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JORNAL FIGUEIRA ANO 2 NÚMERO 90 FIM DE SEMANA DE 18 A 20 DE DEZEMBRO DE 2015 FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS EXEMPLAR: R$ 1,00

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MÁXIMA

MÍNIMA

Sol com algumas nuvens de manhã. Pancadas de chuva à tarde e à noite.

CRIME AMBIENTAL

Confira a reportagem enviada pelos Jornalistas Livres que conta o que aconteceu neste mês que a lama de minério da Vale e da BHP invadiu Minas Gerais. E o pior, até hoje os culpados não pagaram pelo crime. Páginas 6 e 7


OPINIÃO 2

FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015

Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?

U

ma operação da Polícia Federal batizada de Catilinárias chegou logo pela manhã de terça-feira (15) à casa do presidente da Câmara Eduardo Cunha para cumprir mandato de busca e apreensão. A PF cercou a residência do parlamentar com o apoio do Comando de Operações Táticas (COT), a tropa de elite especializada em ações de risco, como roubo a bancos e tráfico. Não é de se espantar, dado o histórico controverso do suspeito. O resumo de seu currículo inclui: * Em 1989, foi convidado por Paulo César Farias, tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello, para fazer parte do núcleo de sua equipe. Cunha participou ativamente da campanha de Collor, que venceu as eleições daquele ano. Como prêmio pela atuação na campanha, em 1991 Cunha foi indicado por Collor para presidir a Telerj, antiga estatal de telefonia do Rio. Porém, após dois anos no cargo, Cunha teve o nome envolvido em um esquema de superfaturamento e foi afastado. * Em 1996, ele foi um dos réus no processo de investigação do escândalo Esquema PC, sendo beneficiado por um habeas corpus concedido pela Primeira Turma do Tribunal Regional Federal, que arquivou o processo contra ele. * Em 1999, atuou na campanha de Anthony Garotinho para governador do Rio. Ao ser eleito, o então governador convidou Cunha para presidir a Companhia Estadual de Habitação (Cehab), que geria fundos destinados à construção de casas populares. Foi afastado do cargo meses depois, acusado de improbidade administrativa e de desviar verba da companhia. O processo foi arquivado em janeiro deste ano por prescrição de prazo para punição. * Em 2013, foi réu em uma ação do Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de usar documentos falsos para tentar arquivar o processo da Cehab. Porém, foi absolvido da acusação em 2014 por falta de provas. Mas o curioso não é exatamente o fato de Eduardo Cunha ser um dos suspeitos e alvos das investigações sobre a corrupção na Petrobras. Pelo contrário, este fato é quase trivial. O que chama a atenção, neste caso, é o nome dado à operação. “As Catilinárias” são uma série de quatro célebres discursos pronunciados por Cícero, cônsul romano, em 63 a.C. O primeiro e o último destes discursos foram dirigidos ao senado de Roma; os outros dois foram proferidos diretamente ao povo romano. Os quatro foram compostos para denunciar explicitamente Lúcio Sérgio Catilina. Falido financeiramente, o acusado, filho de família nobre, juntamente com seus seguidores subversivos, planejava derrubar o governo republicano para obter riquezas e poder. Quase dois mil anos depois, o discurso de Cícero cai como uma luva. A nós, resta parabenizar o criativo responsável pela alcunha da operação. Acertou em cheio. Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós? A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem o temor do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te? Não te dás conta que os teus planos foram descobertos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem? Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste? Oh tempos, oh costumes!

EXPEDIENTE Av. Minas Gerais, 700/601 Centro CEP 35010-151 Governador Valadares - MG Telefone (33) 3021-3498 redacao.figueira@gmail.com

O Jornal Figueira é uma publicação da MPOL Comunicação e Pesquisa. CNPJ 16.403.641/0001-27. Em parceria de conteúdo com a Fundação Figueira do Rio Doce. São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica.

Editor Fernando Gentil - DRT/MG 18477 Reportagem Gina Pagú - DRT/MG 013672

FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015

PARLATÓRIO

EDITORIAL

Diretor e Jornalista Responsável Moisés Oliveira - DRT/MG 11567

POLÍTICA | ECONOMIA 3

Colunistas e Colaboradores Ingrid Morhy João Paulo M. Araújo José Marcelo Júlio Avelar Marcos Imbrizi

Revisão Fábio Guedes - DRT/MG 08673

Assessoria jurídica Alexandre Albino

Ombudsman Manoel Assad

Diagramação Stam Comunicação - (33) 3016-7600

Artigos assinados não refletem a opinião do jornal

José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia do CNT Jornal e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder Notícias, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo em Brasília.

Você é a favor da intervenção militar no Brasil? SIM

Intervenção constitucional já! Antônio José Ribas Paiva – Advogado, presidente da Associação dos Usuários de Serviços Públicos

E

xiste uma confusão conceitual sobre o que seja intervenção constitucional. Alguns imaginam que seja uma ação militar, outros, que seria um golpe. Nada disso procede porque o Exército, o Congresso e a Presidência da República não são fins em si mesmos, mas apenas instrumentos da Nação, que os instituiu. Exercer o “republicanismo” é difícil principalmente pelos agentes públicos que exercem o poder porque existe uma tendência natural de personalizarem o poder dos cargos. Amiúde, confundem o que devem fazer em razão do cargo com o que gostariam de fazer por simpatia, crença religiosa ou convicção ideológica. Recentes declarações de chefes militares negando que haja necessidade de intervenção constitucional evidenciam essa tendência de personalizarem o múnus que exercem. Do ponto de vista republicano, as Forças Armadas não são parte no processo, mas apenas instrumentos da Nação; e é assim que os seus membros devem colocar-se: como garantidores das necessidades de segurança e cidadania da Nação. A intervenção constitucional prevista no art.142 da Constituição Federal não é intervenção militar; é intervenção da Nação nas suas instituições por meio de um de seus instrumentos institucionais: o Exército objetivando eventuais correções de rumo ou aprimoramento institucional.

Quando deve ocorrer a intervenção constitucional? Sempre que os Poderes Constitucionais precisarem de socorro em razão de omissões ou ilegalidades praticadas por seus dirigentes. No episódio do escândalo de compra de parlamentares pelo Executivo federal com dinheiro público desviado, o qual denominaram Mensalão, já se fez presente a necessidade de intervenção constitucional da Nação nas suas instituições. Por essa ou por aquela razão, naquele momento não ocorreu a necessária intervenção constitucional. Foram trágicas as consequências do descumprimento da norma constitucional. Os prejuízos para os brasileiros, em razão daquela omissão, são irreparáveis. Sem a intervenção constitucional naquela época, o desvio de dinheiro público continuou ocorrendo e se acentuou a ponto de a classe política, por omissão e por comissão, depauperar a Petrobras, a Eletrobras, e rapinar todos os projetos nacionais. Tudo isso, agora, veio a lume, está em todos os jornais e revistas, com nome, sobrenome e endereço de todos os peculatários. Alguns deles, que apelaram para o benefício da delação premiada, já declararam o envolvimento do ex-presidente Lula e o da atual presidente da República desde a época em que era ministra da Casa Civil e presidente do conselho da

Petrobras. Um dos delatores afirmou, categoricamente, que parte do dinheiro obtido com o crime de peculato financiou várias campanhas políticas, inclusive a da presidente Dilma em 2010. Resta fazer a pergunta que não quer calar: Estão presentes os pressupostos para a intervenção constitucional da sociedade por meio de seus instrumentos em defesa dos Poderes Constitucionais? Por analogia, quando é chamada a polícia, ela age em nome próprio ou da sociedade? Os policiais podem negar-se a intervir para impedir a prática de delitos? As respostas esclarecem as questões e impõem a intervenção constitucional da nação, com fundamento no art. 142 da Carta Magna. Intervenção que já se faz tardia porque democracia é segurança do direito individual e coletivo e essa essência do homem evoluído não pode ser posta em risco pelo governo do crime organizado. Cumpre à sociedade intervir para impor a lei. Tivesse a intervenção constitucional ocorrido em 2005, agora, em 2014, a economia e os projetos e empresas nacionais não teriam sido saqueados pelo ilegítimo poder vigente. Esses crimes ocorreram porque os mecanismos democráticos institucionais falharam. Agora, compete à nação corrigir os desvios e punir os culpados. Resta chamar a polícia.

Bateu medo

Acuado, não fragilizado

No Palácio do Planalto o clima é de suspense e medo a respeito do humor do presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). É que o senador, investigado pela operação Lava Jato, não gostou de ver peemedebistas como o ex-ministro Édison Lobão investigados pela PF na terça-feira pela manhã. Assim como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, Temer também ligou os pontos e chegou à conclusão de que tem dedo do governo na operação que mirou principalmente o PMDB.

