JORNAL FIGUEIRA ANO 2 NÚMERO 88 FIM DE SEMANA DE 04 A 06 DE DEZEMBRO DE 2015 FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS EXEMPLAR: R$ 1,00
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Sol com muitas nuvens. Pancadas de chuva à tarde e à noite
CARNE NEGRA
A PM do Rio mata todos os anos milhares de jovens negros, pobres, que vivem na periferia. A PM de São Paulo ameaça e violenta estudantes de 15 anos. Por que a nossa polícia ainda é militarizada? Vão precisar morrer quantos jovens para que isso seja revisto? Páginas 6 e 7
OPINIÃO 2
FIGUEIRA - Fim de semana de 04 a 06 de dezembro de 2015
Uma mão lava a outra
A
Controladoria-Geral do Estado (CGE) está conduzindo investigação sobre possíveis irregularidades na concessão dos licenciamentos ambientais das barragens de Santarém e Germano. Estas barragens são próximas à de Fundão, cujo rompimento no dia 5 de novembro provocou o maior desastre ambiental do Brasil, afetando diretamente nossa região. O objetivo da investigação é apurar se houve qualquer tipo de facilitação para que a mineradora continuasse a operar irregularmente. A barragem rompida estava com a licença em dia, valendo até 2019, enquanto as outras estão com as licenças vencidas desde 2013. Sabe-se que a empresa é a maior responsável pelo acontecimento, mas não podemos esquecer que o Estado e seus órgãos é que são os responsáveis pela fiscalização e licenciamento de empreendimentos como este. Funcionários de quatro órgãos do Estado já foram ouvidos. A iniciativa do CGE é a primeira ação no sentido de investigar a responsabilidade do próprio governo no episódio. Apesar de o governo ter repetido as falas da sociedade, responsabilizando a Samarco pelo acidente, o fato chama a atenção, pois dificilmente aconteceria sem a omissão dos órgãos de fiscalização do Estado. É sabido que o processo de aprovação do empreendimento transcorreu carregado de irregularidades e contou com apoio do governo federal e de duas administrações estaduais. A Vale, dona da Samarco, mantém estreitas relações com os governos, financiando campanhas e oferecendo favores a candidatos de inúmeros partidos. Esta relação promíscua pôde ficar bem clara no episódio da coletiva de imprensa que o governador Pimentel deu dentro da sede da Samarco logo após o acidente. O Estado agiu mais como advogado de defesa da Samarco do que como defensor dos interesses do povo de Minas Gerais. A tragédia que nos atingiu serviu para mostrar que este modelo de desenvolvimento precisa ser repensado, assim como a relação entre o Estado e o setor privado. Ganância, corrupção e omissão geraram o mar de lama em que afundamos e do qual não sabemos se vamos escapar tão cedo.
EXPEDIENTE
O Jornal Figueira é uma publicação da MPOL Comunicação e Pesquisa. CNPJ 16.403.641/0001-27. Em parceria de conteúdo com a Fundação Figueira do Rio Doce. São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica.
Reportagem Gina Pagú - DRT/MG 013672
Colunistas e Colaboradores Ingrid Morhy João Paulo M. Araújo José Marcelo Júlio Avelar Marcos Imbrizi
Revisão Fábio Guedes - DRT/MG 08673
Assessoria jurídica Alexandre Albino
Ombudsman Manoel Assad
Diagramação Stam Comunicação - (33) 3016-7600
Artigos assinados não refletem a opinião do jornal
RECORTE DAS REDES
José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia do CNT Jornal e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder Notícias, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo em Brasília.
A mineração deve permanecer em Minas? Minas depende da mineração
Governo vintage
Anderson Cabido – Secretário executivo da Associação dos Municípios Mineradores do Brasil (Amib)
Governo vintage ou controle da máquina do tempo. Assim vem sendo chamado este segundo mandato da presidente Dilma Rousseff nas rodas de conversas políticas em Brasília. A explicação para a piada é o fato de boa parte das famílias da chamada nova classe C terem sido devolvidas para a condição de famílias de baixa renda. Também contribui para a anedota o fato de a inflação, a recessão e o desemprego estarem de volta, assim como o fato de produtos estarem saindo das listas de compras de supermercado e de marcas bem mais populares voltarem a compor a lista na hora de abastecer a despensa.
e diretor do Instituto de Desenvolvimento de Territórios Mineradores
E
ntre os 5.565 municípios brasileiros, aproximadamente 2 mil desenvolvem atividades econômicas relacionadas com a mineração. Alguns, como Parauapebas (PA) e Itabira (MG), são basicamente mineradores. Outras cidades abrigam pequenos empreendimentos e, da mesma forma, recebem royalties pela exploração de produtos minerais como areia, granito e sal. O Estado de Minas Gerais, mais que qualquer outro, depende historicamente da mineração e tem no minério de ferro sua principal riqueza. Sem uma política de diversificação industrial que aponte outros vetores de desenvolvimento, segue a sina de exportador de commodities. Como na anedota, essa situação tem um lado bom e outro ruim. Comecemos pelo primeiro: a série histórica do Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS), formulado pela Fundação João Pinheiro (FJP), revela que oito das dez cidades mais bem posicionadas entre os 853 municípios de Minas Gerais têm na mineração sua principal atividade. São elas: Barão de Cocais, Catas Altas, Congonhas, Itabira, Itabirito, Mariana, Nova Lima e Ouro Preto. Belo Horizonte, capital, e Extrema, localizada no polo industrial do sul do Estado, completam a lista. Segundo o estudo, a arrecadação de impostos e royalties permite maiores investimentos em setores essenciais que têm efeito direto sobre o índice. Aplicação dos recursos deve garantir sobrevivência quando houver a exaustão da atividade mineral. O lado perverso é que os municípios mineradores sofrem forte impacto da atividade econômica, já que os sítios de produção ficam dentro das cidades, acarretando sobrecarga na infraestrutura e nos serviços públicos. As cidades sofrem impactos ambientais, sociais, culturais e na qualidade de vida. É uma cadeia causal: empregos atraem gente, o excesso de gente faz crescer a demanda pelos serviços de saúde, se-
gurança e educação, e assim por diante. Quando se considera que minério não dá duas safras, como já alertava Arthur Bernardes, o sinal amarelo acende. Sem alternativas, essas cidades estarão condenadas no futuro. Para atender às necessidades de desenvolvimento na fase pós-mineração, um grupo de gestores criou o Parque Tecnológico do Alto Paraopeba. Uma das metas é implantar uma grande cadeia produtiva, com a presença de fornecedores e centros para formação de mão de obra especializada, reunindo o conhecimento das universidades, cursos técnicos e indústria. A realidade é que Minas Gerais recebe muito pouco pela extração mineral. Quando se compara com o setor petrolífero, a desigualdade fica ainda mais evidente: em 2012, apenas duas cidades do Rio de Janeiro (Macaé e Campos) receberam, entre royalties e participações especiais, quase o dobro de todo o Estado de Minas Gerais no mesmo período: R$ 1,8 bilhão. Daí a urgência e necessidade de aprovação do novo Marco Regulatório da Mineração, lançado pela presidente Dilma Rousseff sob forma de Projeto de Lei em 18 de junho de 2013. Principalmente com o estabelecimento de novo índice para a Cfem (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais). As condições estão dadas. Por razões diversas, empresas, governos, prefeitos e parlamentares anseiam pela tramitação rápida da matéria no Congresso. Um passo importante foi dado no final de 2012, quando o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e uma das maiores empresas do país chegaram a um acordo em torno do passivo dos royalties minerais, que resultou num recolhimento extra de R$ 1,4 bilhão. Em Minas, 13 cidades tiveram as receitas incrementadas. Parauapebas, no Pará, principal município minerador brasileiro, recebeu R$ 80 milhões. Os Estados de Minas Gerais e do Pará, da mesma forma, tiveram um “plus” correspondente a 23% do valor acordado. Também foram
lançadas as bases para que o restante da dívida, referente a outras teses, seja negociado. Chegou a hora, portanto, de se rever a frágil legislação da Cfem. Pratica-se, atualmente, no caso do minério de ferro, alíquota de 2% do faturamento das empresas, mas esse índice cai para cerca de 1,5%, já que as brechas da legislação dão margem à dedução de impostos indiretos e dos custos de transporte e de seguro. O texto do PL traz avanços importantes, mas deixa para depois, sob forma de decreto, a fixação das novas alíquotas, inclusive a do minério de ferro. Defendemos que seja de 4%, tomando por base os preços de referência estabelecidos pelo governo, fechando as portas para estratégicas tributárias com a finalidade de recolher menos. Atualmente, os recursos arrecadados são repartidos entre a União (12%), os Estados (23%) e os municípios produtores (65%). Para se ter noção dos valores em jogo, Minas Gerais arrecadou quase R$ 1 bilhão com Cfem em 2012. Já o setor mineral faturou US$ 50 bilhões, o que projetaria um repasse de aproximadamente R$ 4 bilhões após a aprovação do PL e a fixação da nova alíquota. É importante assinalar que a Cfem não é imposto, como argumentam defensores da tese da “perda de competitividade”. Como o próprio nome sugere, trata-se de uma compensação pela exploração de um bem que pertence à União, portanto, à sociedade brasileira. De suma importância para as cidades, essa contribuição provê as prefeituras de recursos para a recomposição da infraestrutura urbana impactada pela atividade econômica. Finalmente, os municípios mineradores defendem que a aplicação desses recursos se dê exclusivamente em educação, infraestrutura e projetos de diversificação econômica que garantam a sobrevivência das cidades a partir do momento em que houver a exaustão da atividade mineral.
