais heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. A psicóloga Vânia Sampaio esclarece que relações afetivas também podem ser foco da moda, mas, se há sentimentos verdadeiros, são válidas para a felicidade dos casais. “Pregamos a não superficialidade das relações, pois o poliamor é um novo paradigma a ser quebrado pelos indivíduos que são felizes com esse tipo de relação. No entanto, sobretudo o amor é capaz de romper essas barreiras. Entendemos que os sentimentos genuínos são os que trazem felicidade e não somente prazer aos indivíduos, fazendo com que permaneçam mais tempo nas relações. E fortalecem nesses casais, como em qualquer outro, o desejo da união, seja em cartório ou somente morando junto e estabelecendo convivência.”
As relações de três pessoas, sejam elas do mesmo sexo ou não, caracterizam o poliamor ou as relações poliafetivas. Comumente as vemos em programas de TV, filmes, seriados e muitos fazem
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Foto: SEDS
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Poliamor
o mês em que se celebra o Dia da Consciência Negra, a Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo prestou uma justa homenagem a um personagem pouco conhecido de nossa história, mas que prestou grandes serviços a sua gente. Por iniciativa da entidade, na semana passada, em uma cerimônia realizada no auditório da Universidade Mackenzie, foi concedido o título de
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
riam a revogação da lei de 1831. Luiz Gama participou também da vida partidária do país, a qual abandonou após algumas decepções. Neste período, percebeu que sem um amplo movimento de revolta popular, a escravidão seria mantida até seu natural esgotamento. Devido a complicações causadas pelo diabetes, Gama falece em São Paulo em 1882. Segundo informações da época, cerca de quatro mil pessoas, ou 10% da população da cidade, compareceram ao seu enterro no Cemitério da Consolação. Inspirado em seu exemplo de vida, Antônio Bento de Souza e Castro organizou em São Paulo o Movimento dos Caifazes, que promoveu a fuga de milhares de escravos. Este movimento levou a lavoura paulista à desorganização e suscitou na Corte e em municípios do Rio de Janeiro série de manifestações populares contra a escravidão. A multidão nas ruas levou à instalação da sessão legislativa em 3 de maio de 1888. Dez dias depois, a princesa Isabel assinaria a Lei Áurea.
Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.
Música é melhor remédio para espantar a solidão
gratificantes. “Assumi as aulas em junho e é notável a melhoria no comportamento dos alunos. Com pouco tempo já vemos a mudança.” O detento Francisco Cosmo sonha com a música fora das grades. “Com a experiência adquirida aqui, se houver a oportunidade, quem sabe não ingresso em uma carreira musical quando deixar a unidade?” O repertório é variado. Os detentos podem le-
var sugestões de músicas para estudo e diversos gêneros são trabalhados, com predominância do gospel e da MPB. Eles se preparam para gravar duas músicas como material de divulgação.
Exemplos musicais Corais como o Vozes da Cela, de São Lourenço, finalista do Prêmio Innovare de 2015;
Canto Livre, de Caxambu; a Orquestra de Violões da Penitenciária Deputado Expedito Faria de Tavares, em Patrocínio; e a Banda Além dos Muros, do Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, são exemplos de projetos musicais realizados dentro de unidades prisionais já consolidados e que realizam apresentações em eventos e congressos de todo o Estado.
Foto: Arquivo Pessoal
CULTURA 12
FIGUEIRA - Fim de semana de 13 a 15 de novembro de 2015
Cosmaker de Valadares faz sucesso no Brasil Fabricante de cosplay gera renda vendendo pela internet Gina Pagú
país, mas tenho mais clientes em São Paulo, Rio de Janeiro e Sul do Brasil. Graças à internet tenho trabalhado muito. Ainda não vivo somente da renda dos cosplay, mas são uma ótima renda de complemento.” O mercado é composto de crianças a adultos e, segundo a cosmaker, os clientes tem entre 14 e 25 anos, e buscam novas ideias e modos de vida. Têm profissões variadas e também opiniões diversas; no entanto, se encontram no mundo dos cosplay.
Arte A palavra cosplay é uma abreviação do termo “costume play”, que pode ser traduzido também como “representação do personagem a caráter”. O primeiro cosplay surgiu em 1939 durante o evento Worldcon, quando Forrrest J. Ackernam se fantasiou e criou o traje chamado “futurecostume”, de uma versão do filme “Things to Come”, de 1936. A partir daí, nas outras edições da Worldcon, surgiram concursos para os fãs dos hoje conhecidos cosplay. Embora muitos não saibam, os primeiros registros dos cosplay de mangás e animes foram nos anos 1970, nos Estados Unidos, e com sucesso chegou ao Japão na déca-
Tatiane, cosplay de Belo Horizonte e cliente da Por Encantos Artesanato
da de 1980 por meio de Nobuyuki Takahashi. Nos anos 1990 a cultura se popularizou e chegou ao Brasil, com a exibição do desenho animado “Cavaleiros do Zodíaco”. Foto: Arquivo Pessoal
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ão. O cosplay não é uma fantasia, é o amor de alguém por um personagem. E para essa paixão se tornar realidade é preciso uma cosmaker – pessoa que faz as roupas e acessórios específicos para os fãs de mangás, animes e afins. Em Governador Valadares há uma única pessoa que ajuda esses desejos a se tornarem realidade. A proprietária da Por Encantos Artesanatos garante que, além de cosmaker, é fã dos animes. “Há 15 anos gerenciava uma loja de fantasias, achei fascinente esse mundo e comecei a pesquisar sobre o assunto. Mas, no universo cosplay, entrei há dois anos. Fabrico de tudo, fantasias, cosplay e acessórios; no entanto, é preciso deixar bem clara a diferença, afinal, qualquer pessoa pode vestir uma fantasia, mas nem todos podem usar um cosplay de um personagem favorito. Você precisa ser fiel também em maquiagem e interpretação do personagem, mesmo que para isso você tenha de ficar assustador esteticamente.” O sucesso da Por Encantos começou pela internet, onde, por meio do Facebook, a proprietária conquista clientes com a exposição dos trabalhos já realizados. “Esse é um mercado que está se abrindo para o meu negócio há um ano, principalmente nas vendas online. Eu fabrico para todo o
Para ser um cosplay não é preciso ser adulto ou criança, é apenas ser apaixonado pelo personagem
Ligue e Agende sua doação: (33)3212-5800 Rua Barão do Rio Branco, 707, Centro. Governador Valadares