Bem na linha do “a quem interessar possa”, um grupo de parlamentares ligados ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem feito questão de deixar claro que a operação da PF no mesmo dia da aprovação da investigação contra ele no Conselho de Ética da Casa o deixou acuado, por algumas horas, mas não fragilizado. Está certo que no dia a operação tirou dele o poder de articulação junto aos parlamentares, o que culminou na aprovação do relatório; ainda assim, foi uma vitória apertada dos adversários: onze a nove.

O que temer O temor do Palácio é que Temer declare de vez que está trabalhando pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Como em última instância a aceitação do pedido tem de passar pela mão dele, como presidente do Congresso, a avaliação dos articuladores do Palácio é de que a fagulha da ira não pode ser acesa. Até agora, a relação tem sido de cordialidade e gentileza veladas, o que tem garantido benefício para os dois lados. O fato de Calheiros ter sido poupado na operação de terça-feira é uma amostra disso, avaliam os articuladores ligados a ele. O problema é que se trata de uma situação de extrema fragilidade. Se acuado, ele pode partir para o ataque e este pode ser o estopim da situação.

Pedidos de intervenção militar são estarrecedores e devem ser repudiados Rogério Sottili – Ex-secretário de direitos humanos e cidadania da cidade de São Paulo

O

manidade que constituíam um estado de prefeitura de São Paulo tem elaborado políticas públicas de direito à memória e exceção, um estado do medo e do terror. Os avanços alcançados nos últimos à verdade, como a instalação da Comisanos, entre eles a criação da Comissão são da Memória e Verdade, no âmbito do Nacional da Verdade, da Comissão de Executivo, a retomada das análises das Anistia e as demais comissões pelo país ossadas da Vala Clandestina de Perus, têm contribuído para que a memória da- formações na rede municipal de ensino quele período esteja viva no presente para e distribuição de materiais de referência, que os crimes cometidos pelos agentes do intervenções artísticas e culturais para Estado sejam revelados. homenagear os resistentes, entre outras. Mas é preciso avançar mais, passar a Vivemos hoje outro momento, com limpo uma história ainda não contada e amplo acesso à informação e com conexigir justiça para os crimes cometidos, o quistas sociais e políticas que não devem que demanda a urgente revisão da Lei da ser revertidas, mas sim aperfeiçoadas. Anistia. É justamente a impunidade dos Por isso, não podemos aceitar manifestacrimes praticados na ditadura que estimu- ções de ódio que, embora isoladas, atenla atos como o ocorrido na avenida Paulis- tem contra a democracia. ta, fazendo apologia ao autoritarismo. Não podemos, sobretudo, admitir o A nossa luta é para que esse legado retrocesso ou qualquer postura que abra ditatorial, que se faz presente ainda hoje, caminho para que novas violações aos dipor exemplo, na violência contra jovens reitos humanos aconteçam. negros praticada diariamente pela polí*Texto retirado do site UOL cia, seja superado e que continuemos a construir uma soRECORTE DAS REDES ciedade orientada por valores de igualdade e justiça. Para isso, é fundamental manter constantemente viva a memória histórica, individual e coletiva, para que tais atrocidades nunca mais se repitam. Por isso, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da

O que isso quer dizer? Isso quer dizer, segundo um aliado do presidente da Câmara, que Eduardo Cunha vai usar todo o tempo do recesso parlamentar para se reerguer, fazer negociações, se aproximar do máximo de parlamentares possíveis e lembrar a outros que eles já estiveram do mesmo lado. Para bom entendedor, o recado é claro: Cunha vai se mexer para lembrar de favores feitos e cobrar retribuição, segundo um deputado do Rio de Janeiro.

Situações opostas Enquanto o presidente da Câmara Eduardo Cunha pode se beneficiar do recesso parlamentar para se reerguer e fazer negociações, no Palácio do Planalto a situação é bem diferente. Assessores da Presidência já deixaram claro para a presidente Dilma Rousseff que quanto mais demorado for o recesso mais a discussão em

torno do impeachment se alonga e mais o governo sangra. Isso quer dizer que a oposição ganha tempo para se articular, fazer mobilização social e levar mais gente às ruas para defender o impeachment. Ainda assim, uma fonte do Planalto disse que a presidente já entendeu que o que era possível já foi feito.

Não deu A sensação de que o controle foge cada vez mais do governo se abateu mais uma vez na quarta-feira à noite, no Palácio do Planalto. Ao perceber que o relator do processo para definir o rito do impeachment havia legitimado a comissão paralela, abateu-se um desânimo geral entre aliados próximos da

presidente Dilma Rousseff. A pá de cal foi a percepção de que até a bancada governista já defendia claramente o recesso parlamentar, independentemente do que isso pode representar. “Agora é jogar as mãos para o céu e fincar os joelhos na terra”, disse um deputado que pediu para não ser identificado.

Tribuna João Paulo M. Araújo

João Paulo M. Araújo é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora campus Governador Valadares Contato: jp.medeirosaraujo@gmail.com

Olhando um velho álbum

NÃO

s pedidos de intervenção militar que surgiram durante manifestação ocorrida no último sábado, dia 1º de novembro, na avenida Paulista, devem ser repudiados veementemente. Reivindicar um golpe militar que destitua um governo democraticamente eleito é anticonstitucional e desrespeita o processo eleitoral recentemente concluído, representando uma verdadeira afronta ao Estado Democrático de Direito. É absolutamente estarrecedor que, quase 30 anos após a reabertura democrática, alguns setores da sociedade demandem irresponsavelmente o retrocesso autoritário por meio de reedições das “Marchas da Família com Deus pela Liberdade”. Essas passeatas ocorridas em 1964 viam nas necessárias reformas de base anunciadas pelo governo João Goulart, democraticamente eleito, uma suposta tentativa de instauração do comunismo no país, fomentando na opinião pública um sentimento favorável ao golpe de Estado que instaurou no país uma ditadura civil-militar que perdurou por mais de 20 anos. É ainda estarrecedor que indivíduos usem a liberdade de expressão garantida pela democracia para reivindicar um sistema político que justamente suspende o próprio direito à livre manifestação. Ao longo do período ditatorial, o Estado comprovadamente cometeu graves violações aos direitos humanos contra todos aqueles a quem considerava seu “inimigo político” – incluindo aqui os que não aceitavam o regime autoritário – com perseguição, ameaças, sequestro, tortura física e psicológica, estupros, assassinatos e ocultação de cadáveres – crimes de lesa-hu-

Fale com o José Marcelo: noticiasdopoder@uol.com.br

José Marcelo / De Brasília

F

oi Marx quem afirmou, recordando Hegel, que os grandes fatos e personagens da história ocorrem duas vezes: primeiro como tragédia, depois como farsa. Sua sentença parece-nos hoje um tanto inadequada; pois limitar o número de encenações da farsa soa-nos como um otimismo inaceitável. Eis o motivo. Nos idos de março de 1964, os jornais anunciavam os grandes problemas a assolar o país: a corrupção da classe política, a inflação e o desemprego galopantes, o rombo nas contas. O presidente João Goulart – ardilosamente contestado desde sua eleição – havia fracassado em sua tentativa de reformar as bases socioeconômicas do Brasil: sua busca pela maior atuação do Estado na condução da economia era tida como uma tentativa de implantar o comunismo no país. A classe média temia acordar em uma nova Cuba. Apreensiva e receosa de perder ainda mais dos espaços privilegiados para as camadas mais populares, sai à avenida Paulista com suas tradicionais bandeiras: indivi-

dualismo, fé cristã, livre mercado. Alguns – não poucos – pediam intervenção militar. Por todos os lados se exclamava democracia, mas o extremismo ganhava terreno a cada editorial tendencioso, a cada manifestação ensaiada. O consenso público se desintegrava. No Congresso, o centro e a direita articulavam-se para a defesa de seus interesses. Suas vozes repercutiam nos principais jornais, os quais ecoavam os interesses do alto empresariado do país. Jango ainda tentara efetivar mudanças ministeriais na esperança de conter o avanço golpista, mas de nada adiantou. Imobilizado o Poder Legislativo, as reformas contra a crise econômica ficavam paralisadas, o que fazia aumentar a insatisfação. Sabedoras de que não contavam com maioria suficiente para depor o presidente eleito, as tradicionais elites políticas buscaram refúgio na subversão dos institutos constitucionais de então. E, enquanto as marchas cobriam São Paulo, Lacerda vociferava e os tanques do general Mourão Filho avançavam, o senador Moura Andrade declarava vaga a Presidência