NÃO
Até quando? Marcos Paulo de Souza Miranda – Coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural
e Turístico de Minas Gerais e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais
M
inas Gerais tem o seu próprio nome ligado à mineração, atividade que durante o apogeu do ouro e do diamante sustentou, em boa parte, a economia de Portugal. Nos dias de hoje, sem a fartura de pedras e metais preciosos, o minério de ferro é uma das bases da economia do Estado. Mas um lado funesto decorrente das atividades minerárias ao longo de mais de três séculos de exploração é ainda pouco conhecido: a perda de vidas humanas e a destruição do meio ambiente em episódios recorrentes na história do povo mineiro. Tratando sobre a extração de ouro no Morro de Pascoal da Silva, em Vila Rica, em 1717, o conde de Assumar deixou registrado em seu diário que os negros faziam “huns buracos mui profundos aonde se metem, e pouco a pouco vão tirando a terra para a lavar; porém esta sorte de tirar ouro he mui arriscado, porque sucede muitas vezes cahir a terra e apanhar os negros debayxo deitando-os enterrados vivos (sic)”. O barão de Langsdorff, ao percorrer região
de Mariana em 1824, registrou: “Passamos por um vale pobre e árido, por onde ocorre o rio São José, turvo pela lavação do ouro e em cujas margens se veem montes de cascalhos, alguns até já cobertos de capim. É difícil imaginar uma visão mais triste do que a deste vale, outrora tão rico em ouro”. Em meados de 1844, na mina de Cata Branca, município de Itabirito, à época alvo da exploração aurífera por uma empresa britânica, houve o desabamento da galeria explorada e soterramento de dezenas de operários escravos. Segundo os registros, dias depois do acidente ainda eram ouvidas vozes e gemidos dos negros em meio aos escombros. Ante a dificuldade de resgate, foi tomada a decisão de se desviar um curso d’água para inundar a mina, matando os pobres trabalhadores sobreviventes afogados, em vez de espera-los morrer de fome. Sobre o fato, José Pedro Xavier da Veiga deixou registrado nas suas célebres “Efemérides Mineiras”: “E lá estão enterradas naquele gigantesco túmulo da rocha as centenas de mineiros infelizes, que encontraram a morte perfurando as entranhas da terra para lhe aproveitar os tesouros. A mina conserva escancarada para o espaço uma boca enorme rodeada de rochas negras e como que aberta numa contorção de agonia”. Em 21 de novembro de 1867, na mina de Morro Velho, em Nova Lima, um desabamento matou 17 escravos e um trabalhador inglês. Dezenove anos mais tarde,
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José Marcelo / De Brasília
SIM
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Editor Fernando Gentil - DRT/MG 18477
FIGUEIRA - Fim de semana de 04 a 06 de dezembro de 2015
PARLATÓRIO
EDITORIAL
Diretor e Jornalista Responsável Moisés Oliveira - DRT/MG 11567
POLÍTICA | ECONOMIA 3
em 10 de novembro de 1886, a história se repetiu em Morro Velho. Mais recentemente, rompimentos de barragens nas minas de Fernandinho (1986) e Herculano (2014), em Itabirito; Rio Verde (2001), no Distrito de Macacos, em Nova Lima; e da Mineração Rio Pomba (2008), em Miraí, redundaram em dezenas de outras mortes e prejuízos irreversíveis ao meio ambiente. No último dia 5 de novembro de 2015, em Mariana, o rompimento de duas barragens da empresa Samarco soterrou quase integralmente o distrito de Bento Rodrigues, ceifou vidas, destruiu dezenas de bens culturais e danificou de forma severa os recursos ambientais de vasta extensão da bacia do rio Doce. Todos sabem que a história é mestra da vida e os fatos adversos por ela registrados devem servir de alerta para o futuro, para que os erros não sejam repetidos. O aprendizado com os equívocos de antanho deveria impor ao setor minerário da atualidade uma completa mudança de paradigmas. Afinal, temos condições de ser autores da nossa própria história e não podemos admitir a repetição reiterada desses desastres como algo normal, inerente às atividades econômicas de Minas Gerais. Entretanto, percebemos que ainda se avultam as inconsequentes condutas induzidas pela ambição do lucro fácil e pelo desdém aos direitos alheios, não raras vezes secundadas pela omissão ou incompetência de autoridades públicas responsáveis pelos processos de licenciamento ambiental, que se contentam com a adoção de tecnologias ultrapassadas em empreendimentos de alto risco, que raramente são fiscalizados. A anunciada flexibilização do licenciamento ambiental pelo governo de Minas, com o nítido propósito de beneficiar, entre outros, o seguimento dos empreendimentos de mineração, segue na contramão do que a sociedade mineira espera e precisa: segurança e respeito aos seus direitos. É hora de dizer um basta.
Bola fora 1
Dentro do próprio governo já existe um consenso de que não foi muito simpática a participação da presidente Dilma Rousseff na abertura da conferência do Clima COP21, realizada na França. Pegou mal, primeiramente, o fato de a extensa comitiva presidencial ter se hospedado em um dos hotéis mais luxuosos de Paris. A embaixada do Brasil na França tem um andar inteiro para acomodar brasileiros ilustres em visita ao país, assim como tem toda a estrutura da embaixada para atender às necessidades de comunicação, trabalho e descanso.
Bola fora 2
A segunda bola fora foi o cancelamento da visita que Dilma Rousseff faria ao Japão e que foi cancelada em cima da hora. Considerada uma gafe internacional, a suspensão da visita frustrou as expectativas do governo da terceira maior potência econômica do mundo, de um país com quem o Brasil mantém históricas e rentáveis relações diplomáticas e financeiras, sem contar as relações afetivas. Ainda vale lembrar que os preparativos de uma recepção de governante sempre envolvem gastos e, diferentemente do que acontece por aqui, no Japão a prestação de contas por parte do governo à população é coisa muito séria.
Tribuna
Não adianta prender
Existe um certo consenso entre cientistas políticos em Brasília de que, por mais que as operações Zelotes e Lava Jato esbarrem no nome de pessoas próximas ou do próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não seria um bom negócio mandá-lo para a cadeia. Isso poderia provocar, segundo os analistas, uma espécie de comoção nacional, fortalecê-lo politicamente e fazer de Lula uma grande vítima. Sem contar a predisposição de juízes em emitir habeas corpus para soltar o ex-presidente.
Virou moda
Por falar em Zelotes e Lava Jato, as assessorias de imprensa do Ministério Público e da Polícia Federal estão tendo de cortar um dobrado para barrar advogados nas entrevistas coletivas sobre os dois assuntos. Como muitas informações chegam ao público por meio do noticiário, advogados dos envolvidos ou dos que imaginam que a qualquer hora estarão na lista pública de investigados acham que têm o direito de acompanhar um evento dirigido exclusivamente aos jornalistas. No entanto, eles pensam diferente na hora das audiências, quando querem deixar a imprensa bem longe.
João Paulo M. Araújo
Sacudindo a Figueira
Um deserto imenso
S
Veja a sua arte. É um límpido reflexo de si mesma: autorreferencial, mercadológica, pobre e, salvo algumas raras exceções que constituem o brilho de uma época inteira, não temos a oferecer senão imitações de menor valor. Nossa literatura é um monumento ao narcisismo, enquanto nossa música – que se tornou “universitária” – traduz em suas onomatopeias semialfabetizadas a profundidade de suas reflexões atuais. Ela ainda engatinha a aventurar-se na política, mas já dá sinais do nível e do caráter do seu comprometimento: sem ideal e sem discussão, sob o signo da espontaneidade, disfarça-se a política da estultice. Seu porta-voz autodeclarado é um moleque de uns tantos anos que largou a universidade porque julgava nada mais ter a aprender com seus professores. Os outros seguem-no como exemplo. Falimos moralmente quando, sem perceber, entregamos até o que não havia sido exigido. Quem há de se lembrar de quando deixamos de nos relacionar com os outros e passamos a “investir em relacionamentos”? Quando conseguimos nos esconder mesmo da mais banal das vaidades e começamos a “investir” em nossa imagem? Tempo, amor, satisfação, prazer: tudo é investimento, tudo é um grande depósito de elementos permutáveis, avaliados sob uma única medida – o retorno financeiro. Acho mesmo que não foi tanto pelo dinheiro em si, mas pelo que ele significava. Ao final, corremos com muita rapidez em direção ao futuro e, na pressa, não carregamos coisa alguma do passado – daí a vertigem. E, por toda parte, vemo-nos no meio de um deserto imenso: os pilotos, astronautas, escritores e poetas tornaram-se todos funcionários de repartição com gigantescos celulares e carros do ano. E, mesmo diante de tudo isso, a maior desfeita dessa geração – que tão cedo já dá mostras de esgotamento – não é o abandono de si, o esquecimento da promessa que ela mesma se constituiu. Seu maior crime é ter se constituído em exemplo para os que vieram depois. É ter dado a medida do que significa a vida adulta, o sucesso, a felicidade. É ter institucionalizado o deserto.
Se há um setor que está lucrando alto com a crise política e a crise econômica do Brasil é o de consultoria e análise de conjuntura política. Diretor de um dos mais importantes escritórios desta natureza, a Arko Advice, o sociólogo e cientista político Thiago de Aragão, diz que há tempos não passa um mês sem viajar para dar palestras para investidores estrangeiros preocupados com a situação do Brasil. Eles estão com medo, segundo Aragão, em função da percepção do risco para o capital estrangeiro. A exceção, segundo o cientista político, são as empresas de petróleo e gás e as de telefonia. Os dois setores sabem que o governo terá de abrir ainda mais o setor para a iniciativa privada por causa da incapacidade de atender à demanda.
Da Redação
João Paulo M. Araújo é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora campus Governador Valadares Contato: jp.medeirosaraujo@gmail.com
empre tive a impressão de que nasci numa geração privilegiada (embora toda geração acredite ser privilegiada). Nascidos nos idos da década de 1980, crescemos e formamos nossa primeira identidade no entremeio de dois eventos cruciais: a redemocratização e o Plano Real. Por um breve momento, as tensões que marcaram a vida dos nossos pais desapareciam lentamente. Tudo era possibilidade e fomos levados a crer que o mundo se abria inteiro para nós. Bastava vontade e o transformaríamos. Havia uma promessa silenciosa, quase sagrada, renovada diariamente nos futuros pilotos, astronautas, escritores e poetas. Tínhamos o quê? Dez, 12 anos, quando o dinheiro começou a ter algum valor e chegaram as marcas de creme dental. Quando veio a era do consumo e os computadores se tornavam menores à medida que os carros cresciam, ainda assim nossa posição era privilegiada: nem chegamos tão cedo a ponto de considerar natural a aparente bonança nem tão tarde para sentirmo-nos estranhos a ela. E, no entanto, não foi muito depois que fomos apanhados de surpresa pelo tempo. Nossa geração traiu a si mesma quando acreditou ter sido vítima de um engodo: prometeram-nos possibilidades e, muito cedo, elas nos foram arrancadas. Há aí um erro fundamental. Porque nada nos foi arrancado: nós é que, em cúpida desfaçatez, abdicamos do que nos era mais próprio. O antigo ideal de vocação foi prontamente esquecido diante do brilho de um novo messias. Ele prometia o reino do amanhã na estabilidade do concurso público e só exigia em troca a desoneração sobre si mesmo. Encerrada na trama que ela mesma criou, nossa geração aceitou quinquilharias em troca dos seus sonhos de futuro. E prontamente trocou a busca por realização pessoal por meio do trabalho pelo conforto da estabilidade em uma qualquer repartição – basta-lhe o ordenado constante e gordo, o suficiente para lhe garantir a mesa farta e agradar aos comensais em conversas maçantes sobre vinho e viagens.
Preocupações internacionais
A figueira precipita na flor o próprio fruto Procura-se um prefeito Pedro Venâncio, articulador político e assessor regional do PRB, segue sua luta atrás de um nome para candidatar a prefeito pelo seu partido. A tarefa não é fácil, afinal, bons nomes estão em falta. A empreitada fica ainda mais dura porque o PRB determinou que quem for o candidato terá que apoiar o PT num eventual segundo turno. Muitos pretendentes desistiram.
Ativo e bom de briga Clero Jr., o Clerinho da Ilha, tem se mostrado bom de briga. Participa ativamente da luta pelo rio Doce. Vai a todas as reuniões com o MP e não deixa de pôr a boca no trombone. Tem tudo para ser um bom vereador. Pena que tem um pré-candidato a prefeito que já passou a lábia nele também.
“Chegar chegando” Renato Fraga deve “chegar chegando” nos próximos dias. Fala-se nos bastidores que ele já conta com o apoio de 13 partidos para disputar a Prefeitura. O PMDB vai demonstrar força. O partido já teria aparado as arestas e se unificado em torno do nome de Renato. Deputados, ministros e até o vice-governador devem desembarcar por aqui para mostrar apoio. Veremos.
Acreditando na cidade Os empresários da Cervejaria Bruder de Ipatinga estão investindo forte em Valadares. O novo empreendimento do grupo é na esquina da Israel Pinheiro com Oswaldo Cruz e tem tudo para ser sucesso. A cidade agradece a confiança e os novos postos de trabalho.
Recruta zero Muita gente reclamou do tratamento dado pelos funcionários do Exército que trabalharam na distribuição de água. Grosseria e falta de paciência foi o que alegaram as pessoas. Além de conviver com a falta d’água, o povo precisou enfrentar filas gigantescas, além de suportar um tratamento nada amistoso. Nota zero.
Calote à vista Circula o papo de que nem a Samarco nem a Vale nem a BHP honrarão os compromissos firmados. Os diretores da empresa terão até o dia 9 para assinar um termo de compromisso com o MP. Mesmo assim, muitos duvidam que eles cumprirão com suas obrigações. Depois que for normalizada a distribuição de água, os holofotes se apagarão e rio Doce pode ser esquecido. Senhores juízes, contamos com vocês para que isso não aconteça.
Infantilidade O autoritarismo é a face mais infantil da política. Sem espaço nos dias de hoje, atitudes autoritárias degradam o poder público, desagregam pessoas e geram muito mal-estar. O soldado que age assim nunca se tornará um general, pois sua suposta liderança é baseada em princípios primitivos e não duradouros.
Exemplo Centenas de estudantes secundaristas ocuparam escolas públicas em São Paulo e deram um belo exemplo de luta pela cidadania e pela educação pública de qualidade. Para você que achava que a juventude brasileira estava perdida, pasme! Está mais preparada e corajosa do que se pode imaginar.
Prometer ele promete, mas cumprir...
Impunidade e suas facetas
Tem um pré-candidato a prefeito aí que já prometeu a vaga de vice para uns cinco: Paulinho Costa, Iracy, Ricardo Assunção, Chiquinho e mais um monte. Até já escalou Renato Leite como secretário de meio ambiente. Seus assessores espalham pela cidade que ele já é o próximo prefeito, mas falta combinar com o povo. Prometer ele promete, mas cumprir...
Cunha é branco, rico, poderoso, achacador, investigado por corrupção e chantagista. Para ele, nada. Mas, no Brasil, se você for preto, pobre, favelado, honesto, pai de família e trabalhador, o risco de você ser morto ou preso injustamente é muito grande. Até quando?
FIGUEIRA - Fim de semana de 04 a 06 de dezembro de 2015
POLÍTICA | ECONOMIA 4
INTERNACIONAL 5
Índices de dengue aumentam em Minas e diminuem em Valadares Para combater a doença, o governo lança a campanha 10 Minutos Contra a Dengue Gina Pagú
S
egundo dados da Secretaria do Estado de Minas Gerais (SES-MG), o número de casos confirmados de dengue em Minas saltou de 49.360, em 2014, para 143.890, em 2015. Geane Andrade, coordenador do Programa Estadual de Controle Permanente da Dengue no Estado, explica as razões para esse aumento. “Em 2015, até o momento, foram confirmados 143.890 casos de dengue em Minas Gerais e outros 35.340 foram considerados suspeitos. Já o número de mortes confirmadas no Estado soma 67. Neste ano, percebemos um aumento no número de reservatórios de água de chuva decorrentes da escassez hídrica que, possivelmente, interfere nessa transmissão.”
Em Governador Valadares, o Levantamento de Índice Rápido por Infestação de Aedes aegypti (LIRAa) de 2015, divulgado no início de novembro pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), apontou queda no número de imóveis com focos do mosquisto: 4,9% contra 6,4% registrados no segundo LIRAa, feito em março. O que não mudou foram os locais com maior incidência dos focos: pela quinta vez consecutiva, eles continuam dentro das casas, nos ralos (42,2%), seguidos pelas tinas/tonéis e tambores (29,7%), pratos de vasos de plantas (18,3%), caixas d’água (3,6%), lixo (2,9%), bromélias (2,9%) e pneus (0,3%). Foram notificados 970 casos de dengue em Valadares em 2015, contra
1.204 em 2014, enquanto em 2013 foram 4.896. Não houve registro de mortes em função da dengue em Valadares nem casos confirmados laboratorialmente de febre zika e chikungunya. José Batista dos Anjos Júnior, técnico referência em dengue do Município, afirma que mesmo com a queda nos índices, o risco de epidemia permanece alto. “Apesar da redução no número de focos, o risco de epidemia de dengue, zika e chikungunya continuam altos. E o que mais nos preocupa (a população deve ficar alerta) é que os focos continuam sendo encontrados dentro das casas, ou seja, locais onde os mosquitos não precisam de água das chuvas para pôr seus ovos – o que quer dizer que precisamos con-
tar com a participação de todos para exterminarmos o mosquito.”
Foco No LIRAa de 2015, feito em março, o resultado mostra que os mesmos bairros com focos do mosquito da dengue se repetiram no levantamento divulgado em novembro: Jardim do Trevo, Santa Paula, Planalto, Turmalina, CEASA, Posto Planalto, Posto Cacique, Sertão do Rio Doce e Retiro dos Lagos têm 7,5% dos imóveis com focos. Em seguida, vieram Nova Vila Bretas, Mãe de Deus, Santo Antônio e Altinópolis, com 7,2%. O bairro Santa Rita também apresentou um índice considerado alto – 7%. Logo atrás
Foto Divulgação
Como todos os outros eventos internacionais, países desenvolvidos deixam a conta do aquecimento global para os mais pobres
Q
A campanha 10 minutos Contra a Dengue tentará amenizar os índices da doença em Minas Gerais
vêm os bairros Vila Império, Palmeiras, Jardim Pérola, Kennedy, Bela Vista, Fraternidade, Vila Ozanan, São José e Nossa Senhora de Fátima, com 6,2% dos imóveis com focos do mosquito da dengue. Centro, Esplanada, Esplanadinha e São Pedro também foram apontados como bairros com alto índice de focos: 6,1%. Já a região dos bairros Santa Helena, Esperança, Morro do Carapina, Vale Verde, Querosene e Monte Carmelo apresentaram o menor índice – 2,5%. Quase lá estão os bairros Capim, Conjunto SIR, Universitário, Sítio das Flores, Santos Dumont 1 e 2, Sion, Belvedere, Recanto dos Sonhos, Floresta e Cardo, todos com 2,8%. Atalaia, Vila do Sol, Ipê, Vila dos Montes, Jardim Alvorada, Vale do Sol e Cidade Jardim registraram 3,1% dos imóveis com focos. Logo atrás, vieram Jardim Alice, São Paulo, Santa Terezinha, Ilha dos Araújos e São Tarcísio, com 3,3% dos imóveis com focos, seguidos de Grã-Duquesa, Nossa Senhora das Graças, Maria Eugênia, Santo Agostinho, Lagoa Santa, Morada do Vale e Cidade Nova, que apresentaram 3,8% dos imóveis com focos. Vila Rica, Penha, JK, São Cristóvão, Novo Horizonte, Vale Pastoril, Caravelas, Castanheiras, Vila União, Tiradentes, Figueira do Rio Doce e Vitória encerram a lista, com 4,2%.
Campanha Para mobilizar a população no enfrentamento contra a doença, o governo do Estado lançou a campanha 10 Minutos Contra a Dengue no último dia 27. Com o objetivo de trazer mais
Marcos Imbrizi / De São Paulo
É
COP21 é mais uma farsa elaborada em torno do meio ambiente
Fernando Gentil
Café com Leite revoltante ver, em meio a tamanha tragédia, que levou à morte dezenas de pessoas e à destruição do rio Doce, algumas das ações da Samarco, empresa responsável por tudo isso. Primeiro, quase um mês após o rompimento da barragem, as famílias de Mariana que tiveram suas casas destruídas ainda não receberam o auxílio financeiro a que têm direito. Mais que isto, de acordo com o Estadão, a Samarco escondeu seu dinheiro para evitar o cumprimento de decisão da Justiça de bloquear R$ 300 milhões em recursos da empresa para pagamento de danos pelo ocorrido em Mariana. A alegação da empresa é que o bloqueio prejudica a recuperação dos danos. A boa notícia é que o governo federal e os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo entrarão com uma ação judicial para cobrar R$ 20 bilhões da Samarco e criar um fundo para a reparação dos danos.
Foto Divulgação
FIGUEIRA - Fim de semana de 04 a 06 de dezembro de 2015
Em São Paulo, governar é fechar escolas E a malfadada reorganização escolar teve novos desdobramentos nas últimas semanas. Neste período, o governador Geraldo Alckmin sofreu uma grande derrota. Na semana passada, o pedido do governo de reintegração de posse dos prédios ocupados pelos estudantes que protestam contra o fechamento de escolas, foi negado pelo Tribunal de Justiça paulista. Afinal, como o próprio entendimento do TJ, os estudantes não querem a posse dos prédios, mas sim, lutam pelo direito de continuar os estudos. E também não foram consultados sobre as mudanças. Aliás, a comunidade escolar não foi consultada. Neste período, também o número de escolas ocupadas por estudantes aumentou e, de acordo com a própria Secretaria da Educação, já são 194 (dia 30/11).
O mosquito Aedes aegypti é transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus
informações sobre a dengue, chikungunya e zica vírus, a proposta será trabalhada no final de 2015 e durante o próximo ano a fim de conscientizar os mineiros para que reservem apenas dez minutos da semana para limpar os locais em que o mosquito Aedes aegypti se reproduz. O conceito da campanha foi desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e se baseia no ciclo de vida do Aedes aegypti, do ovo ao mosquito adulto, que leva de sete a dez dias. Agindo uma vez por semana na limpeza de criadouros, a população interfere no desenvolvimento do vetor, impedindo que ovos, larvas e pupas do mosquito cheguem à fase adulta e, assim, consegue frear a transmissão da doença. O modelo é inspirado em uma estratégia de controle do vetor adotada em Cingapura, que foi capaz de interromper o pico de epidemia no país com ações semanais da população dentro de suas residências, de apenas dez minutos, para limpeza dos principais criadouros do mosquito. Segundo o secretário de Estado de saúde Fausto Pereira dos Santos, é de fundamental importância a participação da população no controle da dengue. As pesquisas mais recentes apontam que mais de 80% dos focos de Aedes aegypti encontram-se dentro dos domicílios. O controle do vetor é uma tarefa que ultrapassa o âmbito da saúde e exige ações de todos os serviços públicos e também da população. Por isso, a sensibilização para a campanha é essencial no enfrentamento à doença.
O foco continua sendo a mobilização da sociedade, da limpeza urbana e de todos os demais agentes que possam contribuir para o controle do vetor.”
Zika vírus e microcefalia As três doenças: dengue, chikungunya e zika vírus são transmitidas pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti. No entanto, o combate ao mosquito é a forma de evitar qualquer dessas doenças. Para o monitoramento da entrada do zika vírus em Minas Gerais e, em decorrência dos casos de microcefalia ocorridos nos Estados do nordeste, a SES-MG está cumprindo os protocolos do Ministério da Saúde e reativando a vigilância sentinela, que são equipes das unidades de saúde tecnicamente treinadas para identificar os sintomas agora ligados ao zika vírus e encaminhar para a análise. Embora não haja registro de circulação do vírus no Estado, as unidades estão distribuídas estrategicamente nos municípios de Uberaba, Belo Horizonte, Montes Claros, Teófilo Otoni, Juiz de Fora e Pouso Alegre. Segundo o SES-MG, o Ministério da Saúde tornou compulsória a notificação de casos da microcefalia em todo o território nacional, incluindo Minas Gerais. O protocolo para identificação de bebês com o problema deverá ser utilizado em todo o país. As instruções preveem os critérios para detecção da microcefalia em recém-nascidos, definem o fluxo de atendimento, diagnóstico, vigilância e acompanhamento de bebês com a anomalia.