da República, violando a Constituição de 1946 e pondo fim ao breve entreato democrático. O que se seguiu é ainda mais conhecido: perseguição a dissidentes, cessação de direitos e garantias fundamentais, prisões arbitrárias, assassinatos, torturas e o fim do Estado de Direito – sepultado definitivamente com a edição, em 13 de dezembro de 1968, do Ato Institucional n.º 5. No último domingo, exatos 47 anos depois, vemos a tentativa de reencenar a farsa. Mudam os atores, permanecem os papéis: Lacerda por Aécio, Mourão Filho por Temer, Moura Andrade por Cunha. Uma coisa, no entanto, mudou radicalmente: não mais os quartéis ou os bastidores do poder, mas é nas ruas que se encenará o espetáculo. E é nas ruas onde mora o perigo. Pois, diferentemente do que ocorrera em 1964, há tempos um novo coadjuvante impôs-se à boca de cena e exige, agora, o holofote que lhe é devido. E eis que se apresenta o maior desafio posto à nossa geração. Como irá atender ao chamado da história é

o fator decisivo que pode, inclusive, determinar o caráter e o desfecho do show. Irá assumir o protagonismo que lhe cabe ou se deixará levar como massa de manobra constituída pela desinformação, pela pressa, pelo irracionalismo político com o qual parece andar de mãos dadas? Irá se insurgir contra o imediatismo dos mascastes do apocalipse, gritando “não!” àqueles que buscam vilipendiar a Constituição em nome de projetos obscuros? Ou acompanhará tudo pela televisão, replicando postagens inócuas no Facebook, paralisada, a cabeça mais baixa a cada dia? Exclamam o poeta e o filósofo: onde mora o perigo, cresce também a salvação. No último domingo, pudemos assistir ao prenúncio de escolha que pretendem tomar, por nós, uma minoria de exaltados. Entretanto, ao perigo de ter sua voz usurpada corresponde o desafio de reivindicá-la de volta: a possibilidade de salvação de uma geração que poderá dizer não à farsa e, talvez, escapar ao insólito destino de coadjuvante do seu próprio tempo.


POLÍTICA | ECONOMIA 4

FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015

INTERNACIONAL 5

FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015 Foto: Divulgação

Foto: Banco de Imagens

Doença do verão A microcefalia tem assustado muitas gestantes e a suspeita é de relação com o zika vírus transmitido pelo Aedes aegypti Gina Pagú

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specialistas tem recomendado que as mulheres não engravidem antes do verão, pois o risco de se adquirir o zika vírus, que é transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, pode levar os fetos a ter microcefalia – má-formação do cérebro do bebê. Pela primeira vez na história da medicina no Brasil, o zika é relacionado à microcefalia e, embora não haja estudos comprovados, o melhor é se prevenir com repelentes e cuidados com a reprodução do mosquito. No dia 11 de novembro a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES) estabeleceu que a microcefalia deve ser tratada como evento de emergência de saúde pública, tornando obrigatória a notificação dos casos no país. São 11 casos no Estado sob investigação: um em Uberlândia, dois em Contagem, um em Congonhas, três em Belo Horizonte, dois em Montes Claros, um em Ponte Nova e um em Curvelo. O superintendente de vigilância epidemiológica, ambiental e saúde do trabalhador da SES, Rodrigo Said, explica que os casos estão sendo investigados e estão se cumprindo os protocolos do Ministério da Saúde, que são identificar os sintomas ligados ao zika e encaminhar para análise. “Além do

fato de Minas Gerais não ter confirmado casos de microcefalia associados ao zika vírus, não há, até o momento, circulação do vírus no Estado.”

Zika De acordo com o Ministério da Saúde, o vírus zika é transmitido por meio da picada do mosquito Aedes aegypti. O mosquito se prolifera nos locais onde se acumula água, por isso, é importante não deixar recipientes expostos à chuva e tampar caixas d’agua e piscina. Recomenda-se também a instalação de telas de proteção em janelas e portas e o uso de repelentes, pois a principal ação de combate ao mosquito é evitar sua reprodução. Os sintomas da doença são febre, coceira, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor corporal, nas juntas e manchas vermelhas pelo corpo. Para maiores esclarecimentos, o médico deverá ser consultado.

Histórico do vírus Conforme informações do Ministério da Saúde, o surgimento e a identificação do zika vírus nas Américas se deu na Ilha de Páscoa, território do Chile, no Oceano Pacífico, a 3.500 quilômetros do conti-

nente, no início de 2014. O vírus foi isolado pela primeira vez em primatas não humanos em Uganda, na floresta Zika, em 1947 – daí o nome do vírus. Entre 1951 e 2013, evidências sorológicas em humanos foram notificadas em países da África (Uganda, Tanzânia, Egito, República da África Central, Serra Leoa e Gabão), Ásia (Índia, Malásia, Filipinas, Tailândia, Vietnã e Indonésia) e Oceania (Micronésia e Polinésia Francesa). O zika vírus é considerado endêmico no leste e oeste do continente africano. Evidências sorológicas em humanos sugerem que a partir do ano de 1966 o vírus tenha se disseminado para o continente asiático. Atualmente, há registro de circulação esporádica na África (Nigéria, Tanzânia, Egito, África Central, Serra Leoa, Gabão, Senegal, Costa do Marfim, Camarões, Etiópia, Quênia, Somália e Burkina Faso), Ásia (Malásia, Índia, Paquistão, Filipinas, Tailândia, Vietnã, Camboja, Índia e Indonésia) e Oceania (Micronésia, Polinésia Francesa, Nova Caledônia e Ilhas Cook).

Microcefalia e zika O diretor do departamento de vigilância de doenças transmissíveis do

Aedes aegypti: transmissor do zika vírus Foto: Banco de Imagens

Microcefalia é a má-formação do cérebro da criança

Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, explica que a identificação da microcefalia baseia-se na medição do tamanho da cabeça do bebê. Habitualmente, isso é feito a cada nascimento e já existe uma classificação que é adotada internacionalmente, em que bebês com menos de 32 centímetros de perímetro da medida ao redor da cabeça são suspeitos de ter microcefalia. “Essa identificação carece de outros exames para a confirmação. Então, atualmente, todas as crianças

que nascem com o perímetro cefálico menor que 32 centímetros passam por exames e análises para que possam ser classificadas como tendo ou não microcefalia. No início, quando começamos a ver os primeiros casos, nós utilizamos uma medida um pouco maior para que não deixássemos escapar nenhum caso. Depois de aprendermos um pouco com essa situação, passamos a utilizar a medida padronizada pela Organização Mundial da Saúde, que é de 32 centímetros.”

Café com Leite Marcos Imbrizi / De São Paulo

São Paulo realizou a 1ª Jornada do Patrimônio

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Todos os anos, milhares de sonhos são inTerrompidos pela imprudência no TrânsiTo. dirigir com responsabilidade é respeiTar a sua vida e a das pessoas à sua volTa.

o fim de semana passada a capital paulista realizou a primeira edição de um evento que promete agradar ao público, uma vez que permitiu conhecer um pouco mais da cidade. A 1ª Jornada do Patrimônio, organizada pela Prefeitura, contou com série de atividades como palestras, oficinas, lançamento de livros, apresentações culturais e o principal: muitos imóveis e locais considerados como patrimônio histórico ficaram abertos para visitação. Também foram realizados roteiros nos quais os participantes, por exemplo, conhecem a São Paulo de Ramos de Azevedo, arquiteto responsável por projetos e inúmeras construções como o Theatro e o Mercado Municipal, entre outros. Outro roteiro interessante foi o “Ossadas de Perus – Da Ditadura à Memória da Periferia”, no qual o público conheceu o local onde, no final da década de 1980, foram encontradas dezenas de ossadas de militantes políticos enterrados como indigentes no cemitério da periferia da cidade. Já o “Bixiga, Território Negro”, apresentou a cultura negra do país ao percorrer ruas do bairro paulistano que levam nomes de personagens importantes na história da população afrodescendente. Entre os pontos patrimoniais abertos à visitação estão os edifícios Martinelli, o primeiro ‘arranha-céu’ do país, construído na década de 1920, e Matarazzo, erguido na década de 1930 pelo conde italiano para abrigar a sede de seu império industrial depois de chegar ao Brasil. Desde 2004 o local abriga o gabinete do prefeito paulistano, que no fim de semana foi aberto a visitas, além do terraço, onde há uma verdadeira floresta em pleno Centro da cidade. Outro destaque, o prédio do Largo Paissandu, onde funcio-

na o Ponto Chic, ponto de encontro da boemia da cidade desde a Semana de Arte Moderna de 1922. O bar oferece o famoso sanduíche “Bauru”, nome da cidade do estudante de direito do Largo São Francisco que criou a receita, que leva queijos derretidos, rosbife e picles. VILA ITORORÓ – No bairro da Bela Vista, a vila construída pelo imigrante português Francisco de Castro a partir da década de 1910 para oferecer casas de aluguel foi outro ponto de destaque da jornada. O espaço, que se encontra em processo de restauração, na verdade, está aberto à visitação há tempos e o público conhece um pouco mais da história do conjunto de 37 casas e do palacete construído com materiais do antigo Teatro São José, colocado abaixo na época. Mais informações: http://www.vilaitororo.org.br/. ARQUITETURAS – O Mercado Central de Belo Horizonte, tradicional ponto de encontro para quem mora ou visita a cidade, foi tema do programa Arquiteturas, na Rede Sesc de TV. Com direção de Paulo Markun e Sérgio Roizenbrit, a produção tem 26 minutos. O material está disponível em www.sesctv.org.br. Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.