Descaso da Samarco O mais interessante nisso tudo é o envolvimento dos estudantes, que se organizam nas escolas para preservar os espaços, cuidando da limpeza, manutenção, alimentação, entre outras tarefas. A comunidade e os movimentos sociais auxiliam como podem: doando mantimentos, colchões ou levando uma palavra de apoio. E o governo usa suas armas. O grupo Jornalistas Livres divulgou na tarde de ontem (29/11) o conteúdo de uma reunião entre um representante da Secretaria de Educação com diretores de ensino de diversas regiões. Em tal encontro, foram discutidas as ações para quebrar a resistência de alunos, professores e funcionários contrários à proposta de reorganização. Em gravação, disponível em www. youtube.com/watch?v=68qbymS6Xvc&featur e=youtu.be, o chefe de gabinete do secretário estadual de educação afirma que os participan-
tes da reunião “estão em guerra, que se trata de organizar ações de guerra, que a gente vai brigar até o fim e vamos ganhar e vamos desmoralizar (quem luta contra a reorganização).” E, por fim, no último sábado, o Estadão publicou a verdadeira causa da reforma: o corte de gastos. Segundo reportagem, em 2016, o orçamento da pasta de Educação será de R$ 28,4 bilhões (em 2015 foi de R$ 30,4 bilhões), já corrigida a inflação, o que torna necessário o fechamento de escolas e de salas de aula (principalmente no período noturno), a superlotação de salas de aula e a consequente demissão de professores. Vale lembrar que em 2015 já haviam sido fechadas milhares de salas de aula, o que levou à superlotação de muitas das que permaneceram abertas e à demissão de milhares de professores temporários. Ainda em 2015, os professores não tiveram aumento salarial.
Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.
ue o planeta Terra inteiro passa por transformações ambientais importantes todo mundo já sabe. Diversos estudos e pesquisas foram feitos e mostraram os efeitos devastadores da ação humana no mundo. É preciso mudar os hábitos de consumo, a desenfreada industrialização da vida e o modo capitalista para modificar as estruturas e termos uma sociedade ambientalmente sustentável. Porém, em todo e qualquer encontro de grandes nações, nada é definido, nada é respeitado. São diversos discursos, com vários temas e propostas. Nenhuma é acatada e tudo se mantém da mesma forma. Mais poluentes e menos vida saudável. No COP21 não é diferente. A abertura foi feita pelo ministro do meio ambiente peruano, Manuel Vidal. Em discurso, ele comparou a importância do combate ao terrorismo à da defesa da natureza. “Se estamos aqui hoje é porque podemos lutar tanto contra as mudanças climáticas quanto contra o terrorismo”, declarou o político. Com estas palavras, abriu-se mais uma rodada de tentativa de acordo sobre a redução de emissão dos gases causadores do efeito estufa na atmosfera. São cerca de 150 chefes de Estado reunidos no centro de convenções de Le Bourget, em Paris, desde o dia 30 de novembro até o dia 11 de dezembro – 196 delegações, ao todo, na capital francesa. A diferença deste para os outros vários encontros sobre o clima que já ocorreram é que nunca antes tantos países participaram do evento. A questão é que o número de participantes não influencia na ação desenvolvida. Pode haver cinco ou mil líderes. O importante é que as propostas sejam realmente eficazes e, principalmente, cumpridas. De acordo com os estudos de diversos cientistas levados em consideração na COP21, a temperatura do planeta vai aumentar, nos próximos anos, cerca de 2ºC. Isso é suficiente para derreter geleiras, causar destruição de áreas litorâneas e ilhas, além de um imenso desequilíbrio ambiental. O tempo é sim de transformações; vai ser muito difícil evitar que isso ocorra. A questão agora é amenizar os impactos. O problema é que os todo-poderosos americanos, europeus e japoneses parecem não se importar muito com isso. Querem apenas que os emergentes e países pobres paguem a conta do clima poluído causado pelo liberalismo econômico. Mas isso não vai acontecer porque os países não desenvolvidos se recusam a cumprir sozinhos as propostas desses encontros – o que faz total sentido. Sem a participação dos principais poluidores, que são os países desenvolvidos, de nada adianta. Desde 1992 um acordo como esse vem sendo tentado. Este ano é o derradeiro. Ou vai ou racha. O problema é que todos os países precisam concordar com os temas discutidos na evento. Todos, sem exceção, e isso complica a realização dos projetos e faz com que nada saia do papel.
Presidenta Dilma pede que nações desenvolvidas paguem pelos 200 anos que poluíram desenfreadamente o planeta
Mundo inteiro se reúne em Paris para discutir as questões climáticas Foto: COP21
O Brasil no acordo Em seu discurso, a presidenta Dilma levantou diversas questões a serem incluídas no programa da COP21. O problema é que, mais uma vez, os índios foram esquecidos. Perto da aprovação de uma assassina PEC 215, o Ministério do Meio Ambiente rejeitou as propostas das comunidades tradicionais e foi para o evento sem as demandas indígenas. Um verdadeiro indício de que o governo petista não se importa mesmo com essas populações, que são das que mais sofrem no Brasil com falta de recursos e de dignidade humana. Mais um ponto negativo para um governo dito popular. Para a coordenadora do programa de política e direito socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), Adriana Ramos, os índios são fundamentais no processo de redução das emissões de gases. “Para nós, realmente é lamentável ver que a realidade da importância dessas comunidades e dos seus territórios, para serem considerados como prioridades de conservação nos diferentes países, não têm sido efetivamente incorporadas nas políticas”, disse à rádio EBC. Apesar disso, grupos indígenas foram à conferência em busca dos seus direitos no debate sobre o clima. “Nós estamos aqui para contribuir com a questão climática; e não somente os povos indígenas do Brasil, mas os povos indígenas de todo o mundo. Milenarmente nós temos a sabedoria do contato muito forte com a natureza, com a nossa mãe Terra”, afirmou a liderança Francinara Baré, também para a EBC. Entre os dados apresentados por Dilma estão questões relacionadas ao desmatamento, à tragédia causada pela Vale e pela BHP em Minas Gerais, fontes de energia renovável e limpa e a metodologia para se aplicar todas essas mudanças. Sobre a tragédia causada pelas mineradoras, Dilma, enfim, tratou com mais rigor a situação no discurso. “A ação irresponsável de uma empresa provocou recentemente o maior desastre ambiental da história do Brasil, na grande bacia hidrográfica do rio Doce. Estamos reagindo ao desastre com medidas de redução de danos, apoio às populações atingidas, prevenção de novas ocorrências e também punindo severamente os responsáveis por essa tragédia”, relatou a presidenta. Dilma disse que o desmatamento na Amazônia diminuiu 80% na última década. Marcio Astrini, do Greenpeace Brasil, critica esta fala da presidenta. “O Brasil não consegue mais falar de algo que vai fazer de bom, fica só evi-
denciando o que aconteceu nos últimos dez anos. A previsão para os próximos 15 anos, que é o período de que trata o plano, não traz nada de bom para a área florestal. A lei é fraca, permite muito desmatamento”, explica à BBC. Dilma também disse que 45% das matrizes energéticas do país serão limpas e renováveis até 2030. Porém, isso não condiz com a realidade. Nos últimos anos, 70% dos investimentos brasileiros foram em combustíveis fósseis. A presidenta também defendeu que o acordo se torne uma lei internacional para que todos cumpram o que for decidido – algo extremamente necessário para que as propostas sejam fielmente realizadas. “Nunca ouvi isso (legalmente vinculante) tão explicitamente na boca da presidente. É muito importante falar isso aqui e pedir a revisão a cada cinco anos também”, comentou Astrini à BBC. E, como sempre, os Estados Unidos são o principal oponente à proposta. Dilma ainda afirmou que o Brasil vai reduzir em 43% as emissões de gases até 2030. Porém, os dados mostram que tal meta é muito difícil de se concretizar (vide as políticas ambientais feitas no país). “Se todo mundo fizesse um esforço proporcional ao do Brasil, o aquecimento ainda ficaria acima de 2ºC. Pensar assim é péssimo para o resultado da negociação, os países não podem achar que estão fazendo o suficiente se a meta não foi atingida”, disse Carlos Rittl, do Observatório do Clima, à BBC. Sobre a metodologia de aplicação, o Brasil e demais países emergentes pedem que os desenvolvidos arquem com o financiamento para a transição para uma economia menos poluente. Aí reside o ponto quase impossível de se negociar. Ninguém quer parar de poluir. “Os meios de implementação do novo acordo, financiamento, transferência de tecnologia e capacitação devem assegurar que todos os países tenham as condições necessárias para alcançar o objetivo”, concluiu a presidenta. A questão internacional é muito importante para adiar o aquecimento global. Porém, é apenas um adiamento. Desde 1992 o assunto é discutido entre esses mesmos países, com a previsão deste desastre ambiental que está prestes a ocorrer. Parece inclusive com o que aconteceu em Minas Gerais. Uma tragédia anunciada. Todo mundo sabe, mas ninguém faz nada. Até que ela acontece e o discurso muda – só que tarde demais. Confira o artigo do doutor em teologia e filosofia Leonardo Boff para o Congresso em Foco sobre o tema:
O impasse fundamental da COP 21 em Paris “Um planeta limitado e escasso de bens e serviços não tolera um crescimento ilimitado. Já nos demos conta de seus limites intransponíveis, mas o sistema não toma tal fato em consideração” Entre os dias 30 de novembro e 11 de dezembro de 2015 se celebrará mais uma Convenção das Mudanças Climáticas (COP 21), em Paris. Todas as realizadas até hoje chegaram a convergências pífias, muito distantes das exigências que o problema global exige. Há uma razão intrínseca ao atual sistema socioeconômico mundializado que impede que se alcancem objetivos comuns e adequados. É semelhante a um trem sobre os trilhos. Ele está condicionado ao rumo que os trilhos traçam sem outra alternativa. A metáfora vale para o atual sistema global. As sociedades mundiais continuam obsessionadas pelo ideal do crescimento ilimitado, medido pelo PIB. Falam em desenvolvimento, mas, na verdade, o que se busca é o crescimento material. O crescimento pertence aos processos vitais. Mas sempre dentro de limites. Uma árvore não cresce ilimitadamente para cima nem nós crescemos fisicamente de forma indefinida. Chega um ponto em que o crescimento para e outras funções têm o seu lugar. Ocorre que um planeta limitado e escasso de bens e serviços não tolera um crescimento ilimitado. Já nos demos conta de seus limites intransponíveis. Mas o sistema não toma tal fato em consideração. Disse-o com grande lucidez o cofundador do ecossocialismo, o franco-brasileiro Michael Löwy: “Todos os faróis estão no vermelho: é evidente que a corrida louca atrás do lucro, a lógica produtivista e mercantil da civilização capitalista/industrial nos leva a um desastre ecológico de proporções incalculáveis; a dinâmica do crescimento infinito, induzido pela expansão capitalista, ameaça destruir os fundamentos da vida humana no planeta” (Ecologia e Socialismo 2005, 42). A questão central não está, como viu o papa Francisco em sua encíclica “O Cuidado da Casa Comum”, na relação entre crescimento e natureza. Mas sim entre ser humano e natureza. Este não se sente parte da natureza, mas seu dono, que pode dispor dela como bem quiser. Não cuida dela nem se responsabiliza pelos danos da voracidade de um crescimento infinito com o consumo ilimitado que o acom-
panha. Assim, caminha célere rumo a um abismo, pois a Terra não suporta mais tanta exploração e devastação. Entre as muitas consequências dessa lógica perversa é o aquecimento global, que não cessa de aumentar. Desconsiderando-se os negacionistas, há dois dados seguros estabelecidos pela melhor pesquisa mundial. Primeiro: o aquecimento é inequívoco; não dá para negá-lo, basta olharmos em volta e constatarmos os eventos extremos que ocorrem em todo o planeta. Segundo: para além da geofísica da própria Terra, que conhece fases de aquecimento e de esfriamento, esse aquecimento é antrópico, vale dizer, resultado da ininterrupta intervenção humana nos processos naturais. O aquecimento que seria normal vem fortemente intensificado especialmente pelos gases de efeito estufa: o vapor d’água, o dióxido de carbono, o metano, o óxido nitroso e o ozônio. Esses gases funcionam como uma estufa que segura o calor aqui embaixo, impedindo que se disperse para o alto e aquecendo, em consequência, o planeta. Toda luta é para limitarmo-nos a 2ºC, o que permitiria um gerenciamento razoável da adaptação e da mitigação. Para nos mantermos nesses limites, dizem-nos os cientistas, deveríamos reduzir a emissão dos gases em 80% até 2050. A maioria acha isso impossível. Se, no entanto, por descuido humano, a temperatura chegar entre 4º e 6ºC por volta dessa data, a vida que conhecemos corre risco de desaparecer e grande parte da espécie humana pode ser atingida. O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, advertiu recentemente: “As tendências atuais estão nos levando cada vez mais perto de potenciais pontos de ruptura, que reduziriam de maneira catastrófica a capacidade dos ecossistemas de prestarem seus serviços essenciais.” A consequência será mudar de rumo ou conheceremos a escuridão. Há que se estabelecer uma nova relação com a Terra, respeitar seus ciclos e limites, sentirmo-nos parte dela, cuidar dela com processos de produção e consumo que atendam nossas necessidades sem exaurir sua biocapacidade. Deveremos aprender a ser mais com menos e a assumir uma sobriedade compartida em comunhão com toda a comunidade de vida que também precisa da vitalidade da mãe Terra para viver e se reproduzir. Ou fazemos esta “conversão ecológica” (papa Francisco) ou estará comprometida nossa trajetória sobre este pequeno e belo planeta.