“Star Wars” de volta às telas Série mais famosa do mundo chega ao sétimo filme Fernando Gentil

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tão esperado momento da exibição do sétimo filme da saga “Star Wars” finalmente chegou em diversos cinemas do mundo inteiro e quem quiser assistir vai ter que desembolsar um valor considerável e enfrentar grandes filas. Isso porque a expectativa é de que se quebrem todos os recordes de bilheteria e também de crítica. Genialmente dirigido por George Lucas, a obra agora está nas mãos do maior estúdio de entretenimento do mundo, a Disney, e promete muita emoção, conflito, drama e ação. Diversos fãs estão acampados na porta de cinemas para não perderem a primeira sessão. A série só passou a ter esse nome em 1977 e, a partir daí, tornou-se um fenômeno mundial. A guerra entre a Aliança Rebelde e o Império Galáctico e a luta de Luke para se tornar um guerreiro Jedi atiçam os fãs da série até hoje – que já são de diversas idades, inclusive os bem mais novos. Só para comprar a histórica série de George Lucas, a Disney teve que desembolsar cerca de US$ 4 bilhões. Espera-se que apenas com a bilheteria do cinema todo o dinheiro gasto seja recuperado. “O Despertar da Força” é a aposta do mercado cinematográfico para quebrar o recorde de “Avatar”, que lucrou bilhões ao ser lançado. Para quem nunca assistiu a nenhum filme da saga, uma dica é muito válida. A ordem utilizada para entender toda a história não é a de lançamento, nem cronológica. Os fãs da série criaram a Ernst Rister, ordem que torna a arte mais inteligível. Você deve ver primeiro o filme “Uma Nova Esperança”, depois “O Império Contra-Ataca”, “A Ameaça Fantasma”, “O Ataque dos Clones”, “A Vingança do Sith” e “O Retorno de Jedi”. Após ver todos esses filmes, você pode ir ao cinema e curtir “O Despertar da Força”.

Os fãs de Darth Vader Diferentemente do que ocorre tradicionalmente, “Star Wars” tem um grande número de fãs do vilão da história. Por isso, tem pessoas que estão pagando até R$ 120,00 por um autógrafo do senhor Dave Prowse, o ho-

mem que estava dentro da roupa de Darth Vader. “Fico muito feliz de ser reconhecido como o maior vilão das telonas de todos os tempos. É uma grande honra. Quando fiz o filme, nem por um momento pensei que seria esta bola de neve”, contou ele à BBC durante uma convenção que reuniu fãs da série em Manchester, na Inglaterra. Prowse está visitando diversos lugares para autografar os livros, filmes, fotos e o que mais aparecer sobre seu personagem e a famosa saga. “Em cada fim de semana estou em um lugar novo do mundo. Tenho apresentações marcadas na América, por todo o continente – fale um lugar e estarei lá. Quando você fala sobre ‘Star Wars’, não pensa em Harrison Ford [que interpretou Han Solo], Carrie Fisher [Princesa Leia], Mark Hamill [Luke Skywalker]. Você pensa em Darth Vader. E, sendo o ator que interpretou Darth Vader, estou viajando pelo mundo para promovê-lo, o que é absolutamente maravilhoso para mim”, explicou.

Os efeitos especiais Outra revolução feita por George Lucas foram os efeitos especiais.

histórias que impulsionam o avanço da tecnologia. Foi necessário um filme como ‘Star Wars’ para constatá-lo”, reflete o profissional. Em um documentário o diretor da saga explica o porquê de o filme ter revolucionado a indústria de efeitos especiais em Hollywood e no mundo inteiro. “Queria fazer um filme de ação, um lugar onde naves espaciais se destroçassem. Queria fazer cortes rápidos e dar muito ritmo, e, especialmente, queria que contivesse muita cinematografia. Mas nessa época era impossível”, explica George Lucas. Após o primeiro filme, todos os diretores hollywoodianos passaram a copiar Lucas e a fazer filmes com câmeras diferentes, novas funções de edição e maquinário próprio para produzir efeitos cada vez mais modernos e diferentes. “Houve uma revolução quando foram criadas máquinas que controlavam as câmeras. Todo mundo começou a se adaptar e tentar copiá-lo”, confirmou Michael L. Fink. Alguns anos após o primeiro filme de “Star Wars”, vários outros surgiram com a ideia de fazer algo voltado fortemente para a produção de efeitos especiais. “De Volta para o Futuro”,

Foto: Divulgação

George Lucas vendeu os direitos para a Disney Foto: Divulgação

Ford faz parte do elenco do filme Foto: Divulgação

Saga retrata a eterna guerra entre a Aliança e o Império

Já em 1977 viu-se algo inovador na produção da sétima arte. “‘Star Wars’ despertou a indústria dos efeitos especiais”, afirmou à AFP Michael L. Fink, um dos grandes nomes da área e ganhador do Oscar de melhores efeitos especiais em 2008 por “A Bússola de Ouro”, para o G1. Ele acredita que Lucas foi o grande responsável por investir nisso. “São as

“Alien, o Oitavo Passageiro”, “Blade Runner”, “O Exterminador do Futuro” e “ET – O Extraterrestre” são alguns exemplos. E os outros episódios da saga sempre apareciam com novidades tecnológicas e de efeitos para engrandecer ainda mais o monumento que é a série criada por Lucas. O que se espera é que em “O Despertar da Força”, a alma

de George esteja presente nos estúdios de Walt Disney e que o filme seja incrivelmente fascinante e imperdível, como todos os outros da saga. “Eu não acredito que revolucione os efeitos especiais, mas creio que está correndo atrás disso, fez como se fazia antes. Acredito que o que realmente está fazendo é aproveitar a arte digital e dar um sentido de realismo como tinham

as maquetes antigas. Mas, se os personagens não agradarem ao público, não importa o quão bons sejam os efeitos especiais”, concluiu Michael L. Fink. Em Valadares, o sétimo filme da saga começa a ser exibido no único cinema da cidade, que fica no GV Shopping, amanhã (19). Bom filme e que a força esteja com vocês!


FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015

CAPA 6

CAPA 7

FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015

Foto: Gustavo Ferreira

Foto: Gustavo Ferreira

SUJANDO DE SANGUE AS MINAS GERAIS

A lama atravessou Mariana para iniciar uma viagem sem volta Texto de Caetano Manenti, do Jornalismo em Pé, especial para os Jornalistas Livres, Greenpeace Brasil e Jornal Figueira.

D

epois de arrasar com o Bento, a lama seguiu ainda com muita força em direção ao sudeste, atravessando os limites do município, desgraçando o rio Gualaxo do Norte, até chegar às pequenas Paracatu e Barra Longa, já na madrugada do dia 5 para o dia 6 de novembro. O prenúncio da lama já corria as cidades desde o fim da tarde pelo telefone e no noticiário, o que salvou as vidas humanas, mas não evitou perdas no comércio e nas residências das partes baixas do Centro. Piores foram as perdas no interior dos municípios, como nos distritos de Paracatuzinho e Gesteira. A parte nova da comunidade de Gesteira, localizada morro acima, ficou ilhada. Já Gesteira Velha, que ficava no nível da margem do rio Gualaxo do Norte, ficou destruída, toda sob a lama. Suas quinze famílias perderam as casas, o pequeno grupo escolar de oito alunos e a quadra de futebol. De pé, como prova de alguma resistência, sobrou apenas a antiga igreja, suja até o quinto metro de altura. Pelo menos ninguém foi engolido pela avalanche. “Graças a Deus vocês trouxeram água”, agradeceu dona Ni Pinto Bento, 73 anos, à Cruz Vermelha. Ela explicou que a questão da sede estava especialmente delicada por lá. Afinal, a severa estiagem persiste e do poço de onde ainda se buscava alguma água agora só sai lama. – Parecia que tava acabando… – Acabando o quê, dona Ni? – O mundo, uai! – confessou aliviada, agora com um lindo sorriso no rosto, mísero momento de descontração em uma viagem tão pesada. O Gualaxo do Norte levou a lama até o rio do Carmo em direção à cidade de Santa Cruz do Escalvado, ce-