CAPA 6
Foto: Jornal Extra
Em São Paulo, PM bate e ameaça estudantes menores de idade Militares deram cerca de cem tiros no carro dos jovens Fernando Gentil
É
o batalhão que mais mata no Rio de Janeiro. O 41º é um verdadeiro grupo terrorista por onde quer que passe. O trágico episódio do fuzilamento dos cinco jovens que estavam comemorando a promoção de um deles no trabalho foi só mais um “trabalho” da polícia do Pezão contra os jovens negros e pobres das periferias cariocas. Foram 50 tiros contra o carro dos garotos, foram cinco vidas ceifadas, foi-se a esperança de ter uma vida digna e feliz. Foi tudo embora, só ficaram as balas e a sensação de impotência, de total injustiça e de tristeza. O 41° matou 67 pessoas só este ano – um terço das mortes de todos os homicídios que ocorrem na área que eles “comandam”. A proporção de mortes deste batalhão está acima da média do Estado (13%) e do município (21%). O assassino e tenente-coronel, comandante deste batalhão, cujo nome é Marcos Netto, foi exonerado do cargo. A PM informou que os motivos foram “os últimos acontecimentos lamentáveis envolvendo polícias sob o seu comando”. Os últimos? Em um ano que ainda não terminou 67 jovens negros da periferia do Rio de Janeiro foram assassinados e só agora os acontecimentos são lamentáveis? Lamentável é a existência da PM. “Não sou especialista em assuntos de segurança pública, longe disso, mas minha formação é em história. E a ela recorro. A Polícia Militar foi criada por Dom João 6º, no início do século 19, em um contexto em que a revolução dos pretos do Haiti apavorava pelo poder de inspirar movimentos similares entre as elites do Brasil. A função original da PM era, basicamente, defender a propriedade e as camadas dirigentes contra as “gentes perigosas e de cor”. Tal fato me faz crer que, em pouco mais de duzentos anos, a Polícia Militar carioca é uma das instituições mais bem sucedidas do Brasil. Sou dos que acham, portanto, que não adianta dotar a polícia de um suposto perfil cidadão, ensinando algumas aulas mequetrefes e ponto. O buraco é muito mais embaixo. A PM foi criada para matar. Vocês conhecem a fábula da natureza do escorpião? Pois é. A PM é, historicamente, uma UPP
permanente: Unidade de Pancada de Pobre/Preto. Não sou otimista. Há, evidentemente, policiais do bem, mas a missão que justifica a corporação, inscrita em sua história, é essa defesa do monopólio da violência, prioritariamente voltada contra os mesmos pobres e pretos dos tempos do rei. É assim há duzentos anos e continuará sendo. A única solução da PM é a extinção/refundação ou coisa do tipo. Como fazer isso? Não sei, mas é o necessário. A discussão sobre o que deu errado na polícia parte do pressuposto equivocado. O problema da PM não é ter dado errado, é ter dado certo”, explica o historiador Luiz Antônio Simas em sua página no Facebook. O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, disse que o crime cometido pelos policiais foi “abominável”; o secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro chamou de “falha de caráter”. Porém, ambos, há poucos meses deram diversas entrevistas apoiando policiais a enfrentarem, humilharem e proibirem jovens da periferia de usar do seu direito de ir e vir na capital fluminense. Quando acontece a tragédia, eles ficam espantados, mas incentivam diariamente atitudes opressivas por parte da polícia. Queriam que acontecesse o quê? O deputado estadual do PSOL Marcelo Freixo é enfático em tratar o assunto. “Nós não podemos naturalizar a barbárie. Conforme publicou o jornal Extra, entre janeiro de 2011 e outubro deste ano, 2.510 pessoas foram mortas devido a ações policiais. Uma pessoa é assassinada por dia pela polícia. A chacina dos jovens em Costa Barros e tantas outras tragédias, além de não poderem ser esquecidas, precisam urgentemente nos levar a refletir e discutir sobre o modelo de segurança pública e polícia que desejamos. Queremos uma polícia que proteja vidas e seja preparada de forma digna para promover a cidadania e não a guerra. Uma polícia treinada para ver o cidadão como um inimigo a ser eliminado não pode conviver com a democracia. A PM do Rio mata muito e morre muito por causa da cultura militarista do confronto, cujo pilar principal é a política de guerra às drogas. Por isso, defendemos a desmi-
litarização. A violência assusta a todos e todas, mas o extermínio não ocorre de forma indistinta. Ele tem um corte muito preciso de raça, classe e território. Vitima um setor muito específico: jovens negros e pobres moradores das favelas e periferias. Segundo o relatório ‘Você Matou meu Filho!’, produzido pela Anistia Internacional Brasil sobre execuções cometidas por policiais, 99,5% das vítimas eram homens, 79% eram negros e 75% tinham entre 15 e 29 anos de idade. Precisamos urgentemente falar sobre política de segurança pública, desmilitarização e racismo”, revelou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no Facebook. Foto: Coelho/Framephoto/Estadão Conteúdo
Muitas outras crianças, adolescentes e jovens podem morrer ainda este ano nas mãos da PM carioca
Marcelo também criticou a cultura midiática de se culpar a vítima pelo crime. “Existe uma cultura que, dependendo da vítima, a lei pode ser aplicada de uma forma ou de outra. É surpreendente ver alguns veículos de comunicação questionando os antecedentes criminais das vítimas. Qual é a relevância de uma informação sobre alguém que foi executado e dizer se ele tinha ou não passagem pela polícia? Para quê? Se ele tivesse ficha criminal, o crime não seria tão grave assim? Se todos fossem ex-presidiários, o crime não seria tão revoltante? Os policiais poderiam executá-los? Dependendo da vítima, a lei pode ser aplicada de uma maneira ou de outra? Esta é a cultura que tem como consequência este tipo de ação policial. Evidentemente, precisamos de uma polícia mais bem treinada, mais valorizada e com outra formação. Este é um debate profundo que precisamos
Foto: Brasil247
fazer com o conjunto da sociedade, sobre qual modelo de polícia nós queremos. Isso só aconteceu porque eles eram negros, moradores da periferia e estavam em um bairro da zona norte. E a informação que vemos é: ‘Eles eram ou não eram criminosos?’. Se estivessem em outro território e se tivessem outra cor de pele, esta pergunta teria sentido? Este processo da criminalização da pobreza e da aplicação da lei dependendo do perfil da vítima é um caldo de cultura que contribui para que a gente tenha esta polícia. Talvez nosso maior desafio não seja mudar só a polícia, mas o olhar sobre esta instituição”, afirma o deputado. Uma pesquisa feita pelo Instituto Datasus em 2013 mostra que 28 crianças e adolescentes são assassinados por dia no Brasil. Hoje, em 2015, este número deve ser bem maior. O país fica em segundo lugar no ranking de assassinatos de jovens menores de 19 anos. Só perde para a Nigéria. Outra pesquisa feita pela Associação Brasileira de Criminalística mostra que 95% dos homicídios que ocorrem no Brasil não são solucionados. Os adolescentes negros morrem quatro vezes mais que as outras pessoas no país. De acordo com o Mapa da Violência publicado no ano passado, o número de assassinatos de jovens brancos vem diminuindo com o passar dos anos, enquanto o de jovens negros aumentou 55,3% entre 2001 e 2011. Estes são apenas alguns dos diversos estudos que mostram que os homicídios no Brasil têm cor, classe social e CEP. Um professor da comunidade que presenciou o fuzilamento dos quatro jovens disse à BBC que está perdendo todos os seus alunos. “É difícil dizer isso, mas nós sabemos que nossos alunos e ex-alunos vão morrer. Só não podemos ficar parados aguardando a próxima (morte). O clima na escola está tenso e percebo, em muitos alu-
nos e professores, uma passividade assustadora. Há uma tentativa de se manter a rotina e seguir tudo como estava. Teve professor que tentou justificar as mortes dizendo que dois jovens tiveram passagem pela polícia. Desde quando passagem é aval para ser assassinado?”, refletiu o educador. Os policiais Thiago Resende Viana Barbosa, Márcio Darcy Alves dos Santos, Antônio Carlos Gonçalves Filho e Fábio Pizza Oliveira da Silva foram presos em flagrante. Em breve, serão soltos, transferidos e continuarão atuando na área. Mesmo que continuassem presos, fossem expulsos e tudo mais, isso não adiantaria muita coisa. É preciso revolucionar todo o sistema, acabar com a PM e criar uma nova e verdadeira forma de proteção social. Wilton Esteves Domingos Júnior, 20 anos; Wesley Castro Rodrigues, 25 anos; Cleiton Corrêa de Souza, 18 anos; Carlos Eduardo da Silva de Souza, 16 anos; e Roberto de Souza Penha, 16 anos. Estes cinco jovens representam um grupo de milhares de outro negros, pobres, moradores da periferia que morrem anualmente no país. E isso não vai acabar. É preciso mudar completamente o sistema de segurança pública brasileiro, desmilitarizar a Polícia Militar e criar uma instituição que realmente cuide da sociedade como um todo. Luto por esses cinco jovens, luto pelos 28 que são assassinados diariamente no Brasil. O problema não está apenas na Polícia Militar do Rio de Janeiro. Além dela, a de São Paulo resolveu bater em estudante secundarista, de 15 e 16 anos. E isso também pode acabar em tragédia. Com o despreparo dos militares, além das humilhações, ameaças, prisões inescrupulosas, violência, isso tudo pode acabar em morte. Veja na próxima página a reflexão do jornalista Leonardo Sakamoto.
FIGUEIRA - Fim de semana de 04 a 06 de dezembro de 2015
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Foto: Henrique Coelho/G1
PM FUZILA MAIS CINCO GAROTOS NO RIO DE JANEIRO
28 jovens negros da periferia foram assassinados ontem, 28 estão sendo assassinados hoje e outros 28 serão assassinados amanhã
CAPA 7
Foto: MAB
FIGUEIRA - Fim de semana de 04 a 06 de dezembro de 2015
E SE MORRER UM ESTUDANTE? O governo do Estado de São Paulo resolveu entrar em guerra contra as ocupações de escolas públicas mantidas por estudantes insatisfeitos com o projeto que prevê o fechamento de unidades de ensino e a transferência forçada de milhares de alunos. Não sou eu que afirmo isso, mas membros da própria administração estadual em uma gravação divulgada pelos Jornalistas Livres. A força policial tem usado de violência para cumprir ordens, seja nos protestos em vias públicas seja em unidades escolares – principalmente na periferia, pois sabemos que a vida e a dignidade valem menos à medida que nos afastamos do centro expandido da capital paulista. As ações de limpeza social levadas a cabo pelo poder público no Brasil contra grupos de sem-terra, sem-teto, indígenas, camponeses, pessoas com dependência química, moradores de favelas, entre outros, têm recebido apoio – se não explícito, pelo menos tácito – de uma fatia considerável dos brasileiros. Afinal de contas, esses excluídos são seres que, com sua existência, colocam em xeque nossas opções de desenvolvimento, de visão da função da propriedade, da orientação dos gastos públicos. Quando morrem, esses seres não vão para o céu. Viram estatística. Mas, ainda que grasse por aqui uma hipocrisia titânica no que diz respeito à educação (todos defendem que ela seja prioridade desde
que não custe dinheiro), ainda assim estamos falando de crianças e jovens que pedem para estudar e protestam por esse direito. Ou seja, colocam em prática o que parte da sociedade – por falta de tempo, por ignorância, incompetência ou comodismo – desistiu de fazer: lutar coletivamente por um futuro melhor. É claro que há ocupações ligadas a movimentos sociais – o estranho seria se não houvesse, uma vez que educação é um tema transversal que permeia tudo. Entretanto, o que está acontecendo não é uma ação coordenada com um “comando central de ocupações”. Quem pensa desta forma realmente não entende como brotam e se organizam novos movimentos. Neste momento, as ocupações tornaram-se uma catarse alimentada por condições precárias de educação, pelo desejo de ser protagonista do seu próprio destino e pela arrogante incapacidade de diálogo por parte do poder público. E, como toda catarse, tem vida própria, fez nascer coletivos e trouxe diferentes grupos existentes para dentro de si. Aliás, a molecada considera um ultraje ouvir que um velho de barba com camisa do Che chegou para eles e disse tudo o que deveriam fazer. Eles debatem, decidem por conta própria e põem decisões em curso. Não era isso que gostaríamos que fossem? Cidadãos? O governador Geraldo Alckmin sabe o que é estratégia – basta en-
tender como tem sido o processo de contrainformação e racionamento velado que norteia sua ação diante de um reservatório da Cantareira que chegou bem perto de secar. E sabe que, se for bem-sucedido, cacifa-se para a próxima eleição presidencial. Por isso mesmo, essa reação é estranha. Será que ele não percebeu (ou percebeu e fez questão de ignorar) que não está lidando necessariamente com os grupos excluídos acima listados (que não contam com a simpatia da maior parte da sociedade) e muito menos com um cenário dominado por sindicatos e partidos políticos? Os movimentos de jovens que compõem as ocupações são muito mais complexos daquilo que é retratado pela mídia e externam diferentes anseios. A molecada pode até não atrair uma legião de fãs entre os mais conservadores, mas pularam o muro da escola para se trancar lá dentro e poder estudar. E isso é algo simbolicamente forte, difícil de destruir e que pode chamar a atenção e – por que não dizer? – a simpatia de dentro e fora do país. Além do mais, estão pedindo algo bem objetivo e razoável: que o governo desista desse projeto (que deseja economizar custos e, provavelmente, preparar o terreno para uma futura entrega de administração para organizações sociais) e crie um diálogo público e amplo envolvendo alunos, professores e comunidades afetadas sobre a gestão da educação.
Governador, o senhor vai realmente esperar que, em alguma ação desastrada que fuja do controle, um estudante morra pelas mãos da polícia para começar a negociar de verdade? Uma morte não seria difícil de ocorrer levando-se em conta métodos adotados por certos agentes da corporação. Por mais que veículos oficiais tentem ressignificar essa morte, culpando os ocupantes, ela terá um gosto diferente das tantas e tantas outras de jovens negros e pobres que ocorrem regularmente nas periferias das grandes cidades brasileiras em nome de uma estúpida política de segurança pública. A descabida morte de um estudante por asfixia após levar um mata-leão de um soldado rodaria o mundo tal qual a foto do corpo de uma criança síria que surge afogada ao tentar fugir de um conflito sem sentido. E, infelizmente, o que é catarse pode se transformar em convulsão social.
Pois não seria mais um jovem a morrer, mas sim a democracia que terá sido asfixiada e deixada agonizante no meio de uma avenida de grande movimento – ou pior: na porta de uma escola pública. Não que isso já não esteja ocorrendo no Brasil por meio do genocídio de jovens negros e pobres. Mas traduzir esse movimento em imagem para uma sociedade de imagem em movimento poderá ser a faísca que falta para reacender junho de 2013. Leonardo Sakamoto – Jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Cobriu conflitos armados em diversos países e o desrespeito aos direitos humanos no Brasil. Professor de Jornalismo na PUC-SP e pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova Iorque, é diretor da ONG Repórter Brasil e conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão.
Foto: Arquivo Pessoal
CIDADES 8
FIGUEIRA - Fim de semana de 04 a 06 de dezembro de 2015
CIDADES 9
Água sem vida é água morta
Júlio Avelar Bodas de Ouro Meus queridos amigos Toninho e Sofia Martha convidando para a festa de 50 ANOS de feliz união, Bodas de Ouro, dia 12 deste dezembro, no Ilusão Esporte Clube. O casal dispensa apresentações pela humildade, simplicidade, e dedicação à cidade e pelo respeito que sempre tiveram com todos. Presença confirmada!
Os mais fortes Engraçada a vida dos políticos. Cada presidente de partido com que você conversa em Valadares está num grupo de pelo menos 14 partidos aliados. Ou seja, nenhum deles está falando a verdade. Só vai ter certeza quando chegar o dia das convenções partidárias. Agora é só lero-lero, cada um querendo ser maior do que o outro – ou como se diz no linguajar “caipirês”: cada um querendo ser “mais grande”.
Tempo de sede
Laudos da Copasa, FUNED e UFJF afirmam que a água é potável, mas a população está em dúvida. Em quem acreditar?
Júlio Avelar é jornalista, apresentador na TV Rio Doce e membro da Academia Valadarense de Letras Júnior Graciolli, Leandro, José Filipe Moreira, Alexandre Júnior, Philippe Paiva e Samuel, alunos de Odontologia da Univale finalizando mais uma etapa vitoriosa
Quer falar com este colunista? zapzap 33-99899200 ou julioavelargv@gmail.com Avenida Minas Gerais, 700 sala 610 após 14h.
Deputado federal O ex-vereador e atual primeiro suplente de deputado federal Euclydes Pettersen, que hoje comanda o PTB em Valadares, pode vir a ser deputado federal muito em breve. É que depois os atuais deputados federais desta legenda deverão disputar eleições para prefeito no ano que vem e duas delas têm quase que eleição garantida – e se acontecer, Pettersen toma posse em janeiro de 2017. Tô confiante nele agora!
Réveillon GV 2015/2016
CEMIG continua matando
Professoras Antonia Izanira de Carvalho, presidente fundadora e Cinira Santos Neto, primeira e atual presidente da Academia Valadarense de Letras
Ainda não sei Muitos me param nas ruas ou nas redes sociais perguntando se serei candidato às eleições do ano que vem. Tenho respondido que meu nome está à disposição do meu partido, o PV. e do próprio eleitor que me indaga. O tempo dirá, e se for a vontade de DEUS, não nos faltará disposição porque amamos esta Valadares – e toda a região.
Todos os valadarenses estão passando o que diz Eclesiastes 3: “Tempo para tudo”. E agora é o tempo da sede porque matamos nossas árvores todos os dias, jogamos merda e todo o tipo de detergente e veneno nas águas do rio Doce e ele de nada está valendo no momento. Então é sede e não há água mineral que chegue para mais de 600 mil habitantes afetados pela Samarco/Vale.
Apesar da crise e da calamidade pública que a cidade vive desde o assassinato do rio Doce, muitas pessoas não deixarão de comemorar a passagem de ano com festas. Uns em casa, chácaras e sítios, ou mesmo em clubes como o Filadélfia, Garfo e Valadares Country Clube, prometendo festas com música ao vivo. Para os mais econômicos, a praia é o caminho pelo menos no feriado prolongado, porque 31 é numa quinta-feira e aí a vida e o trabalho voltam na segunda-feira, dia 3 de janeiro já de 2016.
Desta água não bebo
Mais cedo
Por um bom período vou continuar escrevendo e falando para todos: “desta água eu não bebo” – enquanto oficialmente alguma coisa séria e não governamental me provar o contrário. Não acredito em nenhuma nota oficial, seja ela de onde for, se for por algum órgão ligado aos três poderes deste país neste momento podre em que vivemos. Vou continuar me contaminando com água mineral. Acorda, povo brasileiro!
Carnaval de 2016 terá início no dia 7, um sábado, até 9, na terça, de fevereiro. Porto Seguro, Guarapari, Guriri e Conceição da Barra são as rotas normais de boa parte dos valadarenses. As duas mais próximas de Valadares, hoje com estrutura boa em hotelaria, pousadas, água e esgoto, e estrada boa, são Guriri e Conceição da Barra, a 310 quilômetros de Valadares.
Todos caladinhos
Gordo e forte
Executiva do Partido Verde
Todos os atuais deputados estaduais e federais por Valadares e região pouco se manifestaram ou ficaram praticamente calados quanto ao assassinato do rio Doce pela Samarco e Vale. É que todos eles, sem exceção, ganharam dinheiro da empresa para suas disputas eleitorais – o que chamamos de “rabo preso”. Nada falaram e não se mostraram em momento algum ao lado do povo. E, para completar, 99% dos possíveis candidatos a prefeito de Valadares nas eleições do ano que vem também estão comprometidos com a Vale e Samarco. Ficaram calados e ninguém os viu nas ruas distribuindo água, opinando sobre o problema – sumiram todos. Voltam na campanha do ano que vem.