Foto: Gustavo Ferreira

nário de algumas das mais chocantes cenas que vimos em nossa viagem. É dentro dos limites deste município que o rio do Carmo encontra o rio Piranga e é deste encontro que surge o rio Doce. Ocorre que, logo em sua primeira porção, o rio Doce já sofre com uma primeira intervenção humana, também de iniciativa da Vale: a Usina do Candonga, como é chamada pelos locais, ou Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, seu nome oficial. Em 2004, a localidade de São Sebastião do Soberbo foi inundada para a construção da represa da usina, o lago do Candonga. A lama, que chegou no começo da manhã de sexta-feira, arrebentou o Candonga, que virou um imenso cemitério da natureza, de árvores retorcidas, de seres humanos, peixes e outros animais. O cheiro de morte era quase insuportável. As cenas, inacreditáveis. Do alto das pontes e de cima dos barrancos era possível avistar alguns poucos bombeiros – e funcionários da Samarco – trabalhando numa espécie de rescaldo do resgate. Em um dos poucos restaurantes da localidade encontramos uma equipe completa da Defesa Civil. O líder da operação não aceitou gravar entrevista, mas um outro agente, com olhar muito mais deprimido, admitiu: “Ontem eu mesmo encontrei um cadáver. Depois um braço”. Ele explicou: como o Candonga era a primeira represa no caminho da lama, é possível acreditar que parte significativa dos corpos desaparecidos tenha descansado de sua viagem em Santa Cruz do Escalvado. Aqueles que não ficaram retidos ali podem ter sofrido uma violência ainda mais chocante logo adiante, ao passarem pelas turbinas da hidrelétrica Risoleta Neves, que foi obrigada a abrir suas comportas e esvaziar a represa para evitar um novo desastre. Pelo vídeo, em que se pode ver a força com que a lama atravessou o empreendimento, é praticamente certo que ninguém mais sobreviveria

Como indica seu nome, há intensa atividade siderúrgica no Vale do Aço, às margens do rio Doce, como no caso da ArcelorMittal Inox Brasil, no município de Timóteo, ou da própria Usiminas, em Ipatinga, cidade de 255 mil habitantes. A pouco menos de um quilômetro de distância do robusto leito do rio Doce, a Usiminas libera fumaça preta no ar. A poluição mata o rio há tempos. Desde a década de 1980 o rio Doce não é usado para banho em Governador Valadares, próxima parada de nossa jornada. Centro urbano de 275 mil habitantes, Governador Valadares é a mais populosa entre as cidades no caminho da lama. Moradores dos bairros que margeiam o rio de Governador Valadares admitem que não sabiam que tantos peixes grandes resistiam à poluição do local. Ficaram sabendo quando, mortos, eles começaram a boiar. No

Foto: Gustavo Ferreira

quinto do que calculava para a semana. Com um português enfático, que vamos transcrever para tentar reportar o vigor de suas palavras, ela reclamava aflita: “Na hora de dar água, a prefeita [Elisa Costa, do PT] só dá água para alguns. Só para os hospitais. E a população fica cuma? Meu trabalho é a moda água! Nós é faxineira! Veve do suor, tem que ter água para trabalhar.” Outro que suava para conseguir água era o vendedor Alex Júnior de Souza, de 24 anos, e com quatro filhos em casa. Encontramos Alex à beira de uma imensa caixa d’água de 20 mil litros equilibrando dois baldes no guidão da bicicleta: “Já é a décima vez que venho hoje. Quero aproveitar que é sábado porque trabalho durante a semana. Já deu para lavar roupa e agora acho que vai dar para tomar banho.” Foto: Gustavo Ferreira

Foto: Gustavo Ferreira

ses dias. Sabemos que não são todos que tem dinheiro disponível assim. Prova disso é a fila que se formou na distribuição de garrafas de água mineral, oferecidas pela própria Samarco e distribuídas com o auxílio do Tiro de Guerra, instituição ligada ao Exército. Na manhã de domingo, quinto dia sem água em Valadares, três mil pessoas amanheceram na maior das dez filas dispostas pela cidade. E olha que cada pessoa poderia pegar apenas seis garrafas de um litro e meio. Algumas senhoras já velhinhas choravam por não conseguirem carregar os nove quilos de água em seus braços.

A mais complexa das mortes: a morte krenak a partir dali. Guilherme Tuzi, 34 anos, era dono de um bar às margens da represa e de um barco que fazia passeios turísticos. “Servíamos peixes. Toda sexta-feira tinha um forrozão para a comunidade. Eu e meu irmão tínhamos esse negócio havia três anos. A principal área de lazer da localidade era essa. Pegamos essa área bem largada e revitalizamos. O prejuízo é bem amplo, bem alto”. Na entrevista, Tuzi sugeriu que haveria outros moradores de Santa Cruz do Escalvado que estariam sofrendo ainda mais do que ele com a desgraça do lago. Trata-se das comunidades ribeirinhas de São Sebastião do Soberbo, que foram expulsas dali há pouco mais de uma década e remanejadas pela Vale morro acima. Essa comunidade tinha no rio, antes do represamento, sua principal atividade econômica, o garimpo artesanal, individual. Agora a lama expulsou os últimos sofridos garimpeiros que restavam, espécie de mendigos do minério à procura das migalhas da riqueza das Minas Gerais. Paulo Ananias de Souza, 62 anos, é um deles. Levantando uma obra em Nova Soberbo para tentar recu-

perar as perdas financeiras causadas pela lama, Paulo disse que desde 1982 está à procura das pequenas pepitas de ouro que ainda sobravam no rio. “A gente usa o rio desde que o rio é rio e desde que há moradores por aqui. Veio esse incidente para completar a dor do coração da gente. A gente está bem ressentido. Eu tirava meia (sic) grama de ouro por dia. Uma grama em um dia bom. Vivemos dessa pequena extração. O ouro do rio aqui já era pouco, mas é o trabalho que vínhamos fazendo para o sustento. Agora não tem como. A gente fica ressentido porque as oportunidades são tiradas da gente para serem passadas para uma grande empresa. Às vezes, tentam nos impedir de fazer a extração pequena, mas quando uma grande empresa chega com as propostas delas, o governo facilita para eles”. Mesmo diante da desgraça, a esperança luta para se renovar. Jogado entre árvores de troncos despedaçados, um singelo troféu quebrado se destacava em meio tragédia. A inscrição nele registrava: “4º Torneio de Truco do Bar da Sandra – Vice-campeão”. Não havia dúvidas,

o prêmio resistira à caótica viagem de mais de 70 quilômetros e agora servia de memória de um tempo de alegria.

Era Doce e se acabou Ao encontrar o rio Doce, a lama iniciou uma torturante viagem rumo ao nordeste em direção a Ipatinga e Governador Valadares. O rio, que já era “matado” há tempos por lá, agora é morto de vez. Em direção ao Vale do Aço, o rio Doce margeia o Parque Estadual do Rio Doce, um dos últimos redutos de Mata Atlântica numa região onde a palavra “floresta” tornou-se sinônimo de plantação de eucalipto. O reduto foi objeto de pesquisa de naturalistas europeus no século 19 em expedições promovidas pelo próprio Dom Pedro 2º. A viagem da lama pelo parque fica longe dos olhos da maioria, uma vez que o rio corre justamente do lado de mais difícil acesso ao parque. Mais do que apenas peixes, a direção da unidade mostrou preocupação com a perda da vegetação aquática, uma biodiversidade que pode demorar séculos para ser recomposta.

entanto, mais do que lamentar a fauna perdida, a população de Valadares está preocupada com o abastecimento de água. Foi tanta sujeira no rio que o Serviço Autônomo de Água e Esgoto da Prefeitura interrompeu a captação de água na única fonte da cidade logo que a lama chegou ao local, cinco dias após o desastre. Nos dias em que estivemos em Governador Valadares, a jornada em busca do líquido vital nos mostrou como é a vida de brasileiros que vivem a seco e, ainda, como será o futuro de um país cada vez mais aflito pela escassez de água. Em poucas palavras, o rico vai pagar e o pobre vai sofrer para saciar a sede de sua família. Foi essa a situação que presenciamos por lá. Na casa de uma numerosa família baiana conhecemos o casal Maria Eunice, 52 anos, e Enildo de Jesus Santos, 55. Para tomar banho e lavar a roupa de toda a semana, que ainda seria batida no leito de um outro rio, eles estocaram água em baldes e tinas. O maior problema, no entanto, era para o trabalho de Maria, a faxina. Naquela semana que passara, quatro das cinco patroas que a contratavam para limpezas diárias cancelaram o serviço. Assim, a diarista ganhou apenas um

Enchendo a caixa d’água com a doação de um vizinho que possui um poço artesiano, o piscicultor Esdras Rulon, de 32 anos, engoliu o choro: “Irresponsabilidade muito grande da Samarco. O pessoal tá visando só lucro, lucro, lucro. Esquece de todo o resto. Irreparável! Não vai ter como! O transtorno é muito grande. Eu tenho uma fazenda de criatório de peixes, quase 400 mil peixes. Eu quase não tô dormindo de medo que a lama invada minha fazenda ali. E aqui tô preocupado com esses mil litros de agora e já preocupado com os próximos mil litros de depois. E se o poço dele secar? E se a bomba parar de funcionar? Hoje é sábado, eu queria estar na cama descansando, tô aqui procurando água. Pelo amor de Deus, me ajuda, ô!” A batalha pela água para quem tem dinheiro é bem mais fácil. Não era raro ver gigantescas camionetes carregando caixas d’água inteiras em suas caçambas. Caminhões-pipas abasteciam hotéis e prédios confortáveis. Por R$ 50,00 era possível encher uma caixa d’água de 800 litros. Em rodas de classe média, jovens falavam com naturalidade sobre a necessidade de usar pratos e talheres plásticos nes-

Em Resplendor, os índios Krenak perderam aquilo que as palavras ainda não dão conta de dizer Nenhuma experiência de nossa viagem foi tão impactante quanto visitar a tribo dos índios Krenak, no município de Resplendor, já bem próximo da divisa entre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. O caminho impõe a travessia de pontes que davam a dimensão da imensa largura do rio – mais de 500 metros em alguns trechos. A trilha de chão batido até a tribo ladeava a Estrada de Ferro Vitória-Minas, mais uma personagem desta triste história, passagem para o minério extraído em Minas rumo aos portos do Espírito Santo. Chegamos à tribo apenas dois dias depois de a lama ter destruído o Watu, nome dado pelos indígenas ao seu querido rio. Chegamos à tribo em pleno velório e fomos recebidos por Batik Krenak pintado de preto desde a barriga até os lábios inferiores. “O Watu é fonte para tudo na vida dos Krenak. Desde o banho, a caça, a

pesca e, principalmente, a questão religiosa. A gente tem uma relação forte com o rio, o rio Watu, a gente tem a consideração de que o rio é uma mãe nossa. Com tudo isso que aconteceu, a comunidade Krenak decidiu tomar uma decisão [de se sentar sobre os trilhos do trem da Vale]. A gente não pode ficar nesta situação. Os responsáveis têm que vir aqui e têm que conversar para saber como nós vamos viver daqui para frente. Nós estamos aqui velando o rio, já que ele está morto. Eles acharam que mataram só o rio, mas nos mataram também.” A violência contra o rio Doce não foi a primeira imposta pelas grandes empresas ao povo Krenak. A ferrovia, mais de um século atrás, já havia matado parte da cultura Krenak. Segue Batik: “Esta ferrovia é antiga aqui no nosso território. Ela corta o nosso território há mais de cem anos. Mas, antes disso, os Krenak já estavam aqui e não havia esse problema. Aqui era mata e nosso povo, até então, sempre viveu em paz. Logo após a construção desta estrada de ferro, veio o problema todo, acabou com nossa floresta, não tem mais mata. Hoje, mais uma vez, nós fomos afetados. Levaram nossa floresta e agora nosso rio também. A gente precisa da água para beber, para nos alimentar, para tudo.” Djanira Krenak, a matriarca da tribo, nos recebeu com um ramo de erva nas mãos e o olhar perdido. Liderança moral e religiosa na comunidade, é ela, por exemplo, quem batiza todas as crianças nascidas na aldeia. “É como quem mata gente. É a mesma coisa. Matou o rio, matou o peixe, matou a cobra da água, que é a sucuri. O rio é tudo para nós. Ele é sagrado, faz parte de tudo, da nossa religião, em que a gente ensinava a criança a nadar de um lado pro outro. Os parentes que já morreram também fazem parte do rio. Acabaram com o nosso povo.” Antes de deixarmos a tribo, o povo Krenak quis mostrar sua força sobre os trilhos do trem e, para isso, entoou uma canção de luta. Comovidos, nos

despedimos a tempo de ver de frente a força do protesto. Parada perto do Centro de Resplendor, uma imensa locomotiva da Vale, com vagões a perder de vista, recheados de riquezas da terra, somava dias de prejuízo – um prejuízo milionário, mas certamente muito menor do que aquele provocado pela Vale na tribo Krenak. Afinal, quanto vale aquilo que não tem preço? Confira a reportagem completa pelo site: migre.me/sqW5h

FERRAMENTAS JARDINAGEM RAÇÃO SEMENTES

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CIDADES 8

FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015

CIDADES 9 BRAVA GENTE

Júlio Avelar

Luiz Pinga: o campeão dos recordes

IMPRÓPRIA

Júlio Avelar é jornalista, apresentador na TV Rio Doce e membro da Academia Valadarense de Letras

De acordo com pesquisadores, o nível de contaminação por metais pesados e o índice de turbidez no rio Doce são extremamente altos. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, que fez uma expedição pelo rio Doce de alto a baixo, a recomendação é de que moradores não usem líquidos com rejeitos da barragem. Mesmo tratada, eu digo: desta água ainda NÃO bebo!

Quer falar com este colunista? zapzap 33-99899200 ou julioavelargv@gmail.com Avenida Minas Gerais, 700 sala 610 após 14h.

POIS É! Segundo especialistas, rejeitos da Samarco atingiram distância dez vezes maior que a prevista. Nos distritos destruídos, 139 famílias ainda vivem em hotéis à espera de uma solução e a lama ocupa a maior parte da paisagem.

Maratonista traz orgulho para Valadares com sua determinação

ENTÃO? A prefeita Elisa Costa tomou água dois dias depois que a lama desceu, envenenando todo o rio Doce. Elisa escreveu um artigo bonito no Diário do Rio Doce na última quarta-feira sobre a tragédia. Muito poética ela. Mas, até agora, a prefeita não disse se vai trazer a água do Suaçuí para o SAAE ou não. Ou se ela vai deixar para o próximo prefeito ou prefeita que virá.

NA MARY’S CLUB O entendedor de moda Márcio Teobaldo, que atua na Ananda, vai comemorar seu aniversário em altíssimo estilo na noite de 26 de dezembro. No estilo “Celebrar” vai ter a presença dos DJs Sli Campos, Douglas Santiago e Ítalo Nogueira. Tudo isso e mais na Boate Mary’s Club, na São Francisco da Ilha, a partir das 23h59. Promete ser uma noite e tanto!

ATUALIZANDO NA INTERNET Os empresários Romildo e Misael são os coordenadores da empresa TelMicro - Telecomunicações e Microinformatica, que está colocando Alpercata e todos os distritos e bairros daquela cidade sintonizados com o melhor da internet. Confiáveis. Telefones: (33) 98436.1717 e 98404.9996

Terezinha e Carlos dando banho de qualidade na Stilo Modas da Minas Gerais

EM QUAL?

Sayonara Calhau e Maurício Serpa, colcaboradores do Programa Júlio Avelar.

Uma raposa felpudíssima me contou que os quatro vereadores que fazem parte hoje do partido PROS na Câmara Municipal não devem caminhar juntos até as eleições. Provavelmente, antes do fim de março do ano que vem, dois ou até três deles se mudarão para outros partidos, pois, com certeza, dificilmente o PROS reelejerá dois – imagine quatro.

Salminho e Leonardo Werneck da equipe da TV Rio Doce. Competentes.

PARA O SUL

POR QUE NÃO?

Seguindo para comemorar o Natal e Ano Novo com familiares no Rio Grande do Sul, o empresário da gastronomia Dorval João Delazari e seu filho Leonardo, que é campeão de jiu-jítsu. Mesmo em férias, a Churrascaria do Dorval continuará funcionando normalmente.

Muitos amigos, vizinhos e ex-alunos querem porque querem que o professor, advogado e administrador de empresa José Francisco de Lima Graciolli dispute uma vaga para vereador nas eleições do ano que vem. A comunidade dos bairros JK I, II e III não têm representantes e o nome dele é forte na seriedade e honestidade. O PV já fez o convite.

PESAR

É NESTE SABADO O Ilusão Esporte Clube vai estar deslumbrantemente bonito neste sábado, dia 19 de dezembro, quando vai receber os mais íntimos do elegante casal Toninho e Sófia Martha, que festejaram bodas de ouro. Uma noite de elegância, glamour e contentamento, que rima com felicidade de uma união perfeita.

FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015

Professora Vanessa Barbosa Avelar enfeitando a coluna de hoje

Valadares perdeu na madrugada do último domingo um dos pioneiros em pizzas na região. Morreu Arbi Hastenreiter, o nosso querido NEM, da Brother Pizzaria. Assumiu o estabelecimento a sua esposa, agora viúva, Marlene, que sempre esteve à frente com as melhores massas daquela casa, e o filho Júnior. Vêm boas reformas por aí!

Gina Pagú

A

tleta valadarense, o campeão internacional Luiz Sousa, mais conhecido como Luiz Pinga, corredor de maratonas, hoje acumula mais de 400 prêmios nacionais e internacionais. São 30 anos de carreira no atletismo, consagrando-se em 2013 como destaque

brasileiro no Prêmio da Brazilian International Press Awards, uma espécie de Oscar no qual são premiados os brasileiros que se destacaram nos Estados Unidos, em suas respectivas categorias, deixando muita gente famosa para traz, como Anderson Silva, Minotauro, Roberto Carlos e Xuxa. Pinga diz que não se imaginava corredor, mas, como toda criança, sonhou em ser médico, professor, motorista e jogador de futebol. Ele conta como foi sua infância e a descoberta do atletismo. “Nasci na zona rural, próxima a cidade de Fidelândia, Minas Gerias. Iniciei meus estudos e completei o segundo grau. Quando fiz 14 anos minha família veio para Valadares a fim de que os filhos pudessem estudar mais. Antes de começar no esporte eu trabalhei ajudando minha família: já fui vendedor, auxiliar de serviços gerais, inspetor de qualidade, mas joguei futebol nas categorias amadoras na cidade. Mas ainda não era o que eu queria.” A paixão pela corrida veio da participação numa corrida rústica organizada no bairro Santa Rita. “Eu sabia que o condicionamento físico era fundamental para qualquer atleta e, como jogador de futebol, eu treinava sem parar. Então me convidaram para essa corrida e para surpresa de todos fui campeão. Assim, integrei a equipe de atletismo do Centro da Infância e Juventude de Valadares, em que representávamos a cidade, o Estado e o país em competições por todo Brasil. A partir dessa corrida, sem nenhum profissionalismo descobri o esporte da minha vida.”

USA

Reconhecimento

Pinga, que já participou de corridas como a 28th Annual Delray Beach Turkey Trot, 34th Annual Tamarac Turkey Trot, Sal Half Marathon (Sarasota), Serena Willians Ultimate Run, Jingle Bell Run (Fort Lauderdale), Boca 10 (Boca Raton), todos na Flórida, diz que a receptividade dos americanos o surpreende. “Na América do Norte a visão é totalmente diferente, eles preferem usufruir dos benefícios proporcionados pelo esporte, o bem-estar, a confraternização. Já no Brasil, pelo que percebo, as pessoas se preocupam mais com o lado financeiro, as assessorias esportivas visam fins lucrativos, prejudicando assim o espírito esportivo, que deferia prevalecer.” A carreira internacional de Luiz, que começou em 1987 nos Estados Unidos, traz outros destaques além do “Oscar”. Durante 30 anos de carreira, foram 600 competições e a homenagem da ONU, em Nova Iorque, por ter sido considerado um dos “notáveis”, sendo o imigrante que faz a diferença naquele país. O campeão explica que a base para conquistar tudo isso foi o treinamento incansável e a determinação. “Para conseguir se destacar neste esporte, você não pode ter férias de treinamentos. Se você não treinar, terá alguém treinando, querendo ser melhor que você. Então, você tem que sempre superar os próprios limites. Além do maior desafio de todos ser a adaptação, pois viver longe da família, das raízes é muito difícil. Ultrapassada essa barreira, é preciso correr e correr.”

Depois de se formar em educação física e nutrição, Souza se tornou um empresário de sucesso e se diz muito feliz pelo reconhecimento oferecido pelo esporte, principalmente em alcance internacional. “É realmente muito gratificante estar em um país de potência mundial e poder se destacar no esporte. Há um respeito muito grande por mim, tanto por parte da imprensa, dos atletas, como da sociedade em geral. O reconhecimento e o carinho são maravilhosos, coisa que não tem como explicar, e isso me deixa muito feliz e com a sensação de missão cumprida. A divulgação constante na imprensa local fez com que eu me tornasse um personagem muito conhecido por aqui.”

Inusitado Na história esportiva de atletas importantes como Pinga também acontecem situações inusitadas, mas que ainda assim trazem vitórias. “Houve uma prova de dez quilômetros em que eu estava liderando e tinha uma passagem de trem no percurso; assim que passei, o trem veio. Era mais ou menos a metade da prova, então, o restante dos atletas parou para esperar o trem seguir. E isso durou uns dez minutos, o que fez com que eu vencesse a competição sem maiores dificuldades – aliás, foi a vitória mais fácil que eu tive.”


CIDADES 10

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ESPORTES 11

Xeque-mate no Rei

Conheça os indicados para conduzir a tocha olímpica E

Foto: Divulgação

mbora somente em fevereiro de 2106 sejam divulgados os nomes definitivos daqueles que carregarão a tocha olímpica, já é possível conhecer os nomes e as histórias dos indicados. Governador Valadares faz parte da rota de revezamento da tocha, na qual os escolhidos a conduzem durante as celebrações das Olimpíadas 2016, e ela também ficará exposta para visitação pública. A festa acontecerá em maio de 2016, quando os privilegiados cidadãos valadarenses terão a honra de conduzir o fogo olímpico. Nos sites

dos patrocinadores, Coca-Cola, Nissan e Bradesco, ocorre a divulgação e o passo a passo dessa escolha. As inscrições vieram de todo o Brasil e, além de se inscrever, os candidatos tiveram de dizer, por meio de vídeos e fotos, por que estariam aptos para participar dessa cerimônia histórica. Na lista de indicados constam nomes de valadarenses, como Sebastián Cuattrin (canoísta olímpico), Donita Dias (corredora), Virgínia Drumond (tenista), Saulo Ferreira (skatista), Luis Souza (maratonista) e tantos outros cidadãos que querem

Foto: Divulgação

participar como personagens importantes das Olímpiadas.

Revezamento O percurso com o revezamento da tocha olímpica começa a ser feito cem dias antes da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos 2016. A chama será acessa em Olímpia, na Grécia, depois segue para o Brasil, onde passará pelas mãos de dez mil condutores, percorrendo, assim, 26 Estados e 300 cidades, até que chegue ao Rio de Janeiro, no dia 5 de agosto.

Para conhecer os indicados de todo Brasil acesse: www.rio2016.com/tochaolimpica www.revezamentobra.com.br/indique-alguem www.quemseatreve.com.br/rota-da-tocha-video issoeouro.cocacola.com.br

Marta, a rainha do futebol brasileiro, bateu o recorde de cem gols com a camisa da seleção brasileira, desbancando Pelé, que tem 95

Gina Pagú

Valadares também será protagonista dos jogos e está na rota do revezamento Gina Pagú

A

Foto: Divulgação

atacante Marta chegou ao centésimo gol com a camisa da seleção verde-amarela na goleada sobre o México, fazendo história no futebol feminino brasileiro. Além dos 6 a 0, a equipe garantiu a vaga na final do Torneio Internacional de Futebol Feminino. Cinco vezes nomeada a melhor jogadora do mundo, Marta diz que quer seguir batendo recordes e que está muito feliz. “É uma honra. Na verdade, a gente está representando o futebol feminino. Estou muito feliz por atingir essa marca porque é um trabalho que fazemos há muitos anos com tanta dificuldade e, acima de tudo, com muito amor. Passaram várias coisas na minha cabeça, já pensando no próximo gol. A felicidade é imensa.”

A rainha O argentino naturalizado brasileiro, e valadarense de coração, Sebastián Cuattrin, também é um dos nomes indicados para conduzir o fogo olímpico

Tenista renomada, Virgínia Drumond é candidata a carregar a tocha olímpica em Valadares

GV Sem Fome chega à reta final Depois de percorrer mais de dez bairros da cidade, é hora das atividades finais do projeto. Confira o que vai acontecer nos próximos dias. SÁBADO (19) DE MANHÃ: Caravana da Malhação Local: Em frente às academias Órbita (Santo Agostinho) e Fórmula (Ilha dos Araújos) Horário: A partir das 8h - Aulas de treinamento funcional e outras atividades laborais ao ar livre.; - Brinquedos infláveis e cama elástica para as crianças; - Carrinho de pipoca e algodão doce; - Coleta de doações. Toda a programação é gratuita.