O PMDB (que agora é de Renato Fraga, um homem de fácil diálogo, que ama esta cidade e que onde coloca as mãos tudo dá certo), tem bons e grandes nomes para disputar as eleições para vereador e vereadora no ano que vem. O partido sabe que é difícil, mas sonha em eleger pelo menos três edis.
Até o momento e até 10 de março de 2016, a Executiva Provisória do partido Verde em Valadares está assim constituída: presidente Abraão Soares Pacheco; vices: Fabiana Farias e Rosana Azevedo; secretários: Laidizu Gonçalves e Fabiano de Souza; secretário de mobilização: Leandro José; secretário de comunicação: Júlio Avelar; finanças: Bruno Henrique Silva; secretário de formação: Maurício Serpa; secretário de organização: Wallisson Soares Cândido; e secretaria de juventude: Ana Carolina Dornelas Avelar.
FIGUEIRA - Fim de semana de 04 a 06 de dezembro de 2015
Só subindo Não só o curso de direito, mas também o de enfermagem da Univale, ganharam nota 4 no Enad/MEC (cuja pontuação maior é 5). De três anos para cá, a Fundação Percival Farquhar, mantenedora da Universidade Vale do rio Doce, vem normalizando toda a situação, seja ela financeira ou acadêmica, fazendo-a ser uma das que mais cresce no leste mineiro e com o maior número de cursos, num total de 29, para escolha e formação de grandes profissionais. O presidente da fundação, o médico Rômulo Cesar Coelho, e o reitor José Geraldo Lemos Prata, têm feito de tudo para que o curso de medicina se torne uma realidade em breve. Acreditamos!
A Samarco matou o rio Doce e a CEMIG vem há alguns anos assassinando todas as árvores das calçadas de Valadares. Reforçada pela opinião de alguns biólogos e estudiosos de reflorestamento (imaginem vocês que profissionais temos, hein?!), a empresa vem degolando os oitis, cortando-os tão brutalmente que com qualquer vento caem sobre os carros e a cada dia eles ficam mais frágeis. Seria viável que quando você colocar seu carro debaixo de uma árvore fotografar toda a área para, em caso de acidente, acionar judicialmente a CEMIG, pois ela é a causadora da quebra das árvores e de sua matança. Um prefeito preocupado com o meio ambiente obrigaria a empresa a colocar toda a sua fiação no subsolo, como ela já faz em outros centros. Nem nos novos bairros a CEMIG faz isso. A culpa é do prefeito(a) e da empresa – e a coisa só vai piorando para os valadarenses. A cidade caminha para o deserto. Dizer que é caro para ela é mentira – é a mais rica do país!
Bom programa Não sou modesto, mas o nosso programa na TV Rio Doce realmente bate recorde de audiência no horário das 10h30 às 12h10 na cidade e região. Com colaboradores sérios e por dentro das notícias, temos Sayonara Calhau, que fala dos acontecimentos sociais do dia a dia na cidade; Maurício Serpa, acompanhando a arte, cultura e as dicas de final de semana; Maria de Lourdes Ferreira, sempre elevando o astral da mulher com sua clínica de beleza Rainha Estética; professor Ilvece Cunha, com suas dicas de português e redação, orienta e ajuda universitários e outros nos concursos públicos; Reginaldo Aguiar, com as informações policiais em primeira mão. E nós, sempre atentos e dando nossas opiniões em tudo que é chamado e não é chamado. Programa Júlio Avelar: de segunda a sexta-feira, sem medo de falar a verdade.
Réssica e Adalberto Meus sempre amigos Ricardo Miranda e Márcia mais Adalberto Vieira Filho e Ângela convidando para o casamento dos filhos Réssica e Adalberto, com cerimônia religiosa às 20h45 do dia 23 de janeiro próximo. Recepção no majestoso Ilusão Esporte Clube. Presença confirmada!
Gina Pagú
A
Foto: Arquivo Pessoal
pós quase uma semana desde a morte do rio Doce por causa do rompimento das barragens em Mariana, o abastecimento de água potável feito pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) voltou a funcionar em Governador Valadares em 100% das residências. Muito ainda se fala sobre a qualidade e a segurança dessa água. Pode-se ou não bebê-la? Serve somente para banho e uso doméstico? Os laudos apresentados pelo SAAE, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA), a Fundação Ezequial Dias (FUNED) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) com os resultados das análises realizadas no último mês sinalizaram como positivo o consumo da água e os testes deram o aval da potabilidade. Mas, ainda assim, existem contestações. Especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) confrontaram a Samarco, empresa responsável pela tragédia, afirmando que a lama proveniente das barragens é tóxica – enquanto a Samarco, no dia seguinte ao rompimento, assegurou que essa lama era inerte e formada principalmente por silícia (areia). O relator especial das Nações Unidas sobre os direitos humanos ao meio ambiente, John Knox, e o relator es-
O professor de botânica e agroecologia da UFJF, Reinaldo Duque, afirma que a água que abastece as casas é potencialmente danosa à saúde da população a longo prazo
pecial sobre direitos humanos e substâncias e resíduos perigosos, Baskut Tuncak, também da ONU, enfatizam que as medidas tomadas pelo governo brasileiro, a Vale e a BHP Billiton para evitar danos foram claramente insuficientes. “O governo e as empresas devem fazer tudo ao seu alcance
para evitar mais danos, incluindo a exposição a metais pesados e outras substâncias químicas tóxicas.” A análise sobre a tragédia e os rejeitos lançados em toda a bacia hidrográfica do rio Doce feita pela ONU alerta para a presença de metais pesados na água do rio. “Nova evidência
AIDS A MELHOR ATITUDE
NÃO DÁ PRA Adivinhar QUEM TEM.
É USAR CAMISINHA SEMPRE.
FAçA O TESTE DE HIV. É SIgILOSO E SEgURO. AIDS não tem cara, cor, raça, idade e não depende da orientação sexual. AIDS também não tem cura. Então é melhor se prevenir e fazer o teste para não ficar na dúvida. É só procurar a unidade de saúde mais próxima ou o Serviço Especializado de DST/AIDS e Hepatites Virais - SAE/CTA. Saiba mais pelo site www.saude.mg.gov.br/aids.
mostra o colapso de uma barragen de rejeitos pertencentes a uma joint venture entre a Vale e a BHP Billiton (Samarco Mineração S.A.), que lançou 50 milhões de toneladas de resíduos de minério de ferro, continha altos níveis de metais pesados tóxicos e outros produtos químicos tóxicos no
rio Doce. Hospitais em Mariana e Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, receberam vários pacientes.” Diante de dessas afirmações da ONU, a Samarco voltou atrás e admitiu a presença de partículas de óxidos de ferro. Trecho da nota: “A Samarco informa ainda que, desde a ocorrên-
CIDADES 10
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ESPORTES 11 Foto: Divulgação
cia do acidente em sua barragem de Fundão, em 5/11, vem permanentemente informando à sociedade, autoridades e imprensa que o material proveniente das barragens não apresenta perigo à saúde humana, conforme atestados oficiais anteriores à ocorrência. Esse material, proveniente do processo de beneficiamento do minério de ferro, é composto basicamente de água, partículas de óxidos de ferro e sílica (ou quartzo).”
Laudos No último dia 27, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) divulgou resultados de análises laboratoriais sobre a qualidade da água do rio Doce, que indicaram a presença de metais pesados na água bruta do rio e naquela tratada pelo SAAE de Governador Valadares em estações de tratamento, bem como sobre os sedimentos coletados no rio Doce e no tanque de decantação do SAAE. Afirmou que, em exame técnico preliminar das aná-
e Santa Rita. Nas amostras coletadas diretamente do rio Doce, os elementos químicos chumbo, cromo e manganês estão acima do padrão estabelecido. Também foram encontrados metais nas amostras de sedimentos e, por isso, recomenda-se cuidado com o contato direto com a lama do fundo do rio Doce. Com relação ao cheiro e à cor da água que chega às casas, o químico do SAAE de Governador Valadares Reinaldo Pacini explicou que o cheiro forte da água se deve ao uso de cloro em uma quantidade maior que a habitual para que a tubulação também pudesse ser limpa. Ele disse ainda que o cloro já foi normalizado assim como gosto e odor da água. Afirma ainda que não há quantidade de metais pesados na água tratada que prejudique a população.
Rio morto Um rio que já vinha sendo degradado e que é de responsabilidade de todos não poderia suportar mais um
Foto: Divulgação
Muito treino e determinação colocaram Jesus entre os melhores do MMA no Brasil
Gina Pagú
Técnicos do SAAE, FUNED e COPASA afirmam que a água é potável
de sua história. As pastagens degradadas dos latifúndios pegando fogo impiedosamente ano após ano; nascentes e córregos desprotegidos; a erosão e as perdas de solo; tudo contribuía ainda mais para o assoreamento dos cursos d’água. “A crise hídrica e ambiental já era uma realidade em Valadares. Entretanto, os minimizadores desse crime e dos impactos socioambientais decorrentes não estão dispos-
é dotada de ‘memória’, pois é capaz de carregar informações bioquímicas em sua composição. Imagine a carga negativa que essa água traz? Alguns dirão que isto não é científico, pois foge à compreensão limitada que os próprios cientistas e a sociedade em geral têm da ciência. Ainda somos poucos os que questionam as limitações do método científico diante de problemas complexos e multivaria-
Em Regência, município de Linhares (ES), o protesto contra a morte do rio Doce
crime dessa proporção. Nem a natureza seria capaz de purificar a água, agora cheia de rejeitos compostos por metais pesados e sujeira. E do lado de parte da população que não acredita na segurança da água disponibilizada pelo SAAE, Reinaldo Duque, professor de agroecologia e botânica na UFJF-GV, contesta os critérios e parâmetros que definem a potabilidade desta água e diz que não apenas o rio, mas a água está morta. Explica que os laudos confirmam o que já se sabe: que há metais pesados na água do rio e outras substâncias tóxicas para os seres humanos. “É importante dizer que essa lama não vai ‘passar’, como muitos acreditam ingenuamente. Ela continuará descendo o rio por muito tempo e contribuindo ainda mais para o assoreamento. Esses sedimentos de lama vão ‘cimentar’ o leito do rio e podem liberar metais pesados e demais substâncias tóxicas continuamente, em ‘doses homeopáticas’, ou periodicamente, sempre que forem remexidos durante as chuvas. A realidade é que corremos o sério risco de ver o rio Doce completamente assoreado pela lama, que continuará escorrendo por muito tempo.” Segundo Duque, o rio já agonizava antes desse crime, estava bastante assoreado e atingira o nível mais baixo
Filipe Jesus é indicado aos melhores do MMA no Brasil
Foto: Invictus Pró/Mario Pereira
O atleta estará entre campeões do Nocaute na Rede de 2015
Foto: Divulgação
lises, a Comissão Técnica Científica da Universidade Federal de Juiz de Fora (campus Governador Valadares) concluiu que a água tratada se encontra dentro dos padrões para metais pesados descritos na Portaria 2.914/2011, do Ministério da Saúde. No dia 30, recebeu o parecer da Comissão Técnica Científica da UFJF-GV quanto aos laudos de análise da água do rio Doce emitidos pelo laboratório Engenharia Química, Sanitária e Ambiental (ENGEQUISA). O parecer, portanto, conclui que as amostras coletadas nas Estações de Tratamento de Água (ETAs) Centro e Santa Rita não apresentam indícios de insegurança para o consumo humano e que o processo de tratamento é capaz de baixar a concentração de elementos potencialmente tóxicos, removendo-os durante o processo de floculação/decantação feito com a ajuda da acácia negra. Contudo, esse mesmo parecer recomenda a continuidade do monitoramento da qualidade da água nessas ETAs, já que a composição da água do rio pode flutuar em virtude de variáveis como o clima e as chuvas. As amostras de água e sedimentos foram coletadas nos dias 19 e 20 de novembro no rio Doce e nas Estações de Tratamento de Água (ETAs) Centro
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tos a rever seus valores e princípios, tampouco o modelo de produção e ocupação da paisagem, fundamentado na exploração predatória dos recursos naturais e concentração de renda, terra e água.” Duque afirma ainda que todo o contexto de assoreamento do rio Doce deve ser levado em conta para, assim, ser analisada a potabilidade da água. “Embora os laudos tenham demonstrado que a água é ‘potável’ dentro dos parâmetros avaliados, insisto em que a água está morta, perdeu toda sua energia vital. Sabe-se que a água
dos. Mas, então, pergunto aos cientistas: se a própria ciência nos diz que ‘água é uma substância líquida, incolor, insípida e inodora, essencial para a vida da maior parte dos organismos vivos e solvente para diversas substâncias’ e ‘água potável é aquela que pode ser consumida pelo homem sem que haja nenhum prejuízo à saúde, sendo os parâmetros de potabilidade determinados por autoridades locais, regionais e internacionais para tratamento de água’, como essa água do SAAE pode ser considerada potável? Tem cor e cheiro, para começar,
e admite-se a presença de manganês muito acima dos valores aceitáveis, sabendo-se que sua ingestão em longo prazo pode ocasionar doenças crônicas, cujos sintomas serão percebidos em alguns anos.”
Água para a vida O professor é incisivo ao dizer que a água que abastece as residências de Valadares é potencialmente danosa a saúde da população a longo prazo, mesmo ainda sendo tida como aceitável. Ele explica que o tratamento da acácia negra é convincente no que diz respeito ao seu poder aglutinante, reduzindo de modo eficiente a turbidez da água. Mas carece de mais pesquisas para garantir sua eficácia para cada um dos metais pesados encontrados na água do rio Doce. Duque diz que não se pode ignorar a presença de metais pesados como mercúrio, arsênio, chumbo, alumínio, níquel, cromo, antimônio e outros metais extremamente danosos à saúde na água do rio. “Isso não é brincadeira, mas parece que neste momento é mais importante servir ‘água’ para o povo a fim de se evitar o caos urbano do que reconhecer o tamanho do problema. Sinto que todos nós estamos sendo tratados como cobaias de um experimento em massa, jamais feito nessa escala, cujos resultados serão vistos em cinco, dez, 20 anos. E quem pagará por isso? A empresa pode simplesmente dar o calote e mudar de nome. Os governantes atuais provavelmente não estarão mais no poder. Passa o pepino pra frente e a conta pro povo pagar, que é mais fácil. Neste contexto, é preciso questionar os parâmetros que definem a potabilidade da água para além dos interesses governamentais e empresariais. O mesmo vale para os licenciamentos ambientais. Também é preciso refletir e rever a nossa relação com a água e demais recursos naturais. É hora de discutir o modelo de sociedade que queremos, como queremos viver neste mundo e como vamos consertar nossa relação com a natureza. Por isso grito com o povo: Água e energia não são mercadorias! Água para a vida e não para a morte!” Foto: Gina Pagú
Mesmo com água potável nas torneiras, a população de Valadares continua recebendo doações de água mineral
O
valadarense lutador de MMA Filipe Jesus faz bonito nos octógonos. Ele, que vem de vitórias na carreira, diz que a indicação é o começo de um sonho. “Me sinto numa fase abençoada da minha carreira. Tem sido um ano muito proveitoso, já venci duas lutas, fui elogiado pelo José Aldo – o maior lutador peso por peso do momento – e agora concorro ao prêmio. Sei, porém, que isso é só o começo e ainda tenho muito sonhos a alcançar. Podem saber que vou continuar treinando forte, pois a estrada é longa e os sonhos são grandes.” Estar entre os indicados ao Prêmio Nocaute na Rede coloca o lutador de 22 anos no rol de campeões de MMA em eventos brasileiros. O peso pena pede que os conterrâneos entrem no site www.nocautenarede.com.br e participem da votação marcando o nome Filipe Jesus. “Foi um grande presente receber a notícia de que estava entre os selecionados para a disputa da premiação. Peço a todos em Governador Valadares que me deem essa ajuda e votem no meu nome. Vamos mostrar a força dos atletas de nossa terra.”
O lutador de MMA valadarense é indicado para o Nocaute na Rede 2015
Conquistas Filipe obteve, numa sequência de seis vitórias seguidas, com quatro nocautes, uma finalização e um triunfo na decisão dos juízes no período. Não vê a derrota nos octógonos desde setembro de 2012. Ele encerra 2015 com mais uma luta contra Wanderson “Panda” da
Silva, no Shooto 60, no dia 5 dezembro, no Rio de Janeiro. O atleta do Nova União, mesma academia de José Aldo, diz que 2015 foi um ano de muito sucesso. “Este tem sido um ano abençoado para mim. Venci por nocaute um lutador francês, em Portugal, na minha estreia em eventos internacionais, e, logo depois, finalizei um campeão brasi-
leiro de muay thai no meu primeiro main event, em Londrina, pelo Fighten. Agora estou focado em encerrar o ano com mais uma vitória e tenho me dedicado bastante nos treinamentos para vencer mais este desafio.” Jesus diz que já se prepara para 2016. “Os objetivos são grandiosos e estou pagando o preço para
conseguir chegar até eles. Tenho subido degrau por degrau, sem dar um passo maior que a perna, com a intenção de me tornar o melhor lutador de MMA possível. Quero terminar 2015 com mais uma vitória no cartel e, quem sabe, lutar nos maiores eventos do mundo no próximo ano. Para quem tem fé, nada é impossível.”
CULTURA 12
FIGUEIRA - Fim de semana de 04 a 06 de dezembro de 2015
Festival termina sábado em Valadares
Foto: Divulgação
Circuito Sonora agita final de semana Fernando Gentil
A
viola cabocla, sertaneja, brasileira. Os nomes são vários, mas o instrumento é um só. A viola caipira, como é mais conhecida, é um dos verdadeiros símbolos da identidade
cultural brasileira. Descendente da guitarra latina e das violas portuguesas, ela emite um som emblemático e único, que reflete a paisagem do interior do país. É com ela que se fazem aquelas in-
SERVIÇO Circuito Sonora Brasil 2015, em Teófilo Otoni
Atração: Violas Caipiras, com Paulo Freire (SP) e Levi Ramiro (SP) Data: 4/12 Horário: 19h30 Local: Salão social do Sesc Teófilo Otoni (av. Bernarda Barbosa Laender, 146, Centro). Gratuito.
Circuito Sonora Brasil 2015, em Gov. Valadares
Atração: Violas Caipiras, com Paulo Freire (SP) e Levi Ramiro (SP) Data: 5/12 Horário: 19h30 Local: Salão social do Sesc Governador Valadares (av. Veneza, 877, Grã-Duquesa). Gratuito.
críveis modas de viola e a música sertaneja de raiz. É com esse som dignamente brasileiro que a 18ª edição do Sonora Brasil chega à cidade para o encerramento. No sábado (5), os violeiros Paulo Freire e Levi Ramiro, ambos de São Paulo, vêm fazer um som do interior em Valadares. Hoje (4) o show é em Teófilo Otoni, no salão social do Sesc da cidade. O evento contou com a participação de quatro grupos com o tema “Viola Brasileira”. As apresentações rodaram cidades do sul e sudeste do país. Outras apresentações, com o tema “Sonoros Ofícios – Cantos de Trabalho”, estão passando pelo centro-oeste, norte e nordeste. Em 2016, a ordem desses dois projetos se inverte para que todos possam participar de ambos.
Agenda 10
Dupla de São Paulo vem encher Valadares de cultura brasileira
Em Valadares, o evento ocorre no dia 5 de dezembro, às 19h30, no salão social do Sesc, que fica na avenida Veneza, 877, Grã-Duquesa. A entrada é gratuita e os ingressos limitados à lotação do espaço. O evento é uma produção do Departamento Nacional do Sesc e está se consolidando como um dos maiores projetos musicais no país. A ideia é que o público tenha
contato com os diversos ritmos brasileiros e se encante com a rica cultura nacional. Todas as apresentações são acústicas, o que valoriza a obra e o trabalho dos intérpretes. Nas 18 edições, o Sonora Brasil já visitou 130 cidades e fez 480 concertos. Para participar basta ir ao Sesc da cidade e assistir a este espetáculo de cultura e identidade nacional.
SOCIAL
Ingrid Morhy
facebook.com/ingridmorhy twitter.com/ingridmorhy ingridmorhy (33) 9155-5511 ingridmorhy@gmail.com
BALADAS
Esta colunista e Rodrigo Frajola sobrevoando GV Ludmilla Gomes comanda o BaileFunk da Mary’s Club desta SEXTA
4 (sexta) – Vodcalize, com Tainá Felipe e Raffael 4 (sexta) – Us Mininu e Rota49, no Soul Mendes. Sertanejo com open bar e mais rodadas de tequila.
Rock Pub, no Aldeia Mix.
4 (sexta) – Querem BaileFunk na Mary’s?
Vários DJs em uma festa com open bar.
Então, toma! Nesta SEXTA tem e estarei lá como DJ residente.
Victor Frankenstein
5 (sábado) – Revolution 9, Tributo ao
Ao visitar um circo, o cientista Victor Frankenstein (James McAvoy) encontra um jovem corcunda (Daniel Radcliffe) que lá trabalha como palhaço. Após a bela Lorelei (Jessica Brown Findlay) cair do trapézio, o corcunda sem nome consegue salvar sua vida graças aos conhecimentos de anatomia humana que possui. Impressionado com o feito, Victor o resgata do circo e o leva para sua própria casa. Lá lhe dá um nome, Igor, e também uma vida com que jamais sonhou, de forma que possa ajudá-lo no grande objetivo de sua vida: criar vida após a morte.
4 (sexta) – Festival de Dança Ginástica e Ritmo. 19h30: Festival de Ginástica (2º período de bacharelado e 3ºs períodos de licenciatura) 20h50: Festival de Dança (4º período de licenciatura) 21h30: Festival de Ritmos (1º período de bacharelado). Uma realização do professor João Passos, da Unipac, no ginásio do SESI.
5 (sábado) – Celebration 7ª edição.
Beatles e Pink Floyd, no Soul Rock Pub.
5 (sábado) – Legião Urbana Tributo, com L´âge d´or, no Oficina´s Pub.
6 (domingo) – ArrochaFunk, na Pop Pub, com Erika Santos, com o melhor do forró e do arrocha, e eu como DJ. Esquema BAR no balcão e atendentes na mesa. Entrada grátis das 18 às 19h.
CINEMA
FERRAMENTAS JARDINAGEM RAÇÃO SEMENTES
Rua José Luís Nogueira, 443 - Centro - GV Fone: (33) 3021-3002