SÁBADO (19) À TARDE: Caravana da diversão Local: Campo da COHAB – Conjunto SIR Horário: A partir das 17h30 - Brinquedos infláveis e cama elástica para as crianças; - Carrinho de pipoca e algodão doce. - Coleta de doações.

DOMINGO (20) DE MANHÃ: Evento de encerramento Local: Avenida Minas Gerais entre as Ruas Israel Pinheiro e Marechal Floriano Horário: das 9h às 13h Atrações gratuitas: - Apresentações musicais - Brinquedos infláveis - Cama Elástica - Carrinho de pipoca e algodão doce Outras atrações: - Pista de mini buggy (com parte da verba revertida para compra de alimentos)

TERÇA (22) DE MANHÃ: Evento de entrega das doações com a presença das instituições beneficiadas Local: Rua Oswaldo Cruz, em frente ao Democrata. Horário: a partir das 8h Entrega das doações e uma carreata (caravana).

FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015

A camisa dez da seleção feminina coleciona recordes, mas tem uma história de batalha na vida. De infância humilde, a campeã nasceu em Dois Riachos, no interior de Alagoas, em 1986. Nas peladas de rua, por se boa de bola, se destacou em times masculinos. O primeiro time profissional foi o Vasco da Gama, em 2000. Depois jogou por dois anos no Santa Cruz de Minas Gerais e abriu caminho para os times europeus. Foi elei-

A rainha do futebol brasileiro bate o recorde com a camisa da seleção, fazendo o centésimo gol com a Canarinho

ta cinco vezes a melhor do mundo pela Fifa em 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010 – feito único na história do futebol, mesmo entre jogadores homens. Passou pelos times Umea K, da Suécia, Los Angeles Sol, dos Estados Unidos, foi para o Santos, no Brasil. Em contratação temporária, voltou para os Estados Unidos para jogar no FC Gold Pride e, em 2012, voltou para a Suécia e empresta seu talento ao Tyreso FF.

A rainha, apesar de muitas conquistas, reclama da falta de valorização da mulher como atleta do futebol. “Quando fui para a Suécia, eu ganhava em torno de R$ 3 mil. Muita gente pensa que os contratos das jogadoras se comparam com os contratos do Neymar e Cristiano Ronaldo, mas isso é totalmente irreal. O futebol feminino no Brasil ainda engatinha, passa quase despercebido. Precisamos de mais reconhecimento.” Foto: Divulgação


CULTURA 12

FIGUEIRA - Fim de semana de 18 a 20 de dezembro de 2015

Escritora mineira tem obra sobre o rio Doce “Esse rio foi meu endereço e ainda é meu ponto de referência no mundo” Gina Pagú

zenda de café luxuosa em Miraí, mas quando meu trisavô morreu, a família começou e se desentender por causa da herança. Meu bisavô resolveu mudar-se para Ubaporanga. Ele não queria morar no terreiro do sogro, arranjou uma desculpa e foi para Sobrália com a mulher e um filho. Se estruturou melhor e comprou o Sítio de Cima. A tragédia do rio Doce me atropelou neste meio e criou dimensão. Falo do meu relacionamento afetivo com ele quando pequena. Não apenas com ele, mas também com o rio Corrente, o Suaçuí, e o Córrego da Boa Esperança – batizado por meu avô materno e também afluente do rio Doce.”

Sobre o rio Doce O rio Doce mereceu um lugar especial nos livros de Geny (aliás, vários, perpassam toda uma obra cheia de sensibilidade e referências à infância). “Em minha obra, tenho três personagens que estão em toda ela: Minas Gerais, rio Doce e o Sítio de Cima, onde fui criada. Não tenho um livro específico sobre o rio Doce. Ele está presente em toda a minha obra, em maior ou menor quantidade. O rio Doce foi meu endereço e ainda é

meu ponto de referência no mundo. As pessoas me perguntam: onde você mora? No Sítio de Cima. E onde fica? Mais ou menos a três quilômetros do rio Doce, na margem direita, na altura de Pedra Corrida.”

A tragédia Mesmo após pouco mais de um mês da catástrofe que atingiu toda a bacia do rio Doce, ainda é recente a dor da perda do rio também para a autora, que hoje reside no Rio de Janeiro. “Penso que ainda estou em estado de choque. Já chorei e ainda choro muito. Nós não vamos estar aqui, mas ele tem a sua frente os milênios. Pensar assim me fortalece e conforta. Soube da tragédia por meio de telefonemas de amigos. Eles sabem o que o rio Doce significa para mim. Corri para a televisão e quase não acreditava no que via.”

Carreira Geny, além de autora de uma obra que contempla o rio Doce e as cidades de Minas Gerais, tem em seu portifólio, que começou a ser publicado em 2006 pela Bom Texto Editora, o romance “Adeus, rio Doce”,

Foto: Arquivo Pessoal

G

eny Vilas Novas é pedagoga e escritora autodidata, como se define. “Comecei a escrever há 37 anos. Meu primeiro livro foi “Com a alma na garganta”. Minha carreira se embasou em muita leitura boa. Primeiro, os clássicos brasileiros: Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, José Lins do Rego; depois, os estrangeiros: Flaubert, Baudelaire; os russos: Dostoiévski, Leon Tolstói; os do teatro, do balé e da música também. Gosto da literatura japonesa. Agora estou lendo Matsuo Basho. Ele escrevia haicais (poemas curtos em três versos) e viveu de 1644 a 1694. Frequento uma oficina literária desde 1988 e meu professor se chama Ivan Cavalcante Proença. Devo a ele o rigor das técnicas e seu uso parcimonioso.” Mas o coração também se assenta no rio Doce e em memórias familiares que dão vida às personagens e às histórias contadas nos livros. A autora explica que suas raízes estão em Minas. “Estou terminando um livro que se chama “De portas abertas”. Escrevo memória ficcional, ou seja, transformo o cotidiano da minha família em literatura. Resolvi abrir mais este leque e fui atrás dos meus antepassados. Eles tinham uma fa-

Geny tem onze livros já escritos que foi traduzido para o espanhol por Clarisse Bandeira de Mello, para a Florida Atlantic University. Em 2015 lançou os romances “Flores de vidro” e “Onde está meu coração?”, pela 7Letras. Participou de seis antologias de contos: “Doze autores e suas histórias” (2003), “Marquesa de Santos” (2003), “Nassau, um príncipe em Pernambuco” (2004), “Feitiço do boêmio” (2010), “Ásperos e macios” (2010), todas também editadas pela Bom Texto, e “O rei, o rio e suas histórias” (2012), pela 7Letras. Já em

2013, publicou o livro infantil de contos “O peixe de escamas de ouro e outras histórias.” Para o futuro, a autora guardou por muito tempo 11 livros que, com muito empenho, chegarão até os leitores. “Vou publicar os 11 livros que tenho na gaveta e que somente o ano passado criei coragem de trazer à luz. Entrar na arena para correr atrás de editores, noites de autógrafos, tudo isso exige coragem. Para mim, vender livros é penoso. Recebi o dom de escrever de graça.”

SOCIAL

Agenda 10 Ingrid Morhy

facebook.com/ingridmorhy twitter.com/ingridmorhy ingridmorhy (33) 9155-5511 ingridmorhy@gmail.com

BALADAS Galera top! Formatura do 3º ano do Clóvis Salgado

18 (sexta) – Festa Camarote, ao som de Gustavo Vitoi + DJ, com open bar até 4h, na Monalisa

18 (sexta) – Tributo às bandas

19 (sábado) – Moulin Rouge! Lady Marmalade, Djalma Rabelo (Belo Horizonte) + DJ Ingrid Morhy, na Mary’s Club. Open bar até as 2h.

Raimundos, R.A.T.M e C. B. Jr.

19 (sábado) – Henrique & Juliano

18 (sexta) – Especial Elis 70 anos, com

+ Cheiro + Peixe, no pavilhão coberto da Univale.

Nêga Ágna, no Soul Rock Pub.

19 (sábado) – Último show antes das férias do Oficina´s Pub: Sound MID Drive, com DJ Zói.

20 (domingo) – Elas no Comando: Érika Santos, com o melhor do forró e do arrocha + DJ Ingrid Morhy. Rua Lincoln Byrro, 550, Vila Bretas.

CINEMA No Coração do Mar

Inverno de 1820. O navio baleeiro Essex parte em busca de óleo de baleia. O navio é liderado pelo nada experiente capitão George Pollard (Benjamin Walker), que tem Owen Chase (Chris Hemsworth) como seu primeiro oficial. Owen sonha em ser capitão e tem o objetivo de superar a meta traçada por seu empregador. Eles navegam por meses em busca de baleias, mas, quando encontram, se deparam com uma grande ameaça, uma gigantesca baleia branca que irá lutar por sua sobrevivência e acabará atacando o navio e sua tripulação.


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